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FUNDAMENTOS DA GESTÃO INTEGRADA E COMUNITÁRIA (1)

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FUNDAMENTOS DA GESTÃO INTEGRADA 
E COMUNITÁRIA
CARACTERÍSTICAS E EXIGÊNCIAS DA 
SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
1- Identificar as principais características e exigências da sociedade contemporânea no que diz respeito à
Segurança Pública;
2- Reconhecer a importância da integração das ações dos órgãos do sistema de Segurança Pública com as demais
forças sociais.
Nesta oportunidade, veremos quais são as características das sociedades modernas, no que diz respeito,
especificamente, à Segurança Pública. Desta forma, observaremos que a vida nas grandes cidades favorece o
afastamento social, a falta de coesão, de confiança e de solidariedade e, muitas vezes, essas ausências propiciam
o aumento da criminalidade e da violência. Para enfrentar este quadro, a integração das ações dos órgãos do
Sistema da Segurança Pública com as forças sociais em prol de ações e projetos comuns se mostra, atualmente,
como uma forma importante de responder às demandas sociais. Esta aula, então, tratará de temas modernos e
relevantes como integração, prevenção, fatores de agenciamento do crime e da violência etc. Vamos a eles?
1 Introdução
Nesta disciplina, vamos estudar os fundamentos da gestão integrada em relação à Segurança Pública.
Começaremos, então, entendendo as características da sociedade contemporânea e as suas relações com a
problemática da Segurança Pública.
2 As características da sociedade contemporânea
Vivemos em uma sociedade complexa, todos sabemos. Isto quer dizer que estamos em um contexto organizado e
competitivo, sobretudo nas cidades.
Ao mesmo tempo, percebemos uma situação de profunda fragmentação e desigualdade social que exacerba o
individualismo e contribui para a crise das relações interpessoais.
Não importa o tamanho da cidade, sempre existe a necessidade de organizar a vida pública, emergindo um poder
urbano, autoridade político-administrativa encarregada de sua gestão.
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3 A cidade
Cidade significa uma maneira de organizar o território e uma relação política. Ser habitante de uma cidade,
então, significa participar de alguma forma da vida pública, mesmo que, algumas vezes, a participação seja
apenas pela submissão a regras e regulamentos.
Como lugar da política e das transações econômicas, a cidade é um espaço de convivência social. Contudo, a vida
nos grandes centros urbanos também pode ser marcada pelo individualismo e pelo relacionamento comunitário
enfraquecido.
Sabemos que a proximidade física dos habitantes de uma cidade não garante que estes se conheçam e que os
seus relacionamentos tenham como característica a pessoalidade e a proximidade. A proximidade física, sem
relacionamentos mais subjetivos, sobretudo aqueles baseados na confiança e, por consequência, na
solidariedade, nem sempre une as pessoas e a ausência de uma sociedade integrada gera apenas rotinas
ordenadas, cujo controle é dado por regras de comportamentos impessoais e definidos claramente.
Nas grandes cidades ocorre, muito frequentemente, a ausência de identificação com fatores sociais comuns à
vida cotidiana. A perda da identidade e da coesão social pode causar vários prejuízos para a coletividade, como a
alta criminalidade e a violência.
É imperativo que o respeito e o interesse individual se unam ao interesse coletivo e busquem o bem-estar, a
tranquilidade e a segurança pública.
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4 A Segurança Pública no Brasil
A constituição dos centros metropolitanos brasileiros se fez acompanhar por uma importante elevação das taxas
de criminalidade e violência. Violência, segundo a definição da Organização Mundial de Saúde (OMS), é
“o uso intencional de força ou de poder físico, na forma real ou de ameaça, contra si mesmo, contra
outra pessoa, ou contra um grupo ou comunidade, que resulta, ou tem grandes chances de resultar
em ferimentos, morte, danos psicológicos, subdesenvolvimento ou privação”.
O que há alguns anos era mais visível apenas nas grandes capitais, hoje pode ser encontrado em cidades de
médio porte e até em pequenos municípios brasileiros.
