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Atividade de participação Processo Civil Larissa Moreira Turma 2

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Em atenção ao encontro do dia 25 de março de 2021 e o debate em torno do tema Governança Processual, seguem apontamentos. 
Tratou-se das inúmeras mudanças do sistema processual com o advento do CPC/15, dentre as quais a ampliação dos poderes-deveres do juiz com a inserção do inciso IV, artigo 139, segundo o qual incumbe ao juiz determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária. 
Referido dispositivo passou a ser adotado para fundamentar as decisões proferidas no âmbito das ações de execução, com o escopo de tornar o processo efetivo, haja vista que a flexibilização das técnicas executivas permite ao julgador adequar a sua decisão às peculiaridades do caso concreto, a fim de satisfazer o direito almejado pela parte credora. 
Em comentário ao dispositivo em questão, Marinoni, Arenhart e Mitidiero destacaram que o artigo 139, IV, explicita os poderes de imperium conferidos ao juiz para concretizar suas ordens, sendo que a regra se destina tanto às ordens proferidas no curso do processo, por exemplo, as decisões interlocutórias na ação de conhecimento, como a ordens finais, consistentes no emprego de técnicas para alcançar o bem da vida pretendido.
Trata-se de um poder-dever conferido ao magistrado, o qual deverá adotar qualquer medida necessária para assegurar o cumprimento de suas decisões, observando-se os princípios da proporcionalidade e razoabilidade, bem como os direitos e garantias fundamentais. Neste sentido, cabe destacar o disposto no artigo 48, editado pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (ENFAM): “O art. 139, IV, do CPC/2015 traduz um poder geral de efetivação, permitindo a aplicação de medidas atípicas para garantir o cumprimento de qualquer ordem judicial, inclusive no âmbito do cumprimento de sentença e no processo de execução baseado em títulos extrajudiciais.”
Diante de tal permissivo, os juízes passaram a determinar o bloqueio de cartões de crédito, a suspensão da Carteira Nacional de Habilitação e, até mesmo, do passaporte do devedor, sob o seguinte fundamento: esgotadas todas as medidas típicas para satisfação do credor e constatando-se o elevado padrão de vida do executado, cabível a adoção de meios coercitivos atípicos capazes de forçar o devedor ao adimplemento da obrigação.
Neste ponto, cabe destacar o que foi dito pelo processualista Thiago Rodovalho:
[…] os meios atípicos não são a prima ratio, e, sim, a ultima ratio, é dizer, esgotados e frustrados os meios executivos típicos e ordinários, pode-se, em tese, valer-se do sistema atípico. 
Deste modo, tratando-se de execução por quantia certa, as medidas naturais e típicas continuam a ser o desapossamento do devedor, é dizer, principia com a penhora e demais meios executivos naturais, conforme o caso (desconsideração da personalidade jurídica, v.g.), e não com a imposição de medidas indutivas e coercitivas. Frustradas essas medidas naturais, poder-se-ia, em tese, passar à aplicação das medidas atípicas.
Ainda no tocante à subsidiariedade dos meios coercitivos atípicos, Daniel Penteado de Castro destacou: “aplicação em ordem subsidiária à tentativa de esgotamento das medidas típicas. Vale dizer, os meios típicos de cumprimento de uma ordem judicial devem inicialmente serem testados para, uma vez frustradas suas tentativas, assim se legitimar o cumprimento de medidas atípicas.”
 
O Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC) também abordou a subsidiariedade das medidas coercitivas, por meio do Enunciado 12: “[…] Essas medidas, contudo, serão aplicadas de forma subsidiária às medidas tipificadas, com observação do contraditório, ainda que diferido, e por meio de decisão à luz do art. 489, § 1º, I e II.”
Ademais, o objetivo da execução atípica não é constranger o devedor ao pagamento de quantia da qual ele não dispõe, mas sim, evitar a blindagem patrimonial.
Em suma, depreende-se que a adoção do inciso IV, do artigo 139, do CPC, deve levar em consideração dois pressupostos: a subsidiariedade das medidas coercitivas e a possibilidade de adimplemento por parte do devedor. 
Como destacou o processualista Wambier, “a resistência ao cumprimento de ordens judiciais é um fenômeno cultural muito comum e, de certo modo, ligado à indisciplina que, em alguma medida, caracteriza o povo latino e, muito especialmente, o povo brasileiro”
, todavia, não pode o sistema processual se render ao descumprimento das decisões judiciais sem que o magistrado possua meios de forçar o adimplemento da obrigação. Deve-se lembrar que o credor possui direito sobre o bem da vida e não pode ficar à mercê do devedor que se ausenta de cumprir o que é devido. Ainda que o devedor possua proteção constitucional, o credor deve gozar de maior proteção quanto ao seu direito de perceber seu crédito. 
�	MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo Código de Processo Civil comentado. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 273. 
�	BRASIL. ESCOLA NACIONAL DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DE MAGISTRADOS. SEMINÁRIO – O PODER JUDICIÁRIO E O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. Enunciados aprovados. Disponível em <� HYPERLINK "https://www.enfam.jus.br/wp-content/uploads/2015/09/ENUNCIADOS-VERSÃO-DEFINITIVA-.pdf"��https://www.enfam.jus.br/wp-content/uploads/2015/09/ENUNCIADOS-VERS%C3%83O-DEFINITIVA-.pdf� >. Acesso em 16 set. 2019. 
�	AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. DÍVIDA NÃO QUITADA. MEDIDA ATÍPICA. SUSPENSÃO DA CNH. I – Segundo a cláusula geral de efetivação, art. 139, inc. IV, do CPC, o Juiz determinará, dentre outras, todas as medidas indutivas necessárias para assegurar o cumprimento das ordens judiciais. II – Observadas as peculiaridades da demanda, na qual o devedor não efetuou o pagamento da dívida, não honrou o acordo nem nomeou bens à penhora, além do que as pesquisas foram infrutíferas, e também diante da conduta maliciosa evidenciada nos autos, tanto em relação à venda do veículo, com aplicação da multa por ato atentatório à dignidade da justiça, assim como à ocultação da informação da esposa ser sócia da empresa, a suspensão da CNH justifica-se, pois é permitido concluir que será hábil a conferir efetividade ao processo. III – Agravo de Instrumento desprovido. Agravo de Instrumento nº 07178433820188070000, Sexta Turma Cível, Tribunal de Justiça do Distrito Federal, Relatora: Vera Andrighi, Julgado em 12/12/2018, Publicado no DJE em 19/12/2018.
 
�	RODOVALHO, Thiago. O necessário diálogo entre a doutrina e a jurisprudência na concretização da atipicidade dos meios executivos.. Disponível em <� HYPERLINK "https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/o-necessario-dialogo-entre-doutrina-e-jurisprudencia-na-concretizacao-da-atipicidade-dos-meios-executivos-21092016"��https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/o-necessario-dialogo-entre-doutrina-e-jurisprudencia-na-concretizacao-da-atipicidade-dos-meios-executivos-21092016�>. Acesso em 19 set. 2019. 
�	DE CASTRO, Daniel Penteado. Medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias: há limites para o art. 139, IV?. Disponível em <� HYPERLINK "https://www.migalhas.com.br/CPCnaPratica/116,MI258376,91041-Medidas+indutivas+coercitivas+mandamentais+ou+subrogatorias+ha"��https://www.migalhas.com.br/CPCnaPratica/116,MI258376,91041-Medidas+indutivas+coercitivas+mandamentais+ou+subrogatorias+ha�>. Acesso em 19 set. 2019. 
 
�	BRASIL. FÓRUM PERMANENTE DE PROCESSUALISTAS CIVIS. Florianópolis. 2017. Disponível em <� HYPERLINK "https://institutodc.com.br/wp-content/uploads/2017/06/FPPC-Carta-de-Florianopolis.pdf"��https://institutodc.com.br/wp-content/uploads/2017/06/FPPC-Carta-de-Florianopolis.pdf�>. Acesso em 18 out. 2019. 
�	WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. [et al.]. Primeiros comentários ao novo código deprocesso civil: artigo por artigo. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 300.

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