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1 DESENVOLVIMENTO HUMANO E LUDOPEDAGOGIA 1 Sumário INTRODUÇÃO ......................................................................................... 3 1. A ciência do desenvolvimento humano: uma perspectiva interdisciplinar .......................................................................................... 4 1.1 Psicologia do desenvolvimento humano: uma ciência em evolução.. 5 1.2 Teoria de desenvolvimento humano Jean Piaget .............................. 8 1.3 VYGOTSKY e o desenvolvimento ................................................... 20 1.4 Desenvolvimento e Aprendizagem: a Zona de Desenvolvimento Proximal ................................................................................................. 22 1.5 A Teoria da Motivação de Abraham Maslow ................................... 25 1.6 Teoria de Erik Erikson sobre o Desenvolvimento Humano .............. 27 2. Definindo Ludopedagogia ............................................................. 35 2.1 Descobrimento e Construção do Conceito de Criança e Infância; ... 40 2.2 A Criança x Infância ......................................................................... 44 2.3 A Criança E A Cultura Lúdica .......................................................... 48 2.4 Ludicidade na educação infantil: a brincadeira como fonte de interesse e aprendizagem ..................................................................................... 52 CONCLUSÃO ........................................................................................ 60 REFERÊNCIA ........................................................................................ 62 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 INTRODUÇÃO Desenvolvimento humano é um conceito baseado na ideia de liberdade dos seres humanos, para que estes tenham as oportunidades e capacidades de viverem com qualidade de vida e de acordo com os seus objetivos. Ao contrário do crescimento econômico, o desenvolvimento humano não está diretamente relacionado com a análise dos recursos financeiros, mas sim com a satisfação das pessoas com o modo como vivem a vida. Assim, para analisar o nível do desenvolvimento humano de determinado grupo, deve-se observar não a renda, mas todas as condições e oportunidades que os indivíduos possuem para conseguirem ter uma vida com dignidade e qualidade. No âmbito da psicologia, o desenvolvimento humano se refere à formação da identidade do indivíduo, ou seja, o seu comportamento, os valores, capacidades, e etc. Neste aspecto, o desenvolvimento humano leva em consideração vários fatores distintos, como características genéticas, padrões intelectuais, emocionais, os grupos de convívio em que está inserido, o desenvolvimento físico, entre outros. A Ludopedagogia é uma tendência que busca nas atividades lúdicas uma forma de planejar atividades escolares que motivem os alunos para a construção do conhecimento. O que ocorre é o que o uso do lúdico na escola ora tem sido empregado como recreação simplesmente, ora como uma técnica pedagógica. Atualmente, não há mais dúvidas de que o lúdico deve ser incorporado à educação como algo que pode desencadear um processo permanente de educar. Portanto, o foco principal do nosso estudo está centrado em conhecer os fundamentos da Ludopedagogia. 4 1. A ciência do desenvolvimento humano: uma perspectiva interdisciplinar O início do novo milênio tem se caracterizado por um período de transição, com rupturas em estruturas sociais, flutuações em níveis de recursos econômicos, afloramento de tecnologias genéticas, imigração global, acesso rápido a informações, relacionamento virtual, emergência de questões ecológicas como a degradação e a preservação ambiental, dentre outros fenômenos. Esses fatos têm gerado crises e inconstância sem precedentes históricos (Giddens, 2000; Shanahan et al., 2000; Stern, 2000). Paralelamente, na prática científica, vivemos um momento de rupturas paradigmáticas, em que vemos emergir a relevância do contexto social na investigação dos fenômenos. No caso do desenvolvimento humano, o contexto serve como tela de fundo para se compreender a contínua interação entre as mudanças que ocorrem no organismo e no seu ambiente imediato. O contexto 5 refere-se às condições de vida, aos sistemas sócio-histórico-culturais, ao ambiente físico e de pessoas que compõem o cenário no qual se insere o sistema indivíduo-ambiente em desenvolvimento (Cohen e Siegel, 1991). Fatores relacionados à idade, ao gênero, ao estágio de vida, à trajetória ou ao curso de vida, se inseridos em um dado contexto, assumem certas características que, se analisadas sob outros contextos, dificilmente seriam iguais. Dessa forma, compreender as interações complexas, dinâmicas e multifacetadas entre a pessoa e o seu ambiente, em um determinado contexto social, histórico e cultural, requer uma perspectiva de investigação sistêmica e interdisciplinar. Este capítulo introdutório é dedicado a apresentar os pressupostos básicos da ciência do desenvolvimento humano, uma disciplina que emergiu em função do avanço do conhecimento em psicologia do desenvolvimento e áreas afins ocorrido nas últimas décadas. 1.1 Psicologia do desenvolvimento humano: uma ciência em evolução 6 Um breve histórico sobre a psicologia do desenvolvimento Conforme evidencia Palácios (1995), os primeiros autores que se ocuparam de questões evolutivas sob uma perspectiva propriamente psicológica datam apenas da metade do século XIX e das primeiras décadas do século XX. Todavia, alguns filósofos dos séculos XVII e XVIII, como J. Locke (1632-1704), D. Hume (1711-1776), J.-J. Rousseau (1712-1778) e I. Kant (1724-1804), já concebiam idéias que influenciariam a psicologia do desenvolvimento. Por exemplo, Locke acreditava que a mente humana poderia ser comparada, desde o nascimento, a um quadro em branco e toda a estimulação do ambiente é que formaria a psique. Rousseau e Kant, por sua vez, enfatizavam a existência de características inatas do ser humano. Enquanto Rousseau defendia a bondade natural da criança e já mostrava a divisão da infância em estágios com características próprias, Kant enfatizava a existência de categorias inatas do pensamento. Essas tendências filosóficas acabaram por influenciar a construção das teorias da psicologia do desenvolvimento, no século XX. De um lado, os modelos mecanicistas que enfatizavam a esfera do empirismo, buscando operacionalizar as investigações dentro do que poderia ser medido e quantificado, sendo o desenvolvimento humano visto como modelado pelo ambiente. A história do indivíduonão era nada mais do que o acúmulo de experiências de aprendizagem. A filosofia behaviorista e as teorias de aprendizagem social constituem exemplos deste modelo. De outro lado, os modelos organicistas valorizavam os processos de caráter universal presentes no desenvolvimento de qualquer indivíduo (Palácios, 1995). Estes modelos ressaltavam os processos internos mais que os externos, sugerindo a existência de uma certa necessidade evolutiva que faria com que o desenvolvimento percorresse determinados estágios. A psicanálise e, até certo ponto, a teoria piagetiana1, são exemplos de tal modelo. Assim, a psicologia do desenvolvimento, enquanto disciplina científica que procura explorar, descrever e explicar os padrões comportamentais de estabilidade e mudança, expressos pelo indivíduo durante o seu curso de vida, 7 foi conquistada ao longo do século XX, a partir da adoção de paradigmas metodológicos inspirados no positivismo e nas ciências naturais (Dasen e Mishra, 2000; Hinde, 1992). As principais técnicas investigativas que mais serviram às conquistas da psicologia do desenvolvimento foram: a observação direta do comportamento, a entrevista e o questionário. Os dados obtidos eram integrados em um todo coerente, dando início às diversas teorias que serviram de base para a construção de conceitos e de novas investigações (Breakwell et al., 1995). Com essas técnicas e instrumentos, os padrões de desenvolvimento do indivíduo foram explorados, desde a sua concepção até o final da adolescência, sugerindo o cessar dessas transformações ou mudanças quando o indivíduo atingisse a maturidade. Portanto, as teorias da psicologia do desenvolvimento, até meados da segunda metade do século XX, propunham definir parâmetros ou padrões normativos que pudessem explicar o que, como e por que as mudanças ocorriam na infância e na adolescência, além dos possíveis desvios que poderiam ocorrer nessa trajetória. O desenvolvimento foi organizado em estágios evolutivos, enfatizando aspectos distintos do desenvolvimento humano: orgânicos, motores, cognitivos, afetivos, sexuais, morais, sociais, históricos e culturais. Entretanto, a partir da segunda metade do século XX, a sociedade pós-moderna e pós- industrial viu surgir um novo paradigma nas ciências sociais e nas ciências naturais que vem se consolidando como o paradigma para o século XXI. 8 1.2 Teoria de desenvolvimento humano Jean Piaget O estudo do desenvolvimento do ser humano constitui uma área do conhecimento da Psicologia cujas proposições nucleares concentram-se no esforço de compreender o homem em todos os seus aspectos, englobando fases desde o nascimento até o seu mais completo grau de maturidade e estabilidade. Tal esforço, conforme mostra a linha evolutiva da Psicologia, tem culminado na elaboração de várias teorias que procuram reconstituir, a partir de diferentes metodologias e pontos de vistas, as condições