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Programa de Habilidades & Competências Comportamento de líder Marcos Braga 2 1. Introdução Liderança é uma das atividades mais antigas da história humana. Entre 30.000 e 70.000 anos atrás, quando nossa espécie era apenas mais uma no meio da cadeia alimentar, pouco representativa, com uma população pequena e espalhada em pequenos grupos de caçadores- coletores, começou um processo de evolução do ser humano, que fez com que essa situação mudasse totalmente. Uma das principais características desse período, que distingue humanos de qualquer espécie, foi o desenvolvimento de sua habilidade de comunicação. Animais de um modo geral mantêm algum grau de comunicação, seja para seus processos de acasalamento, seja para emitir alertas de perigo ou ainda para ameaçar uns aos outros. São comunicações baseadas em ocorrências reais, do momento. Mas não têm nada parecido com a capacidade que tem o ser humano, de imaginar e contar histórias. Mais ainda, a capacidade de contar histórias futuras, ou seja, de imaginar um cenário ainda inexistente e descrevê-lo aos outros. Ainda que não tenha sido este o único fator que permitiu à nossa espécie ascender ao topo da cadeia alimentar e a dominar o planeta, seguramente foi um dos mais importantes para que isso viesse a acontecer. Usar a capacidade de contar histórias futuras e conseguir reunir pessoas para torná-la realidade nada mais é que liderar. De fato, um dos maiores especialistas em liderança, o norte- americano Warren Bennis, cunhou a frase “Liderança é a capacidade de tornar realidade uma visão”. Uma história futura é exatamente isso: uma visão. E liderar é a capacidade de mobilizar os outros para persegui-la. Foi o que ocorreu ao longo das últimas dezenas de milhares de anos, em que a história foi permeada de grandes feitos por parte de líderes de todas as partes do planeta, que conduziram seus povos no processo de criação (e de destruição, muitas vezes) de comunidades, cidades, países e civilizações. Hoje vivemos um período da evolução humana que vem sendo denominado de Era Exponencial, devido à velocidade e aceleração com que as transformações estão acontecendo. Nesse novo contexto, a atividade de liderar ganha uma importância ainda maior, por causa da agilidade com que pessoas e organizações precisam reagir às mudanças constantes, ao mesmo tempo que se torna ainda mais desafi adora diante da complexidade cada vez maior com que nos deparamos tanto no ambiente de trabalho como na sociedade em geral. No universo das empresas, pesquisas recentes mostram que menos de 16% da força de trabalho está de fato engajada, ou seja, manifesta entusiasmo pelo seu trabalho atual. No Brasil o número é ainda menor, da ordem de 14%. Na prática, isso mostra que a imensa maioria das pessoas está simplesmente “indo trabalhar”. Porém, uma liderança inspiradora, capaz mobilizar pessoas e de promover um grande espírito de equipe, consegue melhorar muito essa situação, podendo elevar o nível de engajamento para 50% ou mais. 3 No Dicionário Houaiss, a defi nição de liderança traz o seguinte: “Liderança” – espírito de chefi a, autoridade, ascendência “Líder” – pessoa que possui essas características Porém, liderar vai muito além disso. Para os acadêmicos, há inúmeras defi nições diferentes. Peter Drucker, por exemplo, diz que “a única defi nição de líder é alguém que tem seguidores”. Para Warren Bennis, como já vimos anteriormente, “liderança é a capacidade de tornar realidade uma visão”. Já Vicente Falconi, renomado consultor brasileiro, me disse certa vez que “liderar é dar resultado, fazendo o certo, por meio das pessoas”. Assim como essas, há incontáveis outras defi nições, mas praticamente todas tendo como pano de fundo a capacidade de mobilizar pessoas em busca um objetivo. É importante, desde logo, eliminar alguns mitos. O primeiro é o de que líderes nascem prontos. Ouvimos com frequência que determinada pessoa nasceu para liderar e que outra não poderá ser líder nunca. Isso não procede. O segundo mito é de que líderes são aqueles que têm características típicas de produções cinematográfi cas, aquele general intrépido que vai à frente de seus exércitos brandindo sua espada, ou então daquele personagem que tem as respostas imediatas e perfeitas para todas as situações. Esses são apenas estereótipos, imagens cinematográfi cas de líderes enérgicos, poderosos e quase sobre humanos. A realidade é bem distinta. Líderes não nascem prontos. De fato, por questões genéticas, algumas pessoas nascem com características comportamentais e de personalidade que podem permitir-lhes adotar mais que outras, e desde pequenas, uma postura de liderança, mas isso está longe de ser sufi ciente para garantir que elas se tornem bons líderes de fato em sua vida adulta. Liderança é uma habilidade a ser desenvolvida ao longo da carreira, e qualquer pessoa pode fazê- lo. E líderes podem ser muito efetivos e inspiradores para mobilizar pessoas, independentemente de seus estilos de personalidade. Na verdade, a última coisa em que se deve pensar, para ser um líder efetivo, é tentar mudar o próprio estilo de personalidade visando emular algo que foge à nossa essência. 