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Embriologia Humana Segunda Semana do Desenvolvimento A implantação do blastocisto é concluída durante a segunda semana do desenvolvimento. Enquanto esse processo ocorre, há mudanças, produzindo um disco embrionário bilaminar composto por duas camadas, o epiblasto e o hipoblasto. O disco embrionário dá origem às camadas germinativas que formam todos os tecidos e órgãos do embrião. As estruturas extraembrionárias que se formam durante a segunda semana incluem a cavidade amniótica, o âmnio, o saco vitelino (vesícula umbilical), pedúnculo e saco coriônico. A implantação do blastocisto é concluída durante a segunda semana e normalmente ocorre no endométrio, geralmente na parte superior do corpo do útero e ligeiramente mais comumente na parede posterior em vez da anterior. O sinciciotrofoblasto, erosivo, invade ativamente o tecido conjuntivo endometrial que contém capilares e glândulas uterinas. Enquanto isso ocorre, o blastocisto se aprofunda vagarosamente no endométrio. As células sinciciotrofoblásticas dessa região deslocam as células endometriais da parte central do local da implantação. As células endometriais sofrem apoptose (morte celular programada), o que facilita a implantação. Enzimas proteolíticas produzidas pelo sinciciotrofoblasto estão envolvidas neste processo. As células do tecido conjuntivo uterino ao redor do local da implantação ficam carregadas de glicogênio e lipídios. Algumas dessas células – células deciduais – degeneram‑se adjacentes ao sinciciotrofoblasto que está se aprofundando. O sinciciotrofoblasto fagocita essas células em degeneração, o que fornece uma fonte rica de nutrição para o embrião. À medida que o blastocisto se implanta, mais o trofoblasto entra em contato com o endométrio e continua a diferenciar‑se em duas camadas: O citotrofoblasto, uma camada de células mononucleadas que são mitoticamente ativas. Forma novas células trofoblásticas que migram para a massa crescente de sinciciotrofoblasto, onde se fusionam e perdem suas membranas celulares O sinciciotrofoblasto, a massa multinucleada que se expande rapidamente, na qual os limites das células não são discerníveis. O sinciciotrofoblasto produz um hormônio, gonadotrofina coriônica humana (hCG), que entra no sangue materno presente nas lacunas do sinciciotrofoblasto. O hCG mantém o desenvolvimento das artérias espiraladas no miométrio e a formação do sinciciotrofoblasto. Ele também forma a base para os testes de gravidez. Testes altamente sensíveis estão disponíveis para detectar o hCG ao final da segunda semana mesmo que a mulher provavelmente não saiba que está grávida. Formação da cavidade amniótica, disco embrionário e saco vitelino À medida que a implantação do blastocisto progride, as mudanças que ocorrem no embrioblasto resultam na formação de uma placa achatada e quase circular de células – o disco embrionário – consistindo em duas camadas: O epiblasto, a camada mais espessa, consiste em células colunares altas e mantém relação com a cavidade amniótica O hipoblasto, a camada mais fina, consiste em células cuboides pequenas adjacentes a cavidade exocelômica Ao mesmo tempo, uma pequena cavidade aparece no embrioblasto, o qual é o primórdio da cavidade amniótica. Logo depois, as células amniogênicas (formadoras do âmnio) – amnioblastos – separam‑se do epiblasto e se organizam para formar uma membrana fina, o âmnio, que reveste a cavidade amniótica. O epiblasto forma o assoalho da cavidade amniótica e se continua perifericamente com o âmnio. O hipoblasto forma o teto da cavidade exocelômica e se continua com as células que migraram do hipoblasto para formar a membrana exocelômica. Esta membrana circunda a cavidade blastocística e reveste a superfície interna do citotrofoblasto. A membrana e a cavidade exocelômica se modificam e formam o saco vitelino primário. O disco embrionário, em seguida, repousa entre a cavidade amniótica e o saco vitelino primário. A camada mais externa de células do saco vitelino forma uma camada de tecido conjuntivo frouxo, o mesoderma extraembrionário. Quando o âmnio, o disco embrionário e o saco vitelino primário se formam, aparecem lacunas (pequenos espaços) no sinciciotrofoblasto. As lacunas são rapidamente preenchidas com uma mistura de sangue materno derivado dos capilares endometriais rompidos e restos celulares das glândulas uterinas erodidas. O líquido nas lacunas – embriótrofo – passa por difusão para o disco embrionário. A comunicação dos vasos uterinos erodidos com as lacunas representa o início da circulação uteroplacentária. Quando o sangue materno flui para o interior das lacunas, o oxigênio e as substâncias nutritivas tornam‑se disponíveis para os tecidos extraembrionários ao longo da grande superfície do sinciciotrofoblasto. Quando o sangue materno flui para o interior das lacunas, o oxigênio e as substâncias nutritivas tornam‑se disponíveis para os tecidos extraembrionários ao longo da grande superfície do sinciciotrofoblasto. O sangue oxigenado das artérias espiraladas no endométrio passa para as lacunas; o sangue pobremente oxigenado é removido das lacunas através das veias endometriais. No embrião de 10º dia (embrião e membranas extraembrionárias), o concepto está completamente implantado no endométrio. Por aproximadamente mais 2 dias, há uma pequena área de descontinuidade no epitélio endometrial que é preenchida por um tampão, um coágulo sanguíneo fibrinoso. Por volta do 12º dia, o epitélio uterino está quase completamente regenerado e