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PLURALISMO JURÍDICO: NOVO PARADIGMA DE LEGITIMAÇÃO
Antonio Carlos Wolkmer 
Sumário: Introdução. 1. Crise do Direito e Novos Paradigmas. 2. Problema-
tização da Teoria Crítica. 3. O Pluralismo como Novo Modelo de 
Referência. 4. Pluralismo Jurídico: legitimidade a partir de Sujeitos Emer-
gentes e de suas Necessidades.
 
INTRODUÇÃO
O artigo em questão compreenderá algumas reflexões teóricas acerca da 
crise da cultura jurídica tradicional e das possibilidades de se redefinir uma proposta mais 
democrática do Direito. Por conseqüência, os marcos teóricos desta incursão, por incidirem 
na especificidade da Sociologia e da Filosofia do Direito, escapam de um exame mais 
tecno-formalista, quer ao nível do Direito Privado oficial, quer ao do Direito Público 
dogmático.
A hipótese nuclear da proposta é a de que a ineficácia do modelo de legali-
dade liberal-individualista favorece, na atualidade, toda uma ampla discussão para se 
repensar os fundamentos, o objeto e as fontes de produção jurídica. Ademais, a condição 
primeira para a materialidade efetiva de um processo de mudança, em sociedades emergen-
tes, instáveis e conflituosas implica, necessariamente, a reorganização democrática da 
sociedade civil, a transformação do Estado Nacional e a redefinição de uma ordem 
normativa identificada com as carências e as necessidades cotidianas de novos sujeitos 
coletivos. Para além das formas jurídicas, positivas e dogmaticamente instituídas, herdadas 
do processo de colonização, torna-se imperioso reconhecer a existência de outras manifes-
tações normativas informais, não derivadas dos canais estatais, mas emergentes de lutas, 
conflitos e das flutuações de um processo histórico-social participativo em constante 
reafirmação.
Sendo assim, delimitar-se-á a presente exposição em quatro momentos: 1. 
Crise do Direito e Novos Paradigmas. 2. Problematização da Teoria Crítica. 3. Pluralismo 
como novo modelo de Referência. 4. Pluralismo Jurídico: legitimidade a partir de Sujeitos 
Emergentes e suas Necessidades .
1. CRISE DO DIREITO E NOVOS PARADIGMAS
Assinala-se que a crise que se abate sobre o arcabouço jurídico tradicional 
está perfeitamente em sintonia com o esgotamento e as mudanças que atravessam os 
modelos vigentes nas ciências humanas. Adverte-se que as verdades metafísicas e racionais 
que sustentaram durante séculos as formas de saber e de racionalidade dominantes, não 
mais mediatizam as inquietações e as necessidades do presente estágio da modernidade 
liberal-burguês-capitalista. Os modelos culturais, normativos e instrumentais que justifica-
ram o mundo da vida, a organização social e os critérios de cientificidade tornaram-se 
insatisfeitos e limitados, abrindo espaço para se repensar padrões alternativos de referência 
e legitimação. Isso transposto para o jurídico nos permite consignar que a estrutura 
normativista do moderno Direito positivo estatal é ineficaz e não atende mais ao universo 
complexo e dinâmico das atuais sociedades de massa que passam por novas formas de 
produção de capital, por profundas contradições sociais e por instabilidades que refletem 
crises de legitimidade e crises na produção e aplicação da justiça.
Daí a obrigatoriedade de se propor a discussão sobre a “crise dos paradig-
mas”, delimitando o espaço de entendimento da crise na esfera específica do fenômeno 
jurídico. A crise portanto, no âmbito do Direito, significa o esgotamento e a contradição do 
paradigma teórico-prático liberal-individualista que não consegue mais dar respostas aos 
novos problemas emergentes, favorecendo, com isso, formas diferenciadas que ainda 
carecem de um conhecimento adequado.
As atuais exigências ético-políticas das estruturas sócio-econômicas do 
capitalismo periférico (caso de países como o Brasil) coloca a obrigatoriedade da busca de 
novos padrões normativos, que possam melhor solucionar as recentes necessidades, 
aproximando-se das práticas sociais cotidianas.
