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FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU Departamento de Psicologia Desenvolvimento Humano: Adolescência, adultez e velhice. Docente: Hyalle Abreu Viana Discente: Bárbara Ferreira de Aquino; 04066044 Contribuições teóricas de Piaget, Vygotsky, Aberastury & Knobel, Erikson e Freud sobre o desenvolvimento da adolescência. Piaget: Ele assegurava que as mudanças na mesma maneira como os adolescentes raciocinam sobre si mesmos, e seus relacionamentos pessoais, tem como fonte o desenvolvimento de uma estrutura lógica que ele chamava de operações formais. A adolescência é tida como uma etapa de operações formais, onde acontece o amadurecimento das características da vida adulta, tendo uma dependência cada vez menor de objetos e fantasias para considerar problemas e situações (como na infância). No período de operações formais há sempre os questionamentos dos adolescentes no âmbito escolar e familiar, o indivíduo sofre influências neurológicas e ambientais se combinando para causar a maturidade cognitiva. Portanto, a verdadeira adaptação a sociedade vai se fazer automaticamente quando o adolescente de reformador, passa a ser realizador. Os diversos estudos de Piaget mostram que o adolescente raciocina sobre proposições e por isso, extrapola o real na direção do possível. “Na visão piagetiana, a transição de um período a outro necessariamente provoca um desequilíbrio temporário que, posteriormente, dá lugar a uma forma superior de raciocínio. Desta maneira, no início de cada etapa verifica-se uma predominância da assimilação sobre a acomodação- o indivíduo incorpora a realidade às estruturas que já possui. Pouco a pouco, através de um processo gradual, as estruturas internas tornam-se adequadas à realidade, atingindo assim, um equilíbrio maior.” (RAPPAPORT, 1981. PÁG 69). Vygotsky: A adolescência se constitui a partir de um processo dialético que se organiza em torno de uma unidade psíquica, física, mental, biológica e cultural, unidade essa que foi descrita a partir da relação entre quatro linhas de desenvolvimento, a saber: 1) linha do desenvolvimento dos interesses, 2) do pensamento e da formação de conceitos, 3) das funções psíquicas superiores, 4) da imaginação e criatividade. O adolescente, neste processo, é considerado como um sujeito social e histórico. Ele avança no seu desenvolvimento à medida que se inscreve no seu contexto, e ao estabelecer relações com o meio e consigo mesmo, vivência sua trajetória de transição, marcada de profundas mudanças internas e externas, que configuram um sistema mais amplo de desenvolvimento. Sendo assim, a adolescência é tida como um fenômeno histórico-cultural, no qual o contexto social é a fonte de desenvolvimento do sujeito. Dessa maneira, Vygotsky afirma que é a partir dos valores, crenças e preocupações que o homem é constituído pelo meio no qual está inserido. “Com experimental clareza temos podido observar como a maturação e o surgimento de novas atrações e necessidades internas ampliam infinitamente o círculo de objetos que possuem força incitadora para os adolescentes, como esferas inteiras de atividades, antes neutras para eles, se convertem agora em momentos fundamentais que determinam a sua conduta, como, a partir do novo mundo interno, surge para o adolescente um mundo exterior completamente novo.” (Vygotsky, 1984/2014, p. 11). Aberastury & Knobel: A adolescência, vem a ser como uma verdadeira experiência clínica, onde é muito fácil assinalar o limite entre o patológico e o normal, que mais do que uma etapa estabilizada, é um processo de desenvolvimento. O adolescente passa por desequilíbrios e instabilidades extremas, porque para isso, o adolescente deve enfrentar o mundo dos adultos e desprender-se do seu mundo infantil, que Abesrastury e Knobel denominaram de síndrome da adolescência normal, esta síndrome surge da interação do indivíduo com o seu meio. O adolescente isolado não existe, pois não existe ser algum desligado do mundo. Em virtude da crise existencial da adolescência, esta idade é a mais apta para sofrer os impactos de uma realidade frustrante que acarreta diferentes características e situações. Devido a ser uma altura em que o indivíduo se encontra em fase de construção da sua personalidade, é normal acontecerem processos antagónicos no que diz respeito às suas opções, comportamentos, formas de pensar e de agir. Verifica-se ainda que a síndrome da adolescência normal é influenciada por fatores internos e externos. Portanto, a influência familiar, social e cultural são algumas das influências que contribuem para o desenrolar desta fase e que, junto com os fatores internos, vão culminar no que mais tarde se irá definir como o adulto de amanhã. “... a etapa da vida durante a qual o indivíduo busca estabelecer a sua identidade adulta apoiando-se nas primeiras relações objeto-parentais internalizadas e verificando a realidade que o meio social lhe oferece, mediante o uso de elementos biofísicos disponíveis para o seu desenvolvimento de acordo com a sua disposição e que, a seu tempo, tendem a estabilizar a personalidade …” (Aberastury & Knobel, 1970). Erikson: Para ele, a formação da