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AULA 4 PROCESSO DE CONHECIMENTO Prof. Silvano Alves Alcantara 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula os temas versarão sobre as audiências que podem acontecer no processo civil, bem como as providências preliminares que devem ser tomadas antes mesmo de suas realizações, como o seu saneamento. Também se verá que, dependendo do caso, a lide poderá ter seu julgamento antecipado conforme o estado em que se encontre o processo. CONTEXTUALIZANDO Uma petição inicial foi distribuída, iniciando-se um determinado processo cível. Após uma primeira análise, o juiz verificou que a petição inicial estava conforme e ordenou a citação do réu. A audiência de conciliação restou infrutífera. Dentro do prazo legal o réu ofereceu sua contestação juntando os documentos que entendeu necessários, após a qual o juiz tomou algumas providências preliminares, saneando o processo e julgou antecipadamente o pedido, proferindo sentença com resolução de mérito. O juiz pode julgar antecipadamente o pedido proferindo sentença com resolução de mérito sem a realização de audiência de instrução e julgamento? TEMA 1 – DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU DE MEDIAÇÃO Sabe-se que as audiências devem ser públicas, salvo as exceções previstas na lei. É possível que você já tenha participado de alguma audiência, seja como parte, testemunha, ouvinte ou, bem provavelmente, como advogado. Assim, vamos aprender e estudar juntos sobre o desenvolvimento da audiência de conciliação ou mediação, sendo esta uma novidade do novo Código de Processo Civil (CPC). O objetivo dos litigantes deve ser o término do conflito, no tempo mais curto possível. A conciliação é, por conseguinte, esperada em qualquer momento do processo, sendo palavra de ordem no Judiciário, que inclusive instituiu, há alguns anos, a Semana Nacional de Conciliação. Lembre-se de que o acordo somente acontece quando as partes se mostrarem dispostas a ceder, pelo menos em parte, naquilo que pleiteiam. Se uma delas se fixar na intransigência, é pouco provável que a conciliação seja efetivada. 3 A audiência de conciliação ou de mediação será designada pelo juiz com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência. Desde que necessário para que as partes possam compor, as audiências poderão ocorrer em mais de uma sessão, desde que não ultrapasse de 2 (dois) meses da data da realização da primeira sessão, sendo que o autor será intimado na pessoa de seu advogado. É bem verdade que as audiências não serão realizadas se as partes se manifestarem expressamente contrárias à composição ou se a natureza da causa não permitir a autocomposição. O autor deverá manifestar seu desinteresse pela autocomposição já na petição inicial, e o réu, no prazo máximo de 10 (dez) dias antes da data prevista para a realização da audiência, também por petição. Havendo litisconsórcio, todos deverão se manifestar. O entendimento majoritário, tanto da doutrina quanto da jurisprudência é no sentido de que para que essa audiência não se realize, ambas as partes devem manifestar seu desinteresse. Entretanto alguns doutrinadores, como Bueno (2016, p. 272), entendem que se somente uma das partes manifestar seu desinteresse para a realização da audiência, já seria motivo bastante para que esta não seja designada: “Basta que uma não queira para frustrar o ato. Não faz sentido, ao menos quando o objetivo que se persegue é a autocomposição, que a vontade de uma parte obrigue a outra a comparecer à audiência (ainda mais sob pena de multa”. Novidade também é que a audiência de conciliação ou de mediação poderá ser realizada por meio eletrônico, de acordo com o art. 334, parágrafo 7º do CPC (Brasil, 2015). É importante realçar que qualquer das partes poderá ser penalizada com multa de até 2% (dois por cento) do valor da causa ou do proveito pretendido, se faltar sem justificativa à audiência, pois poderá ser considerado como ato atentatório à dignidade da justiça. Como regra, as partes deverão comparecer à audiência pessoalmente, acompanhadas de seus advogados ou defensores públicos, mas poderão outorgar procuração a representante, com poderes específicos para negociar e transigir. Havendo a composição do litígio, esta será homologada pelo juiz, sendo lavrado o termo. Não existindo o acordo, o processo terá seu prosseguimento regular. 