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A EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA E O DESENVOLVIMENTO MOTOR

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A EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA E O DESENVOLVIMENTO MOT OR 
 
 Simone de Miranda_PUCPR 
simone.miranda@pucpr 
Carlos Alberto Afonso_PUCPR 
carlosfonso@pucpr.br 
 
 
RESUMO 
 
 
Com o propósito de estabelecer o caráter educativo e apresentar a participação efetiva da Educação 
Física no processo da escolarização do educando, tem-se vinculado à Educação Física a objetivos e 
conhecimentos nem sempre da área, por conseqüência evidenciam-se a dificuldade na organização e 
sistematização de conhecimentos que compõem uma aula de Educação Física. Na visão científica, esse 
pouco conhecimento contribui para que a mesma não seja considerada um componente curricular, 
observa-se na escola a preocupação muitas vezes em apenas ensinar os movimentos, passar pelas 
atividades e praticar exercícios, evidenciando a tendência do “fazer pelo fazer”. Embora, tem-se que o 
movimento executado possa ter um significado em si mesmo, considerar-se-á de pouco valor educativo 
se não houver possibilidade de ser utilizado pelo aluno fora do ambiente escolar, para solucionar 
problemas motores surgidos na sua vida. Com a finalidade de se elaborar o conhecimento escolarizado 
da Educação Física, este poderá ser compreendido como um conjunto de conhecimentos sobre o 
movimento humano, compostos por conceitos, habilidades, valores, atitudes, normas e princípios, que 
se aprende, compreende e aplica, em todos os momentos que houver a intenção do seu emprego. Esse 
conjunto de conhecimentos ao ser socializado na escola, oportunizará a otimização das possibilidades e 
potencialidades para a movimentação genérica ou específica. O conhecimento ao ser disseminado 
necessita estar organizado e adequado à realidade, considerando-se as características sociais, culturais e 
do nível de desenvolvimento biológico dos alunos, quando sistematizada ultrapassa o saber fazer. 
Precisa estar constituída por conhecimentos para que efetivamente ocorra a aprendizagem, o aluno ao 
ter participado de um programa de Educação Física deverá ter conhecimentos suficientes para saber 
como e por que utilizar-se de determinado movimento em diferentes situações. Os conceitos que 
podem ser aprendidos na escola devem fundamentar a realização dos movimentos indispensáveis ao 
homem seja na escola ou fora dela. 
 
PALAVRAS-CHAVE: educação física, saberes, ensino. 
 
 
 
