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Aula 1 - Contravenções Penais

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FACULDADES INTEGRADAS CARAJÁS
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
Decreto-Lei n. 3.688, de 03/10/1941
Contravenções Penais
Índice:
Introdução
Regras Gerais
Territorialidade
Dolo e culpa
Tentativa
Das Penas
Reincidência
Erro de direito
Limites das Penas
Sursis e Livramento Condicional
Penas Acessórias
Medida de Segurança
Presunção de Periculosidade
Ação Penal
Parte Especial
Introdução
As infrações penais, dividem-se entre crimes e contravenções, caracterizando-se ambas por serem fatos típicos, antijurídicos (e culpáveis).
Nelson Hungria definiu a contravenção como um “crime anão”, já que se trata de um delito de menor consequência e sanção de menor gravidade.
A distinção mais importante é dada pelo art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal: “considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção é a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.”
!!! Pena de multa nunca é cominada isoladamente ao crime (vide art. 28, LD).
Distinções Gerais:
.Ação Penal:	.Crimes podem ser de ação penal pública ou privada.
		.Contravenções sempre se apuram mediante ação penal pública 			incondicionada.
.Tentativa: 	.Possível nos crimes.
		.Não possível nas contravenções penais.
.Crimes cometidos no Exterior:
		.Em certos casos, os crimes cometidos no exterior podem ser punidos no 		Brasil.
		.As contravenções praticadas no exterior nunca podem ser punidas no 		Brasil.
2. Aplicação das regras gerais do Código Penal
(art. 1º) Aplicam-se às contravenções as regras gerais do Código Penal, sempre que a presente lei não disponha de modo diverso.
Prestigia o princípio da especialidade. Sempre que esta lei regular um assunto, será ela aplicada.
3. Territorialidade
(art. 2º) A lei brasileira só é aplicável à contravenção praticada no território nacional.
Princípio da territorialidade exclusiva.
*Para os crimes, é possível a aplicação da lei brasileira a fatos cometidos no exterior (art. 7º, CP).
4. Dolo e Culpa (art. 3º)
Para a existência da contravenção, basta a ação ou omissão voluntária. Deve-se, todavia, ter em conta o dolo ou a culpa, se a lei faz depender, de um ou de outra, qualquer efeito jurídico.
.Voluntariedade, simples vontade de realizar a conduta, sem exigir qualquer intenção.
	.Críticas: Impossibilidade da responsabilidade objetiva e violação ao princípio da 	culpabilidade.
*Alguns autores entendem como inconstitucional tal dispositivo, exigindo dolo ou culpa também para as contravenções penais, como ocorre com os crimes.
.Contravenção típica ou própria: regra do caput (voluntariedade).
.Contravenção atípica ou imprópria: exige dolo e culpa (ex.: art. 26, 29 (2ª parte), 30 e 31, LCP)
5. Tentativa (art. 4º)
Não é punível a tentativa de contravenção.
A maioria das contravenções é infração de mera conduta e unissubsistente, o que por si só, inviabiliza a tentativa.
*Na prática existe a conduta tentada, por exemplo das vias de fato (art. 21, LCP).
Opção do legislador, como política criminal, considerando a pequena potencialidade lesiva da conduta.
6. Das Penas (art. 5º)
I – prisão simples (art. 6º)
A pena de prisão simples deve ser cumprida, sem rigor penitenciário, em estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em regime semiaberto ou aberto.
*O regime dependerá da pena e de eventual reincidência.
(§ 1º) O condenado a pena de prisão simples fica sempre separado dos condenados a pena de reclusão ou de detenção.
(§ 2º) O trabalho é facultativo, se a pena aplicada, não excede a quinze dias.
!!! É incabível a prisão preventiva, pois o art. 312, CPP, dispõe apenas dos crimes.
II – multa (art. 9º)
A multa converte-se em prisão simples, de acordo com o que dispõe o Código Penal sobre a conversão de multa em detenção.*
Parágrafo único. Se a multa é a única pena cominada, a conversão em prisão simples se faz entre os limites de quinze dias e três meses.*
*Revogado pela Lei n. 9.268/96, que alterou o art. 51, CP. A multa não paga deve ser executada pelas regras do direito civil.
Aplica-se o critério do dia-multa do Código Penal.
