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TRABALHO SOBRE O CDC - Características, Conceitos e Teorias

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QUESTÕES
1) Aponte e comente sobre 3 característica do Código de Defesa do Consumidor.
O Código de Defesa do Consumidor (CDC), lei 8078/90 consolidou uma importante proteção aos mais vulneráveis nas relações contratuais. Como características marcantes, é possível apontar algumas presentes em entendimento do Superior Tribunal de Justiça:
As normas de proteção e defesa do consumidor têm índole de ordem pública e interesse social. São, portanto, indisponíveis e inafastáveis, pois resguardam valores básicos e fundamentais da ordem jurídica do Estado Social, daí a impossibilidade de o consumidor delas abrir mão. (BRASIL, 2010)
a) CDC como norma principiológica Suas normas são dotadas e transmitem valores presentes em diversos princípios. O Código de Defesa do Consumidor se relaciona melhor com os direitos de terceira geração, os chamados direitos difusos. O CDC como norma principiológica já nasce com a Constituição Federal de 1988, estando presente no rol de direitos fundamentais do Art. 5º:
 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
 XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;
 Daniel Assumpção Neves e Flávio Tartuce (2018, p.27), defendem que essas caraterísticas dão ao CDC o caráter de norma com eficácia supralegal, entendimento esse que, como destacam os próprios autores, não é maioria entre os julgadores. Essa prevalece sobre normas gerais e especiais anteriores, mas não sobre Tratados.
b) Microssistema Jurídico – multidisciplinariedade Presente normas de direito penal, constitucional, civil, administrativo e processual penal, existindo para tutelar o mais fraco. Todavia, apesar de possuir normas de diversos campos, a teoria do diálogo das fontes preconiza que a solução para as questões devem ser flexíveis, possibilitando a interação com outras normas, conforme explicam didaticamente Assumpção e Tartuce (2018, p.34):
 O Direito passa a ser visualizado, assim, como um sistema solar (interpretação sistemática e planetária), em que os planetas são os Códigos, os satélites são os estatutos próprios (caso do CDC) e o Sol é a Constituição Federal, irradiando seus raios solares – seus princípios – por todo o sistema (figura de Ricardo Luis Lorenzetti).
Flávio P. Bragga Neto (2017, p.41) diz que o CDC como microssistema, não se importa com a divisão do direito em ramos, mas com a efetividade, por esse motivo são unificadas diversas normas.
c) Norma de Ordem Pública e de Interesse Social Tal característica é estabelecida pelo Art. 1º do CDC:
 O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias.
Bragga Neto (p.42) discorre que são normas cogentes, sem possibilidade de renúncia, não podendo ser afastada sua incidência por nenhum contrato. Ainda sobre essa característica, relata que o juiz pode aplicar as suas normas ex officio, sem provocação das partes. Excetua-se, pela súmula 381 do STJ, a vedação do reconhecimento de ofício da abusividade de clausulas em contratos bancários.
Frisa-se o entendimento já mencionado do STJ, consolidando que por tal característica, as normas do CDC são indisponíveis e inafastáveis. 
2) Conceitue a relação jurídica de consumo. Na oportunidade, apresente 02 exemplos desta relação.
O Código de Defesa do consumidor só se aplica à relação entre os consumidores e os fornecedores. Sabendo que relação jurídica é toda relação social disciplinada pelo Direito através das normas, Sérgio Cavalieri Filho (2019, p. 84), define que essa relação no Direito do Consumo é particularizada pelos seus sujeitos (consumidor e fornecedor) e o objeto (produtos e serviços). Portanto, quando se fala em situações derivadas de atos de consumo, derivados de um negócio jurídico entre as partes, a relação de consumo fará efeitos jurídicos. Uma simples compra de um produto, como por exemplo, a compra de um carro ou um serviço de manutenção contratado em uma empresa de refrigeração, formam uma relação jurídica de consumo, bastando a presença dos elementos subjetivos e objetivos já citados. 
3) Quais são os elementos objetivos da relação jurídica de consume? Responda, apresentes as especificidades dos elementos e exemplifique.
1. Tratando-se de elementos objetivos da relação de consumo, a doutrina entende pela existência de dois: produto e serviço, os objetos da relação.
