Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE POTIGUAR – UNP CURSO: SERVIÇO SOCIAL DISCIPLINA: MICKAELLY MOREIRA DE ARAUJO 1 MARIA MICHELLY FLORENCIO ROCHA² SAMYA PAULA FEITOSA LOBO2 GARAPA: A FOME E A MISERIA RETRADA EM FORMA DE DOCUMENTÁRIO Garapa é um documentário brasileiro de 2009, dirigido por José Padilha, tendo como tema a fome no mundo, o mesmo teve a sua pré-estreia na 32ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Ele é fruto de mais de 45 horas de material filmado por uma pequena equipe que, durante quatro semanas, acompanhou o cotidiano de três famílias no estado do Ceará em estado de insegurança alimentar grave. O filme retrata uma das formas de se morrer de fome, que é de comer mal e sofrer aos poucos com a carência nutricional. As questões sociais e a desigualdade social também produzem outros sentidos para a fome na medida em que ela é um determinante social que aponta para a pobreza, para a ausência de cidadania e para a exclusão social. Padilha documentou a rotina diária de três famílias de Fortaleza, e do interior do ceara na cidade de Choró, onde muitas vezes as suas dietas se restringiam apenas a ingestão de “garapa” (por isso a escolha do titulo), o melado fervido, já que um saco de açúcar é o que compensa comprar, fato registrado de um entrevistado. Esse drama nos mostra claramente de forma critica a miséria e a insalubridade gritante, retratando de forma tão real a fome em suas cenas 1 Docente do curso de Serviço Social na Universidade Potiguar-UNP 2 Discentes do 5º Período do Curso de Serviço social da Universidade Potiguar - UNP chocantes. É nítido o quanto a pobreza os torna vulneráveis, podemos ver em cada cena quando nos deparamos a imagens das crianças com seus corpos tão magros, andando nus e com suas barriguinhas inchadas o que representa a subnutrição, e as condições de higiene deploráveis. As condições sanitárias, assustadoras, retratam o desleixo das autoridades com aqueles que ali vivem. São locais esquecidos pelo poder publico, sem infraestrutura compatível com a vida, que são raramente lembrados em época de politica Podemos observar também diversos fatores que são mostrados a cada nova cena, como o alcoolismo, o descontrole de natalidade e o desemprego. Os pais relatam que querem trabalhar, porem não tem com o que trabalhar, ate o pouco que consegue plantar, a seca acaba. Ao assistirmos cada cena podemos nos deparar com a realidade cruel na luta de Dona Rosa, Dona Lúcia e Dona Robertina, as três mães que já vem de uma realidade tão dura quanto a que vivem com os seus filhos, e que tentam matar a fome de seus filhos com agua doce na mamadeira para saciar as crianças. Sabemos que uma criança que não tem uma alimentação adequada tem seu desenvolvimento físico e cognitivo afetado, uma vez desnutrida, a criança leva consigo consequências que geralmente são irreparáveis, em seu desenvolvimento físico e mental, ocasionando, por exemplo, deficiências na aprendizagem devido ao retardo na inteligência, problemas na calcificação dos ossos e nas funções vitais do mesmo. É inadmissível que, aproximadamente, 150 milhões de crianças sejam desnutridas no mundo, e que muitas, morrem deste mal, enquanto toneladas de alimentos são desperdiçadas diariamente. O Brasil apresenta um dos índices mais altos e preocupantes: um em cada dez brasileiros sofre de desnutrição. “Crianças com “perebas” pelo corpo, sendo “comidas” pelas moscas devido à falta de higiene. Uma das mães relata apontando para o ferimento na cabeça da filha “isso é fofo, vez por outra abre e sai muita coisa”, uma criança chorando com dor de dente por ter seus dentes careados devido ao único alimento que podem consumir „à vontade”: a garapa. Um descaso total com a saúde, mães desinformadas, embebidas de uma inocência que emociona e ao mesmo tempo revolta. Outro ponto do filme que podemos ver é demonstrado na realidade do papel do homem na família, envolvido no alcoolismo que se trata de um sério problema de saúde pública, o homem mesmo em toda miséria retira o pouco que tem para comprar a bebida e saciar seu vicio. E podemos ver as mulheres como vítimas e resistentes, de maridos alcoólatras. Uma das genitoras, pelo relatado sai para buscar ajuda para as filhas e, o marido vai ao bar trocar o “cartão de estudante” das filhas por bebidas. Diga-se de passagem, que o que ainda “salva” uma das famílias é a creche onde as crianças são matriculas, pois nessa instituição as crianças conseguem se alimentar, e, mesmo assim ainda se encontram subnutridas. Apena uma das famílias é assistida pelo projeto Fome Zero, onde recebe R$50,00 (cinquenta reais) mensalmente para “suprir” suas necessidades, algo que mesmo para época em que o documentário foi produzido, é um absurdo. Questionados sobre quanto tempo aqueles alimentos comprados com Fome Zero dura, a voz embarga, mais a mãe responde que cerca de 12 ou 13 dias, a partir dali as crianças ficam somente com a garapa. Umas das cenas que choca, é quando uma das mães oferece aos três filhos pequenos feijão puro com farinha seca temperado com óleo. Questionada sobre a origem do feijão, a mãe responde que foi doado, e que o mesmo é tão ruim que poderia ser usado em uma espingarda. Na continuação da conversa, o diretor questiona a essa mesma mãe sobre os benefícios oferecidos pelo governo e a mãe responde que não tem porque não possui documentos, situação proveniente de uma realidade tão dura quanto a atual. A mãe se quer sabe sua idade. Sobre ter mais filhos, a mesma relata “não se dar” com anticonceptivos, que já ouviu falar de outros métodos, porem diz “que quando tem que pegar menino pega”. Em determinado ponto do documentário, o diretor questiona a uma das mães que horas o jantar será servido, e a mãe responde que não será servido, pois se jantarem no dia seguinte as crianças não tem almoço. Indagada novamente sobre o que há para os adultos comerem, a mesma responde que nada. Vemos uma situação onde há abstinência quase que total de alimentos. Ao final do filme, podemos ver mais uma vez, o preparo da bebida garapa e o seu consumo e ao fundo preto são trazidos dados alarmantes e cruéis sobre a fome no mundo e no Brasil, como a morte de 1.400 crianças durante a projeção do filme e 11,5 milhões de brasileiros, em 2007, que, mesmo beneficiados pela Bolsa Família, viviam em situação de insegurança alimentar grave. O que falar da cena, onde uma mãe dar de mamar a uma criança e diz “chupa pouco, que o leite e para a outra também”. Ate o leite materno é racionado. Esse filme é na verdade um soco no estomago mostrando a dura realidade e a grande desigualdade social que impera no nosso país. É problema demais para um filme só, e isso cria uma sensação de impotência, é de cortar o coração essa realidade. O que acreditamos que se é para falar de fome o documentário Garapa representou fielmente essa realidade grotesca, do descaso político e social deste país.