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5 ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS MARINHOS

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5 ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS MARINHOS
5.1 Aspectos iniciais
 
A comparação, mesmo que superficial entre ecossistemas terrestres e aquáticos, permite identificar aspectos em comum e outros discordantes. Inicialmente, pelo fato de ambos serem sistemas, possuem componentes e funcionamento semelhantes (Figura 25). Ambos necessitam de energia, matéria e organismos para funcionar e como resultado parte da energia é perdida na forma de calor e outra parte é armazenada (RICKLEFS, 2012).
           Contudo, algumas diferenças marcantes existem e ajudam a dar identidade aos respectivos ambientes. Por exemplo, conforme será detalhado adiante, no ambiente marinho a luz é um fator limitante, uma vez que a luz não penetra além dos 200 metros de profundidade (WICANDER & MONROE, 2009). O mesmo não ocorre com os ecossistemas terrestres que possuem na água um fator limitante mais decisivo. Também pelas características da água discutidas na Unidade I deste livro, os ambientes aquáticos passam por variações de temperatura bem menores do que os ambientes terrestres, uma vez que a água retém calor de modo eficiente e libera esse calor aos poucos (GARRISON, 2010). Dessa forma não apenas os elementos abióticos refletem tais condições, como também os elementos bióticos.
          Graças às condições dos corpos d’água seres vivos gigantes puderam se desenvolver e viver, a exemplo das baleias, mesmo sem ter esqueletos muito resistentes, como as lulas gigantes. No entanto, seres minúsculos também encontram na água um meio adequado para sua sustentação e deslocamento, seja no interior da coluna d’água (organismos componentes do plâncton) ou em sua superfície (organismos componentes do plêuston e nêuston) (ESTEVES, 2011).
 
5.2 Estrutura do Ecossistema marinho
Este é o ecossistema mais representativo do planeta cobrindo cerca de 2/3 de sua superfície. Conforme pode ser visto nas figura 12 e 13 os oceanos correspondem aos maiores reservatórios de água do mundo, com cerca de 97,5% do total (TESSLER & MAHIQUES, 2009). No entanto, correspondem a água salgada, salvo casos bem particulares onde pode haver a mistura com água doce, conforme será visto adiante. A distinção entre mares e oceanos se dá em relação ao tamanho. Sobre as grandes massas de água que estão entre os continentes usa-se o termo oceano. Qualquer parte desse oceano que se queira estudar ou mencionar deve ser considerada como mar (Figura 26), podendo, inclusive, receber nomes próprios e diferentes daqueles dos oceanos. Exemplo disso é o que se observa em algumas regiões do Mar Mediterrâneo 
Um critério que auxilia nessa distinção é o de profundidade. Oceanos são profundos, com valores médios pouco acima dos 3 mil metros de profundidade, podendo chegar a mais de 10 mil metros em áreas bastante específicas. Os mares são bem mais rasos, com circulação mais restrita e com maior proximidade com os continentes (GARRISON, 2010).
A partir dessas definições compreende-se que os oceanos do mundo são três, a saber: oceanos Atlântico, Pacífico e Índico (Figura 13). Em classificações recentes os antigos oceanos polares Ártico e Antártico são considerados mares, com profundidades ao redor de 1 mil metros (GARRISON, 2010). Quando observamos o mapa do mundo (Figura 13) e tomamos por base a linha do Equador fica fácil identificarmos uma importante diferença na distribuição dos oceanos. O hemisfério norte tem cerca de 61% de sua superfície coberta por oceanos, ao passo que no hemisfério sul esse valor aumenta para aproximadamente 81% (GARRISON, 2010). Os reflexos dessa diferença podem ser sentidos, entre outros fatores, no clima e na circulação oceânica.
 5.2.1 Bacias oceânicas
           Todo oceano ou mar possui um arcabouço, ou seja, uma estrutura definida que lhe da sustentação e sobre a qual a água se acumula e circula. É o que se chama bacia oceânica. Os continentes são as laterais dessas bacias e seu fundo corresponde a grandes extensões de crosta oceânica (rocha ígnea do tipo basalto) cobertas por rochas e sedimentos (TESSLER & MAHIQUES, 2009; WICANDER & MONROE, 2009).
          Toda essa estrutura faz parte de um grande processo dinâmico do planeta conhecido como Ciclo de Wilson. Ele trabalha com as bases da tectônica de placas e define os processos necessários para abertura e fechamento dos oceanos e, consequentemente, aproximação e afastamento dos continentes. Um ciclo completo envolve a abertura e o fechamento de um oceano (TASSINARI & DIAS NETO, 2009; TESSLER & MAHIQUES, 2009). Esse conhecimento envolve eventos de longa duração e que tem ocorrido, provavelmente, desde que a superfície da Terra se endureceu, há bilhões de anos. Conforme destacado por DIAS et al. (2014) o Ciclo de Wilson está ligado ao processo de abertura e fechamento dos oceanos de um ponto de vista geológico, pois trabalha com os mecanismos formadores e modificadores da crosta terrestre. Normalmente são identificadas duas fases distintas nesse processo, aqui mencionadas de maneira simplificada:
- fase de expansão (ou abertura) com rachadura de um continente e consequente afastamento de suas partes, gerando um espaço entre elas que é ocupado pela água do mar;
- fase de aproximação (ou fechamento) com reaproximação de massas continentais separadas e consequente diminuição da extensão do oceano até seu possível fechamento;
 
          Os locais onde esses movimentos ocorrem são conhecidos como bordas ou limites das placas litosferas. 
    O projeto “Paleomap” permite identificar um pouco dos efeitos do Ciclo de Wilson ao apresentar reconstituições da posição dos continentes e oceanos no passado geológico e até como estarão no futuro. 
          Cada limite desses corresponde a uma área onde a placa está sendo formada ou destruída (TASSINARI & DIAS NETO, 2009; WICANDER & MONROE, 2009). Nos locais de formação da crosta encontra-se um grande conjunto de altas montanhas bem no meio do oceano, chamado cordilheira ou dorsal mesoceânica (Figura 28). É o que ocorre no oceano Atlântico, desde o norte até o sul. No total as cordilheiras mesoceânicas se estendem por cerca de 80 mil quilômetros ao redor do planeta, com montanhas que chegam a 3 mil metros de altitude. Nesse local o magma gerado no interior da Terra encontra oportunidade para chegar à superfície e se solidificar, formando nova rocha ígnea. Esse é o mecanismo que resulta no crescimento dos oceanos, uma vez que as placas crescem em sentidos opostos. Especificamente sobre a área mencionada, o resultado tem sido o afastamento contínuo entre América do Sul e África a uma taxa de cerca de 2,5 centímetros por ano (TESSLER & MAHIQUES, 2009). O mesmo processo ocorre nos demais oceanos. Nada disso pode ser visto por estar submerso, embora na Islândia, grande ilha no círculo polar Ártico, esse processo possa ser acompanhado na superfície.
            Em oposição a esse mecanismo, alguns limites de placas marcam locais de destruição da crosta. São chamadas de fossas e, na maioria das vezes, ocorrem no fundo dos oceanos (Figura 29). Uma dessas estruturas está próxima à costa oeste da América do Sul, dentro do oceano Pacífico. Possuem formato de “V” sento que entre suas margens pode haver distância de 100 quilômetros. Nesses locais as placas estão se movendo em direções opostas o que faz com que uma se mova por debaixo da outra, indo direto para o interior do planeta onde será destruída, num processo conhecido como subducção (TASSINARI & DIAS NETO, 2009; WICANDER & MONROE, 2009). As fossas oceânicas são as evidências desses acontecimentos e podem ser vistas no fundo dos oceanos. Correspondem aos locais mais profundos do planeta, sendo que a fossa das Marianas, nas Filipinas (norte do Pacífico), é o mais profundo com cerca de 11 mil metros de profundidade (TESSLER & MAHIQUES, 2009).
 Uma sequência de fossas oceânicas ao redor do oceano Pacífico é mundialmente conhecida como Círculo ou Anel de fogo do Pacífico, sendo a responsável por muitos eventos de terremotos e erupções vulcânicas em toda a região adjacente.         Contudo, o fundo dos oceanos está longe de ter um relevohomogênio. Existe uma distinção entre o relevo oceânico associado a uma dorsal mesoceânica e aquele associado a uma fossa oceânica. No primeiro caso as laterais da bacia são chamadas de margens continentais passivas e no segundo caso de margens continentais ativas (TESSLER & MAHIQUES, 2009).
· Costa: parte da terra firme em contato com o mar e modificada pela ação deste;
· Plataforma continental: área contígua à costa, possuindo uma inclinação pouco acentuada, e chegando até uma profundidade máxima de 200 metros;
· Talude continental: inicia-se onde a plataforma continental sofre um aumento na inclinação, chegando rapidamente até 1 mil metros de profundidade;
· Elevação continental ou Sopé continental: segue-se ao talude, onde diminui novamente a inclinação, mas atinge profundidades próximas a 4 mil metros;
· Fundo Abissal ou Planície abissal: a inclinação é mínima e podem ser encontradas as Cordilheiras mesoceânicas;
 Note que o importante para esta divisão é a profundidade do oceano e não a distância em relação ao continente. É importante destacar, ainda, que ao longo desse caminho podem ser encontradas diferentes formações como montes submarinos, ilhas vulcânicas, vales e cânions. No caso das margens continentais ativas, devido à proximidade entre fossas oceânicas e continentes, não há como formar as mesmas estruturas de relevo observadas anteriormente. Todas essas características do fundo oceânico associadas às variáveis da água e a influência vinda do continente tornam o ambiente marinho bastante diversificado (TESSLER & MAHIQUES, 2009).
 
5.2.2 Critérios de classificação
 
          Diferentes critérios podem resultar em diferentes divisões do ambiente marinho. De acordo com a necessidade ou interesse é possível dividir o ambiente marinho de acordo com a profundidade, com a distância em relação ao litoral ou de acordo com as características do fundo oceânico, entre outras características (GARRISON, 2010). A figura 31 resume um pouco dessas possibilidades.