de produção da representação do mundo e de suas vinculações com as visões de mundo e de homem dominantes em cada momento histórico da sociedade. Dentre essas teorias, a de Jean Piaget (1896-1980), que é a referência deste nosso trabalho, não foge à regra, na medida em que ela busca, como as demais, compreender o desenvolvimento do ser humano. No entanto, ela se destaca de outras pelo seu caráter inovador quando introduz uma 'terceira visão' representada pela linha interacionista que constitui uma tentativa de integrar as 9 posições dicotômicas de duas tendências teóricas que permeiam a Psicologia em geral - o materialismo mecanicista e o idealismo - ambas marcadas pelo antagonismo inconciliável de seus postulados que separam de forma estanque o físico e o psíquico. Um outro ponto importante a ser considerado, segundo estudiosos, é o de que o modelo piagetiano prima pelo rigor científico de sua produção, ampla e consistente ao longo de 70 anos, que trouxe contribuições práticas importantes, principalmente, ao campo da Educação - muito embora, curiosamente aliás, a intenção de Piaget não tenha propriamente incluído a idéia de formular uma teoria específica de aprendizagem (La Taille, 1992; Rappaport, 1981; Furtado et. al.,1999; Coll, 1992; etc.). O propósito do nosso estudo, portanto, é tecer algumas considerações referidas ao eixo principal em torno do qual giram as concepções do método psicogenético de Piaget, o qual, segundo Coll e Gillièron (1987:30), tem como objetivo "compreender como o sujeito se constitui enquanto sujeito cognitivo, elaborador de conhecimentos válidos", conforme procuraremos discutir na seqüência deste trabalho. 1) A visão interacionista de Piaget: a relação de interdependência entre o homem e o objeto do conhecimento Introduzindo uma terceira visão teórica representada pela linha interacionista, as idéias de Piaget contrapõem-se, conforme mencionamos mais acima, às visões de duas correntes antagônicas e inconciliáveis que permeiam a Psicologia em geral: o objetivismo e o subjetivismo. Ambas as correntes são derivadas de duas grandes vertentes da Filosofia (o idealismo e o materialismo mecanicista) que, por sua vez, são herdadas do dualismo radical de Descartes que propôs a separação estanque entre corpo e alma, id est, entre físico e psíquico. Assim sendo, a Psicologia objetivista, privilegia o dado externo, afirmando que todo conhecimento provém da experiência; e a Psicologia subjetivista, em contraste, calcada no substrato psíquico, entende que todo conhecimento é anterior à experiência, reconhecendo, portanto, a primazia do sujeito sobre o objeto (Freitas, 2000:63). 10 Considerando insuficientes essas duas posições para explicar o processo evolutivo da filogenia humana, Piaget formula o conceito de epigênese, argumentando que "o conhecimento não procede nem da experiência única dos objetos nem de uma programação inata pré-formada no sujeito, mas de construções sucessivas com elaborações constantes de estruturas novas" (Piaget, 1976 apud Freitas 2000:64). Quer dizer, o processo evolutivo da filogenia humana tem uma origem biológica que é ativada pela ação e interação do organismo com o meio ambiente - físico e social - que o rodeia (Coll, 1992; La Taille, 1992, 2003; Freitas, 2000; etc.), significando entender com isso que as formas primitivas da mente, biologicamente constituídas, são reorganizadas pela psique socializada, ou seja, existe uma relação de interdependência entre o sujeito conhecedor e o objeto a conhecer. Esse processo, por sua vez, se efetua através de um mecanismo auto- regulatório que consiste no processo de equilíbração progressiva do organismo com o meio em que o indivíduo está inserido, como procuraremos expor em seguida. 2) O processo de equilibração: a marcha do organismo em busca do pensamento lógico Pode-se dizer que o "sujeito epistêmico" protagoniza o papel central do modelo piagetiano, pois a grande preocupação da teoria é desvendar os mecanismos processuais do pensamento do homem, desde o início da sua vida até a idade adulta. Nesse sentido, a compreensão dos mecanismos de constituição do conhecimento, na concepção de Piaget, equivale à compreensão dos mecanismos envolvidos na formação do pensamento lógico, matemático. Como lembra La Taille (1992:17), "(...) a lógica representa para Piaget a forma final do equilíbrio das ações. Ela é 'um sistema de operações, isto é, de ações que se tornaram reversíveis e passíveis de serem compostas entre si'". Precipuamente, portanto, no método psicogenético, o 'status' da lógica matemática perfaz o enigma básico a ser desvendado. O maior problema, nesse sentido, concentra-se na busca de respostas pertinentes para uma questão fulcral: "Como os homens constróem o conhecimento?" (La Taille: 11 vídeo). Imbricam-se nessa questão, naturalmente,outras indagações afins, quer sejam: como é que a lógica passa do nível elementar para o nível superior? Como se dá o processo de elaboração das idéias? Como a elaboração do conhecimento influencia a adaptação à realidade? Etc. Procurando soluções para esse problema central, Piaget sustenta que a gênese do conhecimento está no próprio sujeito, ou seja, o pensamento lógico não é inato ou tampouco externo ao organismo mas é fundamentalmente construído na interação homem-objeto. Quer dizer, o desenvolvimento da filogenia humana se dá através de um mecanismo auto-regulatório que tem como base um 'kit' de condições biológicas (inatas portanto), que é ativado pela ação e interação do organismo com o meio ambiente - físico e social (Rappaport, op.cit.). Id est, tanto a experiência sensorial quanto o raciocínio são fundantes do processo de constituição da inteligência, ou do pensamento lógico do homem. Está implícito nessa ótica de Piaget que o homem é possuidor de uma estrutura biológica que o possibilita desenvolver o mental, no entanto, esse fato per se não assegura o desencadeamento de fatores que propiciarão o seu desenvolvimento, haja vista que este só acontecerá a partir da interação do sujeito com o objeto a conhecer. Por sua vez, a relação com o objeto, embora essencial, da mesma forma também não é uma condição suficiente ao desenvolvimento cognitivo humano, uma vez que para tanto é preciso, ainda, o exercício do raciocínio. Por assim dizer, a elaboração do pensamento lógico demanda um processo interno de reflexão. Tais aspectos deixam à mostra que, ao tentar descrever a origem da constituição do pensamento lógico, Piaget focaliza o processo interno dessa construção. Simplificando ao máximo, o desenvolvimento humano, no modelo piagetiano, é explicado segundo o pressuposto de que existe uma conjuntura de relações interdependentes entre o sujeito conhecedor e o objeto a conhecer. Esses fatores que são complementares envolvem mecanismos bastante complexos e intrincados que englobam o entrelaçamento de fatores que são complementares, tais como: o processo de maturação do organismo, a experiência com objetos, a vivência social e, sobretudo, a equilibração do organismo ao meio. 12 O conceito de equilibração torna-se especialmente marcante na teoria de Piaget pois ele representa o fundamento que explica todo o processo do desenvolvimento humano. Trata-se de um fenômeno que tem, em sua essência, um caráter universal, já que é de igual ocorrência para todos os indivíduos da espécie humana mas que pode sofrer variações em função de conteúdos culturais do meio em que o indivíduo está inserido. Nessa linha de raciocínio, o trabalho de Piaget leva em conta a atuação de 2 elementos básicos ao desenvolvimento humano: os fatores invariantes e os fatores variantes. (a) Os fatores invariantes: Piaget postula que, ao nascer, o indivíduo recebe como herança uma série de estruturas biológicas - sensoriais e neurológicas - que permanecem constantes ao longo da sua vida. São essas estruturas biológicas que irão predispor o surgimento de certas estruturas mentais. Em vista disso, na linha piagetiana, considera-se que o indivíduo carrega consigo duas marcas inatas que são a tendência natural à organização e à adaptação, significando entender, portanto, que, em última instância, o 'motor' do comportamento do homem é inerente ao ser. (b) Os fatores variantes: são representados pelo conceito de esquema que constitui a unidade básica de pensamento e ação estrutural do modelo piagetiano, sendo um elemento que se tranforma no processo de interação com o meio, visando à adaptação do indivíduo ao real que o circunda. Com isso, a teoria psicogenética deixa à mostra que a inteligência não é herdada, mas sim que ela é construída no processo interativo entre o homem e o meio ambiente (físico e social) em que ele estiver inserido. Em síntese, pode-se dizer que, para Piaget, o equilíbrio é o norte que o organismo almeja mas que paradoxalmente nunca alcança (La Taille, op.cit.), haja vista que no processo de interação podem ocorrer desajustes do meio ambiente que rompem com o estado de equilíbrio do organismo, eliciando esforços para que a adaptação se restabeleça. Essa busca do organismo por novas formas de adaptação envolvem dois mecanismos que apesar de distintos são indissociáveis e que se complementam: a assimilação e a acomodação. (a) A assimilação consiste na tentativa do indivíduo em solucionar uma determinada situação a partir da estrutura cognitiva que ele possui naquele 13 momento específico da sua existência. Representa um processo contínuo na medida em que o indivíduo está em constante atividade de interpretação da realidade que o