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TEORIA GERAL DA EXECUÇÃO - TITULO EXECUTIVO

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PROCESSO CIVIL
TEORIA GERAL DA EXECUÇÃO
· TÍTULO EXECUTIVO
1. CONCEITO:
· Chama-se título executivo ao ato jurídico dotado de eficácia executiva.
· Título executivo é o documento previsto na lei como tal e que representa obrigação certa e líquida, a qual, uma vez inadimplida, possibilita o manejo da ação executiva (art. 783).
· Assim, o título executivo é o ato jurídico capaz de legitimar a prática dos atos de agressão a serem praticados sobre os bens que integram um dado patrimônio, de forma a tornar viável sua utilização na satisfação de um crédito.
· O título executivo é, pois, o ato jurídico que faz da execução a via processual adequada para que se postule tutela jurisdicional, assegurando o legítimo interesse de agir in executivis. Perceba-se que o título executivo é o ato jurídico, e não o documento que o representa.
· Do mesmo modo, a afirmação legal de que o cheque é título executivo (art. 784, I) não pode levar o intérprete a considerar que o título executivo é cada uma das folhas de um talão de cheques. Na verdade, o título executivo é a ordem de pagamento à vista emitida sob a forma de cheque. E o mesmo raciocínio se aplica a todos os demais títulos dotados de eficácia executiva.
2. TITULO EXECUTIVOS JUDICIAIS
Os títulos executivos judiciais são aqueles formados em processo judicial ou em procedimento arbitral.
São títulos judiciais aqueles que são formados através de um processo (isto é, de um procedimento em contraditório), e sua execução se submete ao regime daquilo que ficou conhecido, na linguagem processual brasileira, como cumprimento da sentença, para o qual o meio de defesa do executado é a impugnação;
I- DECISÕES QUE RECONHECEM A EXIGIBILIDADE DE OBRIGAÇÃO
O título executivo judicial por excelência é a decisão que, proferida no processo civil, reconhece a exigibilidade de uma obrigação (art. 515, I). O texto normativo fala em “reconhe[cer] a exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa”. 
São as decisões que, podem ser chamadas de condenatórias, já que são títulos hábeis a permitir a instauração da atividade executiva. E o pronunciamento judicial condenatório tem eficácia de título executivo judicial qualquer que seja sua espécie (decisão interlocutória ou sentença; proferida monocraticamente ou acórdão).
Por exemplo, na decisão de julgamento antecipado parcial do mérito (art. 356). Trata-se, à toda evidência, de decisão interlocutória – tanto que impugnável por agravo de instrumento (art. 356, § 5o) – mas que serve de título hábil para embasar uma execução (art. 356, §§ 2o, 3o e 4o).
II- DECISÃO HOMOLOGATÓRIA DE AUTOCOMPOSIÇÃO JUDICIAL
Caso as partes, no curso de um processo, cheguem a uma solução consensual do litígio, esta deverá ser homologada (art. 487, III) através de um pronunciamento judicial que servirá como título executivo judicial se as obrigações assumidas no acordo não forem cumpridas (art. 515, II). Caso a solução consensual inclua todo o objeto do processo, sua homologação se dará por sentença (art. 354). Na hipótese de uma solução consensual que abranja apenas parte do objeto do processo, a homologação se dará por decisão interlocutória (art. 354, parágrafo único). Tanto em um caso como no outro, o pronunciamento judicial homologatório de autocomposição alcançada no curso do processo será título executivo judicial.
Admite-se, ainda, que a autocomposição judicial envolva sujeito estranho ao processo ou verse sobre relação jurídica que não tenha sido deduzida em juízo (art. 515, § 2o).
III- DECISÃO HOMOLOGATÓRIA DE AUTOCOMPOSIÇÃO EXTRAJUDICIAL DE QUALQUER NATUREZA
Há casos em que existe um conflito instaurado entre as partes, mas ainda não há processo judicial entre elas e, não obstante isso, alcançam elas uma solução consensual para seu litígio. Neste caso, é perfeitamente possível que as partes, já de comum acordo, queiram dar ao acordo que celebraram eficácia de título executivo judicial. Para isso, deverão instaurar um processo de jurisdição voluntária (art. 725, VIII), através do qual pedirão ao juízo competente para que homologue a autocomposição que celebraram. Uma vez proferida a sentença homologatória, esta terá eficácia de título executivo judicial (art. 515, III).