    Uma divisão bastante comum e útil do ambiente oceânico é baseada na presença de luz solar. Recebe o nome de zona Eufótica (ou Fótica) a porção de água oceânica mais próxima da superfície, ou seja, aquela que recebe a luz solar e permite sua penetração. A luz solar pode ser vista, mesmo que em pequenas quantidades, até uma profundidade máxima de 200 metros. A partir daí considera-se o início da zona Afótica (sem luminosidade). A importância dos raios solares está ligada aos seres fotossintetizantes (algas e cianobactérias), todos habitantes da região eufótica, fazendo com que essa região concentre a produção primária (fotossíntese), sustente inúmeras formas de vida e participe da estruturação de todos os ecossistemas viabilizando fluxos de energia e matéria entre o mundo abiótico e biótico (WICANDER & MONROE, 2009; GARRISON, 2010).
          A marca de 200 metros de profundidade que delimita a zona Eufótica também é utilizada em uma classificação baseada na profundidade (Figura 31). Nessa classificação corresponde à região Epipelágica. Abaixo dela, entre 200 e 1000 metros de profundidade, estende-se a região Mesopelágica. De 1000 a 4000 metros está a região Batipelágica e em profundidades maiores a região Abissopelágica. É interessante observar que, apesar dos diferentes critérios que podem ser empregados, sempre existe uma correspondência entre os diferentes nomes (GARRISON, 2010).
6 TIPOS DE ECOSSISTEMA MARINHO
6.1 Ecossistema Marinho Costeiro
 
          Essa divisão do ecossistema marinho está relacionada com a influência recebida do continente, através dos processos e produtos que compõem os ecossistemas terrestres. Corresponde, portanto, a um ambiente de transição onde é possível observarmos os elementos marinhos e continentais interagindo (Figura 32) (WICANDER & MONROE, 2009).
          Para seu estudo é necessário que seja estabelecida a região em que os processos serão mais intensos. Essa região é chamada de Zona entre Marés. Corresponde à parte desse ecossistema que está constantemente sendo coberta e descoberta pela variação do nível do mar, causada pelas marés. Em termos mais precisos é a faixa compreendida entre o limite da maré alta (ponto mais alto atingido pelo nível do mar sobre o continente) e o limite da maré baixa (ponto mais baixo atingido pelo nível do mar sobre o continente). É também chamada de mesolitoral. Acima do nível da maré alta está o supralitoral. Abaixo do nível de maré baixa está o infralitoral (GARRISON, 2010).
          A maré é um fenômeno resultante da atração gravitacional da Terra pela Lua e vice-versa. Esses dois corpos celestes estão em equilíbrio e se atraem mutuamente, mas apenas a Terra tem água líquida em sua superfície e com capacidade de reagir a essa atração, deformando-se em direção à Lua (Figura 33). O movimento de rotação da Terra faz com que esse efeito se movimente pelo planeta. O resultado prático de tudo isso é que, ao longo do dia, o nível do mar em todas as partes do mundo passa por sucessivos ciclos de aumento e diminuição  (WICANDER & MONROE, 2009; GARRISON, 2010).
 Embora cause menos efeito do que a Lua, o Sol também influencia nas marés o que pode ser sentido nas marés de sizígia (marés muito altas) que ocorrem nas luas nova e cheia, quando o efeito de atração do Sol se soma ao da Lua por estarem alinhados (GARRISON, 2010).
Um ciclo completo de maré pode ser caracterizado pelos seguintes acontecimentos (GARRISON, 2010):
 Subida do nível do mar por algum tempo, período chamado de “enchente”;
· Chegada a um nível máximo chamado “preamar”;
· Nível alto permanece estacionado por um tempo, período chamado de estofo de enchente;
· Descida do nível do mar por um certo tempo, período chamado de “vazante”;
· Chegada a um nível mínimo chamado “baixa–mar”;
· Nível baixo permanece estacionado por um tempo, período chamado de estofo de vazante; e
· Recomeça o ciclo de subida.
O tempo entre duas marés altas é de 12 horas. Logo, o nível do mar demora 6 horas para subir e 6 horas para descer. Contudo, o desnível, ou seja, a diferença em centímetros entre o nível de maré alta e o nível de maré baixa não é padronizado, podendo variar de poucos centímetros até cerca de 10 metros ao longo do dia.
  Embora não constitua uma regra, normalmente a região entre marés também sofre ação das ondas durante todo o tempo. Ondas são geradas pelo contato do vento com a superfície do oceano. O vento que sopra do mar em direção ao continente causa movimentos discretos na superfície da água que se tornam mais evidentes e fortes quando se aproximam do litoral, como resposta à diminuição da profundidade da água (Figura 34). A energia contida nas ondas é liberada quando elas se chocam com a areia ou as rochas do litoral (WICANDER & MONROE, 2009; GARRISON, 2010).
 Tsunami como o que atingiu o Japão em 2011 é uma sequência de ondas gigantes que podem atingir cerca de 30 metros de altura e viajar pelos oceanos a uma velocidade de até 800 quilômetros por hora. Diferentemente das ondas do dia a dia, sua origem não está relacionada aos ventos, mas sim a terremotos no fundo do oceano.
Assim como o restante do oceano, os ecossistemas costeiros também são influenciados por Correntes Marítimas (ou Oceânicas), especialmente quando se trata de uma área de ressurgência. Contudo este tema será abordado mais adiante, ao tratarmos de ecossistemas marinhos profundos, onde os efeitos das correntes são mais pronunciado e efetivos (WICANDER & MONROE, 2009; GARRISON, 2010). As ondas e marés podem ser consideradas fatores de estresse ambiental nos ecossistemas marinhos costeiros, pois submetem os organismos que ali vivem, ou que estão eventualmente presentes, a condições que fogem do ideal, podendo afetar a movimentação do meio, disponibilidade de água, salinidade, entre outros fatores (WICANDER & MONROE, 2009).
          No caso da diminuição do nível do mar durante a maré baixa, por exemplo, organismos aquáticos (por exemplo, algas, cracas, mexilhões) são expostos ao ar durante algumas horas. Com isso estão submetidos à falta d’água(dessecação) e todos os recursos que dependem dela como oxigenação, alimento, temperatura, etc. Ainda, passam a receber a ação direta dos raios solares, o que acelera a dessecação à medida que a temperatura aumenta. Em termos de oxigenação a exposição ao ar de organismos aquáticos representa um grande problema uma vez que as trocas gasosas não podem ser feitas diretamente com o ar (GARRISON, 2010).
          Em algumas situações específicas relacionadas à presença de grandes rochas no litoral, certa quantidade de água salgada pode ficar represada em depressões, formando poças naturais. Os organismos que estiverem aprisionados ali têm seu suprimento de umidade e oxigênio garantido até a próxima subida da maré. Contudo, o calor excessivo do sol pode fazer parte da água evaporar aumentando a salinidade na poça. Por outro lado, caso chova no local a água terá sua salinidade diminuída pela presença da água doce. Em ambos os casos os organismos passarão por estresse ambiental (GARRISON, 2010).
          No caso das ondas sua maior contribuição para o estresse advém do seu impacto sobre o litoral. A energia liberada pode ser tão grande que organismos são arrancados de seus locais de vida e muitos não tem como retornar a eles. Outro efeito das ondas é sentido nos seres vivos que estão submersos. A movimentação da água faz com que areia e lama que estão no fundo do oceano fiquem em suspensão, aumentando a turbidez e diminuindo a penetração dos raios solares na água. No entanto, também há contribuições benéficas das ondas uma vez que elas aumentam a oxigenação da água (GARRISON, 2010).
          É certo que todos os organismos que vivem nessas condições apresentam adaptações que garantem suas sobrevivências às variações ambientais diárias. No entanto, animais que estejam eventualmente presentes e sejam atingidos pelas variações nas condições ambientais podem não resistir. Estratégias comuns para a manutenção da umidade, vital para os organismos aquáticos, envolvem a ocupação de microhabitats (por exemplo, fendas, buracos, etc.), o desenvolvimento de revestimentos eficientes para o corpo (por exemplo, conchas, tubos, etc.) e a produção de muco. Com isso os organismos conseguem assegurar umidade e oxigenação suficientes para aguentar o intervalo de tempo até a maré subir novamente (Figura 35) (GARRISON, 2010).
 
  A observação atenta da manifestação dessas condições na natureza permite compreender que existem, basicamente, dois tipos de ecossistemas marinhos costeiros, sendo eles, as costas rochosas e as praias arenosas 
6.1.1 Costão rochoso
           Costas rochosas ou costões rochosos correspondem a porções do litoral dominadas pela presença de blocos de rocha de grandes dimensões (Figura 37), chamados de matacões. Geralmente formados por rochas magmática ou metamórfica, podem estar isolados e cercados por areias ou serem contínuos a um relevo de serras ou falésias (GARRISON, 2010), como se vê em grande parte do litoral norte de São Paulo. Constituem um substrato estável e resistente que interage diretamente com as ondas e a variação do nível do mar. A inclinação dessas rochas em relação ao nível do mar também é um fator importante de ser levado em conta nesse tipo de ecossistema (Figura 37) (GARRISON, 2010).
           O contínuo impacto das ondas sobre os costões (Figura 38) promove o intemperismo físico e químico dessas rochas formando partículas de diferentes tamanhos chamadas de sedimentos (por exemplo, areia) (GARRISON, 2010). Mais do que nunca o velho ditado “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura” se faz presente nesse ambiente. Ainda, o impacto da onda causa borrifos de água que atingem regiões da rocha que não recebem a ação direta da água (supralitoral), formando a zona de borrifo ou de spray. Devido à ação de todos esses fatores são criadas condições específicas ao longo das rochas expostas. Nas rochas há regiões mais distantes do nível do mar que recebem apenas o borrifo da água, enquanto outras na região inferior passam poucas horas por dia descobertas durante a maré baixa. Entre esses dois extremos ocorrem outras combinações de condições (GARRISON, 2010).