 
 920 
A Educação Física 
 Com o propósito de estabelecer o caráter educativo e apresentar a participação efetiva da 
Educação Física no processo da escolarização do educando, tem-se vinculado à Educação Física a 
objetivos e conhecimentos nem sempre específicos da área, por conseqüência evidenciam-se a 
dificuldade na organização e sistematização do bloco de conhecimentos que compõem uma aula de 
Educação Física. Na visão científica, esse pouco conhecimento impede que a mesma seja considerada 
como um componente curricular. Observa-se que a Educação Física na escola, preocupa-se muitas 
vezes em apenas ensinar os movimentos, passar pelas atividades e praticar exercícios, evidenciando a 
tendência do “fazer pelo fazer”. 
Embora, tem-se que o movimento executado possa ter um significado em si mesmo, 
considerar-se-á de pouco valor educativo se não houver possibilidade de ser utilizado pelo aluno fora 
do ambiente escolar, para solucionar problemas motores surgidos durante a sua vida. Com a finalidade 
de se elaborar o conhecimento escolarizado da Educação Física, este pode ser compreendido como um 
conjunto de conhecimentos sobre o movimento humano, compostos por conceitos, habilidades, valores, 
atitudes, normas e princípios, que se aprende, compreende e aplica, em todos os momentos em que 
houver a intenção do seu emprego. Esse conjunto de conhecimentos ao ser socializado pela Educação 
Física escolar, oportunizará a otimização das possibilidades e potencialidades para a movimentação 
genérica ou específica. 
O conhecimento sobre o movimento humano ao ser disseminado na escola necessita estar 
organizado e adequado à realidade no qual está inserido, considerando-se as características sociais, 
culturais e do nível de desenvolvimento biológico dos alunos. A escolarização da Educação Física ao 
ser sistematizado ultrapassa o saber fazer, precisará estar constituído por conhecimentos teóricos e 
práticos para que efetivamente ocorra à aprendizagem, este conhecimento poderá acontecer através de 
quatro tipos de aprendizagens: aprendizagem do movimento, aprendizagem para o movimento, 
aprendizagem sobre o movimento e a aprendizagem através do movimento. Ressalta-se, porém, que a 
prioridade dada a uma determinada aprendizagem, não exclui nem ignora as demais, o aluno ao ter 
participado de um programa de Educação Física escolar deverá ter conhecimentos suficientes para 
saber como e por que utilizar-se de determinado movimento em diferentes situações. Os conceitos que 
podem ser aprendidos na escola, nas aulas de Educação Física devem fundamentar a realização dos 
movimentos indispensáveis ao homem seja na escola ou fora dela. 
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A Educação Física ainda não conquistou espaço estável e inquestionável no sistema de ensino, 
e neste momento de mudanças pelo qual atravessamos no ensino fundamental e médio, sabe-se que a 
importância ou mesmo a sua presença é questionada no conjunto de disciplinas que compõem o 
currículo escolar, apesar dos argumentos que conceitualmente a justificam no sistema de ensino ser 
amplamente discutidos na comunidade científica e profissional, ainda há por se aprofundar estas 
discussões. Alguns argumentos são apresentados, entre estes por ser considerada um meio privilegiado 
de transmissão às crianças e aos adolescentes dos benefícios da cultura corporal, assim como é o 
contexto ideal para a promoção de hábitos da prática da atividade física regular que permitem a 
elevação ou manutenção da aptidão física, numa perspectiva da saúde, e ainda integra atividades com 
valores para a educação moral e ética dos alunos. 
A razão legítima de uma área se estabelecer cientificamente e socialmente está na sua missão 
educativa, a disciplina de Educação Física inserida neste contexto é uma maneira específica da relação 
do sistema educativo com o corpo do aluno. 
Segundo, Freire (1994, p.41): 
 
..., uma Educação Física que exercesse o papel de falar com o cidadão comum, que atuasse 
para despertar a consciência da corporeidade nas pessoas, mudaria bastante a realidade. Uma 
criança, por exemplo, vai à escola para aprender um mundo de coisas: Matemática, Geografia, 
História, Ciências, mas nunca para aprender sobre motricidade, sobre sensibilidade. Para mim, 
matéria de escola deveria ser Educação Motora, ou Educação Corporal, onde se ensinasse a ser 
corpo, onde se ensinasse as crianças a serem mais sensíveis, onde se ensinasse a elas nunca 
esquecerem o corpo que são. 
 
