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Universidade de Brasília Instituto de Psicologia Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações Adaptação Brasileira do M-CHAT (Modified Checklist for Autism in Toddlers) Rodrigo Monteiro de Castro-Souza Brasília-DF 2011 Universidade de Brasília Instituto de Psicologia Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações Adaptação Brasileira do M-CHAT (Modified Checklist for Autism in Toddlers) Rodrigo Monteiro de Castro-Souza Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações, como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações. Orientador Luiz Pasquali Co-Orientadora Rosa Maria Melloni Horita Brasília-DF Novembro de 2011 iii Adaptação Brasileira do M-CHAT (Modified Checklist for Autism in Toddlers) Dissertação de Mestrado defendida diante e aprovada pela banca examinadora constituída por: _________________________________________________________________________ Prof. Luiz Pasquali, Docteur (Presidente) Pós-Graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações da UnB _________________________________________________________________________ Profa. Cleonice Alves Bosa, Ph.D. (Membro Externo) Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul _________________________________________________________________________ Prof. Jacob Arie Laros, Ph.D. (Membro) Pós-Graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações da UnB _________________________________________________________________________ Profa. Elizabeth Queiroz, Ph.D. (Suplente) Pós-Graduação em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento da UnB iv Dedico este trabalho aos pais de crianças com Transtornos Globais do Desenvolvimento que esperaram longo tempo para a identificação e obtenção do diagnóstico de seus filhos. v Agradecimentos Ao Prof. Orientador Luiz Pasquali pela paciência e confiança que me fizeram desenvolver as habilidades de pesquisador independente. Sempre muito certeiro e pontual nas colocações. E pelas ricas aulas de construção de instrumentos psicológicos e análise fatorial. À psiquiatra Rosa Horita pela co-orientação na revisão de literatura sobre o diagnóstico precoce de crianças com Autismo Infantil. Ao Prof. Bartholomeu Tróccoli e Prof. Fábio Inglesias pelas orientações valiosas em análise estatística, à Profa. Gardênia Abbad pelas estimulantes aulas de Treinamento e Desenvolvimento de Pessoal e Análises Multivariadas, ao Prof. Hartmut Günther pelos textos orientadores de planejamento de pesquisa e ao Prof. Wanderley Codo pelas excelentes explicações sobre Métodos Qualitativos. À minha família Maria Tereza (mãe), Washington Luiz (pai), Girassol (irmã) e Alexandre (irmão) pela força e apoio. Aos meus primos exemplares Leonardo Silva e Isabella Silva pelo apoio e empatia. E à minha tia Maria Elizabeth pelas energias positivas. À minha namorada Aline dos Santos pelo carinho especial, apoio e paciência durante todo o processo do Mestrado. Ao meu valioso amigo Ricardo Ferreira pelas orientações em momentos de crise e pelas energias positivas. Aos amigos e colegas que direta ou indiretamente me apoiaram e me incentivaram a realizar o mestrado. Em especial à Daniela Mota, à Louise Uchôa, à Júlia Carneiro, à Micheline Silva e ao Gleidson da Cruz. Ao Instituto Observatório das Telecomunicações, Inclusão Digital e Social - IOST pela oportunidade, confiança e incentivo. Em especial ao José Zunga, Amelia Alves, Elinalva Santos e Elifas Gurgel. E a todos os pais e mães que me ajudaram a atingir o número de respondentes da minha pesquisa, sem o qual não teria concluído essa dissertação. Kodoish, Kodoish, Kodoish, Adonai Tsebayoth! Obrigado por toda a luz! vi RESUMO O Transtorno Autista é um dos Transtornos Globais do Desenvolvimento especificados no DSM-IV-TR. Suas principais características são a ausência ou pouco desenvolvimento da interação social e comunicação; e comportamentos, interesses e habilidades restritos, repetitivos e estereotipados. Seus sintomas podem ser observados cedo na vida de uma criança e, caso não sejam identificados precocemente, podem prejudicar seu desenvolvimento. A atenção compartilhada, o contato de olhar e a capacidade de apontar para objetos para compartilhar interesse são relatados pela literatura nacional e internacional como indicadores precoces de Transtorno Autista. No Brasil há somente dois instrumentos de triagem traduzidos e ambos a espera de validação. O objetivo do presente estudo é buscar evidências de validade do instrumento de triagem M-CHAT para uma amostra brasileira. Esse instrumento de fácil apuração é composto por 23 itens com escala dicotômica do tipo sim/não e pode ser respondido por pais ou responsáveis de crianças entre 18 e 24 meses. Para que a pesquisa pudesse considerar amostras acima da faixa de idade de 18 a 24 meses, o instrumento, originalmente elaborado no tempo verbal do presente para a faixa de 18 a 24 meses, foi transformado para o tempo verbal do passado e aplicado com texto no presente em pais de crianças entre 18 e 24 meses de idade e no passado em pais de crianças acima de 24 meses. Ao final a amostra totalizou 303 respondentes. A análise dos Componentes Principais sugeriu um componente com 20 itens. Os itens com maiores cargas fatoriais referiram-se à atenção compartilhada. O componente apresentou consistência interna de 0,95. Calcularam-se a sensitividade, especificidade, valores preditivos positivo (VPP) e negativo (VPN) para os critérios de corte do instrumento original e para os seis itens com maiores cargas fatoriais. O escore de seis itens com maiores cargas fatoriais apresentou sensitividade de 0,94, especificidade de 0,91, VPP de 0,86 e VPN de 0,97. O M-CHAT demonstrou diferenciar crianças com suspeita de Transtorno Autista de crianças típicas. Sugere-se a replicação do estudo considerando parâmetros ideais de validação de instrumentos de triagem. Espera-se que a adaptação brasileira do M-CHAT tenha sido uma contribuição valiosa considerando a ausência de instrumentos de triagem com evidências de validade no Brasil. Palavras-chave: M-CHAT, instrumento, triagem, validação, autismo vii ABSTRACT Autistic Disorder is one of the Global Development Disorders specified in DSM-IV- TR. Main features of Autistic Disorder are the absence or poor development of social interaction and communication; and restricted, repetitive, and stereotyped behavior, interests, and skills. Symptoms can be observed early in the life of a child and, if not prematurely identified, this disorder can hamper his/her development. Joint attention, eye contact, and ability to point to objects to share interest are reported by national and international literature as early indicators of Autistic Disorder. In Brazil there are only two screening instruments, which were only translated, both waiting for validation. The aim of this study is to look for evidence of validity of the M-CHAT screening tool for Brazil. This easy handling instrument consists of 23 dichotomic items, such as yes/no, which can be answered by parents or tutors of children between 18 and 24 months old. In order to take into account samples above the age group of 18 to 24 months, the instrument, originally developed in present tense for the range of 18 to 24 months, was transformed to past tense; it was applied in the present tense to parents of children between 18 and 24 months of age and in past tense to parents of children over 24 months. Sample totalized303 respondents. Principal Components analysis suggested one component with 20 items. Items with greater loadings referred to the joint attention. The component showed internal consistency of Cronbach of 0.95. Sensitivity, specificity, positive predictive values (PPV), and negative (NPV) were calculated to determine a criteria cut for the original instrument, as well as for the six items with greater factor loadings. The score of the six items with greater factor loadings showed sensitivity of 0.94, specificity of 0.91, PPV of 0.86, and NPV of 0.97. M-CHAT showed to differentiate children suspected of having Autistic Disorder from normal children. It is suggested to replicate the study in order to determine ideal validation parameters of screening instruments. It is expected that the Brazilian adaptation of M-CHAT would be a valuable contribution since there is a lack of screening tools with evidence of validity in Brazil. Keywords: M-CHAT, instrument, screening, validation, autism viii SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................11 2. OBJETIVOS .......................................................................................................................14 2.1 Objetivo geral ............................................................................................................................. 14 2.2 Objetivos específicos ................................................................................................................ 15 3. REVISÃO DE LITERATURA .........................................................................................15 3.1 Diagnóstico precoce.................................................................................................................. 26 3.2 Instrumentos para Triagem e Diagnóstico de Transtorno Autista ................................ 31 3.3 Características Psicométricas dos Instrumentos para Triagem de Transtorno Autista de Nível 1 ................................................................................................................................................. 