 Essa variação ao longo do costão rochoso fica mais evidente quando se observa os seres vivos que o colonizam formando faixas horizontais numa estrutura conhecida como zoneamento ou estratificação do costão rochoso. Cada faixa é ocupada por uma espécie de organismo marinho (por exemplo, algas, cracas, mexilhões, poliquetas), com espécimes distribuídos pelo espaço que reúne as condições adequadas ao seu desenvolvimento (Figura 39). Acima ou abaixo dessa faixa se desenvolve outra, com outro ser vivo que estará adaptado a condições levemente diferentes daquelas necessárias a seus vizinhos (GARRISON, 2010).
  Cada faixa é composta por muitos indivíduos, mas que pertencem a uma ou poucas espécies. A ação das ondas nesses locais pode ser tão intensa que muitos deles são arrancados e jogados ao mar. No entanto, os seres vivos que passam sua vida nessas condições possuem estratégias e estruturas que garantem ótima fixação na rocha e, portanto, previnem contra a ação das ondas (Figura 40) (GARRISON, 2010).
 Ainda nos costões rochosos pode haver a formação das poças de maré ou seja, depressões, fendas ou espaços entre rochas que podem acumular a água salgada quando atingidas pela maré alta. Assim, alguns seres vivos (por exemplo, caranguejos, pepinos do mar, peixes, gastrópodes) podem ter acesso ao local e, eventualmente, ficarem aprisionados lá. Foi mencionado anteriormente o estresse ambiental relacionado a esses ambientes, mas vale a pena lembrar que esses locais dificilmente representam o local definitivo de moradia de algum ser vivo, devido ao seu caráter efêmero (GARRISON, 2010).
 6.1.2 Praia arenosa
           Embora também sofra influências de ondas e marés, as praias arenosas ou costas arenosas, possuem muitos aspectos particulares. Correspondem a acumulações naturais de sedimentos do tipo areia (Figura 42), com composição variada (por exemplo, grãos de quartzo, conchas moídas) e que podem ser facilmente carregados pelas ondas e pelo vento. Por tudo isso não corresponde a uma superfície rígida e estável, podendo mudar suas características rapidamente, de acordo com as forças atuantes no ambiente. Devido a essas interações podemos observar que em locais de ondas fortes e constantes a faixa de areia é estreita, possui grande inclinação e os grãos são grandes. Por outro lado, em locais com ondas fracas a faixa de areia é bem larga, possui inclinação suave e os grãos são bem pequenos (WICANDER & MONROE, 2009; GARRISON, 2010).
           De maneira similar aos costões rochosos também existem as regiões de supralitoral, mesolitoral e infralitoral, embora não seja muito evidente o limite entre as duas primeiras. Momentos de ausência de água e exposição aérea também ocorrem, mas seus efeitos são mais brandos. Devido a sua característica instável as praias arenosas não são colonizadas em sua superfície (Figura 43). No entanto, muitos animais (por exemplo, caranguejos, bivalves, poliquetas) escolhem esse ambiente para viverem enterrados, encontrando abaixo da superfície um ambiente mais estável para passarem parte do dia ou da vida. Outra diferença está no fato de que a maioria dos animais quando perturbados e retirados do local em que vivem, podem fazer novas escavações em outros lugares e continuarem vivendo (GARRISON, 2010).
 6.1.3 Estuários
           Frequentemente as praias arenosas ou com costões rochosos recebem a desembocadura (ou foz) de um rio, formando um ambiente particular chamado de estuário. Também conhecido como delta, o estuário representa o final de um sistema fluvial (rio) chegando ao oceano através de um ou mais canais entrelaçados (Figura 44) (WICANDER & MONROE, 2009). Quando ocorrem em áreas tropicais do planeta e possuem vegetação específica (isto é, o mangue) podem ser chamados de manguezais. Devido às características diferentes desses dois corpos d’água (rio e oceano) cria-se na região um conjunto de condições próprias,distintas dos demais ecossistemas costeiros vistos até o momento (GARRISON, 2010).
   Todo estuário está sujeito às ações das ondas e das marés. Contudo, o rio está ali para participar da interação. Durante a maré baixa o rio consegue avançar para dentro do oceano, lançando suas águas em seu interior. Contudo, na maré alta a água do oceano é capaz de avançar rio acima, ocupando temporariamente seu leito e fazendo com que suas margens sejam inundadas. Essa alternância de condições ocorre com a mesma frequência das marés e causa grande estresse ambiental (WICANDER & MONROE, 2009).
          Um ponto fundamental é relacionado à salinidade. Além da alternância de condições marinhas e dulcícolas (água doce) há mistura dessas duas águas fazendo com que surja a condição de água salobra. Além da salinidade outras características ambientais também variam nesse local em virtude das águas serem diferentes. Entre elas podemos citar a oxigenação, nutrientes disponíveis, temperatura, transparência da água (turbidez), movimentação da água, etc. As margens estão frequentemente cobertas de lama e detritos orgânicos trazidos pelo rio e depositados nos momentos de alagamento. Por conta disso o solo nesses locais é considerado instável, lamacento e com baixo teor de oxigênio, uma vez que esse gás é muito consumido na decomposição da matéria orgânica contando, ainda, com o típico cheiro de decomposição (GARRISON, 2010).
 O fenômeno conhecido como pororoca ocorre nesse tipo de ecossistema ao redor do mundo. Chamada de onda de maré, forma-se quando há uma maré extremamente alta que avança pelo canal do rio por até 50 quilômetros, empurrando a água doce e gerando a onda. Embora seja um fenômeno interessante, é bastante destruidor pela força com a qual as águas se movem.
          Os seres vivos que habitam esses locais devem ter as adaptações necessárias para suportar tamanha variação. Nos manguezais, por exemplo, as árvores do mangue possuem, pelo menos, três adaptações importantes: a) glândulas de sal nas folhas, que fazem a secreção do excesso de sal proveniente da água; b) raízes adventícias do tipo escora, para conseguir estabilidade no terreno instável; e c) raízes do tipo pneumatóforos, que permitem a realização de trocas gasosas diretamente com o ar, evitando o solo encharcado e sem oxigênio. De maneira semelhante, crustáceos (por exemplo, caranguejos, camarões), moluscos (por exemplo, ostras, mexilhões) e peixes que vivem nesses ambientes devem ser euritópicos (tolerantes a grandes variações de componentes ambientais) (GARRISON, 2010).
 Para ser considerado um manguezal é necessário que existam as árvores do mangue (por exemplo as espécies Rhizophora mangle e Laguncularia racemosa), mas esta não é a única vegetação presente, podendo ser encontradas plantas epífitas (por exemplo, bromélias, orquídeas, samambaias), algas, musgos e líquens.
          A despeito de todas as dificuldades, os estuários são, reconhecidamente, ecossistemas muito procurados por diferentes tipos de animais terrestres e aquáticos. Muitos vão em busca de alimento. Quando a maré baixa e as margens do rio de estuário ficam livres da água sobra um verdadeiro banquete para predadores, filtradores e decompositores. Nesses locais o alimento aparece na forma de matéria orgânica em decomposição, nutrientes dissolvidos na água ou mesmo os habitantes do local (por exemplo, crustáceos e peixes). Outros procuram os estuários em busca de proteção contra predadores, uma vez que seu canal fluvial raso e estreito e as margens proporcionam refúgios contra grandes predadores marinhos. Por esses motivos relatados também são importantes locais para reprodução, garantindo a proteção e alimentação adequadas para os filhotes de muitos animais (GARRISON, 2010).
 O rio Amazonas lança suas águas no oceano Atlântico equatorial. Devido ao seu tamanho e volume de água a maré não desempenha grande papel em seu estuário, uma vez que a força das águas consegue entrar no oceano até uma distância aproximada de 200 quilômetros, fazendo com que água doce seja encontrada em pleno mar aberto.
6.2 Ecossistema Marinho Aberto
           São considerados ecossistemas marinhos abertos aqueles que não apresentam influência direta dos continentes. Desenvolvem-se, portanto, na própria estrutura das bacias oceânicas. Até certo ponto as condições ambientais são mais estáveis do que nas proximidades dos continentes (GARRISON, 2010).
          Conforme comentado anteriormente a profundidade média dos oceanos está próxima dos 3 mil metros, embora haja partes bem mais profundas. Embora a salinidade tenha praticamente os mesmos valores em todas as partes do oceano aberto, outros fatores como oxigênio dissolvido, temperatura e nutrientes, só para citar alguns, podem variar bastante (GARRISON, 2010).
          Costuma-se dividir as águas oceânicas em águas de superfície e águas de fundo, embora essa não seja uma divisão muito precisa. As águas de superfície estão em contato com a atmosfera, com quem realizam trocas de gases e de temperatura. Normalmente são águas mais quentes, bem iluminadas, com alto teor de oxigênio, baixo teor de nutrientes e a sede da produção primária do oceano, uma vez que concentra os organismos planctônicos fotossintetizantes. Em contraposição, as águas de fundo estão muito distantes da superfície (zona afótica) e praticamente não contribuem para a produção primária, embora sejam ricas em nutrientes, mas pobres em oxigênio. Dessa forma, observamos que algumas das características das águas profundas são necessárias para os ambientes mais próximos da superfície. Fazendo a comunicação entre esses dois compartimentos estão as correntes oceânicas (GARRISON, 2010).
 6.2.1 Correntes oceânicas
 Correspondem a massas de água salgada, com características distintas, que se movimentam no interior dos oceanos. São diferentes, pois possuem salinidade e/ou temperaturas diferentes. Tem como função, entre outras coisas, promover a transferência de calor, nutrientes e oxigênio entre as regiões do planeta (GARRISON, 2010) (Figura 46). As grandes correntes oceânicas têm trajeto fixo no planeta, parte percorrido por correntes de fundo e parte por correntes de superfície. Além dessas grandes correntes há outras menores, mais localizadas e que se movem apenas pela superfície (GARRISON, 2010).
