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MÓDULO DOR ABDOMINAL – P1 | Luíza Moura e Vitória Neves ICTERÍCIA INTRODUÇÃO A icterícia é um dos sinais propedêuticos mais importantes na gastroenterologia. É caracterizada pela coloração amarelada da pele e das mucosas, decorrente do aumento da bilirrubina total no sangue circulante (hiperbilirrubinemia). 1. Quando o nível de bilirrubina plasmática se aproxima de 3 mg/dL (50 mcmol/L), é perceptível a cor amarelada das escleróticas, membranas mucosas e pele. Esse sinal é primeiramente percebido pelo paciente ou pelas pessoas de seu convívio nas escleróticas. 2. Quando a bilirrubina aumenta rapidamente, a icterícia não se manifesta até valores de 3 mg/dL. 3. Ao contrário, quando a bilirrubinemia está diminuindo, tem icterícia com valores de bilirrubina de somente 1,5 mg/dL. Isso porque, para ser visível, a bilirrubina deve se ligar a escleroproteínas da pele e mucosas em quantidades suficientes e esse processo requer de 1 a 2 dias. E quando a bilirrubina está diminuindo, o processo para eliminar o pigmento fixado nos tecidos é mais lento. Legenda: icterícia das escleras Identificar a causa da icterícia é importante para a conduta terapêutica (tratamento clínico ou cirúrgico). A cirurgia em paciente com doença hepatocelular é geralmente acompanhada de morbidade e mortalidade significativas; Por outro lado, atraso na indicação cirúrgica quando há obstrução do fluxo biliar pode expor o paciente a riscos de colangite, septicemia e falência renal. QUADRO CLÍNICO Aproximadamente 75-80% dos casos de icterícia são diagnosticados com base em: Boa história clínica; e Minucioso exame físico. Mas exames laboratoriais selecionados podem ser utilizados para confirmar o diagnóstico, em 15-20% dos casos, o diagnóstico é possível apenas com o uso de uma variedade de testes laboratoriais. A!! E em torno de 5-10% dos casos, a biópsia hepática ou a cirurgia exploradora são necessárias para estabelecer um diagnóstico definitivo. ANAMNESE Informações preciosas a respeito da etiologia podem ser obtidas: IDADE DO PACIENTE Em jovens há maior frequência de hepatites e doenças hemolíticas; MÓDULO DOR ABDOMINAL – P1 | Luíza Moura e Vitória Neves Em adultos ocorrem hepatites, hepatotoxinas e doenças do trato biliar; Em idosos, doenças malignas. SEXO Em homens, predominam cirrose, obstrução por neoplasia e hepatites; Nas mulheres, ocorre aumento da frequência de icterícia obstrutiva por cálculos, neoplasia de vesícula biliar e cirrose biliar primária. OCUPAÇÃO É importante investigar contato com hepatotoxinas. Então, pessoas expostas a: Substâncias tóxicas: plantas, agrotóxicos e gases inalantes; e Contato com material infectado. DURAÇÃO DOS SINTOMAS Nas hepatites virais, raramente a icterícia persiste por mais de um mês; Já nas neoplasias, pode ter duração mais arrastada. Pacientes com cirrose biliar primária ou doenças hemolíticas, p. ex., podem ter icterícia persistente. PERDA DE PESO Mais exuberante nos casos de cirrose ou neoplasias. A!! A perda de peso nos cirróticos pode ser mascarada pela ascite concomitante. SINTOMAS PRODRÔMICOS Podem anteceder em alguns dias a icterícia das hepatites virais: Anorexia, mal-estar, mialgia, fadiga, náuseas, vômitos, febre baixa e artralgia. FEBRE Presença de febre, principalmente se associada a calafrios e à dor abdominal (quadrante superior direito), deve-se pensar em cálculo obstruindo a via biliar, como na colecistite aguda. PRURIDO Mais frequente em