34 4. JUSTIFICATIVA ...............................................................................................................60 5. MÉTODO ..........................................................................................................................61 5.1 Participantes ................................................................................................................................ 61 5.2 Instrumento ................................................................................................................................ 65 5.3 Procedimentos ............................................................................................................................ 66 6. RESULTADOS ..................................................................................................................69 6.1 Análise exploratória de dados ................................................................................................. 69 6.2 Confirmação da qualidade dos diagnósticos relatados ...................................................... 71 6.3 Fatorabilidade da matriz ........................................................................................................... 72 6.4 Análise da Consistência Interna ............................................................................................. 75 6.5 Análise da sensitividade, especificidade, VPP e VPN ....................................................... 76 7. DISCUSSÃO ......................................................................................................................79 7.1 Considerações teóricas sobre os itens ................................................................................... 79 7.2 Consistência Interna.................................................................................................................. 81 7.3 Sensitividade, especificidade, VPP e VPN ........................................................................... 82 Critério de corte de três de 20 itens ............................................................................................... 82 7.4 Considerações metodológicas ................................................................................................. 85 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................88 9. REFERÊNCIAS .................................................................................................................90 10. ANEXOS .......................................................................................................................... 100 ix LISTA DE TABELAS Tabela 1. Relação de instrumentos de triagem do nível 1 .................................................................. 56 Tabela 2. Características da amostra de crianças acerca da idade, sexo e suspeita de transtorno ......................................................................................................................................................................... 61 Tabela 3. Características sociodemográficas dos respondentes sobre indivíduos com e sem suspeita de Transtorno Autista ................................................................................................................ 62 Tabela 4. Frequência e percentual do diagnóstico recebido por profissional da saúde declarado pelos respondentes...................................................................................................................................... 63 Tabela 5. Características sociodemográficas desagregadas por Grupo, Criança/Adolescente e Respondente ................................................................................................................................................. 64 Tabela 6. Análise da normalidade da distribuição das variáveis sociodemográficas .................... 71 Tabela 7. Autovalores empíricos e aleatórios ....................................................................................... 72 Tabela 8. Matriz Pattern (a) do Instrumento M-CHAT ...................................................................... 74 Tabela 9. Média aritmética dos escores total, crítico e crítico original separado por grupo ...... 76 Tabela 10. Índice de acertos e erros do M-CHAT em amostras separadas por grupo ............... 77 Tabela 11. Medidas de sensitividade, especificidade, valores preditivos positivo e negativo desagregadas por grupo e critério de corte dos itens .......................................................................... 78 x LISTA DE FIGURAS Figura 1. Cálculo da sensitividade, especificidade, valor preditivo positivo e negativo .............. 30 Figura 2. Tradução do M-CHAT para o português por Losapio e Pondé .................................... 54 Figura 3. Análise de casos extremos da idade das crianças pelo Box Plot (n = 305) .................... 70 Figura 4. Análise de casos extremos da renda familiar mensal pelo Box Plot (n = 280) .............. 70 Figura 5. Análise do número de componentes pelo scree plot ............................................................ 73 1. INTRODUÇÃO “O essencial é invisível aos olhos” (Antoine de Saint-Exupéry) Esta dissertação se propõe a falar sobre um tema de relevância mundial que modifica completamente a rotina diária de milhões de famílias ao entorno do globo. Esse tema desperta cada vez mais curiosidade entre cientistas, exige muita observação para sua identificação e diagnóstico e possui tratamento com eficiência comprovada, mas exige uma identificação precoce para que a pessoa tenha maior progresso no seudesenvolvimento: o Transtorno Autista. O que é Transtorno Autista? Quais são suas características? Por que é tão difícil identificar uma criança com esse Transtorno? Quais são as formas existentes para identificá- lo? O que está sendo feito para acelerar esta identificação? O que se propõe fazer para contribuir para a identificação deste Transtorno? São algumas das perguntas que serão respondidas ao longo desta dissertação. No curso normal do desenvolvimento de um bebê é possível observar que logo cedo a interação entre mãe e bebê é estabelecida pelo contato sensorial da pele, por meio do contato afetivo, pela visão na observação do ambiente, mãe e o seu seio, pela audição sendo audiência da fala materna e pelo olfato por meio dos cheiros da mãe e do leite materno. Mas o quão importante todas essas experiências sensoriais são na vida de um bebê? Desvendar o impacto do desenvolvimento sutil de certas habilidades sensoriais e motoras logo no início da vida de um bebê pode ser a chave para o reconhecimento da presença ou ausência de ativações que mais tarde podem ocasionar o aparecimento de dificuldades na interação 12 social, principal característica do Transtorno Autista (Associação Psiquiátrica Americana - APA, 2002). Como abordado por Cleonice Bosa (2005), um bebê com desenvolvimento típico interage com o outro, em particular com sua mãe, e logo cedo aprende que suas ações produzem modificações ao seu redor. É oportuno observar relatos de mães de bebês diagnosticados posteriormente com Transtorno Autista. Suas falas relatam a ausência de interação do bebê com o meio (Wing, 1976). Parece obvio dizer, mas a interação social se desenvolve a partir de estímulos ambientais que entram em contato com receptores no corpo, os sentidos. A ausência ou mau funcionamento de alguns desses receptores quando bebê pode, consequentemente, provocar mudanças no desenvolvimento posterior de diferentes habilidades e conhecimentos. Assim como uma pessoa cega fica incapacitada de desenvolver habilidades como noções de profundidade e reconhecimento facial para além do tato, há indícios para crer que uma criança com Transtorno Autista deixa de desenvolver uma série de habilidades essenciais como a interação social em função dos sintomas produzidos por uma carga excessiva de estímulos recebidos sem filtro por seus sentidos. Segundo matéria da Revista de Pesquisa da FAPESP escrita por Ricardo Zorzetto (2011) “alterações no córtex temporal podem causar prejuízo na percepção de informações importantes para a interação social” (p. 16). O mau funcionamento das faculdades perceptuais do cérebro em contato com o ambiente pode por conseqüência evitar ou prejudicar o desenvolvimento de outras habilidades como a linguagem e o interesse pelas pessoas e coisas do mundo, características essas marcadamente observadas em crianças com Transtorno Autista. De acordo com De Lamare (2008), um dos aspectos mais importantes do relacionamento entre mãe e filho é o olhar que se estabelece entre eles. A mãe olha o bebê da 13 cabeça aos pés. O bebê olha primeiramente o seio, depois o rosto materno, sentindo-se observado, adquirindo a primeira experiência como pessoa. Mas será que essas características ou o subproduto das possíveis causas do Transtorno Autista podem servir como indicadores para o diagnóstico precoce desse transtorno? Se sim, qual é de fato o sintoma mais preciso? Ou ainda, qual seria o limiar que distinguiria uma criança com Transtorno Autista de uma criança típica estando ambas em pleno desenvolvimento? O Transtorno Autista compõe um dos Transtornos de uma categoria maior chamada Transtornos Globais do Desenvolvimento e possui três principais características que serão abordadas com maior detalhamento, são elas: ausência de interação social, pouca ou nenhuma linguagem oral e a presença de comportamentos restritos, repetitivos e estereotipados (APA, 2002). A manifestação desses três pilares principais permeia toda a categoria diagnóstica dos Transtornos Globais do Desenvolvimento revelando a existência do que ficou caracterizado como o espectro do autismo. As dificuldades que existem hoje no campo