 As correntes oceânicas se movem graças a um mecanismo fundamental chamado corrente de convecção, baseada no princípio de Arquimedes, e que forma uma célula de circulação em fluidos, como o ar e a água. Essa movimentação da água é gerada por temperaturas diferentes. Nos oceanos das altas latitudes (regiões polares) a água de superfície se resfria muito. Parte dela se congela e forma os bancos de gelo sobre o oceano. Outra parte da água não congelou, mas teve sua densidade aumentada pelo resfriamento e se movimenta para as partes fundas do oceano, se movendo rumo às baixas latitudes (região equatorial). Para que esse processo continue cada vez mais água da superfície passa por esse processo de resfriamento, empurrando ainda mais a água gelada profunda. Com isso se forma também uma corrente superficial de água que vem das baixas latitudes e, por isso, é quente (GARRISON, 2010).
     A medida que ela se aproxima das altas latitudes se resfria e é direcionada para o fundo. Na outra extremidade da corrente, a água que está se movendo junto ao fundo, vindo das altas latitudes, começa a se aquecer nas proximidades das baixas latitudes o que faz com que ela chegue à superfície. Dessa forma se estabelece o intercâmbio de águas da região equatorial (baixas latitudes) com águas das regiões polares (altas latitudes). Essas são as correntes térmicas. Outro mecanismo que influencia na formação de correntes é a diferença de gradiente de salinidade. Nesse caso, massas de água se movem em relação a outras por possuírem quantidades diferentes de sal. São chamadas de correntes halinas. Por fim, correntes superficiais e de pequenas dimensões podem ser causadas pelo vento (GARRISON, 2010).
 Arquimedes, filósofo grego, identificouuma relação física conhecida como Princípio de Arquimedes e é explicada da seguinte forma: “Um corpo ao ser mergulhado num líquido, sofre a ação de uma força de sentido ascensional, de baixo para cima, cujo módulo é igual ao peso do fluido deslocado pelo corpo”.
Sendo assim, podemos considerar que os oceanos moderam o clima no planeta através da diminuição das diferenças de temperatura entre as várias regiões. As águas superficiais captam calor da atmosfera nas áreas mais quentes ou liberam calor para ela nas regiões mais frias. Águas quentes têm maior evaporação e geram mais umidade do ar. Dessa maneira são eficientes tanto na transferência de temperatura quanto de umidade entre as regiões. Vale lembrar que a capacidade térmica da água é muito grande e o planeta tem cerca de 71% de sua superfície coberta por água (GARRISON, 2010).
As águas frias que se movem junto ao fundo são pobres em oxigênio dissolvido, pois estão muito distantes da superfície para poderem captá-lo da atmosfera. No entanto, em seu caminho junto ao fundo absorve os nutrientes que são gerados nessa região e se torna rica nesse componente. Assim, correntes de fundo são frias, com pouco oxigênio, mas muito ricas em nutrientes. Com as águas de superfície o processo é justamente o inverso (GARRISON, 2010).
 6.2.2 Temperatura das águas e seus efeitos
           Os nutrientes que são abundantes nas águas frias de fundo são importantes para os organismos planctônicos da superfície, uma vez que contribuem para o processo de produção primária, base de toda a cadeia alimentar oceânica. Para que haja o contato dos nutrientes com os organismos é necessário que a água fria seja desviada para a superfície, o que ocorre conforme ela se aproxima da região equatorial. No entanto, em outras áreas o relevo do fundo do oceano pode fazer com que ocorra um desvio nas correntes frias de fundo e elas cheguem diretamente até a superfície, perto da costa, formando as regiões conhecidas como áreas de ressurgência (GARRISON, 2010). No Brasil, a região de Cabo Frio (RJ) é uma tradicional área desse tipo, assim como a costa do Peru, no oeste da América do Sul. O efeito prático desse fenômeno é que uma grande quantidade de nutrientes é trazida à superfície, o que faz com que a produtividade primária seja alta e impulsione todas as cadeias alimentares da região. Por esse motivo o Peru é um dos grandes produtores mundiais de pescados marinhos (GARRISON, 2010).
          A temperatura das águas de superfície também está relacionada a alguns fenômenos climáticos. O El Niño Oscilação Sul (ENOS em português, ou ENSO, em inglês), ou simplesmente El Niño, é um exemplo disso (Figura 47). Nos anos em que esse fenômeno acontece nas águas superficiais do oceano Pacífico, em sua porção equatorial, aumentam sua temperatura e, com isso, aumentam a evaporação em toda a área. Ajudado pelo enfraquecimento dos ventos alísios na região, toda a circulação do ar se modifica nessa faixa do globo, afetando a temperatura e a precipitação em diversos países e levando seca ou chuvas em excesso a áreas não acostumadas a essas condições. Quando as condições são opostas, ou seja, quando a temperatura das águas superficiais diminui, ocorre o fenômeno conhecido como La Niña, relacionado a outras alterações nos padrões de precipitação e temperatura ao redor do planeta (GARRISON, 2010).
 
    Conheça um pouco mais sobre fenômeno El Ñino assistindo ao documentário produzido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE.
          Esses são ecossistemas conspícuos e fascinantes, conhecidos por sua grande diversidade e abundância de vida (Figura 48). Podem estar relacionados a ambientes costeiros ou de mar aberto, dependendo do tipo de formação (WICANDER & MONROE, 2009).
 Há milhões de anos, antes do aparecimento dos corais formadores de recifes, os recifes eram formados por tipos extintos de esponjas (Filo Porifera) chamados de arqueociatídeos (CARVALHO, 2004).
          Toda estrutura denominada de recife é feita por corais, mas nem todo coral é capaz de formar recifes. Corais são animais, invertebrados, marinhos, coloniais e pertencentes ao Filo Cnidaria (Figura 49). Aqueles capazes de formar recifes pertencem aos grupos dos hexacorais e octocorais, sendo chamados, genericamente, de hermatípicos (HICKMANN et al., 2004).
 São ecossistemas muito complexos. Neles há mais espécies, mais hábitos alimentares, mais tipos de reprodução, crescimento, predação, simbiose e locomoção do que em qualquer outro ecossistema marinho (GARRISON, 2010).
  Esses animais vivem em colônias de muitos indivíduos chamados pólipos e cada um produz seu esqueleto calcário (de carbonato de cálcio) sobre o qual se desenvolve e que se une aos demais, formando os recifes (Figura 50). Sucessivas gerações de corais e de outros invertebrados sésseis (fixos) (por exemplo, esponjas, cnidários, bivalves, algas calcárias) vão se sobrepondo aos esqueletos antigos aumentando o tamanho da estrutura recifal (HICKMANN et al., 2004).
 Alguns tipos de corais são chamados de Zooxantelados, pois desenvolveram uma simbiose com algas (dinoflagelados fotossintetizantes) do grupo das Zooxanthelas, que ocupam suas células e fornecem carbono em troca de suporte e proteção (HICKMANN et al., 2004).
          Os corais formadores de recifes precisam de condições bem específicas para viver e se desenvolver, sob pena de morrerem ou serem predados caso essas condições não sejam atendidas (Figura 51) (HICKMANN et al., 2004). Algumas das condições exigidas são:
· Boa oxigenação para garantir suprimento de O2 aos corais;
· Águas claras, ou seja, sem sedimentos em suspensão para evitar o recobrimento dos corais por areia ou lama;
· Águas salgadas, não tolerando mistura com água doce;
· Águas não poluídas, evitando a morte dos cnidários;
· Boa iluminação, especialmente quando houver simbiose com os dinoflagelados;
· Temperatura entre 23ºC e 25ºC (não devendo ir abaixo de 18oC) o que é mais comum em regiões Tropicais, embora existam recifes em regiões mais frias;
· Toleram ação de ondas de baixa intensidade;
· Não toleram muita exposição ao ar, devendo ficar abaixo da linha da maré baixa;
· Profundidade não deve ser muito maior que 25 metros para garantir que as condições acima ocorram;
 Os principais fatores de destruição dos recifes são a pesca e caça predatórias que desequilibram o ecossistema, a água de lastro dos navios que trazem doenças, predadores e competidores para o sistema e a poluição das águas (GARRISON, 2010).
          Devido à restrição de profundidade os recifes são encontrados próximos aos continentes, normalmente paralelos à linha de costa. Dessa maneira formam os chamados recifes em forma de franja ou barreira . 
Contudo, há um tipo que se forma em mar aberto e é chamado de atol (Figuras 53, 54). Embora estejam em mar aberto se formam sempre ao redor de uma ilha vulcânica, cujas encostas submersas servem de base para seu desenvolvimento e fornecem condições semelhantes àquelas encontradas perto da linha de costa. Como se forma ao redor de uma ilha vulcânica todo atol acaba tendo um contorno circular ou elíptico (Figura 54) (WICANDER & MONROE, 2009).
 Barreira de corais australiana é a unida estrutura natural construída por um ser vivo que pode ser vista da Lua. Na realidade é um conjunto de recifes de diferentes tamanhos que se estende por aproximadamente 2300 quilômetros no litoral nordeste da Austrália.
          Quando se observa um atol já bem desenvolvido, a ilha vulcânica que lhe deu sustentação não está visível (Figura 54). Isso ocorre ao longo dos anos quando o intemperismo (por exemplo, chuva, ondas, variação de temperatura) desgasta a rocha que está acima do nível do mar. Após esse processo o que sobra bem próximo à superfície é o contorno do recife que se formou ao redor da ilha. Em alguns casos o recife é largo o suficiente para acumular areia em sua parte superior e desenvolver até vegetação (WICANDER & MONROE, 2009).