De acordo com o Mapa da Violência 2013 – , divulgado em 06 de marçoMortes e Assassinatos por Armas de Fogo
de 2013, 36.792 pessoas foram assassinadas por armas de fogo no Brasil em 2010, o que mantém o país com
uma taxa de 20,4 homicídios por 100.000 habitantes.
Este número coloca o Brasil em 8º lugar entre 100 nações. É sabido que os diversos crimes como roubos,
sequestros, sequestros relâmpagos, furtos e assassinatos afetam a vida das pessoas nas cidades brasileiras.
O cenário apresentado espalha as suas consequências por vários campos, sendo percebido por todos os setores
da sociedade. O crescimento da criminalidade urbana traz consigo o aumento do medo e da sensação de
insegurança; transforma o cotidiano das cidades e separa, de maneira profunda, os grupos sociais.
5 A Segurança Pública no Brasil – Continuação
Os custos que os crimes representam para o Brasil são altíssimos, pois se gasta muito com o sistema de Saúde,
perde-se muita força produtiva e afastam-se investimentos de determinadas regiões. Além disso, os custos
simbólicos para uma sociedade que se representa também por meio da violência são muito significativos. Estes
níveis de violência e criminalidade aumentam o descrédito em relação às instituições, o que acarreta a utilização
de estratégias privadas de resolução dos problemas.
Estes níveis de violência e criminalidade aumentam o descrédito em relação às instituições, o que acarreta a
utilização de estratégias privadas de resolução dos problemas.De acordo com o Texto-Base da 1ª Conferência
Nacional de Segurança Pública:
Diante desse cenário, a constatação mais importante é que tamanha vitimização deixa claro que
ainda há no país um abismo referente à garantia de direitos que impede que a cidadania seja uma
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experiência integral assegurada ao conjunto da sociedade. Se, por um lado, a violência alimenta
cotidianamente o ciclo de desigualdades no país, por outro é preciso reconhecer que a segurança – e
sua garantia na condição de direito de todo cidadão e cidadã – é uma premissa essencial à efetivação
de uma noção plena de cidadania, além de ser um direito fundamental previsto na Constituição
Federal de 1988.
6 Projeto político
Um projeto político que tenha como objetivo a promoção de uma sociedade igualitária e justa deve levar em
conta a segurança de cada cidadão e, ao mesmo tempo, a segurança da coletividade.
Sabemos que esta é uma tarefa complexa e as interpretações mostram uma série de elementos explicativos, isto
é:
• O acesso indiscriminado às armas de fogo e sua ilegalidade e a fragilidade das instituições no Brasil.
• A sociabilidade que se fundamenta em bases perversas que cristaliza uma cultura violenta na resolução 
de conflitos.
• A criminalidade internacional caracterizada pelo tráfico de pessoas, de drogas e de armas.
• As disparidades estruturais que assolam o Brasil e as políticas sociais que ainda não beneficiam o 
conjunto da sociedade
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7 Atuação do Estado
O fenômeno da violência e da criminalidade no Brasil se apoia em bases individuais, comunitárias,
estruturais e institucionais e demanda que seu enfrentamento seja feito de modo a articular e
contemplar todas essas frentes. Por oposição, essa multiplicidade de fatores parece encontrar um
denominador comum. A persistência crescente dos indicadores de vitimização chama atenção para a
fragilidade e a pouca eficácia histórica das ações desenvolvidas pelo Estado brasileiro nos diversos
níveis governamentais. (p. 08)
Além de nem sempre ser eficaz na tarefa de promover a convivência pacífica, muitas vezes o Estado é um
promotor da violência e da sensação de insegurança, sem conseguir reprimir o crime, não tendo sucesso em
oferecer oportunidades de reintegração social.
Mudar este quadro é um desafio que deve ser enfrentado coletivamente. Para revertê-lo, o Estado, em seus
muitos níveis, deve garantir direitos com políticaspúblicas eficientes nos resultados, eficazes na gestão dos
recursos públicos e cumprindo as normas (que regem nosso ordenamento jurídico).
Cabe à sociedade se envolver e se mobilizar para a solução destes problemas.