O corpo constitui-se assim em oportunidade de educação e formação, isto é, a Educação Física 
distingue-se de outras áreas no que se refere à sua tarefa educativa primordial, pelo fato de possibilitar 
experiências apartir do corpo. Tem assim a responsabilidade por uma parte da missão educativa da 
escola, nomeadamente a de se ocupar preferencialmente da corporeidade do ser humano. Como refere 
BENTO (1999), continua a ser um argumento central a favor da presença da Educação Física no 
currículo escolar o fato de ser a única disciplina que visa preferencialmente a corporeidade, de ser 
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aquela onde o corpo se constitui com objeto de tratamento pedagógico, evitando que a escola se torne 
ainda mais intelectualizada e inimiga do corpo. 
A Educação Física ao ser identificada como um conhecimento, torna-se um conjunto de 
teorias, metodologias e práticas que devem servir a formação global do ser humano. Considerada, 
como uma prática educativa com características de ensino, não deve se limitar apenas aos princípios da 
técnica, da eficiência e da performance, poisvários estudos têm revelado que a Educação física, aos 
poucos, vêm rompendo com a pratica mecanicista e autoritária, que a norteou durante muito tempo, e 
tem buscado uma prática pedagógica que seja reconhecida e valorizada no âmbito educacional, para 
SANTIN “os exercícios chamados físicos não são simplesmente físicos, mas são chamados humanos” e 
fazem parte da vida das pessoas. De acordo com esta perspectiva, e Educação Física, enquanto 
conhecimento escolarizado tem direcionado seu olhar para os vários aspectos do movimento humano e 
da corporeidade, acreditando que os movimentos corporais além de expressarem sentimentos 
representam o elo entre o mundo exterior e interior, não reduzindo o corpo apenas a seu aspecto físico. 
Os movimentos estão presentes em todas as atividades humanas, e é pelo movimento que o ser humano 
interage com o meio ambiente e se relaciona com o outro. 
As atividades da escola não devem estar dissociadas das referências sociais da vida dos 
alunos, assim não devemos esquecer ao elegemos os conteúdos, que os nossos alunos estão emersos 
numa cultura e numa sociedade com determinadas características e valores. E, se a educação assume o 
papel de posicionar o homem nos cosmos, no seu tempo, nos seus problemas e necessidades BENTO 
(1999) a escola não pode perder de vista o referencial social das suas práticas, caso contrário corre o 
risco de ficar desconectada com a sociedade onde se insere. 
Os alunos precisam conhecer o real significado do movimento no ciclo da vida, e não 
apenas, reduzi-lo a um deslocamento no tempo e espaço, entendendo que ele contribui para uma 
crescente ordem do sistema. Propondo-se atividades, os docentes devem considerar que as atividades 
sejam desenvolvidas de forma coerente e em concordância com as características do desenvolvimento 
pessoal de cada aluno. Com esse entendimento os valores do movimento serão realmente incorporados. 
Tendo em vista o respeito às limitações e às características individuais dos alunos, o planejamento das 
atividades viabiliza uma proposição em ordem crescente, aonde as habilidades básicas são trabalhadas, 
no período da educação infantil até as primeiras séries do ensino fundamental, utilizando-se do ensino 
de movimentos adequados a essa faixa etária, pois, além do movimento ser um comportamento que 
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pode ser observado, também, é o resultado de um processo interno da pessoa, que acontece no nível do 
sistema nervoso. De maneira geral, essas habilidades básicas, adquiridas nesse período, facilitariam a 
aprendizagem futura das habilidades complexas ou específicas. 
Em algumas instituições de ensino, a Educação Física permanece com a dita aula livre para 
o aluno e para o professor, ou em outros casos, escolas que reforçam o estigma da prática da ginástica 
forçada, do recreio prolongado, do momento apenas recreativo, ou ainda um passatempo, como se não 
existisse uma proposta educativa da Educação Física na escola. Esse quadro de descaso deixará de 
existir quando o professor enxergar o seu aluno como ser “uno”, presente de corpo e alma. As tarefas 
elencadas que pretendam promover a aprendizagem realmente significativa para o aluno devem levá-lo 
a uma atitude consciente e relacionada com a sua própria realidade, de modo a se incorporar ao 
conjunto de seus conhecimentos. 
A condução das aulas não deve acontecer somente em função daquilo que o professor 
acredita ser importante, mas sim, a partir da necessidade do educando, criando situações que abram 
possibilidades de (integrar) os objetivos do próprio aluno, e dessa forma buscar, a promoção de uma 
autêntica mudança de comportamento. 
Há de se considerar o respeito às características e limitações individuais, compreendendo 
que cada pessoa possui características próprias e que devem ser respeitadas, por exemplo: as diferenças 
no seu desenvolvimento motor. O professor que assume o papel de facilitador da aprendizagem utiliza-
se da não-diretividade e torna-se responsável por valorizar cada educando e respeitar cada uma das suas 
limitações. Assim, a relação professor-aluno assume o caráter de uma postura humanista, pois a relação 
é de pessoa a pessoa. 
A Educação Física inserida na escola encontra-se numa situação privilegiada pelas 
características das atividades que promove, proporcionando ao aluno explorar o seu corpo através da 
diversidade de movimentos que pode vivenciar, do contato corporal com os outros, oportunizando a ele 
que aprenda sobre si mesmo, sobre o mundo e possa fazer uso da corporeidade. Ao contribuir na 
formação do conhecimento corporal do educando, estará ajudando-o a se conhecer, a buscar a sua 
autonomia pessoal, complementando o processo de educação geral por meio de atividade física. 
É preciso enfim levar o aluno a descobrir os motivos para praticar uma atividade física, 
favorecer o desenvolvimento de atitudes positivas para com a atividade física, levar a aprendizagem de 
comportamentos adequados na pratica e de uma atividade física, levar ao conhecimento, compreensão e 
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análise do seu intelecto de todas as informações relacionadas às conquistas materiais e espirituais da 
cultura física, dirigir sua vontade e sua emoção para a prática e apreciação do corpo em movimento. 
BETTI (1991). 
A principal preocupação da Educação Física é estruturar a pessoa, educar para desenvolver o 
potencial de movimento. Esse é um conteúdo específico da disciplina, que acaba por permear todas das 
demais matérias e permanece para a vida dos alunos. Para alcançar esse objetivo, é preciso ter 
consciência do próprio corpo, estar em sintonia com ação, usufruindo e tirando o melhor do 
movimento. 
“Eu só posso compreender a função do corpo vivo realizando eu mesmo e na medida em que 
sou um corpo que se levanta em direção ao mundo”. MERLEAU-PONTY (1945, p.90) 
 