rodeia e, consequentemente, tendo que se adaptar a ela. Como o processo de assimilação representa sempre uma tentativa de integração de aspectos experienciais aos esquemas previamente estruturados, ao entrar em contato com o objeto do conhecimento o indivíduo busca retirar dele as informações que lhe interessam deixando outras que não lhe são tão importantes (La Taille, vídeo), visando sempre a restabelecer a equilibração do organismo. (b) A acomodação, por sua vez, consiste na capacidade de modificação da estrutura mental antiga para dar conta de dominar um novo objeto do conhecimento. Quer dizer, a acomodação representa "o momento da ação do objeto sobre o sujeito" (Freitas, op.cit.:65) emergindo, portanto, como o elemento complementar das interações sujeito-objeto. Em síntese, toda experiência é assimilada a uma estrutura de idéias já existentes (esquemas) podendo provocar uma transformação nesses esquemas, ou seja, gerando um processo de acomodação. Como observa Rappaport (1981:56), os processos de assimilação e acomodação são complementares e acham-se presentes durante toda a vida do indivíduo e permitem um estado de adaptação intelectual (...) É muito difícil, se não impossível, imaginar uma situação em que possa ocorrer assimilação sem acomodação, pois dificilmente um objeto é igual a outro já conhecido, ou uma situação é exatamente igual a outra. Vê-se nessa idéia de "equilibração" de Piaget a marca da sua formação como Biólogo que o levou a traçar um paralelo entre a evolução biológica da espécie e as construções cognitivas. Tal processo pode ser representado pelo seguinte quadro: 14 Dessa perspectiva, o processo de equilibração pode ser definido como um mecanismo de organização de estruturas cognitivas em um sistema coerente que visa a levar o indivíduo a construção de uma forma de adaptação à realidade. Haja vista que o "objeto nunca se deixa compreender totalmente" (La Taille, op.cit.), o conceito de equilibração sugere algo móvel e dinâmico, na medida em que a constituição do conhecimento coloca o indivíduo frente a conflitos cognitivos constantes que movimentam o organismo no sentido de resolvê-los. Em última instância, a concepção do desenvolvimento humano, na linha piagetiana, deixa ver que é no contato com o mundo que a matéria bruta do conhecimento é 'arrecadada', pois que é no processo de construções sucessivas resultantes da relação sujeito-objeto que o indivíduo vai formar o pensamento lógico. É bom considerar, ainda, que, na medida em que toda experiência leva em graus diferentes a um processo de assimilação e acomodação, trata-se de entender que o mundo das idéias, da cognição, é um mundo inferencial. Para avançar no desenvolvimento é preciso que o ambiente promova condições para transformações cognitivas, id est, é necessário que se estabeleça um conflito cognitivo que demande um esforço do indivíduo para superá-lo a fim de que o equilíbrio do organismo seja restabelecido, e assim sucessivamente. 15 No entanto, esse processo de transformação vai depender sempre de como o indivíduovai elaborar e assimilar as suas interações com o meio, isso porque a visada conquista da equilibração do organismo reflete as elaborações possibilitadas pelos níveis de desenvolvimento cognitivo que o organismo detém nos diversos estágios da sua vida. A esse respeito, para Piaget, os modos de relacionamento com a realidade são divididos em 4 períodos, como destacaremos na próxima seção deste trabalho. 3) Os estágios do desenvolvimento humano Piaget considera 4 períodos no processo evolutivo da espécie humana que são caracterizados "por aquilo que o indivíduo consegue fazer melhor" no decorrer das diversas faixas etárias ao longo do seu processo de desenvolvimento (Furtado, op.cit.). São eles: · 1º período: Sensório-motor (0 a 2 anos) · 2º período: Pré-operatório (2 a 7 anos) · 3º período: Operações concretas (7 a 11 ou 12 anos) · 4º período: Operações formais (11 ou 12 anos em diante) Cada uma dessas fases é caracterizada por formas diferentes de organização mental que possibilitam as diferentes maneiras do indivíduo relacionar-se com a realidade que o rodeia (Coll e Gillièron, 1987). De uma forma geral, todos os indivíduos vivenciam essas 4 fases na mesma seqüência, porém o início e o término de cada uma delas pode sofrer variações em função das características da estrutura biológica de cada indivíduo e da riqueza (ou não) dos estímulos proporcionados pelo meio ambiente em que ele estiver inserido. Por isso mesmo é que "a divisão nessas faixas etárias é uma referência, e não uma norma rígida", conforme lembra Furtado (op.cit.). Abordaremos, a seguir, sem entrar em uma descrição detalhada, as principais características de cada um desses períodos. (a) Período Sensório-motor (0 a 2 anos): segundo La Taille (2003), Piaget usa a expressão "a passagem do caos ao cosmo" para traduzir o que o 16 estudo sobre a construção do real descreve e explica. De acordo com a tese piagetiana, "a criança nasce em um universo para ela caótico, habitado por objetos evanescentes (que desapareceriam uma vez fora do campo da percepção), com tempo e espaço subjetivamente sentidos, e causalidade reduzida ao poder das ações, em uma forma de onipotência" (id ibid). No recém nascido, portanto, as funções mentais limitam-se ao exercício dos aparelhos reflexos inatos. Assim sendo, o universo que circunda a criança é conquistado mediante a percepção e os movimentos (como a sucção, o movimento dos olhos, por exemplo). Progressivamente, a criança vai aperfeiçoando tais movimentos reflexos e adquirindo habilidades e chega ao final do período sensório-motor já se concebendo dentro de um cosmo "com objetos, tempo, espaço, causalidade objetivados e solidários, entre os quais situa a si mesma como um objeto específico, agente e paciente dos eventos que nele ocorrem" (id ibid). (b) Período pré-operatório (2 a 7 anos): para Piaget, o que marca a passagem do período sensório-motor para o pré-operatório é o aparecimento da função simbólica ou semiótica, ou seja, é a emergência da linguagem. Nessa concepção, a inteligência é anterior à emergência da linguagem e por isso mesmo "não se pode atribuir à linguagem a origem da lógica, que constitui o núcleo do pensamento racional" (Coll e Gillièron, op.cit.). Na linha piagetiana, desse modo, a linguagem é considerada como uma condição necessária mas não suficiente ao desenvolvimento, pois existe um trabalho de reorganização da ação cognitiva que não é dado pela linguagem, conforme alerta La Taille (1992). Em uma palavra, isso implica entender que o desenvolvimento da linguagem depende do desenvolvimento da inteligência. Todavia, conforme demonstram as pesquisas psicogenéticas (La Taille, op.cit.; Furtado, op.cit., etc.), a emergência da linguagem acarreta modificações importantes em aspectos cognitivos, afetivos e sociais da criança, uma vez que ela possibilita as interações interindividuais e fornece, principalmente, a capacidade de trabalhar com representações para atribuir significados à realidade. Tanto é assim, que a aceleração do alcance do pensamento neste estágio do desenvolvimento, é atribuída, em grande parte, às possibilidades de contatos interindividuais fornecidos pela linguagem. 17 Contudo, embora o alcance do pensamento apresente transformações importantes, ele caracteriza-se, ainda, pelo egocentrismo, uma vez que a criança não concebe uma realidade da qual não faça parte, devido à ausência de esquemas conceituais e da lógica. Para citar um exemplo pessoal relacionado à questão, lembro-me muito bem que me chamava à atenção o fato de, nessa faixa etária, o meu filho dizer coisas do tipo "o meu carro do meu pai", sugerindo, portanto, o egocentrismo característico desta fase do desenvolvimento. Assim, neste estágio, embora a criança apresente a capacidade de atuar de forma lógica e coerente (em função da aquisição de esquemas sensoriais-motores na fase anterior) ela apresentará, paradoxalmente, um entendimento da realidade desequilibrado (em função da ausência de esquemas conceituais), conforme salienta Rappaport (op.cit.). (c) Período das operações concretas (7 a 11, 12 anos): neste período o egocentrismo intelectual e social (incapacidade de se colocar no ponto de vista de outros) que caracteriza a fase anterior dá lugar à emergência da capacidade da criança de estabelecer relações e coordenar pontos de vista diferentes (próprios e de outrem ) e de integrá-los de modo lógico e coerente (Rappaport, op.cit.). Um outro aspecto importante neste estágio refere-se ao aparecimento da capacidade da criança de interiorizar as ações, ou seja, ela começa a realizar operações mentalmente e não mais apenas através de ações físicas típicas da inteligência sensório-motor (se lhe perguntarem, por exemplo, qual é a vareta maior, entre várias, ela será capaz de responder acertadamente comparando-as mediante a ação mental, ou seja, sem precisar medi-las usando a ação física). Contudo, embora a criança consiga raciocinar de forma coerente, tanto os esquemas conceituais como as ações executadas mentalmente se referem, nesta fase, a objetos ou situações passíveis de serem manipuladas ou imaginadas de forma concreta. Além disso, conforme pontua La Taille (1992:17) se no período pré-operatório a criança ainda não havia adquirido a capacidade de reversibilidade, i.e., "a capacidade de pensar simultaneamente o estado inicial e o estado final de alguma transformação efetuada sobre os objetos (por exemplo, a ausência de conservação da quantidade