Produto na definição do art. 3º, parágrafo 1º, do Código de Defesa do Consumidor é qualquer bem móvel ou imóvel, material ou imaterial. Daniel e Flávio (p.114) destrincham esse conceito, segundo eles:
· Bem móvel é aquele que pode ser transportado sem prejuízo da sua integridade, citando o exemplo da compra de um automóvel, nesse caso, sendo o conteúdo de uma relação de consumo;
· Bem imóvel é aquele que o transporte ou remoção enseja destruição ou deterioração do bem, alterando seu valor, citando o exemplo de um apartamento;
· Bem material é aquele corpóreo e tangível, como o carro e o apartamento;
· Bem imaterial é aquele incorpóreo intangível, em que eles citam o lazer como um desses bens tutelados.
Em suma, é de grande relevância trazer um conceito de Cláudia Viegas (2014, p.22), em que ela, para além do que aqui já foi tratado, traz importante observação sobre o valor econômico (mesmo assim, o produto gratuito tem proteção do CDC, como a amostra grátis) e a destinação que o bem precisa ter. Assim, observe-se:
Corresponde ao elemento objetivo da relação de consumo, isto é, o objeto sobre o qual recai a relação jurídica consumerista. Pode ser bem móvel ou imóvel, material ou imaterial, novo ou usado, fungível ou infungível, principal ou acessório, corpóreo ou incorpóreo, suscetível de apropriação e que tenha valor econômico, destinado a satisfazer uma necessidade do consumidor.
 Já ao falar de serviço, conceitua o CDC:
Art. 3º, § 2º, CDC: Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.
De inicio, cumpre salientar que apesar da regra de impossibilidade do serviço gratuito ser tutelado pelo CDC, conforme destacado em seu conceito, Neves e Tartuce (p. 118) explicam que quando o fornecedor obter vantagens indiretas, a relação de consumo não será prejudicada, são os chamados serviços aparentemente gratuitos, que recebem remuneração indireta. Exemplificando essa questão, pode-se citar os estacionamentos gratuitos de shoppings e supermercados, que funcionam como atrativo, respondendo pelos possíveis danos que acontecerem nesse ambiente. A súmula 130 do STJ ainda destaca a desnecessidade de que o cliente tenha feito compras no local.
Sérgio Cavalieri Filho (p.104), destaca que as atividades a que o código se refere podem ser de natureza material, intelectual ou financeira, prestada por entidades públicas ou privadas, mediante remuneração direta ou indireta, explanação importantíssima para entendimento da caracterização de um serviço tutelado pelo CDC.
Repise-se que os doutrinadores consideram a remuneração uma característica marcante da definição de serviços. Além da ressalva já citada, a leitura do parágrafo 2º do art. 3º do CDC excetua as relações trabalhistas, por obviedade. Quanto aos serviços públicos, vale destacar que a corrente doutrinária majoritária entende que o CDC só se aplica nos serviços remunerados por tarifa, visto que o serviço pago com ela é facultativo, com manifestação de vontade do usuário. 
4) Qual é a teoria adotada pelo Superior Tribunal de Justiça – STJ para conceituar o consumidor? Comente sobre a teoria.
Há diferentes correntes que conceituam o consumidor. O Superior Tribunal de Justiça, hoje adotaa corrente do finalismo aprofundado. Por essa corrente, entende-se que o consumo intermediário não configura relação de consumo, assim, consumidor é apenas a pessoa (física ou jurídica de direito privado ou público) que adquire o bem para uso privado, fora da atividade profissional. Isso se dá devido ao principio da vulnerabilidade, que guia as relações consumeristas. 
Portanto, para ser consumidor, ao adquirir o produto ou serviço, a pessoa não deve visar lucro. Nesse sentido, destaca Humberto Teodoro Junior (2017, p.27), que o CDC deve proteger quem realmente precisa, sua ampliação para empresas diminuiria a sua eficácia, visto que essas já encontram respaldo suficiente no Código Civil de 2002.
5) O artigo 6º do CDC é um rol exemplificativo dos Direitos Básicos do Consumidor. Aponte, exemplifique e comente sobre, pelo menos 3, direitos previstos no mencionado artigo.
