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1 Beatriz Machado de Almeida Doenças pépticas gastroduodenais e H. pylori Doenças pépticas gastroduodenais e H. PYLORI H.pylori não é uma doença e, portanto, não deve ser colocada como suspeita diagnóstica para o paciente que chega com dor abdominal, no ambulatório. Gastroped não tem tanta experiência com H. pylori, infecção, doença, pois a gente não trata tanto, não tem tanto estudo sobre esse patógeno e as suas complicações, porque é muito raro ter complicação neoplásica em pediatria por conta do H. pylori, Então, muitas informações que usa na pediatria são de gastro de adultos com algumas modificações, considerando essa questão do baixo risco de complicação. Doença péptica: qualquer lesão associada a lesão cloridropéptica de mucosa do TGI alto, por ex.: esofagite, úlcera esofágica, gastrite e úlcera gástrica, duodenite ou úlcera duodenal, qualquer lesão em mucosa ectópica gástrica, divertículo de Meckel. Qualquer lesão associada a ação cloridropéptica do HCl, enzimas, H. pylori, colocamos como doença péptica. As doenças ulcerosas pépticas têm maiores complicações em termo de chance de recidiva e associação com infecção por H. pylori. Homeostase do meio gástrico • Fundamental para manutenção das mucosas gástricas e duodenais: As lesões da ação cloridropéptica vão acontecer como se fosse um desequilíbrio entre os mecanismos de defesa e mecanismos de agressão da mucosa gástrica, que é importante para manter esse equilíbrio. • Fatores agressores: ácido clorídrico (HCl), pepsina, H. pylori; • Fatores de defesa: barreira mucosa e citoproteção – fatores pré-epiteliais, como o muco rico em bicarbonato; • Muco rico em bicarbonato: HCO3- + H+ -> CO2 + H2O – bicarbonato vai tamponar o hidrogênio, formando CO2 e água; • Prostaglandinas: produção de muco e HCO3-, fluxo sanguíneo na mucosa e replicação de células epiteliais – fatores epiteliais, que a própria mucosa se regenera, que tem a superfície de fosfolipídios, tem as junções que tentam proteger essa mucosa gástrica, e os fatores pós epiteliais, fluxo sanguíneo para fazer a renovação, levar nutriente, tirar toxina, e favorecer essa recuperação mais rápida por conta da mucosa gástrica. Os fatores vão tentando ficar em equilíbrio para evitar que ocorra lesões cloridropépticas. Quem tem um grande papel nesse mecanismo de defesa são as prostaglandinas. Por isso que o uso de antinflamatório, que inibem a questão da cascata de prostaglandinas, estão associadas a uma grande chance como fator de risco independente a desenvolvimento de lesões de mucosa, porque a prostaglandina é importante tanto para a produção do muco quanto para a produção de bicarbonato, turnover celular e manutenção desse fluxo sanguíneo. Então, ele atua em todos os fatores de defesa: pré epiteliais, epiteliais e pós epiteliais. • Quebra dos mecanismos de defesa → lesões de doença péptica. • Tanto as infecções por H. pylori (que determinam algum tipo de lesão) como doença ulcerosa péptica, não depende apenas de um único fator (ou seja, são multifatoriais). A fisiologia do meio gástrico • Divisões anatômicas do estômago: cárdia, fundo, corpo, antro e piloro. • Histologicamente (divisão glandular, a depender do tipo de composição de células que estão mais presentes): ❖ Região mais cárdica: predomínio de células produtoras de muco, algumas células parietais (produzem HCl), e algumas células principais (produzem pepsinogênio); ❖ Glândulas fúndicas: de fundo e de corpo. São as glândulas gástricas propriamente ditas, que tem uma quantidade maior de células parietais, células principais e células de cromafins (produtoras de histamina); ❖ Região de antro: células pilóricas, do antropilórico, em que tem uma grande quantidade de células produtoras de muco, e tem um pouco de células que regulam o fundo e corpo, e as células D (produtoras de somatostatina). É importante lembrar desses conceitos para entendermos como ocorre essa produção de HCl e o que regula essa produção de ácido clorídrico e como esses agentes interferem nessa produção. 2 Beatriz Machado de Almeida Doenças pépticas gastroduodenais e H. pylori Células parietais: estão mais no fundo e no corpo, secreção ácida estimulada por 3 vias: • Neurócrina (acetilcolina): estímulo visual, do cheiro, que ativa via acetilcolina; • Parácrina: das células enterocromafins, que produzem histamina; • Endócrina: gastrina. Acontece quando o alimento chega ao estômago e também na fase intestinal (com a chegada de proteínas e aminoácidos). A gastrina, além de fazer um estímulo direto da célula parietal, ela também estimula via produção de histaminas, estimulando a célula enterocromafim, agindo através de mecanismos para levar a produção de HCl. Diminuição do PH e aumento da secreção ácida. Esse meio mais ácido vai estimular as células D, produtoras de somastotatina, que vão inibir as células G, diminuir a quantidade de HCl. • Ativação da célula parietal: ativação do AMP cíclico → ativação das proteínas que regulam bomba H+K+ATP-ase para produção de HCl; Em relação as drogas inibidoras de secreção ácida, percebemos que o inibidor do H2, embora a gente não esteja usando, mas que tem uma grande importância, ele diminui (mas não tanto) a secreção ácida, porque ele só age na via da histamina e acaba bloqueando também um pouco a via da gastrina, porque essa gastrina também estimula um pouco a via da histamina. Já o IBP atua no final, na bomba H+K+ATP-ase, então sua inibição de secreção é bem maior, porque ele vai ativar na via final, então mais de 90% da secreção é reduzida pelo uso do IBP. • Fases cefálicas, gástrica e intestinal. Úlcera péptica primária Bastante associada a infeção por H. pylori. É primária porque ela não está associada a nenhuma doença sistêmica, a nenhum uso de medicamento, nem estresse que leve a lesão de mucosa. • Decorre da ação cloridropéptica (desequilíbrio entre agressão e defesa); • Causa multifatorial: vários fatores, como predisposição genética, ambientais (tabagistas, etilistas, pessoas que usam outro medicamento que contribuem para quebrar a proteção de mucosa), distúrbios da homeostase do meio gástrico e infecção pelo H. pylori – tudo isso se soma, e algumas pessoas vão ter a