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Peças Processuais Procuradoria Geral do Estado Centro de Estudos Rua Pamplona, 227, 3º e 4º andares, Bela Vista CEP: 01405-902, São Paulo, SP tel.: (0xx11) 3372-6478, fax: (0xx11) 3372-6476 e-mail: pgecestudos@pge.sp.gov.br GRUPO DE TRABALHO DE DIREITOS HUMANOS PEÇA PROCESSUAL Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da 2ª Vara Cível da Comarca de Taubaté. Proc. nº 648/98. FRANCISCO COSTA ROCHA, por intermédio do Coordenador Regional de Assistência Judiciária ao Preso, vem, acatadamente, nos autos de sua INTERDIÇÃO pedida pelo Ministério Público, expor e, a final, requerer o quanto se segue: a – dos antecedentes fáticos e jurídicos deste requerimento – Por causas sobejamente afamadas – portanto, totalmente dispensáveis de serem recontadas -, o Ministério Público, ao apagar das luzes da pena privativa de liberdade do requerente, e para evitar consumação iminente de sua soltura, pleiteou, perante esse mui Digno Juízo, com supedâneo legal no agora mortíssimo Decreto nº 24.559/34 e sob o argumento central de que ele ‘representa risco para a ordem pública’, a decretação de sua interdição entrelaçada a internação em hospital psiquiátrico de regime fechado, a par de pleitear complementarmente, e com caráter provisório, ou seja, até efetivação desta hospitalização, sua permanência na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, nosocômio penal onde s’encontrava, desde maio de 95, em ‘tratamento’ durante o cumprimento da pena reclusiva, e onde, sem interregno algum, ainda hoje s’encontra, sem tratamento e sem pena reclusiva ... Regularmente tramitado o procedimento interditório, acolheu-se o pedido ministerial na íntegra: decreta-se a interdição, determina-se a internação hospitalar em regime fechado e autoriza-se a manutenção provisória na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté. Inconformado com o dispositivo decisório concernente à permanência provisória na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, por apelação impugna-o o requerente, em busca de reforma, para que “seja transferido para o lar de sua família, com acompanhamento e tratamento psiquiátrico oferecido pelo Estado”, sob a sustentação, legal e legítima, de que aquele estabelecimento, em essência e por definição reservado à execução penal, revelava-se triplamente inidôneo para, àquel’altura de sua vida – tal e qual no hoje, adira-se para atualizar os dados recursais -, continuar a confiná-lo: fosse porque exauriu-se a longa trajetória de sua tributação apenativa, fosse porque ali não se dispõe de tratamento a corrigir seu transtorno mental, fosse porque o ambiente vocacionado para administrar este tratamento reside em hospital psiquiátrico, jamais em estabelecimento penal de qualquer espécie. Para infelicidade do requerente, seu recurso, por unanimidade, foi rejeitado, escrevendo-se na ementa oficial: “PEDIDO DE INTERDIÇÃO – sentença acolhendo o pedido – recurso de apelação em que se colima a reforma, para que o interditando seja liberado para viver em ambiente familiar, com o devido tratamento – interdição decretada que se justificava, amparada em conclusões periciais – permanência provisória do interditando em estabelecimento penitenciário misto, até deliberação posterior do Juízo – legalidade – recurso não provido” (rel. Ruy Camilo – 10ª Cam. de Direito Privado). Estava-se, na data do acórdão, em 22 de junho de 1.999. Está-se, na data de hoje, em 21 de junho de 2.002. Três longos anos se passaram. E, com todo o respeito, faz-se forçoso reconhecer que – afora o fenômeno de que a permanência provisória do requerente na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté convolou-se em permanência permanente, mutação que, já de ‘per se’, contraria o acórdão – a esdrúxula situação do requerente continua imprecisa e na estaca zero: nada foi deliberado, por esse mui digno Juízo,de conclusivo, no sentido de, concretizando-se o ditame sentencial confirmado no acórdão, removê-lo definitivamente para um hospital psiquiátrico. E aqui estamos neste impasse. E ali na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté está o requerente, desanimado, na antevisão insuportável da perpetuidade de um cárcere que já não mais deveria tanger seu destino existencial nem sua sina legal. Eis, em sumária exposição, o conjunto fático de imprescindível interesse à compreensão e ao deslinde da pretensão em pauta. b – da pretensão deste requerimento – A pretensão do requerente é simples e congruente com o decidido: sua imediata remoção para um hospital psiquiátrico da rede de saúde pública, porquanto se apresenta acintosamente ilegal sua permanência na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté. c – do direito à pretensão do requerimento – Indo diretamente ao ponto de interesse – que a pletora de feitos anda exuberante para parolagens estéreis - : está limpidamente dito no acórdão, em confirmação à sentença, que a permanência do requerente na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté “tem caráter provisório, até que o magistrado delibere, à vista de informações solicitadas, sempre com o intuito de protegê- lo”. É exatamente o que, aqui e agora, reclama-se. Que se acerte materialmente, neste aspecto, a sentença, com a declaração judicial de que está finda a estadia do requerente na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté e com a subseqüente providência judicial de transferi-lo para um hospital psiquiátrico da rede de saúde pública. Por quê? Porque, dado o longo tempo decorrido, tal permanência perdeu totalmente o caráter de provisoriedade, de modo que, a perseverar seu encarceramento em tal estabelecimento penal e enquanto subsistir este encarceramento, encontrar-se-á o requerente em situação de ilegal constrangimento. Esta permanência configura-se legalmente irregular a partir do momento – que não é de hoje - , do momento em que, em descompasso ao decidido, perdeu ela a marca da provisoriedade. E quando ocorreu este momento crucial? Pode-se desvendá-lo, este momento crucial, sob duas perspectivas, ambas inerentes ao quadro traçado no teor decisório: sob uma perspectiva material, a decorrer do exaurimento infrutuoso das providências judiciais realizadas na busca da remoção do requerente para um hospital psiquiátrico, e sob uma perspectiva temporal, a decorrer da noção cronométrica do tempo. Sob a perspectiva material, ocorreu este momento crucial, desde que s’esgotou, vãmente, todo um conjunto de tentativas desse mui Digno Juízo, para efetivar a internação do requerente, com a unissonamente recusa e obstinada incompetência das instituições psiquiátricas em recebê-lo. Basta reler, com vagar e isentamente, o transcrito trecho fundamental do acórdão para, com tanto, concordar: o encarceramento provisório perdura e subordina sua validez a um dado contigencial: o recebimento das informações solicitadas, de forma que, prestadas estas, em tom negativo ou em tom positivo, dissipa-se a provisoriedade, cabendo ao mui Digno Juízo deliberar sobre a sorte do requerente, que na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté – ou em qualquer outro estabelecimento penal – não deverá mais permanecer, sob pena de tal permanência tornar-se ema permanência permanente, qualidade que, teimosamente, está ostentando, desde aquele então. Sob a perspectiva temporal, se não é possível particularizar-se o momento crucial desta passagem – da mutação do provisório em permanente -, com certeza, pode-se afirmar que hoje, três longos anos idos e vividos na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, a persistência da permanência adquiriu foro incontroverso de permanência permanente. Não se pode, a esta altura dos acontecimentos, falar-se, ou sequer pensar-se, em provisoriedade, como se esta espantosa situação do requerente estivesse, como à primeira vista parece, ancorada apenas na espera de uma transferênciapara um hospital psiquiátrico, pois, desta maneira, posta a tenaz rejeição hospitalar em abriga-lo, a provisoriedade, em atropelo mesmo à natureza mesma das coisas, acabará transmudada – em que pese remanescer-lhe aquele nome – em eternidade, esta ‘cansada esperança’, na intrigante e misteriosa expressão de Jorge Luis Borges. O estado de provisoriedade, bem como o de permanente, reside no tempo – este fluir inexorável que, paradoxalmente, sempre perdura e sempre s’esvai -, o qual, em sua conotação cronométrica, reclama, ainda que implicitamente, nas operações jurídico-legais, uma duração, ou seja, um período delimitado, com termo inicial e termo final, duração que será a referência básica para ‘controlar o ritmo da vida jurídica’, a fim, neste caso, ‘de evitar o prolongamento nefasto de situações precárias’ (Jean-Louis Bergel, in “Teoria Geral do Direito”, pg. 155). Ilustre-se, para uma analogia e por exemplo, que as prisões processuais preventiva e em flagrante não se ajustam indeterminadamente à legalidade; rompe-se a legalidade delas após o 81º dia, data em que, somados os prazos processuais, deveria estar terminada a instrução criminal: há um tempo medido a controlar-lhes a legalidade. Deste modo, e de qualquer outro modo, desde que, num dizer acaciano, todas as coisas, situações e pessoas existem e repousam no tempo, a provisoriedade do encarceramento não pode sujeitar-se apenas ao alvedrio subjetivo de aguardar-se indefinidamente um lugar num hospital psiquiátrico, devendo ter um parâmetro objetivo interno e latente de demarcação temporal, carregado de certa razoabilidade e de muita moderação, para não se desviar desta característica