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- Popularmente conhecido como “ânus imperfurado” - São anomalias que acontecem na cobertura do ânus, onde se junta o intestino grosso com o canal anal - Não precisam de nenhum exame sofisticado, dá pra diagnosticar visualizando - Não conseguem reter as fezes, apresentam incontinência fecal - Essas crianças tem problemas na sensibilidade na percepção do sólido/gasoso/líquido no ânus e isso persiste até a vida adulta o Embriologia: eixo da má formação anorretal - Dentro da cauda do embrião, há uma estrutura única chamada de cloaca (parte final, tanto do trato digestivo quanto do trato urinário) - A cloaca precisa ser separada (trato digestivo do trato urinário e do trato genital feminino) - A maioria das anomalias ocorre devido a problemas nessa separação o Epidemiologia - 1 paciente a cada 4.000 ou 5.000 nascidos vivos • Anomalias Anorretais - As anomalias são diferentes dependendo do sexo - No sexo feminino, a vagina e o útero ficam entre a uretra e o ânus. No masculino, não tem nada nesse espaço - Os 3 tipos mais frequentes são: fístula perineal, fístula uretral, fístula vesical - O ânus não abre no lugar certo e abre em outro lugar no períneo ou na uretra/bexiga o Tipos de Anomalia ➢ Sexo Masculino ▪ Fístula Perineal - O reto se exterioriza no períneo, entre onde está a bolsa escrotal e onde deveria estar o ânus Figura 3. Cordão de pérolas na região perineal. ▪ Fístula Uretral - Forma mais frequente de acontecer no sexo masculino ▪ Fístula Vesical: forma mais grave Figura 1. Fístula uretral. Figura 2. Fístula vesical. - Quanto mais alta a situação da fístula, mais grave a situação do paciente, porque o insulto não está apenas no reto e no ânus, afeta também afeta a inervação. - Um paciente com fístula perineal tem muito mais chance de ficar continente depois da cirurgia corretiva do que um paciente com fístula vesical ➢ Sexo Feminino ▪ Fístula perineal: fístula próxima do lugar onde deveria ser a impressão anal ▪ Fístula vestibular - É a mais frequente no sexo feminino - O reto abre logo depois do hímen, entre o hímen e a fúrcula - A impressão que dá, a história que o paciente conta é que a “criança está evacuando mecônio pela vagina” ▪ Persistência da cloaca - Não houve separação da vagina, da uretra e do reto, todos se juntam formando um canal único no períneo - Visualização externa: vulva hipotrófica, clitóris perceptível e resquício de pequenos lábios. Não há fúrcula bem formada. - Se vê apenas um orifício no períneo e através dele sai: fezes, urina e corrimento vaginal (muco esbranquiçado que a RN elimina na vagina por conta da estimulação estrogênica) OBS: quanto mais baixa for a fístula, melhor a musculatura e a inervação. o Lesões infrequentes ▪ Ânus imperfurado sem fístula: muito raro de acontecer (1%) - Quando acontece, geralmente associado a Síndrome de Down - A cirurgia é bem mais simples nesses casos ▪ Atresia retal: raríssimo - Ânus de aspecto normal, e por algum motivo de atresia, não passa nada para ele. Associa-se a um bom prognóstico o Malformações associadas ▪ Genitourinárias: correspondem a 20-54% das malformações associadas (maioria) - Agenesia renal - Refluxo vésico-ureteral - Hidronefrose - Hipospádias - Rim em ferradura ▪ Outras: doenças cardíacas, da linha média, etc - Hemivértebras - Atresia de esôfago - Persistência do canal arterial (PCA) - Comunicação interventricular (CIV) - Comunicação interatrial (CIA) - Tetralogia de Fallot o Diagnóstico clínico ▪ Inspeção do períneo - Nádega plana: sulco interglúteo mal definido e pele enrugada no local onde seria a impressão anal - Aspecto da impressão anal - Distância entre o sacro e impressão anal - Aspecto da genitália ▪ Pesquisa da fístula - Exame da vulva: essencial para se verificar de onde está saindo aquele mecônio - Pesquisa de mecônio na urina: em meninos com fístula uretral, não se vê mecônio em nenhum lugar da região perineal, mas quando se verifica a urina, se vê mecônio saindo na urina - Cordão de pérolas (bolinhas de mecônio no períneo) o Diagnóstico por exames complementares ▪ Invertograma: virar a criança de cabeça pra baixo, colocar uma moeda na impressão anal e fazer RX - Verificar distância entre o fundo cego retal e a impressão anal - Não é mais usado devido à alta taxa de falso positivo - Descobriu-se que o mecanismo normal da continência mantém sempre essa região fechada, então normalmente não há nada preenchendo o ânus, provando que o invertograma era falho ▪ Estudo de Imagem: colostograma distal Colostograma distal. Seta laranja: reto / Seta rosa: uretra. A imagem foi feita com bebê de bruços, a incidência do feixe de RX é lateral. Perceber sacro acima do reto e fêmur abaixo da uretra. - Exame usado para pesquisa da localização da fístula em caso de fístula não exteriorizada. A imagem foi