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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA 
DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES 
COMPONENTE: LITERATURA INFANTO-JUVENIL 
PROFESSORA: KALINA NARO GUIMARÃES 
ALUNA: CLARA DA SILVA MACIEL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANTOLOGIA POÉTICA COMENTADA: 
LITERATURA INFANTIL DE VINÍCIUS DE MORAES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Campina Grande, 14 de outubro de 2020 
1. Apresentação 
 
O poeta escolhido para o presente estudo, foi Vinícius de Moraes. Seu nome de 
batismo era Marcus Vinícius da Cruz de Melo Moraes, nasceu no dia 19 de outubro de 1913, 
no bairro Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Foi poeta e compositor brasileiro, formou-se 
em Direito, foi diplomata e dramaturgo. Aos 9 anos de idade começou a escrever versos, no 
colégio, contudo, em 1928 é que compõe suas primeiras canções, com a ajuda de Paulo, 
Haroldo e Oswaldo Tapajós. 
Tornou-se um dos mais famosos compositores da música popular brasileira, foi um 
grande poeta e contribuiu significativamente para a Segunda Fase do Modernismo. A 
produção poética de Moraes marca uma imaginação vasta e com presença de angústia 
existencial e desejo de superação. 
Na poesia infantil, destacou-se por seu modo de adentrar ao universo da criança 
através de seus poemas, o principal tema de suas obras infantis era a natureza, e exibe em 
seus versos animais selvagens e animais domésticos, aborda a diversidade da fauna e de 
forma espontânea apresenta o mundo animal ao infantil. 
Os poemas infantis de Vinícius apresentam um eu lírico que as crianças podem se 
identificar e, que as envolvem nos versos e no tema. As obras possuem um caráter lúdico e a 
junção da função poética e fática, faz uso das figuras de linguagem para dar ênfase ao mundo 
de fantasias que as crianças imaginam, com a linguagem coloquial, sintaxe e léxico simples, 
facilitam o entendimento do pequeno leitor. A perspectiva infantil é valorizada nas obras de 
Vinícius, e esse, buscou compreender e respeitar o universo infantil, o que até a década 
anterior não era visto na literatura infantil. 
Seu único livro dedicado à literatura infantil, A arca de Noé (1970), é composto 
originariamente por 20 poemas, o poeta utilizou-se dos recursos já conhecidos na poesia 
popular (quadra, redondilha e rimas nos versos pares), todos os poemas do livro possuem um 
ar brincalhão, amigável e espontâneo, reforçando as características das crianças. 
Vinícius explorou todas as possibilidades e a profundidade das palavras, o poeta 
buscou ser companheiro da criança, conhecer e apresentar de maneira simples, clara e 
divertida o mundo infantil. 
 
 
2. Poemas 
Kalina Naro Guimarães
problema de coesão
Kalina Naro Guimarães
não se separa sujeito de predicado
Kalina Naro Guimarães
problema de coesão.
Kalina Naro Guimarães
anterior a que?
Kalina Naro Guimarães
não se separa sujeito de predicado
Kalina Naro Guimarães
vago
o que isto significa?
 