2. O que é liderança 4 No ambiente de trabalho, principalmente nas empresas, é comum se ouvir a expressão “liderança da empresa” para descrever todos os níveis de chefi a existentes, desde setores, divisões, departamentos, até chegar aos níveis mais altos. Mas, afi nal, ser chefe é a mesma coisa que ser líder? A resposta é não. Mas para sustentá-la, é importante compreender a distinção entre as atividades de gestão e de liderança. Apesar de formarem um binômio indissociável, ou seja, precisarem andar sempre juntos, são conceitos completamente diferentes, quase opostos, como mostra a comparação no quadro a seguir: Gestão Liderança Fixar objetivos Estabelecer propósito e visão Planejar Desafi ar e comunicar Alocar recursos Redirecionar recursos Controlar Inspirar e motivar Padronizar Propor ruptura Minimizar riscos Assumir riscos Concentrar a energia – dar foco Expandir o foco Cuidar do presente Ênfase no futuro Enquanto a atividade de gestão busca a efi ciência no presente, lidando com a complexidade, processos e estrutura, a de liderança busca a mudança com ênfase no futuro e nas pessoas. Há muitas comparações entre gestor e líder, mas não é raro que elas falhem ao dar a entender que somos uma coisa ou outra. É necessário que tenhamos a capacidade de equilibrar essas duas atividades, tanto na vida profi ssional como na vida pessoal. Afi nal, se nos fi xarmos apenas na busca de melhorar o presente podemos ter sucesso no curto prazo, mas colocaremos em risco a sustentabilidade de nossos projetos. Se, ao contrário, nos dedicarmos a pensar no futuro sem cuidar do presente, correremos o risco de gerar caos no curto prazo, o que pode transformar aquela visão de futuro em um sonho inatingível. Um líder de alta performance tem a capacidade de equilibrar as atividades de gestão e de liderança. No trabalho, pode ser por meio de equipes que se complementam. Já no âmbito pessoal, no processo de liderar nossas próprias vidas e carreiras, temos que conseguir fazer isso sozinhos. 3. O Paradoxo da Gestão e da Liderança 5 A partir do momento em que você passa a liderar uma equipe, para que possa alcançar os resultados desejados, é preciso que as pessoas também tenham sucesso em suas atividades. Jack Welch, que foi o executivo chefe do Grupo GE durante algumas décadas e é considerado por muitos o maior executivo de empresas do Século XX, diz exatamente isto: “quando você se torna líder, seu sucesso depende do crescimento dos outros”. É papel fundamental do líder desenvolver, motivar, preparar, orientar e apoiar os membros de sua equipe para que eles tenham condições de ter maior performance e maior grau de engajamento. Dessa forma, maiores também serão as condições para que todos tenham cresçam, o líder inclusive. Parece simples, mas não é. Na jornadade um líder há diversas armadilhas que podem comprometer a performance e difi cultar seu sucesso. Existem dois grupos de armadilhas da liderança: de Contexto e do Comportamento. Armadilhas de Contexto: são situações decorrentes de fatores externos, aparentemente fora de nosso controle, como: • Mudanças drásticas no cenário econômico • Surgimento de novas tecnologias, que mudam as regras do jogo • Novos concorrentes ou produtos substitutos • Mudanças de legislação ou de regras por parte do governo • Situações inesperadas que a organização impõe à área em que estamos, o que compromete o cronograma Ou seja, são situações relacionadas ao acaso, à sorte ou azar. Note que uso a expressão “aparentemente fora do controle”. Na realidade, como mostram Jim Collins e Morten Hansen em seu livro “Vencedoras por Opção”, bons líderes conseguem se preparar para tirar o melhor das obras do acaso. De eventos positivos, em que a sorte os favorece, conseguem maior retorno. E de eventos negativos, as situações de azar, conseguem minimizar os danos, antecipando-se a eles, por saberem que, eventualmente, algo negativo irá ocorrer. Normalmente líderes que não conseguem fazer isto são aqueles que ou estão com foco excessivo no que estão fazendo, deixando assim de perceber os sinais que o ambiente de negócios pode estar trazendo, ou com falta do foco necessário para captar detalhes que podem comprometer a empresa ou sua área. Portanto, um antídoto para evitar as armadilhas de contexto, ou quando isso não for possível ao menos minorar seus efeitos, é a disciplina de se manter sempre informado sobre o que ocorre no negócio e no ambiente que o cerca, em um estado permanente de atenção. 4. Armadilhas da Liderança 6 As armadilhas do comportamento, por sua vez, são o foco principal deste texto, porque podem provocar danos graves e muitas vezes permanentes nas relações e na própria reputação do líder. São auto infl igidas, ou seja, nós mesmos as criamos. Por essa razão, são totalmente evitáveis. O grande antídoto para as armadilhas do comportamento é a inteligência emocional. Mais importante do que discutir o que um líder deve fazer é focar em quem ele deve ser, como ele deve se comportar. Antes de entrar no conceito de inteligência emocional, é interessante compreender o que são forças e fraquezas comportamentais. Para isso, façamos um exercício simples. A partir da lista de comportamentos a seguir, identifi que oito que sejam mais presentes no seu dia a dia. Você normalmente é uma pessoa: Você é uma pessoa Respeitosa Focada em orientar Prática Flexível Confi ante nos outros Autoconfi ante Firme Prestativa Competitiva Prudente Adaptável Focada em melhorias Rápida para agir Reservada Bem-humorada Empática Meticulosa Desenvolta / desembaraçada Idealista Energética Sistemática Arrojada Perseverante Exigente Sensível ao outro Comunicadora entusiasmada Assertiva 5. Forças e fraquezas comportamentais 7 Todos esses são comportamentos positivos, portanto são forças comportamentais, e você acabou de identifi car aquelas que mais descrevem sua personalidade. É normal e plenamente saudável que nos orgulhemos de nossas forças, afi nal são elas que nos conduzem diariamente