feita a partir de injeção de contraste em bolsa de colostomia usada pelo bebê, diagnosticando fístula uretral. - Além disso, o exame também serve para realizar planejamento da cirurgia, pois dá uma noção de quão profunda a fístula se localiza. Nesse caso da imagem, por estar próxima ao sacro, pode-se realizar a cirurgia entrando pelo sulco interglúteo. o Tratamento: cirúrgico, precisa abrir para que o ânus fique no local Figura 1. Fístula perineal. Figura 2. Fístula circulada, tracejado com “caneta” azul mostrando onde o orifício deveria se localizar. Figura 3. Uso de estimulador de nervo, vários fios que dão um choque afim de descobrir onde está a musculatura anal (quando presente naquele local, se contrai ao choque). Figura 1. Colostograma da paciente com persistência de cloaca. Figura 2. Útero rudimentar, contínuo com o reto, compatível com persistência da cloaca. Percebe-se os ovários na lateral. • Conclusões - O maior problema das anomalias anorretais é a incontinência fecal - Se não tiver malformações mais graves associadas, provavelmente o paciente vai sobreviver e, com isso, vai passar a vida tendo incontinência e constipação (orifício doente, não permite esvaziamento completo do intestino distal) Invaginação Intestinal - Maior causa de obstrução intestinal em crianças abaixo de 3 anos de idade, principalmente no 1º ano • Fisiopatogenia - Não se sabe porque acontece, mas a partir de uma contração/peristalse, um pedaço de alça (geralmente do íleo terminal), penetra para dentro do ceco. - À medida que a peristalse aumenta, cada peristalse que ele dá, o íleo vai entrando mais dentro do ceco - Vai chegar uma hora que a quantidade de intestino que entrou um dentro do outro é tão grande que gera obstrução intestinal, não tem mais luz - Ele começa a ficar preso entre as camadas. Inicialmente, as veias ficam colapsadas, mas continua entrando sangue arterial, fazendo com que a porção invaginada comece a inchar. - O paciente começa a ter muita dor tipo cólica quando o intestino entra um dentro do outro - Depois, também é precipitado um quadro de obstrução intestinal, porque a matéria fecal não passa - Evolui para isquemia, necrose e perfuração - A mucosa começa a soltar gotículas de sangue dentro, se misturando com muco (produzido pela porção necrosada) e a criança geralmente elimina pelo ânus como se fosse um catarro com sangue (“geleia de framboesa”). Essa eliminação só acontece no 1º dia da criança com invaginação, depois disso o sintoma vai ser só obstrução. - Nos casos iniciais, sem necrose, pode-se usar o enema, que empurra a alça de volta. - Se estiver com quadro de necrose, faz outra técnica • Etiologias da Invaginação Intestinal: o Idiopática - Criança abaixo de 2 anos de idade (2 meses a 2 anos) - Não há lesão que dê início ao processo, não tem causa, intestino normal, se palpa o intestino e não acha nada - Localiza-sepreferencialmente no íleo terminal - Pode recidivar - Pode ocorrer em pós-operatório de cirurgias (e não necessariamente cirurgia abdominal, pode ser uma neurocirurgia, sem qualquer manipulação no abdome, e pode causar invaginação) o Com cabeça de invaginação - São mais raras e ocorrem em crianças maiores de 2 anos de idade - Possuem causa definida, têm um ponto inicial. - O segmento afetado depende da localização desse ponto inicial (causa). - Pode-se apresentar como suboclusão crônica - O tratamento é sempre cirúrgico porque precisa remover o ponto inicial para impedir recidivas - Geralmente são apresentação clínica de outras doenças, sobretudo doenças que levam a uma elevação do intestino que facilite a invaginação ▪ Causas de Invaginação com cabeça de invaginação ❖ Divertículo de Meckel - Causa mais frequente de invaginação não idiopática ❖ Linfomas não Hodgkin de placa de Peyer: - 2ª causa mais frequente - Tumor que acomete linfonodos da submucosa intestinal, fazendo com que essas placas cresçam e se projetem para dentro da cavidade. - Ocorre em crianças de 4-6 anos, faixa etária diferente daquela acometida por invaginação idiopática. ❖ Polipose intestinal - A principal polipose é a da síndrome de Peutz-Jeghers - Como tem vários pólipos, faz invaginação. - Faz várias pintinhas pretas nos lábios, nas plantas e palmas ❖ Hematomas de púrpura trombocitopênica - O sangramento da mucosa intestinal causa hematomas, que podem ser a causa da invaginação. • Quadro clínico - Acomete lactentes < 2 anos - Dor abdominal tipo cólica - Letargia (reflexo vagal) - Massa em forma salsicha perto do umbigo: sinal perceptível apenas nas primeiras 24h - Distensão abdominal: demora um pouco para distender porque precisa acumular gás. Quando houver distensão, não é mais possível palpar essa massa em forma de salsicha. - Para diagnosticar invaginação, é preciso juntar pelo menos 2-3 sintomas, nunca realizar diagnóstico a partir de sintoma