de contingencialidade. Ao abandonar a correspondência com o sentido temporário, o encarceramento prolongado do requerente na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté torna-se um meio impróprio e desautorizado, em face da Constituição, para alcançar o objetivo judicialmente pretendido, à medida que, indo além, muito além, da menor ingerência estatal possível em sua vida, tortura-lhe mortalmente, dia a dia, o direito de liberdade, como se deduz desta conceituação, emanada da jurisprudência tedesca, acerca do princípio constitucional, hodiernamente consagrado nos regimes democráticos, da proporcionalidade entre meio e fim: “O meio empregado pelo legislador deve ser adequado e exigível, para que seja atingido o fim almejado. O meio é adequado quando, com o seu auxílio, se pode promover o resultado desejado; ele é exigível quando o legislador não poderia ter escolhido outro igualmente eficaz, mas que seria um meio não-prejudicial ou portador de uma limitação menos perceptível a direito fundamental” (Tribunal Constitucional da Alemanha – transcrito em “Ensaios de Teoria Constitucional”, pg. 87, de Willis Santiago Guerra Filho – grifos nossos). À mercê absoluta do Judiciário, impotente e deserdado por uma trajetória de encarceramento marcada pela indefinição temporal, em que a cada dia se lhe debita, sob o título injusto de provisório, outro dia, o requerente amarga uma situação que transcende ao desvario da incerteza existencial: este ermo temporal também retira-lhe a segurança jurídica, garantia conformadora e informadora do regime jurídico do governado em toda e qualquer contingência de submissão à atuação estatal, mormente em questões que envolvem o sagrado direito de liberdade. Exausto da ‘cansada esperança’ de uma promessa incumprida – a de retirá-lo da Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté -, restará ao requerente ao requerente somente o consolo de apegar-se ao vaticínio daquele lúcido poeta comunista? : “Nem mesmo o dilúvio durou eternamente. Um dia escoaram-se As águas escuras.” (Bertold Bretch) Não. Chega-lhe, também, lá no fundo de sua inabalável fé – se fé não tivesse, aqui não estaria -, a expectativa de realizar-se o direito em seu favor. Porque, ademais de, como visto, a provisoriedade de seu encarceramento ter-se material e temporalmente diluído, circunstância a exigir sua imediata retirada da Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, não se pode demitir do processo de interdição seu principal e único objetivo – neste caso já quase olvidado -, que é o de resguardar os interesses do interditando. Afiançaram esta versão os mestres de hoje e os de ontem. No ontem, ensinavam entre os doutos: “A ação e sentença de interdição têm por fito organizar a defesa do incapaz e assegurar a eficácia ‘erga omnes’” (Pontes de Miranda, in “Comentários ao Código de Processo Civil (de 1.939)” III – 2/ 283 e 284 – grifos dele). Modernamente, professoram doutos de nomeada: “Na jurisdição voluntária, o juiz age sempre no titular daquele interesse que a lei acha relevante socialmente, como, na hipótese figurada, é o interditando. Exclusivamente com vista ao interesse deste é que o juiz proferirá sua decisão: ...” (Cintra, Grinover & Dinamarco, em “Teoria Geral do Processo”, pg. 154). e “A mais interessante destas formas – processo sem lide – se refere à interdição, tipicamente processo sem litígio: entre o autor no pleito de interdição e o denunciado como incapaz (interditando) não medeia litígio, porque o primeiro fala no interesse e não contra o interesse do segundo” (Edson Prata, in “Jurisdição Voluntária”, pg. 232 – grifos dele). Por tão eloqüente razão, é que o acórdão manda, nem poderia outra ser sua diretriz, manda que toda a intervenção do mui Digno Juízo de dê “sempre com o intuito de protegê- lo” : inexiste alternativa, nesta questão de protegê-lo senão a de tutelar seu interesse legítimo, legal, jurídico e vivencial de retira-lo da Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, espaço de contenção patentemente incompatível com sua condição de interditando que nada deve à Justiça Penal. Sob este prisma protetivo, inviabiliza-se, até mesmo, de plano e principalmente, a justificação sentencial do encarceramento provisório do requerente – “resguardar não só a tranqüilidade social, mas também a pessoa do interditando” -, à medida que tal expediente repressor, por sua franca desarmonia com a lei posta e dado o longo tempo decorrido, desfigura-se num estro de inidoneidade jurídica, consoante se depreende da advertência isenta do juspublicista Eberhard Schmidt: “Una acción es correcta jurídicamente cuando constituye un medio proporcionado, correcto, irreprochable para la consecución de un fin recto. A la inversa, ninguna acción, ni siquiera del legislador, puede ser correcta jurídicamente si se propone conseguir un fin correcto con medios desproporcionados o incorrectos” (“La Ley y los Jueces – Valores Positivos y Negativos del Positivismo”, artigo inserto na coletânea “Derecho Injusto y Derecho Nulo”, pgs. 57 e 58). Por tanto, sendo aquele expediente repressor um meio juridicamente inidôneo – ou ‘incorrecto’, como disse Schmidt -, não pode prestar-se, nem sustentar, validamente a nenhum fim, seja este o fim superior do patrocínio da tranqüilidade social, seja este o fim instrumental da espera de uma vaga hospitalar, seja este o fim ambíguo de proteção do próprio requerente. Todos os fins e todos os meios, enfim, toda e qualquer experiência jurídica emanada do Poder Público, para convalidar-se perante o ordenamento jurídico, deve assentar-se – sempre – na lei e não pode – sob nenhum pretexto – ultrapassar-lhe os limites, vedando-se um ato tomado por impulsos de outra natureza, pois, como lembra o hoje tão lembrado Norberto Bobbio: “O Estado não pode colocar-se no mesmo plano do indivíduo singular. O indivíduo age por raiva, por paixão, por interesse, em defesa própria. O Estado responde de modo mediato, reflexivo, racional” (in “A Era dos Direitos”, pg. 176). Por incrível que pareça – e não é incrível, por estar acontecendo -, a atual situação em que lançaramo requerente, para além de não estar a protegê-lo, está, em autêntica inversão à imagem e ao sentido que o processo interditório dedica à pessoa do interditando, está a prejudicá- lo asperamente, posto o desmedido encarceramento a que o submetem. Aliás, encarcerado com frieza, é de ver-se que este encarceramento provisório na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, pela forma como o concebeu a sentença, nunca findará, porque seu término está subordinado a uma exigência imprevisivelmente inviável. Formule-se com clareza a tese: Tendo a decisão fixado que o encarceramento provisório deve subsistir até efetuar- se a remoção para hospital psiquiátrico fechado, ela, nesta parte, caracteriza-se como sentença condicional: “aquela cuja eficácia depende de evento futuro e incerto determinado na própria sentença” (Carnelutti). Dizendo-se a mesma coisa por intermédio de uma frase que melhor exprima a condição, assim pode ser entendida a sentença: o direito à desinternação do requerente da Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté está sujeito à condição de encontrar-se um hospital psiquiátrico fechado que o receba. Trata-se, então, de uma desinternação dependente de uma condição suspensiva, ou seja, o direito à desinternação somente surgirá, se a vaga hospitalar fechada surgir, porquanto “o direito condicional não se adquire enquanto a condição estiver pendente”, de vez que “o titular do direito condicional não possui, por outras palavras, direito atual” (Orlando Gomes, in “Introdução ao Direito Civil”, pg. 408), acenando-se-lhe apenas uma ‘expectativa de direito’. Entretanto, dado que a condição suspensiva estabelecida na sentença, em face da negativa generalizada do universo hospitalar fechado em acolher o requerente, jamais será implementada, conclui-se que a sentença estabeleceu uma condição tipicamente ilegal: seja porque a condição estabelecida apresenta-se materialmente impossível, mesmo que esta impossibilidade tenha sobrevindo após a constituição do ato (a sentença), espécie condicional ilícita, segundo o art. 116 do Código Civil; seja porque, e quando menos, a condição estabelecida priva de todo efeito o ato (sentença), espécie condicional defesa por lei, consoante o art. 115, segunda parte, do Código Civil. Destarte, por suas falhas intrínsecas, esta condição, como requisito prévio ao desencarceramento da Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, não pode sobreviver, tendo-se ela por não escrita ou inexistente, a culminar em que, sem a condição aposta, o desencarceramento do requerente deve ser imediato. Sob outro patamar, descobre-se que tanto tempo de encarceramento passou que o Decreto nº 24.559/34, embasante da obrigatoriedade da internação do requerente em hospital fechado (art. 10), foi, em boa hora e após muitas batalhas, revogado pelo diploma superveniente, a lei nº 10.216, de 6 de abril de 2.001. Acerca desta troca de leis, que, mais que mera mudança legislativa, reverteu completamente o pólo de atuação do internamento psiquiátrico, para, ao invés de, conforme a antiga lei, privilegiar o caráter opressivo e repressivo da internação, com a nova lei, resguardar em toda a sua plenitude os direitos invioláveis do interno, ouça-se o discurso de especialistas, para bem compreender a gênese e o espírito da reforma recentemente empreendida. Em 1.991, repudiando o Decreto nº 24.559/34, escrevia o Conselheiro Tarcísio de Almeida Pimentel, do Conselho Federal