Se tomada de uma perspectiva formal, a Segurança Pública pode ser vista como a convivência pacífica e
ordenada das cidadãs e dos cidadãos e da sociedade em seu conjunto.
8 Avanços superficiais nas políticas sociais
A Constituição de 1988 assegurou avanços nas políticas sociais em áreas relevantes, sobretudo àquelas voltadas
às áreas sociais e da promoção de direitos, mas, no que se refere à Segurança Pública, seu texto pode ser
classificado como generalista e excessivamente indefinido.
Esse quadro foi construído graças às mudanças superficiais e insuficientes nas instituições e aparatos de
Segurança Pública disponíveis frente às demandas e às tarefas transformadoras que tinham diante de si.
O Estado, então, passou a apenas reagir a casos de violência extrema e às pressões da opinião pública, em vez de
agir de forma propositiva.
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9 Distância entre a sociedade e a Segurança Pública
O fato de negligenciar os princípios da legalidade e da eficácia, com o passar do tempo, criaram-se, abismos com
relação aos direitos e estabeleceu-se um antagonismo estrutural entre as forças policiais e a sociedade civil e um
descrédito em relação aos projetos políticos na área da segurança.
Além disso, por ser vista como “coisa de polícia”, a Segurança Pública não foi um tema cuja pauta tenha emanado
de reivindicações dos movimentos sociais.
Poucos atores, além dos profissionais da Segurança Pública eram reconhecidos como habilitados para tratar
deste tema. Aliado a isso, a vitimização de certas parcelas da população aumentou ainda mais a distância entre a
sociedade e os haveres da Segurança Pública.
10 Aspectos fundamentais ao progresso das políticas 
públicas em Segurança Pública
A situação, no Brasil, vem se transformando nos últimos anos.
Se os avanços da democracia são inquestionáveis, parte desse desenvolvimento se deve às conquistas no campo
da Segurança Pública.
Tem sido necessário mudar a cultura que prega a falsa dicotomia entre prevenção e repressão e passar a
reconhecer que ambas têm vocação e lugar distintos, sendo complementares e necessárias uma a outra.
É preciso que a formulação de políticas públicas seja tratada à luz das dimensões técnicas.
A produção de informação e conhecimento deve tomar o lugar do medo, da sensação de insegurança, do
preconceito e do desconhecimento no subsídio da ação policial.
É neste contexto que se tornam importantes a valorização profissional e a qualificação.
Outro elemento fundamental para avançarmos no campo das políticas públicas em Segurança Pública é a
existência de um segmento da sociedade civil especializado neste campo.
Se tais atores contribuíram no sentido de apontar os níveis inaceitáveis de violência no país e,
consequentemente, de mobilizar a sociedade civil para a importância do tema, atualmente a sua interlocução
com o poder público contribui para a elaboração de políticas públicas.
Desta forma, podemos afirmar que a aproximação entre os setores das universidades, da sociedade civil
organizada e dos profissionais de Segurança Pública representou uma iniciativa fundamental para questionar e
romper antagonismos históricos.
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Reformulações do campo técnico no contexto político internacional também foram responsáveis por mudanças
no cenário. A utilização cada vez mais ampla da expressão “segurança cidadã” tanto por governos como por
agências multilaterais, mostra uma nova tendência, isto é, o objetivo não se restringe mais a proteger o Estado,
mas, sobretudo, a garantir os direitos dos cidadãos e das cidadãs.
A segurança dos indivíduos e da vida em sociedade é concebida como passo essencial para o desenvolvimento
das nações e, por isso, a agenda política tem como prioridade assegurar que todos convivam em liberdade e sem
violência.
11 A prevenção na Segurança Pública
Sabemos que a melhor forma de enfrentar as questões de criminalidade e violência não está escrita em um livro
de receitas e que, dadas as peculiaridades de cada região, os esforços devem ocorrer mantendo-se a coerência
com as necessidades específicas.
