Buscar

Prévia do material em texto

CAPÍTULO 1
Um Breve Histórico de edUcação
de sUrdos
A partir da perspectiva do saber fazer, são apresentados os seguintes objetivos 
de aprendizagem:
 3 Apresentar os conhecimentos filosóficos, históricos, sociológicos e econômicos na 
 Educação de Surdos.
 3 Mostrar os diferentes conhecimentos da história na Educação de surdos no 
 mundo e no Brasil.
10
 Deficiência Auditiva e Libras
10
11
Um Breve Histórico de edUcação de sUrdos
11
 Capítulo 1 
contextUalização
Apresento a trajetória da comunidade Surda e sua educação como 
ponto de partida na construção da identidade cultural, sociológica e 
educacional dos sujeitos Surdos. A conquista do seu espaço como sujeito 
Surdo se deu graças à introdução do “alfabeto manual”, que possibilitou 
a sua inserção na sociedade. Com a inserção na sociedade, transformou o 
sujeito Surdo em sujeito crítico, criativo e inovador. Os sujeitos Surdos foram 
precursores de várias atividades, dentre elas, as Associações, movimentos 
sociais e da educação de Surdos até hoje. 
a trajetória dos sUjeitos sUrdos
A trajetória social, política, linguística e de educação dos sujeitos Surdos 
inscreve-se junto com o longo do capítulo das exclusões. Os sujeitos Surdos 
como personagens são, ao mesmo tempo, excluídos e incluídos. Da inclusão, 
a comunidade não-surda escondia as deficiências e acabou criando guetos 
para os sujeitos Surdos. Da exclusão, a comunidade não-surda não os 
aceitava como membros da sociedade como um todo. Estes fatos são escritos 
e narrados por diversos autores, como Marcos, no seu Evangelho, quando 
Jesus Cristo fez os Surdos e Mudos falarem e ouvirem pelo milagre divino 
(SANCHÉZ, 1990).
Nos seus livros, Platão e Aristóteles, ao tratarem do planejamento 
das cidades gregas, recomendavam que as pessoas nascidas “disformes” 
deveriam ser eliminadas. A eliminação se daria pela exposição ao sol, 
abandono ou, ainda, atiradas do alto da montanha chamada de Taygetos, na 
Grécia. Segundo a concepção de Aristóteles, é impossível educar as pessoas 
Surdas: “[...] mudos também são Surdos: eles podem ter vozes, mas não 
podem falar palavra alguma” (SANCHÉZ, 1990, p. 31). 
Nos séculos de pré-conceito errôneo, ignorância, desconfiança, 
piedade, mitos e desprezo, os sujeitos Surdos começaram a desmitificar tais 
preconceitos. A desmitificação começou a mostrar que os restos da audição, 
como um dos resquícios da presença e da integridade física, viabilizavam a 
capacidade de ouvir como os demais cidadãos. A partir de então, criaram-se 
vários métodos que, em sua maioria, foram pesquisados por padres, abades e 
frades e registrados pela igreja e monastérios como de sua autoria. Os livros 
das antiguidades e seus métodos para os sujeitos Surdos eram conservados 
nos repositórios da igreja.
 
Mudos também são 
Surdos: eles podem ter 
vozes, mas não podem 
falar palavra alguma.
12
 Deficiência Auditiva e Libras
12
Pesquise na Biblioteca de sua região como os antigos romanos 
e gregos faziam com os Surdos.
A metodologia na soletração de alfabeto manual foi positiva aos sujeitos 
surdos, porque os padres, frades ou monges, ao criarem uma forma de 
comunicação no sistema de silêncio, criaram o alfabeto manual, como 
relata Melchor Sánchez de Yebra (PLANN, 1997). Segundo ele, no seu livro 
“Simplification of the Letters of the Alphabet and Method of Teaching Deaf 
Mutes to Speak” (1620), a fonte original desse alfabeto é San Buanaventura 
(Frei Juan de Fidanza, 1221-1274). Este criou o alfabeto manual para 
comunicar-se com outros companheiros pelo voto de silêncio. O sistema 
passou a ser aproveitado para ensinar aos Surdos daquela época. Com essa 
ação, inicia-se uma nova fase de integração dos Surdos com o objetivo de 
eliminar a exclusão dos mesmos do meio social, dadas as circunstâncias que 
aconteceram na época, como herança e matrimônio entre os filhos Surdos dos 
condes, príncipes e até reis. A integração deles, por meio da intervenção dos 
padres, frades ou monges, de modo consciente ou inconsciente, está mais 
relacionada à solução, ou a salvar a “alma”, apiedar-se e re-colocar os Surdos 
na sociedade. 