 6.2.4 Reservas de petróleo
         Recentemente o tema petróleo ganhou um interesse muito grandepara os brasileiros pela descoberta de grandes reservas no fundo oceânico, chamadas genericamente de Pré sal.
          A palavra Petróleo faz referência ao óleo que está no interior das pedras (rochas). Trata-se de um combustível fóssil formado por longas cadeias de hidrocarbonetos. Sua formação se da através de um processo longo (milhões de anos) e que exige condições naturais bastante específicas, o que coloca o petróleo na categoria de recurso natural não renovável (TEIXEIRA et al., 2009).
Para sua formação é preciso que uma grande quantidade de restos orgânicos se acumule em um ambiente sem oxigênio (isto é, anóxico). Os restos orgânicos podem ser de variados tipos, embora a maior contribuição venha de microrganismos (por exemplo, algas e protozoários). A condição anóxica é fundamental, pois evita a decomposição da matéria orgânica que ocorreria numa condição oxigenada. A matéria orgânica não pode ser perdida porque terá que ser transformada para formar o petróleo. Normalmente os ambientes que permitem esse conjunto de condições são os aquáticos com água parada como, por exemplo, pântanos e fundos de oceanos (TEIXEIRA et al., 2009).
 O carvão mineral é outro exemplo de combustível fóssil. Sua origem é muito parecida com a do petróleo, mas a principal matéria orgânica é vegetal (TEIXEIRA et al., 2009).           À medida que os restos orgânicos se acumulam vão se juntando aos materiais minerais que circulam pelo ambiente como areia e lama. Ao longo dos milhares e milhões de anos de acumulação essa mistura de matéria orgânica e mineral sofre dois processos: a) vai se transformando em uma rocha sedimentar; e b) vai causando alterações na composição e estrutura da matéria orgânica através da ação de pressão e temperatura. Como resultado final, temos uma rocha com óleo em seu interior, ou seja, petróleo, e também gás natural (TEIXEIRA et al., 2009).
          Conforme já mencionado, o fundo oceânico é formado por muitas rochas sedimentares, e muitas delas podem conter petróleo. A propósito, petróleo pode ocorrer, também, em rochas que estão nos continentes. No caso brasileiro, antes da descoberta do Pré sal, já havia exploração de petróleo em reservas do fundo oceânico, mas nenhuma tão volumosa quanto aquelas descobertas recentemente (Figura 55). Para explorar o petróleo do Pré sal é necessário que os equipamentos cheguem a cerca de 2 mil metros de profundidade do oceano e escavem cerca de 5 mil metros de rochas sedimentares até chegar à rocha reservatório .
 Em tempo, dois esclarecimentos são necessários:
· petróleo ocupa os poros de uma rocha, de modo semelhante à água que ocupa os poros de uma esponja, sendo, portanto, errônea a ideia de que ele está em uma cavidade gigante no interior das rochas;
· o nome “Pré sal” vem do fato de o petróleo estar sendo mantido no fundo oceânico pela presença de uma rocha especial formada por uma grossa camada de sal;
ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS CONTINENTAIS
7 ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS CONTINENTAIS
7.1 Aspectos iniciais
 Em contraste com os ecossistemas marinhos, os ecossistemas aquáticos continentais se desenvolvem sobre os continentes e são influenciados diretamente por estes. Mas seus efeitos também são sentidos nos continentes. O fato de não possuírem grandes dimensões, serem relativamente rasos, não estarem todos interligados e responderem pouco à atração da Lua e do Sol, faz com que esses ecossistemas não tenham ondas, marés e correntes oceânicas. Contudo, respondem a uma série de condições próprias dos continentes como a inclinação do relevo, a resistência das rochas e as variações das condições climáticas. Como resultado surgem corpos de água totalmente diferentes dos oceânicos.
7.2 Ecossistemas aquáticos continentais lóticos
Quando se trata de ecossistemas aquáticos costuma-se utilizar muito as palavras Pluvial e Fluvial. Embora semelhantes têm significados bastante distintos. A primeira faz referência à chuva, enquanto a segunda faz referência aos rios.
Os ambientes lóticos contrastam com os ambientes lênticos (Item 7.3) uma vez que sua movimentação é muito mais efetiva e seus contornos mais dinâmicos. Trata-se dos rios e suas variantes quanto ao tamanho e denominação, tais como, riacho, córrego, regato, arroio, igarapé, etc. Esse tipo de ambiente é chamado de fluvial. De acordo com SUGUIO & BIGARELLA (1990) rio pode ser definido como um corpo de água corrente confinada num canal .
 Possuem como características principais a água sempre doce e a movimentação horizontal e unidirecional das correntes. A água irá se deslocar entre dois pontos quaisquer, sempre respeitando o gradiente de altitude, ou seja, daquele que estiver numa altitude maior para o que estiver numa altitude menor. Com isso forma-se um fluxo unidirecional da água (SUGUIO & BIGARELLA, 1990; WICANDER & MONROE, 2009). Conforme diz o ditado popular, água não sobe morro... Chamamos de bacia hidrográfica o conjunto de rios que drenam uma determinada região. Em qualquer ponto do rio é possível fazer referência a alguns padrões geográficos. Os termos nascente (ou cabeceira) e foz (ou estuário) representam, respectivamente, os locais de origem e final do rio (Figura 58). Quando se diz que determinada condição ocorre à montante significa que está localizada entre aquele ponto e a nascente. Quando se diz que determinada condição ocorre à jusante significa que está localizada entre aquele ponto e a foz.
 A área ocupada pelas águas é chamada de canal (leito ou calha), sendo delimitado pelas margens. Ao longo das margens uma determinada área pode ser alagada nos períodos de cheia correspondendo à região de várzea (SUGUIO & BIGARELLA, 1990).
     Vale a pena conferir o documentário “Entre rios” que conta a história dos principais rios da cidade de São Paulo e as modificações causadas pela urbanização. 
 7.2.1 Dinâmica dos rios
           A existência de um gradiente de altitude é fator fundamental para todo rio. No entanto, a diferença de altitude entre a nascente e a foz determina a velocidade e energia do fluxo. Quanto maior a diferença de altitude mais rápido e mais forte o fluxo. Sendo assim, o relevo tem papel decisivo nesse processo por ser ele quem determina a diferença de altitude. Rios podem funcionar como elementos de ligação entre rios, entre lagos ou entre lagoa e oceano. Rios que se ligam a outros rios para formar um canal maior são chamados de afluentes ou rios tributários (Figura 58) (SUGUIO & BIGARELLA, 1990). Alguns rios correm por terrenos que contém cavernas. Ao encontrarem aberturas no solo, chamadas de sumidouros, entram por elas e passam a correr no interior das cavidades subterrâneas.
           Além da velocidade, o volume de água pode variar. Para isso o fator determinante é a origem dessa água. Rios que possuem abastecimento de água constante são chamados de perenes (Figura 59), e aqueles que recebem água na estação chuvosa e desaparecem na estação seca são chamados de efêmeros ou intermitentes (SUGUIO & BIGARELLA, 1990). Um rio pode ser abastecido por água subterrânea (do lençol freático que forma as minas ou olhos d’água), por um lago, pela chuva ou pelo derretimento do gelo acumulado nas montanhas ou geleiras. Normalmente mais de uma fonte de água é necessária para manter o rio funcionando. Em todas essas situações o volume de água despejado nos rios pode variar, mas normalmente é definido pelos fatores climáticos, ou seja, quanto mais chuva mais água disponível nos ambientes. Na época de chuva os rios passam pelo período de cheia podendo, inclusive, receber mais água do que cabe em seu canal. Isso faz o rio transbordar e as águas ocupam as áreas vizinhas às margens, chamadas de várzeas (SUGUIO & BIGARELLA, 1990).
     Uma ótima fonte de informações sobre rios, desde seus tipos, passando pela estrutura e dinâmica, é a obra de Kenitiro Suguio e João José Bigarella intitulada “Ambientes fluviais” de 1990.           Quando se leva em conta a quantidade de água e sua velocidade é possível ter ideia dos efeitos produzidos por um rio na paisagem. Um dos efeitos pode ser visto na largurae profundidade do canal. Rios de locais inclinados, como áreas montanhosas, possuem canais estreitos e profundos, com formato semelhante à letra “V”. Isso ocorre porque a grande velocidade e força das águas escava o fundo do canal deixando mais profundo do que largo.
Por outro lado, rios de áreas planas têm águas mais lentas e seu canal assume o formato semelhante a uma letra “U” achatada, sendo largo e raso (SUGUIO & BIGARELLA, 1990; WICANDER & MONROE, 2009). Muitos rios são longos o suficiente para apresentarem uma variação do canal ao longo do caminho, isso porque nascem em uma área montanhosa e, conforme se afastam dela, passam a correr sobre áreas mais planas. Como se não bastasse, o traçado também muda de acordo com as características da água. Águas mais velozes produzem canais retilíneos, enquanto águas mais lentas produzem canais mais sinuosos (com curvas). Assim, o formato e contorno do canal acompanham a dinâmica das águas em cada trecho (SUGUIO & BIGARELLA, 1990; WICANDER & MONROE, 2009). O controle do movimento das águas em um rio ou reservatório é o conceito fundamental de uma usina hidrelétrica, uma das fontes de energia mais usadas no mundo.
           Faz parte da dinâmica dos rios os processos de escavação, transporte e deposição de material (Figura 62). Pedaços de rocha (sedimentos) e solo de diferentes tamanhos são arrancados das margens e do leito dos rios, sendo esse trabalho mais eficiente quanto mais força e velocidade a água tiver (WICANDER & MONROE, 2009). Esse material é então transportado em direção à foz, podendo ser depositado no canal, na região de várzea ou serem levados até a foz (por exemplo, no oceano) dependendo da força das águas (SUGUIO & BIGARELLA, 1990).
  O Grand Canyon nos Estados Unidos da América é um exemplo marcante da ação dos rios na paisagem. O rio Colorado desgastou a superfície ao longo do tempo formando vales que chegam a ter 1200 metros de profundidade.
