Prévia do material em texto
Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. DIREITO PROCESSUAL PENAL Olá pessoal, por meio desse curso teceremos alguns comentários sobre temas recorrentes do Direito Processual Penal que costumam cair em provas de concursos policiais e carreiras jurídicas. Cabe observar que por vezes são utilizadas abreviações para os termos Constituição Federal (CF), Código de Processo Penal (CPP), Supremo Tribunal Federal (STF), etc. Tudo isso, para facilitar e tornar mais rápida a sua leitura. Feitos tais esclarecimentos, desejo a todos bons estudos e rumo à aprovação. Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. Sumário 1 .......................................................................................................................................................... 5 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E INFRACONSTITUCIONAIS DO DIREITO PROCESSUAL PENAL ..................................................................................................................... 5 1.1. PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL .................................................................. 5 1.2. PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA ....................................................................................... 6 1.3. PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO .................................................................................. 11 1.4. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA – art. 5º, LVII, CF ............................. 12 1.5. PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL ....................................................................................... 15 1.6. PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO DAS DECISÕES E PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE 17 1.7. PRINCÍPIO DA IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ ............................................................ 18 1.8. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE ....................................................................... 20 1.9. PRINCÍPIO DA NÃO AUTOINCRIMINAÇÃO .............................................................. 21 1.10. PRINCÍPIO DA DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO ......................................... 22 2 ........................................................................................................................................................ 23 INQUÉRITO POLICIAL ................................................................................................................. 23 3 ........................................................................................................................................................ 42 AÇÃO PENAL ................................................................................................................................. 42 3.1. Ação Penal Pública Incondicionada: .................................................................................. 44 3.2. Ação Penal Pública Condicionada: ..................................................................................... 46 3.3. Ação Penal Privada: .............................................................................................................. 48 3.4. Ação Penal nos crimes contra a honra do funcionário público: ..................................... 51 4 ........................................................................................................................................................ 52 JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA .................................................................................................. 52 4.1. Competência Material ou em razão da matéria: ............................................................... 53 4.2. Competência em razão da pessoa ou função: ................................................................... 55 4.3. Competência em razão do lugar: ........................................................................................ 58 Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. 4.4. Competência Funcional: ....................................................................................................... 59 4.5. Competência por prevenção: ............................................................................................... 59 4.6. Causas de Modificação de Competência: .......................................................................... 60 4.6.1. Conexão e Continência: ..................................................................................................... 60 4.6.1.1. Conexão: ........................................................................................................................... 61 4.6.1.2. Continência: ..................................................................................................................... 61 5 ........................................................................................................................................................ 63 PROVA .............................................................................................................................................. 63 5.1. Princípios Aplicáveis: ........................................................................................................... 63 5.2. Ônus da Prova: ...................................................................................................................... 64 5.3. Poder Instrutório do Juiz: .................................................................................................... 65 5.8.1. Do exame de corpo de delito e outras perícias: ............................................................. 76 5.8.1.1. Perícia ............................................................................................................................... 76 5.8.1.2. Exame do Corpo de Delito ............................................................................................. 77 5.8.1.3. Exame de Corpo de Delito Prioritário .......................................................................... 78 5.8.1.4. Necropsia ......................................................................................................................... 78 5.8.1.5. Exame Complementar para Lesão Corporal Grave ................................................... 79 5.8.1.6. Interrogatório ................................................................................................................... 80 5.8.1.7. Confissão: ......................................................................................................................... 85 5.8.1.8. Ofendido: .......................................................................................................................... 86 5.8.1.9. Testemunha ...................................................................................................................... 88 5.8.1.10. Documentos ................................................................................................................... 94 5.8.1.11. Reconhecimento de pessoas e coisas .......................................................................... 95 5.8.1.12. Acareação ....................................................................................................................... 98 5.8.1.13. Indícios ...........................................................................................................................99 6. PRISÃO EM FLAGRANTE ....................................................................................................... 107 7. PRISÃO PREVENTIVA ............................................................................................................ 122 8. PRISÃO TEMPORÁRIA (Lei n. 7.960/89) ............................................................................... 130 Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. 