A Arca de Noé 
 
Sete em cores, de repente 
O arco-íris se desata 
Na água límpida e contente 
Do ribeirinho da mata. 
O sol, ao véu transparente 
Da chuva de ouro e de prata 
Resplandece resplendente 
No céu, no chão, na cascata. 
E abre-se a porta da Arca 
De par em par: surgem francas 
A alegria e as barbas brancas 
Do prudente patriarca 
Noé, o inventor da uva 
E que, por justo e temente 
Jeová, clementemente 
Salvou da praga da chuva. 
Tão verde se alteia a serra 
Pelas planuras vizinhas 
Que diz Noé: “Boa terra 
Para plantar minhas vinhas!” 
E sai levando a família 
A ver; enquanto, em bonança 
Colorida maravilha 
Brilha o arco da aliança. 
Ora vai, na porta aberta 
De repente, vacilante 
Surge lenta, longa e incerta 
Uma tromba de elefante. 
E logo após, no buraco 
De uma janela, aparece 
Uma cara de macaco 
Que espia e desaparece. 
Enquanto, entre as altas vigas 
Das janelinhas do sótão 
Duas girafas amiga 
De fora a cabeça botam. 
Grita uma arara, e se escuta 
De dentro um miado e um zurro 
Late um cachorro em disputa 
Com um gato, escouceia um burro. 
A Arca desconjuntada 
Parece que vai ruir 
Aos pulos da bicharada 
Toda querendo sair. 
Vai! Não vai! Quem vai primeiro? 
As aves, por mais espertas 
Saem voando ligeiro 
Pelas janelas abertas. 
Enquanto, em grande atropelo 
Junto à porta de saída 
Lutam os bichos de pelo 
Pela terra prometida. 
“Os bosques são todos meus!” 
Ruge soberbo o leão 
“Também sou filho de Deus!” 
Um protesta; e o tigre — “Não!” 
Afinal, e não sem custo 
Em longa fila, aos casais 
Uns com raiva, outros com susto 
Vão saindo os animais. 
Os maiores vêm à frente 
Trazendo a cabeça erguida 
E os fracos, humildemente 
Vêm atrás, como na vida. 
Conduzidos por Noé 
Ei-los em terra benquista 
Que passam, passam até 
Onde a vista não avista 
Na serra o arco-íris se esvai... 
E... desde que houve essa história 
Quando o véu da noite cai 
Na terra, e os astros em glória 
Enchem o céu de seus caprichos 
É doce ouvir na calada 
A fala mansa dos bichos 
Na terra repovoada. 
 
O poema faz referência direta a 
história de Noé, relatada na Bíblia. No 
relato, Deus fez cair uma forte chuva sobre 
a terra, que causou o dilúvio e destruiu o 
mundo. Sendo salvo apenas Noé, sua 
família e um casal de cada espécie de 
animal. O poema apresenta os animais 
conversando e com atitudes parecidas com 
as das crianças como a curiosidade, a 
pressa de encontrar um lugar, o barulho. 
Além de mostrar a alegria e a aproximação 
dos bichos, nos versos ​Os maiores vêm à 
frente​/​Trazendo a cabeça erguida​/​E os 
fracos, humildemente​/​Vêm atrás, como na 
vida​/ trata-se de ocorrências do cotidiano, 
mesmo em um poema infantil, Vinícius 
destaca as dificuldades e realidades da 
vida. 
 
As Borboletas 
 
Brancas 
Azuis 
Amarelas 
E pretas 
Brincam 
Na luz 
As belas 
Borboletas. 
 
Borboletas brancas 
São alegres e francas. 
Borboletas azuis 
Gostam muito de luz. 
As amarelinhas 
São tão bonitinhas! 
E as pretas, então… 
Oh, que escuridão! 
 
Nesse poema, vê-se através das 
rimas como uma dança entre as borboletas. 
A descrição animada dos bichinhos que 
são alegres, bonitas, e até possuem gostos 
(Gostam muito de luz). O sentimento leve 
e colorido que esse poema transmite, 
assemelha-se ao 
comportamento/pensamento da criança, 
que consegue fantasiar e assim, pintar o 
mundo da cor que deseja. Moraes 
trabalhava em seus poemas infantis com o 
ilogismo e surpresa, o que para os adultos 
desperta estranhamento, porém, na mente 
da criança é possível. 
 
O Elefantinho 
Kalina Naro Guimarães
cotidiano. Mesmo
Kalina Naro Guimarães
e, assim,
Kalina Naro Guimarães
problema de coesão
 
Onde vais, elefantinho 
Correndo pelo caminho 
Assim tão desconsolado? 
Andas perdido, bichinho 
Espetaste o pé no espinho 
Que sentes, pobre coitado? 
— Estou com um medo danado 
Encontrei um passarinho! 
 
Mais um vez a surpresa está 
presente no poema, e da forma mais 
inesperada, através da fala do elefantinho, 
que estava correndo, meio perdido e 
machucado por um espinho. De início, o 
elefante parece triste e confuso, ao fim do 
poema, entendemos que o animal está 
fugindo pois estava com medo de um 
passarinho. A situação bem-humorada do 
poema encontra-se nos últimos versos, em 
que o elefante, um animal grande e 
robusto, confessa estar com medo de um 
animal pequeno e inofensivo. Dessa forma 
leve e espontânea, Vinícius conquistou o 
público infantile conseguiu envolver-se e 
envolver os pequenos leitores. 
 
