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ACIDOSE EM RUMINANTES INTRODUÇÃO A acidose ruminal é uma alteração aguda ou crônica que segue a ingestão excessiva de carboidratos facilmente fermentáveis, sendo problema frequente em ruminantes com dietas ricas em concentrados. Indica um distúrbio que se manifesta em graus variados, podendo se apresentar de forma aguda ou crônica. A acidose ruminal varia de intensidade, dependendo principalmente da quantidade de concentrado ingerido. O problema pode ocorrer de forma intensa, sendo denominada acidose lática ruminal aguda, na qual o animal necessita de tratamento urgente sob risco de morte (RADOSTITS et al., 2007). Todavia, a acidose na sua forma mais branda é a mais comum, sendo denominada acidose ruminal subaguda. Essa forma de acidose não representa risco de morte imediato ao animal, mas leva a redução do desempenho produtivo e é precursora de outras doenças de caráter debilitante. ETIOLOGIA DA PATOLOGIA O desenvolvimento de acidose subclínica e clínica em ruminantes , envolve uma interação complexa entre o consumo, a composição da dieta, os microrganismos ruminais e o animal. O rúmen normal pode ser visualizado como uma câmara de fermentação contínua. Os produtos finais da fermentação são normalmente os ácidos acético, butírico e propiônico, ácidos graxos voláteis de cadeia curta que são absorvidos no rúmen como a fonte de energia primária do animal. As proteínas das células bacterianas são também produzidas e digeridas como fonte de aminoácidos. Outros subprodutos são as vitaminas hidrossolúveis (HOWARD, 1986). Normalmente há no rúmen um equilíbrio entre bactérias celulolíticas e bactérias que usam carboidratos. Qualquer alteração neste mecanismo ocasiona indigestão, disfunção ruminal e absorção de toxinas (GONZÁLEZ & SILVA, 2006; OGILVIE, 2000). A ingestão de quantidades excessivas de alimentos altamente fermentáveis pelo ruminante é verificada com 2 a 6 horas pela marcante mudança na população microbiana do rúmen. Há um acentuado aumento no número de Streptococcus bovis, os quais utilizam os glicídios para produzir grandes quantidades de ácido láctico. Na presença de quantidades suficientes de carboidratos, o S. bovis continuará produzindo ácido láctico que diminuirá ainda mais o pH ruminal, a tal ponto que são destruídas as bactérias celulolíticas e os protozoários. A concentração de ácidos graxos voláteis inicialmente também é aumentada e contribui para diminuir o pH ruminal (BLOOD et al., 1979; KANEKO et al., 1997; BEVANS et al., 2005) Além do S. bovis, proliferam-se os lactobacilos e bastonetes Gram-positivos, e num pH baixo, estes utilizam grandes quantidades de carboidratos do rúmen para produzir mais quantidade de ácido láctico (GONZÁLEZ & SILVA, 2006). Ambas as formas D e L de ácido láctico são produzidas, as quais aumentam a osmolaridade que, por sua vez, retira água do sistema circulatório causando hemoconcentração e desidratação. Uma parte do ácido láctico é tamponada pelos tampões ruminais, mas quantidades consideráveis são absorvidas pela parede ruminal, ao passo que o restante é absorvido pelo trato intestinal. A medida que o pH ruminal cai, a amplitude e a freqüência dos movimentos do rúmen diminuem e com o pH ao redor de 5 há completa parada ruminal (BLOOD et al., 1979). SINAIS CLINICOS Os sinais clínicos são variáveis e dependem da quantidade de alimento consumido, da composição do alimento, do tamanho da partícula do alimento e da adaptação prévia do animal à ração. Os animais com acidose ruminal, geralmente apresentam depressão, anorexia, cambaleio, desidratação (aumento do hematócrito e proteínas totais sem sinais clínicos de desidratação), atonia ruminal, rúmen repleto de líquido (diferenciar de indigestão vagal), diarréia, freqüência cardíaca aumentada (acima de 100 bpm), temperatura pode estar normal ou alterada, febre e peritonite, DIAGNOSTICO CLINICO Na anamnese deve-se questionar principalmente sobre o manejo alimentar, proporção volumoso/concentrado, composição da dieta, manejo da alimentação, possíveis falhas na escala de alimentação e mudanças recentes na dieta. Facilidade de acessos a depósitos de grãos e concentrado também deve ser investigada. Deve-se inspecionar o rebanho, pois podem ser observados animais em diferentes fases de evolução da acidose com alguns apresentando sinais agudos como diarréia e distensão abdominal e outros apenas anorexia. Na avaliação do indivíduo deve ser realizado exame físico completo com aferição de frequência cardíaca, respiratória, avaliação de estado mental, auscultação rumenal, avaliação da consistência rumenal, inspeção do contorno abdominal e aferição de temperatura corporal. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL O exame de conteúdo rumenal é uma ferramenta essencial no diagnóstico da acidose rumenal. As amostras podem ser colhidas por sonda ororrumenal, ou por rumenocentese. O fluido colhido apresenta coloração cinza-leitosa, odor ácido e consistência aquosa. Valores de pH em torno de 5,5 são indicativos de acidose subaguda enquanto pH em torno de 5,0 ou menos, indica acidose aguda. Deve-se levar em consideração o método de colheita. Na prova de redução do azul de metileno é avaliado o metabolismo fermentativo da microbiota. Na acidose pode ser observado um tempo de redução diminuído, menos de um minuto indicando microbiota muito ativa, geralmente no início do quadro, ou tempo aumentado, mais de 15 minutos, já indicando um caso prolongado com morte de grande parte da microbiota. Na prova de sedimentação e flotação a sedimentação ocorre muito rápida e flotação ausente, indicando um fluido rumenal inativo. Na avaliação microscópica dos protozoários observa-se redução, em graus variados, da densidade, viabilidade e motilidade, além de redução ou ausência de protozoários grandes e médios, indicando um ambiente rumenal desfavorável. No hemograma podem ser observados aumentos no hematócrito e proteínas plasmáticas refletindo a desidratação que ocorre na acidose. Na bioquímica sérica podem ser observadas redução de pH sanguíneo, bicarbonato e hipocalcemia. Na urinálise pode ser observado pH ácido. PREVENÇÃO E CONTROLE Divisão dos lotes de animais observando densidade, competição e área de cocho. Adaptar os animais confinados aumentando a percentagem de carboidratos facilmente fermentáveis de forma gradual para multiplicar as bactérias utilizadoras de ácido lático; Não iniciar a dieta de confinamento com os animais famintos A utilização de aditivos tem como efeito primário a melhoria da conversão alimentar e do ganho de peso, mas podem reduzir a incidência de acidose, timpanismo, abscessos hepáticos e outros. Entre os aditivos destaca-se a utilização dos antibióticos ionóforos que, seletivamente, deprimem ou inibem o crescimento de microorganismos rumenais. Os ionóforos podem reduzir a incidência de acidose, pois inibem o crescimento de bactérias produtoras de ácido lático e, as bactérias que produzem ácido succínico ou fermentam ácido lático são geralmente resistentes a eles. Além disso melhoram a eficiência do metabolismo de energia, alterando a proporção entre os AGV’s no rúmen com maior produção de propionato e redução de acetato e butirato e diminuição da produção de metano (Nicodemo, 2001). TRATAMENTO O tratamento da acidose ruminal envolve a correção da acidose no rúmem e a metabólica, mediante reposição de fluidos e eletrólitos e restauração da motilidade ruminal e intestinal. O tratamento varia desde o conservativo, com administração oral de antiácidos e fornecimento de feno até rumenotomia, lavagem ruminal e reposição hidroeletrolítica intravenosa. A gravidade dos achados no exame clínico indicará a necessidade de um ou de outro tratamento. Fatores econômicos também devem ser levados em consideração na escolha do tratamento (RADOSTITS et al., 2007). A correção da acidose rumenal pode ser conseguida com a administração oral de agentes alcalinizantes como bicarbonato de sódio ou hidróxido de magnésio na dose de 1g/kg de pesovivo. O produto deve ser diluído em aproximadamente dez litros de água morna e administrado por sonda ororruminal. Outra maneira de se corrigir a acidose ruminal é por meio de lavagem. Passa-se uma sonda de grosso calibre (25-28cm) até o rúmen. É adicionada água morna até se observar distensão abdominal esquerda quando então a sonda é posicionada em nível inferior ao rúmen e é permitido o esvaziamento de conteúdo por gravidade. O procedimento é repetido de dez a 15 vezes quando o rúmen será quase inteiramente lavado (RADOSTITS et al., 2007). REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS AFONSO, J.A.B.; CIARLINI, P.C.; KUCHEMBUCK, M.R.G.; KOHAYAGAWA, A.; FELTRIN, L.P.Z.; CIARLINI, L.D.R.P.; LAPOSY, C.B. Metabolismo oxidativo dos neutrófilos de ovinos tratados com monensina sódica e experimentalmente submetidos à acidose ruminal. Pesquisa Veterinária Brasileira. 2002. v. 22, n.4, p. 128-134 BLOOD, D.C.; HENDERSON, J.A.; RADOSTITS, O.M. Doenças do trato alimentar. In: Clínica Veterinária. 5ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 1979, p.95-149. GONZÁLEZ, F.H.D.; SILVA, S.C. Bioquímica clínica de glicídes. In: Introdução a bioquímica clínica veterinária. 2ed. Porto Alegre: Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2006, p.153- 207. HOWARD, J.L. Diseases of the ruminant forestomach. In: Current veterinary therapy – food animal practice 2. Philadelphia: W.S. Saunders Company, 1986, p.715-722. RADOSTITS, O.M.; GAY, C.C.; BLOOD, D.C. et al. Veterinary medicine.A textbook of the diseases of cattle, sheep, pigs, goats and horses. 9.ed. London: W.B. Saunders, 2000. p.867-891