1 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E INFRACONSTITUCIONAIS DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 1.1. PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL Trata-se de um princípio basilar do processo penal. A doutrina costuma dividir em dois sentidos o devido processo legal: Sentido material: o devido processo legal corresponde à certeza de que serão assegurados todos os demais princípios e garantias do indivíduo em um mesmo contexto. Sentido formal: será considerado atendido o devido processo legal se houver observância do procedimento previsto em lei para determinado processo. Questão de prova: “Não se admite, por caracterizar ofensa ao princípio do contraditório e do devido processo legal, a concessão de medidas judiciais inaudita altera parte (sem a prévia manifestação da parte adversa) no processo penal.” Resposta: Falso. Esse é o caso típico de contraditório postergado, em que a parte adversa será ouvida em momento oportuno. Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. 1.2. PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA Segundo o art. 5º, LV, da Constituição Federal: LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; O Estado deve garantir ao acusado todos os meios lícitos para que este possa se opor à pretensão punitiva estatal. Questão de prova: “Conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), não é nula a citação por edital que se limita a indicar o dispositivo da lei penal, não transcrevendo o inteiro teor da denúncia ou queixa, inexistindo violação ao princípio do contraditório e da ampla defesa”. Resposta: Correto. A não transcrição na íntegra da denúncia ou queixa em citação por edital não ofende a ampla defesa. Vicente Greco traduz a ampla defesa no seguinte sentido: a) ter direito claro da imputação; b) poder apresentar alegações contra a imputação; c) poder acompanhar a produção da prova e apresentar contraprova; d) apresentar defesa técnica por advogado; e) poder recorrer de decisão desfavorável. Questão de prova: “O inquérito policial é um procedimento sigiloso, e, nessa etapa, não são observados o contraditório e a ampla defesa”. Resposta: Correto. Uma vez que em ampla maioria da doutrina ainda prevalece o entendimento de que a garantia contida no art. 5º, LV, CF só se aplica a processos administrativos e judiciais. Desta forma, não se aplica a garantia da ampla defesa ao procedimento administrativo inquisitorial do inquérito policial. Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. A ampla defesa se divide em autodefesa e defesa técnica. A autodefesa é exercida pelo próprio réu em três momentos, quais sejam: a) interrogatório (direito de audiência); b) participação na produção de prova (direito de presença). c) capacidade postulatória autônoma do acusado. Trata-se, portanto, de um direito do acusado. Assim, por se tratar de direito, pode ele abrir mão de participar de determinados atos processuais. Se o réu não quiser participar dos atos processuais nenhuma sanção poderá ser aplicada. Desta forma, a autodefesa, exercida pelo próprio acusado, é renunciável. Assim, o acusado tem direito de apresentar a sua autodefesa no momento do seu interrogatório (direito de audiência), ao passo que poderá apresentar e tentar convencer o juiz quanto a sua versão sobre os fatos. Este interrogatório é considerado meio de defesa do réu, conforme entendimento do STF: STF: “(...) O INTERROGATÓRIO JUDICIAL COMO MEIO DE DEFESA DO RÉU. Em sede de persecução penal, o interrogatório judicial, notadamente após o advento da Lei nº 10.792/2003, qualifica-se como ato de defesa do réu, que, além de não ser obrigado a responder a qualquer indagação feita pelo magistrado processante, também não pode sofrer qualquer restrição em sua esfera jurídica em virtude do exercício, sempre legítimo, dessa especial prerrogativa (...)” (STF, 2ª Turma, HC 94.016/SP, Rel. Min. Celso de Mello, j. 16/09/2008, Dje 38 26/02/2009). O acusado também tem direito de presenciar os atos processuais, ao lado do seu defensor (direito de presença). Se o réu preso não quiser comparecer ao tribunal do júri, poderá fazer a Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. sua defesa por petição. No entanto, se o acusado quiser estar presente no ato processual e isso não for possível haverá nulidade processual. Segundo entendimento sumulado do STF, gera nulidade absoluta a falta de defesa, ao passo que se for deficiente só haverá nulidade se comprovado prejuízo ao réu. “Súmula n. 523 STF – “NO PROCESSO PENAL, A FALTA DA DEFESA CONSTITUI NULIDADE ABSOLUTA, MAS A SUA DEFICIÊNCIA SÓ O ANULARÁ SE HOUVER PROVA DE PREJUÍZO PARA O RÉU.” O direito de presença é relativo e pode ser mitigado, como vemos a seguir nos termos do art. 217 do CPP: “Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará inquirição por videoconferência e, somente naimpossibilidade dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença do seu defensor”. No que toca à capacidade postulatória autônoma do acusado cabe observar que é possível a impetração de habeas corpus, como remédio constitucional que prevê tal possibilidade, bem como também é possível ao acusado a interposição de recursos (ex. interposição de apelação, com razões apresentadas por seu advogado) e a suscitação de incidentes processuais (ex. requerer progressão de regime) mesmo sem ser profissional da advocacia. A defesa técnica é a realizada por profissional regularmente inscrito na OAB. Ao contrário da autodefesa, é imprescindível nos termos do art. 261 do CPP: “Art. 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor”. Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. Ela é indeclinável, o réu não pode abrir mão da representação do advogado. Basta um ato do processo realizado sem defensor para que o ato seja nulo. Um processo que não observa a ampla defesa, no sentido de não apresentar regular defesa técnica, é totalmente viciado, podendo gerar a nulidade do processo. Corrobora com o citado a seguinte súmula do STF: “Súmula 708 do STF. É nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos autos da renúncia do único defensor, o réu não foi previamente intimado para constituir outro.” A defesa técnica pode ser feita por defensor constituído ou dativo (nomeado pelo próprio juiz – recai sobre a Defensoria Pública onde houver). A possibilidade de o réu escolher primeiro o seu defensor é o exercício da ampladefesa também. Assim, caso haja desistência da causa pelo defensor constituído, há necessidade de intimação do acusado para constituir novo defensor, sob pena de nulidade, como afirma a súmula do STF a seguir: “Súmula 707 do STF. Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não suprindo a nomeação de defensor dativo.” No mesmo sentido entende o STJ: “STJ: “(...) A escolha de defensor, de fato, é um direito inafastável do réu, porquanto deve haver uma relação de confiança entre ele e o seu patrono. Assim, é de rigor que uma vez verificada a ausência de defesa técnica a amparar o acusado, por qualquer motivo que se tenha Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. dado, deve-se conceder prazo para que o réu indique outro profissional de sua confiança, ainda que revel, para só então, caso permaneça inerte, nomear-lhe defensor dativo. Habeas Corpus concedido, nos termos do parecer ministerial, para anular o feito a partir da decisão que nomeou o defensor dativo, a fim de que seja oportunizado ao réu a indicação de advogado de sua confiança, mantido paciente na situação processual em que se encontra”. (STJ, 5ª Turma, HC 162.785/AC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 13/04/2010, DJe 03/05/2010). Na mesma linha: STJ, 5ª Turma, HC 132.108/PA, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 16/12/2010, DJe 07/02/2011.” A defesa técnica prepondera sobre o direito de autodefesa, conforme súmula do STF: “Súmula 705. A renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a assistência do defensor, não impede o conhecimento da apelação por este interposta.” ■ Veja como ficou após o Pacote Anticrime: A Lei 13.964/19, “Pacote Anticrime”, acrescentou o art. 14- A ao CPP e garantiu aos servidores vinculado às instituições dispostas nos arts. 142 e 144 da CF que figurarem como investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação de fatos relacionados ao uso da força leal praticados no exercício profissional ou missões para Garantia da Lei e da Ordem, o direito de constituir defensor para acompanhamento e realização de todos os ato relacionados à sua defesa administrativa. Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. É importante destacar que o legislador delimitou a prerrogativa em comento aos fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício profissional – consumados ou tentados, incluindo as hipóteses de excludentes de ilicitude (art. 23, CP). Assim, o art. 14-A se aplica aos órgãos de segurança pública referidos no art. 144 da CF, inclusive às policiais penais (EC nº 104/19). No caso de Policial Militar, o dispositivo será aplicado apenas se o indivíduo estiver no exercício da função. Já no tocante aos servidores militares vinculados às instituições dispostas no art. 142 da Constituição Federal, desde que os fatos investigados digam respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem. 1.3. PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO Segundo o art. 5º, LV, da Constituição Federal estabelecer o contraditório é estabelecer a igualdade de oportunidades às partes no processo. LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; Existem duas partes na ação penal e o que uma fizer a outra tem direito de se manifestar contrariamente. A sua aplicação consagra o sistema acusatório, em que um órgão independente acusa, a parte se defende, e o órgão imparcial julga. Para o Superior Tribunal de Justiça, houve inovação na audiência do processo penal, a qual passou a ser una, bem como as testemunhas são diretamente e primeiramente inquiridas pela parte, tudo isso nos termos do art. 212 do CPP. O juiz complementa a inquirição. Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. “Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem na repetição de outra já respondida. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá complementar a inquirição. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)” Existe entendimento nos tribunais superiores de que o desrespeito a este preceito legal citado acima enseja em nulidade absoluta. Para Renato Brasileiro “o contraditório consiste na ciência bilateral dos atos ou termos do processo e a possibilidade de contrariá-los. Eis o motivo pelo qual se vale a doutrina da expressão audiência bilateral, consubstanciada pela expressão em latim audiatur et altera pars (seja ouvida também a parte adversa) ”. Então, o contraditório se traduz em: ■ ciência do fato criminoso que lhe é imputado; ■ oportunidade da contrariar. Existe vertente doutrinária que afirma ser necessário um contraditório efetivo, ou seja, não basta a oportunidade de contrariar. A doutrina também diferencia o contraditório para a prova ou real (na presença das partes como, por exemplo, na produção de provas testemunhais em audiência) do contraditório sobre a prova ou diferido (exemplo: contraditório sobre interceptação telefônica produzida). 1.4. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA O princípio da presunção da inocência vem previsto no art. 5º, LVII, da CF, o qual prevê: LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. sentença penal condenatória. Ele também tem previsão na Convenção Americana de Direitos Humanos: “Art. 8º (...) §2º. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa.” Também é conhecido como Presunção de Não Culpabilidade. Este princípio tem impacto no processo com relação ao ônus da prova. A presunção da inocência reflete diretamente na prisão cautelar, ou seja, na prisão anterior a uma sentença condenatória penal com trânsito em julgado. Desta feita, o acusado só pode ser preso antes da sentença em casos de extrema necessidade, senão deverá ser imposta uma das medidas cautelares diversas da prisão previstas no art. 319 do CPP. Outro reflexo desse princípio é a exigência de juízo de certeza para a condenação do réu. Ou seja, somente com prova cabal no sentido de mostrar a responsabilidade penal do acusado é que será possível a sua condenação. Deste princípio se deriva a regra probatória do “in dubio pro reo”, ou seja, havendo dúvida decide-se em favor do réu. Em uma dimensão externa, o princípio da presunção da inocência repercute na impossibilidade de publicidade abusiva e estigmatização do acusado. No entanto, a grande celeuma envolta a esse princípio diz respeito à possibilidade da execução provisória da pena antes do trânsito em julgado da decisão condenatória. Ou seja, se há a possibilidade do início do cumprimento da pena pelo acusado após decisão condenatória de 2ª instância, mesmo sendo cabíveis os recursos especial e extraordinário. Neste aspecto o STF se manifestou por diversas vezes ao longo dos anos como a seguir: Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagense gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. Até fevereiro de 2009 Após fevereiro de 2009 até fevereiro de 2016 De fevereiro de 2016 a novembro de 2019 Entendimento atual Até fevereiro de 2009, o STF entendia que era possível a execução provisória da pena. No dia 05/02/2009, o STF, ao julgar o HC 84078 (Rel. Min. Eros Grau), mudou de posição e passou a entender que não era possível a execução provisória da pena. No dia 17/02/2016, o STF, ao julgar o HC 126292 (Rel. Min. Teori Zavascki), mudou de posição e passou a entender que era possível a execução provisória da pena. No dia 07/11/2019, o STF, ao julgar as ADCs 43, 44 e 54 (Rel. Min. Marco Aurélio), retornou para a sua segunda posição e afirmou que o cumprimento da pena somente pode ter início com o esgotamento de todos os recursos. Ressalta-se que quando o acusado já se encontra preso preventivamente, o cumprimento provisório da pena é extremamente benéfico como podemos observar pelo teor da súmula 716 do STF: “Admite-se a progressão de regime de cumprimento da pena ou a aplicação imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória.” A grande polêmica gira em torno da execução provisória da pena do réu solto, conforme se demonstrou acima. Segue a ementa do julgado do STF: “O art. 283 do CPP, que exige o trânsito em julgado da condenação para que se inicie o cumprimento da pena, é constitucional, sendo compatível com o princípio da presunção de inocência, previsto no art. 5º, LVII, da CF/88. Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. Assim é proibida a chamada “execução provisória da pena”. Vale ressaltar que é possível que o réu seja preso antes do trânsito em julgado (antes do esgotamento de todos os recursos), no entanto, para isso, é necessário que seja proferida uma decisão judicial individualmente fundamentada, na qual o magistrado demonstre que estão presentes os requisitos para a prisão preventiva previstos no art. 312 do CPP. Dessa forma, o réu até pode ficar preso antes do trânsito em julgado, mas cautelarmente (preventivamente), e não como execução provisória da pena. STF. Plenário. ADC 43/DF, ADC 44/DF e ADC 54/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados em 7/11/2019 (Info 958).” 1.5. PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL Ninguém será processado e julgado senão pelo órgão que a Constituição previamente atribuiu competência para fazê-lo. Está previsto no Art. 5º, LIII/ XXXVII, da CF: “LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; “XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção.” Assim, somente o juiz com atribuições previstas em lei pode atuar em determinado caso, no limite da competência conferida. Esse princípio possui o objetivo de vedar a indicação casuística para que determinado juiz atue em um processo específico. Nestes termos, o juiz deve ter a sua competência previamente delimitada por lei. Tribunal de exceção é um juízo criado após a prática do fato delituoso, especificamente para julgá-lo. As “Justiças Especiais” e os “Foros por Prerrogativa de Função” não são considerados Tribunais de Exceção, pois tem previsão na Constituição Federal e Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. Constituições Estaduais antes do cometimento do fato delituoso. Também não fere o princípio estudado a convocação de juízes de primeiro grau para substituírem desembargadores, pois existe previsão legal anterior no Estatuto da Magistratura neste sentido, nos termos da Lei Complementar n. 35/79, art. 118. Vejamos ainda o entendimento dos Tribunais Superiores: STJ: “(...) Não ofende o princípio do juiz natural à convocação de juízes de primeiro grau para, nos casos de afastamento eventual do desembargador titular, compor o órgão julgador do respectivo Tribunal, desde que observadas as diretrizes legais federais ou estaduais, conforme o caso. Precedentes do STF e do STJ. Na hipótese em tela, o Tribunal de Justiça paulista procedeu a convocações de juízes de primeiro grau para formação de Câmaras Julgadoras, valendo-se de um sistema de voluntariado, sem a observância da regra legal instituída (Lei Complementar n.