Atividade de Estudos: 
1) Escreva em cinco linhas o porquê do uso da letra “S” em 
maiúscula para definir o Sujeito Surdo.
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
San Buanaventura
(Frei Juan de Fidanza,
1221-1274) criou
o alfabeto manual para
comunicar-se com
outros companheiros
pelo voto de silêncio.
13
Um Breve Histórico de edUcação de sUrdos
13
 Capítulo 1 
No início da Idade Moderna, vários monges, como Melchor Sánchez de 
Yebra (1526-1586) e Gerolamo Cardomo (1501-1576), instruíram os Surdos 
a lerem e escreverem; Beneditino Pedro Ponce de Léon (1510-1584) e Juan 
Pablo Bonet (1579-1633) publicaram alfabeto manual, livros e métodos que 
ensinavam aos Surdos a usar sinais e escrita, e alguns utilizavam a via da 
oralização.
Com a efervescência política, econômica e cultural e a transição da 
Idade Média para a Idade Moderna, a época do Renascimento trouxe o 
esclarecimento, a música, a arte, a razão e as ciências empíricas, que, aos 
poucos, apagaram as ações negativas sobre os sujeitos Surdos. As pesquisas 
acerca da Surdez e sua metodologia eram veiculadas nas igrejas e abadias 
da Europa, especificamente, na França, na Abadia de Amiens. O primeiro 
professor Surdo de que se tem notícia foi Etienne de Fay, francês, nascido 
em 1669, arquiteto, bibliotecário, escultor, procurador e professor de instrução 
na cidade de Amiens, França, onde foi educado e onde morreu aos 70 anos. 
Ensinou uma turma de sete crianças Surdas usando a língua de sinais e a 
escrita (TRUFFAUT, 1993, apud LANE, 1999).
Surdos-Mudos: É uma representação identitária, cultural e 
os sinais são convencionados pela comunidade Surda utilizada 
do século XVI até a presente data, apesar de a denominação 
“Mudo” ser retirada pelo Congresso de Milão em 1880. Condiz que 
Surdo-Mudo não é portador da “mudez” por problema patológico 
e também por não falar, não ter “voz”, e sim por usar a língua de 
sinais, que é a modalidade viso-gestual e não usa a “fala” ou a 
“oralização” para articular e sinalizar ao mesmo tempo. As letras “S” 
e “M”, maiúsculas, são utilizadas por uma questão de identidade. 
(CAMPELLO, 2008).
Oralização: No dicionário HOUAISS, quer dizer prática ou 
método de ensino de linguagem oral orientada para crianças com 
perda auditiva.
Ciências empíricas: São as ciências que se baseiam em 
demonstrações reais para comprovar alguma coisa. Por outras 
palavras, são as ciências que comprovam dados científicos através 
de demonstrações de acontecimentos que ocorrem naturalmente 
na natureza. Uma coisa empírica é algo que é aprendido ou 
adquirido através das experiências. Por exemplo, a biologia, a 
química, a física, a geologia e outras são exemplos de ciências 
empíricas. Por outro lado, você tem as ciências conceptuais, 
14
 Deficiência Auditiva e Libras
14
que se baseiam em demonstrações teóricas para comprovar 
dados científicos. Uma coisa conceptual é algo que se baseia em 
conceitos e teorias. Por exemplo, a matemática e a filosofia são 
ciências conceptuais.institUto nacional de jovens sUrdos de Paris 
No século XVIII, já existiam comunidades Surdas espalhadas na capital 
e nas cidades vizinhas da França. O abade francês Charles Michel de l`Epée, 
nascido em Versailles, em 1712, tomou uma importante iniciativa, em termos 
pedagógicos, no que se refere à educação dos Surdos, começando tal 
instrução com duas mulheres Surdas, com vocação religiosa. 
Com a mendicância nos arredores de Paris, a revolução francesa e a 
opressão lingüística contra os Surdos não instruídos, o abade de l`Epée criou 
uma escola particular bancada com seus próprios recursos. Depois da sua 
morte, a Constituição Francesa criou a escola chamada de Institution Nationale 
des Sourds-Muets, em Paris, em 1760, atual Institut Nationale de Jeunes 
Sourds de Paris (INJS) com o objetivo de dar independência e reconhecimento 
aos Surdos como cidadãos pelas pessoas não surdas. Apesar de serem 
Surdos, estes, como cidadãos franceses, não eram desprezados, excluídos 
e tutelados. Na França, houve a padronização da língua de sinais, um dos 
princípios da política linguística, como formação de uma língua, como “sinais 
metódicos”, ou francês sinalizado (PADDEN, 1988, LANE, 1999). 