icterícias obstrutivas e em doenças colestáticas de modo geral. SANGRAMENTO TGI Quando em grande quantidade, suspeitar de ruptura de varizes de esôfago (hipertensão portal); Quando de pequena monta, pode sugerir neoplasia de vias biliares (carcinoma da ampola de Vater pode cursar com fezes “prateadas”, conseqüente à combinação das fezes de cor de argila com sangue – Sinal de Thomas). A!! Distúrbio de coagulação com hipoprotrombinemia pode ser a causa do sangramento. EPISÓDIOS HEMORRÁGICOS Pacientes com icterícia podem apresentar sangramento por alguns mecanismos: Na icterícia obstrutiva, em que há deficiência de vitamina K, sangram por hipoprotrombinemia; e No dano hepático severo apresentam sangramento por trombocitopenia, fragilidade capilar e hipoprotrombinemia. ICTERÍCIA CURSANDO COM CRISES DE DOR ABDOMINAL Sempre pensar em doenças obstrutivas da via biliar (principalmente cálculos). PRESENÇA OU NÃO DE PIGMENTO BILIAR NA URINA E NAS FEZES A presença de bile na urina sugere aumento dos níveis de bilirrubina direta, por isso é preciso buscar causas de icterícia após a conjugação da bile (injúria hepatocelular e doenças colestáticas). MÓDULO DOR ABDOMINAL – P1 | Luíza Moura e Vitória Neves A ausência de pigmento biliar nas fezes (acolia fecal) é consequente da obstrução do fluxo biliar ao intestino, achado frequente nas icterícias colestáticas. Legenda: A: Presença de pigmento biliar na urina, caracterizando colúria. B: Fezes esbranquiçadas, típica acolia fecal. CONFUSÃO MENTAL Episódios de confusão mental, achado frequente na cirrose hepática descompensada. Importante questionar aos familiares. GESTAÇÃO Pode cursar com icterícia consequente à: 1. Colestase gravídica: doença geralmente benigna, cursa com prurido intenso, muitas vezes incapacitante. Após 48 a 72 horas do parto, os sintomas tendem a regredir. 2. Esteatose aguda da gravidez: doença potencialmente fatal, costuma ocorrer no terceiro trimestre de gestação e, se não for tratada, pode evoluir para insuficiência hepática fulminante com coagulação intravascular disseminada (CIVD), sangramentos gastrintestinal e uterino, insuficiência renal e morte. 3. Pré-eclâmpsia, eclâmpsia e síndrome HELLP (hemólise + aumento de enzimas hepáticas + plaquetopenia). HISTÓRIA PRÉVIA DE CIRURGIAS ABDOMINAIS Icterícia imediatamente após colecistectomia sugere obstrução do ducto biliar comum por ligação acidental ou cálculos residuais. Icterícia algum tempo após colecistectomia pode estar relacionada ao estreitamento do ducto biliar comum ou também à presença de cálculos residuais. ANTECEDENTES PESSOAIS História pregressa de doenças hepáticas ou desordens hemolíticas; Uso de medicamentos; Legenda: Drogas relacionadas à hiperbilirrubinemia (mecanismo de colestase ou de injúria hepatocelular) Epidemiologia para leptospirose. ANTECEDENTES FAMILIARES História familiar de icterícia, especialmente quando curada com esplenectomia: pensar em doenças hemolíticas. Esses pacientes apresentam com frequência história de litíase biliar. HÁBITOS DE VIDA Uso de drogas ou ervas e álcool; Exposição a substâncias tóxicas; Fatores de risco para hepatites ou infecção pelo HIV; Viagens recentes. MÓDULO DOR ABDOMINAL – P1 | Luíza Moura e Vitória Neves EXAME CLÍNICO INSPEÇÃO Icterícia de pele e mucosas: observar escleras e região inferior da língua; Presença de xantomas: achado frequente em doenças colestáticas, como a cirrose biliar primária. Escoriações de pele: consequentes ao ato de coçar (prurido