de Medicina, ao exarar parecer sobre o primitivo projeto de lei que, alquebrado por andanças diversas e enfeitado por danças, redundou na lei nº 10.216/01: “A legislação Psiquiátrica Brasileira em vigor data de 1934, quando foi editada através do Decreto nº 24559, que dispõe sobre a assistência e proteção à pessoa e aos bens de psicopatas.” ”Esta é uma legislação antiquada, e se assemelha à legislação congênere da Europa do século passado, que era centrado no isolamento e segregação dos doentes mentais e instituições fechadas – os manicômios.” “Referido Decreto veio somente referendar seqüestro de doentes mentais ou ‘suspeitos’ de doença mental e conseqüentemente, a cessão de seus direitos civis submetendo-os a tutela do Estado.” ”Comparando-se a situação brasileira a de países como EUA, Canadá e vários países europeus, podemos dizer que a presença dessa legislação nos dias de hoje torna-se ainda mais violenta e fere os direitos individuais do doente mental.” “......” “O Projeto de Lei nº 3.657/89, ora em tramitação no Senado federal, que dispõe da extinção progressiva dos manicômios e sua substituição por outros recursos assistenciais, e regulamenta a internação psiquiátrica compulsória, em sendo aprovado vem a recuperar o tempo perdido pelas políticas de Saúde Mental atrasadas, ineficazes e repressoras, colocando nosso país no compasso da modernidade institucional requerida nesta década final do século XX. Além disso, resgata os direitos civis, sociais e políticos de seus concidadãos excluídos da vida social pelo aparato repressivo constituído pelos manicômios, que são condenados há décadas pela experiência acumulada nas áreas técnicas e humanísticas” (Processo Consulta nº 201/91 – CFM (14/91) – parecer aprovado em sessão plenária de 14/06/91). Por sua vez, em vigoroso comentário aos avanços da nova lei, assim manifestou-se o Dr. Pedro Gabriel Godinho Delgado, psiquiatra, professor da UFRJ, e coordenador de Saúde Mental do Ministério da Saúde: “A lei 10.216 está no oposto diametral de sua antecessora de triste memória, o decreto 24.559, de 3 de julho de 1934. Nascido num período sombrio, o ambiente de ovo da serpente que antecedeu a ditadura de 1937, o velho decreto que ainda nos regia, ancorava-se na defesa social e na concepção da negatividade absoluta da experiência da loucura. Longo, pleno de minúcias que buscavam antecipar todo o imprevisto da conduta humana, sinuoso, sombrio, tornava o psiquiatra o funcionário privilegiado de um Estado tutelar e repressor. O louco – perigoso e incapaz – deveria ser protegido nos espaços de confinamento chancelados pela ciência, e o psiquiatra era destituído de seu mandato terapêutico, erigido em guardião dosossego e da ordem. Claro que a norma legal de 1934 tinha eficácia esporádica e poucos psiquiatras de fato a conhecem. Mas sua derrogação pela lei da reforma psiquiátrica é o símbolo de um novo momento. A lei 10.216 articula eloqüentemente a nobreza da tarefa do tratamento com os direitos do paciente. Ela completa a agenda da redemocratização, ao colocar no centro da política pública de saúde mental a liberdade e os direitos.” “.......” “A lei 10.216 tem vários outros dispositivos, todos na direção dos direitos do paciente, da autonomia e centralidade do cuidado, do atendimento comunitário e extra-hospitalar, da reintegração social dos pacientes há longos anos segregados em instituições asilares. É um momento importante na história da psiquiatria brasileira, ...” (“Democratização do Atendimento” – artigo by Internet). Pois bem, a lei nº 10.216/01, dentre outras salutares novidades, encerrou definitivamente a fase da divisão dos hospitais psiquiátricos, quanto ao regime de contenção, em abertos, fechados e mistos, prevista no art. 7º do defunto decreto, e com base no qual pretendia-se enclausurar o requerente num hospital psiquiátrico fechado. Despreocupada do nível de contenção hospitalar e preocupada em vedar o internamento em instituições com características asilares (art. 4º, § 3º) – aquelas instituições carecentes de capacidade e de empenho na promoção de um efetivo amparo integral e que não assegurem ao paciente os direitos elencados no art. 2º, parágrafo único -, a lei nº 10.216/01 realça, com primazia absoluta e a que todos os demais interesses secundarizam-se, que o tratamento internativo será prestado em estabelecimentos de saúde mental, “assimentendidas as instituições ou unidades que ofereçam assistência em saúde aos portadores de transtornos mentais” (art. 3º, ‘in fine’). Deste modo, e apegando-se à lei vigente, ao invés de se ficar, ‘ad aeternum’, no aguardo de uma vaga em hospital psiquiátrico fechado – uma espécie hoje legal e legitimamente extinta -, cabe a esse mui Digno Juízo adequar o conteúdo da sentença à nova e progressista realidade institucional do internamento psiquiátrico, com a expedição de ordem judicial, determinando a transferência, de imediato, do requerente para um estabelecimento de saúde mental, sem distinção do regime de contenção, que lhe ofereça assistência em saúde mental: “se estou doente, cure-me !” À margem de tudo isso, considere-se que a internação determinada pela Justiça, chamada de internação compulsória, é uma das formas arroladas na lei nº 10.216/01: “Art. 6º - A internação psiquiátrica será realizada mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos.” “Parágrafo único – São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica:” “I – internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário;” “II – internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e” “III – internação compulsória: aquela determinada pela Justiça.” Para que a lei, nas hipóteses de internação compulsória, forre-se de eficácia e efetividade, deve ter-se em conta que a compulsoriedade ali inscrita compõe-se de duas mãos entrelaçadas: não somente significa que o paciente não pode furtar-se à internação, ou seja, está obrigado a ser, mesmo contra sua vontade, internado (= é forçado a ser internado), como também significa que todo e qualquer hospital psiquiátrico da rede pública – à evidente excepção de estabelecimentos de saúde mental destinados a transtornos mentais específicos – não pode furtar- se à internação, ou seja, está obrigado a receber o paciente para internamento (= é forçado a interná-lo), porque, além de ser “responsabilidade do Estado o desenvolvimento da política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais, ... , a qual será prestada em estabelecimento de saúde mental” (art. 3º) e além de uma determinação judicial, em princípio, não pode ser descumprida nem discutida, além de tudo isso, ter-se-á o contra-senso de a compulsoriedade escapar do comando judicial, para ficar sob o controle da psiquiatria ou da administração hospitalar – que se tornarão, para usar a arguta expressão de Michel Foucault, verdadeiros ‘juízes paralelos’ da internação – ou, em hipótese extrema, ter-se-á que não se terá o internamento compulsório pela recusa generalizada dos estabelecimentos de saúde mental em receber o interno compulsório ... Tamanho e semelhante disparate somente encontraria comparação se se imaginar uma história em que o Poder Judiciário manda prender Fulano ou Cicrano, cuja prisão inviabiliza- se em razão de as autoridades policiais e/ou penitenciárias negarem-se, sob este ou aquele pretexto, a aceitar o dito cidadão em ‘sua’ cadeia ou em ‘seu’ presídio. Dá para crer? Aliás, sobre a omissão do Estado em prover a internação dos interditados civis, atente-se à declaração insuspeitíssima, com ilustração exatamente no drama do requerente, do decano do Tribunal de Justiça paulista, o Desembargador Sérgio Augusto Nigro Conceição: “O Estado deve providenciar local adequado para tratamento dos casos de interdição, sob pena de institucionalizar a prisão perpétua no País” (entrevista ao ‘Diário Popular’, de 13/02/00 – matéria: “Prisão Perpétua – Justiça descobre como impedir Condenado Perigoso de Sair da Cadeia”, de Fábio Diamante). Portanto, tratando-se, para o requerente, de uma interdição compulsória, compete a esse mui Digno Juízo, pondo cobro a esta situação de indefinição e de ilegalidade, indicar, neste momento, um estabelecimento de saúde mental da rede pública para, compulsoriamente, recebê- lo, sob pena de, recusando-se a direção hospitalar na aceitação, incidir no crime de desobediência. Alfim, materializado que o encarceramento do requerente – enquanto não se relaciona a nenhum delito e enquanto distancia-se cada vez mais do perímetro da provisoriedade – está a extrapolar, de muito e muito, o convinhável e justo comedimento temporal, avizinha-se, ao avesso do direito, a ameaça real da perpetuidade prisional, em inexorável jornada para a eternização, de modo a joga-lo no abismo do vazio social e existencial, o nada, o nada de que nos fala a filosofia: “A marcha progressiva para o nada, o processo lento (ou violento) de niilificação de mim mesmo, posso bem percebê-lo e até acompanhá-lo nas suas etapas, no momento em que ocorrer. Poderei pressentir o nada que se aproxima, quando numerosos atributos da minha pessoa, que antes se afirmavam com vigor, tendem para o nada, ou em nada de convertem, por decadência física ou moral. Nunca, porém, chego a ter consciência de havê-lo atingido; pois, quando o processo niilificador chegasse à etapa final, eu já não seria mais nada para presenciá-lo” (Almir de Andrade, em “As Duas Faces do Tempo”, pg. 133). __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ Trazido este escrito, longo pela complexidade e relevância do assunto, em favor e por solicitação