doença; ❖ O H. pylori é um agente que está muito implicado, mas não é só ter a presença, pois a maioria que tem o H. pylori são assintomáticos; em torno de 10 a 20% que vão desenvolver alguma doença ulcerosa péptica ou a gastrite atrófica, e 3% vão evoluir para adenocarcinoma gástrico. ❖ Não é só ter um fator, é um somatório de fatores para desenvolver alguma lesão significativa de mucosa gástrica; Temos dois tipos de úlcera de localização: • Úlceras pépticas duodenais: associado ao HCl aumentado; • Úlceras gástricas: HCl diminuído; Isso acontece porque a predileção do H. pylori é de colonizar o antro pilórico. Quando ele fica localizado no antro, ele consegue sobreviver, porque tem uréase, que a própria bactéria tem, vai quebrar a ureia no meio, produzindo amônia e CO2. Essa amônia vai tamponar o hidrogênio, deixando o meio um pouco mais alcalino para ele sobreviver. Essa alcalinização do meio somado a resposta inflamatória, vai desregular um pouco a funcionalidade da célula D, reduzindo a produção de somatostatina, e consequentemente acaba inibindo a inibição que a somatostatina teria sobre a célula G. Então, a célula G fica mais ativa, com isso produz mais gastrina e consequentemente mais ácido clorídrico no lúmen gástrico, consequentemente tem uma maior quantidade de ácido clorídrico também chegando no duodeno. A mucosa do duodeno não é feita para suportar um pH mais ácido, então, vai sofrer uma metaplasia gástrica em algumas regiões, e aí o H. pylori que está no antro (como ele gosta de tecido gástrico)começa a migrar, que aquela região vai produzir resposta inflamatória, a depender da patogenicidade dele, e pode levar o surgimento de úlceras duodenais, que são associadas ao aumento da secreção de HCl. Quando tem uma colonização mais de corpo e fundo, tem uma desregulação, o processo inflamatório diminui a atividade da célula parietal, podendo levar a uma gastrite atrófica com redução da produção do HCl, fazendo com que a mucosa gástrica, que não tá mais precisando de uma mucosa especial, porque tem menos 3 Beatriz Machado de Almeida Doenças pépticas gastroduodenais e H. pylori HCl, também sofra metaplasia intestinal, que pode levar a desenvolver uma displasia e câncer gástrico consequentemente. Antes disso, o processo inflamatório que o H. pylori induz, pode levar também ao desenvolvimento de úlceras gástricas. Então, não é só o aumento de secreção do HCl que vai levar ao desenvolvimento de úlcera, pois as úlceras gástricas são associadas ao HCl diminuído. • Diminuição do pH -> liberação somatostatina (cels D) -> inibem cels G (gastrina) > inibição HCl. Epidemiologia • Baixa prevalência em crianças; • Redução da prevalência de úlceras e de H. pylori nos últimos 100 anos (melhoria sanitária e infecção tardia – melhor resposta imune); • Não tem muito estudo com prevalência de úlceras pépticas em pediatria, porque tem muito pouco paciente. • Crianças maiores de 10 anos (> meninos); • Associação com H. pylori: 90% úlceras duodenais (bulbo) e 60% úlceras gástricas (peq. Curvatura); ❖ Essas úlceras pépticas primárias tem uma forte associação com infecção por H. pylori, particularmente em região de duodeno, sendo o bulbo duodenal sua localização preferencial. • H. pylori negativas (15-20%): idiopáticas; ❖ Quando tem a úlcera duodenal e úlcera gástrica que não conseguiu identificar o H. pylori, pode pensar que é uma úlcera secundária, tendo que afastar doença sistêmica, uso de medicamento. É importante se certificar que aquele resultado de pesquisa não foi um resultado falso negativo, por uso de técnica inadequada, porque usou antibiótico no último mês, porque usou IBP nos últimos 14 dias, que são condições que podem resultar em resultado falso negativo; ❖ Se afastou doença sistêmica, afastou uso de medicamento, a técnica não foi inadequada, considera essa úlcera péptica primária idiopática, ou seja, não tem doença sistêmica, não tem H. pylori relacionado, não conseguiu ver nenhuma outra condição que a justificasse. ❖ Úlcera péptica primária idiopática H. pylori negativa. Quadro clínico ❖ Curso insidioso: paciente que tem episódio de dor abdominal, dor epigástrica, às vezes náuseas, vômitos, empachamento, alguns sintomas dispépticos associados, meteorismo, perda de peso; ❖ Período sintomático e assintomático. Pode abrir o quadro de uma maneira mais aguda, já com hemorragia digestiva (sem que haja queixa anterior; pode ter hematêmese), mas, principalmente para úlceras primárias, cursa mais insidioso, principalmente em menino acima de 10 anos de idade. Então, aquele menino adolescente, com dor abdominal a alguns meses, chegou com hemorragia digestiva, com um quadro de abdome perfurativo, de abdome agudo, tem que pensar na possibilidade de doença ulcerosa péptica primária, em que a localização mais comum é em duodeno, em bulbo duodenal na primeira porção. ❖ Localização das úlceras primárias: duodeno (bulbo) > estômago (pequena curvatura) – 7:1: > 10 anos/crônicas; ❖ Dor abdominal, vômitos e hemorragia digestiva alta; Crianças maiores: epigastralgia e clocking (despertar noturno), melhora com alimentação (acaba tamponando temporariamente a acidez no estômago). A tamponação é transitória, porque quando o bolo alimentar chegar será estimulada a produção de gastrina e aumentará a produção de HCl. O que se pode ver bem pelo mito do leite, que as pessoas ingerem por ter um PH mais alcalino, acontece o tamponamento, mas a proteína contida no leite induzirá a produção da gastrina do mesmo jeito, aumentando novamente a produção de HCl. As úlceras primárias são mais frequentes e mais associadas a infecção por H. pylori que as secundárias • Complicações: hemorragias, deformidade anatômica e perfuração, penetração, obstrução intestinal. • Secundárias: mais agudas e em estômago; ❖ Mais comum em crianças< 10 anos, período neonatal, período de lactente. ❖ Estresse e doenças sistêmicas; ❖ Uso de medicamentos; 4 Beatriz Machado de Almeida Doenças pépticas gastroduodenais e H. pylori ❖ Maior queixa: sangramento GI superior; ❖ Pode não ter dor abdominal; ❖ Maior risco de perfuração. Qualquer condição que leve ao aumento de produção de HCl, é condição que favorece a formação de úlceras pépticas secundárias. Além disso, como