quando se transvaza o 18 conteúdo de um copo A para outro B, de diâmetro menor)", tal reversibilidade será construída ao longo dos estágios operatório concreto e formal. (d) Período das operações formais (12 anos em diante): nesta fase a criança, ampliando as capacidades conquistadas na fase anterior, já consegue raciocinar sobre hipóteses na medida em que ela é capaz de formar esquemas conceituais abstratos e através deles executar operações mentais dentro de princípios da lógica formal. Com isso, conforme aponta Rappaport (op.cit.:74) a criança adquire "capacidade de criticar os sistemas sociais e propor novos códigos de conduta: discute valores morais de seus pais e contrói os seus próprios (adquirindo, portanto, autonomia)". De acordo com a tese piagetiana, ao atingir esta fase, o indivíduo adquire a sua forma final de equilíbrio, ou seja, ele consegue alcançar o padrão intelectual que persistirá durante a idade adulta. Isso não quer dizer que ocorra uma estagnação das funções cognitivas, a partir do ápice adquirido na adolescência, como enfatiza Rappaport (op.cit.:63), "esta será a forma predominante de raciocínio utilizada pelo adulto. Seu desenvolvimento posterior consistirá numa ampliação de conhecimentos tanto em extensão comoem profundidade, mas não na aquisição de novos modos de funcionamento mental". Cabe-nos problematizar as considerações anteriores de Rappaport, a partir da seguinte reflexão: resultados de pesquisas* têm indicado que adultos "pouco-letrados/escolarizados" apresentam modo de funcionamento cognitivo "balizado pelas informações provenientes de dados perceptuais, do contexto concreto e da experiência pessoal" (Oliveira, 2001a:148). De acordo com os pressupostos da teoria de Piaget, tais adultos estariam, portanto, no estágio operatório-concreto, ou seja, não teriam alcançado, ainda, o estágio final do desenvolvimento que caracteriza o funcionamento do adulto (lógico-formal). Como é que tais adultos (operatório-concreto) poderiam, ainda, adquirir condições de ampliar e aprofundar conhecimentos (lógico-formal) se não lhes é reservada, de acordo com a respectiva teoria, a capacidade de desenvolver "novos modos de funcionamento mental"? - aliás, de acordo com a teoria, não dependeria do desenvolvimento da estrutura cognitiva a capacidade de desenvolver o pensamento descontextualizado? 19 Bem, retomando a nossa discussão, vale ressaltar, ainda, que, para Piaget, existe um desenvolvimento da moral que ocorre por etapas, de acordo com os estágios do desenvolvimento humano. Para Piaget (1977 apud La Taille 1992:21), "toda moral consiste num sistema de regras e a essência de toda moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por estas regras". Isso porque Piaget entende que nos jogos coletivos as relações interindividuais são regidas por normas que, apesar de herdadas culturalmente, podem ser modificadas consensualmente entre os jogadores, sendo que o dever de 'respeitá-las' implica a moral por envolver questões de justiça e honestidade. Assim sendo, Piaget argumenta que o desenvolvimento da moral abrange 3 fases: (a) anomia (crianças até 5 anos), em que a moral não se coloca, ou seja, as regras são seguidas, porém o indivíduo ainda não está mobilizado pelas relações bem x mal e sim pelo sentido de hábito, de dever; (b) heteronomia (crianças até 9, 10 anos de idade), em que a moral é = a autoridade, ou seja, as regras não correpondem a um acordo mútuo firmado entre os jogadores, mas sim como algo imposto pela tradição e, portanto, imutável; (c) autonomia, corresponde ao último estágio do desenvolvimento da moral, em que há a legitimação das regras e a criança pensa a moral pela reciprocidade, quer seja o respeito a regras é entendido como decorrente de acordos mútuos entre os jogadores, sendo que cada um deles consegue conceber a si próprio como possível 'legislador' em regime de cooperação entre todos os membros do grupo. Para Piaget, a própria moral pressupõe inteligência, haja vista que as relações entre moral x inteligência têm a mesma lógica atribuída às relações inteligência x linguagem. Quer dizer, a inteligência é uma condição necessária, porém não suficiente ao desenvolvimento da moral. Nesse sentido, a moralidade implica pensar o racional, em 3 dimensões: a) regras: que são formulações verbais concretas, explícitas (como os 10 Mandamentos, por exemplo); b) princípios: que representam o espírito das regras (amai-vos uns aos outros, por exemplo); c) valores: que dão respostas aos deveres e aos sentidos da vida, 20 permitindo entender de onde são derivados os princípios das regras a serem seguidas. Assim sendo, as relações interindividuais que são regidas por regras envolvem, por sua vez, relações de coação - que corresponde à noção de dever; e de cooperação - que pressupõe a noção de articulação de operações de dois ou mais sujeitos, envolvendo não apenas a noção de 'dever' mas a de 'querer' fazer. Vemos, portanto, que uma das peculiaridades do modelo piagetiano consiste em que o papel das relações interindividuais no processo evolutivo do homem é focalizado sob a perspectiva da ética (La Taille, 1992). Isso implica entender que "o desenvolvimento cognitivo é condição necessária ao pleno exercício da cooperação, mas não condição suficiente, pois uma postura ética deverá completar o quadro" (idem p. 21). 1.3 VYGOTSKY e o desenvolvimento O que é Desenvolvimento Humano? A noção de desenvolvimento está atrelada a um contínuo de evolução, em que nós caminharíamos ao longo de todo o ciclo vital. Essa evolução, nem 21 sempre linear, se dá em diversos campos da existência, tais como afetivo, cognitivo, social e motor. Este caminhar contínuo não é determinado apenas por processos de maturação biológicos ou genéticos. O meio (e por meio entenda-se algo muito amplo, que envolve cultura, sociedade, práticas e interações) é fator de máxima importância no desenvolvimento humano. Os seres humanos nascem “mergulhados em cultura”, e é claro que esta será uma das principais influências no desenvolvimento. Embora ainda haja discordâncias teóricas entre as abordagens que serão apresentadas adiante sobre o grau de influência da maturação biológica e da aprendizagem com o meio no desenvolvimento, o contexto cultural é o palco das principais transformações e evoluções do bebê humano ao idoso. Pela interação social, aprendemos e nos desenvolvemos, criamos novas formas de agir no mundo, ampliando nossas ferramentas de atuação neste contexto cultural complexo que nos recebeu, durante todo o ciclo vital. Perspectivas de Estudo do Desenvolvimento humano (Ribeiro, 2005): Na Psicologia do Desenvolvimento, temos algumas perspectivas diversas. Para os teóricos Ambientalistas, entre eles Skinner e Watson (do movimento behaviorista), as crianças nascem como tábulas rasas, que vão aprendendo tudo do ambiente por processos de imitação ou reforço. Para os teóricos Inatistas, como Chomsky, as crianças já nascem com tudo que precisam na sua estrutura biológica para se desenvolver. Nada é aprendido no ambiente, e sim apenas disparado por este. Para os teóricos Construcionistas, tendo como ícone Piaget, o desenvolvimento é construído a partir de uma interação entre o desenvolvimento biológico e as aquisições da criança com o meio. Temos ainda uma abordagem Sociointeracionista, de Vygotsky, segundo a qual o desenvolvimento humano se dá em relação nas trocas entre parceiros sociais, através de processos de interação e mediação. Temos a perspectiva Evolucionista, influenciada pela teoria de Fodor, segundo a qual o desenvolvimento humano se dá no desenvolvimento 22 das características humanas e variações individuais como produto de uma interação de mecanismos genéticos e ecológicos, envolvendo experiências únicas de cada indivíduo desde antes do nascimento. Ainda existe a visão de desenvolvimento Psicanalítica, em que temos como expoentes Freud, Klein, Winnicott e Erikson. Tal perspectiva procura entender o desenvolvimento humano a partir de motivações conscientes e inconscientes da criança, focando seus conflitos internos durante a infância e pelo resto do ciclo vital. 