na direção que buscamos, seja profi ssionalmente, seja no âmbito pessoal e familiar. Porém, essas mesmas forças, se usadas em excesso, se tornam armadilhas que podem nos prejudicar. No exercício da liderança, muitas vezes sob pressão e em situações de estresse, o risco aumenta ainda mais. Note, na sequência, como as forças em excesso se tornam claramente fraquezas comportamentais: Você é uma pessoa No excesso, você se torna Respeitosa Submissa Focada em orientar Centralizadora Prática Sem imaginação Flexível Inconsistente Confi ante nos outros Ingênua Autoconfi ante Arrogante Firme Teimosa Prestativa Incapaz de dizer “não” Competitiva Antagonista Prudente Paralisada / “travada” Adaptável Conformada Focada em melhorias Perfeccionista Rápida para agir Impulsiva Reservada Não comunicativa Bem-humorada Pouco séria Empática Insincera / falsa Meticulosa Pedante Desenvolta / desembaraçada Astuciosa / “malandra” Idealista Sonhadora Energética Frenética Sistemática Burocrática Arrojada Imprudente Perseverante Infl exível Exigente Crítica em excesso Sensível ao outro Solícita em excesso Comunicadora entusiasmada Incapaz de discordar Assertiva Autoritária 8 Quanto mais forte a presença de determinados comportamentos em seu dia a dia, maior o risco de ocasionalmente se tornarem excessivos, fazendo com que a pessoa seja vista não pelo seu comportamento positivo, e sim pela fraqueza comportamental em que ele se converte. Este conceito é muito importante, por isso deve ser enfatizado: uma fraqueza comportamental nada mais é do que um comportamento positivo em excesso. Além das fraquezas comportamentais, há um outro tipo de defi ciência comportamental, que são os pontos-cegos. Um ponto-cego comportamental é uma ausência de um comportamento que seria esperado ou desejável. Por exemplo, deixar de solidarizar-se com algum problema do outro, porque estamos muito focados em resolver uma questão pessoal de momento, mesmo que pouco relevante. Para o outro, passamos uma mensagem de falta de sensibilidade, falta de empatia. Na realidade, pode ser que deixamos de ter o comportamento que ele espera simplesmente porque, devido ao nosso estilo de personalidade, solidarizar-se naquela situação está simplesmente “fora do radar”. Tanto fraquezas comportamentais como pontos-cegos comportamentais causam danos às relações. No primeiro caso, devido a um comportamento ativo, e no segundo, devido a uma omissão. Por essa razão, é importante que aprendamos a lidar com eles para evitar que aconteçam. Quando se fala em atuação profi ssional, especialmente em posições de liderança, três parâmetros são normalmente usados para se avaliar as pessoas: experiência (incluindo o conhecimento técnico), capacidade intelectual (o conceito tradicional de inteligência, ou Q.I. – quociente intelectual), e inteligência emocional (por vezes tratado como Q.E – quociente emocional). Estudo feito por Claudio Fernández-Aráoz que está em seu livro “Grandes Decisões Sobre Pessoas” mostra que, na América Latina, pessoas que se destacam por sua inteligência emocional têm de seis a oito vezes menos probabilidade de fracassar em suas carreiras do que aquelas que não têm essa característica. A fi gura a seguir combina experiência (E), Q.I. e inteligência emocional (IE), dois a dois. Pessoas que têm inteligência emocional e são experientes, mesmo que não se destaquem pelo Q.I., têm probabilidade de fracasso de 3%. Quando inteligência emocional e Q.I. estão presentes, mesmo que a experiência não seja destacada, a probabilidade de fracasso segue muito baixa, de apenas 4%. Porém, quando se tira o componente de inteligência emocional destacada, mesmo que a pessoa seja muito experiente e com alto Q.I., a probabilidade de fracasso sobe para 25%. 6. Inteligência Emocional e Sucesso 9 Daniel Goleman, um dos principais estudiosos da inteligência emocional, tem a seguinte afi rmação a respeito desses mesmos parâmetros, em relação à sua importância para o sucesso de líderes: “Não é que conhecimento técnico ou Q.I. não são importantes. Eles são requisitos básicos, enquanto a inteligência emocional é a característica sine qua non para a liderança”. De acordo com os estudos de Goleman, o peso da inteligência emocional para o sucesso é o dobro do peso que têm o conhecimento técnico e o Q.I. Da mesma forma, décadas atrás Peter Drucker, considerado o pai da ciência da Administração de Empresas, já dizia: “as pessoas são contratadas por suas habilidades técnicas, e são demitidas por seus comportamentos”. E + IE QI + IE QI + E 3% 4% 25% Perfi l Índice de Fracasso 10 Mas então, afi nal, o que é inteligência emocional? Daniel Goleman, um dos principais estudiosos do tema e provavelmente o mais reconhecido de todos, traza seguinte defi nição: “Inteligência Emocional é a capacidade de identifi car os próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de lidar bem com as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos.” Como ciência, os estudos sobre inteligência emocional são bastante recentes. As primeiras menções ao termo aparecem em estudos acadêmicos nos anos 60 e 80, mas foi na década de 1990 que os estudos a respeito foram aprofundados. O principal nome associado à inteligência emocional é Daniel Goleman, psicólogo e jornalista, embora os primeiros estudos acadêmicos sobre o tema tenham sido conduzidos por Peter Salovey, da Universidade de Yale, e John Mayer, da Universidade de New Hampshire. Em 1995 Goleman publicou o livro “Emotional Intelligence” (publicado no Brasil com o título “Inteligência Emocional”), que fi cou por muitos meses na lista de livros