Também é importante frisar que, para conseguir uma boa forma de enfrentar o problema, é preciso saber qual
problema deve ser enfrentado e, para isso, a criação e a manutenção de uma base de dados fidedignos que ajude
a elaborar um confiável diagnóstico são fundamentais para nortear a tomada de decisão dos gestores.
É importante também que se rompa o isolamento das iniciativas em Segurança Pública e se passe a operar a
partir de uma rede de atores sociais que alcancem as agências públicas de policiamento e os diferentes serviços
oferecidos pelo Estado, até as agências privadas e os próprios cidadãos.
Este tipo de iniciativa otimiza recursos humanos, materiais e de tempo e diminui o retrabalho.
12 Níveis de prevenção
Consultando, novamente, o Guia para a Prevenção do Crime e da Violência (p. 52 e 53), encontramos as seguintes
definições para os diversos níveis de prevenção:
Prevenção primária
Estratégia de prevenção centrada em ações dirigidas ao meio ambiente físico e/ou social, mais especificamente
aos fatores ambientais que aumentam o risco de crimes e violências (fatores de risco) e que diminuem o risco de
crimes e violências (fatores de proteção), visando a reduzir a incidência e/ou os efeitos negativos de crimes e
violências. Pode incluir ações que implicam mudanças mais abrangentes, na estrutura da sociedade ou
comunidade, visando a reduzir a predisposição dos indivíduos e grupos para a prática de crimes e violências na
sociedade (prevenção social). Ou, alternativamente, pode incluir ações que implicam mudanças mais restritas, nas
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áreas ou situações em que ocorrem os crimes e as violências, visando a reduzir as oportunidades para a prática de
crimes e violências na sociedade (prevenção situacional).
Prevenção secundária
Estratégia de prevenção centrada em ações dirigidas a pessoas mais suscetíveis de praticar crimes e violências,
mais especificamente aos fatores que contribuem para a vulnerabilidade e/ou resiliência destas pessoas, visando
a evitar o seu desenvolvimento com o crime e a violência ou ainda a limitar os danos causados pelo seu
envolvimento com o crime e a violência, bem como a pessoas mais suscetíveis de serem vítimas de crimes e
violências, visando a evitar ou limitar os danos causados pela sua vitimização. É frequentemente dirigida aos
jovens e aos adolescentes, e a membros de grupos vulneráveis e/ou em situação de risco.
Prevenção terciária
Estratégia de prevenção centrada em ações dirigidas a pessoas que já praticaram crimes e violências, visando a
evitar a reincidência e a promover o seu tratamento, reabilitação e reintegração familiar, profissional e social,
bem como a pessoas que já foram vítimas de crimes e violências, visando a evitar a repetição da vitimização e a
promover o seu tratamento, reabilitação e reintegração familiar, profissional e social.
O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você vai estudar:
• O conceito de redes.
• As relações entre os diversos segmentos sociais e as forças de Segurança Pública.
• As possibilidades de articulação das redes para a solução de problemas de forma cooperativa, na 
Segurança Pública.
Fique ligado
Pensando desta forma, é possível romper com o modelo reativo de polícia e conceber o papel
das polícias e das guardas municipais no sentido da afirmação de estratégias comunitárias de
segurança que utilizam, por exemplo, a abordagem conhecida internacionalmente como
“policiamento orientado para a solução de problemas” e estão sempre abertas à possibilidade
de um trabalho integrado.
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CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Compreendeu as principais características e exigências da sociedade contemporânea no que diz respeito 
à Segurança Pública;
• Aprendeua importância da integração das ações dos órgãos do sistema de Segurança Pública com as 
demais forças sociais.
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	Olá!
	1 Introdução
	2 As características da sociedade contemporânea
	3 A cidade
	4 A Segurança Pública no Brasil
	5 A Segurança Pública no Brasil – Continuação
	6 Projeto político
	7 Atuação do Estado
	8 Avanços superficiais nas políticas sociais
	9 Distância entre a sociedade e a Segurança Pública
	10 Aspectos fundamentais ao progresso das políticas públicas em Segurança Pública
	11 A prevenção na Segurança Pública
	12 Níveis de prevenção
	O que vem na próxima aula
	CONCLUSÃO

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