O artigo 6º do Código Consumerista traz em seu rol, relevantes direitos para o consumidor. Os três à serem destacados merecem atenção pela maior importância na aplicabilidade fática.
a) DIREITO À EDUCAÇÃO PARA O CONSUMO
Presente no inciso II, do artigo 6º do CDC, esse direito se relaciona diretamente com a vulnerabilidade do consumidor. Como destaca Sérgio Cavalieri Filho, essa educação é necessária para que o consumidor saiba refletir e criar um juízo crítico sobre a contratação de produtos e serviços, podendo escolher conscientemente o que melhor se ajusta a suas necessidades. Destaca o mesmo autor, que tal direito se apresentam em um aspecto formal, com assuntos referentes a direitos do consumidor em currículos escolares e um informal (responsabilidade dos fornecedores), através dos veículos de comunicação, objetivando informar, orientar e esclarecer os consumidores.
Ademais, é de se destacar que esse direito se comunica com a liberdade de escolher, direito previsto no art. 170 da Constituição Federal vigente e o direito à igualdade das contratações.			
b) PROTEÇÃO CONTRA PUBLICIDADE ENGANOSA E ABUSIVA, BEM COMO PRÁTICAS ABUSIVAS
Como explica Humberto Teodoro Junior, publicidade enganosa é a que é capaz de induzir o consumidor em erro, contendo informações falsas ou incompletas. Já a publicidade abusiva se caracteriza por ser agressiva ou discriminatória, incitando a violência e explorando o medo, por exemplo, ou induzindo o consumidor a se comportar de modo prejudicial a sua saúde e segurança. 
O art. 39, 40 	e 41 do CDC enumera questões consideradas práticas abusivas, aquelas que exigem vantagem excessiva em detrimento do consumidor, dentre elas, prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços, nos termos do inciso IV. Tratam-se de questões que violem o arcabouço principiológico do CDC. Quanto a essas práticas, Cavalieri Filho destaca que elas “podem ter natureza contratual ou extracontratual; podem se dar antes da celebração do contrato de consumo, no processo de sua formação, durante a sua execução ou após o seu término, ou, ainda, ter natureza comercial ou industrial.”
c) FACILITAÇÃO DA DEFESA DOS DIREITOS DO CONSUMIDOR
Presente no inciso IV, do art. 6º da Lei 8078/90, esse direito, conforme entendimento de Humberto Teodoro, se justifica pela vulnerabilidade do consumidor, sendo ele a parte fraca da relação. Entretanto, só é admitida quando o juiz constatar verossimilhança ou hipossuficiência da parte. Verossimilhança, para o mesmo doutrinador, é o juízo de probabilidade da versão do autor ser verdadeira, diante do conjunto probatório . Por outro lado, entende como hipossuficiência, a impotência do consumidor, seja financeira ou de outra natureza, para demonstra que o fornecedor deu causa ao dano. 
O principal mecanismo de facilitação de defesa do consumidor é a inversão do ônus da prova, que modifica a dinâmica do processo, dando ao réu a incumbência de provar que os fatos e direitos alegados não são verdadeiros. Fica a cargo do juiz, observando os critérios de verossimilhança e hipossuficiência, determinar ou não a inversão do ônus da prova.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
BRASIL. Lei nº. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.html. Acesso em 31 de março de 2020.
Cavalieri Filho, Sergio. Programa de direito do consumidor. – 5. ed. – São Paulo: Atlas, 2019. Disponível em: https://forumdeconcursos.com/wp-content/uploads/wpforo/attachments/36268/2172-Sergio-Cavalieri-Filho-Programa-de-direito-do-consumidor.pdf. Acesso em 31 de março de 2020.
Tartuce, Flávio. Manual de direito do consumidor : direito material e processual / Flávio Tartuce, Daniel Amorim Assumpção Neves. – 7. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018. 
Theodoro Júnior, Humberto. Direitos do consumidor. – 9. ed. ref., rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense, 2017. Disponível em: <https://forumdeconcursos.com/wp-content/uploads/wpforo/attachments/2/1436-Direitos-do-Consumidor-2017-Humberto-Theodoro-Jnior.pdf>. Acesso em 31 de março de 2020.
Viegas, Claúdia. Direito do consumidor; 2014. Disponível em: https://claudiamaraviegas.jusbrasil.com.br/artigos/761678809/apostila-de-direito-do-consumidor. Acesso em 01 de abril de 2020.

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