1. Desenvolvimento Motor e o Crescimento Físico 
 O Desenvolvimento motor (DM) é visto sob duas perspectivas, a maturacional, proposta por 
GESSEL (1929), onde o DM é um resultado de um mecanismo biológico, endógeno (interno) e 
regulatório, e a da influência do meio ambiente, onde a interação com o meio é de fundamental 
importância no DM, enfatizando as experiências adquiridas durante a vida e seus efeitos no DM da 
pessoa. O estudo do DM abrange áreas da fisiologia do exercício, biomecânica, aprendizagem e 
controle motor e psicologia desenvolvimentista. Para compreendermos um pouco mais sobre esta área 
de conhecimento, é importante discutirmos algumas definições e terminologias: 
CRESCIMENTO: é caracterizado pelo aumento no tamanho do corpo ou partes do corpo da pessoa 
durante o período maturacional (multiplicação = hiperplasia ou o aumento do tamanho da célula = 
hipertrofia). 
DESENVOLVIMENTO: são mudanças nos níveis de funcionamento da pessoa em decorrência da 
passagem dos anos. É um processo contínuo, que começa na concepção e termina com a morte, 
estudando-se o movimento durante a infância, adolescência e vida adulta, como um processo de toda a 
vida. Por exemplo, a criança que possui pouca base de suporte no andar e o adulto, que com o passar 
dos anos, tem uma redução da flexibilidade nas articulações devido as artrites, reumatismo, e outros 
problemas de saúde. 
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DESENVOLVIMENTO MOTOR: mudanças progressivas no comportamento motor durante o ciclo 
da vida em conseqüência de interações entre os requerimentos da tarefa, individualidade biológica e 
condições do meio ambiente. 
APRENDIZAGEM MOTRA: é definida como uma mudança interna da pessoa, decorrente de uma 
melhoria relativamente permanente em seu desempenho motor, como resultado da prática e das 
experiências. 
CAPACIDADE: pode ser definida como sendo as características funcionais essências na execução de 
uma habilidade e que possua traços genéticos. Estas características são estáveis e permanentes, sendo 
incorporadas em muitas habilidades motoras (TANI et. All. 1988). Por exemplo: a força, a velocidade,a flexibilidade e a resistência. 
HABILIDADE: consiste na capacidade adquirida de atingir um resultado final com um máximo de 
certeza e um mínimo dispêndio, ou de tempo e energia (CUTHRIE, 1952). Ou seja, a habilidade é 
desenvolvida com a prática, podendo ser modificável através de um número indeterminado de 
tentativas, variável conforme a atividade realizada. 
HABILIDADES DESPORTIVAS: são os refinamentos ou a combinação de padrões motores 
fundamentais e/ou habilidades motoras para realizar uma atividade desportiva. 
 O processo de desenvolvimento, incluindo o desenvolvimento motor, nos lembrará 
constantemente das características do aprendiz (individualidade), ou seja: 1) cada indivíduo possui um 
período específico e único (relógio biológico) para a aquisição e desenvolvimento das habilidades 
motoras; 2) para a aquisição de uma seqüência de movimentos, a taxa e a extensão do desenvolvimento 
são determinadas individualmente e influenciada pelas demandas do desempenho da tarefa; 3) períodos 
de desenvolvimento cronológicos são típicos, nada mais! Representando tempos aproximados em que 
os comportamentos podem ocorrer. Não podemos confiar plenamente nestes dados. Conforme 
THOMAS, LEE & THOMAS (1988) “o desenvolvimento relaciona-se com a idade, mas não depende 
dela”. 
2. AS FASES DA AQUISIÇÃO DAS HABILIDADES MOTORAS 
 De acordo com GALLAHUE & OZMUN (2003), o desenvolvimento motor ocorre em 4 fases: 
2.1) Fase dos Movimentos Reflexos (Motora reflexiva): 
Esta fase está caracterizada pelos movimentos reflexos, involuntários, controlados subcorticalmente e 
estes formam a base do DM, e segundo MALINA & BOUCHARD (1991), as respostas motoras do 
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bebê são uma extensão daquelas estabelecidas durante a vida fetal. Por meio dessas atividades reflexas 
o mesmo ganha informações acerca do meio ambiente imediato, e são classificados em reflexos 
primitivos e posturais e também servem como meios para testes neuromotores para os mecanismos 
estabilizadores, locomotores e manipulativos que serão usados mais tarde com controle consciente. Os 
reflexos associados com alimentação e aqueles associados com os olhos são bem desenvolvidos essa 
fase é subdividida em dois estágios: 
 