situações de estresse tem-se: paciente que está em choque, sepse, queimaduras extensas, traumatismo cranioencefálico, agentes infecciosos (tuberculose, sífilis, CMV etc.). Quanto aos medicamentos, o anti-inflamatório é uma das causas mais importantes de sangramento digestivo alto em crianças. Tem sido comum o uso de ibuprofeno para febre, por exemplo, o que tem ocasionado um aumento na ocorrência de hemorragia digestiva, causada não só pela úlcera, mas por lesões superficiais também. Observar uso de corticoides, anticonvulsivantes, cloreto de potássio (usado em pacientes com disfunções tubulares renais). Outras condições: doença de crohn e a doença celíaca. Diagnóstico • Endoscopia digestiva alta (EDA); • Aspecto endoscópico depende da fase que se encontra; • Sakita A (ativa), H (cicatrização) e S (cicatrizada). Não se faz diagnóstico clínico de úlcera. É necessária uma EDA tanto para verificar a causa da hemorragia ou da dor que não responde ao medicamento, tanto para realizar a biópsia e a pesquisa de H. pylori, quando se tem a indicação de pesquisar H. pylori. Vale observar que a endoscopia não pressupõe a pesquisa de H. pylori; a pesquisa é indispensável no caso de úlcera. A endoscopia possibilita a classificação da úlcera e o tratamento endoscópico de região que esteja sangrando. Classificação de Sakita: uma das mais tradicionais; possibilita identificar qual o manejo da situação usando-a como base. Não sendo necessário decorar. Em lesões que não cicatrizaram por completo, classificadas como A (ativa) e H (em cicatrização), além de se fazer a erradicação do H. pylori, é necessário prolongar o uso do IBP para levar à cicatrização de mucosa. Já na úlcera S (cicatriz) deve ser tratado o H. pylori obrigatoriamente, se for identificado, mas não é necessário fazer uma inibição de secreção ácida por um tempo tão prolongado, porque a úlcera já está cicatrizada. Tratamento • Objetivos: Aliviar os sintomas, cicatrizar as lesões e prevenir recidiva; • Dieta saudável: evitar refrigerantes, café, alimentos industrializados, álcool e tabagismo; • Medicações que atuam na supressão de secreção ácida: Antiácidos (sintomático) X fármacos antissecretores. Se a maior parte das úlceras em pediatria são primárias, e a maioria tem associação com H. pylori, então o H. pylori é sim fator importante, entretanto, tem multifatoriedade para que o paciente tenha ou não a infecção. Já que o H. pylori causa úlcera, então se ele continuar lá os sintomas vão persistir. Então se previne a recidiva tratando o H. pylori, sendo necessário o uso de antibiótico e de IBP (supressão da secreção ácida, já que a hipercloridria tem participação nas úlceras, especialmente nas duodenais). 5 Beatriz Machado de Almeida Doenças pépticas gastroduodenais e H. pylori Importante frisar que o antiácido é apenas um sintomático, não servindo para a cicatrização de mucosa. Os medicamentos que vão levar à cicatrização e realmente aliviar de maneira mais permanente os sintomasdo paciente são os antissecretores. Utilizavam-se basicamente o IBP e o antagonista H2, esse segundo estando fora de circulação hoje em dia, não sendo mais usado em pediatria. Tratamento medicamentoso ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES H2 • Cimetidina, ranitidina, famotidina e nizatidina; • Inibem receptores H2 nas células parietais: reduz secreção ácida 50 – 70%; • Ranitidina mais usada: taquifilaxia em 6 semanas; • Efeitos colaterais: cefaleia, irritabilidade e sonolência. Quanto aos antagonistas H2, usava-se em ped a ranitidina. Enquanto a cimetidina teria a liberação para uso em crianças maiores, entretanto não há muitos estudos sobre a segurança desse uso, tornando-o incomum. Não sendo usadas em crianças nizatidina e famotidina. O grande problema dos inibidores H2 é que eles podem induzir a taquifilaxia a partir de 6 semanas de uso, então serão necessárias doses cada vez maiores para ter o efeito. Isso ocorrerá porque está sendo inibida a via do H2, que é a via da histamina e parcialmente da gastrina. Inibida esta via, será necessário compensar essa inibição, então outras vias começarão a ser ativadas. (parcialmente a via da gastrina, ou seja, vai ocorrer uma hipergastrinemia) A hipergastrinemia também é induzida pelo IBP, entretanto, o IBP consegue bloquear a bomba, então mesmo que haja hipergastrinemia a secreção ácida não é aumentada, então não se induz a taquifilaxia. Enquanto com o antagonista H2 é bloqueada a via do H2, ocorre o aumento da gastrina pra compensar esse bloqueio e vai ser aumentada a produção de HCl. Isso faz com que sejam necessárias doses cada vez maiores para ter o mesmo efeito. Ou seja, não se inibe tanto a secreção ácida como IBP consegue. INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS ❖ Omeprazol, lanzoprazol, pantoprazol, rabeprazol, esomeprazol; ❖ Bloqueiam a bomba H+K+ATP-ase: inibem 90% produção; ❖ Metabolizado no fígado – citocroma p-450 (meia vida 1-2 h); ❖ Secreção ácida com síntese de novas bombas de prótons; ❖ Administrar 30 minutos a 1 hora antes da refeição; ❖ Omeprazol mais estudado em crianças: grânulos ácido-resistentes (MUPS – grânulos revestidos). O IBP hoje é o medicamento de escolha para alívio de sintomas e cicatrização de mucosa. Além disso, associado ao tratamento do H. pylori, irá potencializar a ação dos antibacterianos, tanto por reduzir o PH (alguns antibióticos trabalham melhor), quanto por melhorar o efeito bactericida daquele antibiótico. Na pediatria são mais utilizados o omeprazol e o esomeprazol. O omeprazol não tem xarope, e não se deve formular. Estes, conseguem ter uma inibição de mais de 90% da produção de HCl, com uma cicatrização de mucosa muito superior aos antagonistas H2. A administração se dá meia hora antes das refeições, porque apesar de terem uma meia-vida curta, os IBPs conseguem fazer um bloqueio duradouro na bomba. O medicamento vai precisar chegar no duodeno intacto, cair na circulação portal, passar no citocromo p-450, ser metabolizado e retornar para a parietal. E só será ativado na célula parietal. Formar as sulfenamidas e atuar. Dessa forma, não se pode abrir a cápsula ou quebrar o comprimido, porque se acontecer dele ficar exposto será acidulado, ou seja, se for