crônico). Pigmentação da pele: típica na hemocromatose. PALPAÇÃO Aumento das parótidas: relacionado ao etilismo crônico. Anel de Kayser-Fleischer: doença de Wilson. Sinal de Courvoisier: icterícia indolor associada à vesícula palpável. Sinal de Murphy: súbita exacerbação da dor com a suspensão da inspiração durante a compressão do ponto cístico. Esplenomegalia isolada ao exame físico (praticamente exclui icterícia obstrutiva). Sinais de doença hepática crônica ou hipertensão portal, como: Ascite, esplenomegalia, aranhas vasculares, ginecomastia, eritema palmar, perdade pilificação, hálito hepático, flapping (figuras abaixo). Legenda: Pacientes com hepatopatia crônica em que se evidenciam: (A) ginecomastia e perda da pilificação; (B) equimose; (C) edema periférico. Legenda: Paciente com hepatopatia crônica em que se evidenciam: ascite volumosa, hérnia umbilical e circulação colateral no abdome. DIAGNÓSTICO Qualquer processo patológico que interfira nos processos de produção, transporte, conjugação, secreção ou eliminação da bilirrubina pode elevar seus níveis. O diagnóstico diferencial das causas de hiperbilirrubinemia é extenso. MÓDULO DOR ABDOMINAL – P1 | Luíza Moura e Vitória Neves Assim, é importante que faça de forma sistemática para estreitar as causas e da forma mais específica possível. O primeiro passo é observar qual das moléculas de bilirrubina está mais elevada: Indireta (não-conjugada); ou Direta (conjugada). A!! Como o hepatócito é o ponto em que a bilirrubina é conjugada, pode concluir que a causa está antes ou no hepatócito, se houver elevação de bilirrubina indireta. A!! E se for aumento da bilirrubina direta, a causa está após o ponto de conjugação, do hepatócito em diante. CAUSAS DE AUMENTO DA BILIRRUBINA INDIRETA Assim, como causas de elevação de BI, podem-se considerar: 1. Aumento da produção de bilirrubina. 2. Diminuição da entrada da bilirrubina no hepatócito. 3. Diminuição da conjugação no hepatócito. Legenda: diagnóstico diferencial da hiperbilirrubinemia não-conjugada. O próximo passo é avaliar o hemograma e as provas de função hepática. HEMOGRAMA No hemograma, deve-se observar principalmente o nível de hemoglobina. Se for baixo, aguda ou crônica, é possível que a causa seja um processo hemolítico. A!! O nível de reticulócitos também pode ajudar a determinar a presença de anemia hemolítica. Se a causa do aumento da BI é hemólise, deve-se diferenciar se é intra ou extravascular. Nesse momento, avalia-se o nível de haptoglobina, proteína que normalmente se liga aos produtos da lise dos eritrócitos. Quando diminuída, a causa da hemólise é intravascular; Se normal, é extravascular. Quando os níveis de bilirrubina indireta estão elevados, mas a hemoglobina está dentro do limite da normalidade, pode-se descartar com segurança causa hemolítica. Nesse caso, devem-se analisar os valores dos testes de função hepática. PROVA DE FUNÇÃO HEPÁTICA Se ALT (alanino aminotransferase), AST (aspartato aminotransferase) e fosfatase alcalina (FA) estão normais, conclui que o problema está na entrada da bilirrubina no hepatócito ou na sua conjugação. Por outro lado, quando há aumento dos testes de função hepática, pode-se concluir que há dano celular, assim, o hepatócito torna-se incapaz de conjugar a bilirrubina de forma adequada. DESORDENS CONGÊNITA Dentre as desordens congênitas que resultam em aumento da bilirrubina não-conjugada, a síndrome de Gilbert é a mais frequente, acometendo 3- 10% da população (tabela