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Tutoria 5- Glomerulonefrite Membranosa PATO A nefropatia membranosa é uma causa comum de síndrome nefrótica em adultos. É caracterizada pelo espessamento difuso da parede capilar glomerular devido ao acúmulo de depósitos eletrondensos contendo Ig, ao longo do lado subepitelial da membrana basal. A glomerulopatia membranosa que ocorre associada a outras doenças sistêmicas e uma variedade de agentes etiológicos identificáveis é conhecida como glomerulopatia membranosa secundária. As associações mais observadas são as seguintes: - Drogas (penicilamina, captopril, ouro, drogas anti- inflamatórias não esteroidais [DAINEs]): 1% a 7% dos pacientes com artrite reumatoide tratados com penicilamina ou ouro (drogas atualmente pouco utilizadas por causa disto) desenvolvem glomerulopatia membranosa. - Tumores malignos subjacentes: particularmente carcinomas do pulmão e do cólon e melanoma. - LES: cerca de 10% a 15% da glomerulonefrite no LES é do tipo membranoso. - Infecções: (hepatite B crônica, hepatite C, sífilis, esquistossomíase, malária). - Outros distúrbios autoimunes: como a tireoidite; Em cerca de 85% dos pacientes nenhuma condição associada pode ser descoberta e a doença é considerada idiopática. Patogenia. A glomerulopatia membranosa é uma forma de doença crônica mediada por complexo imunológico. Na glomerulopatia membranosa secundária, os antígenos incitantes podem algumas vezes ser identificados nos complexos imunológicos. Por exemplo, a glomerulopatia membranosa no LES está associada à deposição de complexos autoantígeno-anticorpo. Os antígenos que foram identificados nos depósitos em alguns pacientes incluem antígenos exógenos (p. ex., hepatite B, Treponema), antígenos endógenos não renais (p. ex., tiroglobulina) e antígenos endógenos renais (p. ex., a proteína de membrana endopeptidase neutra reconhecida pela transferência placentária de anticorpos maternos nos casos de nefropatia membranosa neonatal e possivelmente o receptor da fosfolipase A2 nos casos adultos). As lesões carregam uma semelhança surpreendente com aquelas da nefrite de Heymann experimental, que é induzida por anticorpos para um complexo antigênico de megalina. Ainda não se sabe se o antígeno similar está presente na maioria dos casos de glomerulopatia membranosa idiopática em humanos. A suscetibilidade à nefrite de Heymann em ratos e à glomerulopatia membranosa em humanos está ligada ao lócus do complexo principal de histocompatibilidade, podendo influenciar a capacidade de produzir anticorpos para o antígeno nefrogênico. Logo, a glomerulopatia membranosa idiopática, como a nefrite de Heymann, é considerada como uma doença autoimune ligada a genes de suscetibilidade e causada provavelmente por anticorpos para um autoantígeno renal. Como a parede capilar glomerular se torna defeituosa na glomerulopatia membranosa? Há uma escassez de neutrófilos, monócitos ou plaquetas nos glomérulos. A presença quase uniforme do complemento e o trabalho experimental corroborante sugerem uma ação direta do C5b-C9, a via que leva à formação do complexo de ataque da membrana. Postula-se que o C5b-C9 ative as células glomerulares epiteliais e mesangiais, induzindo-as a liberar proteases e oxidantes, causando injúrias na parede capilar e um extravasamento aumentado de proteínas. Morfologia. Por microscopia óptica os glomérulos aparecem normais nos estágios iniciais da doença ou exibem um espessamento uniforme e difuso da parede capilar glomerular (Fig. 20-12A). Por microscopia eletrônica o espessamento é causado pelos depósitos densos irregulares dos complexos imunológicos entre a membrana basal e as células epiteliais sobrejacentes, as últimas tendo os processos pediculares destruídos (Fig. 20-12B e D). O material da membrana basal é assentado entre estes depósitos, aparecendo como espículas irregulares se projetando da MBG. Estas espículas são mais bem observadas por colorações de prata, que coram a membrana basal, mas não os depósitos, em preto. Na ocasião, estas espículas se espessam para produzir protrusões semelhantes a cúpulas e eventualmente se fecham sobre os depósitos imunológicos, encobrindo-os com uma membrana irregular espessada. A microscopia de imunofluorescência demonstra que os depósitos granulares contêm tanto imunoglobulinas quanto complemento (Fig. 20- 12C). Com o avanço da doença a esclerose pode ocorrer; ao longo do tempo os glomérulos podem se tornar totalmente esclerosados. As células epiteliais dos túbulos proximais contêm gotas de reabsorção de proteínas e pode haver uma inflamação intersticial de células mononucleares considerável. Aspectos Clínicos. Em um indivíduo