exposto à secreção de HCl já no estômago, ocorrerá a transformação em sulfenamida e a pró-droga será ativada no lúmen gástrico e não terá ação nenhuma. Ou seja, é necessário passar pela circulação portal para ser ativado no lúmen da célula parietal com PH menor. Em pacientes mais pobres se sugere até essa quebra do comprimido, misturando-o num meio mais pastoso 6 Beatriz Machado de Almeida Doenças pépticas gastroduodenais e H. pylori (ex. maçã), mas não se garante que aquele medicamento vai chegar intacto ao duodeno. Nesses casos, para prescrever, deve-se prescrever a formulação MUPS, ou a formulação de esomeprazol que poderá ser dissolvido em um pouco de água e cada grânulo estará protegido, conseguindo chegar intacto ao duodeno. Então com a administração de meia hora a uma hora antes da refeição, o medicamento chegará à célula parietal, vai inibir a bomba que está estimulada pela primeira alimentação. H. pylori Deve-se destacar que, quando o paciente apresenta sintomatologia gástrica que estaria relacionada a uma possível doença péptica, o H. pylori não deve ser apresentado como suspeita diagnóstica. Porque o objetivo não é pesquisar H. pylori, mas a causa do sintoma; Ex.: esofagite? Doença ulcerosa? Gastrite? E não simplesmente indicar uma infecção por H. pylori. ❖ Um dos patógenos mais comuns na infecção crônica no homem; ❖ Doenças digestivas e extras digestivas; ❖ Importante causa de doença ulcerosa e câncer gástrico; ❖ Bactéria espiralada Gram-negativa, em forma de bastonete curvo ou em “S”, com 4-6 flagelos unipolares; ❖ Ser humano é único reservatório natural; Entretanto, alguns animais também podem ter algum H. pylori. ❖ Adaptado para colonizar apenas mucosa gástrica (mucosa antral) --- uréase; ❖ Penetra na barreira mucosa e adere-se às células epiteliais. ❖ Prevalência global > 50%; ❖ Incidência e prevalência variável entre países; ❖ Fatores de risco: baixa condição socioeconômica, falta de higiene, superlotação e famílias populosas; ❖ Prevalência de 70% crianças e 80% adultos; ❖ Diminuição progressiva da incidência e prevalência; ❖ Brasil: 34-80%; ❖ Transmissão interpessoal: oral-oral, fecal-oral, gastro-oral, gotículas respiratórias, água contaminada; ❖ Desenvolvimento da doença mais comum na idade adulta. O H. pylori tem predileção pela mucosa gástrica porque tem mecanismos para se adaptar àquele meio mais ácido. Com a produção de uréase para alcalinizar, os flagelos que conseguem fazer com que ele penetre na camada de muco e bicarbonato, as adesinas para se fixar no epitélio. Prefe a mucosa antral. Trata-se de uma bactéria ainda jovem em termos de descoberta, tendo menos de 40 anos desde sua descoberta. Os estudos sobre o H. pylori já identificam uma associação forte da infecção com as doenças ulcerosas e com o desenvolvimento de câncer gástrico (adenocarcinoma e linfoma MALT). Existem vários estudos associando H. pylori com doenças extra digestivas, mas nenhum possui alto grau de evidência, com exceção da anemia ferropriva (de difícil tratamento e sem outra causa), e da púrpura trombocitopênica idiopática; os demais estudos não indicam uma associação causal real até o momento. Por que não colocar H. pylori como suspeita? Porque muita gente pode ter H. pylori, mas não necessariamente serão desenvolvidos doenças serosas, câncer, linfoma MALT, porque nem todos irão desenvolver um H. pylori doença. Ou seja, é necessária uma multifatorialidade para desenvolver a doença, envolvendo questões genéticas, imunológicas, a própria patogenicidade daquele H. pylori que a pessoa tem. Então o problema não é o H. pylori, o problema é ter o H. pylori associado a outras coisas que predispõem a fazer doença ulcerosa péptica. • Crianças e adolescentes: ❖ Menor prevalência de infecção; ❖ Raramente desenvolvem complicações; ❖ Maior taxa de resistência aos ATB; ❖ Maioria assintomática (apenas gastrite microscópica); ❖ Não envolvido nos distúrbios funcionais; ➢ Benefício imunológico em idade adulta? São poucos os estudos sobre doença ulcerosa péptica e câncer gástrico em crianças, sendo um câncer raríssimo em menores de 21 anos. A grande questão de infecção por H. pylori em crianças é a alta taxa de resistência antimicrobiana, porque criança usa muito antibiótico para infecção de via 7 Beatriz Machado de Almeida Doenças pépticas gastroduodenais e H. pylori aérea superior, infecção urinária, aumentando o risco de fazer resistência durante o tratamento. Tanto que se tem uma meta de erradicação que deveria ser superior a 90%,mas que não se consegue atingir nem 80% de erradicação na faixa etária pediátrica por conta dessa alta resistência antimicrobiana. Então, nem sempre se pesquisa H. pylori, e nem sempre se trata H. pylori em crianças, justamente pelo raro risco de complicações. Além disso, não se pode ficar tratando H. pylori o tempo todo sem nenhuma indicação (ou seja, sem doença serosa, linfoma MALT, que são indicações absolutas de tratamento). Mas, por exemplo, uma criança que tenha um DRGE, que não respondeu a IBP, a endoscopia retorna sem nada, mas fez-se a pesquisa por H. pylori e retornou positiva. Não há benefício em tratar o H. pylori nesse paciente, porque não vai melhorar a sintomatologia da criança. E com a baixa taxa de complicação e o tratamento constante para H. pylori, o resultado vai ser aumentar bastante a taxa de resistência antibiótica. Mecanismo de patogenicidade A maior parte dos pacientes que tem H. pylori pode ter só uma gastrite assintomática. ❖ Maioria assintomática: 10-20% gastrite atrófica e úlcera péptica; 3% câncer gástrico (em criança é raríssimo) → esses números são para adultos, porque não temos uma estratificação correta para crianças. Deve-se explicar aos pais que o simples fato de ter H. pylori não determina ter uma doença. Outros fatores devem ser somados para predizer uma doença ou não. Exemplos: • Aspectos relacionados ao ambiente (fumo, álcool, AINES), hospedeiro (genético, imune) e virulência; • Patogenicidade depende da capacidade de: ❖ Sintetizar produtos que causam danos; ❖ Estimular resposta inflamatória persistente; ❖ Alterar regulação da secreção ácida. Uma vez que se adquire o h. pylori, se pode passar pela fase da gastrite aguda, que geralmente é assintomática. Raríssimas