IV- DECISÃO QUE ADJUDICA QUINHÃO SUCESSÓRIO
O inciso IV do art. 515 inclui no rol dos títulos executivos judiciais “o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal”. Daí se extrai que é título executivo a decisão judicial que adjudica quinhão sucessório. 
Quando alguém morre deixando sucessores e bens, instaura-se um processo judicial conhecido como inventário e partilha (arts. 610 a 673), e, por fim, promover entre os sucessores a partilha dos bens. Ao final do processo de inventário e partilha, então, profere-se uma decisão que adjudica (isto é, atribui) a cada sucessor o seu quinhão. Pode acontecer, porém, de o bem que tenha cabido a um sucessor estar em poder de outrem. Pois se a pessoa com quem está o bem for algum dos sujeitos do processo de inventário e partilha (inventariante, herdeiro ou legatário), será possível instaurar-se desde logo o procedimento de cumprimento da sentença, para exigir o dinheiro ou a entrega da coisa que ao sucessor tenha sido adjudicada.
Importante ainda observar que, no caso de se ter procedido a inventário e partilha extrajudicial (art. 610, §§ 1o e 2o), a escritura pública de inventário e partilha não é título executivo judicial, mas extrajudicial (art. 784, II).
V- DECISÃO JUDICIAL QUE APROVA CRÉDITO DE AUXILIAR DA JUSTIÇA
Há casos em que um auxiliar da justiça tem crédito a receber de alguma das partes. Basta pensar, por exemplo, nos honorários do perito ou do intérprete. Pois, nos casos em que esse crédito tenha sido aprovado por decisão judicial (que, para empregar aqui a linguagem tradicionalmente empregada na praxe forense, é decisão que homologa os honorários), haverá título executivo judicial.
VI- SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA TRANSITADA EM JULGADO
A condenação penal é título hábil a permitir a instauração da execução civil. É que, nos termos do art. 91, I, do Código Penal, é efeito da condenação “tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime”. Como se trata de indenização, a hipótese é de obrigação pecuniária, que só pode ser executada se além de certa for líquida.
Somente aquele que tenha sido condenado pela prática do crime, portanto, vê tornar-se certa sua obrigação de indenizar.
VII - SENTENÇA ARBITRAL
Pessoas capazes de contratar podem valer-se da arbitragem para solucionar conflitos relativos a direitos patrimoniais disponíveis (art. 1o da Lei no 9.307/1996). Caso o façam, deverão celebrar uma convenção de arbitragem (art. 3o da Lei no 9.307/1996), submetendo seu litígio à decisão de um ou mais árbitros (art. 13, § 1o, da Lei no 9.307/1996).
O árbitro (ou o tribunal arbitral, no caso de constituir-se um colegiado), observado um procedimento que se desenvolve em contraditório (art. 21, § 2o, da Lei no 9.307/1996), proferirá decisão, a qual recebe da lei de regência a denominação sentença arbitral (art. 23 da Lei no 9.307/1996).
Dispõe o art. 31 da Lei de Arbitragem (Lei no 9.307/1996) que “[a] sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título executivo”.
Sendo a sentença arbitral condenatória (isto é, reconhecendo a existência e exigibilidade de obrigação cujo adimplemento exija a prática de atos posteriores destinados à sua efetivação), será ela título executivo judicial (art. 515, VII).
DECISÃO HOMOLOGATÓRIA DE SENTENÇA ESTRANGEIRA E DECISÃO CONCESSIVA DE EXEQUATUR A CARTA ROGATÓRIA PARA CUMPRIMENTO DE DECISÃO INTERLOCUTÓRIA ESTRANGEIRA
Existem casos em que uma sentença proferida por órgão jurisdicional estrangeiro se destina a produzir efeitos em território brasileiro. Em outros, o que se destina a produzir efeitos no Brasil é uma decisão interlocutória oriundade Estado estrangeiro. Pois, em qualquer dos dois casos, o pronunciamento judicial estrangeiro só produz efeitos no Brasil após a homologação da sentença ou a concessão de exequatur à carta rogatória, salvo disposição expressa em lei ou tratado (art. 961).