mais vendidos segundo o jornal The New York Times, atingindo a marca de mais de 5 milhões de exemplares comercializados, em mais de 40 idiomas. Em 1998, publicou na Harvard Business Review o artigo “What Makes a Leader”, cuja tradução mais precisa é “O que faz de alguém um líder”, que se tornou um dos maiores clássicos desta conceituada publicação acadêmica, fi cando na lista dos artigos mais lidos até os dias atuais. Após inúmeros outros livros e artigos sobre inteligência emocional publicados por ele ao longo dos anos, em 2019 Goleman lançou sua mais recente obra, o livro “The Emotionally Intelligent Leader”, ainda não lançado no Brasil. Nele Goleman aprofunda os conceitos sobre inteligência emocional relacionados ao ambiente de trabalho, com foco na atividade de liderar. Para Goleman, são quatro os pilares da inteligência emocional no trabalho: 7. O Conceito de Inteligência Emocional Autoconhecimento • Autoconhecimento emocional • Autoavaliação realista • Autoconfi ança Autogestão • Autocontrole • Fidedignidade • Autoconsciência • Foco em realização • Iniciativa Consciência Social • Empatia • Consciência organizacional • Orientação a servir Habilidades Sociais • Liderança visionária • Infl uência • Desenvolvimento da equipe • Comunicação • Catalisador da mudança • Gestão de confl itos • Criação de vínculos • Trabalho em equipe e colaboração 11 Autoconhecimento diz respeito à nossa capacidade de reconhecer nossas emoções, ter uma avaliação realista de nós mesmos e, a partir desta consciência emocional, desenvolver um grau elevado de autoconfi ança. Um dos traços interessantes de pessoas com alto grau de autoconhecimento é sua capacidade de fazer uma autodepreciação bem-humorada, ou seja, saber reconhecer as próprias defi ciências de uma forma leve. A autogestão retrata a capacidade de controle das emoções, a consistência entre intenção e comportamentos, a compreensão de como as emoções próprias são afetadas em determinados contextos, a capacidade de se adaptar a situações adversas e a motivação para agir. A Consciência Social está relacionada à capacidade de se colocar no lugar dos outros, de se sentir e atuar como parte de uma equipe, e a consciência de que, quando trabalha, a pessoa está servindo a alguém. O pilar das habilidades sociais, por fi m, traz todos os comportamentos de liderança relacionados a desenvolver melhores relações interpessoais no trabalho, por meio do compartilhamento de visão, desenvolvimento das pessoas, comunicação fl uida e efetiva, gestão de confl itos e grande espírito de equipe. Como fi ca claro, a partir desses quatro pilares apresentados por Goleman, que ser emocionalmente inteligente não signifi ca ser “bonzinho”, como muitas vezes pode parecer. Pessoas emocionalmente inteligentes conseguem um saudável equilíbrio entre respeitar-se a si mesmas e aos outros. É fato que a inteligência emocional também é influenciada por um fator genético. Algumas pessoas nascem com as características relacionadas a esses quatro pilares mais desenvolvidas que outras. São aquelas que, na infância, acabam se tornando líderes naturais na escola, na roda de amigos, e assim por diante. Mas isso não é garantia de que, em sua vida adulta, elas serão naturalmente líderes, e muito menos que serão bem-sucedidas. É como se elas começassem a corrida com uma pequena vantagem, apenas isso. Inteligência emocional pode ser desenvolvida a qualquer tempo, por qualquer pessoa. De fato, estudos mostram que a maturidade costuma trazer o aumento da inteligência emocional. Ocorre que, quando se fala em carreiras profi ssionais, sucesso ou fracasso são determinados muito antes de se chegar à idade madura. Portanto, é muito importante acelerar o processo de desenvolvimento das habilidades comportamentais. Nossos comportamentos são comandados pelo Sistema Límbico do cérebro, responsável pelos sentimentos e emoções. Por essa razão, a única parte racional do processo de desenvolvimento da inteligência emocional é reconhecer que ela é importante e deve ser trabalhada. Mudar comportamentos requer treino, repetição, persistência, determinação. É um processo que leva tempo, mas vale a pena, como mostram os dados que foram apresentados antes sobre o sucesso no trabalho. Como começar? O primeiro passo é o autoconhecimento. A compreensão realista e precisa de quem somos é o ponto de partida para todo o resto. 8. Estilos de Personalidade e o autoconhecimento 12 Para se falar de autoconhecimento, é importante que conheçamos mais sobre estilos de personalidade. Existem inúmeras metodologias consagradas para identifi cá-los em nós, de forma científi ca, tais como o Método LIFO (Katcher e Atkins), DISC (Marsten), Business Chemistry (Deloitte), MBTI (Briggs e Myers), Hogan (Hogan e Hogan), PAEI (Adizes), apenas para mencionar alguns exemplos. Para facilitar a compreensão de como os estilos de personalidade atuam sobre nós, vou adotar como referência o Método LIFO, desenvolvido pelos pesquisadores Allan Katcher e Stuart Atkins que, assim como algumas dessas outras metodologias, se baseia em estudos do psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Jung a respeito de tipos psicológicos. Por essas metodologias, temos quatro estilos de personalidade presentes em nós, em maior ou menor intensidade, o que faz com que sejamos resultado de uma combinação única de estilos, que regem nossos comportamentos diante das diversas situações que vivenciamos no dia a dia. Segundo o Método LIFO, os quatro estilos que formam nossa personalidade são: • “Apoiando-Dando” – o estilo da “Excelência”; • “Adaptando-Barganhando” – o