isolado. OBS: na palpação de abdome normal, não se deve conseguir palpar nada. Figura 1. Região destacada com caneta é onde estava se palpando a massa em salsicha. Figura 2. Evacuação em geleia de framboesa. Raio X de criança com obstrução intestinal. Acontece a partir do 2º dia de invaginação intestinal. Lembrar que na presença de distensão abdominal, não há mais dor em cólica, evacuação em geleia de framboesa (“catarro com sangue”) e nem se palpa mais a massa em forma de salsicha. Nesse momento a alça não está só congestionada, como também está isquêmica. Nessa fase, a criança apresenta abdome distendido e vômito bilioso. Ultrassom de criança com invaginação intestinal. Imagem à direita: sinal em alvo, significa duas alças, uma dentro da outra. Enema opaco. Método antigo, utilizava-se para tratar invaginação (seta vermelha). Empurrava bário até que ele empurrasse a invaginação. Atualmente, a técnica é a mesma, mas se usa soro e ultrassom. • Redução cirúrgica - Cirurgia de urgência, precisa fazer correções necessárias e levar para cirurgia - Na cirurgia, tentar desinvaginar com a mão ou, se já tiver necrose, precisa remover a região da invaginação e imendar os dois pedaços que ficaram • Redução hidrostática: não tentar fazer se tem sinal de peritonite Apendicite Aguda na Infância - Causa mais frequente de cirurgia abdominal - Variação sazonal - História familiar - 60.000 crianças/ano nos EUA - Maior prevalência em escolares e adolescentes - Discreta predominância do sexo masculino • Quadro clínico - Dor abdominal persistente (principal característica, não é igual a de uma cólica e não passa, continua ou aumenta a intensidade) - Migração da dor: geralmente inicia na região epigástrica/periumbilical, depois de 12h migra para a fossa ilíaca direita - Vômitos - Febre - Desidratação - Rigidez da parede abdominal: irritação da parede abdominal, musculatura entra em espasmo. Aparece o Sinal de Bloomberg (só aparece de 12-24h depois, raramente acontece no começo) - Disúria e polaciúria: se apêndice estiver localizado perto da bexiga - Massa abdominal • Exames complementares o Leucograma - Desvio à esquerda com granulações tóxicas nos neutrófilos - Contudo, sua presença ou ausência não significa que “é” ou “não é” apendicite - O quadro clínico é muito mais importante do que isso o Radiografia simples do abdome - Pode ajudar em 10-20% dos casos, em que há obstrução da luz do apêndice por coprólito (bolinha branca). Apendicite em estágio inicial - Não é mais muito usado. Coprólito branco dentro do apêndice o USG abdominal - Muito operador-dependente, complicado porque fazer USG em criança com dor abdominal é muito mais difícil. - Pode ajudar ou atrapalhar, mas é bem mais sensível que o leucograma Apendicite no USG, diâmetro aumentado de tamanho o Tomografia computadorizada - Está sendo mais utilizada em larga escala, é um exame que o médico usa pra se defender. - Não deve ser solicitada indiscriminadamente. O apêndice pode estar localizado em locais peculiares. No começo do quadro, o sinal de Bloomberg vai estar positivo em todo o abdome devido a irritação peritoneal. • Diagnóstico - Dor abdominal persistente a mais de 24 horas - Localização nos quadrantes inferiores do abdome - Sinais de irritação peritoneal - Distensão abdominal (se o quadro for mais avançado, apresenta quadro de peritonite difusa, vômito bilioso) • Diagnóstico diferencial - Adenite mesentérica: inflamação inespecífica por vírus, gânglios aumentados de tamanho e dolorosos - Diverticulite de Meckel: o divertículo pode inflamar e gerar um quadro indistinguível de apendicite, a diferença é que na hora de operar o apêndice está normal - Dengue: causa dor abdominal, muitas vezes é semelhante - Torção de Anexo: torção de trompa/ovário, se for à direita, quadro muito semelhante à apendicite, mas a USG vê anexo doente com grande facilidade - Pneumonia lobar inferior direita: muitas vezes irritam nervos que inervam a parede torácica e correm para a parede do abdome, pode mimetizar apendicite. O diagnóstico diferencial se dá pela evolução mais lenta e sinais respiratórios associados • Tratamento - Apendicectomia - Tratamento clínico da apendicite: muito controverso - Plastrão apendicular: massa palpável nos casos de apendicite que passam sem diagnóstico, o intestino/mesentério/epíplon grudam em cima do apêndice e formam massa dura. Fazer antibioticoterapia para reduzir inflamação e só depois fazer apendicectomia, porque é muito difícil enquanto todos estão aderidos. o Drogas: tratamento coadjuvante da apendicite, principalmente quando o apêndice está supurado. Na maioria das vezes é uma peritonite polimicrobiana. (professor disse que não é muito importante pra gente) - Metronidazol - Cefalosporinas - Aminoglicosídeos - Macrolídeos - Penicilinas semisintéticas - Penicilinas com clavulanato