de Francisco Costa Rocha, requer-se, em seu nome e em derradeiro rogo, que lhe seja ultimada, independentemente de novas consultas prévias e sem mais tardanças, a transferência para um estabelecimento de saúde mental da rede pública, cessando-se seu ilegal encarceramento na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté. Nestes Termos, Pede Deferimento. Em Taubaté, aos 23 de julho de 2.002. Francisco Costa Rocha Requerente Rui Carlos Machado Alvim Procurador do Estado OAB/SP 29.328 Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da 2ª Vara da Comarca de Paraguaçu Paulista MANDADO DE SEGURANÇA Autos nº 871/02 Impetrante: COPA COMERCIAL PARAGUAÇUENSE DE AUTOMÓVEIS LTDA. Impetrado: CHEFE DO POSTO FISCAL DE PARAGUAÇU PAULISTA A FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO, por seu Procurador que esta subscreve, nos autos do mandado de segurança em epígrafe, não se conformando, data venia, com a r. sentença proferida às fls. 1.013/1.028, a qual concedeu a segurança “para que a impetrante transfira o crédito relativo ao valor pago a maior, em suas operações sujeitas ao sistema de substituição tributária, em uma única parcela, sem obstáculos fiscais, corrigidos monetariamente pela variação da Ufesp, acrescidos de juros compensatórios de 1% ao mês, contados da data de recolhimento a maior de ICMS, até 01.01.99, a partir de quando deverá incidir a Selic, até a data da efetiva restituição”, vem respeitosamente à presença de V. Exa., com fulcro no art. 513 e ss. do Código de Processo Civil, interpor o presente recurso de APELAÇÃO, em face das razões aduzidas em anexo, requerendo, pois, seja devidamente recebido e processado até final remessa ao E. Tribunal de Justiça-Seção de Direito Público para apreciação e provimento. Termos em que, P. Deferimento. Paraguaçu Paulista, 18 de março de 2003. Thiago Pucci Bego Procurador do Estado OAB/SP 153.530 Apelante: FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelada: COPA COMERCIAL PARAGUAÇUENSE DE AUTOMÓVEIS LTDA. Impetrado: CHEFE DO POSTO FISCAL DE PARAGUAÇU PAULISTA MANDADO DE SEGURANÇA Autos nº 871/022ª Vara da Comarca de Paraguaçu Paulista RAZÕES DA APELAÇÃO EGRÉGIO TRIBUNAL COLENDA CÂMARA Copa Comercial Paraguaçuense de Automóveis Ltda., revendedora de veículos autorizada da Volkswagen, impetrou mandado de segurança contra suposta ameaça de prática de ato ilegal pelo Chefe do Posto Fiscal Estadual de Paraguaçu Paulista, pleiteando a concessão de ordem para que a autoridade impetrada se abstenha de promover qualquer medida restritiva ao seu direito de utilizar, de forma imediata, os valores recolhidos excessivamente a título de ICMS, apurados por sua conta e risco, desde o início dos recolhimentos em excesso, corrigidos monetariamente pela variação da Ufesp, acrescidos de juros compensatórios de 1% ao mês, contados das datas dos recolhimentos a maiores do tributo, até 01.01.99, a partir de quando deverá incidir a Selic, até a data da efetiva restituição, transferindo-os a qualquer dos estabelecimentos das suas substitutas tributárias, sem as restrições constantes dos decretos estaduais em vigor. Aduz, a impetrante, em apertada síntese, que, sujeitando-se ao regime de substituição tributária e realizando vendas de veículos novos aos consumidores por valores inferiores àqueles utilizados como bases de cálculo do ICMS, antecipadamente recolhido pela montadora e importadora (substitutas tributárias) quando das saídas das mercadorias dos seus estabelecimentos, é, nos termos do preceito do art. 150, § 7º, da Constituição Federal, titular de direito líquido e certo à imediata e preferencial restituição, mediante transferência dos valores às substitutas tributárias, do ICMS excessivamente arrecadado. A segurança foi liminarmente concedida, porém seus efeitos foram sustados pelo preclaro Presidente do Tribunal de Justiça, Desembargador Sérgio Augusto Nigro Conceição, até que a presente apelação seja apreciada. A r. sentença confirmou a concessão da ordem para que a impetrante “transfira o crédito relativo ao valor pago a maior, em suas operações sujeitas ao sistema de substituição tributária, em uma única PARCELA, sem obstáculos fiscais, corrigidos monetariamente pela variação da UFESP, acrescidos de juros compensatórios de 1% ao mês, contados da data de recolhimento a maior de ICMS, até 01.01.99, a partir de quando deverá incidir a SELIC, até a data da efetiva restituição”. Tal decisão de Primeiro Grau deve ser reformada pelas seguintes razões. PRELIMINARMENTE. Conforme se verifica do teor de fls. 452/518, a apelada, em julho de 1998, impetrou mandado de segurança – o qual ainda não foi definitivamente apreciado, posto estar pendente ainda de decisão recurso especial apresentado por ela – que versa sobre o mesmo objeto do presente processo. O processo precedente foi extinto com fundamento no art. 267, inciso VI, do Código de Processo Civil pela r. sentença de Primeiro Grau que reconheceu a carência do writ (fls. 507/512). Esse E. Tribunal de Justiça, por sua 7ª Câmara de Direito Público de Férias “Julho/2001”, manteve a r. decisão a quo, tendo asseverado o preclaro Desembargador Relator WALTER SWENSSON: “Verifica-se, que o impetrante, busca através deste mandado de segurança denominado preventivo, utilizá-lo como instrumento normativo, para regular condutas futuras e incertas. A segurança foi impetrada contra atos normativos em tese, visando obter efeitos patrimoniais pretéritos, o que não se admite. A autoridade apontada como coatora não praticou nenhum ato e nem é competente para apreciar pedidos de restituição. Como ensina o Prof. Hely Lopes Meirelles: “O mandado de segurança admite decisão repressiva e preventiva (art. 1º). É repressiva quando visa corrigir ilegalidade já consumada; é preventiva quando se destina a impedir o cometimento de ilegalidade iminente. Em ambos os casos são necessárias as indicações do objeto e a comprovação da iminência da lesão a direito subjetivo do impetrante. Não basta a invocação genérica de uma remota possibilidade de ofensa a direito para autorizar a segurança preventiva; exige-se prova da existência de atos ou situações atuais que evidenciam a ameaça temida. “Não se confunda, segurança preventiva com segurança normativa. O nosso sistema judiciário admite aquela e rejeita esta. “Segurança preventiva é a que se concede para impedir a consumação de uma ameaça a direito individual em determinado caso; segurança normativa seria a que se estabelecesse regra geral de conduta para casos futuros, indeterminados. A Justiça Comum não dispõe do poder de fixar normas de conduta, nem lhe é permitido estender a casos futuros a decisão proferida no caso presente, ainda que ocorra a mesma razão de decidir em ambas as hipóteses. Embora se reitere a ilegalidade em casos idênticos, haverá sempre necessidade de uma decisão para cada caso, sem que os efeitos da sentença anterior se convertam em regra para as situações futuras” – Mandado de Segurança e Ação Popular, 17ª edição, págs. 68 e 69 – Editora Malheiros. Por outro lado, próprias da norma legal são a impessoalidade e a generalidade, além, da abstração. Bem por isso, cristalizou-se, na jurisprudência, o entendimento, definido na Súmula nº 266 do Pretório Excelso, o não cabimento de mandado de segurança para atacar lei em tese ou suscitar provimento de efeito normativo. O mandado de segurança não se constitui no meio apto para alcançar o fim almejado. Nenhum reparo há que ser feito na r. sentença.” (AC nº 135.362.5/0). Tenda em vista que nos dois mandados de segurança as partes são as mesmas, o pedido é o mesmo e a causa de pedir é a mesma (inconstitucionalidade, ante o disposto no art. 150, § 7º, da Constituição Federal de 1988, das disposições da legislação paulista que tratam da restituição, no regime da substituição tributária, de ICMS nas hipóteses de realização de operação de circulação de mercadoria por valor inferior àquele utilizado como base de cálculo para fazer a retenção do imposto), fica patente a caracterização de litispendência. Irrelevante o fato de ter sido o primitivo processo extinto com base no art. 267, inciso VI, do Código de Processo Civil, já que ainda não ocorreu o trânsito em julgado da decisão em virtude da interposição de recurso especial pela impetrante, cujo processamento já foi deferido por esse E. Tribunal como se infere dos inclusos documentos, não sendo incabível cogitar-se da possibilidade do conhecimento do apelo extraordinário com prolação de decisório que delibere sobre o mérito da causa. Ademais, consoante prelecionam NELSON NERY JUNIOR e ROSA MARIA ANDRADE NERY, “Como a sentença de extinção do processo sem julgamento do mérito (CPC 267) não faz coisa julgada material, a lide objeto daquele processo não foi julgada, razão pela qual pode ser reproposta a ação. A repropositura não é admitida de forma automática, devendo implementar-se o requisito faltante que ocasionou a extinção do processo. Por exemplo: processo extinto por ilegitimidade de parte, somente admite repropositura, se sobrevier circunstância que implemente essa condição da ação faltante no processo anterior. Do contrário, a repropositura pura e simples, sem essa observância, acarretaria nova extinção do processo sem julgamento do mérito por falta de interesse processual (CPC 267 VI).” (“Código de Processo Civil Comentado”, Editora Revista dos Tribunais, 2ª edição, p. 681, nota 1 ao art. 268). Assim sendo, considerando que a impetrante não sanou a irregularidade que inviabilizou a apreciação do mérito noprimeiro processo, irregularidade essa consistente na impetração