1.4 Desenvolvimento e Aprendizagem: a Zona de Desenvolvimento Proximal Para J. Piaget, dentro da reflexão construtivista sobre desenvolvimento e aprendizagem, tais conceitos se inter-relacionam, sendo a aprendizagem a alavanca do desenvolvimento. A perspectiva piagetiana é considerada maturacionista, no sentido de que ela preza o desenvolvimento das funções biológicas – que é o desenvolvimento – como base para os avanços na aprendizagem. Já na chamada perspectiva sócio-interacionista, sócio-cultural ou sócio-histórica, abordada por L. Vygotsky, a relação entre o desenvolvimento e a aprendizagem está atrelada ao fato de o ser humano viver em meio social, sendo este a alavanca para estes dois processos. Isso quer dizer que os 23 processos caminham juntos, ainda que não em paralelo. Entenderemos melhor essa relação ao discutir a Zona de Desenvolvimentoproximal. Os conceitos sócio-interacionistas sobre desenvolvimento e aprendizagem se fazem sempre presentes, impelindo-nos à reflexão sobre tais processos. Como lidar com o desenvolvimento natural da criança e estimulá-lo através da aprendizagem? Como esta pode ser efetuada de modo a contribuir para o desenvolvimento global da criança? Em Vygotsky, ao contrário de Piaget, o desenvolvimento – principalmente o psicológico/mental (que é promovido pela convivência social, pelo processo de socialização, além das maturações orgânicas) – depende da aprendizagem na medida em que se dá por processos de internalização de conceitos, que são promovidos pela aprendizagem social, principalmente aquela planejada no meio escolar[1]. Ou seja, para Vygotsky, não é suficiente ter todo o aparato biológico da espécie para realizar uma tarefa se o indivíduo não participa de ambientes e práticas específicas que propiciem esta aprendizagem. Não podemos pensar que a criança vai se desenvolver com o tempo, pois esta não tem, por si só, instrumentos para percorrer sozinha o caminho do desenvolvimento, que dependerá das suas aprendizagens mediante as experiências a que foi exposta. Neste modelo, o sujeito – no caso, a criança – é reconhecida como ser pensante, capaz de vincular sua ação à representação de mundo que constitui sua cultura, sendo a escola um espaço e um tempo onde este processo é vivenciado, onde o processo de ensino-aprendizagem envolve diretamente a interação entre sujeitos. Essa interação e sua relação com a imbricação entre os processos de ensino e aprendizagem podem ser melhor compreendidos quando nos remetemos ao conceito de ZDP. Para Vygotsky (1996), Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), é a distância entre o nível de desenvolvimento real, ou seja, determinado pela capacidade de resolver problemas independentemente, e o nível de desenvolvimento proximal, demarcado pela capacidade de solucionar problemas com ajuda de um parceiro mais experiente. São as aprendizagens que ocorrem na ZDP que fazem com que a criança se 24 desenvolva ainda mais, ou seja, desenvolvimento com aprendizagem na ZDP leva a mais desenvolvimento,por isso dizemos que, para Vygotsky, tais processos são indissociáveis. É justamente nesta zona de desenvolvimento proximal que a aprendizagem vai ocorrer. A função de um educador escolar, por exemplo, seria, então, a de favorecer esta aprendizagem, servindo de mediador entre a criança e o mundo. Como foi destacado anteriormente, é no âmago das interações no interior do coletivo, das relações com o outro, que a criança terá condições de construir suas próprias estruturas psicológicas (Creche Fiocruz, 2004). É assim que as crianças, possuindo habilidades parciais, as desenvolvem com a ajuda de parceiros mais habilitados (mediadores) até que tais habilidades passem de parciais a totais. Temos que trabalhar, portanto, com a estimativa das potencialidades da criança, potencialidades estas que, para tornarem-se desenvolvimento efetivo, exigem que o processo de aprendizagem, os mediadores e as ferramentas estejam distribuídas em um ambiente adequado (Vasconcellos e Valsiner, 1995). Temos portanto uma interação entre desenvolvimento e aprendizagem, que se dá da seguinte maneira: em um contexto cultural, com aparato biológico básico interagir, o indivíduo se desenvolve movido por mecanismos de aprendizagem provocados por mediadores. Para Vygotsky, o processo de aprendizagem deve ser olhado por uma ótica prospectiva, ou seja, não se deve focalizar o que a criança aprendeu, mas sim o que ela está aprendendo. Em nossas práticas pedagógicas, sempre procuramos prever em que tal ou qual aprendizado poderá ser útil àquela criança, não somente no momento em que é ministrado, mas para além dele. É um processo de transformação constante na trajetória das crianças. As implicações desta relação entre ensino e aprendizagem para o ensino escolar estão no fato de que este ensino deve se concentrar no que a criança está aprendendo, e não no que já aprendeu. Vygotksy firma está hipótese no seu conceito de zona de desenvolvimento proximal (ZDP). 25 1.5 A Teoria da Motivação de Abraham Maslow Abraham Maslow (1908-1970), foi um dos grandes teóricos da abordagem humanística. Essa abordagem “centra nas motivações positivas de nossas ações e desenvolvimento, especialmente o crescimento pessoal” (GRIGGS, 2009, p. 286). Maslow enfatizou as suas teorias na saúde psicológica e na realização do potencial completo (GRIGGS, 2009). De acordo com Maslow, as pessoas possuem necessidades que motivam o comportamento para a realização do potencial completo (GRIGGS, 2009). Para ele essas necessidades se apresentam de maneira hierárquica, assim também é comum se falar em pirâmide de Maslow. As necessidades podem ser inferiores ou superiores. As inferiores se encontram na base da pirâmide e as superiores no topo. É importante ressaltar que as necessidades inferiores precisam ser realizadas primeiro para dar lugar as necessidades superiores (idem). 26 Na Figura , é possível observar como a hierarquia das necessidades se apresenta, ou seja, básicas (necessidade de satisfazer fome e sede), segurança (necessidade de se sentir seguro, protegido e estável), sociais (necessidade de amar e ser amado, de pertencer e ser aceito), autoestima (necessidade de realização, competência e independência) e autorrealização (necessidade de atingir o potencial pessoal pleno) (GRIGGS, 2009, p. 288). Cada pessoa possui o seu ritmo, de modo que “O nível em que a pessoa está investindo seus maiores esforços é o mais importante para ela naquele momento específico” (GRIGGS, 2009, p. 287). De acordo com Maslow, “As motivações são apenas uma classe de determinantes do comportamento. Ao mesmo tempo em que o comportamento é motivado, ele também é quase sempre determinado biologicamente, culturalmente e situacionalmente” (MASLOW, apud SAMPAIO, 2009, p. 8). A esse respeito Sampaio (2009, p. 8) comenta: Vê-se, portanto, que a motivação em Maslow está claramente associada à existência de um propósito, uma finalidade, um objetivo; e que esse proposito incomoda (motiva) a pessoa até que seja atingido. Uma necessidade é, portanto, algo do mundo interno das pessoas cuja privação a mobiliza e cuja gratificação, mesmo que parcial, possibilita a emergência de uma nova necessidade. A medida que as necessidades humanas são supridas, ou seja, começando pela base indo ao topo, elas abrem espaço para o surgimento de novas necessidades. Daí surge a ideia de hierarquia da preponderância das necessidades (MASLOW, apud SAMPAIO, 2009, p. 9). Essa hierarquia das necessidades não significa, necessariamente, que não possa existir motivação de outras necessidades ao mesmo tempo. Pelo contrário, isso é possível, logo a importância para o fato da noção de preponderância deve ser levada em consideração nessa Teoria. Segundo Sampaio (2009, p. 9), “Trata-se de uma teoria dinâmica, portanto as pessoas se encontrariam sob o jugo das influências de suas necessidades, que se alternam ao longo da vida”. Assim, aquilo que for mais importante para a pessoa dentro dessa hierarquia, será o que mais irá motivá-la para suprir tal necessidade. 27 1.6 Teoria de Erik Erikson sobre o Desenvolvimento Humano Este modelo enfatiza o desenvolvimento humano desde o nascimento até ao fim da vida, considerando a interação do indivíduo com o seu meio (afetivo, social, cultural e histórico). Nesta perspectiva, o desenvolvimento é orientado por um princípio epigenético, uma espécie de planejamento básico que determina a emergência das diferentes tarefas psicossociais no momento oportuno e de forma integrada. (SILVA, COSTA, 2005). Erikson acredita que odesenvolvimento humano consiste na respeitabilidade mútua entre indivíduo e sociedade, propiciador de personalidades sadias. Preocupou-se com a luta do indivíduo pelo seu reconhecimento enquanto pessoa, dentro de um grupo particular, e as condições que facilitam ou impedem o desenvolvimento sadio da personalidade. Para ele, o processo de desenvolvimento do ser humano é semelhante. À medida que as estruturas biológicas tornam-se mais complexas, mais sofisticados tornam-se os processos funcionais. O que ele quer dizer com isso? Ainda que não surjam novos órgãos ou estruturas após o nascimento, sofisticam- se as funções pelo desdobramento de capacidades locomotoras, sensoriais, etc. 28 A criança sempre passa por inúmeras mudanças. Tudo nela é aprendizado, distraindo de si mesma e interessando-se em novos fatos e atividades. Observamos assim que o aparato biológico do recém-nascido gradativamente se desenvolve e também seu lado emocional (a personalidade). Para Erikson o recém-nascido é um organismo, um ego e um membro da sociedade. Como um organismo, dispõe, desde o momento do nascimento, de um conjunto de impulsos que atuam como força motivadora de condutas. Como ego, evidencia peculiaridades e, possuidor de uma herança particular, é potencialmente capaz de um desenvolvimento original. Como membro de uma sociedade, é susceptível a influências ambientais, talvez mesmo antes de nascer. Os pais, enquanto intermediários entre a cultura e a criança, veiculam valores, ideologias e crenças que vinculam cada uma delas o seu grupo de origem. A relação da criança com sua mãe, ou com uma pessoa que cuida dela, de modo algum é unilateral. É uma relação recíproca, que opera já desde o nascimento e pode caminhar para um bem-estar ou para um desconforto para ambos. Segundo Erik Erikson os fatores determinantes são: Interação: Erikson entende e interpreta o desenvolvimento como uma interação entre três processos – biológico social e individual – que mutuamente se influenciam. Sucessão: o desenvolvimento psicossocial ocorre como uma sucessão de fases, em que o indivíduo busca relacionar experiências. Socialização: pode ser dividida em oito fases distintas, formuladas a partir de seu trabalho psicoterapêutico com crianças e adolescentes de todas as camadas sociais. Emoções: o foco são os processos emocionais. As funções emocionais constituem-se como núcleo do funcionamento humano. 