Pesquise, no site do Google, sobre a comunidade Surda do 
século XVIII, em inglês ou francês. Utilize a palavra “Deaf-Mutes” 
ou “Sourds-Muets”. Você encontrará coisas interessantes para 
conhecer!
Os “sinais metódicos” eram forjados a partir de uma forma existente, como 
a Antiga Língua de Sinais Francesa – ALSF (WILCOX, 2005), que era aceita e 
não era estereotipada pela comunidade não-surda. Do mesmo modo, o poder 
político do império francês promoveu a criação de um instituto por meio da 
Constituição Francesa, escolhendo ou impondo a língua de uma minoria, como 
é o caso da comunidade Surda, com o intuito de elevar os Surdos franceses 
da época como cidadãos e com os mesmos direitos civis dos não-surdos.
15
Um Breve Histórico de edUcação de sUrdos
15
 Capítulo 1 
Na determinação e implementação, Sicard, sucessor do abade de l`Epée 
e antigo diretor do INJS – Institut National de Jeunes Sourds, junto com os 
professores ouvinte, criou e usou os “sinais metódicos” em cima da Antiga 
Língua de Sinais Francesa (língua natural da comunidade Surda da França) 
como uma forma de institucionalizar o ensino pedagógico dos Surdos porque 
sua inventiva pretendia não apenas (pretensamente) gramaticalizar os sinais, 
mas, ao escolher os elementos mais “adequados” para essa gramaticalização, 
oferecer ao surdo um instrumento acurado para uma análise linear das idéias 
aglomeradas em sua mente (SOUZA, 2003). 
Lane (1999) apresenta um ponto de vista positivo quanto à introdução de 
sinais metódicos às crianças Surdas francesas oriundas de lugares pobres, 
tanto de Paris como de outras cidades francesas, pois o autor considera que 
isso permitiu um ponto favorável: a socialização, por meio da língua de sinais 
francesa, entre os mesmos (no caso de escolas que serviram de internatos) e, 
ao mesmo tempo, os introduziu a um novo mundo, com novos conhecimentos 
e aquisição de novos significados ao aprender a ler e escrever. Com tais 
instruções, passaram a adquirir a sua primeira educação efetiva para torná-los 
cidadãos franceses na conturbada revolução francesa da época e no período 
da proibição de mendicância nas ruas de Paris. Esta época era denominada 
de “Século de Ouro”.
Essa abordagem ou proposta pedagógica criada por l`Epée foi marcada 
pela característica populista/nacionalista e ainda tem ressonância na 
contemporaneidade. Nesse sentido, McLaren (2000, p. 25) diz que “No atual 
momento das práticas educacionais dominantes, a linguagem está sendo 
mobilizada dentro de uma ideologia populista autoritária, que a vincula à 
identidade nacional, à cultura e à formação”.
Da mesma forma, o Institut Nationale de Jeunes Sourds de Paris (INJS) 
formou e enviou professores para várias cidades vizinhas, inclusive criando 
diversas escolas de Surdos, das quais citaremos pessoas famosas como: 
Monsieurs Allibert, Berthier (eleito deputado da Assembleia Francesa, ativista, 
idealizador do banquete em homenagem ao abade De l`Epée e agraciado 
com medalha de honra por parte do Rei Napoleão Bonaparte), Borie, Carette, 
Chambellan, Chomat, Clerc (fundador do Institution de Hartford, atualmente 
Gallaudet University junto com Thomas Gallaudet nos Estados Unidos), 
Delfariel, Dubois, Dusuzeac (bacharel em ciência matemática), Lenoir, Massieu 
(fundador do Institution de Lille), Orsoni, Pélissier (criador do dicionário de 
Língua de Sinais Francesa do Institution Nationalle des Sourds-Muets de 
Paris), Riviére, Tessières, Théobald e Tronc; Mademoiselles Alleton e Meunier 
(ACERVO do INES, 2007).
16
 Deficiência Auditiva e Libras
16
Para você conhecer melhor a história e características da 
Associação de Surdos, visite e pesquise as Associações de 
Surdos da sua cidade e enumere os fatos que revelam a atuação 
das Associações sobre a comunidade Surda.