4 TEMA 2 – DAS PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES Após ter transcorrido o prazo para contestação, dependendo do caso, devem ser tomadas determinadas providências para que o processo continue seu desenvolvimento regular, principalmente em relação ao seu modelo dialético, oferecendo-se às partes a possibilidade de se contradizerem, exercendo assim a ampla defesa. Por vezes, essas providências nem precisam ser tomadas, sendo, pois, eventuais e peculiares a cada processo. Se o processo não necessita de “reparos”, poderá prosseguir sem maiores problemas. O processo é então concluso ao juiz da causa, que poderá determinar que sejam adotadas algumas das seguintes medidas: a. Poderá determinar que o autor especifique as provas que pretende produzir em audiência, quando o réu não contestar e ainda assim não sofrer os efeitos da revelia, como é o caso da ação que verse sobre direitos indisponíveis. Mesmo que o réu seja revel, poderá produzir provas que sejam contrárias às alegações do autor, desde que se faça representar nos autos em tempo hábil de praticar os atos processuais indispensáveis a essa produção. b. Tendo oferecido o réu a contestação, alegando fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, este será ouvido em 15 (quinze) dias, podendo produzir prova. c. Da mesma forma, será ouvido o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, quando o réu alegar alguma das matérias previstas no art. 337 do CPC, como a litispendência, a coisa julgada e a inépcia da petição inicial, entre outras, que se transcreve a seguir, dando-lhe também a oportunidade de produzir prova documental. Sendo o vício sanável, o autor deverá supri-lo em um prazo de 30 (trinta) dias. Delfino (2015, p. 153) ensina que: Apresentada a contestação ou findo o prazo para a sua apresentação, os autos são conclusos ao juiz, para a determinação das providências cabíveis (art. 347), que variam, conforme caiba ou não a aplicação da pena de revelia; haja ou não alegado o réu fato extintivo, modificativo ou extintivo do direito do autor; haja ou não necessidade de atos para a sanação de irregularidades ou de nulidades; caiba o julgamento imediato da causa ou seja necessária a produção de provas. Não tendo sido contestada a ação e cabendo a aplicação da pena de revelia, o juiz determina a intimação do autor para especificar as provas que pretende produzir (art. 348). Se já as houver indicado, havendo, por 5 exemplo, arrolado as testemunhas na petição inicial, ele designa dia e hora para a audiência de instrução e julgamento. Assim dispõe o CPC no art. 337: Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar: I - inexistência ou nulidade da citação; II - incompetência absoluta e relativa; III - incorreção do valor da causa; IV - inépcia da petição inicial; V - perempção; VI - litispendência; VII - coisa julgada; VIII - conexão; IX - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização; X - convenção de arbitragem; XI - ausência de legitimidade ou de interesse processual; XII - falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar; XIII - indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça (Brasil, 2015) Superada a fase das providências preliminares, o juiz pode promover o julgamento conforme o estado do processo. TEMA 3 – JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO Viram-se anteriormente as causas de extinção do processo, com e sem a resolução de mérito, ambas dispostasnos art. 485 e 487 do CPC. Agora, questiona-se: existem outras possibilidades de extinção além daquelas previsões? Sim, em duas oportunidades o CPC assim garante. Diz o Código, em seu art. 353, que, sendo cumpridas as providências preliminares, ou não havendo necessidade delas, o juiz proferirá julgamento conforme o estado do processo (Brasil, 2015). Para Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2016, p. 337), “Trata-se de inequívoca manifestação da regra da adequação do processo às necessidades do direito material debatido em juízo”. Assim, o juiz poderá proferir sentença com resolução de mérito, julgando antecipadamente o pedido quando: a. Não houver necessidade de se produzir outras provas, julgando antecipadamente a lide; b. Da mesma forma, quando o réu for revel e não houver requerimento de prova. 