abaixo). MÓDULO DOR ABDOMINAL – P1 | Luíza Moura e Vitória Neves Legenda: características das desordens congênitas que cursam com aumento da bilirrubina não-conjugada SÍNDROME DE GILBERT É caracterizada por uma hiperbilirrubinemia indireta benigna que ocorre na ausência de hemólise ou doença estrutural do fígado. Embora tenha sido recentemente associada a hiperbilirrubinemia e outros efeitos colaterais na utilização de algumas drogas como o Indinavir e Irinotecan. Se manifesta por episódios intermitentes de icterícia, desencadeados por exposição a estressores físicos, baixa ingestão calórica, entre outros. SÍNDROME DE CRIGLER-NAJJAR A síndrome de Crigler-Najjar também cursa com hiperbilirrubinemia indireta. Caracteriza-se por icterícia não-hemolítica, congênita, na qual se observa defeito na conjugação da bilirrubina. Pode ser dividida em dois grupos: Tipo 1: desordem rara, em que a atividade da enzima bilirrubina UGT-1 (bilirrubinaUDP-glucoronosil-transferase) está ausente, é caracterizada por icterícia e severo dano neurológico; Tipo 2: a atividade enzimática encontra-se reduzida, apresenta evolução benigna, levando apenas à limitação social pela presença de icterícia crônica. A maioria dos pacientes não apresenta dano neurológico ou déficit intelectual. CAUSAS DE AUMENTO DE BILIRRUBINA DIRETA 1. Distúrbio no transporte para fora do hepatócito. 2. Distúrbio na saída do sistema biliar. Legenda: diagnóstico diferencial das causas adquiridas de hiperbilirrubinemia conjugada Alguns sinais indicam aumento da bilirrubina direta, como: Presença de prurido; e Presença de bilirrubina na urina (BD é solúvel em água). HIPERBILIRRUBINEMIA DIRETA Na presença de hiperbilirrubinemia direta, os próximos exames laboratoriais a serem analisados serão: Fosfatase alcalina (FA); e Gamaglutamiltransferase (GGT). 1. Quando BD, FA e GGT estão elevadas, conclui-se que o problema é na árvore biliar. Deve sempre pensar em causas obstrutivas, como colelitíase, tumor pancreático etc. 2. Quando há aumento da BD, mas FA normal, a causa provável é defeito na secreção do hepatócito, como: Síndromes de Dubin-Johnson e de Rotor. MÓDULO DOR ABDOMINAL – P1 | Luíza Moura e Vitória Neves Legenda: desordens genéticas associadas à elevação da bilirrubina conjugada SÍNDROME DE DUBIN-JOHNSON É caracterizada por hiperbilirrubinemia direta, não-hemolítica, de caráter autossômico recessivo. Geralmente, é diagnosticada após a puberdade e costuma exacerbar após quadros infecciosos ou após uso de alguns medicamentos. A histologia hepática apresenta pigmento localizado nos hepatócitos, o qual confere coloração típica ao órgão. Legenda: Pigmento castanho-escuro abundante no citoplasma de hepatócitos, característico de síndrome de Dubin-Johnson. SÍNDROME DE ROTOR É uma desordem congênita, autossômica recessiva que cursa com hiperbilirrubinemia conjugada. É rara, habitualmente diagnosticada durante a infância e apresenta curso benigno. Os níveis de bilirrubina não costumam ultrapassar entre 2 e 5 mg/dL. A bilirrubina conjugada representa pelo menos 50% da total e ocorre bilirrubinúria. Apresenta histologia hepática normal. EXAMES COMPLEMENTARES TESTES LABORATORIAIS Inicialmente, é preciso solicitar: 1. Dosagem de bilirrubina total e suas frações. 2. Hemograma, reticulócitos, haptoglobina e LDH. 3. Fosfatase alcalina e gamaglutamiltransferase. 4. Aminotransferases. 5. Tempo de protrombina. 