É importante observar que o verdadeiro título executivo é a decisão do STJ que homologa decisão estrangeira (ou que concede exequatur a carta rogatória). Não se executa a decisão estrangeira. Executa-se a decisão brasileira homologatória da decisão estrangeira.
3. TITULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL
Os títulos executivos extrajudiciais representam relações jurídicas criadas independentemente da interferência da função jurisdicional do Estado, do processo de conhecimento; representam direitos acertados pelos particulares, em que, a execução dos títulos extrajudiciais se faz através do que se convencionou chamar de processo de execução, onde o meio de defesa do executado são os embargos do executado.
Nada impede a criação de título executivo extrajudicial por negócio processual (art. 190). Assim, por exemplo, admite-se que haja uma confissão de dívida por instrumento particular assinado pelo devedor, mas sem qualquer testemunha (o que a lei exige como requisito do título executivo extrajudicial previsto no art. 784, III), a que se atribua eficácia de título EXECUTIVO POR CONVENÇÃO DAS PARTES.
I – A LETRA DE CÂMBIO, A NOTA PROMISSÓRIA, A DUPLICATA, A DEBÊNTURE E O CHEQUE;
Nas hipóteses aventadas neste inciso, é imprescindível que a inicial da ação executiva seja instruída com o original do título executivo.
II – A ESCRITURA PÚBLICA OU OUTRO DOCUMENTO PÚBLICO ASSINADO PELO DEVEDOR;
III – O DOCUMENTO PARTICULAR ASSINADO PELO DEVEDOR E POR 2 (DUAS) TESTEMUNHAS;
No que se refere a esse título, pertinente observar que o entendimento pacífico do STJ é no sentido de que as testemunhas podem ser instrumentárias, isto é, podem assinar o documento em momento posterior ao ato de sua criação. Não se admite, no entanto, a assinatura de testemunha interessada no negócio jurídico.17
Aqui também se inclui o instrumento de confissão de dívida firmado entre credor e devedor, assinado por duas testemunhas.
IV – O INSTRUMENTO DE TRANSAÇÃO REFERENDADO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO, PELA DEFENSORIA PÚBLICA, PELA ADVOCACIA PÚBLICA, PELOS ADVOGADOS DOS TRANSATORES OU POR CONCILIADOR OU MEDIADOR CREDENCIADO POR TRIBUNAL;
O CPC/2015 acresce aos títulos executivos extrajudiciais o instrumento de transação referendado por conciliador ou mediador credenciado pelo tribunal, na forma regulamentada pelo art. 167 e parágrafos, bem como o acordo referendado por advogado público. Antes, somente a chancela do Ministério Público, da Defensoria Pública ou dos advogados dos transatores tinha esse condão (art. 585, II, parte final, do CPC/1973). Ressalte-se que, caso o acordo proveniente da autocomposição extrajudicial for homologado em juízo, passará a ter caráter de título executivo judicial (art. 515, III, do CPC/2015), e não mais de extrajudicial.
V – O CONTRATO GARANTIDO POR HIPOTECA, PENHOR, ANTICRESE OU OUTRO DIREITO REAL DE GARANTIA E AQUELE GARANTIDO POR CAUÇÃO;
VI – O CONTRATO DE SEGURO DE VIDA EM CASO DE MORTE;
VII – O CRÉDITO DECORRENTE DE FORO E LAUDÊMIO;
Foro, também denominado pensão, é o valor pago anualmente pelo enfiteuta ou foreiro ao senhorio direto, em decorrência do contrato de enfiteuse, pelo uso, gozo e disposição do domínio útil da coisa emprazada.
Laudêmio consiste na compensação devida pelo enfiteuta ao senhorio direto quando este não usar o direito de preferência na aquisição do domínio útil da propriedade (art. 683 do CC/1916).