Politicamente, o mais importante de todos os fatos aconteceu no governo 
Napoleão Bonaparte, que conferiu ao Professor Ferdinard Berthier, Surdo-
Mudo, eleito na Assembléia Constituinte, o título de Cavaleiro da Legião da 
Honra (RANGEL, 2004). Pela primeira vez, os direitos civis tiveram força, 
graças ao empenho e à façanha política do Professor Berthier, que representou 
22.000 “irmãos silenciosos”. E também, juntamente com a comunidade Surda 
Francesa, organizava anualmente o “banquete” em memória ao abade De l`Epée.
Para mostrar a importância do uso da Antiga Língua de Sinais Francesa 
– ASLF – na prática de instrução educacional e da sua preservação da língua 
de sinais francesa no Instituto, como método viável na educação de Surdos, o 
Professor Berthier, como professor, foi convidado a se retirar do Instituto pelo 
Conselho de Administração, por insubordinação, e deflagrou uma “Guerra dos 
Surdos” contra a introdução do ensino da fala e rebaixamento dos professores 
Surdos franceses como professores repetidores (LE POUVOUIR DES 
SIGNES, 1990). Isso mostra a nitidez da relação do poder, como diz Foucault 
(2007), que começa com a introdução de novos métodos de controle para não 
modificar algo que é de interesse dos detentores do poder.
 
A “Guerra dos Surdos” e o movimento de introdução e de preservação da 
língua de sinais francesa impulsionaram uma nova prática, que é a organização 
de uma sociedade, como a Sociedade Universal de Surdos (RANGEL, 
2004), em 1838, para delimitar o território do poder linguístico de língua de 
sinais. Contou com o apoio de vários autores importantes, como: Diderot, 
o filósofo e enciclopedista (1713-1784), que elaborou um livro chamado de 
“Carta sobre os Surdos-Mudos para uso dos que ouvem e falam”, contra o 
abade Charles Batteux, sobre a uniformidade da construção gramática da 
língua francesa e dos gestos dos Surdos, que são ricos gramaticalmente. 
Igualmente aconteceu com outro autor, Pierre Deslogues, Surdo (1747-1799) 
que escreveu o seu livro “Observações de um Surdo-Mudo” (WILCOX, 2005) 
defendendo que os sujeitos Surdos possuíam, de fato, uma antiga língua de 
sinais francesa e que se comunicavam em vários assuntos (política, trabalho, 
religião, família etc.). Dizia também que essa língua de sinais, ou seja, “sinais 
metódicos” (mesclada com a língua francesa) não era popularmente aceita nas 
instituições educacionais por “resistência ideológica dos dominantes” (HALL, 
A “Guerra dos Surdos” 
e o movimento de 
introdução e de 
preservação da língua 
de sinais francesa 
impulsionaram uma 
nova prática, que é a 
organização de uma 
sociedade, como a 
Sociedade Universal 
de Surdos, em 1838, 
para delimitar o 
território do poder 
linguístico de língua de 
sinais. 
17
Um Breve Histórico de edUcação de sUrdos
17Capítulo 1 
2006, FOUCAULT, 2007). O Professor Pierre Pélissier publicou em 1856 o seu 
primeiro dicionário da língua de sinais francesa, chamado de “Iconographie 
des Signes”, com 40 folhas e 362 verbetes, juntamente com os desenhos, 
separados por categoria gramatical com os explicativos de como se sinalizam, 
no intuito de preservar a língua denominada antiga língua de sinais francesa.
Sinais Metódicos eram corrupções gramaticais feitas 
deliberadamente por L’Epée a partir do latim e do francês 
(BERTHIER, 1984 apud SOUZA, 2003).
congresso de milão em 1880
Com a influência européia e das pesquisas descobertas de que os 
Surdos podiam falar por meio de método oralista, sucedidos na Alemanha 
e na Inglaterra, no século XVIII, os profissionais resolveram organizar o 
Congresso de Veneza, em 1872, para definir que a modalidade falada, ou 
seja, da filosofia oralista é superior à modalidade gesto-visual, que é a língua 
de sinais. Seus argumentos baseavam-se na ideia de que o meio humano 
para a comunicação do pensamento é do uso da língua oral. Em 1880, um 
grupo de profissionais não-surdos tomou a decisão, sem a participação dos 
professores e profissionais Surdos, de excluir a língua de sinais no ensino de 
Surdos. O Congresso começou no dia 6 de setembro e foi até o dia 11 de 
setembro de 1880. Lá votaram oito resoluções, sendo que uma foi aprovada 
por unanimidade: a que preconizava que o governo deveria tomar as medidas 
para que todos os Surdos recebessem educação. Na prática o que aconteceu 
foi que os profissionais tomaram as resoluções como argumentos para 
convencer os governos de que a filosofia oralista era o caminho viável na 
educação de Surdos, sem que “ouvissem” as opiniões dos dirigentes Surdos 
daquela época.
