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Trabalho - Constelação Familiar no Direito

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KAMILA MORGAN VILA – RA: 7181214 
 
 
Técnicas de Mediação e a Constelação Familiar como mecanismo de 
efetivação das mediações 
 
 
 
O que é? 
 
Antes de falarmos sobre a aplicação deste sistema no âmbito jurídico, 
precisamos entender o que é a constelação familiar. 
 
A constelação familiar é uma prática terapêutica desenvolvida pelo terapeuta, 
teólogo, pedagogo e filósofo Anton Suitbert Hellinger. Nascido na Alemanha em 1925, 
foi sacerdote e missionário em uma tribo Zulu, atuando na África do Sul por 16 anos. 
Neste período, percebeu que os integrantes da tribo tinham sua própria dinâmica de 
resolução de conflitos: não haviam fatos isolados, quando um problema acontecia com 
um membro, este problema era de todos. 
 
 Ao retornar para seu país de origem, Hellinger se aprofundou nos estudos da 
psicologia, onde se tornou proficiente em diversos tipos de terapia. Essas diferentes 
vertentes associadas a outros conceitos estudados por Hellinger, foram fundamentais 
para que ele chegasse ao entendimento do método de Constelação Familiar. 
 
 Somente nos anos 80, Hellinger ingressou seu trabalho nas constelações 
familiares. Como na época não era possível explicar os diversos mecanismos, a 
prática terapêutica era visto como algo místico. 
 
O terapeuta ampliou estes trabalhos com a visão fenomenológica e através da 
observação dos vínculos invisíveis que atuam nos membros pertencentes ao sistema 
familiar, ou seja, as crenças, vivências, doenças, traumas e valores dos ancestrais 
podem refletir e influenciar a vida dos descendentes. É possível observar estes 
vínculos com os antepassados através de obstáculos recorrentes na vida do indivíduo, 
como por exemplo, problemas afetivos ou doenças. 
 
Assim, afirma Hellinger: 
 
O método pode ser adotado para auxiliar pessoas a identificar o que deve ser 
feito e a utilizar as reações dos representantes para mudar a dinâmica 
familiar, de sorte a restabelecer as ordens sistêmicas ocultas do amor e 
permitir que ele flua livremente. (2012, p. 12).1 
 
Nas sessões são recriados momentos do constelado com seus familiares. A 
dinâmica pode ser feita em grupo ou individualmente. Na sessão em grupo, são os 
voluntários que revivem estas cenas. Já na sessão individual, são utilizados bonecos 
ou qualquer outro objeto para representar os papéis do sistema (pais, avós, cônjuge 
e etc). 
 
 Os preceitos da Constelação familiar 
 
A Constelação Familiar se baseia em três conceitos conhecidos como Leis do 
Amor. Hellinger afirma que respeitar estas leis gera relações harmoniosas e felizes 
entre os membros do sistema familiar. Se infringidas, mesmo que inconscientemente, 
geram dor e sofrimento. 
 
 Lei do Pertencimento: Todos fazem parte do sistema familiar e devem ser 
reconhecidos, amados e incluídos, não devendo haver nenhum tipo de 
exclusão 
 
 
1 Bert, Hellinger. A simetria oculta do amor. Ed. Cultrix, 2012. 
 Lei da Precedência: Deve haver hierarquia entre os membros da família, 
respeitando seus ascendentes. Esta lei também rege sobre o 
reconhecimento dos fatos da vida, sendo assim, deve-se reconhecer a 
importância das relações anteriores para que seja possível obter sucesso 
nas relações posteriores. 
 
 Lei do Equilíbrio: É necessário o equilíbrio entre o dar e receber nas relações 
para que não exista sentimento de dívida um com o outro, mas de amor. E 
desta forma, todos os membros do sistema se beneficiam. Salvo a relação 
entre pais e filhos, pois os pais deram o bem mais valioso aos seus filhos: a 
vida. E tal bem é tão valioso que jamais poderão obter um reconhecimento 
à altura. 
 
O reconhecimento da Constelação Familiar no sistema de saúde do Brasil 
 
A terapia foi reconhecida pelo SUS (Sistema Único de Saúde) desde março de 
2018 como uma prática complementar de saúde. Sendo assim, cidadãos podem obter 
o tratamento de maneira gratuita através do Estado, assim como outras 28 terapias 
alternativas. 
 
Para o Conselho Federal de Medicina se opôs a pratica da constelação familiar 
por não haver nenhum dado científico que comprove a eficácia. 
 
No Judiciário 
 
 Nos dias de hoje, o nosso judiciário está sobrecarregado sendo quase 80 
milhões de processos em andamento no país. Devido à alta demanda, tem sido 
adotado cada vez mais formas alternativas para incentivar a conciliação. 
 
O percursor da utilização da constelação familiar na justiça foi Sami Storch, juiz 
de direito da comarca de Itabuna, no estado da Bahia. Storch conheceu o método em 
2003, quando ele mesmo passou pela terapia e fascinou-se com o ocorrido. 
 