pessoas vão ter alguma sintomatologia pulmonar, halitose, algo similar a uma infecção gastrointestinal viral, mas a maioria é assintomática. Esse H. pylori em boa parte não terá alteração da secreção ácida (em torno de 80-85%), causando uma gastrite crônica assintomática. Alguns vão ter uma colonização mais antral, com a hipercloridria, podendo levar a úlcera duodenal. Uma minoria (menos de 5%) pode fazer uma gastrite de corpo, levando a uma úlcera gástrica, gastrite atrófica, metaplasia intestinal, displasia e câncer gástrico. Porém, reforça-se que a maior parte é assintomática! Isso depende inclusive do tipo de H. pylori, porque essa bactéria tem vários mecanismos de patogenicidade, com produção de proteases, ureases, estímulo à produção de citocinas e linfócitos T,.. Alguns mecanismos de patogenicidade estão listados: • Urease: fatores quimiotáticos para macrófagos e monócitos – IL-1 e TNF; • A infecção estimula atividade neutrofílica (produção de IL-8 e outras citocinas); • Linfócitos TH 17 (TCD4+) recrutam polimorfonucleares – inflamação crônica; • Resposta inflamatória complexa na mucosa, envolvendo neutrófilos, células plasmáticas, eosinófilos e linfócitos; ALTERAÇÕES NA SECREÇÃO: • Alterações hormonais dependem da região do estômago e células acometidas; • Antro: hipersecreção ácida. ❖ Supressão de células produtoras de somatostatina -> hipergastrinemia -> aumento da secreção de ácido clorídrico. ❖ Metaplasia gástrica no duodeno -> adesão de H. pylori -> maior risco de úlcera péptica duodenal. • Corpo gástrico: hipossecreção ácida. ❖ Gastrite de corpo ou pangastrite: gastrite atrófica. • Úlcera gástrica e câncer gástrico distal: hipossecreção ácida. O H.pylori tem uma alta taxa de resistência microbiana porque muda de patogenicidade. Ele possui as ilhas de patogenicidade que garantem uma maior virulência para ele, incorporando genoma de outras cepas, DNA exógeno, etc, o que dificulta muito o tratamento. 8 Beatriz Machado de Almeida Doenças pépticas gastroduodenais e H. pylori FATORES DE VIRULÊNCIA: ❖ Habilidade de incorporar ao seu genoma segmentos de DNA exógeno, de outras cepas ou diferentes espécies de bactérias; ❖ Ilhas de patogenicidade (PAI); ❖ Principais genes relacionados a maior virulência; ➢ cagA: proteína altamente imunogênica (> em crianças que adultos); ➢ cagE: aumento da produção de IL-8 (predomínio de neutrófilos); ➢ Toxina vacuolizante (vacA): s1m1 ( > comum em crianças que adultos). ➢ iceA1; ➢ babA2: fator de adesão do H.pylori; ➢ SabA: ligação da bactéria a receptores dos neutrófilos; ➢ Homi B: mecanismo de persistência do H. pylori; ➢ HP-NAP: indução de inflamação. Manifestações digestivas Dispepsia não ulcerosa Poucos infectados por H.pylori terão uma doença associada a isso. Estuda-se muito o papel do h.pylori em algumas doenças gastrointestinais. Uma das coisas que é bem estudada e clara na pediatria está no seguinte exemplo: Ex: Uma criança possui uma dor abdominal recorrente (DAR), uma dor abdominal crônica (aquela dor com mais de 3 meses). Ela está sem sinal de alarme para pensarmos em doenças orgânicas (a maior parte de dor abdominal crônica em criança também é por distúrbios funcionais – intestino irritável, epilepsia abdominal, dispepsia funcional, dor abdominal funcional sem outra especificação). Nesse caso, se for feita uma pesquisa de h. pylori para ela, a prevalência de h. pylori será igual em crianças sem dor abdominal. Não é indicação de se fazer endoscopia, nem pesquisa de h. pylori e muito menos de se tratar h. pylori em pacientes com dispepsia não ulcerosa, mesmo que com dor abdominal recorrente, na dispepsia funcional. ❖ Sem indicação de rastreio para H.pylori em DAR; ❖ Se H.pylori +: erradicar se dispepsia--- controverso ❖ Na ausência de doença ulcerosa, a erradicação não mostra benefícios em melhora dos sintomas. Obs1: só com sinais de alarme que se pede endoscopia. Porém, não é para fazer pesquisa de h.pylori em todo paciente que se pede endoscopia. O objetivo de se fazer endoscopia é identificar a causa do problema e não pesquisar h.pylori. Na pediatria só pesquisa h.pylori se tiver lesão. Obs2: Não é para tratar dispepsia e erradicar. Erradicação de h.pylori em paciente que não tem doença ulcerosa ou lesão neoplásica não melhora sintoma. Obs3: Na endoscopia de pediatria, o ideal é que seja sempre feita com biópsia, mas tem que determinar que tipo de biópsia será priorizada, de esôfago, de duodeno... O ideal é que se faça biópsia por conta das lesões eosinofílicas que são de diagnóstico microscópico. NO PACIENTE COM SINAIS DE ALARME: • Sinais de alarme para dor abdominal recorrente: ❖ Dor em quadrantes superior e inferior direitos; ❖ Disfagia; ❖ Odinofagia; ❖ Vômitos persistentes; ❖ Sangramento GI; ❖ Perda de peso/ desaceleração de ganho ponderal; ❖ Atraso puberal; ❖ Febre inexplicada; ❖ História familiar de DII, doença celíaca, doença ulcerosa péptica; ❖ Investigar sempre: EDA. A professora reitera que EDA é diferente de pesquisa de h.pylori e que esta deve ser feita com critério, porque é muito difícil convencer os pais de não tratar. Resumo: Dor abdominal funcional: não faz EDA e nem pesquisa de h.pylori. Gastrite Solicitou EDA e identificou gastrite. • Maioria dos pacientes com h.pylori terá gastrite crônica assintomática, sem úlceras ❖ Mais comum gastrite antral: maior risco de úlcera duodenal. ❖ Gastrite crônica assintomática não indica erradicação. 