	.de 10 a 360 dias-multa e de 1/30 até cinco vezes o maior salário mínimo 	vigente.
Leva-se em conta as circunstâncias judiciais do art. 59/CP, principalmente a situação econômica do condenado.
7. Reincidência (art. 7º)
Hipóteses:
I – Nova Contravenção após ser condenado por contravenção no Brasil. SIM
II - Nova Contravenção após ser condenado por contravenção fora do Brasil. NÃO
III – Crime após ser condenado por contravenção. NÃO
IV – Novo crime após ser condenado por crime no Brasil ou exterior. SIM
V – Contravenção após ser condenado por crime, no Brasil ou exterior. SIM
8. Erro de Direito (art. 8º)
No caso de ignorância ou de errada compreensão da lei, quando escusáveis, a pena poderá deixar de ser aplicada. (perdão judicial)
A maioria dos doutrinadores entende que tal dispositivo foi revogado pelo art. 21 do CP.
art. 21/CP - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.
Assim, desde que escusável o erro, haverá exclusão da culpabilidade, com absolvição e não perdão judicial.
Há corrente que entende que o art. 8º da LCP é especial e se sobrepõe ao CP, acarretando o perdão judicial, no caso de erro de direito.
9. Limites das Penas (art. 10)
A duração da pena de prisão simples não pode, em caso algum, ser superior a cinco anos, nem a importância das multas ultrapassar cinquenta contos (???).
*Tal limite de prisão simples prevalece mesmo no caso de concurso de contravenções.
*A menção à multa encontra-se revogada. Aplicando-se as regras do Código Penal.
10. Suspensão Condicional da Pena e Livramento Condicional (art. 11)
.Requisitos do sursis (art. 77, CP):
Pena não superior a dois anos;
Não cabível a substituição por pena restritiva de direitos;
Circunstâncias judiciais (art. 59, CP) favoráveis ao condenado e
Réu não reincidente.
.Período de Prova: de 1 a 3 anos. (crime é de 2 a 4 anos).
.Revogação e Prorrogação: regras do art. 81, CP.
.Livramento condicional: regras do art. 83, CP.
	.Condenação igual ou superior a 2 anos.
	.Cumprimento de 1/3 se primário e 1/2 se reincidente.
11. Penas Acessórias (art. 12)
I – a incapacidade temporária para profissão ou atividade, cujo exercício dependa de habilitação especial, licença ou autorização do poder público;
II – a suspensão dos direitos políticos.
Parágrafo único. Incorrem:
a) na interdição sob nº I, por um mês a dois anos, o condenado por motivo de contravenção cometida com abuso de profissão ou atividade ou com infração de dever a ela inerente;
b) na interdição sob nº II, o condenado a pena privativa de liberdade, enquanto dure a execução do pena ou a aplicação da medida de segurança detentiva.
Tacitamente revogado pela Lei n. 7.209;84, o Código Penal não mais prevê penas acessórias.
Porém, alguns autores defendem a validade da norma, uma vez que as penas acessórias foram extintas, mas os efeitos da condenação podem atingir tais restrições.
12. Medidas de Segurança (arts. 13 e 16)
As medidas de segurança previstas no CP são:
detentivas - internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico e
restritivas - tratamento ambulatorial.
Destinados aos inimputáveis (periculosidade presumida) e semi-imputáveis (necessidade de tratamento).
*Para as contravenções, normalmente é aplicado o tratamento ambulatorial (art. 97, CP).
*Exílio local, como medida de segurança, não foi mantido com a reforma de 1984.
Prazo mínimo de duração da internação é de 6 meses.
*Medida de segurança é sempre aplicada por prazo indeterminado, perdurando enquanto não cessar a periculosidade, mediante perícia médica.
*Liberdade vigiada segue as regras dos arts. 132 e ss da Lei n. 7.210/84 (Lei de Execução Penal).
13. Presunção de Periculosidade (arts. 14 e 15)
Presumem-seperigosos, além dos indivíduos a que se referem os ns. I e II do art. 78 do Código Penal:
I – o condenado por motivo de contravenção cometido, em estado de embriaguez pelo álcool ou substância de efeitos análogos, quando habitual a embriaguez;
II – o condenado por vadiagem ou mendicância;
Tacitamente revogado pela Lei n. 7.209;84.