Dá-se a enfiteuse, aforamento, ou emprazamento quando por ato entre vivos, ou de última vontade, o proprietário atribui a outrem o domínio útil do imóvel (art. 678 do CC/1916).
VIII – O CRÉDITO, DOCUMENTALMENTE COMPROVADO, DECORRENTE DE ALUGUEL DE IMÓVEL, BEM COMO DE ENCARGOS ACESSÓRIOS, TAIS COMO TAXAS E DESPESAS DE CONDOMÍNIO;
Aluguel é a quantia paga ao locador, em decorrência do contrato de locação.
IX – A CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA DA FAZENDA PÚBLICA DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS MUNICÍPIOS, CORRESPONDENTE AOS CRÉDITOS INSCRITOS NA FORMA DA LEI;
X – O CRÉDITO REFERENTE ÀS CONTRIBUIÇÕES ORDINÁRIAS OU EXTRAORDINÁRIAS DE CONDOMÍNIO EDILÍCIO, PREVISTAS NA RESPECTIVA CONVENÇÃO OU APROVADAS EM ASSEMBLEIA GERAL, DESDE QUE DOCUMENTALMENTE COMPROVADAS;
XI – A CERTIDÃO EXPEDIDA POR SERVENTIA NOTARIAL OU DE REGISTRO RELATIVA A VALORES DE EMOLUMENTOS E DEMAIS DESPESAS DEVIDAS PELOS ATOS POR ELA PRATICADOS, FIXADOS NAS TABELAS ESTABELECIDAS EM LEI;
As certidões cartorárias também terão força executiva sempre que dispuserem acerca do valor dos emolumentos e de outras despesas decorrentes dos atos praticados por notários e registradores.
XII – TODOS OS DEMAIS TÍTULOS AOS QUAIS, POR DISPOSIÇÃO EXPRESSA, A LEI ATRIBUIR FORÇA EXECUTIVA.
O rol constante no art. 784 é taxativo, ou seja, somente a lei, em sentido estrito, pode criar outros tipos de documentos dotados de força executiva. Em outras palavras, o elenco dos títulos executivos é obra exclusiva do legislador, sendo vedado aos juízes retocá-lo, alterá-lo ou ampliá-lo
4. CUMULAÇÃO DE EXECUÇÕES
Nos termos do art. 780, “o exequente pode cumular várias execuções, ainda que fundadas em títulos diferentes, quando o executado for o mesmo e desde que para todas elas seja competente o mesmo juízo e idêntico o procedimento”.
5. ATOS DO PROCESSO EXECUTIVO
· Na execução, assumem especial relevo os despachos e as decisões interlocutórias. Os primeiros referem-se às determinações de citação e penhora, de expedição do edital de alienação em hasta pública, entre outros; as decisões, por sua vez, referem-se a todas as questões resolvidas no curso do processo, como o simples indeferimento de bem nomeado à penhora. Quanto à sentença, importa anotar que sua função na execução é unicamente a de pôr fim no processo, uma vez que não há mérito a ser solucionado pelo órgão judicial.
· Além dos atos postulatórios e dos pronunciamentos judiciais, merecem destaque na execução os já mencionados atos constritivos, cujo fim é preparar a satisfação do credor por meio da invasão e subsequente afetação do patrimônio do devedor. O exemplo clássico de constrição judicial é a penhora, mas existem outros atos destinados a essa mesma finalidade, tais como o arresto cautelar (art. 830, caput) e, na execução de obrigação de entrega de coisa certa, a busca e apreensão de bens móveis e a imissão na posse de imóvel (art. 806, § 2º).
· O Código de Processo Civil atual, além das medidas ditas propriamente executivas, prevê, nos §§ 3º e 4º do art. 782, a possibilidade de o juiz, a requerimento da parte, determinar a inclusão do nome do executado em cadastros de inadimplentes (SPC e SERASA, por exemplo). Essa medida configura uma restrição de acesso ao crédito por parte do executado, que apenas complementa – e não substitui – as demais medidas executivas, nem impede que, administrativamente, o credor já providencie a inclusão da restrição, inclusive por intermédio do protesto do título.