6. Albumina. Como já mencionado, um paciente com hiperbilirrubinemia, deve determinar primeiro qual das frações da bilirrubina está elevada. BILIRRUBINA INDIRETA ELEVADA Analisa: Hemograma; Contagem de reticulócitos; Níveis de haptoglobina; e LDH. Quando as enzimas hepáticas estão normais, supõe que a icterícia NÃO seja causada por injúria hepática ou doença do trato biliar. Nesses pacientes, devemos pensar em hemólise ou erro inato do metabolismo da bilirrubina. As doenças congênitas associadas ao AUMENTO ISOLADO DE BILIRRUBINA INDIRETA são a síndrome de Gilbert e de Crigler-Najjar. BILIRRUBINA DIRETA ELEVADA Analisa: Valores das aminotransferases e da fosfatase alcalina. MÓDULO DOR ABDOMINAL – P1 | Luíza Moura e Vitória Neves Quando essas ENZIMAS estão NORMAIS, deve- se pensar em doenças congênitas associadas ao aumento da bilirrubina direta, como: Síndrome de Rotor e de Dubin-Johnson. Porém, quando as ENZIMAS estão ALTERADAS, é muito importante determinar qual predomina. 1. Quando há ELEVAÇÃO PREDOMINANTE DA FOSFATASE ALCALINA em relação às aminotransferases (AST e ALT), habitualmente, há: Obstrução biliar ou colestase intra- hepática. Nesses casos, quandoo tempo de protrombina alargado é corrigido com vitamina K, sugere alteração na absorção intestinal de vitaminas lipossolúveis, sendo compatível com icterícia obstrutiva. Relato de acolia fecal fortalece o diagnóstico. O aumento da fosfatase alcalina pode estar associado a doenças granulomatosas do fígado, como: Sarcoidose e tuberculose. A!! Essas condições podem ou não estar associadas à icterícia. Elevação da fosfatase alcalina também pode ser derivada de tecidos extra-hepáticos, como o tecido ósseo. Essas doenças extra-hepáticas não costumam cursar com icterícia, exceto em raros casos, como nos tumores ósseos que metastatizam para o fígado. Para auxílio diagnóstico, devem-se avaliar os níveis de GGT. 2. Quando há ELEVAÇÃO PREDOMINANTE DAS TRANSAMINASES (AST e ALT), considera-se dano hepatocelular. Dentre as causas mais frequentes, estão as hepatites virais e alcoólicas. Nas hepatites virais, nas formas agudas, são comuns valores de transaminases elevados, não raramente > 1000 UI/L; já nas formas crônicas, as enzimas raramente ultrapassam 2 a 3x o limite superior da normalidade. Na etiologia alcoólica, há elevação desproporcional da AST (> 2 vezes) em relação à ALT, geralmente ambas < 500 UI/L. Indicadores de severidade da doença hepatocelular são moléculas relacionadas à função hepática, como: Albumina; e Tempo de atividade da protrombina (TAP). Nesse caso, evidencia hipoalbuminemia e prolongamento do TAP que não é passível de correção com vitamina K. ________________________________________ Se após avaliação inicial, não concluiu o diagnóstico etiológico, deve solicitar exames mais específicos. Muitos casos necessitam de biópsia hepática para elucidação diagnóstica. Testes a serem solicitados: 1. Sorologias para hepatites virais. 2. Auto-anticorpos: anticorpo antimitocôndria (presente na cirrose biliar primária), anticorpos antimúsculo liso e anti-LKM (presentes na hepatite autoimune). 3. Perfil de ferro: nível de ferro, ferritina e índice de saturação transferrina (hemocromatose). 