Outro padrão observado é quanto ao tamanho dos pedaços de rocha transportados, ou seja, os sedimentos. Águas rápidas podem transportar desde os maiores e mais pesados (chamados de cascalho) até os menores e mais leves (chamados de argilas) sedimentos. Quando a velocidade da água diminui também cai a capacidade de transporte de material (Figura 63) (SUGUIO & BIGARELLA, 1990; WICANDER & MONROE, 2009).
 Na foz do rio Amazonas é possível observar a água doce levando sedimentos até uma distância de 200 quilômetros mar adentro.
Na região amazônica é possível observar o encontro das águas escuras do rio Negro com as águas claras e barrentas do rio Solimões (Figura 63). O primeiro carrega muita matéria orgânica que retira da floresta e pouco sedimento. No segundo ocorre justamente o inverso.
7.2.2 Áreas alagáveis
  Áreas planas cortadas por vários rios são fortes candidatas a se tornarem áreas alagáveis, ou seja, a receberem o excesso de água dos rios durante o período de cheia ou durante todo o tempo. São também chamadas de áreas pantanosas ou wetlands. Áreas da região amazônica chegam a registrar aumento de até 10 metros no nível da água dos rios e todo esse excesso de água ocupa as várzeas e seus arredores (PIEDADE et al., 2005). A despeito dessa alternância de condições secas e alagadas, essas áreas têm sido ocupadas pela população humana que busca sua grande fertilidade para cultivar seu sustento. De fato, nas épocas de cheia dos rios a água traz sedimentos (por exemplo, lama e areia) e nutrientes a esses locais. Quando a água está presente apresenta pequena profundidade. Mesmo assim os sedimentos causam turbidez na água e impedem que a luz penetre fundo na água (PIEDADE et al., 2005). O fato de permanecer parte do tempo submersa limita o crescimento de vegetação, que normalmente é composta por plantas rasteiras e herbáceas, de rápido ciclo de vida, e adaptadas às alternâncias entre fase aquática e fase terrestre. O ciclo de vida das espécies vegetais e seu período de crescimento dependem da duração do ciclo hidrológico. No entanto a vegetação se beneficia da riqueza de nutrientes e valores de pH do solo e da água. Por todos esses fatores são importantes indicadores das condições ecológicas locais (PIEDADE et al., 2005).           A fauna, embora possa se deslocar para fugir do alagamento, também deve apresentar adaptações ao regime alternado. Em cada fase são observadas diferentes relações ecológicas entre grupos diferentes de animais (por exemplo, insetos, peixes, anfíbios, mamíferos) (PIEDADE et al., 2005).
Todo esse cenário apresenta como pontos importantes:
 É importante como sistema de retenção de nutrientes, sedimentos e metais pesados;
· Participa da regulação do ciclo hidrológico;
· Tem capacidade de controlar enchentes;
· São áreas de reprodução de espécies animais;
· Contribuem para a manutenção da biodiversidade.
Na América do Sul a Bacia Amazônica e o Pantanal são duas conhecidas áreas alagáveis. No sudeste dos Estados Unidos também existe a região conhecida como everglades.
7.3 Ecossistemas aquáticos continentais lênticos
 Ambientes lênticos têm como característica fundamental a baixa velocidade da movimentação de suas águas. Tal fato traz uma série de consequências para o ecossistema, o que o torna bem diferente dos ecossistemas lóticos. Correspondem aos lagos, lagoas, lagunas, açudes, represas e demais reservatórios de água (Figura 65). Limnologia é o nome que se da à área da Ciência responsável pelo estudo desses ambientes (ESTEVES, 2011).
 
   São corpos de água que ocupam depressões existentes na superfície do planeta e que pelas suas limitações de espaço e isolamento de outros corpos de água possuem hidrodinâmica reduzida (pouco movimento). Geralmente são preenchidos por água doce, embora esta não seja uma característica definidora desse tipo de ambiente. Para todas essas condições há exceções, como é o caso das lagunas e lagos de regiões áridas, nos quais condições particulares fazem com que tenham características próprias ou se comportem de maneira um pouco diferente dos demais (por exemplo, Mar Morto) (RICCOMINI et al., 2009; ESTEVES, 2011).
O mar Morto, entre Israel e Jordânia, apesar do nome corresponde a um grande lago de água salgada, isolado do oceano e recebendo água do rio Jordão. Com salinidade cerca de dez vezes maior do que a do oceano, tem diminuído de tamanho devido à grande evaporação do local.
          A origem dos ambientes lênticos está relacionada a diversos fatores naturais (RICCOMINI et al., 2009), tais como:
 Tectônica: gerados por movimentos próprios da crosta e manto terrestres;
· Vulcanismo: a abertura localizada no topo de um vulcão inativo pode acumular água bem como o magma resultante de uma erupção pode interromper o canal de um rio causando seu represamento;
· Glaciação: geleiras são grandes acúmulos de gelo que, embora pareçam inertes, possuem uma movimentação efetiva que causa desgaste da superfície por onde passa, gerando as depressões;
· Dissolução da água: o intemperismo químico da água pode dissolver gradualmente alguns tipos de rocha, deixando uma depressão em seu lugar;
· Atividade fluvial: rios com traçado serpentiforme (curvilíneo) podem causar isolamento de pequenos trechos de seu canal através dos processos de erosão e deposição de material;
· Depósitos de origem orgânica: algumas plantas nas margens dos rios podem crescer exageradamente e passar a acumular detritos barrar o rio formando pequenas lagoas;
· Deslizamentos: solo ou rochas podem cair das encostas de vales e obstruir o rio;
· Ação do oceano: ondas carregam e acumulam areia e outros materiais ao longo da costa podendo criar corpos de água isolados;
· Origem meteorítica: embora incomum, há casos de lagos que ocupam o espaço criado pelo impacto de meteoros na superfície do planeta;
· Represas artificiais: construções realizadas pelo ser humano para atender suas necessidades.
A origem do lago define suas características morfológicas e morfométricas básicas (por exemplo, área, comprimento, largura, profundidade, perímetro, etc.), embora seja um ambiente em pleno processo de desenvolvimentoe que pode mudar com o tempo e com a dinâmica terrestre (RICCOMINI et al., 2009). A água que preenche um ambiente lêntico pode vir de diferentes lugares. As chuvas e os rios talvez sejam as principais fontes de água para estes ambientes. Águas subterrâneas (aquíferos) são fontes importantes de água, sobretudo em regiões mais secas ou de regime de chuvas irregular ao longo do ano, como acontece com os Oasis de regiões desérticas. Não se pode esquecer, entretanto, da água de degelo, proveniente de montanhas ou de geleiras que vai alimentar rios que levam, por sua vez, as águas até os lagos (KARMANN, 2009; RICCOMINI et al., 2009).
         Oásis são lagos de água doce em pleno deserto. Sua condição perene está associada aos aquíferos e não à frequência das chuvas ou contribuição dos rios. Devido à umidade a vegetação pode crescer nas margens.           Lagunas são tipos particulares de ambientes lênticos. Sua principal característica é receber contribuição de água do mar e de água dos rios. Assim, estão sempre localizadas no litoral, separadas do oceano por uma faixa de areia e com presença de água salobra. A comunicação com o oceano é feita através de canais que permitem a entrara da água salgada quando a maré sobe. Já com os rios a comunicação é direta através de estuários (RICCOMINI et al., 2009).
           Todos esses fatores fazem com que as condições ambientais em uma laguna sejam altamente variáveis ao longo do dia e ao longo do ano. Há fauna e flora locais, adaptadas às variações, mas também há animais que chegam junto com as marés altas, vindo através dos canais diretamente do oceano, e encontram ali um local de condições muito estressantes (ESTEVES, 2011).
 A lagoa Rodrigo de Freitas, localizada na região sul da cidade do Rio de Janeiro, é, tecnicamente, uma laguna, pois recebe águas dos rios que descem as encostas dos morros e tem ligação com o mar através de canais. Este fato pode ser comprovado pela qualidade salobra de suas águas.
7.3.1 Caracterização dos ambientes lênticos
           O estudo de diferentes ambientes lênticos ao redor do mundo possibilitou a identificação de uma estrutura interna marcada pela profundidade e pela influência de alguns fatores (ESTEVES, 2011). Podem ser identificadas as seguintes regiões .
 
· Litorânea
· Pelágica ou limnética
· Bentônica ou Profunda
· Interface água - ar
 
 
Ecossistemas continentais lênticos e seus diferentes compartimentos.
A região litorânea corresponde à região do lago que está em contato direto com o ecossistema terrestre (margens), recebendo influência direta, e sendo, portanto, um ecótono .A chuva que escorre pelo continente arrasta para dentro do ambiente lêntico uma grande quantidade e variedade de sedimentos, nutrientes, detritos orgânicos (por exemplo, folhas, galhos, animais mortos, etc.) de modo a tornar a região litorânea uma localidade com condições bastante variáveis (ESTEVES, 2011).
Na maioria das vezes caracteriza-se pela densa colonização por vegetação aquática (por exemplo, macroalgas, briófitas, pteridófitas, etc.) .Sua ocorrência e dimensões dependem de características morfométricas do ambiente lêntico, como tamanho, profundidade e relação entre perímetro e volume, sendo fundamental, por exemplo, que os raios solares cheguem ao fundo dessa região para permitirem a germinação e o crescimento da vegetação. Dessa forma, é possível compreender por que em muitos ambientes lênticos a região litorânea é pouco desenvolvida ou está ausente, como é o caso de lagos profundos (origem vulcânica) ou represas, onde as margens são muito inclinadas e não permitem o crescimento da vegetação. A salinidade de ambientes com água salgada ou salobra também representa um sério limitador para o desenvolvimento da vegetação litorânea (ESTEVES, 2011). A presença da vegetação atrai animais (terrestres e aquáticos) (por exemplo, gastrópodes, insetos, crustáceos, peixes, aves, etc.) em busca de alimento, proteção ou descanso. Estes animais acabam atraindo outros, fazendo com que as relações ecológicas estejam bem presentes e as cadeias alimentares formadas incluam todos os níveis tróficos. A vegetação contribui, também, com muita biomassa vegetal morta, importante fonte de energia para as cadeias alimentares, contribuindo para o surgimento e manutenção da biodiversidade aquática (ESTEVES, 2011).