de segurança para atacar lei em tese que objetiva provimento de efeitos normativo, e patrimonial em relação a período pretérito, impõe-se, aqui também, a extinção do feito sem julgamento do mérito. Nem poderia ser diferente, sob pena de afronta às decisões judiciais: imagine-se não se exigir do autor o implemento do requisito faltante para a repropositura de uma ação; isso seria realmente dar guarida à instabilidade jurídica e à litigância desleal na medida em que se propiciaria ao demandante a reiterada distribuição da mesma ação até que finalmente ela fosse apreciada pelo mérito por um órgão jurisdicional, que, adotando entendimento diferente, concluísse estarem presentes todas as condições de admissibilidade para a promoção do julgamento com a resolução da lide apresentada. Data venia, o Judiciário tem que fazer respeitar suas decisões, sendo certo que, tendo sido anteriormente extinto um processo por ter se entendido que a impetração era inadequada ao fim almejado, não se deve admitir a renovação da impetração sem a correção do vício, anteriormente reconhecido, que inviabilizou a apreciação do mérito. De outra parte, o mandado de segurança foi impetrado contra lei em tese, visto que inexiste, in casu, ato concreto que possa pôr em risco o suposto direito da apelada. Com efeito, não houve denegação de pedido administrativo de restituição, ou recusa de aposição de visto em nota fiscal de ressarcimento, submetida à apreciação do Fisco, de pretensos valores de ICMS recolhidos em excesso; sequer foram formulados requerimentos dessa natureza. Percebe-se, claramente, que os “atos” impugnados neste mandado de segurança são os preceitos jurídicos constantes da legislação tributária paulista no que concerne à regulamentação da restituição de ICMS no regime da substituição tributária. Tais normas jurídicas estaduais, tachadas de inconstitucionais pela recorrida, disciplinam as hipóteses e as modalidades de restituição de ICMS no sistema de substituição tributária; porém, essas regras não foram ainda concretizadas, por qualquer autoridade fiscal, diante dela, exatamente porque até o momento não houve a formulação de pedido administrativo de restituição, tampouco a solicitação de aposição de visto em nota fiscal de ressarcimento, conforme exige o art. 270 do RICMS (Decreto 45.490/00), na esteira do disposto no § 1º do art. 66- B da Lei Estadual 6.374/89 e no § 1º do art. 10 da Lei Complementar Nacional 87/96. Registre-se, ainda, que a autoridade apontada como coatora sequer tem competência para apreciar requerimentos dessa espécie, o que induz a sua patente ilegitimidade para responder à presente impetração. Não se evidenciou, neste processo, a suposta ameaça a alegado direito da apelada, já que sequer há indício de que o Fisco não deferiria pedido de restituição, ou recusaria apor visto em nota fiscal de ressarcimento, de valores de ICMS, comprovadamente recolhidos em excesso conforme dispõe o art. 66-B, inciso II, da Lei Paulista 6.374/89. O objeto próprio do mandado de segurança é a invalidação de atos de autoridades ofensivos de direito individual líquido e certo, o que inexiste na hipótese vertente. O intento da apelada é outro, e não, como seria de rigor sob pena de carência da ação especial, a sincera impugnação de efetiva e ilegal ameaça a direito líquido e certo de que seria titular. Objetiva, na verdade, obter uma decisão judicial que lhe propicie a transferência de ‘créditos’ de ICMS inexistentes, em repreensível abuso - que causa danos ao Erário Público de impossível ou difícil e incerta reparação, posteriormente – na utilização da segurança concedida. O deferimento de ordem, nos moldes pleiteados, significa conferir à impetrante, nas palavras do eminente Desembargador Vanderci Álvares, “um salvo conduto, ou cheque em branco” (AC 049.846.5/7). De fato, a pretendida transferência imediata de ‘créditos’ de ICMS, de forma ampla, sem a comprovação de sua existência, efetividade e de seus valores no processo e sem possibilitar ao Fisco o exame prévio, mostra-se não só desarrazoada, como também temerária e de elevada potencialidade lesiva ao Erário Público. A propósito, verifique-se à fl. 519 a nota fiscal de ressarcimento que a apelada emitiu, quando da concessão da liminar, para a efetivação de transferência de ‘créditos’ de ICMS à substituta Volkswagen do Brasil Ltda.; o valor consignado no documento fiscal de ressarcimento é de R$ 4.498.439,45 (quatro milhões, quatrocentos e noventa e oito mil e quatrocentos e trinta e nove reais e quarenta e cinco centavos). Entretanto, segundo apurado pela Delegacia Regional Tributária de Marília, de junho de 1998 (mês a partir de que se poderia cogitar de ‘direito’ à restituição, já que do mês de maio de 1998 para trás a recorrida já havia feito o aproveitamento e a transferência de ‘créditos’ à substituta com base em liminar concedida no processo anterior – mandado de segurança nº 1.317/98, 1ª Vara de Paraguaçu Paulista) a maio de 2002 (mês da presente impetração), os valores totais de ICMS, retidos pela Volkswagen por conta das operações sujeitas ao regime da substituição tributária praticadas pela apelada, somaram R$ 1.378.053,62. Isto é, se ela – o que é inimaginável e, portanto, insuscetível de aceitação – tivesse vendido aos consumidores todos os veículos pelos mesmos preços pelos quais os adquiriu da montadora, ter-se-ia um suposto direito à restituição da quantia especificada, qual seja, R$ 1.378.053,62. Estima-se, porém, que o conjeturado direito à restituição não ultrapassaria 10% desse valor, percentual extraído de supostos descontos concedidos quando da alienação dos automóveis. Daí se vê o quão acertado foi o deferimento do pedido de suspensão dos efeitos da segurança em questão até que essa C. Corte aprecie o mérito da causa. Impediu-se, dessa forma, e imediatamente, uma lesão à Fazenda Estadual no importe de mais de R$ 4.000.000,00, sendo oportuno obtemperar que a fiscalização, quando exercida posteriormente à utilização e transferência do ‘crédito’, conforme pretendido pela apelada, não apresenta, obviamente, a mesma eficiência que a prévia verificação e autorização pelo Fisco, não sendo rara a ocorrência, após a concretização de tais milionárias transferências, do encerramento das atividades da concessionária de veículos impetrante, com a dissipação de seu patrimônio, quando então o Estado, inutilmente, lavra auto de infração e imposição de multa, promove o lançamento, para reaver a exorbitante quantia indevidamente transferida à substituta, que a utilizou para pagar seus tributos, quantia essa que proporcionou ao revendedor impetrante o recebimento de veículos e peças no valor da nota fiscal de ressarcimento, que emitiu sem qualquer conferência pelo Fisco. Resulta a carência da ação, pois, também da circunstância de se estar utilizando o mandado de segurança como substitutivo de demanda de cobrança (na espécie, de ação de restituição de indébito), o que é inadmissível, como cediço. Ademais, a segurança, como concedida, produz efeitos patrimoniais em relação a período pretérito, já que não houve limitação, nesse sentido, na decisão de Primeira Instância; ao contrário, o deferimento da ordem se deu de forma absolutamente ampla, parecendo ter acolhido o pedido inicial quanto à determinação de restituição (mediantetransferência à substituta) dos valores recolhidos ‘em excesso’ desde o início de tais recolhimentos. Ora, primeiro registre-se que os efeitos patrimoniais pretéritos devem ser pleiteados administrativamente ou pela via judicial própria, nas quais, então, poder-se-á verificar a procedência dos ‘créditos’ que se pretende aproveitar, bem como apurar seus exatos valores. Segundo, deve-se atentar para o fato de que em julho de 1998 a apelada, ante a concessão de liminar (cujos efeitos, infelizmente, não foram tempestivamente sustados) num mandado de segurança, emitiu nota fiscal e transferiu à Volkswagen do Brasil Ltda. os supostos créditos gerados até o mês de maio de 1998, de maneira que os eventuais excessos de ICMS recolhidos de tal mês para trás não podem ser objeto da presente ordem sob pena de dupla utilização dos mesmos. Não bastasse, de se observar ainda que, no tocante aos meses de junho de 1997 para trás, já ocorreu a decadência do pretenso direito à restituição, nos termos do disposto nos arts. 168 do Código Tributário Nacional e 23, parágrafo único, da Lei Complementar 87/96; o prazo decadencial é de cinco anos. Verifique-se, ainda, que o art. 1º do Decreto nº 20.910, de 06 de janeiro de 1932, estatui que “As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e qualquer direito ou ação contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua natureza, prescrevem em 5 (cinco) anos, contados da data do ato ou fato do qual se originaram.” Por fim, a título de preliminar ainda, cabe ressaltar a absoluta ausência de certeza e liquidez a ensejar a utilização da especial via do mandamus. Os fatos alegados – existência de recolhimentos excessivos de ICMS – não foram comprovados neste feito; aliás, sequer se indicou, especificou, como seria de rigor, os valores que se quer a restituição. A demonstração inequívoca da legitimidade do montante que se pretende transferir à substituta tributária é imprescindível. Neste processo, a impetrante ao menos se deu ao trabalho de anexar à inicial cópia de toda documentação fiscal concernente ao período em relação ao qual pretende promover o creditamento de ICMS e a imediata transferência de seu montante à montadora substituta. Além disso, cumpre trazer à baila, mais uma vez, as ponderações