6 Didier Jr (2018, p. 688) entende que: “O julgamento antecipado é uma decisão de mérito, fundada em cognição exauriente, proferida após a fase de saneamento do processo, em que o magistrado reconhece a desnecessidade de produção de mais provas em audiência de instrução e julgamento (provas orais, perícia e inspeção judicial)”. Ainda o juiz poderá proferir sentença decidindo parcialmente o mérito, quando um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles se a. For incontroverso; b. Estiver em condições de julgá-lo de imediato. Sobre o julgamento parcial do mérito explicam Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2016, p. 227) que: “nesses casos, representaria certamente uma má gestão do tempo de o processo deixar de decidir parte incontroversa da demanda ou um dos seus pedidos que se afigure incontroverso apenas para que se tenha a oportunidade de decidir o litígio como um todo ao mesmo tempo”. Não sendo possível o julgamento antecipado, o juiz dá seguimento ao processo, saneando-o e organizando-o. TEMA 4 – DO SANEAMENTO E DA ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO Não havendo o julgamento antecipado, de toda a sorte, para que o juiz possa fortalecer o seu juízo de convencimento, ele deve sanar e organizar o processo, tomando algumas atitudes, entre elas: Fixar os pontos controvertidos; Decidir sobre as questões processuais que se encontrarem pendentes; Determinar as provas que deverão ser produzidas e distribuir seu ônus; Delimitar as questões de fato e de direito; Além de designar audiência de instrução e julgamento, existindo a necessidade. Moreira (2017, p. 61), explica que “O saneamento, feito pelo despacho saneador, que na verdade não é despacho, mas sim decisão interlocutória, consiste num juízo positivo de admissibilidade relativamente à ação e a um juízo positivo no que tange à validade do processo”. Sob a ótica de Abelha (2016, p. 499), “esse é um momento crucial para a fase instrutória, pois é aqui que se delimitarão as questões de fato sobre as quais 7 recairá a prova, sobre como ficará distribuído o encargo probatório e as questões de direito que se apresentam como importantes para a resolução do conflito”. Assim sendo, estará saneado o processo, podendo as partes pedirem esclarecimentos ou solicitar ajustes, no prazo comum de 5 (cinco) dias, findo o qual a decisão se torna estável. TEMA 5 – DA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO A audiência de instrução e julgamento é o derradeiro ato da fase instrutória, em que serão colhidas as provas orais, tais como o esclarecimento do perito e assistentes técnicos, o depoimento pessoal das partes, a inquirição de testemunhas e tudo mais que se fizer necessário para se instruir o processo. Ressalte-se que a audiência de instrução e julgamento é una e contínua, podendo, como exceção, quando não for possível conclui-la no mesmo dia, sua instrução, debate e julgamento, o juiz marcar seu prosseguimento para a data mais próxima. Assim, chamadas e identificadas as partes e seus procuradores, o juiz ouvirá o autor e depois o réu, fixando de imediato os pontos controvertidos, baseando-se nos depoimentos. Essa ação é realizada com o intuito de conferir uma dinâmica maior ao processo, evitando com isso provas irrelevantes ou sem utilidade. Havendo a necessidade da prova pericial, os peritos e os assistentes técnicos terão a preferência em sua oitiva, esclarecendo os quesitos anteriormente requeridos. Após os depoimentos pessoais das partes, é a vez de serem chamadas as testemunhas, primeiramente as do autor, depois as do réu. Sendo ouvida a testemunha, esta assinará o termo lavrado de seu depoimento e ficará na sala de audiências, aguardando pelo seu término. Terminando a instrução, o juiz oferecerá a palavra aos advogados das partes, que debaterão oralmente, cada um no período de 20 (vinte) minutos, podendo ser prorrogado por mais 10 (dez) minutos a critério do juiz. Os representantes farão, de forma sucinta, uma explanação de tudo o que aconteceu no processo, procurando evidenciar aquilo que julgarem mais importante na busca da satisfação do direito do seu cliente. Quando o representante do Ministério Público (MP) estiver presente, a ele também será oferecida essa oportunidade de falar. 