A construção de um novo paradigma de regulamentação que venha priorizar 
mais diretamente as prioridades da sociedade envolve a articulação de um projeto pedagó-
gico desmistificador, emancipatório e popular. Tal processo pedagógico que se consubstan-
cializa numa teoria, pensamento ou discurso crítico tem a função estratégica de preparar, 
em nível prático, os horizontes de um acesso mais democrático à justiça. Chega-se, assim, 
a alguns elementos caracterizadores da “teoria crítica” do Direito, enquanto instrumental 
de “transição” para uma juridicidade pluralista e emancipadora.
2. PROBLEMATIZAÇÃO DA TEORIA CRÍTICA 
Os primórdios de uma Teoria Crítica encontram toda sua fundamentação na 
tradição idealista que remonta ao criticismo kantiano, passando pela dialética hegeliana, 
pelo materialismo histórico marxista e pelo subjetivismo psicanalítico freudiano.
A teoria crítica, enquanto instrumental operante, expressa a idéia de razão 
vinculada ao processo histórico-social e à superação de uma realidade em constante 
transformação. De fato, a Teoria Crítica surge como uma teoria dinâmica, superando os 
limites naturais das teorias tradicionais, pois não se atém apenas a descrever o que está 
estabelecido ou a contemplar eqüidistantemente os fenômenos sociais e reais. Seus 
pressupostos de racionalidade são “críticos” na medida em que articulam, dialeticamente, a 
“teoria” com a “práxis”, o pensamento crítico revolucionário com a ação estratégica.
A intenção da Teoria Crítica consiste em definir um projeto que possibilite a 
mudança da sociedade em função de um novo tipo de “sujeito histórico”. Trata-se da 
emancipação do homem de sua condição de alienado, de sua reconciliação com a natureza 
não-repressora e com o processo histórico por ele moldado. A Teoria Crítica tem o mérito 
de demonstrar até que ponto os indivíduos estão coisificados e moldados pelos determinis-
mos históricos, mas que nem sempre estão cientes das inculcações hegemônicas e das 
falácias ilusórias do mundo oficial. A Teoria Crítica provoca a autoconsciência dos atores 
sociais que estão em desvantagem e que sofrem as injustiças por parte dos setores domi-
nantes, dos grupos ou das elites privilegiadas. Neste sentido, ideologicamente a Teoria 
Crítica tem uma formalização positiva na medida em que se torna processo adequado ao 
esclarecimento e à emancipação, indo ao encontro dos anseios, dos interesses e das 
necessidades dos realmente oprimidos.
Ainda que se admita ser fonte de ambigüidades, a categoria “crítica” 
aplicada ao Direito pode ser compreendida no sentido de não só despertar e emancipar um 
sujeito histórico, submerso numa normatividade sistêmica, mas também discutir e redefinir 
o processo de constituição de uma legalidade dominante injusta e opressora. Na verdade, a 
“teoria crítica” aplicado ao Direito pretende repensar, questionar e romper com a dogmáti-
ca lógico-formal imperante em uma época ou em um determinado momento da cultura 
jurídica de um país, propiciando as condições para o amplo processo pedagógico de 
“esclarecimento”, “autoconsciência” e “emancipação”. A Teoria Crítica do Direito não só 
analisa as condições do dogmatismo técnico-formal e a pretensão de cientificidade do 
Direito vigente, como, sobretudo, propõe novos métodos de ensino e de pesquisa que 
conduzem à desmistificação e à tomada de consciência dos operadores jurídicos.
A instância ocupada pelas concepções da “crítica jurídica” não se reveste do 
que se poderia chamar de “novo Direito”, mesmo assim, esta acaba se legitimando como 
um caminho viável para chegar a um “novo modo de produção jurídica”, ou seja, criam-se 
as reais condições da passagem do paradigma legal convencional para a eficácia de uma 
“juridicidade emancipadora”. Esta “juridicidade emancipadora” envolve, presentemente, a 
percepção de um certo tipo específico de pluralismo jurídico que contemple a ação 
histórica de sujeitos coletivos emergentes (movimentos sociais em geral: campesinos,indígenas, negros, mulheres, minorias, imigrantes etc.) e de suas necessidades fundamen-
tais.