de pesquisa do Transtorno Autista para uma eficiente classificação diagnóstica são justamente diferenciar precocemente uma criança diagnosticada: i. dentro dos Transtornos Globais do Desenvolvimento de outras dentro da população típica; ii. dentro Transtornos Globais do Desenvolvimento de outras com outros transtornos, e sobretudo; iii. com um dos transtornos da categoria de outras com outros Transtornos Globais do Desenvolvimento. No mundo, já existem diferentes instrumentos capazes de triar e auxiliar no diagnóstico precoce dessas crianças, contudo no Brasil há poucos instrumentos traduzidos e 14 ainda menos instrumentos traduzidos e com indícios de validade segundo critérios psicométricos necessários e exigidos em termos estatísticos pelos psicólogos. Como a população brasileira em sua maioria ainda carece de condições financeiras favoráveis, procedimentos de triagem e diagnóstico que exigissem muito tempo e recursos financeiros fatalmente desfavoreceriam a parte da população economicamente menos favorecida. Desta forma, certamente para um primeiro momento, a escolha de um instrumento de triagem, de fácil aplicação e que obtivesse os parâmetros psicométricos aprovados atenderia mais e melhor às necessidades da população brasileira. Em Brasília, por exemplo, já existe uma demanda federal no sentido de diagnosticar e fornecer atendimento precoce a pessoas com Transtorno Autista e outros transtornos. No dia 26 de maio de 2011 foi publicada no Diário Oficial do Distrito Federal a Lei 4.568 conhecida como a Lei do Autismo, que descreve entre outras especificações que o Distrito Federal terá que fornecer diagnóstico e intervenções precoces às pessoas com Transtornos Globais do Desenvolvimento. Alinhado a essas e outras necessidades, portanto, é o propósito desta dissertação buscar indícios de validade de um instrumento de fácil aplicação para rastrear precocemente crianças com suspeita de Transtorno Autista dentro da população de crianças consideradas típicas. 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral Verificar se o instrumento internacional M-CHAT - Modified Checklist for Autism in Toddlers (Robins, Fein, Barton & Green, 2001) possui evidências de validade em uma amostra da população brasileira. 15 2.2 Objetivos específicos Avaliar as características psicométricas do instrumento de triagem M-CHAT, quanto à(ao): I. consistência interna; II. sensitividade; III. especificidade; IV. valor preditivo positivo; e V. valor preditivo negativo. 3. REVISÃO DE LITERATURA A palavra autismo (em inglês autism) segundo o Dicionário Etimológico Online (2010) é composta pelo prefixo grego autos que significa self ou eu, mais o sufixo -ismo que significa ação ou estado. Por conseguinte, autismo pode ser traduzido como “ação sobre si mesmo” ou “estado de mesmice”. A palavra autismo foi utilizada a primeira vez pelo psiquiatra suíço Paul Eugen Bleuler com o objetivo de descrever a perda de contato com a realidade ou o mundo ao redor, sintoma de isolamento observado em adultos com esquizofrenia (Bleuler, 1916, citado por Frith, 1991). Mais tarde, em 1943, o significado que essa palavra trazia passou a ser utilizado para caracterizar um distúrbio observado pelo psiquiatra Leo Kanner. De fato, em 1799, já havia relatos de casos do que ficou apelidado como a síndrome de Kanner. Segundo John Wing (1976), o clínico John Haslam descreveu o caso de um menino de cinco anos de idade, que até os quatro anos não falava, brincava de forma isolada e concentrada com bonecos de soldado, referia-se a si mesmo na terceira pessoa, entre outros comportamentos que seriam caracterizados mais tarde como Transtorno Autista.16 Por meio do estudo de caso de 11 crianças em 1943, Kanner identificou uma série de sintomas os quais classificou como Distúrbio Autístico do Contato Afetivo. Esse distúrbio era composto pela perda de contato extremo com a realidade (ou autismo extremo), obsessividade, estereotipias e ecolalia. Não possuindo exames fisiológicos e ferramentas psicodiagnósticas específicas na época que fornecessem informações associadas a sua etiologia, Kanner (1956) classificou o distúrbio dentro das psicoses. Em 1944, quase simultaneamente à classificação de Kanner, um fisiologista chamado Hans Asperger da Áustria também verificou em algumas pessoas características que serviram para a classificação de outro conjunto de sintomas semelhantes aos identificados por Kanner (1943), cujo nome ficou conhecido como Síndrome de Asperger (Asperger, 1944, conforme citado por Frith, 1991). Somente em 1976, Ritvo e Ornitz identificando déficit cognitivo passaram a considerar o Transtorno Autista como uma síndrome relacionada ao desenvolvimento (Assumpção-Jr. & Pimentel, 2000). A partir desse momento podem-se observar definições contraditórias acerca do diagnóstico de Transtorno Autista entre as classificações francesa, americana e mundial (Assumpção-Jr. & Kuczynski, 2009). Enquanto por um lado a Associação Psiquiátrica Americana (APA, 1995) e a Organização Mundial de Saúde (OMS, 1993) apontavam o Transtorno Autista dentro da categoria de “Transtornos Abrangentes de Desenvolvimento” (Assumpção-Jr. & Kuczynski, 2009), por outro lado, a classificação francesa classificava o Transtorno Autista enquanto “defeito de organização ou desorganização da personalidade”, dentro das psicoses (Misés, 1990; Housel, 1991, citados por Assumpção-Jr. & Kuczynski, 2009; Kanner, 1943). Apesar das divergências conceituais entre as classificações francesa, americana e mundial, é consenso entre todas que o transtorno deve ser interpretado por bases biológicas, 17 com etiologia orgânica e caracterizado como uma síndrome comportamental definida (Volkmar & Klin, 2005; Assumpção-Jr. & Kuczynski, 2009). O Transtorno Autista é considerando um desvio do desenvolvimento e não um atraso, portanto as características presentes nas crianças com esse transtorno mudam conforme seu desenvolvimento (Lampreia & Lima, 2011). O Transtorno Autista, também conhecido como Transtorno Autístico, Autismo da Infância, Autismo Infantil ou Autismo Infantil Precoce, conforme estatística de incidência do CID-10 apresenta proporção de ocorrência de 15 casos para cada 10.000 indivíduos na população, havendo estudos entre 1966 e 2004 com variações de incidência entre 1,9 e 72,6 casos a cada 10.000 indivíduos (OMS, 1993; Klin, 2006; Fombonne, 2005). Calculando-se a incidência dos Transtornos Globais do Desenvolvimento no Brasil, segundo proporção de 70 a cada 10.000 indivíduos (Fombonne, 2010), estima-se que haja 1.335.290 casos no país, que representa 0,7% da população em 2010 (estimativa da população brasileira, IBGE, 2011). Observa-se freqüentemente o diagnóstico de Transtorno Autista associado com retardo mental variando de leve a profundo em três quartos dos casos (APA, 2002; OMS, 1993). Segundo Fombonne (2005) aproximadamente de 60 a 70% dos indivíduos com Transtorno Autista apresentam-se com certo grau de retardo mental. Apresentam também habilidades verbais (linguagem na comunicação) tipicamente mais deficientes do que outras áreas como memória e percepção visual. Em alguns casos, há ocorrência de habilidades especiais. Como o Transtorno Autista apresenta caracterização relacionada a desempenho cognitivo, sendo associado a retardo mental, estabeleceu-se a noção de um continuum autístico em função da variação de inteligência entre os casos (Ritvo & Ornitz, 1976, citados por Frith, 1991). 18 Pessoas com Transtorno Autista podem apresentar também sintomas de hiperatividade, desatenção, impulsividade, agressividade, comportamentos autodestrutivos e ataques de raiva. Respostas incomuns a estímulos sensoriais, anormalidades na alimentação, no sono, no humor e ausência de medo em situações de perigo (APA, 2002; OMS, 1993). O índice desse transtorno é de quatro a cinco vezes mais freqüente para o sexo masculino (Chakrabarti & Fombonne, 2005). O sexo feminino, contudo, está mais propenso a apresentar retardo mental grave (APA, 2002; OMS, 1993). Há um risco de ocorrência do transtorno de 19% em irmãos de indivíduos com o Transtorno Autista (Ozonoff, Young, Carter & cols., 2011). Os sintomas e características do transtorno costumam ser sutis até os dois anos de idade (APA, 2002; OMS, 1993). A seguir serão descritos o desenvolvimento de uma criança com Transtorno Autista até um ano de idade e de um a cinco anos de idade. Até um ano de idade Alguns bebês com Transtorno Autista, até um ano de idade, raramente choram ou demandam atenção. Outros apresentam reações no extremo oposto, são incansáveis. Gritam por longos períodos e não podem ser confortados (Wing, 1976). Apresentam falta de interesse por contato social cedo. Bebês com esse transtorno podem demonstrar pequeno interesse pela voz humana. Contudo, não costumam engajar-se em comportamentos antecipatórios como levantar os braços para ser colocado no colo (Wing, 1976). Quando bebê, crianças com o transtorno não costumam apresentar estereotipias, sintoma que aparece com idades mais elevadas, e podem apresentar falta de apego às pessoas. Os pais costumam comentar que a criança não “dá trabalho” (Lampreia & Lima, 2011). 