feitas pela autoridade impetrada nas informações que prestou ao juízo: “Em qualquer deles deve haver prova da venda por preço inferior. As notas fiscais, apesar de documento hábil para comprovar as operações mercantis, não se prestam, por si só, como prova de que a venda foi por preço inferior. É possível(e quase rotina) a emissão da nota fiscal por preço inferior ao preço da venda (os chamados subfaturamentos). Uma coisa, portanto, é vender o produto por preço inferior e outra, completamente diferente, é emitir a nota por preço inferior. A simples posse da nota de venda não pode ser admitida como inequívoca prova de venda por preço inferior, do mesmo modo que a mera alegação de subfaturamento não pode ser tomada como prova do subfaturamento. Isto significa que ninguém, diante da singela apresentação das notas de compra e de venda do veículo, estará habilitado a dizer se se trata de subfaturamento ou de efetiva venda por preço inferior. Tal aferição somente é possível mediante verificações complementares que estão a cargo da Fiscalização estadual. Se a Fiscalização desconfia que houve subfaturamento, que diligencie e prove que de fato houve. Se o contribuinte diz que vendeu por preço inferior, à Fazenda Pública, do mesmo que na hipótese anterior, está reservado dever/poder de diligenciar e provar se assim o foi ou não. Uma vez que a emissão das notas fiscais é ato unilateral do contribuinte e que não envolve nenhuma participação da Fazenda, faltando aquelas verificações teremos apenas e tão somente mera alegação unilateral de venda por preço inferior, o que é muito pouco para reconhecer um direito oponível ao Estado.” Sem a prova pré-constituída do indébito tributário, constata-se a incerteza dos fatos e, conseqüentemente, a iliquidez do direito alegado, donde ressai a manifesta carência do mandado de segurança, o qual não se presta à ampla dilação probatória, como sobejamente sabido. Nesse sentido já decidiu o E. Superior Tribunal de Justiça: “CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. ICMS. COMPENSAÇÃO DO QUE FOI PAGO A MAIOR EM REGIME DE SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA. 1. Para que haja possibilidade da empresa contribuinte do ICMS se valer da regra do art. 23, § 1º, da LC 87/96, há que comprovar, de modo inequívoco, o pagamento a maior do imposto. 2. O nosso ordenamento jurídico não aceita a possibilidade do mandado de segurança normativo, isto é, o que estabelece regra geral de conduta, para casos futuros, indeterminados, conforme a lição de Hely Lopes Meirelles. 3. A restituição de tributo oriunda de diferenças monetárias entre o valor do fato gerador presumido e o efetivamente ocorrido, no regime de substituição tributária, depende de prova inequívoca da ocorrência de tal fenômeno. 4. Impossível, quando inexiste tal prova, debater-se a respeito em sede de mandado de segurança. 5. A via excepcional do writ não se adequa para viabilizar pedido de repetição de indébito. 6. Recurso improvido. (Recurso em Mandado de Segurança nº 9.693/MS, j. 13/04/2000). Em resumo, o processo deve ser extinto sem julgamento do mérito: ante a litispendência; ou em face da carência da ação pela ilegitimidade passiva da autoridade impetrada, ou pela impossibilidade jurídica do pedido e ausência de interesse de agir (inadequação da via processual eleita), seja porque não cabe mandado de segurança contra lei em tese (Súmula 266 do STF) ou porque ele não é substitutivo de ação de cobrança, nem de repetição de indébito (Súmula 269 do STF), seja porque a concessão de segurança não pode produzir efeitos patrimoniais em relação a período pretérito (Súmula 271 do STF), ou, finalmente, porquanto não há certeza e liquidez dos fatos constitutivos do pretenso direito diante da inexistência de prova documental inequívoca nos autos. Ad argumentandum, caso assim não se delibere, deverá ser reconhecida a decadência no tocante a eventuais valores de ICMS recolhidos em ‘excesso’ de junho de 1997 para trás. MÉRITO. Inicialmente, de se afirmar que só há direito constitucional, nos termos do art. 150, § 7º, da Carta Magna, à imediata e preferencial restituição de valor de ICMS pago por força da substituição tributária, quando o fato gerador não ocorre, inexistindo-o na excepcional hipótese de realização de operação de circulação de mercadoria por valor inferior àquele tomado como base de cálculo para o recolhimento antecipado do tributo. O entendimento da Suprema Corte, quanto à interpretação da aludida norma constitucional (art. 150, § 7º), já foi exarado por seu Plenário quando do julgamento da ADI 1.851, nos seguintes termos: EMENTA: “TRIBUTÁRIO. ICMS. SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA. CLÁUSULA SEGUNDA DO CONVÊNIO 13/97 E §§ 6º E 7º DO ART. 498 DO DEC. Nº 35.245/91 (REDAÇÃO DO ART. 1º DO DEC. Nº 37.406/98), DO ESTADO DE ALAGOAS. ALEGADA OFENSA AO § 7º DO ART. 150 DA CF (REDAÇÃO DA EC 3/93) E AO DIREITO DE PETIÇÃO E DE ACESSO AO JUDICIÁRIO. Convênio que objetivou prevenir guerra fiscal resultante de eventual concessão do benefício tributário representado pela restituição do ICMS cobrado a maior quando a operação final for de valor inferior ao do fato gerador presumido. Irrelevante que não tenha sido subscrito por todos os Estados, se não se cuida de concessão de benefício (LC 24/75, art. 2º, INC. 2º). Impossibilidade de exame, nesta ação, do decreto, que tem naturezaregulamentar. A EC nº 03/93, ao introduzir no art. 150 da CF/88 o § 7º, aperfeiçoou o instituto, já previsto em nosso sistema jurídico-tributário, ao delinear a figura do fato gerador presumido e ao estabelecer a garantia de reembolso preferencial e imediato do tributo pago quando não verificado o mesmo fato a final. A circunstância de ser presumido o fato gerador não constitui óbice à exigência antecipada do tributo, dado tratar-se de sistema instituído pela própria Constituição, encontrando-se regulamentado por lei complementar que, para definir-lhe a base de cálculo, se valeu de critério de estimativa que a aproxima o mais possível da realidade. A lei complementar, por igual, definiu o aspecto temporal do fato gerador presumido como sendo a saída da mercadoria do estabelecimento do contribuinte substituto, não deixando margem para cogitar-se de momento diverso, no futuro, na conformidade, aliás, do previsto no art. 114 do CTN, que tem o fato gerador da obrigação principal como a situação definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência. O fato gerador presumido, por isso mesmo, não é provisório, mas definitivo, não dando ensejo a restituição ou complementação do imposto pago, senão, no primeiro caso, na hipótese de sua não-realização final. Admitir o contrário valeria por despojar-se o instituto das vantagens que determinaram a sua concepção e adoção, como a redução, a um só tempo, da máquina-fiscal e da evasão fiscal a dimensões mínimas, propiciando, portanto, maior comodidade, economia, eficiência e celeridade às atividades de tributação e arrecadação. Ação conhecida apenas em parte e, nessa parte, julgada improcedente.” Trechos do voto vencedor do MINISTRO RELATOR ILMAR GALVÃO: “A LC nº 44/83, acrescentou o § 9º ao art. 2º e deu nova redação ao art. 6º e §§ 3º e 4º, do DL nº 406/68, nestes termos: “Art. 2º - A base de cálculo do imposto é: (...) § 9º - Quando for atribuída a condição de responsável, ao industrial, ao comerciante atacadista ou ao produtor, relativamente ao imposto devido pelo comerciante varejista, a base de cálculo do imposto será: a) ... b) o valor da operação promovida pelo responsável, acrescida da margem de lucro atribuída ao revendedor, no caso de mercadorias com preço de venda, máximo ou único, marcado pelo fabricante ou fixado pela autoridade competente.” “Art. 6º ... § 3º - A lei estadual poderá atribuir a condição de responsável: a) ao industrial, comerciante ou outra categoria dse contribuinte, quanto ao imposto devido na operação ou operações anteriores promovidas com a mercadoria ou seus insumos; b) ao produtor industrial ou comerciante atacadista, quanto ao imposto devido pelo comerciante varejista; c) ao produtor ou industrial, quanto ao imposto devido pelo comerciante atacadista e pelo comerciante varejista; d) aos transportadores, depositários e demais encarregados da guarda ou comercialização de mercadorias. § 4º - Caso o responsável e o contribuinte substituído estejam estabelecidos em Estados diversos, a substituição dependerá de convênio entre os Estados interessados.” Cuida-se de dispositivos por meio dos quais o legislador complementar, no exercício da competência que lhe foi reservada pelo § 1º do art. 19 da Carta de 1967, em relação ao antigo ICM, definiu os aspectos subjetivos (contribuintes e seus substitutos), objetivos (fatos geradores) e de dimensionamento (base de cálculo e alíquota), estabelecendo regras gerais que, por razões de conveniência, contemplaram a substituição tributária em ambos os sentidos, seja quanto às operações anteriores (art. 6º, § 3º, a), seja em relação às subseqüentes (id., id, b, c e d). De registrar que os dispositivos transcritos não disciplinam a restituição do imposto recolhido, no caso de não-realização do fato gerador, impondo-se a ilação de que a restituição deveria operar pelos meios regulares de restituição de tributos (arts. 165/170 do CTN). Na verdade, a Carta de 1967 e a EC 01/69 não previam, de maneira específica, esse requisito, o mesmo ocorrendo com a Constituição de 1988 (art. 155, § 2º, XII, b). O STF, de outra parte, jamais condicionou a legitimidade da antecipação do fato gerador do ICM, hoje