29 Flexibilidade: Ainda que motivado pelo instinto e submetido a uma cultura, as condutas do bebê são flexíveis e adaptáveis a diferentes estilos de vida. Estágios de Desenvolvimento Através dos estudos de Freud, acrescentando seus achados antropológicos, delineou o desenvolvimento como um processo que ocorre ao longo da vida, do nascimento à morte. Na sua Teoria Psicossocial do Desenvolvimento, o desenvolvimento evolui em oito estágios. Os primeiros quatro estágios: decorrem no período de bebê e da infância, e os últimos três: durante a idade adulta e a velhice. Cada fase é responsável por um “conflito socioemocional” do indivíduo, exigindo uma superação dessa crise para que se chegue ao estágio seguinte. Pode-se comparar o desenvolvimento emocional e social da criança à construção de uma casa: a fundação da casa precisa ser firme para que o primeiro andar se sustente, e assim por diante até ao último andar. 1ª Idade: Confiança básica versus Desconfiança básica 2ª Idade: Autonomia versus Vergonha e Dúvida 3ª Idade: Iniciativa versus Culpa 4ª Idade: Diligência versus Inferioridade 5ª Idade: Identidade versus Confusão/Difusão 6ª Idade: Intimidade versus Isolamento 7ª Idade: Generatividade versus Estagnação 30 8ª Idade: Integridade versus Desespero Abordaremos os aspectos mais importantes até a adolescência: 1º Estágio - Sensório-Oral Idade: 0 a 1 ano: nasce um bebê e, com ele, o mistério de uma individualidade que se apresentará a partir do primeiro contato com a figura materna. Durante os primeiros dois anos de vida a criança desenvolve a confiança básica, a segurança e o otimismo. Como ela depende dos pais para tudo (alimentação, afeto, proteção), precisa confiar inteiramente neles. Nesta idade a criança vai aprender que a confiança está muito relacionada com a relação entre o bebê e a mãe. Para isso, é preciso que os pais a tratem com muito amor, atenção, apoio e paciência. Caso contrário, crescerá insegura e desconfiada. Devido à confiança do bebê e à familiaridade com a mãe, atinge uma realização social, que consiste na aceitação de que ela pode ausentar-se e na certeza que ela voltará. O aparecimento dos dentes marca uma época importante na vida da criança. No modelo de Freud, inicia-se uma segunda etapa oral, chamada de sádica. No modelo de Erikson, dão-se concomitantemente três ocorrências importantes além da dentição. A interação de olhos, ouvidos e mãos que “prendem” melhor o objeto e escutam os diversos sons. O desmame que geralmente ocorre à época do aparecimento dos dentes, deve, pois, ser olhado com carinho. Deve ser gradual e compensado pela estimulação adequada de outros focos que não os orais; traduzindo-se, assim, não em perda de amor ou perda da mãe, mas simplesmente em perda do peito que, por si só, marca a criança com um sentimento de perda básica. Podemos 31 perceber que o desmame imprime um corte na unidade mãe-filho, tanto mais dramático quanto mais abrupto. Em contato mais direto com as crianças e seus ajudantes, Erikson percebeu que as mães podem aprender rapidamente os sinais emitidos por elas, respondendo de maneira satisfatória. No final desse período a mãe já conhece bastante o filho, entendendo-o em mínimos gestos e olhares. 2º Estágio - Muscular Anal Idade: 1 a 3 anos: é a fase que deu um grande salto no desenvolvimento da criança: ela aprende a andar, a falar, a ir ao banheiro, torna-se independente e ganha autoconfiança. Durante este estágio a criança vai aprender quais os seus privilégios, obrigações e limitações. Surge a necessidade de autocontrole e de aceitação do controle por parte das outras pessoas e também a vergonha, quando a criança não consegue seus objetivos. É importante incentivar a autonomia das crianças nessa fase, mas isso não pode ser sinônimo de indisciplina. É comum que as crianças de dois ou três anos façam cenas no meio da rua, se recusem a dar a mão para atravessar e digam “não” com muita facilidade. Cabe aos pais explicar carinhosamente o que a criança pode ou não pode fazer sem impedir que se desenvolva. A superproteção também atrapalha o desenvolvimento e torna a criança mais dependente dos pais. O equilíbrio entre o voluntarismo e a submissão constitui o ideal de educação, a fim de propiciar o livre arbítrio. A sensatez dos limites estabelecidos permite o crescimento sadio da criança, fazendo-a sentir que, ainda que frustrada, limitada em sua autonomia, não se encontra incapaz ou impotente. O ambiente então não deve “prender” ou “soltar”, deve acompanhar. A zona anal, com seus dois modos de funcionamento, confere à criança uma nova dimensão de abordagem das coisas, o reter e o soltar, que não se 32 limita aos esfíncteres, mas à conduta de um modo geral. Então, da total dependência da fase anterior, a criança caminha para uma independência cada vez maior. Ela sente que não corre o risco de perda do amor, mesmo demonstrando seu desejo incessante de posse e escolhas. A criança que tiver uma boa orientação dos pais sairá dessa fase segura de si mesma, feliz com as suas novas conquistas e orgulhosa, em vez de ser tímida. 3º Estágio - Genital Locomotor Idade: 3 a 5 anos: A criança encontra-se nitidamente mais avançada e mais organizada, tanto em nível físico como mental. Nesta fase a criança saudável aprende: (1) a imaginar, a brincar no mundo do fazde conta e da fantasia; (2) a cooperar com os outros; e (3) a dar e a receber ordens. É capaz de planejar as suas tarefas e metas, experimentando uma autonomia característica desta etapa. Aprende a equilibrar diversão e responsabilidade. Ela encontra-se num estado de ansiedade porque quer aprender bem e a partir daqui amplia o seu sentido de obrigação e desempenho. A criança que é reprimida pelos pais nesta fase, sente-se culpada, cresce com medo, fica deslocada dentro do grupo, não tem iniciativa (depende muito dos adultos) e não desenvolve satisfatoriamente a imaginação e a criatividade. É importante que as crianças sejam encorajadas pelos pais a desenvolver a sua criatividade, aprendendo a controlar os seus impulsos, sem se tornarem indisciplinadas. O poder da imaginação e a forma desinibida, tal como o faz de conta, são importantes para o desenvolvimento da criança. Para além dos jogos físicos com os seus brinquedos, ela constrói também os chamados jogos mentais tentando imitar os adultos e entrando no mundo da fantasia. Gosta de ir à praça, de estar com outras crianças, de assistir televisão. É muito curiosa, faz muitas perguntas e observa tudo à sua volta. Está o tempo todo em movimento. Encontra-se acesa o tempo todo. É ativa e possui enorme energia. 33 O desenvolvimento físico-motor da criança, que se iniciou com uma firmeza de cabeça e um aperfeiçoamento da coordenação, chegam agora a se constituir um meio para obtenção de várias coisas. 4º Estágio - Latência Idade: 6 a 12 anos: a criança precisa e quer aprender. A criança, nesta fase, encontra-se mais aberta aos ensinamentos, encontra-se ávida por aprender, e com o terreno fértil para isso. Ela também precisa da sua imaginação exuberante e dedicar a sua atenção à educação formal. O prazer de brincar e o interesse pelos seus brinquedos são gradualmente desviados para o interesse por algo mais produtivo, utilizando outro tipo de instrumentos para os seus trabalhos, que não são os seus brinquedos. Essa etapa é de grande valor social. Representa um primeiro momento em que a criança é introduzida na sua sociedade, devendo respeitar as regras do novo grupo, a divisão de grupos, funcionamento em conjunto visando um objetivo em comum. Os conflitos da etapa do aprender colocam as escolas e os professores, e demais profissionais que lidem com crianças, em posição de destaque para ajudar a criança a se desenvolver melhor. O que a criança consegue fazer dá a ela o sentimento de quem ela é, e toda vez que ela tenta alcançar êxito, implícita está a ameaça do fracasso, no qual leva a se esforçar mais, para não ser dominada pelo sentimento de inferioridade que tanto incomoda. Deve ser firme e decididamente levada a descobrir fatos que por si só não conseguiria. Mas não pode ser oprimida, nem sufocada. Ela, antes de tudo, deve ser ouvida, respeitada como ser sujeito às vicissitudes de sua época histórica. 