19 Entretanto, podem gostar de ser balançados para cima e para baixo expressando sorrisos, mas estas respostas normalmente são estimuladas mais facilmente por contato físico (Wing, 1976). Eles não exploram o ambiente avidamente. Não apontam para coisas que eles querem e nem para coisas que atraem a atenção de seus pais no sentido de compartilhar interesses. Costumam se apegar e manipular alguns poucos brinquedos repetidas vezes (Wing, 1976). Em alguns casos, há logo cedo histórico intenso de fascinação por experiências sensoriais. Um bebê pode contemplar uma luz acesa por longos períodos ou se manter fixo em uma única seção de um quadro de parede. Ocasionalmente, certos objetos ou situações produzem intensos e inexplicáveis medos. Um bebê pode começar a gritar ao ver uma caneca de prata e só parar quando ela é removida do ambiente (Wing, 1976). Comportamentos relacionados à interação social e a comunicação são diferenciadores de crianças com Transtorno Autista de crianças com desenvolvimento típico (Charman & Baird, 2002; Cox, Klein, Charman, Baird, Baron-Cohen & Swettenham, 1999). Estudos que analisaram gravações de comportamentos de crianças que posteriormente foram diagnosticadas com o transtorno sugerem um déficit na coordenação da atenção e afeto com os outros (Volkmar & Klin, 2005). Entre nove e 12 meses, crianças com Transtorno Autista revelaram déficit na comunicação social na área de apontar para objetos, olhar para os outros, sorrir socialmente, seguir estímulos visuais e atender ao chamado do nome (Baranek, 1999; Osterling & Dawson, 1994; Osterling, Dawson & Munson, 2002; Werner, Dawson, Osterling & Dinno, 2000). Lampreia e Lima (2011) sugerem que entre seis e oito meses de idade deve-se observar se a criança apresenta contato de olhar, reação auditiva e se sorri espontaneamente ao interagir com adultos. E entre os nove e 12 meses se a criança olha a face do outro, olha para objetos segurados por outros e se a criança direciona o olhar para pessoas que lhe chamam pelo nome. 20 A ausência desses comportamentos pode sugerir suspeita de Transtorno Autista (Lampreia & Lima, 2011). De um a cinco anos de idade Estudos relatam que os pais já mencionam sintomas de Transtorno Autista entre um ano e quatro meses e um ano e oito meses (Short & Schopler, 1988; Spitzer & Siegel,1990; Volkmar, Cohen, Hoshino, Rende & Paul, 1988, citados por Coonrod & Stone, 2005). Há evidências que crianças com o transtorno aos 20 meses de idade demonstram falta de responsividade à exibição de angústia de adultos (Charman, Baron-Cohen, Swetternham, Cox, Baird & Drew, 1997). Os padrões do transtorno ficam mais aparentes e costumam se tornar óbvios e severos entre dois anos e meio e cinco anos (Wing, 1976). Algumas mães de crianças com Transtorno Autista mais ativas relatam que as crianças têm crises de birra assustadoras caso sejam frustradas de alguma forma e aparentam não perceber a existência de pessoas além delas mesmas (Wing, 1976). A fala é quase sempre atrasada. Às vezes aparenta desenvolvimento normal entre um e dois anos de idade e depois se observa uma regressão no desenvolvimento. Se há repertório de palavras são quase todos derivados de ecolalia (Wing, 1976). Crianças com o transtorno possuem problemas com a compreensão de linguagem que pode variar de uma total ausência de compreensão da linguagem a problemas relacionados aos sons que fazem a associação de uma palavra com a outra para a interpretação de sentenças (Wing, 1976). Aqueles que possuem alguma espontaneidade na fala apresentam problemas com a utilização de pronomes. Muitos possuem anormalidades na linguagem expressiva e receptiva e tendências a usar palavras e frases repetidas (Wing, 1976). 21 Apresentam baixo controle do volume e entonação da voz. Tem problemas com a pronúncia espontânea. Tem compreensão pobre e usam qualquer forma de linguagem e métodos não verbais para se comunicarem (Wing, 1976). Crianças com Transtorno Autista parecem ter dificuldade em usar informações vindas de seus sentidos. Variabilidade na resposta a sons é comum. A criança pode não reagir a sons altos atrás dele, mas pode se virar ao som de um picar de papel sutil (Wing, 1976). Pessoas podem perguntar se a criança é surda, mas os pais usualmente sabem que ela não é. Por outro lado, a supersensibilidade a alguns sons é frequentemente observada, fazendo com a que a criança tampe os ouvidos ou se torne distraída. Essas crianças podem apresentar fascínio por certos sons como os produzidos pelo bater de palmas ou por um sino (Wing, 1976). Há problemas equivalentes em lidar com informações visuais. Crianças com o transtorno às vezes aparentam dificuldade em reconhecer as coisas que elas observam (Wing, 1976). Fascinação por luzes, objetos brilhantes ou padrões especiais pode ser visto em crianças com o transtorno tão claramente quanto em bebês. Coisas que giram tem especial atração e crianças podem balançar os braços, pular e se agitar de excitação enquanto olham o objeto girando (Wing, 1976). Reações de indiferença, agitação e fascinação podem ser relatadas para outras modalidades sensoriais. Crianças com Transtorno Autista podem ignorar socos, chutes e ser indiferentes a dor e ao frio. Quando crescem, esta indiferença pode ser substituída por uma exagerada preocupação ao menor desconforto (Wing, 1976). Podem fugir de contatos físicos suaves. Atividades diárias necessárias como tomar banho, vestir-se e lavar as mãos podem provocar gritos de fúria. Em contraponto, essa mesma criança pode reagir com intenso prazer a jogos de cócegas, balançar para cima e para baixo aparentando normalidade durante o jogo (Wing, 1976). 22 Fascinação por sensações táteis podem assumir a forma de arranhões em diferentes tipos de superfície para sentir a textura. Às vezes o som produzido é mais agradável que a sensação (Wing, 1976). Há anormalidades na inspeção visual de pessoas, objetos ou situações. Antes dos cinco anos de idade algumas crianças com o transtorno tendem a usar a visão periférica mais do que a visão central. As crianças podem andar de bicicleta sem aparentemente olhar para onde estão se deslocando. Às vezes olham rapidamente para as pessoas, mas costumam olhar através das pessoas mais do que para elas de fato. Algumas crianças parecem evitar olhar para certos estímulos visuais, especialmente faces humanas (Wing, 1976). Crianças com Transtorno Autista costumam apresentar problemas com imitação motora. Elas consideram extremamente difícil aprender pela observação e imitação. É mais fácil o aprendizado da imitação quando o movimento a ser aprendido é direcionado por outra pessoa (Wing, 1976). Há também uma grande dificuldade em imitar ações como aquelas que utilizam a imaginação como fingir que está utilizando um martelo ou tocando um instrumento musical (Wing, 1976). Problemas com o controle motor da criança com o transtorno podem ser identificados. Movimentos grossos espontâneos ou habilidades motoras finas podem ser pouco frequentes em algumas crianças. Em outras podem aparecer normalmente (Wing, 1976). Há anormalidade no funcionamento autônomo, controle vestibular e desenvolvimento físico. Padrões desordenados de sono, fome e sede são encontrados em algumas crianças com o transtorno (Wing, 1976). São normalmente resistentes a sedativos. Uma ausência de tontura após rodopiar pode ser observada. Crianças com Transtorno Autista amam girar-se e podem fazer isso por longos períodos. Possuem também resistência à vertigem e náuseas (Wing, 1976). 23 A aparência de uma criança com o transtorno normalmente engana sobre a sua idade real. Eles aparentam ser mais jovens do que a idade real e demonstram certa vulnerabilidade que evoca sentimentos de proteção nas outras pessoas com quem entram em contato (Wing, 1976). Não obstante, apresentam também habilidades especiais. A criança com Transtorno Autista apresenta algumas áreas em que ela se desempenha bem. São duas: habilidades que não dependem da linguagem e habilidades de memória exata (Wing, 1976). A habilidade que não envolve a linguagem compreende desmontar e montar aparatos mecânicos e eletrônicos, montar jogos de quebra cabeça ou montar brinquedos de construção (Wing, 1976). A habilidade que depende da memória caracteriza-se pela criança recordar itens por longos períodos na exata forma como eles os experienciaram em seu primeiro contato. Esses itens são gravados sem nenhum critério aparente. A memória para padrões visuais também tende a ser excelente (Wing, 1976). Quanto aos problemas secundários de comportamento, observa-se aparente desinteresse social e indiferença em crianças com o transtorno, que é resultado de diferentes comportamentos observados pelas pessoas que incluem a tendência a olhar através das pessoas, não gostar de contato físico, postura e andar estranho, absorção a estímulos sensoriais simples e exclusão de outros interesses (Wing, 1976). Existe uma intensa resistência a mudança e fixação por objetos e rotinas, que podem ser produzidos pela combinação da falta de habilidade de crianças com o transtorno fazerem sentido ao mundo e a sua excelente memória para coisas como elas eram na primeira experiência. Rotinas familiares se tornam importante para algumas crianças. Existe uma fascinação com a regularidade de padrões repetitivos de objetos e sons (Wing, 1976). É possível observar reações emocionais inapropriadas. Existe uma ausência de medo real em crianças com Transtorno Autista. Elas podem escalar lugares altos sem reação de 24 medo e terem medo de objetos inofensivos ou situações como entrar em um quarto diferente (Wing, 1976). Não tem muito entendimento dos sentimentos das pessoas. Rir, chorar, gritar pode ocorrer por nenhuma razão obvia para essas crianças (Wing, 1976). A falta de imaginação também pode ser notada nessas crianças. Elas não brincam de jogos de faz de conta nem com elas mesmas, nem com outras pessoas. É difícil para uma criança com Transtorno Autista imitar as ações de outras pessoas ou construir a imitação em uma forma criativa. Os brinquedos não são usados em jogos imaginativos. A criança tende a usar, testar, provar, cheirar emanipular os brinquedos apenas para obter sensações simples (Wing, 