Em contraste com a região litorânea a região limnética (Figura 70) é bastante homogênea horizontalmente, mas pode variar bastante verticalmente, apresentando o que se costuma chamar de estratificação química e física. Nesses casos, valores de concentração de oxigênio, pH, salinidade e temperatura podem variar entre a superfície e partes mais profundas. Todas essas variações dependem da interação com o clima, especialmente a temperatura do ar, e serão tratadas mais adiante. Embora a penetração dos raios solares diminua com a profundidade, a luz não costuma ser um fator limitante nessa região, a não ser em lagos muito profundos, em casos em que haja aumento da turbidez (sedimento na água) ou eutrofização (proliferação de algas na superfície) (Figura 73). A parte da região limnética que recebe luz é chamada de zona eufótica e aquela que permanece escura é chamada de afótica (ESTEVES, 2011).
  Com relação aos habitantes dessa região merecem destaque o plâncton (por exemplo, vírus, bactérias, algas, protozoários, fungos e invertebrados), localizado próximo à superfície, e o nécton (por exemplo, peixes), com movimentação livre por toda a região. Plâncton é o conjunto de seres vivos que sem capacidade de se moverem livremente, necessitando da movimentação da água para se deslocar. Nécton é o conjunto de seres vivos que, como os peixes, podem se mover livremente em todas as direções. Os organismos aquáticos que vivem junto ao fundo do corpo de água são chamados de bentônicos. 
A região bentônica corresponde ao fundo dos ambientes lênticos, tanto na região litorânea quanto na limnética (Figura 70). É formada principalmente por sedimentos, mas também são encontradas quantidades variadas de restos biológicos como conchas, galhos e folhas. Conta, ainda, com a possibilidade de ser colonizado por diferentes seres vivos bentônicos (por exemplo, algas, macrófitas aquáticas, bactérias, protozoários, etc.) (ESTEVES, 2011).
Variação horizontal pode ser observada quando recebe materiais diferentes conforme a distância das margens. Por exemplo, grandes lagos têm mais areia na região bentônica próxima às margens, ao passo que lama predomina no centro do lago. Sendo assim, é um local importante pelo desenvolvimento de intensa atividade biogeoquímica geradora de nutrientes (ESTEVES, 2011).
Lacustre é uma palavra relacionado aos lagos muito usada em ecologia e geologia.
Por fim, mas não menos importante existe a interface água – ar, ou seja, a superfície do corpo d’ água (Figura 70). É o local de trocas gasosas entre água e atmosfera, bem como a porta de entrada para raios solares, poeira e chuva. É habitada por duas comunidades chamadas de nêuston e plêuston formadas, respectivamente por organismos microscópicos (por exemplo, bactérias, fungos e algas) e macroscópicos (por exemplo, macrófitas aquáticas e animais). A presença desses organismos se deve à tensão superficial da água (ESTEVES, 2011).
 7.4 Aquíferos
 Embora não sejam, tecnicamente, considerados ecossistemas, os aquíferos são importantes reservatórios naturais de água que podem abastecer os ecossistemas aquáticos continentais. Também chamadas de águas subterrâneas ou lençol freático correspondem à água que se acumula no subsolo. Essa água fica armazenada em pequenas cavidades das rochas chamadas poros, ou então em rachaduras (KARMANN, 2009).
De maneira análoga, essas rochas funcionam como grandes esponjas que absorvem e retém as águas das chuvas. Ao se infiltrar no solo, a água passa pela zona não saturada até chegar às regiões mais profundas chamadas de zona saturada, onde se acumula Parte da água infiltrada no solo fica disponível para as raízes das plantas e para outros seres vivos, podendo, ainda, evaporar e voltarpara a atmosfera (KARMANN, 2009).
 A superfície que marca o contato entre a zona não saturada e a zona saturada é chamado de lençol freático. Este é o nível de água que se forma quando um poço é perfurado . A infiltração da água no solo é a maneira como o aquífero se recarrega. É importante manter áreas naturais na superfície para que esse mecanismo seja garantido. No entanto esse processo natural está cada vez mais ameaçado pela urbanização, impermeabilização da superfície e poluição de águas dos rios e lagos. Isso coloca em risco o abastecimento dos aquíferos e a qualidade de suas águas (KARMANN, 2009). Em virtude da grave crise de água que atinge o sudeste brasileiro, os aquíferos têm sido sugeridos como alternativas de fonte de água limpa nas áreas mais afetadas.
Portanto, em épocas chuvosas a infiltração de água é maior e o nível do lençol freático sobe. Na época de estiagem ocorre o inverso. A água subterrânea está em constante movimento fluindo lentamente através dos poros da rocha e do solo. Ao infiltrar e circular no subsolo a água passa por um processo de filtragem e purificação natural, onde se livra das impurezas que possa ter. Dessa forma a qualidade das águas dos aquíferos é considerada boa e própria, inclusive, para o consumo humano. Dependendo das características da região suas águas podem se aquecer no subsolo ficando com temperaturas de até 45º C, o que possibilita o seu uso também para o turismo (KARMANN, 2009). O Aquífero Guarani está presente no subsolo dos estados do centro oeste, sudeste e sul do Brasil além de países vizinhos como Paraguai, Uruguai e Argentina, sendo um dos principais reservatórios do mundo.
  VARIAÇÕES EM ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS
8.1 Dinâmica dos elementos bióticos e abióticos
           Ambientes lóticos são reservatórios de água com características particulares. Devido à eficiência dos ciclos biogeoquímicos, recebem influências constantes que os tornam ambientes muito dinâmicos. Exemplo disso pode ser facilmente observado em lagos de regiões temperadas que são muito influenciados pelas condições climáticas próprias de cada estação do ano. No inverno pode haver o congelamento da superfície do lago, fazendo com que ele se torne totalmente isolado do meio externo. Nessas condições deixa de receber água e nutrientes tendo que manter o equilíbrio apenas com seus recursos próprios. A comunidade de animais e plantas locais sofrem as consequências do isolamento e da baixa temperatura, colocando em prática estratégias de sobrevivência a essas condições como a diminuição do metabolismo, no caso de animais, e a dormência de gemas, no caso dos vegetais (ESTEVES, 2011).   Com o final do inverno as temperaturas sobem no outono, o gelo derrete e o lago ganha em dinamismo, voltando a receber água e materiais diversos (por exemplo, sedimentos e nutrientes) da superfície. Essas condições causam circulação das águas do lago fazendo com que a água quente e oxigenada da superfície seja deslocada para o fundo enquanto a água fria e nutritiva do fundo é levada para a superfície. Com isso a comunidade planctônica é a principal beneficiada com oxigênio, luminosidade e nutrientes que chegaram até a superfície, e rapidamente retomam os níveis de densidade anteriores ao inverno (ESTEVES, 2011).
 Dinâmica populacional. Fatores fundamentais na definição do tamanho da população. Para definir qual irá atuar em dado momento é necessário observar as condições oferecidas pelo ambiente.
No verão algo curioso acontece que interrompe o funcionamento equilibrado do lago. Devido à intensidade dos raios solares e sua penetração decrescente na água do lago, a cada novo dia a água da superfície se aquece rapidamente, causando uma estratificação térmica, ou seja, a água do lago apresenta três camadas com temperaturas e densidades diferentes, o que impede a mistura entre elas. Na realidade, a estratificação térmica causa uma estratificação química (ESTEVES, 2011). Assim, são definidas as camadas:
 Epilímnio: superficial, geralmente corresponde à zona eufótica, quente, com oxigênio e sem nutrientes;Metalímnio: intermediária, com mudança brusca na temperatura;Hipolímnio: inferior, geralmente corresponde à zona afótica, fria, sem oxigênio e com nutrientes; Dessa forma, sem circulação não ocorre o fornecimento de nutrientes para as camadas superiores e a produção primária (atividade do fitoplâncton) cai drasticamente. Na primavera ocorre um cenário parecido com o descrito acima para o outono. Toda essa variação é comum em lagos mais profundos. Nas regiões tropicais e subtropicais, onde as condições climáticas são naturalmente mais quentes, os lagos mais profundos são frequentemente afetados pela estratificação da água (ESTEVES, 2011).
          É interessante notar que para cada uma das condições ambientais os seres vivos desenvolveram adaptações de modo a torna-los aptos a viverem nos ecossistemas aquáticos. A busca por recursos naturais, a competição e fuga de predadores são pressões ecológicas fortes que modelam a forma e funcionamento dos seres vivos. Plantas dos estuários e manguezais apresentam mecanismos para lidar com o excesso de sal além do solo ácido, sem oxigênio e instável (ESTEVES, 2011).  Animais que se alimentam de seres marinhos, como as gaivotas que comem peixes e as tartarugas marinhas que comem águas vivas, necessitam de estruturas específicas chamadas de glândulas de sal para eliminar o excesso de sal ingerido com o alimento. Muitos peixes quando adultos vivem em um tipo de ambiente e na época de reprodução migram para outro. O salmão e a tainha são duas dessas espécies. Quando adultos vivem no oceano e na época da reprodução migram para os rios para desovar e permitir que os filhotes se desenvolvam. Ao atingirem a idade adequada fazem o caminho de volta ao oceano. Esse comportamento é chamado de anádromo. Quando o sentido da migração é do rio para o mar o comportamento é chamado de catádromo (MOYES & SCHULTE, 2010). Qualquer que seja o organismo observado, suas populações irão sempre apresentam um comportamento dinâmico (chamado dinâmica populacional), em decorrência de fatores como taxa de natalidade, taxa de mortalidade e dispersão dos indivíduos (emigração e imigração). Tais comportamentos são influenciados por fatores dependentes da densidade populacional (número de indivíduos em relação à área que ocupam) e seus acessos a recursos naturais como alimento e espaço. Assim, as populações tendem a aumentar ou diminuir em direção a valores de equilíbrio. Esse é um comportamento natural das populações ao longo do tempo (RICKLEFS, 2012).