 
2.1.1 O Estágio de Codificação de Informações 
É caracterizado por atividades de movimentos involuntários observável no período fetal até o 
quarto mês do período pós-natal. Os centros cerebrais inferiores são mais desenvolvidos do que o 
córtex motor e estão no comando do movimento fetal e neonatal. Os reflexos servem como forma 
primária pelo qual o bebê é capaz de apanhar informações, nutrição e proteção por meio do movimento. 
Dessa forma a atividade motora do neonato não envolve atividade volitiva verdadeira, e os mesmos 
indicam a falta de inibição do aparelho segmentar do sistema nervoso. 
 
 
2.1.2 Estágio de Informação Decodificada 
Que inicia por volta de 4 meses, começa uma gradual inibição de muitos reflexos e dos centros 
cerebrais inferiores, que gradualmente são substituídos no controle sobre os movimentos involuntários 
e começam a aparecer os movimentos voluntários, isto é, intencionados, dirigidos pela área motora do 
córtex cerebral, desta forma, troca a atividade sensório motora pelo comportamento perceptivo-motor. 
Os reflexos não são perdidos. Eles são inibidos pelo centro cerebrais superiores ou são integrados nos 
padrões de movimentos. Em caso de patologias no SNC eles reaparecem, em casos de administração de 
algumas drogas, em estado de stress e principalmente com a idade, quando muitos dos reflexos são 
novamente mostrados. A ausência, demora de aparecimento ou desaparecimento, persistência, ou 
reaparecimento de certos reflexos pode ser indicativo de desordens neurológicas. 
 
2.2. Fase dos Movimentos Rudimentares 
 Os primeiros movimentos voluntários são os movimentos rudimentares, que são 
maturacionalmente determinados e possuem característica seqüências altamente previsível no seu 
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aparecimento. O ritmo é que varia, de criança para criança, e são dependentes de fatores biológicos, do 
meio-ambiente e da tarefa. Alguns desses movimentos são: equilíbrio, controle da cabeça, pescoço, 
músculos do tronco, alcançar, segurar, largar, gatinhar, caminhar. Esta fase é subdividida em: 
 
2.2.1. Estágio de Inibição dos Reflexos (nascimento até 1 ano) 
Muitos reflexos surgem e desaparecem, dando a vez para movimentos consciente. Os reflexos 
primitivos e posturais são trocados por movimentos voluntários mas, estes movimentos voluntários são 
pobres e diferenciados e integrados, pois ainda são incontroláveis e não são refinados. 
 