ICMS, à previsão legal da cláusula da restituição. A Constituição de 1988, em sua redação original, limitou-se a reservar à lei complementar, de modo específico, a disciplina da substituição tributária do ICMS (art. 156, § 2º, XII, b), sem especificar as duas modalidades (progressiva e regressiva), com o que, a rigor, recepcionou, no ponto, o DL nº 406/68. A matéria teve de ser regulamentada pelo Convênio ICM 66/88 (art. 25, II), ante a norma do art. 34, § 8º, do ADCT/88, para nela fazer abranger o produtor e gerador de energia e o prestador de serviço, em face da expansão da base material de incidência do tributo que, a partir da Carta de 88, passou a abranger a energia elétrica e a prestação de serviços de transporte, além dos serviços de telecomunicações. Com base nos referidos dispositivos, ao atualizarem os estados os seus códigos tributários ou ao editarem novos, mantiveram obviamente o instituto, adaptando-os aos dizeres introduzidos pelo mencionado Convênio ICM 66/88, fazendo, v.g., o Estado do Rio de Janeiro, por meio da Lei nº 1.423/89 e o Estado de São Paulo, pela Lei nº 6.374/89. A matéria acabou contemplada na EC nº 3/93, que introduziu, no art. 150 da CF/88, o § 7º, segundo o qual: “§ 7º - A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição de responsável pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer posteriormente, assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso não se realize o fato gerador presumido.” O dispositivo, indubitavelmente, não criou a substituição tributária progressiva, visto que já integrava o sistema tributário, havendo inovado, entretanto, primeiramente, ao instituir o fato gerador presumido e, depois, ao estabelecer a garantia de reembolso preferencial e imediato do tributo pago quando não se tiver ele realizado. Ao autorizar a atribuição a outrem da condição de responsável pelo pagamento de tributo cujo fato gerador ainda não tenha ocorrido, na verdade, antecipou, o novo dispositivo, o momento do surgimento da obrigação e, conseqüentemente, da verificação do fato gerador que, por isso mesmo, definiu como presumido. ... A referida LC 87/96, que veio em substituição ao DL nº 406/68, ditou regulamentação bem mais detalhada do instituto da substituição tributária, relativa a operações antecedentes e subseqüentes, nos arts. 6º, 8º e 10, havendo disciplinado, em caráter especial, a restituição, deste modo: “Art. 6º Lei estadual poderá atribuir a contribuinte do imposto ou a depositário a qualquer título a responsabilidade pelo seu pagamento, hipótese em que o contribuinte assumirá a condição de substituto tributário. § 1º A responsabilidade poderá ser atribuída em relação ao imposto incidente sobre uma ou mais operações ou prestações, sejam antecedentes, concomitantes ou subseqüentes ... (...) Art. 8º A base de cálculo, para fins de substituição tributária, será: I - em relação às operações ou prestações antecedentes ou concomitantes, o valor da operação ou prestação praticado pelo contribuinte substituído; II - em relação às operações ou prestações subseqüentes, obtida pelo somatório das parcelas seguintes: a) o valor da operação ou prestação própria realizada pelo substituto tributário ou pelo substituído intermediário; b) o montante dos valores de seguro, de frete e de outros encargos cobrados ou transferíveis aos adquirentes ou tomadores de serviço; c) a margem de valor agregado, inclusive lucro, relativa às operações ou prestações subseqüentes. § 1º Na hipótese de responsabilidade tributária em relaçãoàs operações ou prestações antecedentes, o imposto devido pelas referidas operações ou prestações será pago pelo responsável, quando: I - da entrada ou recebimento da mercadoria ou do serviço; II - da saída subseqüente por ele promovida, ainda que isenta ou não tributada; III - ocorrer qualquer saída ou evento que impossibilite a ocorrência do fato determinante do pagamento do imposto. § 2º Tratando-se de mercadoria ou serviço cujo preço final a consumidor, único ou máximo, seja fixado por órgão público competente, a base de cálculo do imposto, para fins de substituição tributária, é o referido preço por ele estabelecido. § 3º Existindo preço final a consumidor sugerido pelo fabricante ou importador, poderá a lei estabelecer como base de cálculo este preço. § 4º A margem a que se refere a alínea c do inciso II do caput será estabelecida com base em preços usualmente praticados no mercado considerado, obtidos por levantamento, ainda que por amostragem ou através de informações e outros elementos fornecidos por entidades representativas dos respectivos setores, adotando-se a média ponderada dos preços coletados, devendo os critérios para sua fixação ser previstos em lei. (que, desse modo, passou a constituir elemento essencial da substituição tributária progressiva). (...) Art. 10. É assegurado ao contribuinte substituído o direito à restituição do valor do imposto pago por força da substituição tributária, correspondente ao fato gerador presumido que não se realizar. § 1º Formulado o pedido de restituição e não havendo deliberação no prazo de noventa dias, o contribuinte substituído poderá se creditar, em sua escrita fiscal, do valor objeto do pedido, devidamente atualizado segundo os mesmos critérios aplicáveis ao tributo. § 2º Na hipótese do parágrafo anterior, sobrevindo decisão contrária irrecorrível, o contribuinte substituído, no prazo de quinze dias da respectiva notificação, procederá ao estorno dos créditos lançados, também devidamente atualizados, com o pagamento dos acréscimos legais.” Nos dizeres de Alfredo Becker, “...a criação do substituto legal tributário tanto é um fenômeno jurídico perfeitamente normal quanto é um processo técnico de criação do direito utilizado com muito mais freqüência do que se imagina em todos os demais ramos do direito. O sujeito passivo da relação jurídica tributária, normalmente, deveria ser aquela determinada pessoa de cuja renda ou capital a hipótese de incidência é um fato-signo presuntivo. Entretanto, freqüentemente, colocar esta pessoa no pólo negativo da relação jurídica tributária é impraticável ou simplesmente criará maiores ou menores dificuldades para nascimento, vida e extinção destas relações. Por isso, nestas oportunidades, o legislador como solução emprega uma outra pessoa em lugar daquela e, toda a vez que utiliza esta outra pessoa, cria o substituto legal tributário.” (op. cit., p. 553). Na substituição tributária regressiva, ou para trás, esse ressarcimento opera abatendo- se do preço a ser pago ao fornecedor do produto tributado o valor correspondente ao tributo devido, que deve ser calculado tomando-se por base o valor da operação, conforme previsto no art. 8º, I, da LC nº 87/96. Trata-se de medida que se mostra adequada às hipóteses de operações efetuadas por um número consideravelmente grande de fornecedores, tendo por objeto, de ordinário, produtos primários, de origem agro-pecuária, como leite, cana-de-açúcar, laranja, látex, etc., fornecidos a indústrias de transformação. Graças ao instituto da substituição, o tributo, em vez de ser exigido de centenas ou de milhares de produtores, é recolhido por um só contribuinte, possibilitando uma fiscalização mais simples e eficaz, capaz de evitar a sonegação. Tem por efeito o diferimento do imposto, calculado em razão de pressuposto material já verificado. O substituído, aí, é geralmente aquele que não é inscrito como contribuinte, que não mantém escrita contábil relativa ao ICMS, o qual, por isso mesmo, não tem como compensar o imposto, que é deduzido do preço dos bens vendidos, com os créditos relativos a insumos incorporados ao processo produtivo. Arca ele, portanto, com o tributo relativo à entrada dos insumos e com o devido pela saída dos bens produzidos. Justamente diante dessa evidência é que a substituição tributária regressiva é de ser considerada como uma opção para aqueles contribuintes capazes de manter registro regular de seu movimento operacional e, conseqüentemente, de efetuar a compensação débitos/créditos, própria do ICMS, que suavizará sua carga tributária. A substituição progressiva, ou para frente, que alguns acham ser instituição recente, posto prevista em nossa legislação pelo menos desde 1968 – repita-se – contrariamente à regressiva, tem por contribuintes substituídos, por sua vez, uma infinidade de revendedores do produto, circunstância que dificultaria e oneraria, de maneira acentuada, a fiscalização. Sua prática impede a sonegação sem prejudicar a garantia do crédito tributário, visto que o tributo pelas operações subseqüentes, até a transferência da mercadoria ao consumidor final, é recolhido sobre o valor agregado. Nessa espécie, em vez do diferimento, o que ocorre é a antecipação do fato gerador e, conseqüentemente, do tributo, que é calculado sobre uma base de cálculo estimada. ... Trata-se de regime a que, na prática, somente são submetidos produtos com preço de revenda final previamente fixado pelo fabricante ou importador, como é o caso de veículos e cigarros; ou tabelados pelo Governo, como acontecia até recentemente com os combustíveis, e como acontece com a energia elétrica etc.; razão pela qual só eventualmente poderão verificar-se excessos de tributação. Por derradeiro, não é difícil demonstrar que o fato gerador presumido não constitui óbice à exigência antecipada do tributo. Em primeiro lugar, porque foi instituído pela própria Constituição, havendo sido regulamentado, como se viu, por lei complementar que lhe definiu a base de cálculo. Ao fazê-lo, cuidou o legislador de prefixar uma base de