º 646/90 do Estado de São Paulo), qual seja, a de realização de concurso de remoção, tornando nula a atuação do magistrado de primeiro grau convocado nessas circunstâncias. Ordem concedida para anular o julgamento do recurso de apelação, determinando a sua renovação por Turma Julgadora, com a observância da lei de regência. (STJ, 5ª Turma, HC 111.919/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 18/11/2008, Dje 02/02/2009). STF: “(...) Os Regimentos Internos dos Tribunais de Justiça podem dispor a respeito da convocação de juízes para substituição de desembargadores, em caso de vaga ou afastamento, por prazo superior a trinta dias, observado o disposto no art. 118 da LOMAN, Lei Complementar 35/79, redação da Lei Complementar 54/86. Norma regimental que estabelece que o substituído indicará o substituto: inconstitucionalidade. ADI julgada procedente, em parte”. (STF, Pleno, ADI 1.481/ES, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 04/06/2004). Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. Ademais, cabe destacar que a norma que altera competência tem aplicação imediata aos processos em andamento, em observância ao art. 2º do CPP. Vejamos: Art. 2º do CPP: “A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior”. Esse princípio também possui as vertentes do promotor de justiça natural e do delegado de polícia natural, os quais seguem a mesma lógica do juiz natural. 1.6. PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO DAS DECISÕES E PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE O princípio da motivação das decisões está previsto no art. 93, IX, CF. Vejamos: “IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;” Com base no que preceitua a Constituição Federal, toda a decisão emanada do Poder Judiciário deverá ser devidamente motivada e fundamentada. Dois sentidos são atribuídos a este princípio, quais sejam: ■ Político: a motivação das decisões permite um controle da atividade jurisdicional; ■ Processual: a motivação das decisões permite certeza de que a lei foi corretamente aplicada. Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. Para grande parte da doutrina o ato do juiz que recebe uma denúncia contra determinado autor de crime é um ato decisório e deve ser fundamentado. No mesmo dispositivo legal citado acima, somado ao contido no art. 5º, LX, da CF, chegamos ao Princípio da Publicidade dos Atos Processuais: “LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;” Portanto, a limitação de publicidade só pode ser feita por LEI, ao passo que esta poderá limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes (publicidade restrita).É o exemplo dos crimes sexuais, em que o art. 234-B do CP dispõe: “os processos em que se apuram os crimes definidos neste Título correrão em segredo de Justiça”. Tudo isso, somente em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação. Ou seja, em caso de conflito entre a intimidade privada e o interesse público à informação, prevalecerá o interesse público à informação. Na publicidade restrita somente as partes e seus procuradores poderão participar do ato, ou até mesmo somente os procuradores. Eventualmente um terceiro. A publicidade será restringida quando a intimidade (como nos casos envolvendo crianças e adolescentes em que o Estatuto da Criança e Adolescente disciplina a restrição de publicidade) ou o interesse público exigirem. 1.7. PRINCÍPIO DA IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ Está previsto no art. 399, § 2º, CPP e disciplina que o juiz que preside a instrução em audiência é quem deve proferir a sentença penal. Vejamos: “Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do querelante e do Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. assistente. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008). § 1º O acusado preso será requisitado para comparecer ao interrogatório, devendo o poder público providenciar sua apresentação. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). § 2º O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).” Visa fazer com que o julgador que esteve mais próximo da ação penal, participando da colheita de provas, profira decisão, pois é o mais apto a conhecer todos os detalhes processuais e a conduzir de uma forma mais justa o processo. Polêmico tema foi muito debatido envolvendo esse princípio quando da sanção da Lei n. 13.964/2019 (Pacote Anticrime), pois previa o “Juiz de Garantias” nos seus artigos 3-A a 3-F. Ele estaria encarregado do controle de legalidade da investigação criminal e da salvaguarda dos direitos individuais. Essa inovação legislativa foi objeto de diversas críticas, como abaixo- assinado de magistrados federais contrários, conforme notícia veiculada no site Consultor Jurídico, https://www.conjur.com.br/2020-jan-08/magistrados- divulgam-abaixo-assinado-juiz-garantias: “o juiz de garantias deprecia a figura do magistrado, pois já se parte da premissa genérica e indiscriminada de que o juiz natural seja presumidamente suspeito e não tenha condições de julgar um processo com imparcialidade, quando é o inverso". "O juiz natural é quem mais conhece o caso concreto para fins de fazer o melhor julgamento, pois atua desde o início no processo tem acesso às partes e aos elementos de prova, e tem mais condições de julgar de forma justa o litígio, tanto é que o artigo 399, § 2o do CPP prevê o ‘princípio da identidade física do juiz’. Direito não só da acusação, mas principalmente da defesa”. Ademais, os dispositivos citados também foram objeto das Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIS) 6298, 6299, 6300 e 6305, sendo que o ministro Luiz Fux, vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 22/01/2020, suspendeu por tempo indeterminado a eficácia das regras do Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. Pacote Anticrime (Lei 13.964/2019) que instituem a figura do juiz de garantias. A decisão cautelar, proferida nas mencionadas ADIs, ainda será submetida a referendo do Plenário. Para o ministro Luiz Fux: “em análise preliminar, a regra fere a autonomia organizacional do Poder Judiciário, pois altera a divisão e a organização de serviços judiciários de forma substancial e exige completa reorganização da Justiça criminal do país, preponderantemente em normas de organização judiciária, sobre as quais o Poder Judiciário tem iniciativa legislativa própria”. O ministro observou, ainda, ofensa à autonomia financeira do Judiciário. No seu entendimento, a medida causará impacto financeiro relevante, com a necessidade de reestruturação e redistribuição de recursos humanos e materiais e de adaptação de sistemas tecnológicos sem que tenha havido estimativa prévia, como exige a Constituição. Ele salientou a ausência de previsão orçamentária inclusive para o Ministério Público, cuja atuação também será afetada pelas alterações legais. 1.8. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE É um princípio que não está previsto expressamente na Constituição Federal, ou seja, está implícito na Constituição quando garante a observância do devido processo legal. Visa compatibilizar direitos individuais em conflito, fazer esta dosagem. Exemplo: o direito ao sigilo de conversas telefônicas daquele que as usa para cometer crimes em conflito com o direito de punir do Estado. A aplicação desse princípio deve observar alguns requisitos, quais sejam: ■ Adequação da medida que vou utilizar (medida apta para conseguir o fim); Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. ■ Necessidade (a única maneira ou a menos gravosa de resolver o problema); ■ Proporcionalidade em sentido estrito (é a razoabilidade propriamente dita). Portanto, quando o juiz for aplicar uma pena ao réu sempre deverá se pautar na proporcionalidade com relação aos motivos, circunstâncias, causas, entre outros fatores que o levaram a cometer o crime. 