34 5º Estágio - Adolescência Idade: 12 a 18 anos: uma verdadeira revolução interna e externa se processa neste período. Esta 5ª idade localiza-se usual e aproximadamente dos 12 aos 18/20 anos, ou seja, mais precisamente na idade na qual o adolescente vai adquirir uma identidade psicossocial, compreender a sua singularidade e o seu papel no mundo. Não se podem encarar os diferentes estágios como estanquem isolados, logo as fases anteriores irão deixar marcas que vão influenciar a forma como cada adolescente vivencia esta crise. A maturação fisiológica como fonte de novas forças e conceitos leva o indivíduo à redefinição de sua própria identidade. Pressiona-o a avaliar-se e redefinir um “quem eu sou no mundo”: tudo que aprendeu durante a infância somada às suas expectativas e perspectivas para o futuro. Os pais, como elementos de identificação, perdem o seu valor. Os amigos ocupam o seu lugar. O grupo de companheiros adquire um enorme valor, exercendo entre eles diferentes papéis, espelhando-se. O adolescente se identifica e projeta-se em heróis, que são normalmente adultos jovens mais ousados, ou ambientes mais atrativos. Muitas vezes, o adolescente submete-se inteiramente a um grupo, repetindo seus gestos, valores, roupas, linguagem, com uma perda aparentemente total de identidade. O importante é que no final deste período o adolescente tenha definido sua própria identidade e que o grupo o tenha ajudado nisso. Somente de posse de uma identidade o indivíduo poderá entrar em contato íntimo com o outro sem perder e sem se confundir com ele. 35 2. Definindo Ludopedagogia A introdução do lúdico na vida escolar do educando é uma maneira muito eficaz de perpassar pelo universo infantil para imprimir-lhe o universo adulto, nossos conhecimentos e principalmente a forma de interagirmos. A atividade lúdica é muito importante para o desenvolvimento sensóriomotor e cognitivo, desta forma, torna-se uma maneira inconsciente de se aprender, de forma prazerosa e eficaz. A finalidade é enfatizar a importância dos educadores terem em mente os objetivos e os fins da brincadeira desenvolvida, sua utilização lúdica, cognitiva, sócio-cultural, e mais, precisam saber observar as condutas dos educandos para então diagnosticar, avaliar e elaborar estratégias de trabalho; identificando, desta forma, as dificuldades e os avanços dos educandos. Este estudo está fundamentado em Lev Vygotsky e Jean Piaget, pois, embora estes estudiosos tenham concepções diferentes de desenvolvimento, cada qual em conformidade 36 com a sua concepção trata da importância do brinquedo no desenvolvimento infantil. Fröebel foi o primeiro educador que justificou o uso do brincar no processo educativo. Ele tinha uma visão pedagógica do ato de brincar. O brincar, pelo ato de brincar desenvolve os aspectos físico, moral e cognitivo, entre outros, mas o estudioso defende, também, a necessidade da orientação do adulto para que esse desenvolvimento ocorra. Como metodologia, primeiramente, buscamos suporte teórico para, em seguida, observar e aplicar algumas atividades lúdicas com a finalidade de analisar na prática o desempenho dos educandos. Ressaltamos, ainda, que na brincadeira as crianças aprendem a refletir e experimentam situações novas ou mesmo do seu cotidiano, e a ação de brincar está ligada ao preenchimento das necessidades da criança e nestas está incluso tudo aquilo que é motivo para ação. É muito importante procurar entender as necessidades da criança, bem como os incentivos que a colocam em ação para, então, entendermos a lógica de seu desenvolvimento. Ao lidar com os objetos existentes na brincadeira e nos jogos a criança pode lidar com o significado das palavras por meio do próprio objeto concreto, e por esta ação de brincar a criança embora não possua linguagem gramatical, consegue internalizar a definição funcional de objetos, e a criança passa a relacionar as palavras com algo concreto. O ato de brincar estimula o uso da memória que ao entrar em ação se amplia e organiza o material a ser lembrado, tudo isto está relacionado com aparecimento gradativos dos processos da linguagem que ao reorganizarem a vivência emocional e eleva a criança a um novo nível de processos psíquicos. Conclui-se então que a ação de brincar (o lúdico) é um fator importante para o desenvolvimento humano, sendo que ele a partir da situação imaginária introduz gradativamente entre outras coisas a criança a um mundo social, cheio de regras. Portanto, surgem transformações internas no desenvolvimento da criança em conseqüência do brinquedo, cujo fundamento é a criação de uma nova relação entre o campo do significado e o campo da percepção visual, ou seja, entre as situações do pensamento e as reais. O desenhar e brincar deveriam ser estágios preparatórios ao desenvolvimento da linguagem escrita das crianças. Os educadores devem37 organizar todas essas ações e todo o complexo processo de transição de um tipo de linguagem escrita para outro. Devem acompanhar esse processo através de seus momentos críticos até o ponto da descoberta de que se pode desenhar não somente objetos, mas também a fala. Se quiséssemos resumir todas essas demandas práticas e expressá-las de uma forma unificada, poderíamos dizer o que se deve fazer é, ensinar às crianças a linguagem escrita e não apenas a escrita de letras assim como Vygotsky (1987), em sua psicologia de aprendizagem. Os benefícios e os estágios do lúdico para o desenvolvimento infantil, as brincadeiras, para a criança, constituem atividades primárias que trazem grandes benefícios do ponto de vista físico, intelectual e social. Como benefício físico, o lúdico satisfaz as necessidades de crescimento e de competitividade da criança. Os jogos lúdicos devem ser a base fundamental dos exercícios físicos impostos às crianças pelo menos durante o período escolar. Como benefício intelectual, o brinquedo contribui para desinibir, produzindo uma excitação mental e altamente fortificante. Illich (1976), afirma que os jogos podem ser a única maneira de penetrar os sistemas informais. Suas palavras confirmam o que muitas professoras de primeira série comprovam diariamente, ou seja, a criança só se mostra por inteira através das brincadeiras. Como benefício social, a criança, através do lúdico representa situações que simbolizam uma realidade que ainda não pode alcançar; através dos jogos simbólicos se explica o real e o eu. 38 A brincadeira não é uma atividade inata, mas sim uma atividade social e humana e que supõe contextos sociais, a partir dos quais as crianças recriam a realidade através da utilização de sistemas simbólicos próprios. É uma atividade social aprendida através das interações humanas. É o adulto ou as crianças mais velhas que ensinam o bebê a brincar, interagindo e atribuindo significado aos objetos e às ações, introduzindo a criança no mundo da brincadeira, nessa perspectiva, os educadores e auxiliares cumprem um papel fundamental nas instituições quando interagem com as crianças através de ações lúdicas ou se comunicam através de uma linguagem simbólica, estando disponíveis para brincar. Além das interações, a oferta o uso e exploração dos brinquedos também contribuem nessa aprendizagem da brincadeira, deve-se considerar o brinquedo como um elemento da brincadeira, pois contribui para a atribuição de significados. Tem um importante valor simbólico e expressivo. O brinquedo é um importante abjeto cultural produzido pelos adultos para as crianças e que ganha ou produz significados no processo da brincadeira, pela imagem que a realidade representa e transmite. A brincadeira como atividade social específica é vivida pelas crianças tendo por base um sistema de comunicação e interpretação do real, que vai sendo negociado pelo grupo de crianças que estão brincando. Mesmo sendo uma situação imaginária, a brincadeira não pode dissociar suas regras da realidade. As unidades fundamentais da brincadeira, que permite que ela aconteça, é o papel assumido pelas crianças. O papel revela sua natureza social, bem como possibilita o desenvolvimento das regras e da imaginação. A relação entre a imaginação e os papéis assumidos são muito importantes para o ato de brincar, pois ao mesmo tempo em que a criança é livre na sua imaginação, ela tem que obedecer às regras sociais do papel assumido. A brincadeira é então, uma atividade sócio-cultural, pois ela se origina nos valores e hábitos de um determinado grupo social, onde as crianças têm a liberdade de escolher com o quê e como elas querem brincar. Para brincar as crianças utilizam-se da imitação de situações conhecidas, de processos imaginativos e da estruturação de regras. Por exemplo, brincar de boneca representa uma situação que ainda vai viver desenvolvendo um instinto natural. 39 Como benefício didático, as brincadeiras transformam conteúdos maçantes em atividades interessantes, revelando certas facilidades através da aplicação do lúdico. Outra questão importante é a disciplinar, quando há interesse pelo que está sendo apresentado e faz com que automaticamente a disciplina aconteça. Concluindo, os benefícios didáticos do lúdico são procedimentos didáticos altamente importantes; mais que um passatempo; é o meio indispensável para promover a aprendizagem disciplinar, o trabalho do aluno e incutir-lhe comportamentos básicos, necessários à formação de sua personalidade. Estudar as relações entre as atividades lúdicas e o desenvolvimento humano é uma tarefa complexa, e para facilitar o estudo classificou-se o desenvolvimento em três fases distintas: aspectos psicomotores, aspectos cognitivos e aspectos afetivo-sociais. Nos aspectos psicomotores encontram-se várias habilidades musculares e motoras, de manipulação de objetos, escrita e aspectos sensoriais. Os aspectos cognitivos dependem, como os demais, de aprendizagem e maturação que podem variar desde simples lembranças de aprendido até mesmo formular e combinar idéias, propor soluções e delimitar problemas. Já os aspectos afetivo-sociais incluem sentimentos e emoções, atitudes de aceitação e rejeição de aproximação ou de afastamento. O fato é que esses três aspectos interdependem uns do outros, ou seja, a criança necessita dos três para tornar-se um indivíduo completo. Ainda com respeito às categorias psicomotoras, cognitivas e afetivas, assim como a seriação dos brinquedos, deve-se levar em conta cinco pontos básicos: integração entre o jogo e o jogador, deixando-o aberto para o mundo para transformá-lo à sua maneira; o próprio corpo humano é o primeiro jogo das crianças; nos jogo de imitação, a imagem ou modelo a ser seguido é importante; os jogos de aquisição começam desde cedo e para cada idade existem alguns mais apropriados; os jogos de fabricação ajudam na criatividade, no sentimento de segurança e poder sobre o meio. A ludopedagogia nos oferece a magia de ensinar, aprender brincando, diferente das aulas perturbadoras afastam o aluno do conhecimento, e, como em muitos casos, o abandono escolar, por meio da ludopedagogia podemos oferecer ao aluno uma proximidade da realidade qual está inserida. 