anteriormente saudável, este distúrbio geralmente tem um início insidioso de síndrome nefrótica ou, em 15% dos pacientes, com proteinúria não nefrótica. A hematúria e a hipertensão leve estão presentes em 15% a 35% dos casos. É necessário, em qualquer paciente, excluir primeiro as causas secundárias descritas anteriormente, já que o tratamento da condição subjacente (neoplasma maligno, infecção ou LES) ou a descontinuação da droga ofensiva pode reverter a injúria. O curso da doença é variável, mas geralmente indolente. A proteinúria é não seletiva e geralmente não responde bem à terapia com corticosteroides. A progressão está associada à esclerose crescente dos glomérulos, aumentando a creatinina sérica que reflete em insuficiência renal e no desenvolvimento de hipertensão. Embora a proteinúria persista em mais de 60% dos pacientes, somente 10% morrem ou progridem para a falência renal dentro de 10 anos e não mais de 40% eventualmente desenvolvem insuficiência renal. A esclerose concorrente dos glomérulos na biópsia renal no momento do diagnóstico é um indicador de um prognóstico ruim. Remissões espontâneas e resultados relativamente benignos ocorrem mais comumente em mulheres e naqueles com proteinúria em uma faixa não nefrótica. Por causa do curso variável da doença, é difícil avaliar a efetividade geral dos corticosteroides ou outras terapias imunossupressivas no controle da proteinúria ou da progressão. FIGURA 20–12 Nefropatia membranosa. A, Coloração pela prata metenamina. Note o espessamento difuso evidente das paredes capilares sem um aumento no número de células. Há “espículas” proeminentes da matriz corada com prata (seta) se projetando da lâmina densa da membrana basal em direção ao espaço urinário, que separa e envolve os complexos imunológicos depositados que não possuem afinidade para a coloração por prata. B, Micrografia eletrônica mostrando depósitos eletrondensos (setas) ao longo do lado epitelial da membrana basal (B). Observe a destruição dos processos pediculares sobrejacentes aos depósitos. CL. Lúmen capilar; End, endotélio; Ep, epitélio. C, Depósitos granulares imunofluorescentes característicos de IgG próximo à MBG. D, Representação diagramática da nefropatia membranosa. HISTO A membrana basal glomerular é resultado da fusão das lâminas basais do endotélio capilar fenestrado e dos podócitos (os quais possuem fendas entre eles). É composta por 3 lâminas: rara interna, densa e rara externa. As raras são compostas por proteoglicanos carregados negativamente com sulfato de heparan. Dessa forma, por questão de cargas, ajudam na seletividade da filtração glomerular. Já a densa é a mais escura, daí seu nome, rica em colágeno tipo IV, o que ajuda a constituir barreira mecânica contra a passagem de macromoléculas. PONTOS DO PROBLEMA PROTEINÚRIA e HAS → esclerose glomerular → explicado pra cima já; ANCA NEGATIVO Uso: diagnóstico de vasculites autoimunes ditas primárias (não associadas a outras doenças do tecido conjuntivo). C-ANCA – padrão difuso citoplasmático, está associado com anticorpos antiproteinase3, sendo um teste sensível (30 a 99%) e específico (98%) para o diagnóstico da granulomatose de Wegener. Os níveis de anticorpos relacionam-se com a atividade da doença, e diminuem quando a terapêutica imunossupressora é usada. P-ANCA – padrão perinuclear, está associado com um número de anticorpos que inclui a antimieloperoxidase; embora estes anticorpos sejam encontrados em pacientes com poliartrite nodosa, eles também podem estar presentes em outras patologias: renais, sistêmicas e reumáticas. Anticorpos anti citoplasma de neutrófilos (ANCA) mostrando padrão perinuclear (p-ANCA) são encontrados em 70% dos pacientes com Colite Ulcerativa e somente em 20% dos pacientes com doença de Crohn. A combinação do ASCA positivo e pANCA negativo demonstrou uma sensibilidade, especificidade e valor preditivo positivo de 49%,97% e 96% respectivamente para a Doença de Crohn. ANTI-DSDNA Uso: teste confirmatório para diagnóstico de Lupus Eritematoso Sistêmico; monitoramento terapêutico. Pessoas normais geralmente apresentam-se não reagentes ou mesmo fracamente reagentes para anti- DNA. Anticorpos anti-dsDNA (DNA de dupla fita) são encontrados de forma característica em pacientes com LES, e raramente encontrados em pacientes com outras doenças do tecido conjuntivo. Os anticorpos anti-DNA (nativo ou simples hélice) são encontrados primariamente em pacientes com LES, portanto são ferramentas importantes para o diagnóstico desta condição. Anticorpos IgG anti-dsDNA são encontrados em cerca de 60% dos casos de LES ativa. Outras condições patológicas podem estar associadas à positividade para anti-DNA, como outras