4. Ceruloplasmina (doença de Wilson). MÓDULO DOR ABDOMINAL – P1 | Luíza Moura e Vitória Neves 5. Dosagem de alfa-1-antitripsina (deficiência de alfa-1-antitripsina). EXAMES DE IMAGEM Os exames de imagem são indicados para diferenciar as causas extra-hepáticas das intra- hepáticas de colestase. Quando a anamnese, o exame físico e os exames laboratoriais iniciais sugerem obstrução da árvore biliar. Entre os exames mais utilizados, estão: USG de abdome; USG endoscópico; TC de abdome; Colangiopancreatografia endoscópica retrógrada; Colangiorressonância; e Colangiografia percutânea. USG DE ABDOME A sensibilidade do USG para detectar ductos biliares dilatados e obstrução da árvore biliar varia entre 55-91%. VANTAGEM X DESVANTAGEM VANTAGEM: Tem sensibilidade de 95-96% para o diagnóstico de litíase em vesícula biliar. É método não-invasivo e de baixo custo. DESVANTAGEM: Dificuldade de realização em pacientes obesos e quando há interposição de alças intestinais com gás. USG ENDOSCÓPICO O transdutor fica localizado no duodeno. Visualiza o trato biliar sem a interposição de gases intestinais - fator limitante da USG adbominal. VANTAGEM X DESVANTAGEM VANTAGEM: Apresenta alta sensibilidade (96%) para o diagnóstico de coledocolitíase. Tem acurácia similar à CPRE para detectar cálculos pequenos e a vantagem de não ter risco de causar pancreatite. Tem alta acurácia para detectar tumores pancreáticos, especialmente quando pequenos (< 3 cm). DESVANTAGEM: Custo, exame invasivo (quando comparado com USG e TC) e não possibilita terapêutica (quando comparado à CPRE). TC HELICOIDAL DE ABDOME TC convencional e US de abdome não diferem quanto à capacidade de reconhecer obstrução da árvore biliar e seu nível. Já a TC helicoidal de abdome possui maior acurácia para avaliar imagens hepatobiliares. Legenda: TC evidenciando dilatação de vias biliares secundária a tumor de Klatskin. VANTAGEM X DESVANTAGEM A TC não tem sensibilidade suficiente para detectar colelitíase, pois apenas cálculos calcificados são visualizados. Deve-se ter cautela em administrar contraste a pacientes com alteração da função renal (nefrotoxicidade). MÓDULO DOR ABDOMINAL – P1 | Luíza Moura e Vitória Neves COLANGIOPANCREATOGRAFIA ENDOSCÓPICA RETRÓGRADA (CPRE) Permite visualização direta da/do: Árvore biliar; e Ductos pancreáticos. VANTAGENS X DESVANTAGENS VANTAGENS: É superior ao USG e TC para detectar obstrução extra-hepática e possui sensibilidade de 89-98% e especificidade de 89-100%. É o procedimento de escolha na suspeita de coledocolitíase. Outra vantagem é possibilitar intervenção terapêutica, como extração de cálculos por papilotomia. DESVANTAGENS: Método mais caro que USg e TC, invasivo, relacionado à mortalidade de 0,2% e complicações como sangramento, colangite e pancreatite. Legenda: CPRE evidenciando presença de múltiplos cálculos em colédoco. COLANGIO-RESSONÂNCIA É uma alternativa à CPRE. Detecta coledocolitíase e estenose ducto biliar VANTAGEM X DESVANTAGEM VANTAGEM: Revela o nível de obstrução em 80 a 100% casos. Tem sensibilidade e especificidade de 90 a 100% para detecção de coledocolitíase e estenose ducto biliar. DESVANTAGEM: Pode não visualizar doenças que acometem ductos biliares de pequeno calibre. COLANGIOGRAFIA PERCUTÂNEA TRANS-HEPÁTICA Requer a passagem de uma agulha através da pele até o parênquima hepático, avançando até os ductos biliares periféricos. Apresenta sensibilidade e especificidade próximas de 100% para o diagnóstico de obstrução do trato biliar. É útil quando: Nível de obstrução é proximal ao ducto hepático comum; ou Por razões de anatomia, a CPRE se torna complicada. Seu custo e risco de mortalidade são semelhantes à CPRE. A realização é mais difícil quando não há dilatação dos ductos intra-hepáticos. Legenda: Colangiografia percutânea trans-hepática evidenciando estenose de via biliar.