O Congresso de Milão é considerado para a comunidade Surda como o 
século do “holocausto”, pois proibia os professores Surdos de dar instrução 
nas escolas de Surdos, o uso da língua de sinais dentro das escolas de 
Surdos e determinava o fechamento dos institutos em regime de internato. 
Houve o declínio dos professores Surdos até a quase extinção dos mesmos, 
restando poucos professores Surdos do mundo. Contudo, a língua de sinais, 
como política de resistência, continuou agindo às escondidas e com isso, 
propulsionou o crescimento e a fundação de diversas Associações de Surdos 
do mundo. 
O Congresso de 
Milão é considerado 
para a comunidade 
Surda como o século 
do “holocausto”, pois 
proibia os professores 
Surdos de dar 
instrução nas escolas 
de Surdos, o uso 
da língua de sinais 
dentro das escolas de 
Surdos e determinava 
o fechamento dos 
institutos em regime de 
internato.
18
 Deficiência Auditiva e Libras
18
Pesquise na Internet os significados das palavras: Congresso 
de Milão (ou Milan 1880). Faça uma reflexão sobre o impacto que 
as oitos resoluções causaram à comunidade Surda. Registre suas 
ideias. 
edUcação de sUrdos no Brasil
Os professores dessas escolas das cidades vizinhas da França saíram 
também para o mundo, como Eduard Huet, Surdo, conde, professor e primeiro 
diretor do Imperial Instituto de Surdos-Mudos, que, junto com o Imperador Dom 
Pedro II, instituiu, à maneira da política linguística e educacional da França, 
a introdução de novos sinais na terra brasileira, de acordo com o ambiente 
linguístico de língua de sinais brasileira, para atender crianças e jovens Surdos 
espalhados no antigo império brasileiro. 
Com a constituição do Imperial Instituto de Surdos-Mudos, em 1855, 
atualmente Instituto Nacional de Educação de Surdos, no Rio de Janeiro, 
houve a primeira experiência brasileira quanto à educação de surdos. Lá 
ensinavam várias disciplinas mesclando a língua de sinais francesa com a 
língua de sinais brasileira da comunidade Surda do Brasil.
Veja o site do Instituto Nacional de Educação de Surdos – 
www.ines.org.br
Com o sucesso e apresentação dos alunos Surdos ao Imperador Dom 
Pedro II, e da boa formação destes, os Surdos tornaram-se repetidores 
(atualmente designados como monitores do professor), professores, escultores, 
pintores e de outras profissões. O Surdo-Mudo, ex-aluno e repetidor Flausino 
José de Gama, com o apoio do Diretor Tobias Leite e do amigo gráfico, Sr. 
Eduard Rensburg, aprendeu, no ofício, a copiar os desenhos por meio de 
litografia, elaborando o primeiro dicionário de língua de sinais, chamado de 
“Iconographia dos Signaes”, na versão brasileira, traduzindo as palavras dos 
362 verbetes da língua de sinais francesa para a língua portuguesa, com os 
mesmos desenhos, categorias gramaticais e explicativos, em 1875 (ACERVO 
do INES, 2007).
19
Um Breve Histórico de edUcação de sUrdos
19
 Capítulo 1 
Para assegurar a língua de sinais brasileira e a formação profissionalizante 
de Surdos, foi criada uma Associação Protetora dos Surdos (BACELLAR, 1926) 
no Instituto Central do Povo, um departamento para Surdos com fins escolares 
e extra-escolares. Um pequeno grupo no Instituto Central do Povo, em 1913, 
criou a Associação Brasileira de Surdos, promovendo a conscientização da 
sociedade pelo direito do ensino de língua de sinais aos Surdos. Publicaram 
seus primeiros jornais em 1914 e só duraram dois anos.
Com a decretação da proibição do Congresso de Milão pelo mundo, os 
Surdos do Imperial Instituto de Surdos, que eram internos, voltaram para as 
suas cidades de origem e criaram Associações de Surdos com o objetivo 
de preservar a língua de sinais brasileira. A criação da primeira Associação 
Brasileira de Surdos ocorreu em 1913, e nos 96 anos seguintes foram criadas 
cerca de 180 Associações de Surdos, segundo os dados do site da FENEIS 
– Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos, tanto na capital 
como no interior do Brasil.