O Pato 
 
Lá vem o pato 
Pata aqui, pata acolá 
Lá vem o pato 
Para ver o que é que há. 
O pato pateta 
Pintou o caneco 
Surrou a galinha 
Bateu no marreco 
Pulou do poleiro 
No pé do cavalo 
Levou um coice 
Criou um galo 
Comeu um pedaço 
De jenipapo 
Ficou engasgado 
Com dor no papo 
Caiu no poço 
Quebrou a tigela 
Tantas fez o moço 
Que foi pra panela. 
 
 
O famoso poema do Pato pateta, que 
estava sempre fazendo alguma travessura, 
corresponde àquela criança travessa que 
sempre se envolve em alguma confusão. 
No último verso percebemos que o destino 
do pato não foi tão feliz quanto ele 
imaginava, porém, esse é mesmo verso 
que enfatiza o tom humorístico do poema. 
Esse poema de contra-senso apresenta uma 
organização dos versos que apesar de 
obedecer à sintaxe gramatical, não 
possuem elementos de ligação semântica 
entre si. 
 
O Peru 
 
Glu! Glu! Glu! 
Kalina Naro Guimarães
isso não é afirmado no poema, mas perguntado ao elefante.
Abram alas pro Peru! 
O Peru foi a passeio 
Pensando que era pavão 
Tico-tico riu-se tanto 
Que morreu de congestão. 
O Peru dança de roda 
Numa roda de carvão 
Quando acaba fica tonto 
De quase cair no chão. 
O Peru se viu um dia 
Nas águas do ribeirão 
Foi-se olhando foi dizendo 
Que beleza de pavão! 
Glu! Glu! Glu! 
Abram alas pro Peru! 
 
Utilizando da onomatopéia, Vinícius “dá 
vida” ao peru descrito no poema, ao 
versificar o barulho que o animal faz ​Glu! 
Glu! Glu! O peru, que acreditava ser pavão 
diverte o leitor ao achar-se bonito e por 
pensar ser outro animal. O poema recebe 
sonoridade através da linguagem fácil e 
suas rimas em versos pares. 
 
3. Considerações Finais 
 
A literatura infanto-juvenil surgiu no século XIX, entretanto, não era escrita em 
conformidade com o gênero a quem era destinada e com o devido respeito ao público infantil 
e juvenil. ​Com isso, a partir do século XX, com as obras de Monteiro Lobato e seguindo-o, 
Vinícius de Moraes, a poesia infantil teve seu caráter formado e considerado. Os poemas aqui 
analisados, fazem parte do livro A Arca de Noé (1970), e aproveitando o mundo que Vinícius 
criou, conclui-se que Vinícius de Moraes construiu sua arca e convida, até hoje, as crianças a 
se envolverem no mundo que elas mesmas conseguem imaginar, e aos adultos a conhecerem 
mais desse mundo fantástico. 
 
Referências 
 
MORAES, Vinícius de. ​A Arca de Noé​. Rio de Janeiro: Sabiá, 1970. 
AIDAR, Laura. ​12 poemas infantis de Vinícius de Moraes​. Disponível em: 
<https://www.culturagenial.com/poesia-infantil-vinicius-de-moraes/>. Acesso em: 10 out. 
2020. 
VINICIUS DE MORAES​. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia 
Foundation, 2020. Disponível em: 
Kalina Naro Guimarães
não se separa sujeito de predicado
<​https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Vinicius_de_Moraes&oldid=57140494​>. Acesso 
em: 10 out. 2020. 
ANDO, M. Y.; SILVA, R. M. G. <b>A imagem da criança nas líricas infantis de Olavo Bilac 
e de Vinicius de Moraes</b&gt; - DOI: 10.4025/actascihumansoc.v26i1.1597. ​Acta 
Scientiarum. Human and Social Sciences​, v. 26, n. 1, p. 35-47, 31 mar. 2008. Disponível 
em: <​http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciHumanSocSci/article/view/1597​>. 
Acesso em: 10 out. 2020. 
Poesia infantil de Vinícius de Moraes​. 2018. Disponível em: 
<https://www.criandocomapego.com/poesia-infantil-de-vinicius-de-moraes/>. Acesso em: 10 
out. 2020. 
 
https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Vinicius_de_Moraes&oldid=57140494
http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciHumanSocSci/article/view/1597

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