Exemplo disso é o que ocorre com populações de pequenos organismos de vida curta, que podem flutuar enormemente em pequenos intervalos de tempo. O fitoplâncton pode aumentar e diminuir em poucos dias ou semanas. A diferença em relação às populações de organismos grandes e de vida longa é o tempo de resposta às mudanças ambientais. Como o intervalo de tempo entre uma geração e a geração seguinte é de algumas horas as populações de algas unicelulares crescem muito mais rapidamente do que as populações de peixes ou crustáceos, cujo intervalo entre as gerações é de meses. Dessa forma as comunidades se recuperam bem mais rapidamente quando o grupo afetado é dos microrganismos (ESTEVES, 2011; RICKLEFS, 2012).
Um fenômeno possível de ocorrer nos ambientes lênticos é chamado eutrofização (Figura 73). Corresponde ao aumento da concentração de nutrientes (principalmente fósforo e nitrogênio), tendo como consequência o aumento da produtividade primária (ESTEVES, 2011). Esse processo pode ser natural ou artificial. Ocorrendo naturalmente consiste em um processo lento e contínuo, com as chuvas trazendo nutrientes Corresponde, portanto, ao que se chama de envelhecimento natural do lago. Quando ocorre artificialmente, ou seja, quando é causado pelo homem, os nutrientes podem ter diferentes origens (por exemplo, efluentes domésticos ou atividades agrícolas) (ESTEVES, 2011). Qualquer que seja a causa a eutrofização é sempre um processo que causa mudanças qualitativase quantitativas nas comunidades aquáticas, nas condições físicas e químicas do meio e no nível de produção do sistema, podendo ser considerada uma forma de poluiçã. A chegada da grande quantidade de nutrientes em um curto espaço de tempo faz com que os produtores primários (fitoplâncton) se desenvolvam rapidamente causando consumo rápido do oxigênio dissolvido na água e cobertura da superfície impedindo a entrada de luz na água. Assim, toda a cadeia alimentar fica comprometida (ESTEVES, 2011).
   Assim como ocorre com outros parâmetros do ambiente os nutrientes devem circular na medida certa e no tempo certo. Sua presença se faz Necessária na zona de produtividade, ou seja, próximo à superfície onde será usada pelo plâncton. Contudo o nutriente não é produzido ali e o que chega vindo do continente não é suficiente. Se os nutrientes não são produzidos onde são mais úteis, como ocorre o contato entre essas duas partes? A resposta para isso é a circulação da água que promove a regeneração dos nutrientes, ou seja, seu retorno à zona de produtividade (SUGUIO, 2006; GARRISON, 2010; ESTEVES, 2011). Nutrientes são produzidos de maneira lenta e gradual nas camadas mais profundas dos corpos de água (por exemplo, lagos e oceanos), Ficam armazenados nos sedimentos do fundo ou passam automaticamente para a água presente nessas localidades. Para atingirem a camada superficial da água dependem da circulação (Figura 80) (SUGUIO, 2006; GARRISON, 2010; ESTEVES, 2011).
   8.2 Sobrepesca e sobreutilização dos recursos hídricos
 Há, desde o início da raça humana, uma integração entre homem e água. Retiramos dos reservatórios água para nossa hidratação, higiene, atividades domésticas, rurais e industriais. Praticamos esportes nela. Retiramos alimento dela. Some-se a isso uma população mundial que só aumenta. Com relação tão íntima é de se esperar que os ecossistemas aquáticos acabassem sofrendo com nosso uso exagerado de seus recursos. Sendo assim, serão apresentadas algumas informações que demonstram o lado desagradável de nossa relação dom os ecossistemas aquáticos. Especialistas no uso dos oceanos agrupam os serviços ecossistêmicos dos oceanos em sete grandes categorias (JURAS, 2012), a saber:
· regulação do clima e de gases atmosféricos;
· regulação de perturbações e controle de erosões;
· ciclagem de nutrientes e tratamento de efluentes;
· controle biológico, hábitat e recursos genéticos;
· alimentos e produção de matérias-primas;
· recreação e cultura;
· transporte e segurança.
Parte desses serviços também se aplica aos ecossistemas aquáticos continentais. No entanto, qualquer um desses ecossistemas sofre com diversos problemas resultantes da utilização de seus recursos pelo ser humano. De uma maneira geral as principais ameaças aos sistemas ecológicos aquáticos (JURAS, 2012) são:
1. Sobrepesca;
2. contaminações geradas em terra;
3. derrames de petróleo e lançamentos de resíduos;
4. destruição de ecossistemas costeiros;
5. erosão costeira ou litorânea;
6. mudança do clima.
Nota-se que as ameaças ocorrem tanto para o recurso hídrico (água) quanto para a biota que nele reside. Um desses problemas é a sobrepesca, ou seja, a retirada dos ambientes naturais de grandes quantidades de pescado, quantidades essas que são superiores à capacidade de reprodução dos animais, o que resulta no desequilíbrio ambiental.
          A pesca é, talvez, o principal causador de problemas ambientais ai ecossistema marinho. Junto com a aquicultura foi responsável por abastecer o mundo com 148 mihões de toneladas de peixes em 2010 e aproximadamente 154 milhões de toneladas em 2011, para se ter uma ideia. A sobrepesca causa consequências ecológicas negativas e também reduz a produção pesqueira, com graves consequências sociais e econômicas (JURAS, 2012). Um exemplo vem do Brasil. De acordo com DE SOUZA (2007) na década de 60 houve o crescimento das indústrias de transformação do pescado gerando mudanças nos instrumentos e técnicas de pesca. Tal fato causou o aumento da produção pesqueira, mas por não haver a preocupação com a reprodução natural do pescado, a década de 70 foi marcada pela queda da produção pesqueira o aumento da importação do pescado. Associado à sobrepesca há outro problema grave que consiste na captura acidental ou incidental de espécies de peixes que não as espécies alvo, além de aves, tartarugas e mamíferos. Dados de 2009 revelam que, para cada 10 toneladas de peixes capturados de forma intencional, outras quatro toneladas de animais foram capturadas e descartadas (JURAS, 2012).
· captura de recursos não explorados;
· aperfeiçoamento dos métodos empregados;
· uso de métodos sustentáveis;
· métodos de conservação do pescado a bordo para aumento de valor comercial;
· ensino formal e não formal, desde as crianças até os pescadores para que percebam que a atividade pesqueira está interligada à preservação do ambiente e das espécies capturadas.
 Outro aspecto negativo da utilização dos recursos hídricos é a perda de biodiversidade aquática (JURAS, 2012) que resulta de:
 destruição dos habitats naturais (conversão de áreas naturais em áreas para aquicultura);
· crescimento urbano e industrial;
· sedimentação em zonas costeiras dos sedimentos vindos da agricultura (desmatamento);
· falta de sedimentos pelo barramento excessivo dos rios;
· disseminação de espécies invasoras (acidental ou deliberada) como, por exemplo, água de lastro dos navios;
· contaminação das águas por agrotóxicos e fertilizantes, resíduos tóxicos industriais e dejetos humanos sem tratamento;
· sobre-explotação, isto é, captura de recursos pesqueiros (peixes, moluscos, crustáceos e algas) em quantidades superiores à sua capacidade de reprodução;
· mudanças climáticas.
É possível afirmar que o Brasil conta com os instrumentos legais necessários para consolidar, em nível federal, estadual e municipal, a conservação, a proteção e a exploração sustentável do meio marinho e dos recursos biológicos associados. Contudo, faltam mecanismos eficientes para que isso se torne realidade. Além disso, há carência de informações sobre a ocupação e os impactos sobre a Zona Costeira e os ecossistemas marinhos que sejam confiáveis, atualizadas e com o grau de detalhamento necessário para as ações de planejamento necessárias (JURAS, 2012). Os recursos hídricos, especialmente aqueles em ecossistemas continentais, quando utilizados de modo irregular ou sem consciência demonstram esse abuso de diversas formas. Exemplo importante vem da exploração exagerada dos aquíferos. Várias regiões pelo mundo apresentam escassez natural de água em suas superfícies, devido a situações climáticas específicas de cada local. Ainda, problemas climáticos passageiros como períodos de seca gerada pelo El Ñino, podem atingir áreas que sempre foram ricas em rios, lagos e represas, deixando os estoques de água de superfície muito desfalcados. Uma boa alternativa nas duas situações é a água dos aquíferos. Apesar de estarem mais protegidas do que as de superfície, as águas dos aquíferos também sofrem com a má exploração e contaminação. Extrair mais água do que a capacidade de recarga do aquífero, ou seja, a quantidade capaz de infiltrar no solo e devolvê-lo ao nível normal (HIRATA et al., 2009), é conhecido como super. exploração e pode acarretar:
· Esvaziamento do reservatório;
· Diminuição do fornecimento, o que causa aumento de custos na exploração;
· Desequilíbrio nos ecossistemas que dependem da água desse aquífero;
 Há, ainda, problemas de contaminação relacionados às atividades humanas industriais, domésticas e rurais (HIRATA et al., 2009). No Brasil a super. exploração dos aquíferos é pouco observada. Exemplos são encontrados em cidades litorâneas que têm um adensamento populacional e se utilizam de poço para suprir as necessidades da população. A falta de fiscalização e de conhecimento tem feito com que problemas aconteçam em especial a recarga do aquífero com água salgada, o que inutiliza o poço para utilização humana (HIRATA et al., 2009).

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