substitui este tampão. Com a implantação do concepto, as células do tecido conjuntivo endometrial sofrem uma transformação – a reação decidual – resultante da sinalização por meio da adenosina monofosfato cíclica e da progesterona. Com o acúmulo de glicogênio e lipídios, as células ficam com seu citoplasma intumescido e são, então, chamadas de células deciduais secretoras. A função primária da reação decidual é fornecer um local imunologicamente privilegiado para o concepto. No embrião de 12 dias, as lacunas sinciciotrofoblásticas adjacentes se anastomosaram para formar redes lacunares, o início do espaço interviloso da placenta. Os capilares endometriais ao redor do embrião implantado se tornam congestionados e dilatados para formar sinusoides, que são vasos terminais de paredes finas maiores que os capilares comuns. O sinciciotrofoblasto, em seguida, erode os sinusoides, e o sangue materno flui para as redes lacunares. As células do estroma endometrial e glândulas degeneradas, junto com o sangue materno, fornecem uma rica fonte de material para a nutrição embrionária. O crescimento do disco embrionário bilaminar é lento comparado com o crescimento do trofoblasto. Conforme as mudanças ocorrem no trofoblasto e no endométrio, o mesoderma extraembrionário aumenta e dentro deste aparecem espaços celômicos extraembrionários. Esses espaços rapidamente se fusionam para formar uma cavidade grande e isolada, o celoma extraembrionário. Essa cavidade cheia de líquido circunda o âmnio e o saco vitelino, exceto onde eles estão ligados ao cório pelo pedúnculo. À medida que o celoma extraembrionário se forma, o saco vitelino primário diminui de tamanho e se forma o saco vitelino secundário, menor. Durante a formação do saco vitelino secundário, uma grande parte do saco vitelino primário é removido. O saco vitelino não contém vitelo; no entanto, pode ter um papel na transferência seletiva de materiais nutritivos para o disco embrionário. Desenvolvimento do saco coriônico O final da segunda semana é caracterizado pelo surgimento das vilosidades coriônicas primárias. A proliferação das células citotrofoblásticas produz extensões celulares que crescem no interior do sinciciotrofoblasto. As projeções celulares formam as vilosidades coriônicas primárias, o primeiro estágio no desenvolvimento das vilosidades coriônicas da placenta. O celoma extraembrionário divide o mesoderma extraembrionário em duas camadas: O mesoderma somático extraembrionário, que reveste o trofoblasto e cobre o âmnio O mesoderma esplâncnicoextraembrionário, que envolve o saco vitelino Acredita‑se que o crescimento dessas extensões citotrofoblásticas seja induzido pelo mesoderma somático extraembrionário adjacente. O mesoderma somático extraembrionário e as duas camadas do trofoblasto formam o cório. O cório forma a parede do saco coriônico. O embrião, o saco amniótico e o saco vitelino estão suspensos na cavidade coriônica pelo pedúnculo de conexão. A ultrassonografia transvaginal (ultrassonografia intravaginal) é usada para medir o diâmetro do saco coriônico − importante para a avaliação do desenvolvimento embrionário inicial e da progressão da gravidez. Locais de implantação extrauterinos Às vezes, o blastocisto se implanta fora do útero. Essas implantações resultam em gravidezes ectópicas; 95% a 98% das implantações ectópicas ocorrem nas tubas uterinas, mais frequentemente na ampola e no istmo. A gravidez ectópica tubária ocorre em aproximadamente 1 em 200 gravidezes na América do Norte. Uma paciente com gravidez tubária tem os sinais e sintomas comuns da gravidez; entretanto, ela pode apresentar também dor abdominal (dada a distensão da tuba uterina), sangramento anormal e irritação do peritônio pélvico. As causas da gravidez tubária são geralmente relacionadas com fatores que atrasam ou impedem o transporte o zigoto durante a fase de clivagem para o útero (p. ex., bloqueio da tuba uterina). As gravidezes ectópicas tubárias geralmente resultam na ruptura da tuba uterina e hemorragia para dentro da cavidade peritoneal durante as primeiras 8 semanas, seguido da morte do embrião. Inibição da implantação A administração de doses relativamente grandes de estrogênio (“pílulas do dia seguinte”) por diversos dias, começando logo após uma relação sexual desprotegida, geralmente não impede a fecundação, mas pode impedir a implantação do blastocisto. Normalmente, o endométrio progride para a fase lútea do ciclo menstrual na medida em que o zigoto se forma, passa pelo processo de clivagem e entra no útero. Uma grande quantidade de estrogênio, entretanto, perturba o equilíbrio normal entre estrogênio e progesterona que é necessário para preparar o endométrio para a implantação. Um dispositivo intrauterino (DIU) inserido no útero pela vagina e colo do útero geralmente interfere na implantação causando uma reação inflamatória local. Alguns DIUs contêm progesterona de administração lenta, o que interfere no desenvolvimento do endométrio de modo que a implantação geralmente não ocorre. Os DIUs à base de cobre parecem inibir a migração dos espermatozoides na tuba uterina, enquanto os DIUs à base de levonorgestrel alteram a qualidade do muco cervical e o desenvolvimento endometrial. Locais de implantação dos blastocistos Os blastocistos geralmente se implantam no endométrio uterino na parte superior do corpo do útero, um pouco mais frequentemente na parede posterior que na anterior do útero. A implantação do blastocisto pode ser detectada pela ultrassonografia ao final da segunda semana.