9 Beatriz Machado de Almeida Doenças pépticas gastroduodenais e H. pylori • Gastrite atrófica: se tiver risco de fazer metaplasia intestinal > adenocarcinoma gástrico- indicação relativa para erradicação (pode tratar a depender da história clínica e familiar, mas não é obrigatório). Obs: Como o risco de evolução para adenocarcinoma é baixo para criança, essa indicação é mais funcional para adultos. • Gastrite aguda: assintomática na maioria ❖ Náuseas, vômitos, halitose. Úlcera péptica gastroduodenal Sempre pesquisarh.pylori e tratar com úlcera péptica! • 15 a 20 % em indivíduos H.pylori positivos (principal causa de úlcera duodenal em crianças); • Predomínio em meninos maiores; • Úlcera gástrica: menos associação com H. pylori. • Indicação de erradicação (diminui recorrência e complicação). Linfoma MALT • Linfomas gastrointestinais de células B, pouco diferenciado; • Raro em crianças; • Erradicar bactéria – regressão histológica 50-90% dos pacientes com estadiamento melhor. Úlcera péptica e linfoma MALT são indicações para erradicação da bactéria. Câncer gástrico Também é indicada a pesquisa e a erradicação do h.pylori. Porém, muitas vezes quando está com câncer nem se consegue identificar o h.pylori, pois o tecido canceroso, neoplásico, não é salutar para o h.pylori. Muitas vezes não se identifica o h.pylori naquela lesão de gastrite atrófica, por isso é importante fazer várias biópsias. Caso identifique-se, trata, porque melhora a questão da progressão histológica. Porém, é muito raro isso em criança. • 1-3% dos indivíduos infectados por H. pylori; • Gastrite crônica -> gastrite atrófica -> metaplasia intestinal -> displasia -> câncer gástrico (adenocarcinoma); • Bactéria pode desaparecer com a progressão das lesões; • Raro em < 21 anos; • História familiar de câncer gástrico em parente de 1º grau: não recomendado testar H. pylori. Professora relata que no ambulatório chegam crianças com parentes de 1º grau com adenocarcinoma. Outra pediatra encaminha para afastar infecção por h.pylori na criança. No último consenso se considerava fazer o rastreio e o tratamento dessas crianças, porém, hoje essa recomendação foi tirada. Se a criança estiver bem não há necessidade de fazer a pesquisa. Adolescentes com vários parentes com câncer gástrico na família, que pode estar fazendo gastrite atrófica, nesse caso pode se pensar fazer uma EDA. Doença do refluxo gastroesofágico Caso o DRGE não responda a terapêutica, preconiza- se a endoscopia, sem pesquisa de h.pylori. Não melhora nada de sintomatologia tratar h.pylori nesse paciente. Só faz isso se houver lesão e necessidade. ❖ Gastrite de antro: elevada secreção ácida poderia aumentar o risco de DRGE. ❖ Pangastrite: diminuição da secreção ácida poderia proteger do risco de DRGE. ❖ Não recomendado pesquisa de H.pylori rotineira (exceto se possibilidade de uso prolongado de IBP) ❖ Erradicação não depende da DRGE e sim de condições associadas. Manifestações extra-digestivas Diarreia e hipodesenvolvimento Existem muitos estudos sobre a associação do h.pylori com outras entidades extra-digestivas. Estudou-se o papel da h.pylori com hipodesenvolvimento, com diarreia crônica e baixa absorção de nutrientes. ❖ Associação não confirmada; ❖ Hipocloridria: enteropatógenos, diarreia e anemia por deficiência de ferro; ❖ Baixa estatura não indica erradicação e nem pesquisa. Teoria: A infecção por h.pylori pode provocar hipocloridria, podendo levar a uma diminuição da absorção de ferro, diarreia, infecções repetitivas no TGI, fazendo com que a criança não ganhe peso e não cresça de maneira adequada. 10 Beatriz Machado de Almeida Doenças pépticas gastroduodenais e H. pylori O que se tem de estudo que realmente mostra alguma associação mais significativa extra-digestiva... ❖ Possível papel do H. pylori como gatilho de algumas doenças; ❖ Relações controversas; ❖ Anemia Ferropriva: DUP/Utilização pela bactéria. Anemia que não responde ao tratamento (refratária), que já se afastou outras causas de anemia ferropriva, já usou suplementação de ferro e afastou doença celíaca (tem que afastar DC nesses pacientes só pela presença de anemia). Nesses casos está autorizada a solicitação de EDA e pesquisar H. pylori. Se vier HP positiva, mesmo que não tenha nenhuma lesão, pode tratar a criança. Algumas pesquisar mostram que ao tratar, melhoram-se os índices hematimétricos. É como se a HP competisse pelo ferro, além disso a hipercloridria que ele induz diminui a absorção do ferro, pode fazer úlceras que levam a perda de sangue. (isso tem uma fraca recomendação de evidência, mas alguns serviços já fazem). ❖ Púrpura Trombocitopênica idiopática (PTI): tratamento do H. pylori induz aumento das plaquetas. Nesses pacientes, pode-se oferecer um teste não invasivo (teste respiratório de ureia com carbono marcado ou teste de perfil de antígeno fecal), porque muitas vezes a criança que tem púrpura tem nível de plaqueta muito baixo, não consegue fazer endoscopia por isso. Depois disso se avalia a necessidade de EDA ou se já trata logo, porque mostrou-se que tratar a HP melhora o nível de plaqueta em algumas crianças. Interação de drogas com infecção Situações relativas de se pesquisar e tratar HP são: • Inibidores da Bomba de Prótons. Como o IBP pode levar a hipocloridria, junto com uma infecção por HP, é como se ele acelerasse o processo de gastrite atrófica e metaplasia intestinal. Então, alguns autores trazem que em pacientes que usam IBP por um período muito prolongado, fazer a pesquisa e tratamento de HP. ❖ Influência da droga na colonização da bactéria na mucosa gástrica. O HP gosta muito de antro, quando se começa a usar muito IBP, é como se tivesse uma migração do HP mais para corpo, fundo. Então, quando se só biopsia região de antro pode vir falso-negativo. Claro que tem o fato de o IBP reduzir a replicação do HP, o que ajuda no falso-negativo. ❖ Aparecimento de gastrite atrófica. • Anti-inflamatórios não esteroidais (AINE) ❖ Fatores de risco independentes para desenvolvimento de lesões gastroduodenais. Então, crianças com doenças reumatológicas que fazem uso de anti-inflamatório por tempo prolongado, se tiver uma infecção por HP é mais um motivo de agressão. Então, se tratar o HP, já reduz o risco do HP em causar DUP e “deixaria” só o risco do anti-inflamatório. OBS.: DUP, linfoma malt, CA → deve-se tratar sempre. IBP, AINE, gastrite atrófica → indicação relativa de tratamento. Diagnóstico OBJETIVO: • Encontrar a causa dos sintomas e não somente diagnosticar H. pylori. Uma vez identificada a causa, vai ver se tem benefício tratar o HP daquele paciente. • Biópsias para teste de urease e cultura só devem ser feitas se tratamento possa ser oferecido (ex úlceras). Porque pode dar positivo e vai ter que ser discutido com os familiares, mostrar os prós e contras. TESTE INVASIVOS • Endoscopia digestiva alta com biópsia para estudo histopatológico: melhor método para diagnosticar a HP. ❖ Avaliação de doença péptica gastroduodenal; ❖ Histopatológico: alta sensibilidade e