estilo da “Harmonia”; • “Controlando-Tomando” – o estilo da “Ação”; • “Mantendo-Retendo” – o estilo da “Razão”. A cada um desses estilos estão associados comportamentos que acionamos naturalmente diante de situações vividas, e que determinam nossas forças comportamentais. Com base no histórico do uso da metodologia, cerca de 50% das pessoas têm dois estilos de personalidade preferidos, 35% têm três, cerca de 10% apenas um, e uma minoria de 5% conseguem ter os quatro estilos atuando de forma equilibrada. A fi gura a seguir mostra de forma resumida as principais características de cada estilo. “Se eu agradar as outras pessoas e atender às suas necessidades primeiro, posso conseguir as coisas boas da vida que eu sempre quis”. “Se eu provar o meu valor, trabalhando duro e buscando a excelência, as coisas boas da vida virão a mim”. “Se eu puder obter resultados e aproveitar as oportunidades, as coisas boas da vida estarão lá, à disposição”. “Se eu pensar antes de agir e aproveitar ao máximo o que tenho, eu posso me abastecer com as coisas boas da vida”. + Rápido+ Lento + Individual + Social Quer conhecer as pessoas e se dar bem com elas Quer ser prestativo e provar seu valor Quer ser competente e obter resultados Quer ir com calma e ter certeza 13 Para saber com maior precisão nossa combinação de estilos e a intensidade com que eles estão presentes, é necessário um teste específi co conduzido por profi ssionais habilitados. Entretanto,a refl exão cuidadosa sobre os comportamentos (bem como seus excessos), associados a cada estilo, juntamente com feedbacks de pessoas com quem você interage regularmente, podem ajudá-lo a identifi car com alguma consistência seus estilos mais preferidos e os que você usa menos. Os comportamentos de cada estilo são: O Estilo da “Excelência” – Apoiando-Dando Forças Sinais de excessos Excessos Atencioso Tolerante a abusos Nega a si mesmo Idealista Pouco prático Utópico Modesto Submisso Autodepreciativo Confi a nos outros Sugestionável Ingênuo Cooperativo Acomodador Complacente Prestativo Paternal Superprotetor Receptivo Condescendente Passivo Responsivo Dedicado Supercomprometido Busca Excelência Não faz concessões Perfeccionista Leal Devotado Se sente devedor Forças Sinais de excessos Excessos Flexível Impressionável Inconsistente Diplomático Solícito Evitador de confronto Sociável Cativante Manipulador Empático Vulnerável Hipersensível Entusiasmado Excitável Agitado Adaptável Aberto Sem convicção Inspirador Incitador Enganador Experimental Divagador Sem objetivo Negociador Quer agradar “Panos quentes” Animado Emotivo Melodramático O Estilo da “Harmonia” – Adaptando-Barganhando 14 Conhecer os comportamentos típicos de cada estilo, juntamente com os sinais precoces de excessos e os comportamentos claramente excessivos (que passam a se tornar fraquezas, como visto anteriormente), pode ser útil para que evitemos cair nas armadilhas comportamentais que nós mesmos temos a tendência de criar. Quanto mais você se perceber em determinado estilo, maior é a possibilidade de ocorrerem excessos. Quanto menos você perceber a presença de outro, maior a probabilidade de que comportamentos associados a ele sejam pontos-cegos para você. Forças Sinais de excessos Excessos Diretivo Banca o chefe Dominador Rápido para agir Corre sempre Impulsivo Confi ante Convencido Arrogante Busca mudança Incansável Descarta o existente Persuasivo Quer forçar Distorce para conseguir Potente Insistente Coercitivo Competitivo Agressivo Polêmico Arrisca na medida certa Especulador Apostador Persistente Pressiona Exerce pressão em excesso Senso de urgência Cobrança insistente Impaciente Forças Sinais de excessos Excessos Tenaz Resiste à mudança Estado de negação Prático Utilitário Utópico Econômico Espartano Avarento Reservado Indiferente Hostil Factual Concreto Escravo de dados Firme Inabalável Teimoso Minucioso Complexo Elaborado Metódico Meticuloso Trabalho em excesso Orientado a detalhes Se prende a detalhes “Pelo em ovo” Analítico Crítico Mordaz O Estilo da “Ação” – Controlando-Tomando O Estilo da “Razão” – Mantendo-Retendo 15 É preciso ainda levar em conta que, quando passamos por picos de estresse ou vivenciamos situações de confl ito, podemos instintivamente adotar outra combinação de estilos preferidos. Isso explica, por exemplo, o porquê de por vezes observarmos em uma mesma pessoa comportamentos completamente diferentes quando ela está em ambientes descontraídos e quando está sob pressão no trabalho. Sendo assim, também mudam as armadilhas comportamentais em que ela pode cair, em uma situação ou outra. Seja qual for o método de avaliação de estilos de personalidade, é muito importante ter claro que não é possível “rotular” pessoas com base em suas características. Justamente pelo fato de ser possível o desenvolvimento da inteligência emocional a qualquer tempo, resultados de testes dessa natureza não são imutáveis. Eles servem para mostrar uma fotografi a de momento, de como aquela pessoa está diante do contexto em que está inserida. Atuando sobre seus comportamentos, especialmente trabalhando seus excessos e pontos-cegos comportamentais, ao longo do tempo é possível ela conseguir um reequilíbrio entre seus estilos de personalidade, aumentando seus recursos emocionais e tornando-se mais resiliente. Compreender como nossos estilos de personalidade atuam, tanto no sentido das forças comportamentais, como dos excessos e dos pontos-cegos, é o que chamamos de autoconhecimento. Uma vez que você se conheça melhor, é possível trabalhar sobre os demais pilares da inteligência emocional, que