3. PLURALISMO COMO NOVO MODELO DE REFERÊNCIA
A presente retomada do pluralismo como um projeto diferenciado, refere-se, 
de um lado, à superação das modalidades tradicionais de pluralismo identificado com a 
democracia liberal ou com o corporativismo societário, de outro, à edificação de um 
projeto-jurídico resultante do processo de práticas sociais insurgentes, motivada para a 
satisfação justa de necessidades essenciais.
Torna-se prioritário, para isso, distinguir o pluralismo como projeto demo-
crático de emancipação de sociedades emergentes, de uma outra prática de pluralismo que 
está sendo apresentada como a nova saída para os intentos de “neocolonialismo” ou do 
“neoliberalismo” dos países de capitalismo central exportado para a periferia. Ora, este tipo 
conservador de pluralismo vinculado a projetos da “pós-modernidade” e da “desregulação 
global da vida” é mais um embuste para escamotear a concentração violenta do capital no 
“centro”, excluindo em definitivo a “periferia”.
Naturalmente, a este pluralismo conservador se contrapõe radicalmente o 
pluralismo progressista de teor “democrático-popular” aqui proposto. A diferença entre o 
primeiro e o segundo está, fundamentalmente, no fato de que o pluralismo conservador 
inviabiliza a organização das massas e mascara a verdadeira participação, isto é, ele 
oferece falsos espaços alternativos, enquanto que o pluralismo progressista como estratégia 
mais democrática de integração procura promover e estimular a participação múltipla dos 
segmentos populares e dos novos sujeitos coletivos.
De igual modo, pode-se diferenciar o antigo pluralismo (de matriz liberal) 
daquele afinado com as novas exigências históricas.
Enquanto o pluralismo liberal era atomístico, consagrando uma estrutura 
privada de indivíduos isolados, mobilizados para alcançar seus intentos econômicos 
exclusivos, o novo pluralismo caracteriza-se por ser integrador, pois une indivíduos, 
sujeitos coletivos e grupos organizados em torno de necessidades comuns. Trata-se, como 
lembra Carlos Nelson Coutinho, da criação de um pluralismo de “sujeitos coletivos”, 
fundado num novo desafio: construir uma nova hegemonia que contemple o equilíbrio 
entre “predomínio da vontade geral (...) sem negar o pluralismo dos interesses 
particulares”. Ademais, a hegemonia do “pluralismo de sujeitos coletivos”, sedimentada 
nas bases de um largo processo de democratização, descentralização e participação, deve 
também resgatar alguns dos princípios da cultura política ocidental, como: o direito das 
minorias, o direito à diferença, à autonomia e à tolerância.
A percepção deste novo pluralismo - no âmbito da produção das normas e 
da resolução dos conflitos - passa, obrigatoriamente, pela redefinição das relações entre o 
poder de regulamentação do Estado e o esforço desafiador de auto-regulação dos movi-
mentos sociais, grupos populares e associações profissionais. Tal pluralismo contempla 
também uma ampla gama de manifestações de normatividade paralela, institucionalizadas 
ou não, de cunho legislativo ou jurisdicional, “dentro” e “fora” do sistema estatal positivo. 
Tendo presente uma longa tradição ético-cultural introjetada e sedimentada no inconsciente 
da coletividade e das instituições latino-americanas, é praticamente impossível projetar 
uma cultura jurídica com a ausência total e absoluta do Estado. Neste sentido, o 
pluralismo, enquanto novo referencial do político e do jurídico, necessita contemplar a 
questão do Estado nacional, suas transformações e desdobramentos frente aos processos de 
globalização, principalmente de um Estado agora limitado pelo poder da sociedade civil e 
pressionado não só a reconhecer novos direitos, mas, sobretudo, diante da avalanche do 
“neoliberalismo”, de ter que garantir os direitos conquistados pelos cidadãos.