especificidade (coloração hematoxilina-eosina); ❖ Desvantagens: alto custo e necessidade de sedação. ❖ 6 biópsias: 2 fragmentos do corpo e 2 do antro (vão para estudo histopatológico, classificação de Sidney) + 1 de antro e 1 de corpo (teste da urease ou cultura); ❖ Úlceras: biópsia em áreas de mucosa aparentemente normal, principalmente para úlcera 11 Beatriz Machado de Almeida Doenças pépticas gastroduodenais e H. pylori gástrica que tem risco de ser adenocarcinoma gástrico. Suspender IBP (2 semanas) e antibiótico (4 semanas): suprimem replicação. OBS: se não possível suspender IBP 2 semanas antes --- modificar para anti receptor H2 e suspender 2 dias antes. • Teste de urease: alteração da cor da solução amarelo para rosa ou vermelho em 24h. Se tiver, na mucosa gástrica, o HP, vai colocar em um meio que tenha a ureia artificial, daí essa urease vai quebrar a ureia em amônia e alcalinizar o meio e dá a coloração. ❖ Teste rápido com boa sensibilidade. • Cultura: diagnóstico (E: 100%) e sensibilidade dos antimicrobianos. Se vier positivo, já fecha diagnóstico, porém ela não é feita de rotina. É bom fazer em casos que não houve resposta na primeira linha terapêutica.• Teste de biologia nuclear (PCR ou hibridização in situ com fluorescencia): diagnóstico, genótipos, marcadores de virulência e sensibilidade dos antimicrobianos. São caros e não são feitos de rotina. TESTES NÃO INVASIVOS • Teste respiratório da ureia: ❖ 2 amostras: antes e 30 min após solução de ureia com carbono marcado; ❖ Alta sensibilidade e especificidade em crianças maiores (> 6 anos), pois precisa da colaboração da criança, por isso para criança pequena, não é um método bom. ❖ Controle da erradicação; não serve para dar diagnóstico. • Sorologia (IgG OU IgA): só vai mostrar que teve contato, não mostra se a infecção é agora ou não. Os títulos de anticorpos caem, mas lentamente, pode ter o IgG e não ter mais a bactéria lá. Então, o IgG, IgM e IgA não são mais usados hoje em dia. Só servem para inquérito populacional/estudo epidemiológico. ❖ Resposta imune celular e humoral; ❖ IgG: ELISA ou Western-Blot; ❖ Títulos diminuem lentamente (S e E variáveis); ❖ Não serve para controle ou diagnóstico. • Pesquisa de H. pylori nas fezes: ❖ Detecção de antígeno (método imune-enzimático com uso de anticorpos monoclonais); ❖ Sensibilidade e especificidade semelhante teste respiratório; ❖ Controle erradicação, não dá diagnóstico. Então, fez EDA, confirmou que tinha HP, fez o esquema de ATB e IBP e depois de 4-6 semanas vai fazer um teste não invasivo para ver se realmente erradicou aquela bactéria. Para dizer que a pesquisa de HP foi positiva não basta ter urease. Tem que ter: Histopatológico (classificação de Sidney) + outro teste invasivo (urease ou PCR) OU Somente cultura positiva (E: 100%) • Mesmo que o histopatológico e o invasivo seja negativo, se vier só cultura, já fechou. ❖ Testes não invasivos (antígeno fecal e teste respiratório): só para controle -- não usar para diagnostico e estratégia teste e trate. ❖ Exceção: falso negativo em testes baseados em biópsias por sangramento e IBP/ATB (Tb pode ser afetado) com anatomo compatível. Se tem uma criança com sangramento ativo por úlcera, faz EDA, muitas vezes o médico nem biopsia, então, nesse caso para não ter que fazer uma nova EDA, pode ser feito um teste não invasivo e tratar. Ou é uma criança que fez a biópsia, o histopatológico é compatível com infecção por HP, mas o teste da urease deu falso-negativo porque estava sangrando, pode tratar. Ou estava usando IBP ou ATB se espera um tempinho (1-2 meses) e oferecer um teste não invasivo para fechar o diagnóstico (teste não invasivo com anátomo positivo). Sempre bom esperar 1-2 semanas após sangramento ou após o uso de ATB ou IBP, pois também pode interferir no não invasivo. PARA DIAGNOSTICAR: EDA, histopatológico, teste da urease ou cultura. PARA CONTROLE DE ERRADICAÇÃO: não invasivo, antígeno fecal ou teste respiratório de ureia com carbono marcado. 12 Beatriz Machado de Almeida Doenças pépticas gastroduodenais e H. pylori Tratamento • Objetivo: diminuir o risco de recorrência da lesão que é provocada pelo HP. • Desafios: ❖ Diminuição das taxas de erradicação: o ideal é acima de 90%. ❖ Aumento de resistência. ❖ Patogenicidade que tem se modificado ao longo do tempo. • Não está indicado em todos os pacientes infectados: somente DUP gástrica e duodenal e linfoma MALT, são obrigatórios. • Achado incidental: SEMPRE DISCUTIR COM FAMILIARES. Pois sabe que não é algo que precisa necessariamente tratar. • Alto custo das medicações e efeitos colaterais (resistência). • Histórico familiar de linfoma MALT e adenocarcinoma gástrico: não precisa investigar presença de H pylori parentes pediátricos (raros). CONSENSOS CRIANÇAS: ❖ North American Society for Pediatric Gastroenterology, Hepatology and Nutrition (NASPGHAN); ❖ European Society for Pediatric Gastroenterology, Hepatology and Nutrition (ESPGHAN). Tabela antiga e mais para adultos. ESQUEMAS TERAPÊUTICOS O tratamento é parecido com o de adulto, exceção para medicamentos. • Esquema tríplice: IBP + 2 agentes antibactericidas (14 dias). Esse tempo de 14 dias é obrigatório! Deve-se fazer de maneira correta para evitar falha terapêutica. O IBP serve para potencializar a ação do ATB também (inibindo urease...) ❖ Omeprazol 1,5- 2,5mg/kg/dia, 1 ou 2 vezes/dia + ❖ Claritromicina 15mg/kg/dia, 2 vezes/dia Ou Metronidazol 20mg/kg/dia, 2 vezes/dia + ❖ Amoxicilina 50mg/kg/dia, 2 vezes/dia. ❖ IBP: mais 2 – 4 semanas (8 sem se UG> 1cm ou UD complicada). Tem outros esquemas também a depender do perfil de sensibilidade. Se é serviço que se consegue fazer antibiograma do HP, a terapia vai ser guiada pelo antibiograma e fazer o esquema. Se é um paciente que já usou ATB, uso metronidazol no último mês, não vai fazer metronidazol no esquema. Usou claritromicina para tratar alguma coisa no último mês, não vai fazer claritromicina no esquema. Deve-se individualizar o tratamento. Aqui no Brasil já tem uma taxa alta de resistência ao metronidazol por conta do uso muito grande nas parasitoses em pediatria. Depois dos 14 dias de uso do esquema tríplice, vai manter o IBP por mais 2-4 semanas. Se for uma lesão muito extensa, p. ex. úlcera