8 Apresentando a causa situações complexas que necessitem de exame mais aprofundado, assim também entendido pelo juiz, ao invés do debate oral, será permitido o oferecimento de razoes finais escritas, por meio de memoriais, em prazos sucessivos de 15 (quinze) dias, assegurada vista dos autos. Saiba mais Memorial é o relato, escrito e detalhado, mas ao mesmo tempo abreviado, dos acontecimentos mais relevantes de um processo, no qual os advogados têm a oportunidade de demonstrar ao juiz, com o realce devido, as questões mais relevantes das teses que defendem. Já se sabe que a audiência de instrução é una e contínua, mas pode ser adiada em algumas situações: Quando as partes assim decidirem em comum acordo; Se algum dos envolvidos não puder comparecer e, por motivo justificável, requerer o adiamento. Poderão assim requerer o perito, as partes, as testemunhas e os advogados; Por atraso injustificado de seu início em tempo superior a 30 (trinta) minutos do horário marcado. Poderá também a audiência de instrução ser dividida em caráter excepcional e justificadamente na ausência de perito ou de testemunha, desde que haja concordância das partes, quando o juiz marcará nova data para o seu prosseguimento normal. Realizado o debate oral ou apresentados os memoriais no prazo estipulado, o juiz proferirá a sentença, o que deve ocorrer na mesma audiência ou, no mais tardar, no prazo de 30 (trinta) dias, se ele entender que não está em condições de fazê-lo de imediato. O juiz não está obrigado a proferir sentença em audiência, ainda que as “alegações finais” nela tenham sido apresentadas (Marinoni; Arenhart; Mitidiero, 2016, p. 438). FINALIZANDO Teve-se a oportunidade de estudar neste encontro as audiências. Abordou- se a audiência de conciliação e de mediação, como também a de instrução e julgamento, cada qual com suas particularidades e objetivos. 9 Ainda se estudaram as possibilidades de julgamento antecipado do processo no estado em que este se encontre, como também se tratou das providências preliminares a serem adotadas pelo juiz para que o processo possa ter o seu prosseguimento válido e regular. LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica VEZZONI, M. Direito processual civil. 2. ed. Barueri: Manole, 2016. (Ler o capítulo 13). Texto de abordagem prática TJ – PR. Processo n. 0026548-17.2018.8.16.0000 (Decisão monocrática). 12ª Câmara Cível, 6 de julho de 2008. DJ, 6 jul.2008. Disponível em: <http://portal.tjpr.jus.br/jurisprudencia/j/4100000006765182/Decis%C3%A3o%20 monocr%C3%A1tica-0026548-17.2018.8.16.0000>. Acesso em: 30 jul. 2018. Saiba mais VIANA JR., D. Novo CPC e a audiência de Conciliação ou Mediação Obrigatória. Novo CPC Brasileiro, 2007. Disponível em: <https://www.novocpcbrasileiro.com.br/audiencia-de-conciliacao-mediacao-obrigatoria-no-novo-cpc/>. Acesso em: 30 jul. 2018. 10 REFERÊNCIAS ABELHA, M. Manual de direito processual civil. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. BRASIL. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 16 mar. 2015. BUENO, C. S. Manual de direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 2016. DELFINO, Lúcio. Procedimento comum: da petição inicial à sentença. Curitiba: Juruá, 2015. DIDIER JR., F. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento. v. 1, 20. ed. Salvador: Jus Podivm, 2018. MARINONI, L. G.; ARENHART, S. C.; MITIDIERO, D. Novo curso de processo civil. v. 2., 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. MOREIRA, J. C. B. O novo processo civil brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2017.