identidade não começa nem termina com a adolescência. É um processo que dura toda a vida, amplamente inconsciente para o indivíduo. Suas raízes remontam à infância com a experiência de reciprocidade entre pais e filhos. Quando as crianças delimitam seu primeiro objeto de amor, começam a encontrar a autorrealização acompanhada do reconhecimento mútuo. No geral, a adolescência começa com a instância de identidade difusa, que segundo Erikson é um estado de coisas em que o sujeito não estabelece compromissos firmes com nenhuma atitude ideológica, ocupacional ou interpessoal, nem está vislumbrando tal possibilidade. Qualquer compromisso que possa ocorrer tende a ser efêmero e a ser substituído com rapidez por outros, igualmente provisórios. Um aspecto interessante da teo-ria de Erikson é o conceito da adolescência como moratória psicossocial, ou melhor, como um período intermediário admitido socialmente, durante o qual o indivíduo pode encontrar uma posição na sociedade por meio da livre experimentação de funções. Depois de ter chegado ao autoconhecimento nos aspectos físicos, cognitivo, interpessoal, social e sexual, os adolescentes começam a refletir sobre os tipos de compromissos que gostariam de assumir, o que seria o estado da identidade em fase de moratória. Erikson afirmava que a duração e a intensidade da adolescência variam nas diferentes sociedades, mas em todas elas a ideia de não ter formado a própria identidade ao final da adolescência produz um profundo sofrimento para o adolescente por causa da difusão de papéis. Tal confusão pode ser responsável pela aparição de problemas psicológicos previamente latentes. O adolescente que fracassa na busca da identidade experimentará insegurança e poderá ficar preso a uma preocupação constante ou numa atividade autodestrutiva. Poderá ter uma tendência a preocupar-se em demasia com as opiniões de outros ou cair no polo oposto, não se importar em absoluto com o que os outros pensam. A aproximação com o uso de drogas de forma recorrente pode ser uma forma de descarregar a ansiedade que gera esta difusão de papéis. “uma personalidade saudável domina ativamente seu meio, demonstra possuir uma certa unidade de personalidade (…). De fato, podemos dizer que a infância se define pela ausência inicial desses critérios e de seu desenvolvimento gradual em passos complexos de crescente diferenciação. Como é, pois, que uma personalidade vital cresce ou, por assim dizer, advém das fases sucessivas da crescente capacidade de adaptação às necessidades da vida – com algumas sobras de entusiasmo vital?” (Erikson, 1987, p. 91). Freud: Em seus escritos sobre as fases de desenvolvimento psicossexual, ele delimita 5 fases: oral, anal, fálica, período de latência, e por último a fase genital. Segundo Freud a adolescênciaseria esse período que marca o fim do período de latência (com a puberdade), e faz a transição para a fase genital (vida adulta). Durante o período da adolescência, a puberdade é o ápice de uma série de mudanças, sendo um período de excitação, ansiedade, sendo descrita como um período em que a sexualidade deixaria de ser distribuída em zonas erógenas diversas para se concentrar na zona genital. Freud é, certamente, influenciado pela normatividade da época, que associava sexualidade à reprodução. Entretanto, ele continua a ressaltar a importância da fantasia para a escolha dos parceiros amorosos e das relações sexuais. Por isso, o adolescente e o adulto estariam na mesma fase e não há um período posterior que denote mais maturidade afetiva. Anna Freud, por outro lado, buscou mais sobre esse período da vida e suas mudanças. Caracterizava a adolescência como um período de conflitos internos, desequilíbrio psíquico e comportamento inconstante, considerava -os egoístas e que eles pensavam ser o centro do universo, para ela é uma fase um tanto contraditória, oscilam muito entre seus pensamentos e sentimentos pois diz que eles ao mesmo tempo que se envolvem com a sociedade, também querem sentir a solidão. As razões para tal comportamento são dadas pela maturação sexual e pelo amadurecimento psicológico que fazem com que ocorra um desiquilíbrio psíquico e conflitos internos. A adolescência seria, portanto, esse período de latência social, constituída a partir da sociedade capitalista gerada por questões de ingresso no mercado de trabalho, mudanças físicas e emocionais e extensão do período escolar, o fim de um ciclo. A adolescência é um tema de grande importância para a práxis psicanalítica, na medida em que sua transição acarreta implicações fundamentais para o sujeito e para o laço social. Ainda que não trate da adolescência em diversos momentos de sua obra, Freud aborda a puberdade, evento que faz o sujeito adolescer. “Somente em raríssimos casos a valorização psíquica com que é aquinhoado o objeto sexual, enquanto alvo desejado da pulsão sexual, restringe-se à sua genitália; ela se propaga, antes, por todo o seu corpo, e tende a abranger todas as sensações provenientes do objeto sexual. A mesma supervalorização irradia-se pelo campo psíquico (...). Assim é que a credulidade do amor passa a ser uma fonte importante, se não a fonte originária da autoridade” (FREUD, 1905, p. 147)