40 Todos devem aprender de forma que seja prazeroso, que não sejam reprimidos, ou estancados no processo ensino/ aprendizagem, não precisamos encarar a ludopedagogia como uma arte de brincar, limitados entre brincadeiras e brinquedos, mas, em uma arte de ensinar, diferenciando do tradicionalista das aulas expositivas, monótonas e improdutivas. O aluno deve ser estimulado com a criatividade do educador assumindo sua natureza de mediador do conhecimento, oferecendo pontes novas a seu educando. 2.1 Descobrimento e Construção do Conceito de Criança e Infância; O CONCEITO DE INFÂNCIA AO LONGO DA HISTÓRIA OCIDENTAL Retrato dos acontecimentos mais preciosos e importantes da história, que foi o desenvolvimento do conceito e visão sobre a infância, onde crianças pararam de ser vistas e tratadas pela sociedade como adultos em miniaturas e ganharam um olhar individualizado e voltado exclusivamente para elas. 41 Idade média Na idade média a criança era vista como um adulto em miniatura, trabalhavam nos mesmos locais, usavam as mesmas roupas. “A criança era, portanto, diferente do homem, mas apenas no tamanho e na força, enquanto as outras características permaneciam iguais” (ARIÈS, 1981, p.14). Por essa visão, foi um período onde a infância era caracterizada pela inexperiência, dependência e incapacidade pois não tinha as mesmas compreensões que um adulto. Por não haver distinções entre adulto e criança, cabia a elas aprender as tarefas do dia a dia, a trabalhar, ajudar os mais velhos nos serviços, e a passagem que tinhampor sua família era muito breve, pouco depois que se passava o período de amamentação a criança já passava a fazer companhia aos adultos para que aprendesse a servir e trabalhar, eram criadas por outras famílias para que nesse novo ambiente aprendessem um oficio. Renascimento É no decorrer do século XVII que se da os primeiros passos para a separação do adulto e da criança, por meio da escolarização. Antes, por não haver a distinção entre idades, todos aprendiam da mesma maneira e sobre as mesmas temáticas. No fim deste século que pode-se notar as primeiras mudanças do conceito de infância. Um dos maiores contribuintes para tal mudança foi a igreja, que teve um papel fundamental ao associar a imagem das crianças com a de anjos, que refletiam inocência e pureza, sendo assim, Deus as favoreciam devido a sua singeleza e suavidade, que se aproxima da impecabilidade, impondo uma necessidade de amar as crianças e tornando a educação obrigatória, contrariando a indiferença existente a tanto tempo. A partir daí, a iconografia começou a ser demonstrada na figura de crianças-anjos, estabelecendo uma religião para as crianças (ARIÈS, 1981, p.14). O fim deste século foi considerado o marco na evolução dos sentimentos em relação a infância, onde começaram realmente falar na fragilidade da criança, nas suas peculiaridades e a se preocupar com a formação moral e construção da mesma. 42 Nascimento da concepção de infância Então, a partir do século XVIII, as crianças começaram a ser reconhecidas em suas particularidades, começaram a possuir um quarto único, alimentação considerada específica e adequada, começaram a ocupar um espaço maior no meio social. Ali nascia a concepção de infância. Antes, como se viu, a infância era considerada um período sem valor. Agora a família começa a dar ênfase ao sentimento que tem em relação à criança. Considera-se uma revolução este novo sentimento dirigido à criança. Ela começa a ser importante, apreciada por sua família e a infância é reconhecida como uma época da vida merecedora de orientação e educação. Vemos que, enquanto na idade média a criança era sem valor e suas responsabilidades eram trabalhar e chegar o mais rápido possível na fase adulta, no Renascimento se da o início do processo de escolarização infantil. A infância nos dias de hoje Com o passar dos anos os direitos das crianças foram sendo cada vez mais fortes, embora por muitas vezes funcione só no papel, já pode ser considerado um grande avanço. Na visão de muitos autores a criação do Conselho da Criança e do Adolescente é vista como um marco no diz respeito ao reconhecimento e valorização da infância por parte das políticas públicas. Segundo o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), os principais direitos das crianças são: Ter uma educação de boa qualidade; Ter acesso à cultura e aos meios de comunicação e informação; Poder brincar com outras crianças da mesma idade; Não ser obrigado a trabalhar como adulto; 43 Ter uma boa alimentação que dê ao organismo todos os nutrientes que precisam para crescer com saúde e energia; Receber assistência médica gratuita nos hospitais públicos sempre que precisarem de atendimento; Ser livre para ir e vir, conviver em sociedade e expressar ideias e sentimentos; Ter a proteção de uma família seja ela natural ou adotiva, ou de um lar oferecido pelo Estado se, por infelicidade, perderem os pais e parentes mais próximos; Não sofrer agressões físicas ou psicológicas por parte daqueles que são encarregados da proteção e educação ou de qualquer outro adulto; Ser beneficiada por direitos, sem nenhuma discriminação por raça, cor, sexo, língua, religião, país de origem, classe social ou riqueza e toda criança do mundo deve ter seus direitos respeitados; Ter desde o dia em que nasce um nome e uma nacionalidade, ou seja, ser cidadão de um país; Cabe aos pais e educadores lutarem para que tudo isso não fique apenas no papel. Lutar para conquistar os mesmos direitos a todas as crianças, independente de sua classe social. Após uma análise sobre tantos períodos tristes que a infância enfrentou, que possamos fazer uma avaliação sobre nossos conceitos de infância. 44 2.2 A Criança x Infância Movimentos a favor da criança tomaram impulso de algumas décadas para cá. O reconhecimento do direito à vivência infantil expressou-se através de grandes movimentos, do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e de outros aparatos legais. Tomou-se DE REPENTE o conhecimento de que a criança tem direitos, acima da diversidade de cultura. Ela tem direito à higiene, à escola, ao lazer, à saúde. Há séculos passados, as crianças eram educadas como cópia comportamental dos adultos em vestuário, gestos, fala. Hoje, com a modernidade, a correria de pais e mães também se torna um impedimento para que a criança viva a infância. A urbanização, seja em comunidades mais simples ou não, reduz o espaço, ou melhor, a liberdade espacial da criança. Veículos, máquinas, oprimem a construção espacial e aglomeram-se na “Cidade dos Compromissos Urgentes”. Muitos são os fatores sociais os quais constam como impedimento para a vivência de uma infância saudável em sociedade no tocante à criança e à sua família: 45 1) Mães com trabalho full time; 2) Falta de emprego; 3)Miséria; 4)Mínimas condições sociais; A criança viver em constante adultice. Ela está sempre confinada nos ambientes dos adultos. Ela é repudiada se não cumpre com as regras que não fazem parte do seu mundo. É um ser privado de vivência. Estão dependentes da tirania dos adultos. Atualmente, muitos são os espaços construídos para as crianças em sociedade: áreas de recreação, publicações infantis, móveis em tamanhos adequados. Radicalmente, o trato infantil migrou de polo. De regras adultas ela passou a viver em plena era de crianças afáveis e dóceis. A criança considerada meiga, calma, disciplinada é a criança inserida em um contexto social infantil. Qual seria, então, o problema de inclusão social da infância? Muitas continuam não tendo constante acesso ao Maravilhoso Mundo Infantil. Mudou-se a forma de tratá-la. E por mais iniciativas que apareçam a favor dos menores, os excluídos não são abraçados em anos de história de exclusão. Montessori (1980, p. 10): [...] Todas as iniciativas esporádicas, nascidas sem ligações recíprocas, são provas evidentes de que nenhuma delas tem importância construtiva: constituem apenas comprovação do nascimento ao nosso redor de um impulso real e universal no sentido de uma grande reforma social. [...] A criança deve ter o seu mundo independente do mundo do adulto e, entre ambos, relações serem construídas de troca CONSTRUTIVA. O objetivo, além de zelar pelos direitos infantis e zelar como um todo pela INFÂNCIA, Montessori é muito clara nesse ponto. O desenvolvimento infantil como um todo deve ser o foco dessas relações construtivas. [...] A criança não é um estranho que o adulto possa considerar apenas 46 exteriormente, com critérios e objetivos. A infância constitui o elemento mais importante da vida do adulto: o elemento construtor. (1980, p. 10) No limiar da história a criança foi alvo de questões absolutistas. O bem e o mal, por exemplo. Ela foi educada pelo certo e pelo errado. Jamais com intenções de relativizar. Concepção de Infância Para entender como se deu o processo do desenvolvimento da concepção de infância, é importante analisar as diferentes mudanças e destacar que a visão que se tem de criança hoje é algo que foi historicamente construído ao longo dos anos. Dessa maneira, é possível observar os contrastes em relação ao sentimento de infância presente em determinados momentos da história. Algumas atitudes que hoje parecem um absurdo, como o tratamento indiferente