2.2.2. No Estágio do Pré-controle (de 1 até 2 anos) 
 Inicia um aumento no nível de precisão e controle de movimento. 
 
2.3. Fase dos Movimentos Fundamentais 
 Este é o tempo para descobrir como executar uma variedade de movimentos locomotores, não-
locomotores e manipulativos, de forma isolada e integrada, principalmente pela exploração e 
experimentação das capacidades motoras de seu corpo, nos movimentos estabilizadores, locomotores e 
manipulativos, isoladamente e depois os combinando. Existe um grande aumento na fluidez e controle 
dos movimentos. Os Padrões Fundamentais de Movimento (PFM) são considerados básicos para a 
aprendizagem das habilidades mais complexas que são as habilidades motoras desportivas, pois, cada 
habilidade motora desportiva, normalmente, envolve uma combinação de diferentes PFM. Os 
principais movimentos nesta fase são os andares, correr, saltar, arremessar, rebater, quicar e chutar. 
Esta fase subdivide-se em: 
 
2.3.1. O Estágio Inicial (de 2 á 3 anos) 
Representa a primeira tentativa da criança orientada para executar uma habilidade fundamental. 
Durante este estágio a integração espacial e temporal do movimento é pobre, marcado pelo uso restrito 
ou exagerado do corpo e com pobre fluxo rítmico e coordenação deficiente. 
 
2.3.2. O Estágio Elementar (de 4 á 5 anos) 
Envolve um maior controle e melhor coordenação rítmica dos PFM. Aprimora-se a 
sincronização dos elementos temporais e espaciais dos movimentos, mas, são ainda geralmente 
restringidos ou exagerados, embora melhor coordenados. Crianças normais de inteligência e 
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funcionamentos físicos tendem para avançar para o Estágio Elementar, primariamente, ao longo do 
processo de maturação, mas muitos falham em desenvolver neste estágio em muitos PFM e 
permanecem no mesmo para o resto de sua vida. 
 
2.3.3. O Estágio Maduro (de 6 à 7 anos) 
É caracterizado pela eficiência mecânica, coordenação e execuções controladas e as crianças 
tem um potencial para estar neste estágio, por volta de 5 a 6 anos, somente possuindo algumas 
restrições as atividade que envolvem acompanhamento e interceptação de objetos. Contudo como 
algumas crianças podem alcançar este estágio primariamente através da maturação e com um mínimo 
de influência ambiental, talvez devido a hereditariedade, a grande maioria requer uma ampla 
oportunidade para a prática, encorajamento para aprender e instrução, isto é, um bom nível de instrução 
por parte dos educadores ou dos pais. Para GALLAHUE & OZMUN (2003), a omissão em influir 
nestes fatores na vida da criança torna quase impossível a mesma alcançar o Estágio Maduro dentro 
dessa fase o que poderá inibir o desenvolvimento completo da próxima fase. Neste estágio, as 
performances se encontram bem controladas e coordenadas, possuindo uma grande eficiência 
mecânica. 
 
2.4. Fase dos Movimentos Especializados 
 Esta fase, relacionada à especialização ou esporte do DM, é uma fase em que os movimentos em 
vez de serem identificados com a aprendizagem, passam a ser uma ferramenta que pode ser aplicada a 
uma variedade de atividades motoras complexas presentes na vida diária, na recreação e nos objetivos 
desportivos. As habilidades são progressivamente refinadas, combinadas e elaboradas para uso em 
situações crescentementeexigentes. Os movimentos de saltar em um pé e pular, por exemplo, são agora 
aplicadas as atividades de pular corda, danças folclóricas e também para o salto triplo, como também, o 
lançar, passa a ser utilizado no caçador, Handebol, Atletismo, e outras atividades desportivas. 
O aparecimento e a extensão do desenvolvimento de habilidades dessa fase dependem de uma 
variedade de fatores da tarefa, individuais e ambientais e também, cognitivos, afetivos e principalmente 
motores, tais como percepção, costumes, caracterização emocional, motivação, pressão dos pares, 
tempo de reação, velocidade de movimento, tipo de corpo, altura peso, etc. GALLAHUE & OZMUN 
(2003), subdividem esta fase em três estágios: 
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2.4.1. Estágio de Transitório (de 7 à 10 anos) 
Caracteriza-se pelo início da aplicação e combinação dos PFM em performance de habilidades 
especializadas em ambientes desportivos e recreativos, ou seja, o movimento básico do arremesso 
sobre a cabeça (mecânica) é o mesmo utilizado para um saque por cima no voleibol ou tênis. 
 