são o autocontrole, a consciência social e as habilidades sociais, sabendo inclusive priorizar os aspectos em que sentimos haver maior necessidade de desenvolvimento. Essa busca por desenvolvimento pode contar com o apoio de profi ssionais especializados em coaching, mentoria ou de psicólogos, e vem sendo incorporado ao processo de desenvolvimento de colaboradores por diversas empresas em todo o mundo, por ser uma maneira consistente e promissora de se conseguir resultados de forma mais rápida. Mas nada impede que busquemos melhorar a inteligência emocional por nossa própria conta, se esses serviços de apoio não forem acessíveis ou não estiverem disponíveis. Sabendo que todos somos diferentes, é importante incorporar como fi losofi a de liderança (e de vida, por que não?) uma postura que contradiz o dito popular “trate os outros como você gostaria de ser tratado”. Se somos todos diferentes, a frase correta é “trate os outros como eles gostariam de ser tratados”, o que torna legítimo que também nós sejamos tratados como gostaríamos. Mas é importante que fujamos da frase “é que eu sou assim mesmo”. Você certamente já a ouviu vinda de outras pessoas, provavelmente já pensou em dizê-la, e possivelmente de fato já a tenha dito uma vez ou outra. O problema dessa frase é que ela traz consigo duas mensagens, uma positiva e outra negativa. A mensagem positiva é de que a pessoa que a diz tem consciência e orgulho de suas características comportamentais, que na medida certa são suas forças, o que é saudável. Mas a segunda mensagem tem o sentido de “e o mundo que se adapte (inclusive aos meus excessos e pontos-cegos, que não tenho intenção de mudar)”. Ocorre que o mundo não se adapta, ele tende a reagir, e normalmente as consequências dessa reação recaem sobre a própria pessoa. Portanto, ainda que desenvolver habilidades comportamentais seja um processo lento, que exige dedicação, treinamento, persistência e determinação, vale muito a pena! 16 Da mesma forma que há diferentes combinações de estilos de personalidade, há diferentes formas de liderar pessoas. Não faltam estudos acadêmicos a respeito de arquétipos de liderança, categorizando líderes em inúmeros estilos diferentes, de acordo com a metodologia utilizada. Mantendo a linha metodológica usada para apresentar o conceito de Inteligência Emocional, vou adotar os estilos também apresentados por Daniel Goleman em seu livro “The Emotionally Intelligent Leader”. Para ele, há seis estilos de liderança (como o livro ainda não foi publicado em português na data da elaboração deste documento, é possível que em outras obras a respeito sejam usadas traduções diferentes). São eles: • Coercitivo (Coercive) • Direcionador (Pacesetting) • Agregador (Affi liative) • Democrático (Democratic) • Coach (Coaching) • Visionário (Authoritative) Um líder emocionalmente inteligente desenvolve a habilidade de usar diferentes estilos, de acordo com a situação que encontra. Dependendo de sua combinação de estilos de personalidade, ele terá mais facilidade e se sentirá mais confortável com um estilo ou outro, mas é importante que ele seja capaz de recorrer a vários deles para ser mais efetivo e mais versátil, portanto, mais resiliente. Quanto mais emocionalmente inteligente ele for, maior facilidade terá tanto de identifi car quando cada estilo é necessário, como de transitar com naturalidade de um estilo para outro. A tabela abaixo resume as características principais de cada estilo, bem como em que contexto ele pode ou deve ser utilizado: Estilo Coercitivo Direcionador Agregador Democrático Coach Visionário Modus Operandi Exige Obediência Imediata Estabelece alto padrão de performance Cria harmonia e vínculos emocionais Cria consenso por participação Desenvolve pessoas para o futuro Mobiliza em tornode uma visão E estilo em uma frase “Faça o que estou mandando.” “Faça como eu. Agora.” “Pessoas primeiro”. “O que você acha...” “Tente isso”. “Venha comigo”. Recursos da Inteligência Emocional. Determinação, iniciativa, autocontrole. Responsabilidade, meticulosidade, determinação, iniciativa. Empatia, comunicação, desenvolvimento de relações. Colaboração, liderança de equipes, comunicação. Desenvolv. dos outros, empatia, auto- conhecimento Autoconfi ança, empatia, catalisador de mudança Quando ele deve ser utilizado. Crises, turnarounds, ou colaboradores problemáticos. Para conseguir resultados rápidos de uma equipe capaz e motivada. Curar feridas da equipe ou motivar pessoas em situações adversas. Para buscar adesão ou consenso, ou ter inputs valiosos de colaboradores. Para melhorar performance e desenvolver forças no longo prazo. Quando clareza de direção é necessária, ou se há uma nova visão. Impacto sobre o clima Negativo Negativo Positivo Positivo Positivo O mais positivo 9. Estilos de Liderança 17 Os estilos Coercitivo e Direcionador têm características de uma liderança autoritária, que limita a iniciativa e a autonomia de colaboradores. Portanto, é natural que eles se sintam menos estimulados, menos motivados e menos valorizados. Ambos têm impacto negativo sobre o clima geral e devem, por isso, ser usados com cuidado e apenas em situações específi cas. O estilo Coercitivo é normalmente necessário em situações de forte reestruturação nas organizações, em que medidas duras e urgentes são necessárias. Pode, também, ser aplicado quando há colaboradores mais problemáticos em termos de comportamento ou de resposta insufi ciente quando outros estilos são usados. Mas devem ser situações pontuais. O estilo Direcionador estabelece um ritmo de trabalho, na busca de