1976). Por causa da ausência de imaginação, crianças com o transtorno não entendem o propósito de trabalhos que não tragam obvias e imediatas recompensas (Wing, 1976). Na falta de trabalhos imaginativos, crianças com o transtorno tendem a se ocuparem de variadas formas de manifestação repetitiva. Monotonia e movimentos estereotipados podem ser as únicas atividades das crianças com retardo mental severo (Wing, 1976). Por fim, observa-se uma imaturidade social e dificuldade de comportar-se. Crianças com o transtorno podem apresentar temperamento agressivo e passar longos períodos gritando especialmente quando frustrados de alguma forma. Isso ocorre em quaisquer casos em que a maturidade é comprometida e a aprendizagem de habilidades sociais é limitada (Wing, 1976). Alguns estudos observacionais apontam déficit de atenção compartilhada e imitação motora em crianças com o transtorno entre dois e três anos de idade (Stone, Ousley & Littleford, 1997; Stone, Ousley, Yoder, Hogan & Hepburn, 1997; Bosa, 2002), tanto quanto aos 20 meses de idade (Charman, Baron-Cohen, Swetternham & cols, 1997). Entende-se por atenção compartilhada a capacidade de a criança dividir seu interesse entre o objeto e uma pessoa adulta. Ela compreende aspectos como seguir e controlar a 25 atenção do outro (Lampreia & Lima, 2011). Segundo Mundy e Sigman (1989, citado por Bosa, 2002) a atenção compartilhada envolve vocalizações, gestos e contato ocular. Segundo Lampreia e Lima (2011) a ausência de comportamentos de: a. apontar para pessoas e objetos; b. apontar para objetos demonstrando interesse com alternância do olhar entre objeto apontado e face humana, vocalizando; c. apontar para objetos pedindo-o com alternância do olhar entre objeto e face humana, vocalizando; e d. linguagem funcional, pronunciando palavras com significado de referenciar objetos, ações ou pessoas; podem servir como indicadores de crianças com risco de Transtorno Autista entre 13 e 18 meses de idade. Acima de 18 meses, a ausência do brincar de jogos de faz de conta pode indicar também risco do transtorno. Na idade pré escolar, entre quatro e cinco anos, as dificuldades mais consistentemente relatadas sobre o desenvolvimento da interação entre pares são: a. Comportamento de comunicação social na área de imitação motora (Dawson, Meltzoff, Osterling, Rinaldi & Brown, 1998; Stone, Lemanek, Fishel, Fernandez & Altemerier, 1990). b. Jogar funcional (Mundy, Sigman, Ungerer & Sherman, 1986, citados por Wing, 1976). c. Compartilhar e responder a informações afetivas (Dissanayake & Crossley, 1996; Snow, Hertzig & Shapiro, 1987, citados por Wing, 1976; Sigman, Kasari, Kwon & Yirmiya, 1992). d. Engajamento em referências sociais e atenção compartilhada (Dawson, Meltzoff, Osterling & cols., 1998; Bosa, 2001, 2002). 26 Dois estudos, um prospectivo realizado por Gillberg e cols. (1999, citados por Gillberg & Coleman, 2000) e outro retrospectivo realizado por Dahlgren e Gillberg (1989, citado por Gillberg & Coleman, 2000) sugeriram que os sintomas: aparente isolamento do som, não jogar como as outras crianças, aparente surdez, falta de tentativas em atrair a atenção de adultos para a própria atividade, olhar vazio e reações estranhas a sons apresentaram forte poder discriminativo na identificação de crianças com suspeita de Transtorno Autista. Anormalidades no desempenho motor e anormalidade nas expressões faciais foram observadas sem exceção em um estudo sistemático de vídeos de 17 crianças que apresentaram o transtorno. Segundo Teitelbaum, Teitelbaum, Nye, Fryman e Maurer (1998), esses podem ser úteis como sinais precoces do transtorno. 3.1 Diagnóstico precoce Atualmente, o Transtorno Autista é classificado como um dos Transtornos Globais do Desenvolvimento descritos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, versão revisada (DSM-IV-TR) da APA (2002) ou como um dos Transtornos Invasivos do Desenvolvimento descritos pela Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10) da OMS (1993). Além do Transtorno Autista, existem outros transtornos que compõem a categoria chamada Transtorno Global do Desenvolvimento, são eles: Transtorno de Asperger, Transtorno de Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância e Transtorno Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação (APA, 2002). Em uma prévia eletrônica da quinta versão do DSM, a ser lançada em 2013, os Transtornos Globais do Desenvolvimento não mais são identificados separadamente. Haverá apenas uma classificação chamada Transtornos do Espectro Autista (TEA) que reúne todos os transtornos apresentados pelo DSM-IV-TR. O TEA encontra-se na área de transtornos do neurodesenvolvimento (APA, no prelo). 27 Todas essas classificações diagnósticas estão centradas na dificuldade em três grandes eixos do desenvolvimento humano: interação social recíproca; comunicação; e comportamentos, interesses e habilidades restritos, repetitivos e estereotipados (APA, 2002; OMS, 1993). O Transtorno Autista reflete as características gerais dos Transtornos Globais do Desenvolvimento. Segundo Wing (1976) o termo que melhor descreve o Transtorno Autista é Autismo Infantil Precoce por expressar as características de aparecimento precoce do transtorno em crianças. Os comportamentos utilizados como protocolo diagnóstico segundo o DSM-IV-TR (APA, 2002, p. 103) são: 1. Comprometimento qualitativo na interação social: a. Comprometimento em comportamentos não-verbais. b. Fracasso em desenvolver relacionamentos em seus pares apropriados ao nível de desenvolvimento. c. Ausência de tentativas espontâneas de compartilhar prazeres, interesses ou realizações com outras pessoas. d. Ausência de reciprocidade social e emocional. 2. Comprometimento qualitativo da comunicação: a. Atraso ou ausência total de desenvolvimento da linguagem falada (sem a compensação por modos alternativos de comunicação, como gestos ou mímicas). b. Em indivíduos com fala adequada, comprometimento da capacidade de iniciar ou manter uma conversa. c. Uso estereotipado e repetitivo da linguagem ou linguagem idiossincrática. d. Ausência de jogos ou brincadeiras de imitação social variados e espontâneos próprios do nível de desenvolvimento. 3. Padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades: a. Preocupação insistente com um ou mais padrões estereotipados e restritos de interesse, anormais em intensidade ou foco. b. Adesão aparentemente inflexível a rotinas ou rituais específicos e não-funcionais. c. Maneirismos motores estereotipados e repetitivos. d. Preocupação ou apego intenso e persistente com partes de objetos. Para se fechar um diagnóstico de Transtorno Autista, segundo o protocolo do DSM- IV-TR (APA, 2002) é necessário que a criança apresente pelo menos seis critérios 28 comportamentais. Sendo pelo menos dois sintomas na interação social, um na comunicação e um em padrões restritos de comportamento e interesses. Os critérios diagnósticos descritos pelo CID-10 (OMS, 1993) e DSM-IV-TR (APA, 2002) são apropriados para a identificação precoce entre as idades de três e cinco anos, no qual comportamentos com estereotipias são identificados com maior freqüência. Segundo Rutter e cols. (1969, citado por Wing, 1976) e Wing (1970, citado por Wing, 1976) o diagnóstico não pode consistir apenas de uma única nomeação, mas deve ser multidimensional. Wing (1976) sugere que os comportamentos de crianças com Transtorno Autista não podem ser observados na clínica. Para acessá-los é preciso questionar os pais sobre o histórico e estado da criança todos os dias em diferentes situações. As perguntas devem expressar comportamentos objetivos, mensuráveis e precisos. Apesar de o diagnóstico precocedo Transtorno Autista se mostrar estável por volta de um ano de idade para a maioria das crianças (88 a 100%; Cox, Klein, Charman, Baird, Baron- Cohen & cols., 1999; Stone, Lee, Ashford, Brissie, Hepburn & cols., 1999), esse diagnóstico precoce mostra-se complicado em função de três fatores relatados por Siegel, Pliner, Eschler e Elliott (1988, citados por Coonrod & Stone, 2005), a saber: (1) em função da natureza do déficit baseado na ausência de certos comportamentos dificultando sua identificação; (2) por causa da relutância dos profissionais em nomear ou realizar diagnóstico formal de crianças jovens; e (3) em função da escassez de clínicos experientes na realização de diagnóstico precoce. Outro fator complicador para o diagnóstico precoce é o método que não é especializado para crianças. Apesar do reconhecimento dos sintomas do Transtorno Autista variar conforme a idade e o desenvolvimento (Siegel, Vukicevic & Spitzer, 1990, citados por 29 Coonrod & Stone, 2005), alguns métodos diagnósticos para crianças abaixo de três anos foram desenvolvidos. Existem dois tipos de instrumentos que podem auxiliar na identificação precoce de crianças com o transtorno, são os instrumentos de triagem (rastreamento) e os instrumentos diagnósticos. Esta dissertação abordará apenas sobre os instrumentos de triagem ou rastreamento, foco da pesquisa. Instrumentos de triagem, segundo Lord, Risi e DiLavore (1999, citado por Coonrod & Stone, 2005) podem variar de acordo com a população para o qual eles foram projetados. O instrumento de triagem de nível 1 é desenvolvido para identificar crianças que possuem o risco de terem Transtorno Autista dentro da população geral. O de triagem de nível 2 é desenvolvido para diferenciar crianças com risco de ter Transtorno Autista de crianças com outras desordens do desenvolvimento. Um instrumento de triagem pode variar também em função da forma de aplicação (entrevista, observação ou intervenção), do tempo de aplicação, do tempo de treinamento exigido para sua aplicação e do grau de parentesco do aplicador com a criança a ser avaliada (Coonrod & Stone, 2005). Um instrumento de triagem de nível 1 é usado para avaliar um grande número de crianças, a maioria sem problemas de desenvolvimento. Ele precisa ser breve e de fácil aplicação. Normalmente são questionários direcionados a pais. Um instrumento de triagem nível 2 requer mais refinamento na análise de problemas do desenvolvimento, precisando de mais tempo e treino do aplicador, um cálculo dos resultados e um nível de interpretação maior (Coonrod & Stone, 2005). Os parâmetros psicométricos de instrumentos de triagem frequentemente utilizados são a sensitividade, especificidade, valor preditivo positivo e valor preditivo negativo (Coonrod & Stone, 2005). Calculados com base nos verdadeiros e falsos positivos (VP e FP) e verdadeiros e falsos negativos (VN e FN). Ver Figura 1. 