doenças reumáticas, hepatites crônicas ativas, mononucleose infecciosa e cirrose biliar primária. Para o diagnóstico de LES, pode-se utilizar anti-Sm, de menor incidência, ou mesmo anti-SS-A/Ro e anti-SS-B/La (principalmente em casos não reagentes para anticorpos antinucleares). O acompanhamento dos títulos de anti- DNA pode ser auxiliar na avaliação da resposta terapêutica, em conjunto com o quadro clínico e títulos de complemento (C2), por exemplo. Pacientes que evoluem para quadros de nefrite lúpica apresentam-se com alterações ao exame de urina, títulos de anti-DNA persistentemente altos, e/ou complemento diminuído. Interferentes: são registrados resultados falso- positivos devido a anticorpos contra histonas e anti- sDNA (fita simples), causados pelo uso de procainamida, hidralazina, ou outros fatores. A reação quando positiva, é considerada como um marcador para o diagnóstico do LES, estando presente em torno de 40% dos pacientes não tratados. O seguimento dos títulos de anticorpos anti-DNA pode ser útil na avaliação da resposta terapêutica. Anticorpos anti-DNA nativo normalmente são detectados nas outras doenças reumáticas. Se encontrados, pode-se suspeitar de uma síndrome de superposição, ou de reatividade cruzada com determinados antígenos: histona, fator reumatoide, etc. RELAÇÃO DA DIABETES TIPO II → É IDOSO HDL BAIXO → É IDOSO ANEURISMA DE AOTRA → É IDOSO Glomerulopatia Membranosa estágio II de Churg. Pensando nas hipóteses para o caso, achamos por bem inicialmente realizar o fundo de olho para avaliar a presença de microangiopatia por meio do achado de retinopatia diabética. Ao ter um fundo de olho não compatível com Retinopatia diabética, somado ao fato do paciente não apresentar sinais de neuropatia periférica ou autonômica, apresentar uma proteinúria exuberante e ter tido por todo o curso da doença um controle satisfatório, ficou mais claro que deveríamos caminhar na exclusão de outros diagnósticos diferenciais, já que nefropatia diabética não nos parecia a melhor hipótese. Como o paciente era portador de aterosclerose sistêmica com comprometimento de vários territórios vasculares, a hipótese de doença renovascular também foi aventada por nós, já que em nosso serviço cerca de 25% dos casos de doença renovascular apresentam proteinúria em nível nefrótico. O exame de angio TC sem sinais de comprometimento de artérias renais afastou a princípio esta hipótese. Somando o fato de o paciente apresentar proteinúria exuberante, sem sinais de retinopatia diabética e descartado aterosclerose de artérias renais, a possibilidade de se tratar de uma doença glomerular parecia bastante real. As principais causas de síndrome nefrótico em idosos são: glomerulopatia membranosa, doença por lesões mínimas e gamopatias monoclonais. Nesta faixa etária, quaisquer destes padrões morfológicos poderiam estar associados a causas secundárias e achamos importante iniciar a investigação de neoplasias (especialmente por se tratar de paciente idoso, ex-tabagista), infecções crônicas, gamopatias monoclonais e alterações hormonais (tireoide). Paralelamente o paciente foi sendo tratado de sua dislipidemia, hipertensão, iniciada e otimizada medicação anti-proteinúrica. Após controle lipídico satisfatório com medicação e dieta, não houve melhora da proteinúria, ao contrário, esta aumentou seus índices durante os três meses que se seguiram. Os principais exames solicitados vieram negativos, o que nos encorajou a realizar a biópsia renal. O achado de glomerulopatia membranosa não nos surpreendeu e, por estarmos já há mais de 1 ano cientes do quadro nefrótico do paciente, somado ao fato deste evoluir progressivamente com alteração significativa da creatinina sérica (aumentando de 1,1mg/dl para 1,4mg/dl), optamos por iniciar o tratamento específico. A escolha do tratamento não foi fácil. A princípio, o esquema indicado seria a associação de corticoide com alquilante, sendo que o mais usado em nosso serviço é a ciclofosfamida, geralmente via oral. O fato de o paciente ser diabético e poder apresentar descontrole importante da glicemia ao associar corticoide em doses altas, somado ao fato de que a imunossupressão com alquilante e corticoide traria um maior risco de infecções num paciente idoso e com diversas comorbidades, pensamos na possibilidade de iniciar o tratamento com ciclosporina. O maior risco desta segunda escolha seria a nefrotoxicidade, já que não se tratava de um paciente com função renal normal e estudos anteriores consideram que o uso de inibidores de calcineirina não está indicado para tratamento da glomerulopatia membranosa em pacientes com alteração de função renal. Colocando na balança os riscos de cada