resultados rápidos. Nessa situação o próprio líder está envolvido na atividade e serve de modelo para os demais. Funciona bem com equipes de alta performance em situações em que respostas rápidas e resultados imediatos precisam ser alcançados. Também é este normalmente o estilo que norteia a liderança situacional, quando o contexto existente faz a pessoa mais capacitada a lidar com ele assumir o papel de líder. Os estilos Agregador, Democrático e Coach são participativos, cada um à sua maneira estimulando colaboradores a ter maior envolvimento no processo decisório e fazendo-os sentir- se mais valorizados. Principalmente por essa razão, os três têm impacto positivo sobre o clima. O estilo Agregador pode ser muito útil em situações em que há sensação de fragilidade, insegurança e feridas na equipe. Por exemplo, após um processo de reestruturação forte na organização, é normal que as pessoas se sintam assim, e a habilidade de se migrar do estilo Coercitivo de liderança, que provavelmente estava presente durante o processo, para o estilo Agregador, pode fazer toda a diferença para restabelecer a motivação das pessoas. O estilo Democrático pode ser usado quando for importante haver envolvimento da equipe e, principalmente, para se obter informações, ideias e insights que ajudem o líder a tomar decisões, se possível construídas por consenso. Como exemplo, recentemente tive oportunidade de vivenciar o estilo Democrático em ação em um workshop que conduzi com a fi nalidade de defi nir a declaração de propósito e de visão de uma empresa, em que seu CEO evidentemente tinha a palavra fi nal, mas todos os colaboradores puderam participar ativamente e contribuir para se chegar ao resultado desejado. Já o estilo Coach é muito útil para desenvolver pessoas, buscando seu crescimento de forma constante e consistente, em uma visão de longo prazo. Organizações que tenham equipes menos preparadas, porém com potencial e desejo de se desenvolver, podem se benefi ciar muito se conseguirem implantar este estilo de liderar. Por fi m, o estilo Visionário reúne características tanto de um estilo autoritário como participativo. Talvez seja o mais desafi ador de todos, o que mais exija habilidades comportamentais do líder, mas também o mais adequado ao contexto atual do ambiente de trabalho, em que mudanças de direção são frequentemente necessárias, o senso de urgência e a agilidade nas respostas são importantes e as pessoas precisam estar alinhadas. Neste caso, a autoridade é exercida não por uma simples questão hierárquica, mas sim pelo conhecimento de causa do líder, em especial sua capacidade de desenvolver e de comunicar uma visão capaz de mobilizar as pessoas, conseguindo assim seu engajamento e fazendo com que elas se sintam partícipes 18 de todo o processo. Organizações que têm um propósito e uma visão claros e inspiradores são um espaço natural para lideranças visionárias. É o caso, por exemplo, de muitas “start-ups” que conseguem atrair talentos na busca de ser parte de um projeto de crescimento e valorização rápidos. Mas mesmo em situações em que essas condições não estão presentes, que são a maioria, é possível o líder desenvolver uma visão a ser compartilhada com a equipe, seja algo a ser atingido pela sua área especifi camente, seja um projeto da organização como um todo. A liderança visionária tem a capacidade de inspirar e engajar as pessoas, o que a faz ser a que maior impacto positivo tem sobre o clima. Portanto, sempre que estiverem presentes as condições para que ela seja exercida, em especial o desenvolvimento de uma visão inspiradora, vale a pena adotá-la como estilo preferido de liderança. A palavra assertividade vem sendo mal-empregada em praticamente todas as áreas de negócios e em todos os níveis hierárquicos das organizações. E isso é um problema grave, porque a interpretação equivocada de seu signifi cado difi culta às pessoas compreender sua importância para se desenvolver melhores relações interpessoais. Assertividade nada tem a ver com acerto, precisão, correção. Não existem previsões assertivas, relatórios assertivos, decisões assertivas, contratações assertivas, apenas para mencionar algumas expressões com as quais me deparei nos últimos meses. Previsões podem ser acertadas, relatórios podem ser precisos, decisões podem ser corretas, contratações podem ser efetivas, mas somente pessoas podem ser assertivas. Assertividade deriva de asserção, que quer dizer afi rmação. É uma das principais qualidades de uma boa comunicação. Uma defi nição de assertividade é “respeitar a si mesmo, se fazer respeitar, sem desrespeitar o outro”. Outra defi nição, igualmente correta, é “assertividade é o ponto ótimo entre a omissão e a agressão”. Como foi explicado anteriormente, desenvolver comportamentos requer tempo, treinamento e persistência. Mas uma maneira de se obter resultados rápidos e surpreendentes em termos de melhora de relações interpessoais é cuidar da maneira como nos comunicamos. Para isso sugiro incorporar aos seus hábitos de comunicação, no trabalho e fora dele, os quatro quadrantes da comunicação, uma ferramenta extremamente simples e ao mesmo tempo muito poderosa. O conceito é o seguinte: toda comunicação, toda mensagem que passamos, seja por escrito, seja por voz ou mesmo por meio de nossa linguagem corporal, ocorre em dois eixos simultaneamente. O eixo mentira-verdade, e o eixo raiva-amor. Uma mentira, contada com raiva, provoca o que nas relações? “Destruição”. E uma verdade, contada com raiva? Esta é uma situação muito comum no ambiente de trabalho, e provoca “Agressão”. Outra situação comum no trabalho: uma mentira com amor, tão frequente em sessões de feedback, ou na relação com os fi lhos, por exemplo. Essa combinação transmite uma “Ilusão”. O colaborador da empresa vítima de um feedback assim é levado a crer que tudo vai bem, quando na realidade pode estar à beira de uma demissão por questões que deveriam ter sido levadas a ele no momento apropriado. Portanto, resta a combinação verdade com amor. Ela é a única que representa “Crescimento”. Colocá-la em prática sempree não se omitir quando situações provocadas pelos outros geram incômodo, faz a pessoa ser efetivamente assertiva. É a melhor maneira de incorporar aos hábitos de liderança a prática de ser duro com os problemas (a verdade) e respeitoso com as pessoas (o amor). 