30 A acurácia de instrumentos de triagem é medida tradicionalmente pela sensitividade e especificidade (Rielgelman & Hirsch, 1989, citados por Coonrod & Stone, 2005). E a capacidade de prever o resultado por seus valores preditivos positivo e negativo. A sensitividade refere-se à proporção de crianças com risco de ter o transtorno considerando a subamostra de crianças com o transtorno (VP / VP + FN). A especificidade refere-se à proporção de crianças sem risco de ter o transtorno com base na subamostra de crianças sem o transtorno (VN / VN + FP). A sensitividade e especificidade são calculadas comparando os resultados do teste com o diagnóstico exato do transtorno. São medidas que variam de 0 a 1. Níveis de sensitividade e especificidade acima de 80% são geralmente recomendados (Glascoe, 1991; Squires, 2000, citados por Coonrod & Stone, 2005). Transtorno Autístico (padrão-ouro) Presente Ausente R es u lt a d o d o In st ru m e n to Positivo Verdadeiro Positivo (VP) Falso Positivo (FP) Valor Preditivo Positivo (VPP) VP / VP + FP Negativo Falso Negativo (FN) Verdadeiro Negativo (VN) Valor Preditivo Negativo (VPN) VN / VN + FN Sensitividade VP / VP + FN Especificidade VN / VN + FP Figura 1. Cálculo da sensitividade, especificidade, valor preditivo positivo e negativo O valor preditivo positivo (VPP) é a probabilidade de o instrumento detectar crianças com risco de ter o transtorno considerando a subamostra do resultado positivo do teste (VP / VP + FP; Hayden & Brown, 1999). 31 O valor preditivo negativo (VPN) é a probabilidade de o instrumento detectar crianças sem o risco de ter o transtorno considerando a subamostra do resultado negativo do teste (VN / VN + FN; Hayden & Brown, 1999). Essas medidas também variam de 0 a 1. Escores acima de 0,80 na sensitividade, especificidade, valores preditivos positivo e negativo representam resultados próximos de estarem corretos. 3.2 Instrumentos para Triagem e Diagnóstico de Transtorno Autista Diferentes instrumentos foram desenvolvidos com a função de triar e diagnosticar crianças com Transtorno Autista. Eles são listados a seguir. 3.2.1 Instrumentos para Diagnóstico 1. Rimland’s E-2 form (E-2; Rimland, 1968, citado por Lord & Corsello, 2005); 2. Behavior Rating Instrument for Autistic and Atypical Children (BRIAAC; Ruttenberg, Kalish, Wenar & Wolf, 1977, citado por Lord & Corsello, 2005); 3. Real-Life Rating Scale (RLRS; Freeman, Ritvo, Yokata & Ritvo, 1986, citado por The Caring for Washington Individuals with Autism Task Force, 2010); 4. Social Responsiveness Scale (SRS; Constantino, 2002, citado por Contantino, Davis, Todd, Schindler, Gross & cols., 2003); 5. Pervasive Developmental Disorders Rating Scale (PDDRS; Eaves, 1990; Eaves & Hooper, 1987, citado por Lord & Corsello, 2005); 6. Children’s Social Behavior Questionnaire (CSBQ; Luteijn, Luteijn, Jackson, Volkmar & Minderaa, 2000); 7. Childhood Autism Rating Scale (CARS; Schopler, Reichler & Renner, 1986, citados por Pereira, 2007; Rapin, & Goldman, 2008); 32 8. Autism Behavior Checklist (ABC; Krug, Arick & Almond, 1980, citado por Lord & Corsello, 2005); 9. Behavioral Summarized Evaluation-Revised (BSE-R; Barthelemy, Roux, Adrien, Hameury, Guerin & cols., 1997); 10. Gilliam Autism Rating Scale (GARS; Gilliam, 1995, citado por Lord & Corsello, 2005); 11. Autism Diagnostic Interview (ADI; Le Couteur & cols., 1989, citado por Lord & Corsello, 2005); 12. Autism Diagnostic Interview-Revised (ADI-R; Lord, Rutter & Le Couteur, 1994); 13. Diagnostic Interview for Social and Communication Disorders (DISCO; Wing, Leekam, Libby, Gould & Larcombe, 2002); 14. Autism Diagnostic Observation Schedule (ADOS; Lord, Rutter, DiLavore & Risi, 1999, citado por Lord & Corsello, 2005); 15. Autism Diagnostic Observation Schedule – Generic (ADOS-G; Lord, Risi, Lambrecht, Cook, Leventhal & cols., 2000); 16. Psychoeducational Profile-Revised (PEP-R; Schopler, Reichler, Bashford, Lansing & Marcus, 1990, citados por Lord & Corsello, 2005); 17. Adolescent and Adult Psychoeducational Profile (AAPEP; Mesibov, Schopler & Caison, 1989, citados por Lord & Corsello, 2005); 18. Asperger Syndrome (and High-Functioning Autism) Diagnostic Interview (ASDI; Gillberg, Gillberg, Rastam & Wentz, 2001); 19. Autism Observation Scale (AOSI; Bryson, Zwaigenbaum, Brian, Roberts, Szatmari & cols., 2007). 33 3.2.2 Instrumentos para Triagem (ou rastreamento) Nível 1 (diferencia Transtorno Autista da população em geral) 1. Checklist for Autism in Toddlers (CHAT; Baroh-Cohen, Wheelwright, Cox, Baird, Charman & cols., 2000); 2. Modified Checklist for Autism in Toddlers (M-CHAT; Robins, Fein, Barton & Green, 2001); 3. Pervasive Developmental Disorders Screening Test – Stage 1 (PDDST-Stage 1; Siegel, 1996, 1998; Siegel & Hayer, 1999, citados por Coonrod & Stone, 2005); 4. QuantitativeChecklist for Autism in Toddlers (Q-CHAT; Allison, Baron-Cohen, Wheelwright, Charman, Richler & cols., 2008); 5. Childhood Autism Spectrum Test1 (CAST; Scott, Baron-Cohen, Bolton & Brayne, 2002); 6. First Year Inventory (FYI; Watson, Baranek, Crais, Reznick, Dykstra & Perryman, 2007; Reznick, Baranek, Reavis, Watson & Crais, 2007); 7. Autism Spectrum Quotient: Children’s Version (AQ-Child; Auyeung, Baron-Cohen, Wheelwright & Allison, 2008); 8. Autism Spectrum Screening Questionnaire (ASSQ; Ehlers & Gillberg, 1993, citados por Ehlers, Gillberg & Wing, 1999; Posserud, Lundervold & Gillberg, 2006); 9. Developmental Behavior Checklist-Autism School Algorithm (DBC-ASA; Einfeld & Tonge, 1992, 1995, citados por Brereton, Tonge, Mackinnon & Einfeld, 2002); 10. Developmental Behavior Checklist - Early Screen (DBC-ES; Gray & Tonge, 2005, citados por Gray, Tonge, Sweeney & Einfeld, 2008); 1 O instrumento CAST original foi denominado de Childhood Asperger Syndrome Test, contudo como o instrumento contemplava o espectro do autismo e não somente a Síndrome de Asperger, o autor decidiu modificar o nome para Childhood Autism Spectrum Test (Baron-Cohen, Scott, Allison, Williams, Bolton & cols., 2009). 34 11. Early Screening of Autistic Traits (ESAT; Dietz, Swinkels, Daalen, Engeland & Buitelaar, 2006). Nível 2 (diferencia Transtorno Autista de outros transtornos) 1. Autism Behavior Checklist (ABC; Krug, Arick & Almond, 1980a, 1980b, citados por Coonrod & Stone, 2005); 2. Autism Screening Questionnaire/Social Communication Questionnaire (ASQ/SCQ; Berument, Rutter, Lord, Pickles & Bailey, 1999); 3. Childhood Autism Rating Scale (CARS; Schopler, Reichler, DeVellis & Daly, 1980, citados por Coonrod & Stone, 2005); 4. Gilliam Autism Rating Scale (GARS; Gilliam, 1995, citado por Coonrod & Stone, 2005); 5. Pervasive Developmental Disorders Screening Test – Stage 2 (PDDST-Stage 2; Siegel, 1996, 1998; Siegel & Hayer, 1999, citados por Coonrod & Stone, 2005); 6. Screening for Autism in 2-Year-Olds (STAT; Stone, Coonrod & Ousley, 2000; Stone, Coonrod, Turner & Pozdol, 2004); 7. Social Responsiveness Scale (SRS; Constantino & Gruber, 2005, citados por Bolte, Poustka & Constantino, 2008). 3.3 Características Psicométricas dos Instrumentos para Triagem de Transtorno Autista de Nível 1 Foram identificados 11 instrumentos para triagem de crianças com Transtorno Autista de nível 1. Suas características psicométricas são apresentadas a seguir. 35 1. Pervasive Developmental Disorders Screening Test – Stage 1 – PDDST- Stage 1 É um questionário voltado a pais para triagem de crianças com Transtorno Autista abaixo de seis anos. É composto por itens que avaliam as áreas de comunicação não verbal, linguagem, temperamento, brincadeiras e interação social (Siegel, 1996, 1998; Siegel & Hayer, 1999, citados por Coonrod & Stone, 2005). O PDDST – Stage 1 foi criado para ser usado em atendimentos primários à crianças que precisam certificar-se que estão dentro dos Transtornos Globais do Desenvolvimento (Siegel, 1996, 1998; Siegel & Hayer, 1999, citados por Coonrod & Stone, 2005). Para desenvolver o ponto de corte, 197 crianças típicas que nasceram com peso muito abaixo do normal foram comparadas com 380 crianças diagnosticadas com Transtorno Autista e outras desordens. Usando três ou mais itens como ponto de corte, a sensitividade e especificidade ficaram em 0,85 e 0,71 respectivamente (Siegel, 1996, 1998; Siegel & Hayer, 1999, citados por Coonrod & Stone, 2005). As propriedades psicométricas do PDDST- Stage 1 ainda não foram avaliadas em uma amostra da população geral (Siegel, 1996, 1998; Siegel & Hayer, 1999, citados por Coonrod & Stone, 2005). 2. Checklist for Autism in Toddlers – CHAT O CHAT2 é uma escala construída com o objetivo de identificar aos 18 meses se uma criança apresenta risco de ter Transtorno Autista (Baroh-Cohen & cols., 2000). A idade de 18 meses foi escolhida para o CHAT em função de crianças típicas nessa idade apresentarem certas habilidades tais como atenção compartilhada e brincadeiras de faz de conta e crianças com Transtorno Autista deixarem de apresentar as mesmas habilidades (Baroh-Cohen & cols., 2000). 