2.4.2. Estágio de Aplicação (de 11 à 13 anos) 
 Neste estágio, as funções cognitivas estão mais sofisticadas e ocorre também um aumento das 
experiências e da base do conhecimento, o que irão facilitar as tomadas de decisões. Agora, a ênfase é 
colocada na forma, na habilidade, na precisão e nos aspectos quantitativos da performance do 
movimento. As habilidades complexas devem ser refinadas e usadas na execução de atividades 
avançadas e levadas adiante e na escolha do esporte por si mesmo. 
 
2.4.3. Estágio de Utilização para Vida Toda (de 14 anos em diante) 
 Todos os movimentos adquiridos até aqui servirão durante toda a vida, com o objetivo de 
preservar a saúde, fins recreativos e competitivos. 
Para atingir o último estágio, dentro da perspectiva de GALLAHUE & OZMUN (2003), a quantidade e 
a variedade de experiências motoras é muito importante. A criança que teve oportunidade de brincar, 
liberdade de movimento, e experimentou uma grande variedade de movimento, chegará ao topo deste 
modelo com uma maior habilidade motora, e quem sabe, tendo mais facilidade para aplicar estas 
experiências em situações de aprendizagem de habilidades específicas dos diferentes desportos. 
 
3. Estudo da performance e aprendizagem motora 
Diversos termos na literatura sobre aprendizagem motora estão relacionados ao termo 
habilidades motoras. São as habilidades, os movimentos e as ações. Todos os termos são utilizados 
de um modo específico. Deveremos compreender e utilizar cada um deles corretamente. 
� Movimento: Refere-se, geralmente, ao deslocamento do corpo como um todo ou dos membros 
produzido como uma conseqüência do padrão espacial e temporal da contração muscular (Newell, 
1978). 
 930 
� Ação: Intenção e meta caracterizam a ação. Ela é identificada pela meta à qual é dirigida ou pela 
especificação de certo critério que deve ser seguido pelo executante. Neste sentido, movimento 
pode ser considerado uma condição necessária mas não suficiente para uma ação (Newell, 1978). 
� Habilidade: Ações complexas e intencionais envolvendo toda uma cadeia de mecanismos sensório, 
central e motor que, através do processo de aprendizagem, tornaram-se organizadas e coordenadas 
de tal forma a alcançarem objetivos predeterminados com máxima certeza (Whiting, 1975). 
� 
3.1. Classificação das habilidades motoras 
 A questão aqui é determinar as características proeminentes das tarefas motoras que os professores 
de educação física possam utilizar para distinguir umas das outras. Três características utilizadas para 
classificar tarefas incluem a forma de como o movimento é organizado, a importância relativa dos 
elementos motores e cognitivos e o nível da previsibilidade ambiental envolvendo a performance 
habilidosa. 
 
3.1.1. Habilidades classificadas pela organização da tarefa 
 Um esquema para classificar habilidades diz respeito à maneira como o movimento é organizado. 
� Habilidades discretas: Uma tarefa de habilidade organizada de maneira que a ação é normalmente 
breve em duração e tem início e o fim bem definidos - o início e o fim do movimento são distintos 
-. As habilidades discretas incluem tarefas tais como arremessar ou chutar uma bola ou disparar um 
rifle. As habilidades discretas são importantes no contexto de muitos esportes e jogos, 
especialmente naqueles envolvendo as ações distintas da batida, chute, salto, arremesso e recepção. 
� Habilidades seriadas: Aquelas em que habilidades discretas são colocadas numa seqüência, sendo, 
freqüentemente, a ordem da ação crucial para o sucesso da performance. As habilidades seriadas 
incluem as ações em uma série de ginástica artística ou contornar uma seqüência de obstáculos em 
uma prova de esqui. As habilidades seriadas diferem das discretas no que diz respeito às 
circunstâncias da produção do movimento, pois requerem um tempo mais longo, mesmo assim cada 
elemento do movimento retém um início e um fim discretos. 
� Habilidades contínuas: Aquelas em que o início e o fim do movimento não são distintos. 
Caracterizam-se por serem freqüentemente repetitivas ou rítmicas por natureza, com a seqüência de 
 931 
ações fluindo por vários minutos. As habilidades contínuas incluem as ações de nadar, correr, andar 
de skate e pedalar uma bicicleta. 
 