 Grande parte dos casos que cuidava eram processos de divórcio e questões 
familiares. Após começar a aplicar o método nestes casos notou grande porcentagem 
de resolução. Em 2012 solicitou autorização do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia 
para tornar oficial a prática através de “grupos de vivência” e desde então diversos 
tribunais aderiram a constelação familiar como forma de mediação e solução de 
conflitos. Hoje em dia já está presente em mais de 16 Estados e no DF, segundo 
dados do CNJ. 
 
 A medida está alinhada à Resolução CNJ n. 125/2010 do Conselho Nacional 
de Justiça (CNJ), que estimula práticas para extinguir conflitos de forma adequada, 
assim como o novo Código de Processo Civil, que incentiva medidas conciliatórias 
que promovem a pacificação entre os litigantes. 
 
 O magistrado Sami Storch deu origem a expressão Direito Sistêmico, que surge 
como uma ótima opção para uma solução rápida para a lide e satisfatória para as 
partes. 
 
Sobre o tema, manifestam-se Oldoni, Lippmann e Girardi: 
 
O Direito Sistêmico, em termos técnico-científicos, é um método sistêmico-
fenomenológico de solução de conflitos, com viés terapêutico, que tem por 
escopo conciliar, profunda e definitivamente, as partes, em nível anímico, 
mediante o conhecimento e a compreensão das causas ocultas geradoras 
das desavenças, resultando daí paz e equilíbrio para os sistemas envolvidos. 
(2018, p. 27)2 
 
2 OLDONI, Fabiano; LIPPMANN, Márcia Sarubbi; GIRARDI, Maria Fernanda Gugelmin. Direito Sistêmico: 
aplicação das leis sistêmicas de Bert Hellinger ao Direito de Família e ao Direito Penal. 2 ed. Joinville: 
Manuscritos, 2018. 
O objetivo desta terapia inserida em uma demanda judicial não é trabalhar só 
o indivíduo, mas o seu sistema, pois as partes envolvidas em um processo judicial são 
convidadas a se colocarem no lugar do outro e, com isso, percebem como suas ações 
refletem no sistema, fazendo com que percebam qual melhor caminho para resolução. 
 
Segundo Aguiar et al., embora a aplicação do Direito Sistêmico tenha iniciado 
em questões familiares, esta abordagem pode ser utilizada em qualquer área do 
Direito, com um potencial enorme de aplicação da técnica de Constelações Familiares 
na efetivação de conciliações entre as partes e na resolução de conflitos (2018, p. 72). 
 
Diante do exposto, temos que a expressão Direito Sistêmico representa a 
atuação dos operadores do direito, de forma processualista e aplicando as leis 
sistêmicas aos conflitos, seja em vivências coletivas ou em audiências de mediação.3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 AGUIAR, Ana Cecília Bezerra de et al. Direito Sistêmico: o despertar para uma nova 
consciência jurídica. Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2018. 
Referências 
 
 
 
AGUIAR, Ana Cecília Bezerra de et al. Direito Sistêmico: o despertar para uma 
nova consciência jurídica. Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2018. 
 
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Constelação Familiar ajuda a humanizar 
DECLERCQ, Maria. Constelação familiar no Judiciário: pseudociência ou 
humanização?...11 fev. 2020. – Disponível em: 
https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/02/11/constelacao-familiar-pseudociencia-ou-humanizacao-do-judiciario.htm?cmpid=copiaecola 
 
HELLINGER, Bert. A simetria oculta do amor. São Paulo: Cultrix, 2008. 
http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/83766-constelacao-familiar-ajuda-humanizar-
praticasde-conciliacao-no-judiciario-2 
 
MENDES, Ana Tarna dos Santos. O QUE VEM A SER DIREITO SISTÊMICO? Jan. 
2017 – Disponível em: https://jus.com.br/artigos/54930/o-que-vem-a-ser-direito-
sistemico 
 
OLDONI, Fabiano; LIPPMANN, Márcia Sarubbi; GIRARDI, Maria Fernanda 
Gugelmin. Direito Sistêmico: aplicação das leis sistêmicas de Bert Hellinger ao 
Direito de Família e ao Direito Penal. 2 ed. Joinville: Manuscritos, 2018. 
práticas de conciliação no Judiciário. 31 out. 2016. Disponível em: 
https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/02/11/constelacao-familiar-pseudociencia-ou-humanizacao-do-judiciario.htm?cmpid=copiaecola
https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/02/11/constelacao-familiar-pseudociencia-ou-humanizacao-do-judiciario.htm?cmpid=copiaecola
http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/83766-constelacao-familiar-ajuda-humanizar-praticasde-conciliacao-no-judiciario-2
http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/83766-constelacao-familiar-ajuda-humanizar-praticasde-conciliacao-no-judiciario-2
https://jus.com.br/artigos/54930/o-que-vem-a-ser-direito-sistemico
https://jus.com.br/artigos/54930/o-que-vem-a-ser-direito-sistemico

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