duodenal perfurada ou úlcera gástrica maior que 1 cm, pode-se estender o IBP por mais 8 semanas para uma cicatrização melhor. • Erradicação em 70 a 85% (resistência antimicrobiana): meta- 90%. Depois que fizer o esquema terapêutico, vai ter que ver se o esquema foi eficaz para tratar o paciente. • Após 4-6 semanas do ATB (mínimo 2 semanas após - IBP): avaliar erradicação: teste respiratório ou antígeno fecal. O ideal para testar a eficácia do tratamento seria fazer um teste não invasivo. Fazer esses testes não é tão fácil, é caro, não é todo convênio que cobre e serviço público não tem. Em Salvador não tem. Por isso, muitas vezes será necessário fazer uma nova EDA. Fazer EDA também em pacientes que tiverem persistência dos sintomas, obrigatório, ou alguma lesão que se teve dúvida se era algo neoplásico. ❖ Alívio dos sintomas não traduz sucesso no tratamento! Se o paciente melhorar os sintomas não significa que erradicou, apenas que cicatrizou a úlcera o que não impede que tenha outra. ❖ Falha da erradicação: segunda linha. Normalmente se associa o Bismuto, mas não é tão comum esse uso na pediatria. Pode tentar quinolona, levo, em crianças maiores, tetraciclina, entre outros 13 Beatriz Machado de Almeida Doenças pépticas gastroduodenais e H. pylori esquemas... Precisa saber os medicamentos usados no primeiro esquema para saber o que irá utilizar no segundo. OBS: Não serão cobrados na prova esses esquemas. • Esquema tríplice x esquema sequencial. Caso clínico 1 Paciente 13 anos, previamente hígido e do sexo masculino, deu entrada na unidade de emergência com quadro de 3 episódios de hematêmese iniciados há 1 hora. Refere que o adolescente vinha sentindo dor epigástrica intermitente com despertares noturnos há cerca de 2 meses que aliviava com a alimentação. Nega uso de medicações previas. Após estabilização clínica inicial o paciente foi submetido a endoscopia digestiva alta que evidenciou a presença de uma úlcera ativa sangrante em região de bulbo duodenal de 2 cm (Sakita A1). Sobre o caso acima assinale a alternativa correta: a) A) O bulbo duodenal é o local menos acometido nos pacientes com doença ulcerosa péptica; b) B) A localização da úlcera apresentada sugere úlcera péptica secundária, devendo- se procurar doenças sistêmicas associadas ao quadro; c) C) A infecção por H. pylori pode ser encontrada em até 90% dos pacientes com esse tipo de úlcera, o que faz a sua investigação necessária no caso acima; d) D) A hipocloridria está associada a úlceras nessa localização o que favorece a colonização pelo H. pilory; e) E) Trata-se de úlcera péptica primária que geralmente cursacom quadros mais agudos e estão pouco associadas a infecção por H pylori. COMENTÁRIOS a) Falso. A mais comum é a úlcera péptica primária e sua localização é em bulbo duodenal. b) B- Falso. A úlcera secundária tem principal localização no estômago, pode acontecer em duodeno também, mas é incomum. No caso desse paciente é uma úlcera de localização duodenal sugerindo úlcera péptica primária. Se for H. pylori positivo já fecha diagnóstico. c) C- Verdadeiro. d) D- Falso. Seria a hipercloridria associada a úlceras de localização duodenal, que favorece a colonização pelo H. pylori. e) E- As úlceras pépticas primárias geralmente tem curso mais insidioso e estão fortemente ligadas a infecção por H. pylori. Sobre o caso acima, assinale a alternativa correta: a) É suficiente para a pesquisa de H. pylori a realização de biópsias da úlcera (incluindo áreas de mucosa normal, 1 biópsia do antro e 1 biópsia de corpo gástrico; b) Para o diagnóstico de H. pylori se faz necessária histologia compatível, pela classificação de Sidney, associada a outro teste invasivo positivo (urease ou PCR) ou uma cultura positiva obtida via endoscópica; c) Não há necessidade de pesquisa de H. pylori nesse paciente durante a endoscopia. Deve ser solicitado posteriormente, para diagnóstico, testes não invasivos (teste respiratório da ureia ou pesquisa de antígeno fecal); d) O uso de antibiótico nas últimas 4 semanas ou de inibidores de bomba de prótons nos últimos 14 dias não interfere no resultado de pesquisa de H. pylori; e) E) Como o tipo de úlcera encontrada tem pouca associação com infecção por H. pylori não está indicada investigação para esse patógeno. COMENTÁRIOS a) Falso. Seriam pelo menos 6 biópsias. b) Verdadeiro. c) Falso. Há necessidade de pesquisa de H. pylori nesse paciente durante a endoscopia. Pode até não conseguir fazer a biópsia por conta do sangramento, mas é necessário que se faça. d) Falso. e) Falso. O tipo de úlcera encontrada nesse paciente é bastante associado com a infecção com H. pylori e a sua investigação está sempre indicada. Sobre o caso acima assinale a alternativa correta: a) Caso a pesquisa de H pylori seja positiva, o esquema adequado para tratamento é de antibiótico por 7 dias (amoxicilina e claritromicina ou metronidazol) associado a inibidor de bomba de prótons por 8 semanas; 14 Beatriz Machado de Almeida Doenças pépticas gastroduodenais e H. pylori b) Caso o paciente evolua com melhora da sintomatologia não há necessidade de investigação de erradicação de H. pylori; c) O paciente só tem indicação de fazer uso de inibidor de bomba de prótons, uma vez que não está indicada a pesquisa nem a erradicação de H. pilory; d) Após tratamento deve ser realizada obrigatoriamente nova EDA para confirmação de erradicação de H pylori; e) Teste respiratório da ureia ou pesquisa de antígeno fecal estão indicados 4-6 semanas após o uso do antibiótico para controle de erradicação, caso haja indicação de tratamento para H. pylori. COMENTÁRIOS a) São 14 dias de esquema tríplice + 2-4 semanas de IBP. b) Falso. Precisa investigar a erradicação do H. pylori. c) Falso. Tem que pesquisar e tratar o H.pylori; não é só tratar a úlcera com o IBP e pronto, pois se o paciente tiver H. pylori a úlcera vai reaparecer. d) Falso. Pode fazer o controle de erradicação do H. pylori apenas com testes não invasivos. e) Verdadeiro. Lembrar: As úlceras pépticas secundárias geralmente têm quadros mais agudos (hemorragia digestiva, perfuração), já as úlceras pépticas primárias têm quadros mais insidiosos (períodos de melhora e piora) mas nem sempre pode ser assim.