cálculo cuja estimativa se aproxime o mais possível da realidade, ajustando o respectivo valor às leis do mercado, para não onerar o contribuinte e tampouco prejudicar o Fisco. Aliás, a LC nº 87/96 não apenas definiu o modo de apuração da base de cálculo na substituição tributária progressiva, mas também o aspecto temporal do fato gerador presumido, consubstanciado, obviamente, na saída da mercadoria do estabelecimento do contribuinte substituto, não havendo cogitar, pois, de outro momento, no futuro, para configuração do elemento. A providência não é de causar espécie, porquanto, na conformidade do disposto no art. 114 do CTN, fato gerador da obrigação principal é a situação definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência. Em segundo lugar, porque, conforme observa Marco Aurélio Greco (in “Substituição Tributária”, IOB, p. 40 e segs.), a visão tradicional de que a existência da tributação está centralizada na obrigação e esta não existe enquanto não ocorrido o fato gerador, desconsidera uma característica ínsita ao fenômeno jurídico que é a de serem as normas produto de atos de vontade em que se agregam elementos que serão válidos desde que não contrariem a Constituição; e que esta atribui competência em matéria tributária que comporta todos os modelos operacionais que não contrariem a sua essência, nem o conjunto de princípios do sistema de garantias asseguradas ao contribuinte, consistindo o desafio em encontra-se o ponto de equilíbrio entre, de um lado, a simplificação para a melhoria das arrecadação e, de outro, a proteção do patrimônio e as garantias do contribuinte. A substituição tributária, portanto, resultou de uma opção legislativa, que elegeu como tributável uma fase preliminar da exteriorização de um dado fenômeno econômico,ou jurídico, que compõe a materialidade da competência tributária prevista, para fim de exigir o respectivo recolhimento, antecipando as conseqüências que, no modelo tradicional, só seriam deflagradas depois da ocorrência do próprio fenômeno. A escolha da fase preliminar resulta, assim, de opção legislativa, mas não é arbitrária, porque só tem cabimento se o evento assim considerado atender ao requisito da necessidade em relação ao evento final (inexistindo este inexistirá o fato gerador); se o referido evento já apresenta elementos que permitem prever com certo grau de certeza o evento final (fato gerador); e se a dimensão pecuniária imposta no momento da antecipação é proporcional à dimensão final que resultará da ocorrência do fato tributável. Essas, em resumo, as lições de Marco Aurélio Greco, para quem não há incompatibilidade constitucional na figura examinada. “... Ao revés” – concluiu ele -, “a mais moderna doutrina do Direito Tributário nacional e estrangeiro sustenta sua validade. As dificuldades que sua interpretação e análise ensejam, ao invés de conduzirem a inconstitucionalidade, propõem, isto sim, um desafio para todos os aplicadores do Direito tributário, qual seja o de identificar os seus contornos e limites em função das peculiaridades de cada tributo e realidade econômica ou jurídica por ele atingida” (op. cit., os. 44/45). Desnecessária muita agudeza de raciocínio, para perceber, v.g., que a entrega de veículos novos, feita pela montadora a suas revendedoras autorizadas, atende aos três requisitos que, segundo a lição transcrita, são exigidos para configuração da compatibilidade e adequação entre a substituição, como modelo de exigência do tributo, e o respectivo pressuposto de fato, em face da Constituição. Com efeito, trata-se de fato econômico que constitui verdadeira etapa preliminar do fato tributável (a venda do veículo ao consumidor), que o tem por pressuposto necessário; fato esse que, por sua vez, é possível prever, com quase absoluta margem de segurança, uma vez que nenhum outro destino, a rigor, pode estar reservado aos veículos que saem dos pátios das montadoras com destino às distribuidoras, senão a revenda aos adquirentes finais; sendo, por fim, perfeitamente previsível, porque objeto de tabela fornecida pelo fabricante, o preço a ser exigido na operação final, circunstância que concorre para a eliminação de excessos tributários. O que se tem, na antecipação da ocorrência do fato gerador, no dizer de Sampaio Doria (em discurso acerca do imposto sobre a transmissão inter vivos de bens imóveis, in “Da Lei Tributária no Tempo”, 1968, p. 205), é “opção válida do legislador que não faz nascer o imposto de formalidade oca de significado substancial, nem de ato vazio de conteúdo econômico”. O fato gerador do ICMS e a respectiva base de cálculo, em regime de substituição tributária, de outra parte, conquanto presumidos, não se revestem de caráter de provisoriedade, sendo de ser considerados definitivos, salvo se, eventualmente, não vier a realizar-se o fato gerador presumido. Assim, não há falar em tributo pago a maior, ou a menor, em face do preço pago pelo consumidor final do produto ou do serviço, para fim de compensação ou ressarcimento, quer de parte do Fisco, quer de parte do contribuinte substituído. Se a base de cálculo é previamente definida em lei, não resta nenhum interesse jurídico em apurar se correspondeu ela à realidade. Por isso mesmo, a salvaguarda estabelecida na Constituição em favor deste último, representada pela imediata e preferencial restituição do valor do imposto pago (o qual, na conformidade do art. 10, § 1º, da LC 87/96, deverá ocorrer em noventa dias, sob pena de creditamento do respectivo valor, devidamente atualizado, em sua escrita fiscal) é restrita à hipóteses de não vir a ocorrer o fato gerador presumido. Admitir o contrário, valeria pela inviabilização do próprio instituto da substituição tributária progressiva, visto que implicaria, no que concerne ao ICMS, o retorno ao regime de apuração mensal do tributo e, conseqüentemente, o abandono de um instrumento de caráter eminentemente prático, porque capaz de viabilizar a tributação de setores de difícil fiscalização e arrecadação. Na verdade, visa o instituto evitar, como já acentuado, a necessidade de fiscalização de um sem- número de contribuintes, centralizando a máquina-fiscal do Estado num universo consideravelmente menor, e com acentuada redução do custo operacional e conseqüente diminuição da evasão fiscal. Em suma, propicia ele maior comodidade, economia, eficiência e celeridade na atividade estatal ligada à imposição tributária. Não seria, realmente, de admitir que, diante desses efeitos práticos, decisivos para a adoção da substituição tributária, viesse o legislador a criar mecanismo capaz de inviabilizar a utilização do valioso instituto, com a compensação de eventuais excessos ou faltas, em face do valor real da última operação, determinando o retorno da apuração mensal do tributo, prática que justamente teve por escopo obviar. (Destaques nossos). Trata-se de aspectos da maior relevância que, infelizmente, na instância de prelibação, escaparam a este Relator, levando à suspensão da eficácia da norma contida na Cláusula Segunda do Convênio ICMS nº 013/97, que, justamente, veda a restituição ou a cobrança complementar do ICMS quando a operação ou prestação subseqüente à cobrança do imposto, sob a modalidade da substituição tributária, se realizar com valor inferior ou superior ao presumido.” Voto vencedor do MINISTRO SYDNEY SANCHES: “Sr. Presidente, bem ou mal, o § 7º do art. 150 da C.F. constitucionalizou a substituição tributária, que a antiga legislação infraconstitucional permitia e que nunca foi declarada inconstitucional por esta Corte. E o fez de modo a só assegurar a restituição da quantia paga, caso não se realize o fato gerador presumido. Chegou a essa solução, pela praticidade que a substituição tributária viabiliza, no que concerne à arrecadação. Se se entender que, tanto a complementação quanto a restituição, decorrente do valor da operação subseqüente, devem ser contempladas, então estará esvaziado o próprio instituto da substituição, em seus razoáveis objetivos. E não se deve interpretar qualquer norma jurídica, sobretudo de índole constitucional, que a esvazie ou a torne inócua. Peço vênia, pois, para acompanhar o voto do eminente Relator.” Voto vencedor do MINISTRO MOREIRA ALVES: “Sr. Presidente, esse sistema foi criado justamente para permitir que não houvesse sonegação, afastando-se a dificuldade, praticamente intransponível, de fiscalização nesses casos. Por que o Poder Constituinte Derivado, que estabeleceu que o fato gerador seria presumido mas admitiu que a presunção cederia diante da realidade, na hipótese de o fato presumido não se realizar, e, nesse caso, determinou que houvesse a restituição da quantia paga, não foi além e não declarou também, se o valor recolhido com base na presunção, fosse, na realidade, maior ou menor, que deveria haver ou a complementação dele ou a restituição do pago a maior? Essa distinção se explica, a meu ver, porque, ou o sistema é assim, ou, se ele deixar de ser dessa maneira, o texto constitucional será inócuo, e isso em razão de que se essa questão fica a depender da fiscalização, não haveria explicação para fazer-se, a respeito, uma Emenda Constitucional, pela falta de finalidade de instituto dessa natureza. Assim, Sr. Presidente, com a devida vênia, acompanho o eminente relator.” A decisão fixa o entendimento de que a Constituição Federal admite a substituição tributária para exigir o tributo sobre fato gerador futuro, exigindo a devolução imediata e preferencial do imposto retido quando da não ocorrência do fato presumido, mas não obrigando a restituição por eventual