2 O CHAT é um instrumento livre de direitos autorais. 36 O CHAT é um instrumento composto por 14 itens em escala dicotômica do tipo sim/não dividido em duas seções. A seção A possui nove itens e deve ser preenchida pelo responsável da criança e a seção B com cinco itens deve ser preenchida por profissional de saúde. O instrumento dura de cinco a 10 minutos para ser respondido (Baroh-Cohen & cols., 2000). O CHAT abrange habilidades como interação social; comunicação; atenção compartilhada e brincadeira de faz de conta (Baroh-Cohen & cols., 2000). Segundo Baroh-Cohen e cols. (2000), o CHAT foi aplicado pela primeira vez em dois grupos. O primeiro grupo de 50 crianças típicas randomicamente escolhidas com 18 meses de idade e o segundo grupo composto por 41 crianças com alto risco de apresentarem o transtorno por serem irmãos de crianças com Transtorno Autista. Segundo estudo da Universidade da Califórnia, irmãos de crianças com o transtorno possuem 19% de chance de também possuí-lo, ao contrário do risco de três a 10% sugerido pelo CID-10 (OMS, 1993; Ozonoff & cols., 2011). Os resultados sugeriram que do primeiro grupo nenhuma das crianças apresentaram suspeita de Transtorno Autista e no segundo grupo quatro crianças apresentaram suspeita de ter o transtorno por falharem em cinco questões chave do instrumento (Baron-Cohen & cols., 2000). Após um ano, todas as crianças foram reavaliadas. Nenhuma das crianças do primeiro grupo apresentou suspeita e as quatro crianças do segundo grupo que anteriormente havia apresentado suspeita foram diagnosticadas com Transtorno Autista (Baron-Cohen & cols., 2000). Para determinar a utilidade do CHAT na população, o instrumento foi aplicado durante um ano em mais de 16 mil crianças com 18 meses de idade por meio de profissionais da saúde e pais (Baird & cols., 2000). 37 De 16.235 crianças, 38 foram identificadas como sendo de alto risco e 369 como sendo de médio risco. Um mês depois as 38 crianças com alto risco foram reavaliadas por um psicólogo e 12 continuaram sendo do grupo de alto risco. Em função de falta de recursos, apenas metade do grupo de médio risco pode ser reavaliado. A reavaliação indicou que 22 crianças continuaram no grupo de médio risco, apesar de duas delas terem desistido da pesquisa. Randomicamente foram chamadas 16 crianças do grupo de baixo risco para serem reavaliadas e todas continuaram no grupo de baixo risco (Baird & cols., 2000). Desta forma, 12 crianças com alto risco, 20 com médio risco e 16 com baixo risco de ter Transtorno Autista foram avaliadas dos 20 meses de idade até 42 meses. Aos 42 meses de idade, 10 das 12 crianças com alto risco foram diagnosticadas dentro dos Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGDs), a 11ª criança era clinicamente típica e a 12ª apresentou atraso na linguagem. No grupo de médio risco, oito crianças foram diagnosticadas dentro dos TGDs e duas com dificuldade de aprendizagem e de linguagem. No grupo de baixo risco apenas uma criança apresentou atraso na linguagem, as outras foram consideradas típicas (Baird & cols., 2000). Para o grupo de alto risco o instrumento apresentou sensitividade de 18%, especificidade de 100%, valor preditivo positivo de 75% e valor preditivo negativo de 99,7%. Quando o grupo de alto risco e médio risco foi agrupado o CHAT passou a apresentar sensitividade de 21,3%, especificidade de 99,9% e valor preditivo positivo de 58,8% (Baird & cols., 2000). Algumas hipóteses foram levantadas para explicar o baixo escore de valor preditivopositivo. Primeiro, os pais podem ter superestimado as capacidades das crianças e a equipe de profissionais não avaliou de perto suas habilidades. Segundo, a criança pode ter apresentado o comportamento estudado, porém com uma frequência reduzida, não caracterizando como tendo Transtorno Autista, mas também não considerando que houve pouca manifestação do 38 comportamento. E terceiro, a criança pode ter apresentado sinais do transtorno apenas após a idade avaliada (Baird & cols., 2000). Por fim, algumas limitações do CHAT. O instrumento só pode ser aplicado na idade de 18 meses para cima, pois idades menores aumentam o risco de falso positivo. Sugere-se em caso de resultado positivo reaplicar o instrumento após um mês. O instrumento não realiza diagnóstico, apenas avalia a suspeita de Transtorno Autista (Baird & cols., 2000). 3. Quantitative Checklist for Autism in Toddlers (Q-CHAT) O Q-CHAT (Allison & cols., 2008) é um instrumento oriundo do melhoramento das características psicométricas do CHAT (Baroh-Cohen & cols., 2000; Baird & cols., 2000). Como o CHAT era composto por itens dicotômicos, essa característica poderia prejudicar a interpretação dos respondentes e consequentemente diminuir a sensitividade do instrumento. Para tanto, criou-se uma versão quantitativa do CHAT no qual os respondentes avaliariam a freqüência dos comportamentos da criança dentre uma escala de zero a quatro. O Q-CHAT possui 25 itens com escore máximo de 100 pontos e, assim como o CHAT, foi enviado para pais de crianças na faixa de idade entre 18 e 24 meses (Allison & cols., 2008). O instrumento, segundo Allison & cols. (2008), foi aplicado em duas amostras: grupo randômico e com diagnóstico de Transtorno Autista. Após a exclusão de casos omissos, o grupo randômico totalizou 754 crianças (idades entre 17 e 26 meses) e o grupo com diagnóstico de Transtorno Autista totalizou 160 crianças (idades entre 19 e 63 meses). O escore médio do grupo randômico foi de 26,7 (DP = 7,8, amplitude de 7 a 57) e a consistência interna obteve alfa de Cronbach de 0,67. Já o escore médio do grupo de Transtorno Autista foi de 51,8 (DP = 14,3, amplitude de 21 a 88) apresentando alfa de 0,83 (consistência interna). 39 Foi realizado um reteste 38 dias após a primeira aplicação com 330 crianças do grupo randômico. Os resultados não indicaram diferença significativa (Whitney U test, p = 0,92; Allison & cols., 2008). Os resultados do estudo preliminar com o Q-CHAT foram promissores, contudo o estudo apresentou limitações. Primeiramente, não houve verificação independente atestando o diagnóstico de Transtorno Autista da amostra e nenhuma medição do QI das amostras foi realizada. Em segundo lugar, a faixa de idade da amostra coletada foi relativamente acima da faixa de idade proposta pelo instrumento original. E em terceiro lugar, a amostra da população geral demonstrou pouca variação. Este estudo ainda precisa ser normatizado para a população geral (Allison & cols., 2008). 4. Childhood Autism Spectrum Test (CAST) O instrumento CAST originalmente chamado de Childhood Asperger Syndrome Test (Scott & cols., 2002) foi construído com base nos protocolos diagnósticos do CID-10 e DSM-IV-TR e nos instrumentos PDD-Q (Baird & cols., 2000) e ASSQ (Ehlers, Gillberg & Wing, 1999). O CAST possui 37 itens, sendo 31 itens chave que contribuem para o cálculo do escore e seis itens controle que não são calculados. Ele foi construído com a finalidade de triar crianças com Transtorno de Asperger e com dificuldades sociais, de comunicação e comportamentos repetitivos e estereotipados em crianças de quatro a 11 anos de idade no Reino Unido (Scott & cols., 2002). Participaram do estudo 13 crianças diagnosticadas com Transtorno de Asperger ou Transtorno Autista com idades entre três e nove anos e 37 crianças típicas entre seis e nove anos de idade (Scott & cols., 2002). Depois de aplicado o instrumento em ambas as amostras, verificou-se que o escore do grupo diagnosticado apresentou média de 21,08 (DP = 5,51) e o escore do grupo controle 40 apresentou média de 4,73 (DP = 3,57). A ANOVA sugeriu diferença significativa entre os resultados (F (1,48) = 150,13, p < 0,0001; Scott & cols., 2002). Esse estudo preliminar sugeriu um ponto de corte de 15, que demonstrou discriminar crianças com Transtornos de Asperger e Autista de Alto Funcionamento (Scott & cols., 2002). O estudo principal com o CAST (Scott & cols., 2002) foi realizado com 139 crianças entre 4 e 11 anos de idade. Todas as crianças foram submetidas ao CAST e SCQ (Berument & cols., 1999). O valor preditivo positivo do CAST para o Transtorno de Asperger e déficit relacionado à comunicação social foi de 0,82 com especificidade de 0,99. Observando apenas as crianças com Transtorno de Asperger ou o Transtorno Autista, o CAST identificou corretamente 87,5% da amostra (Scott & cols., 2002). O valor preditivo positivo para o Transtorno de Asperger e crianças dentro dos TGDs foi de 0,64 com especificidade de 0,98. Esses resultados preliminares sugerem que o CAST apresenta indícios de validade ao ser usado como ferramenta de triagem precoce de crianças com risco de apresentar Transtorno de Asperger e condições relacionadas, contudo um maior desenvolvimento do instrumento é necessário (Scott & cols., 2002). 5. First Year Inventory (FYI) O First Year Inventory (Watson & cols., 2007) é um questionário com 63 itens agrupados em oito fatores (orientação social e comunicação receptiva, engajamento social afetivo, imitação, comunicação expressiva, processamento sensorial, padrões regulatórios, reatividade e comportamento repetitivo) para ser preenchido por pais. Foi desenvolvido para avaliar comportamentos de crianças com 12 meses de idade com o objetivo de indicar a existência de risco de Transtorno Autista. 