Por outro lado, há de se sublinhar a especificidade do pluralismo como 
projeção de um paradigma interdisciplinar do político e do jurídico. Com efeito, a 
compreensão mais abrangente e atualizada do pluralismo como um “sistema de decisão 
complexa” envolve hoje, no dizer de André-Jean Arnaud, um “cruzamento interdisciplinar” 
entre a normatividade (Direito) e o poder social (Sociedade), considerando obviamente a 
interação do “jurídico” com outros campos do conhecimento. Uma perspectiva crítico-
interdisciplinar revela que a inter-relação fragmentada do legal não mais é vista como 
caótica e que é perfeitamente possível viver num mundo de juridicidade policêntrica.
A proposta do pluralismo jurídico de teor comunitário-participativo para 
espaços institucionais periféricos passa, fundamentalmente, pela legitimidade instaurada 
por novos atores sociais e pela justa satisfação de suas necessidades.
 
4. PLURALISMO JURÍDICO: LEGITIMIDADE A PARTIR DE 
SUJEITOS EMERGENTES E DE SUAS NECESSIDADES
É preciso realçar o processo de formação da normatividade em função das 
contradições, interesses e necessidades de sujeitos sociais emergentes. Este direcionamento 
ressalta a relevância de se buscar formas plurais de fundamentação para a instância da 
juridicidade, contemplando uma construção comunitária participativa solidificada na 
realização existencial, material e cultural dos atores sociais. Trata-se, principalmente, 
daqueles sujeitos históricos que, na prática cotidiana de uma cultura político-institucional e 
um modelo sócio-econômico particular, são atingidos na sua dignidade pelo efeito perverso 
e injusto das condições de vida impostas pelo alijamento do processo de participação social 
e pela repressão da satisfação das mínimas necessidades. Na singularidade da crise que 
atravessa o imaginário jurídico-político e que degenera as relações da vida cotidiana, a 
resposta para transcender a exclusão e as privações provêm da força contingente de 
sujeitos coletivos populares que, pela consciência de seus reais interesses, são capazes de 
criar e instituir novos ditreitos. Assim, as contradições de vida experimentadas pelos 
diversos movimentos sociais, basicamente aquelas condições negadoras da satisfação das 
necesidades identificadas com a sobrevivência e a subsistência, acabam produzindo 
reivindicações que exigem e afirmam direitos. Os direitos objetivados pelos sujeitos 
coletivos expressam a intermediação entre necessidades, conflitos e demandas.
Importa aclarar que a estrutura do que se chama “necessidades humanas 
fundamentais” não se reduz meramente às necessidades sociais ou materiais, mas compre-
ende necessidades existenciais (de vida), materiais (subsistência) e culturais. Ora, na real 
atribuição do que possa significar “necessidade”, “carência” e “reivindicação”, há uma 
propensão natural, quando se examina o desenvolvimento capitalista das sociedades latino-
americanas, de se enfatizar uma leitura “economicista” dessas categorias, ou seja, 
priorizar-se as necessidades essenciais como resultantes do sistema de produção. Entretan-
to, ainda que se venha inserir grande parte da discussão das “necessidades” ou “carências” 
nas condições de qualidade, bem-estar e materialidade social de vida, não se pode 
desconsiderar as variáveis culturais, políticas, filosóficas, religiosas e biológicas. A 
dinâmica das necessidades e das carências que permeia o indivíduo e a coletividade refere-
se, tanto a um processo de subjetividade, modos de vida, desejos e valores, quanto a 
constante “ausência” ou “vazio” de algo almejado e nem sempre realizável. Por serem 
inesgotáveis e ilimitadas no tempo e no espaço, as necessidades humanas estão em 
permanente redefinição e recriação. Entende-se, assim, a razão de novas motivações, 
interesses e situações históricas impulsionarem o surgimento de novas necessidades.
Ao contrário das condições sociais, materiais e culturais reinantes nos países 
centrais do Primeiro Mundo, nas sociedades latino-americanas, asdemandas e as lutas 
históricas têm como objetivo a implementação de direitos em função das necessidades de 
sobrevivência e subsistência da vida. Por isso, em tais sociedades, marcadas por um 
cenário de dominação política, espoliação econômica e desigualdades sociais, nada mais 
natural que configurar a pluralidade permanente de conflitos, contradições e demandas por 
direitos. Direitos calcados em necessárias prerrogativas de liberdade e segurança (tradição 
de governos autoritários, violência urbana, criminalidade, acesso à justiça, etc.), de 
participação política e democratização da vida comunitária (restrições burocráticas, poder 
econômico dirigente e o papel da mídia na condução dos processos eleitoral-participativos) 
e, finalmente, de direitos básicos de subsistência e de melhoria de qualidade de vida.