1.9. PRINCÍPIO DA NÃO AUTOINCRIMINAÇÃO Segundo esse princípio ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo. Advém do direito de silêncio previsto no art. 5º, inciso LXIII, da CF: “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e do advogado”. O direito de silêncio previsto acima como o direito de permanecer calado é apenas uma das vertentes do “nemo tenetur se detegere”, brocardo jurídico que dispõe que ninguém é obrigado a se incriminar. Por isso, o réu não é obrigado a participar de qualquer ato que vá implicar em colheita de prova que leve a sua incriminação como, por exemplo, ser impelido a participar de reconstituição de crime. Também não é obrigado a fornecer qualquer tipo de material humano, genético, etc., que possa levar a sua incriminação como, por exemplo, o sangue para ver se está embriagado. A coisa abandonada, apesar de pertencente ao réu, pode ser normalmente utilizada para a sua incriminação. A testemunha também não é obrigada a depor sobre fatos que possam incriminá-la. Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. 1.10. PRINCÍPIO DA DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO Está previsto no art. 5º, inciso LXXVIII, da CF, vejamos: “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”. Aplica-se no caso concreto, em âmbito judicial e administrativo. Hoje é um dos fatores a ser ponderado quando da manutenção de determinado agente em prisão cautelar, ou seja, antes de uma sentença penal condenatória definitivamente julgada deverá ser analisado se é razoável a duração do processo para manter o réu preso por determinado lapso temporal. Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagense gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. 2 INQUÉRITO POLICIAL O inquérito policial é uma forma de investigação preliminar. Não é a única, uma vez que existem outros exemplos de investigações preliminares como: inquérito militar, inquérito civil, sindicância no âmbito administrativo, etc. O inquérito policial é uma forma de investigação realizada pela Polícia Judiciária (polícia que auxilia o Poder Judiciário, com caráter eminentemente investigativo). No entanto, outros órgãos também podem proceder com investigações preliminares, como é o caso do Ministério Público com os Procedimentos Investigatórios Criminais – PICS. É um procedimento administrativo de caráter investigativo que tem por finalidade colher elementos para subsidiar a propositura da ação penal. A sua finalidade principal é apurar o crime e sua autoria, mas também serve de base para a denúncia do Ministério Público. Assim, o juiz exerce fiscalização administrativa sobre a atividade da polícia judiciária, uma vez que os inquéritos policiais tramitam entre polícia e Ministério Público mediante fiscalização do Poder Judiciário. Já o Ministério Público, neste tocante, exerce controle externo sobre a Polícia Judiciária, a fim de formar melhor a sua opinião sobre o crime perpetrado. No entanto, a autoridade competente para presidir o inquérito policial é somente o delegado de polícia, o qual detêm autonomia para decidir quais diligências investigatórias são imprescindíveis. Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. Neste sentido é a Lei n. 12.830/13, conforme o seu art. 2º, §1º: “Art. 2º. As funções de polícia judiciária e a apuração das infrações penais exercidas pelo Delegado de Polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado. §1º Ao Delegado de Polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais. §2º. Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requisição de perícia, informações, documentos e dados que interessem à apuração dos fatos. §3º - VETADO. §4º. O inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei em curso somente poderá ser avocado ou redistribuído por superior hierárquico, mediante despacho fundamentado, por motivo de interesse público ou nas hipóteses de inobservância dos procedimentos previstos em regulamento da corporação que prejudique a eficácia das investigações. ” O que é colhido do inquérito são elementos informativos (e não provas) para subsidiar a denúncia. É uma peça informativa. A terminologia prova se reserva à fase judicial, aquilo que foi produzido em juízo com observância do contraditório. Vejamos o que diz o CPP: “Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.” ■ Questão de prova: e as provas irrepetíveis colhidas no inquérito? São meras peças informativas? Resposta: Não. Como são provas que não podem ser repetidas por circunstancias de urgência na maioria dos casos (exemplo: os exames Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. necropsiais), são consideradas elemento de prova, ao passo que o contraditório será diferido, ou seja, será realizado posteriormente. Por isso, diz a doutrina que o inquérito tem valor probatório relativo, ao passo que os elementos informativos trazidos à tona no seu corpo devem ser ratificados junto ao Poder Judiciário, observado o princípio do contraditório. Por isso também não será anulada a ação com base em uma prova viciada no inquérito. Nem o mesmo inquérito será totalmente descartado com base nesta prova. Esse é o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF. 2ª Turma. RHC 131450/DF). Características do inquérito policial: ■ Dispensável: se o titular da ação já tiver os elementos para amparar a ação penal não precisará ser instaurado inquérito policial. É o que determina o art. 39, § 5º, do CPP: “§5º O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias”. ■ Escrito: podendo ser datilografado, rubricadas pela autoridade as páginas datilografadas nos termos do art. 9º do CPP. Já existem alguns Estados da Federação que utilizam o inquérito policial eletrônico, de forma semelhante ao que já ocorre nos Tribunais de Justiça do país. Ademais, recursos de gravação de atos do inquérito policial já são admitidos por normas internas de algumas Corregedorias de Polícias Civis. O art. 405, §1º, do CPP possibilita tal procedimento em um primeiro momento, o que não impede que seja aplicado analogicamente a outras situações: “Art. 405, § 1º. Sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado, indiciado, ofendido e testemunhas será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das informações.” ■Sigiloso: o art. 20 do CPP autoriza que o delegado garanta sigilo necessário à investigação ou o exigido pelo interesse público. Não significa que tem que ser feito sempre em segredo. Os atos não são necessariamente sigilosos e sim quando o delegado assim entender. A autoridade policial deverá decretar o sigilo com base no art. 20 do CPP. Por interesse público podemos citar os inquéritos policiais que possuem como vítimas crianças ou adolescentes por exemplo. Questão de prova: O advogado tem livre acesso a todas as informações investigativas típicas do inquérito policial? Resposta: apesar de o art. 7º, inciso XIV, da Lei n. 8.906/94 (Estatuto da OAB) prever direito do advogado de consultar os autos do inquérito, mesmo sem procuração, a súmula vinculante n. 14 do STF permite o acesso aos elementos de prova que, já estejam documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária. Portanto, somente o que já estiver documentado é que poderá ser consultado pelo advogado das partes. O que estiver em andamento e, por conseguinte, ainda não documentado no corpo do inquérito policial deverá respeitar o sigilo. Cabe ressaltar que há necessidade de procuração para o acesso aos autos de inquérito policial sujeitos a sigilo (art. 7º, §10º, da Lei n. 8.906/94). Prova: O acesso aos autos do inquérito policial por advogado do indiciado se estende, sem restrição, a todos os documentos da investigação. Resposta: Errado. Por fim, há uma exceção ao acesso dos autos de inquérito policial sem a necessidade de autorização judicial, qual seja, a contida no art. 23 da Lei n. 12.850/2013 (Lei das Organizações Criminosas). Vejamos: “Art. 23. O sigilo da investigação poderá ser decretado pela Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. autoridade judicial competente, para garantia da celeridade e da eficácia das diligênciasinvestigatórias, assegurando-se ao defensor, no interesse do representado, amplo acesso aos elementos de prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa, devidamente precedido de autorização judicial, ressalvados os referentes às diligências em andamento.” ■Indisponível: o delegado de polícia não pode mandar arquivar os autos de inquérito. Uma vez instaurado ele tem que chegar ao conhecimento do Poder Judiciário. Só o juiz pode determinar o arquivamento do inquérito policial. (art. 17 CPP). ■ Inquisitivo: concentra nas mãos de uma única autoridade, qual seja, o delegado de polícia, todos os atos do inquérito. Esta autoridade está vinculada à Polícia Judiciária (art. 144 da CF e art. 4º do CPP), que ora pode ser a Polícia Civil ora a Polícia Federal. “Art. 144 da CF. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. § 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.” “Art. 4º do CPP. A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria.” Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. O fato de ser inquisitivo não quer dizer que inexiste defesa, apesar de não haver contraditório e ampla defesa como princípios processuais, os direitos e garantias individuais fundamentais presentes na Constituição Federal devem ser observados. Citamos como exemplo o direito à assistência de advogado, o direito ao silêncio, etc. Mesmo após a entrada em vigor do art. 7º, XXI, do Estatuto da OAB (Lei n. 8.906/94), que prevê ao advogado assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento, com a apresentação de razões e quesitos, o inquérito policial e as demais investigações criminais continuam sendo inquisitoriais. É uma exceção o inquérito para expulsão de estrangeiro, no qual há previsão de um procedimento com ampla defesa e contraditório (Decreto n.º 86.715/81). Nestes termos, por ser inquisitivo também não se sujeita a um procedimento específico. O Código de Processo Penal estabelece como marco inicial do inquérito, como regra, a portaria da autoridade policial, e como marco final o relatório. No entanto, uma vez arquivado pode ser desarquivado no caso de novas provas. Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia. ■ Formas de início do inquérito policial: a) De ofício: pelo próprio exercício das atividades policiais, com o conhecimento de fato criminoso (“notitia criminis”), por impulso oficial, nos casos de crimes de ação penal pública incondicionada, ou seja, naquelas em que o Estado é o titular da ação e independe de condições para que seja promovida. Neste caso, o instrumento adequado será a portaria da autoridade policial. Por “notitia criminis” ou notícia crime se entende o conhecimento de Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. um fato criminoso pela autoridade policial. Existem três espécies de notícia crime: ■ De cognição direta: a autoridade toma contato diretamente com o crime. ■ De cognição indireta: quando terceiro, através de boletim de ocorrência, por exemplo, repassa o conhecimento de um crime (delação ou delatio criminis). ■ De cognição coercitiva: prisão em flagrante que motiva a notícia crime de cognição obrigatória. Questão de prova: Pode ser instaurado inquérito policial ou outro procedimento criminal com base tão somente em notícia crime inqualificada (denúncia anônima)? Resposta: Não. A Constituição Federal no seu art. 5º, inciso IV, veda o anonimato. Desta forma, a autoridade policial deve realizar investigação preliminar para verificar se estão presentes os indícios de autoria e materialidade constantes na denúncia anônima, para só em caso afirmativo instaurar inquérito policial. b) Por requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público: apesar de o art. 5º, inciso II, do CPP prever que o inquérito policial será iniciado, nos crimes de ação pública, mediante requisição da autoridade judiciária e do Ministério Público, o juiz não pode requisitar tal instauração. Isto se dá, pois, fere o sistema acusatório previsto na Constituição Federal, em que o Ministério Público “acusa” e o Poder Judiciário julga. *** Desta forma, no tocante a autoridade judiciária este dispositivo encontra-se tacitamente revogado, ao passo que o juiz não pode requisitar a instauração de inquérito policial. c) Por requerimento do ofendido ou do seu representante legal: requerimento da própria vítima. Neste caso, é possível tanto para as ações Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. públicas como para as privadas. O delegado de polícia não está obrigado à instauração do inquérito policial, podendo deferir ou não o pedido. Ele irá verificar se estão presentes elementos mínimos de autoria e materialidade, evitando-se assim perseguições parciais e abusivas. Do indeferimento do requerimento cabe recurso ao Chefe de Polícia, que dependendo do Estado da Federação poderá ser o Delegado-Geral ou o Secretário de Segurança Pública. d) Por representação do ofendido ou requisição do Ministro de Justiça: esta modalidade só é possível nas ações penais públicas condicionadas à representação do ofendido ou requisição do Ministro da Justiça. Essas ações são previstas para crimes em que o ofendido decide se quer representar contra o autor e, assim, iniciar um procedimento criminal em face dele. Citamos como exemplos os crimes de ameaça (art. 147 do CP) e estelionato (art. 171 do CP). Ameaça Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único - Somente se procede mediante representação. Estelionato Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis. § 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for: I - a Administração Pública, direta ou indireta; Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. II - criança ou adolescente; III - pessoa com deficiência mental; IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz. Se a representação e a requisição são requisitos da ação penal, também o são para o inquérito, tudo isso em conformidade com o art. 5º, §4º, do CPP. Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: (...) § 4o O inquérito, nos crimes emque a ação pública depender de representação, não poderá sem ela ser iniciado. Por fim, citamos como exemplo de crime condicionado à requisição do Ministro de Justiça os crimes cometidos contra a honra do Presidente da República nos termos do art. 145, parágrafo único, do Código Penal. Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo (injúria, difamação e calúnia) somente se procede mediante queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal. Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3o do art. 140 deste Código. e) Auto de prisão em flagrante: uma vez lavrado o auto de prisão em flagrante tem início o inquérito policial, independente de se tratar de crime de ação publica ou privada. ■ Natureza do crime e atribuição para as investigações A atribuição para a investigação é determinada na maioria das vezes pela natureza da infração criminal, como se nota a seguir: a) Crime militar da competência da Justiça Militar da União: as investigações serão realizadas pelas Forças Armadas através de um inquérito policial militar, no qual um oficial será designado como encarregado. Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. b) Crime militar da competência da Justiça Militar Estadual: as funções de polícia judiciária serão exercidas pela Polícia Militar ou pelo Corpo de Bombeiros – oficial designado como encarregado. c) Crime eleitoral: em regra, as investigações ficaram a cargo da Polícia Federal. Prova: E se na cidade onde houver sido cometido o crime eleitoral não contar com Polícia Federal? Resposta: as investigações serão da atribuição da Polícia Civil (entendimento do TSE). d) Crimes da competência da Justiça Federal (aqueles que estão listados nos incisos do art. 109 CF): as investigações ficarão a cargo da Polícia Federal. e) Crime comum da Competência da Justiça Estadual: em regra, a investigação será realizada pela Polícia Civil. Neste sentido cabe transcrever o art. 144, §1º e 2º, da Constituição Federal no que toca à competência da Polícia Federal: “Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina- se a: I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei. II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência; ” Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. Por fim é importante ressaltar que no tocante aos crimes de atribuição da Polícia Federal, a Lei n. 10.446/02 estabelece de forma mais detalhada as infrações penais que cabem a esta instituição investigar. No mesmo sentido é a Lei n. 13.260/16, no seu art. 13, que prevê a atribuição da Polícia Federal para a investigação dos crimes de terrorismo. ■ Providências a serem realizadas no curso do Inquérito Policial: Nos artigos 6º e 7º do CPP existe uma série de providências que devem ser realizadas no curso do inquérito policial e que são de suma importância para a rotina policial. Vejamos: - Dirigir-se ao local dos fatos e cuidar para que não se altere o estado das coisas, a fim de preservar o local de crime; - Apreender todos os objetos do delito após liberados pelos peritos; - Promover a produção de todas as provas úteis à elucidação da materialidade do fato e autoria. Exemplo: oitiva de toda e qualquer testemunha que possa colaborar para elucidação do fato criminoso; - Providenciar, sempre que possível, a oitiva do ofendido; - Realizar acareações; - Proceder com o reconhecimento de pessoas e coisas; - Não se eximir de promover o exame de corpo de delito, nas infrações que deixam vestígios; - Realizar a reprodução simulada dos fatos (reconstituição), desde que não ofenda a moral (exemplo: reprodução de estupro) e a ordem pública (exemplo: probabilidade de linchamento). ■ Indiciamento: É a imputação a alguém da prática de uma infração penal por haver indícios de autoria. Não vem expressamente previsto no código. Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. Poderá ser feito já no auto de prisão em flagrante, ou seja, no início do procedimento, bem como pode ser feito no relatório (final do procedimento). É ato privativo do Delegado de Polícia (art. 2º, §6º, da Lei n. 12.830/13) e deverá fundar-se em indícios suficientes de autoria e materialidade. Art. 2o As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado. (...) § 6o O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias. Assim, por ser ato privativo do delegado, o magistrado não pode requisitar o indiciamento em investigação criminal (STF. 2ª Turma. HC 115015/SP e STJ. 5ª Turma. RHC 47.984/SP). Tem que haver justa causa, sob pena de anulação deste indiciamento. Sobre a pessoa que pode ser indiciada, cabe observar que juízes e promotores de justiça não podem ser indiciados pela autoridade policial, já que em suas respectivas leis orgânicas existe vedação legal. Autoridades com prerrogativa de foro podem ser indiciadas pela autoridade policial, no entanto, esta deve requerer autorização para o indiciamento ao tribunal competente. Essa providência deve ser realizada tanto para instaurar o inquérito policial como para indiciar o suspeito (STF. Inq 2411 QO). No entanto, nestes casos, mesmo assim o indiciamento é ato privativo do delegado de polícia (STF. Decisão monocrática. HC 133835 MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 18/04/2016 - Info 825). Os juízes e membros do Ministério Público não podem ser indiciados pela autoridade policial consoante art. 18, parágrafo único, da LC 75/73 e art. 40, parágrafo único, da Lei nº 8.625/93. O indiciamento pode ser feito diretamente, ou seja, quando o suspeito Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. está presente, geralmente ao final do interrogatório; ou indiretamente, quando o suspeito está ausente. Abrindo um parêntese sobre o interrogatório do indiciado cabe lembrar que está sujeito às normas concernentes ao interrogatório judicial e deve observar o direito ao silêncio. A presença de advogado não é obrigatória. O que não se pode fazer é proibir a presença de advogado se o indiciado assim quiser. Ademais, cabe mencionar que inovação legislativa contida no art. 185, § 10º, do CPP, exige que conste no interrogatório informação sobre a existência de filhos, respectivas idades, se possuemalguma deficiência, o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos. Por fim, insta destacar a possibilidade de desindiciamento pelo Delegado de Polícia e pelo Judiciário, uma vez que esse ato, ao contrário do indiciamento, não é privativo da autoridade policial. ■ Identificação criminal: O art. 5º, inciso LVIII, da CF, assevera que “o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei”. Então, não se fará identificação criminal daquele que estiver civilmente identificado, ou seja, daquele que estiver portando documento identificador oficial (exemplo: RG, CPF, CNH, Carteira de Trabalho, etc.). A Lei n. 12.037/2009, no seu art. 3º, traz exceções legais em que se faz necessária a identificação criminal, quais sejam: Art. 3º Embora apresentado documento de identificação, poderá ocorrer identificação criminal quando: I – o documento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação; II – o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado; III – o indiciado portar documentos de identidade distintos, com Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. informações conflitantes entre si; IV – a identificação criminal for essencial às investigações policiais, segundo despacho da autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da autoridade policial, do Ministério Público ou da defesa; V – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações; VI – o estado de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição do documento apresentado impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais. Ressalta-se que a lei citada prevê a utilização de perfil genético para fins de identificação criminal. Vejamos: “Art. 5º-A. Os dados relacionados à coleta do perfil genético deverão ser armazenados em banco de dados de perfis genéticos, gerenciado por unidade oficial de perícia criminal. (Incluído pela Lei nº 12.654, de 2012). § 1º As informações genéticas contidas nos bancos de dados de perfis genéticos não poderão revelar traços somáticos ou comportamentais das pessoas, exceto determinação genética de gênero, consoante as normas constitucionais e internacionais sobre direitos humanos, genoma humano e dados genéticos. (Incluído pela Lei nº 12.654, de 2012) § 2º Os dados constantes dos bancos de dados de perfis genéticos terão caráter sigiloso, respondendo civil, penal e administrativamente aquele que permitir ou promover sua utilização para fins diversos dos previstos nesta Lei ou em decisão judicial. (Incluído pela Lei nº 12.654, de 2012)” Nos tribunais superiores se reconhece a ilicitude da coleta de perfil genético sem anuência do investigado, sob pena de ferir a vedação a autoincriminação (neno tenetur se detegere), salvo nos casos de coleta não invasiva de material genético encontrado separado do corpo do investigado (Ex. fio de cabelo encontrado no local do crime). Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. ■ Conclusão do inquérito policial: O inquérito policial possui prazos para a sua conclusão, sendo que o prazo é considerado processual penal, conforme a doutrina majoritária. O art. 10 do CPP define tais prazos: “Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela. § 3o Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.” A Lei n. 5.010/66 prevê prazo específico para a Justiça Federal: “Art. 66. O prazo para conclusão do inquérito policial será de quinze dias, quando o indiciado estiver preso, podendo ser prorrogado por mais quinze dias, a pedido, devidamente fundamentado, da autoridade policial e deferido pelo Juiz a que competir o conhecimento do processo. Parágrafo único. Ao requerer a prorrogação do prazo para conclusão do inquérito, a autoridade policial deverá apresentar o preso ao Juiz.” A Lei n. 11.343/2006 (Lei de Drogas) prevê prazo diferenciado para os seus procedimentos: “Art. 51. O inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto. Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade de polícia judiciária.” Na Lei n. 1.521/51 (lei de crimes contra a economia popular) o prazo para a conclusão do inquérito é de 10 dias, tanto para o réu solto, como para o preso. Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. Por fim, a conclusão do inquérito policial comumente se dá com o relatório elaborado pela autoridade policial (art. 10, §1º e 2º, do CPP). Esse relatório é descritivo das diligências levantadas no transcurso da investigação, mas nos crimes de drogas há necessidade de justificativa que levaram à classificação do delito (art. 52, I, da Lei n. 11.343/2006). Uma vez relatado, o inquérito policial será encaminhado ao Juiz, o qual dará vista ao Ministério Público para oferecimento de denúncia, pedido de arquivamento, ou pedido de diligências. ■ Acordo de Não Persecução Penal: Com o advento da Lei n. 13.964/2019 (Pacote Anticrime) foi acrescido o acordo de não persecução penal no art. 28-A do CPP. Vejamos: “Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente: I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo; II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do crime; III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. ou V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível com a infração penal imputada. § 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que se refere o caput deste artigo, serão consideradas as causas de aumento e diminuição aplicáveisao caso concreto. § 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguintes hipóteses: I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos termos da lei; II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas; III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração, em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo; e IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor. § 3º O acordo de não persecução penal será formalizado por escrito e será firmado pelo membro do Ministério Público, pelo investigado e por seu defensor. § 4º Para a homologação do acordo de não persecução penal, será realizada audiência na qual o juiz deverá verificar a sua voluntariedade, por meio da oitiva do investigado na presença do seu defensor, e sua legalidade. § 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as condições dispostas no acordo de não persecução penal, devolverá os autos ao Ministério Público para que seja reformulada a proposta de acordo, com concordância do investigado e seu defensor. § 6º Homologado judicialmente o acordo de não persecução penal, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para que inicie sua Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. execução perante o juízo de execução penal. § 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais ou quando não for realizada a adequação a que se refere o § 5º deste artigo. § 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para a análise da necessidade de complementação das investigações ou o oferecimento da denúncia. § 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de não persecução penal e de seu descumprimento. § 10. Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo de não persecução penal, o Ministério Público deverá comunicar ao juízo, para fins de sua rescisão e posterior oferecimento de denúncia. § 11. O descumprimento do acordo de não persecução penal pelo investigado também poderá ser utilizado pelo Ministério Público como justificativa para o eventual não oferecimento de suspensão condicional do processo. § 12. A celebração e o cumprimento do acordo de não persecução penal não constarão de certidão de antecedentes criminais, exceto para os fins previstos no inciso III do § 2º deste artigo. § 13. Cumprido integralmente o acordo de não persecução penal, o juízo competente decretará a extinção de punibilidade. § 14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo de não persecução penal, o investigado poderá requerer a remessa dos autos a órgão superior, na forma do art. 28 deste Código. O acordo é inspirado no instituto norte-americano do non-prosecution agrément. Assim, o Ministério Público firma negócio jurídico processual com o investigado, a fim de que este cumpra determinadas condições, tendo como um dos requisitos a confissão do fato criminoso. Com isso, após a realização do acordo não haveria oferecimento de denúncia por parte do órgão ministerial. Em caso de descumprimento do acordo, o investigado poderá responder por ação penal. A realização de acordo de não persecução penal importa em exceção ao princípio da obrigatoriedade da ação penal, ao passo que na prática irá auxiliar e Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. muito na efetivação do jus puniendi do Estado em face de crimes que ficavam esquecidos em delegacias, ou que o próprio agente tinha interesse em composição consensual. Os crimes de furto e estelionato são alguns exemplos que podem ser abarcados pela novidade legislativa e que geram excesso de trabalho junto ao Judiciário, Ministério Público e Delegacias de Polícia. É direito subjetivo do investigado a realização do acordo de não persecução penal? Resposta: A doutrina diverge neste tocante. No entanto, o art. 28-A do CPP menciona que o Ministério Público pode firmar tal negócio jurídico processual. Quais são os requisitos necessários para a realização do acordo de não persecução penal? Resposta: - Não ser caso de arquivamento; - Existência de confissão formal e circunstanciada; - Infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos; - Oferecimento do acordo ser necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime. Entende-se, por ser caso de arquivamento do inquérito policial a existência de quaisquer causas excludentes de ilicitude (art. 23 do CP) ou culpabilidade (com exceção da inimputabilidade que possibilita mesmo assim a responsabilização criminal), a presença de causa extintiva da punibilidade (art. 107 do CP), ausência de pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal (exemplo: condição de procedibilidade da representação nos crimes de ação penal pública condicionada) ou falta de justa causa (elementos mínimos de autoria e materialidade após as investigações). Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. 3 AÇÃO PENAL Primeiramente cabe destacar que o direito de ação penal é o direito que a parte acusadora (Ministério Público) tem de pedir ao Estado-Juiz providência penal com relação a determinado caso concreto. Esse direito é exercido por uma ação penal, cujo detentor do direito de punir é sempre o Estado. Por vezes, ela será exercida por particular (nas ações penais privadas) e, por vezes, será exercida pelo fiscal da ordem jurídica, qual seja, o Ministério Público (nas ações penais públicas incondicionadas ou condicionadas à representação). Desta forma, a ação penal possui as seguintes condições: a) Possibilidade Jurídica do Pedido: possível é aquele pedido com respaldo legal. b) Interesse de Agir: que é a somatória dos seguintes requisitos: - necessidade (no âmbito penal); - adequação (meio adequado. Exemplo: Súmula n. 693 do STF que prevê não caber Habeas Corpus nos crimes em que a pena de multa seja a única cabível); - utilidade: esperança, ainda que remota, da realização do direito de punir (jus puniendi) estatal. c) Legitimidade para a causa (ad causam): no caso, como citado acima, é legitimado o Ministério Público para mover exclusivamente as ações penais Copyright©2020-2030, Coachemconcursos. Todos os direitos reservados (texto, imagens e gráficos). O uso não autorizado deste material importa em crime previsto no art. 184 do Código Penal. públicas. E é legitimado o particular para ajuizar as ações penais privadas. Questão de prova: A pessoa jurídica pode ser parte legítima em ação penal? Resposta: Sim. Tanto ativamente, no caso de ser vítima de crimes contra a sua honra objetiva (exemplo: difamação), quanto passivamente, quando autora de crimes ambientais, ou contra a ordem econômica e economia popular, etc. Questão de Prova: Não mais vigora no entendimento dos tribunais superiores (STJ. 6ª Turma. RMS 39.173-BA e STF. 1ª Turma. RE 548181/PR) a Teoria da Dupla Imputação!!! Assim, é possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais independentemente da responsabilização concomitante