10. Assertividade e os quatro quadrantes da comunicação 19 Os quatro quadrantes da comunicação Quando observamos o momento da história em que vivemos, é impossível não se espantar com a velocidade com que a ciência, a tecnologia e consequentemente os negócios e a sociedade em geral estão mudando. Os impactos dessa evolução acelerada sobre o ambiente de trabalho, seja em empresas, escolas, órgãos públicos ou qualquer outro tipo de organização em qualquer área de atuação, são muito grandes e sentidos diariamente, na forma de novos equipamentos, novos recursos, novos concorrentes, produtos substitutos, processos de aquisição de empresas, e assim por diante. Diante desse cenário, tenho feito duas perguntas aos participantes de palestras ou de aulas que dou, que não têm resposta certa ou errada, são na realidade opinativas. A primeira pergunta é: “bons líderes de hoje precisam de características comportamentais diferentes dos bons líderes de trinta anos atrás?”. A segunda: “liderar pessoas hoje é mais difícil, mais fácil, ou a mesma coisa, quando comparado a trinta anos atrás?”. Qual sua opinião a respeito? As respostas variam bastante, dependendo do grupo de participantes, mas normalmente a tendência é de as pessoas opinarem que, no primeiro caso, “sim, as características comportamentais necessárias mudaram” e no segundo que “sim, liderar hoje é mais difícil”. Minha opinião é diferente, em relação à primeira questão. Entendo que as características comportamentais de bons líderes (ênfase em “bons”) de trinta anos atrás e os de hoje devem ser exatamente as mesmas, uma vez que nada mais são que o conjunto de componentes da Inteligência Emocional. Porém concordo com os que dizem ser mais difícil liderar pessoas hoje. O ambiente mais complexo e dinâmico, a 11. Liderando na Era Exponencial AmorRaiva Verdade Mentira Crescimento Ilusão Agressão Destruição 20 convivência entre diferentes gerações com trajetórias de formação, não apenas educacional ou técnica mas também de hábitos de interação digital com o mundo, bastante diferentes entre si e a necessidade de se ter equipes muito mais ágeis e alinhadas para fazer frente ao cenário de constantes transformações, apenas para lembrar de alguns fatores, faz com que a atividade de liderar seja muito mais desafi adora, e o ambiente de trabalho tende a ser mais hostil, a punir mais líderes que não tenham as habilidades comportamentais bem desenvolvidas. Portanto, para quem já ocupa posição de liderança ou aspira estar nessa posição no futuro, algumas recomendações que resumem o que vimos neste texto e que podem ser de grande ajuda: a. Lembre-se sempre de ter um olho no presente, na gestão, e outro no futuro, na visão. Isso implica em manter um estado permanente de ousadia e de atenção, buscar sempre informações para sustentar decisões e acompanhar o que acontece nesse ambiente de rápidas transformações. b. Aprenda sempre. Aprenda a aprender, porque o conhecimento vai mudar cada vez mais rapidamente. Coisas que se aprende no primeiro ano de uma faculdade, por exemplo, dependendo da área de conhecimento, podem já estar obsoletas quando chegamos ao quinto ano. c. Tenha consciência de que pessoas são diferentes, portanto, devem ser tratadas como elas gostariam de ser tratadas, assim como é legítimo você desejar e comunicar aos outros como você gostaria de ser tratado ou tratada. d. Aprenda a liderar seguindo diferentes estilos, de acordo com o que pede a situação vivida. Mas lembre-se sempre do tipo de impacto que cada estilo de liderança gera sobre o clima da equipe. Sempre que possível, busque exercer uma liderança visionária, que é a que mais gera impacto positivo sobre o clima. e. Busque propósito e visão. Entenda o propósito e a visão do seu trabalho e da organização, e avalie se eles de fato inspiram você. Se a resposta for “sim”, ótimo! Procure vivê-los e comunicá-los sempre, foque sua energia e das pessoas da equipe em persegui-los. Porém, se a resposta for “não”, vale a pena pensar em como buscar um novo rumo. f. Desenvolva incansavelmente suas habilidades comportamentais. Lembre-se da importância da Inteligência Emocional para o sucesso. Tanto profi ssional como pessoal. Para isso, disciplina, persistência, treinamento, repetição, são fundamentais. g. Adote como fi losofi a de liderança ser sempre muito duro com problemas, mas suave e respeitoso com as pessoas. Treine suas habilidades de comunicação de modo a aprimorar sua assertividade, tendo em mente os quatro quadrantes da comunicação. Liderar é uma arte. Bons líderes desenvolvem pessoas e transformam para melhor suas vidas, ao mesmo em que criam valor e geram prosperidade para as organizações e para a sociedade. É uma jornada fascinante e, para encerrar, deixo meu desejo de que você possa trilhá- la com muito sucesso e aproveitá-la ao máximo.