41 Para o estudo de validação do FYI foi elaborada uma versão com tempo verbal do instrumento no passado para ser submetida aos pais com crianças acima da idade de 12 meses (Watson & cols., 2007). A amostra do estudo foi composta por três grupos: 38 com diagnóstico de Transtorno Autista, 15 com dificuldade no desenvolvimento, mas sem o transtorno e 40 crianças com desenvolvimento típico. O recrutamento dos participantes ocorreu por convite presencial, questionário enviado pelo correio e enviado por email (Watson & cols., 2007). A idade das crianças do estudo variou entre 14 e 75 meses. Para o estudo foram utilizados 10 instrumentos relativos à triagem, diagnóstico e avaliação de crianças com Transtorno Autista e dificuldades de desenvolvimento (Watson & cols., 2007). Usando um escore de 15 pontos como ponto de corte, verificou-se sensitividade de 0,92, especificidade de 0,78, valor preditivo positivo (VPP) de 0,74 e valor preditivo negativo (VPN) de 0,93. Se o ponto de corte aumentasse para 22, a sensitividade mudaria para 0,71, especificidade para 0,89, VPP para 0,82 e VPN para 0,82 (Watson & cols., 2007). Esse estudo contribuiu para o desenvolvimento de um instrumento para triagem de crianças com risco de ter Transtorno Autista na população geral, contudo apresenta considerações para o seu aperfeiçoamento (Watson & cols., 2007). O instrumento precisa facilitar a sua aplicação para os pais, visto que apesar do instrumento avaliar alguns sintomas do transtorno, alguns pais apesar do sintoma estar presente na criança, não conseguiram identificá-lo. Além disso, a amostra do instrumento foi relativamente pequena, especialmente quanto ao número de crianças com dificuldades no desenvolvimento sem Transtorno Autista (Watson & cols., 2007). Por último, mais da metade da amostra participou da pesquisa preenchendo o questionário por escrito. Este procedimento pode prejudicar a avaliação no sentido de que grande parte das avaliações depende de observação direta do avaliador (Watson & cols., 2007).42 6. Autism Spectrum Quotient: Children’s Version (AQ-Child) O AQ-Child (Auyeung & cols., 2008) é um questionário de 50 itens com escala de quatro pontos para ser respondido por pais e tem o objetivo de quantificar traços de Transtorno Autista entre crianças de quatro a 11 anos de idade. Ele foi adaptado da versão para adultos e adolescentes (AQ-Adult e AQ-Adol) e compreende cinco áreas: habilidades sociais, atenção compartilhada, atenção para detalhes, comunicação e imaginação (Auyeung & cols., 2008). O AQ-Child foi aplicado em um grupo controle sem o transtorno e outras comorbidades de 1.225 crianças com idades entre quatro e nove anos e em um grupo de criança com Transtorno Autista e outras comorbidades com 348 casos com média de idades de nove anos (Auyeung & cols., 2008). A consistência interna apresentou alfa de Cronbach de 0,97. O teste-reteste com 500 crianças randomicamente selecionadas apresentou correlação de 0,85 (p < 0,0001). O ponto de corte de 76 apresentou sensitividade de 0,95 e especificidade de 0,95 (Auyeung & cols., 2008). Considera-se no estudo feito por Auyeung e colaboradores (2008) que o AQ-Child deveria ser comparado com o CAST para verificar índices de sensitividade e especificidade. A utilização da escala likert foi considerada positiva. A utilização de escalas de sim/não propiciam o surgimento de dados omissos como relatado por Eaves, Wingert e Ho (2006). 7. Autism Spectrum Screening Questionnaire (ASSQ) O ASSQ (Ehlers & Gillberg, 1993, citados por Ehlers, Gillberg & Wing, 1999) é um instrumento composto por 27 itens em uma escala de três pontos (0 a 2) para identificação de sintomas de Transtorno de Asperger e Transtorno Autista de Alta Funcionalidade. Onze itens são relativos à interação social, seis cobrem problemas de comunicação e cinco referem-se a comportamentos restritos e repetitivos. O restante dos itens compreende 43 problemas motores e sintomas associados (Ehlers & Gillberg, 1993, citados por Ehlers, Gillberg & Wing, 1999). O questionário foi projetado para ser respondido por pais leigos de crianças entre a faixa de idade de sete a 16 anos. É uma escala para rastreamento ou avaliação e não deve ser usada para diagnóstico (Ehlers & Gillberg, 1993, citados por Ehlers, Gillberg & Wing, 1999). O ASSQ foi aplicado em 110 pais de indivíduos entre seis e 17 anos com variados tipos de transtornos do comportamento identificados por volta dos oito meses de idade, e em 107 professores das respectivas crianças. Todas as crianças foram avaliadas para certificação do diagnóstico por psiquiatra e psicólogo especializados em atendimento infantil (Ehlers & Gillberg, 1993, citados por Ehlers, Gillberg & Wing, 1999). Foram avaliados os escores de QI de todas as crianças e os pais foram entrevistados sobre detalhes médicos, desenvolvimento inicial e sintomas psiquiátricos de cada criança e responderam a mais dois testes para a validade divergente (Teste de Rutter e Teste de Conner; Ehlers & Gillberg, 1993, citados por Ehlers, Gillberg & Wing, 1999). A aplicação do ASSQ foi feita em todos os pais (n = 110) das crianças e com a autorização dos pais, os professores (n = 107) das crianças também foram convidados a responder ao ASSQ. Depois de duas semanas o teste foi reaplicado em todos (Ehlers & Gillberg, 1993, citados por Ehlers, Gillberg & Wing, 1999). A análise de teste-reteste sugeriu correlação de 0,96 (n = 86, p < 0,0001) para o escore total da amostra. A comparação da média de teste-reteste dos pais e professores não apresentou diferença significativa (Ehlers & Gillberg, 1993, citados por Ehlers, Gillberg & Wing, 1999). A confiabilidade intra avaliadores foi de 0,66 (n = 105, p < 0,0001). A validade divergente sugeriu correlação de 0,75 (n = 107, p < 0,0001) entre ASSQ e Teste de Rutter e de 0,58 (n = 107, p < 0,0001) entre ASSQ e Teste de Conner. A validade concorrente 44 demonstrou que apenas o ASSQ discriminou o Transtorno Autista de outros transtornos do desenvolvimento (Ehlers, Gillberg, & Wing, 1999). Estipulando um critério de corte de sete pontos, a amostra de pais apresentou sensitividade de 0,95 e especificidade de 0,44. Na amostra de professores com ponto de corte de nove pontos, verificou-se a sensitividade de 0,95 e especificidade de 0,45 (Ehlers & Gillberg, 1993, citados por Ehlers, Gillberg & Wing, 1999). Por fim, o ASSQ apresentou validade para ser aplicado por pais e professores para a triagem de criança com Transtorno de Asperger e Transtorno Autista de Alto Funcionamento. Os resultados indicaram que o instrumento não distingue Transtorno de Asperger de Transtorno Autista de Alto Funcionamento. O instrumento em futuras validações deve ser aplicado em amostras maiores de crianças dentro dos Transtornos Globais do Desenvolvimento (Ehlers & Gillberg, 1993, citados por Ehlers, Gillberg & Wing, 1999). 8. Developmental Behavior Checklist-Autism School Algorithm (DBC-ASA) O DBC (Einfeld & Tonge, 1992, 1995, citados por Brereton & cols., 2002) é um instrumento de 96 itens, adaptado para pais, utilizado quando se verifica queixa de problemas com emoções e comportamento acima do período de seis meses de idade. Há três níveis de mensuração no DBC, um escore total de problemas de comportamento, um escore derivado de seis subescalas (perturbação, auto-absorvido, comunicação, ansiedade, relativo ao social e antissocial) e um escore referente à escala dos itens que varia de zero a dois (Einfeld & Tonge, 1992, 1995, citados por Brereton & cols., 2002). A escala total de problemas de comportamento apresentou no teste-reteste correlação de 0,83 e consistência interna com alfa de 0,94 (Einfeld & Tonge, 1992, 1995, citados por Brereton & cols., 2002). 45 O DBC foi aplicado em uma amostra de 360 sujeitos. Uma regressão logística univariada foi calculada sugerindo que 54 itens eram significativamente associados ao Transtorno Autista. Em seguida foi realizada uma análise fatorial confirmatória tendo como produto a geração de um Algarismo para Triagem de Autismo (DBC-ASA em inglês) composto por 26 itens com carga fatorial acima de 0,70 e três itens iguais ou maiores que 0,62 (Einfeld & Tonge, 1992, 1995, citados por Brereton & cols., 2002). Estabelecendo ponto de corte de 17, o DBC-ASA apresenta sensitividade de 0,86 e especificidade de 0,69 para a amostra de Transtorno Autista (Einfeld & Tonge, 1992, 1995, citados por Brereton & cols., 2002). O DBC-ASA possui limitações. O grupo de Transtorno Autista e grupo controle foram obtidos em épocas diferentes. O grupo de Transtorno Autista foi obtido de uma amostra clínica ao invés de ser obtido em um grupo de risco da população geral. A aplicação do instrumento em amostras variadas da população e em amostras maiores é necessária (Einfeld & Tonge, 1992, 1995, citados por Brereton & cols., 2002). O DBC-ASA não pode ser utilizado como instrumento diagnóstico. Deve ser utilizado apenas como instrumento facilitador em locais onde há falta de atendimento nessa área (Einfeld & Tonge, 1992, 1995, citados por Brereton & cols., 2002). 9. Developmental Behavior Checklist - Early Screen (DBC-ES) O DBC-ES (Gray & Tonge, 2005, citados por Gray & cols., 2008) consiste em um instrumento com 17 itens em escala de zero a dois utilizado para triagem de crianças entre 18 e 48 meses de idade com Transtorno Autista e dificuldades de desenvolvimento. O DBC-ES apresenta ponto de corte igual ou acima de 11 pontos. Um total de 207 crianças participou do estudo. Das 207 crianças, 119 receberam diagnóstico de Transtorno Autista, 23 de Transtorno Global do Desenvolvimento Sem Outra 46 Especificação e 65 receberam diagnóstico referente a atraso no desenvolvimento da linguagem receptiva e ou expressiva (Gray & Tonge, 2005, citado por Gray & cols., 2008). A consistência interna do instrumento apresentou alfa de 0,87. O grupo