3.1.2. Habilidades classificadas pela importância relativa dos elementos motores e cognitivos 
Um segundo tipo de sistema de classificação enfatiza a importância relativa dos elementos 
motores e cognitivos na performance da tarefa. Em uma habilidade motora o principal determinante do 
sucesso do movimento é a qualidade do próprio movimento, com menos ênfase sendo dada aos 
aspectos perceptivos e de tomada de decisão da tarefa. 
� Habilidade cognitiva: Uma habilidade para a qual o determinante principal do sucesso é a 
qualidade da decisão do executante em relação ao que fazer. Uma habilidade cognitiva é aquela que 
enfatiza “saber o que fazer” – jogo de xadrez – enquanto uma habilidade motora enfatiza, 
principalmente, a “execução correta” – salto em altura. 
 
3.1.3. Habilidades classificadas de acordo com a precisão do movimento 
� Habilidades grossas: aquelas que envolvem grandes grupos musculares na sua execução. 
Exemplos incluem caminhar, pular, arremessar e saltar. 
� Habilidades finas: Aquelas que envolvem pequenos grupos musculares na sua execução. 
Exemplos incluem consertar um relógio de pulso, costurar e digitar. 
 
 Habilidade de acordo com Guthrie (1952), consiste da capacidade adquirida de atingir algum 
resultado final com o máximo de certeza e um mínimo dispêndio de energia, ou de tempo e energia 
(p.136). 
 
4. Aprendizagem e Performance motora 
� Performance motora: Tentativa observavél de um indivíduo para produzir uma ação voluntária. O 
� nível de uma performance de uma pessoa é suscetível a flutuações em fatores temporários, tais 
como motivação, ativação, fadiga e condição física. 
� As diferenças entre aprendizagem motora e performance motora: A performance motora é 
sempre observável e influenciada por muitos fatores. A aprendizagem motora, em contraste, é um 
processo interno que reflete o nível de capacidade de performance do indivíduo, podendo ser 
 932 
avaliado por demonstrações de performances relativamente estáveis. Portanto, a aprendizagem é 
oculta, pois trata-se de uma mudança interna ao indivíduo. A performance é manifestada porque 
implica numa ação efetora. A aprendizagem é relativamente permanente. A performance pode 
sofrer flutuações de tempo a tempo devido a influência de fatores como: condição física, 
crescimento e maturação, motivação e estados emocionais, condições de prática e requisitos da 
tarefa, fadiga, lesões e drogas. 
� A performance, durante o estágio inicial de aprendizagem, é caracterizada por atividade motora 
com considerável imprecisão, lentidão, inconsistência e aparênciarígida. 
 Os conceitos de aprendizagem e performance motora são difíceis de distinguir, pois repetições 
de performance motora são necessárias para que as pessoas alcancem altos níveis de aprendizagem 
motora, e o nível de aprendizagem pode somente ser avaliado observando-se a performance motora de 
cada um. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
BAYER, C. O Ensino dos Desportos Colectivos. Lisboa: Dinalivro, 1984. 
BENTO, J. O. Desporto “Matéria” de Ensino. Lisboa: Caminho, 1987. 
BETTI, Mauro. Educação Física e Sociedade. São Paulo: Movimento, 1991. 
FREIRE, J.B. in DANTAS, E.H.M. (org.). Pensando o corpo em movimento. Rio de Janeiro: Shape, 
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