tratamento, optamos conjuntamente com o paciente e sua esposa, por iniciar a ciclosporina isolada (sem corticoide) em dose de 2,5mg/kg/dia e reavaliarmos quinzenalmente com nível sérico e creatinina adequando dose da medicação conforme necessário. Buscamos o nível sérico sempre abaixo de 120, variando preferencialmente entre 80 e 100ng/dl. O paciente não apresentou piora dos níveis de creatinina, ao contrário, foi possível observar uma melhora discreta dos níveis para creatinina de 1,2mg/dl ao longo do tratamento e veio evoluindo com melhora progressiva da proteinúria. Atualmente está em uso de ciclosporina 100mg de 12/12hs, já há 6 meses e a última proteinúria é de 1,4g/24hs com dosagem sérica atual de 68ng/dl (dosando uma hora antes da próxima tomada). Consideramos que o tratamento induziu a remissão parcial, mas ainda não iniciamos o desmame da ciclosporina. Sabemos da chance alta de recidiva da doença após a redução da ciclosporina (em torno de 75% dos casos) e pretendemos fazer este desmane lentamente, reduzindo 25 a 50mg da dose total diária, a cada 2 meses, até sua completa suspensão. Paralelamente estaremos atentos para causas secundárias que possam surgir. A nefropatia membranosa (NM) é uma das principais causas de síndrome nefrótica em adultos. Tem um curso clínico variável, e um terço dos pacientes evolui para a doença renal terminal. A idade mais avançada, a insuficiência renal no diagnóstico,a intensidade da proteinúria, glomeruloesclerose, lesões vasculares e fibrose tubulointersticial estão associadas a um mau prognóstico. Assim, o conhecimento de marcadores clínicos e histológicos de gravidade e prognóstico é essencial para uma abordagem terapêutica otimizada. A NM ocorre devido à deposição in situ de anticorpos contra antígenos podocitários, e estudos sugerem que o receptor de fosforizasse A2 tipo M é um dos principais antígenos envolvidos, responsável por 70% dos casos de NM primária. Esses complexos imunes ativam o sistema do complemento (SC) e estão associados à lesão podocitária, proteinúria e consequente insuficiência renal. O SC pode ser ativado por três vias: (1) a via clássica, ligando imunoglobulinas ao patógeno e ativação C1q; (2) a via da lecitina, em que as proteínas plasmáticas da família da colecitina (proteínas de ligação ao manose - MBLs e ficolinas) se ligam às imunoglobulinas; e (3) a via alternativa, que é constantemente ativada em níveis baixos, resultando em hidrólise espontânea do componente C3. A ativação de qualquer uma dessas três vias leva à formação do complexo de ataque da membrana (C5b-9), que promove o dano da membrana da célula alvo. O sistema do complemento é crítico para o desenvolvimento de várias glomerulopatias. Na NM, a citotoxicidade mediada pelo sistema do complemento tem sido implicada como um fator importante devido à função efetora do C5b-9, que é encontrada no rim e na urina de pacientes com NM. Na NM primária, a IgG4 é a principal imunoglobulina depositada no rim, e a teoria clássica sugere que não liga C1q e, portanto, não leva à ativação da via clássica, mas na via da lecitina. Além disso, demonstrou-se a ligação direta de MBL ao IgG4-PLA2R. No entanto, existem relatos de casos e estudos experimentais em que a expressão de outras subclasses de IgG e a presença de componentes de outras vias de complemento foram observadas na NM; assim, ainda não existe um consenso sobre qual via do complemento é mais ativada. O C4d é um produto da degradação do C4 durante a ativação das vias clássicas e da via da lecitina do sistema do complemento, e por causa de suas fortes ligações covalentes ao tecido, ele tem sido usado como marcador da resposta mediada por anticorpos e da ativação do sistema do complemento. A aplicação clínica clássica do C4d está no diagnóstico de rejeição mediada por anticorpos, mas tem sido utilizada em glomerulopatias como marcador de ativação do complemento e pior prognóstico. Embora esses estudos mostrem alta positividade para C4d na NM não há estudos que avaliem sua correlação com marcadores clínicos e histológicos. Dada a importância da participação do sistema do completo na NM, este estudo teve como objetivo avaliar os casos de NM em relação à expressão de C4d, identificando a via do complemento possivelmente ativada e correlacionando a presença de C4d com marcadores clínicos e histológicos mais severos. Concluímos que a expressão de C4d é importante nos casos de NM, indicando a participação do SC na fisiopatologia das lesões glomerulares. Embora a via da lecitina pareça ser a mais prevalente, a participação das vias clássica e alternativa foi possível. A presença de C4d tem sido associada a lesões tubulointersticiais mais severas