Neste espaço de sociedades divididas em estratos sociais com intereses 
profundamente antagônicos, instituições político-jurídicas precárias, emperradas no 
formalismo burocrático e movidas historicamente por avanços e recuos na conquista de 
direitos, nada mais significativo do que constatar que o pluralismo dessas manifestações 
por “novos” direitos é uma exigência contínua da própria coletividade frente às novas 
condições de vida e às crescentes prioridades impostas socialmente.
Tais direitos afirmam-se, sobretudo, como direitos materiais e sociais. Isso 
se deve à percepção de que os oprimidos, pobres e marginalizados socialmente “... 
encontram-se às voltas com problemas básicos de sobrevivência: desde a dificuldade de 
encontrar emprego, a exporação no trabalho, os baixos salários, a carestia, até a conserva-
ção da saúde, (...)”. Trata-se de direitos relacionados às “necessidades sem as quais não é 
possível ‘viver como gente’: trabalho, remuneração suficiente, alimentação, roupa, saúde, 
condições infra-estruturais (água, luz, etc.), educação, lazer, repouso, férias, etc.”. Essa 
especificidade explica a razão de a maioria das ações coletivas se organizarem e se 
mobilizarem para a implementação de “novos” direitos, pois, quase sempre, estão em 
busca de “necessidades não atendidas, com seus direitos desrespeitados, excluída, de fato, 
a cidadania”.
Ainda que os chamados direitos “novos” nem sempre sejam inteiramente 
“novos”, na verdade, por vezes, o “novo” é o modo de obtenção de direitos que não 
passam mais pelas vias tradicionais - legislativa e judicial -, mas provêm de um processo 
de lutas e conquistas das identidades coletivas para o reconhecimento pelo Estado. Assim, 
a designação de novos direitos refere-se à afirmação e materialização de necessidades 
individuais (pessoais) ou coletivas (sociais) que emergem informalmente em toda e 
qualquer organização social, não estando necessariamente previstas ou contidas na 
legislação estatal positiva.
O lastro de abrangência dos “novos”direitos, legitimados pela consensuali-
dade de forças populares emergentes, não está obrigatoriamente estabelecido ou sanciona-
do por procedimentos técnico-formais, porquanto diz respeito a direitos concebidos pelas 
condições de vida e exigências de um devir, direitos que “só se efetivam, se conquistados”. 
Assim, pois, trata-se de configurar uma nova ordenação político-jurídica 
pluralista, duradouramente redefinida na minimização das insatisfações e na plena vivência 
de “direitos comunitários”. Direitos comunitários que se impõem como exigências de uma 
vida que vai dialeticamente se constituindo. Afinal, neste processo de afirmação de “novos 
direitos”, fundados na legitimidade de ação dos novos sujeitos coletivos, a inscrição plural 
e cotidiana do “jurídico” alcança uma humanização mais integral e democrática.
A imprevisibilidade, a autenticidade e a autonomia que transgride e escapa 
do “instituído” deve ser redimensionada num pluralismo comunitário-participativo, cuja 
fonte de direito é o próprio homem projetado em nível de ações coletivas, internalizadoras 
da historicidade concreta e da liberdade emancipada. Enfim, a formação de sujeitos 
coletivos e a ampliação de focos de poder social autodeterminados, num espaço de 
“invenção democrática” se processam, concomitantemente, com a “subversão contínua do 
estabelecido”, com a “reivindicação permanente do social e do político” e “a criação 
ininterrupta de novos direitos”, direitos que vão se refazendo na circunstancialidade das 
situações, direitos que vão se redefinindo a cada momento.
Eis, portanto, que a emergência de uma juridicidade “nova”, plural e 
alternativa, passa, presentemente, pela delimitação do conceito de “justas necessidades” e 
“sujeitos sociais emergentes”.