Internação em colônia agrícola ou em instituto de trabalho, de reeducação ou de ensino profissional, pelo prazo mínimo de um ano (art. 15)
I – o condenado por vadiagem (art. 59);
II – o condenado por mendicância (art. 60 e seu parágrafo).
Tacitamente revogado pela Lei n. 7.209;84.
14. Ação Penal (art. 17)
A ação penal é pública Incondicionada.
Infração de Menor Potencial Ofensivo: O art. 61 da Lei n. 9.099/95 comina que são infrações de menor potencial ofensivo os crimes cuja pena máxima não seja superior a 2 anos e as contravenções penais.
*Apuradas, em regra, perante o Juizado Especial Criminal, salvo se conexas a crimes comuns.
	.Autoridade policial lavra um termo circunstanciado de ocorrência (TCO).
Competência: exclusiva da Justiça Comum Estadual (art. 109, VI, CF).
Súmula 38/STJ: “compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades”.
15. Parte Especial
A lei dividiu em 8 capítulos:
Das Contravenções referentes à Pessoa;
Das Contravenções referentes ao Patrimônio;
Das Contravenções referentes à Incolumidade Pública;
Das Contravenções referentes à Paz Pública;
Das Contravenções referentes à Fé Pública;
Das Contravenções referentes à Organização do Trabalho;
Das Contravenções referentes à Polícia de Costumes;
Das Contravenções referentes à Administração Pública.
A grande maioria das contravenções penais viola o princípio da intervenção mínima.
15.1. Contravenções referentes à pessoa
art. 18. Fabricar, importar, exportar, ter em depósito ou vender, sem permissão da autoridade, arma ou munição:
Pena – prisão simples, de três meses a um ano, ou multa, de um a cinco contos de réis, ou ambas cumulativamente, se o fato não constitui crime contra a ordem política ou social.
art. 19. Trazer consigo arma fora de casa ou de dependência desta, sem licença da autoridade:
Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, de duzentos mil réis a três contos de réis, ou ambas cumulativamente.
Perderam a importância com o advento da Lei n. 10.826/03, sendo revogadas.
Permanecem apenas para as armas brancas.
art. 21. Praticar vias de fato contra alguém:
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de cem mil réis a um conto de réis, se o fato não constitui crime.
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos.
Elemento Objetivo: o agente emprega violência de fato, sem intenção de provocar dano à integridade corporal da vítima.
A vítima não sofre lesão corporal.
Viola o princípio da intervenção mínima 
É possível a tentativa???
15.4. Contravenções referentes à Paz Pública
Art. 42. Perturbar alguém o trabalho ou o sossego alheios:
I – com gritaria ou algazarra;
II – exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em desacordo com as prescrições legais;
III – abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos;
IV – provocando ou não procurando impedir barulho produzido por animal de que tem a guarda:
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
Não é necessário o dolo específico de perturbar, bastando que tenha ciência do incômodo.
15.7. Contravenções referentes à Polícia de Costumes
Art. 50. Estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar público ou acessível ao público, mediante o pagamento de entrada ou sem ele:
§ 3º Consideram-se, jogos de azar:
a) o jogo em que o ganho e a perda dependem exclusiva ou principalmente da sorte;
b) as apostas sobre corrida de cavalos fora de hipódromo ou de local onde sejam autorizadas;
c) as apostas sobre qualquer outra competição esportiva.
Protege a sociedade, os bons costumes e principalmente viciados, obcecados, que perdem seu patrimônio.
*Porém, há vários jogos de azar considerados não ofensivos aos costumes (bingos de igrejas, “bolões” de apostadores etc).
Art. 59. Entregar-se alguém habitualmente à ociosidade, sendo válido para o trabalho, sem ter renda que lhe assegure meios bastantes de subsistência, ou prover à própria subsistência mediante ocupação ilícita:
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses.
Parágrafo único. A aquisição superveniente de renda, que assegure ao condenado meios bastantes de subsistência, extingue a pena.
O ocioso (que não tem como manter sua subsistência) tende a praticar crimes contra o patrimônio.
Vadiagem: é apto ao trabalho, mas não o faz porque não quer.
Há projeto de lei prevendo revogar tal contravenção penal.
Inconstitucional por violar a liberdade de expressão, atacar sua personalidade, sua intimidade
*Se ocioso com renda é lícito.

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