Para matar a curiosidade sobre a FENEIS – Federação 
Nacional de Educação e Integração dos Surdos, clique no site: 
www.feneis.org.br
Realize uma pesquisa na internet sobre a criação de 
Associações de Surdos depois do Congresso de Milão.
 Apesar do sucesso da educação dos Surdos no Brasil, esta passou por 
três fases distintas: Introdução do Oralismo; Introdução de Comunicação Total; 
Introdução de Bilinguismo.
a) Introdução do Oralismo 
Por problema pessoal, o diretor E. Huet, do Imperial Instituto de Surdos-
Mudos, deixou o Instituto e o cargo de diretor, que foi ocupado por vários 
diretores. O Diretor Tobias Leite estabeleceu, a pedido do Império brasileiro, 
a obrigatoriedade da aprendizagem da linguagem articulada e da leitura 
dos lábios, de acordo com a promulgação das resoluções do Congresso de 
Milão, em 1897. Com a tendência mundial, depois do Congresso de Milão, o 
Instituto Nacional de Surdos (INES), em 1911, utilizou o oralismo puro como 
metodologia educacional em suas salas de aula. Mas o uso de língua de sinais 
permaneceu, apesar da proibição que foi feita oficialmente em 1957.
 A criação da primeira 
Associação Brasileira 
de Surdos ocorreu 
em 1913, e nos 96 
anos seguintes foram 
criadas cerca de 
180 Associações de 
Surdos.
20
 Deficiência Auditiva e Libras
20
b) Introdução de Comunicação Total
Após sucessivos fracassos educacionais e exclusões dos Surdos da sala 
de aula, surgiu uma proposta educacional, na década de 70, proveniente de 
estudos americanos a respeito do desenvolvimento de crianças Surdas, filhas 
de pais ouvintes e de Surdos. Esses estudos mostraram diferenças lingüísticas, 
igualmente importantes, e para melhor, no desenvolvimento de linguagem, 
capacidade de raciocinar, de aprender e de conviver com outras crianças e 
com adultos, de poder lidar melhor com as dificuldades, e da capacidade de 
oralizar, com o uso da língua de sinais. O objetivo da filosofia de Comunicação 
Total é oferecer às crianças Surdas as oportunidades de ter acesso à língua ede adquirir conhecimento por meio da aquisição da linguagem. A Comunicação 
Total foi trazida pelas professoras do Instituto Nacional de Educação de Surdos 
que visitaram a Gallaudet University nos Estados Unidos.
c) Introdução de Bilinguismo
Na década de 80, os linguistas brasileiros começaram a discutir a 
viabilidade da introdução do bilinguismo no Brasil e da sua contribuição para 
a educação do Surdo. Essas discussões partiram da descoberta da pesquisa 
de língua de sinais americana, como status lingüístico, por Stokoe (1960, apud 
BRITO, 1995), e de Lucinda Ferreira Brito (1995) sobre a Língua de Sinais 
Brasileira – Libras. 
Segundo Vilela (2007), o Instituto Nacional de Educação de Surdos, 
em 1986, introduziu o projeto de pesquisa chamada de PAE (Projeto de 
Alternativas Educacionais), um trabalho de implementação da Comunicação 
Total em grupos de alunos ali matriculados. Esse projeto não foi adiante. 
No entanto, a língua de sinais brasileira é vista como sistema linguístico de 
natureza viso-gestual, com gramática própria utilizada pela comunidade Surda 
do Brasil.
 
Atividades de Estudos: 
Responda em algumas linhas estas questões:
1) Você conhece algumas escolas de Surdos?
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
A língua de sinais 
brasileira é vista como 
sistema linguístico 
de natureza viso-
gestual, com gramática 
própria utilizada pela 
comunidade Surda do 
Brasil.
21
Um Breve Histórico de edUcação de sUrdos
21
 Capítulo 1 
2) Quais são as metodologias de ensino utilizadas dentro das 
escolas de Surdos visitadas ou conhecidas por você?
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
3) Escreva o que entende das características da comunidade Surda.
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
Com a promulgação da Lei 10.436, de 2002, o sistema educacional 
federal, estadual, municipal e do Distrito Federal passou a garantir, como parte 
integrante dos parâmetros Curriculares Nacionais, nos cursos de formação de 
educação especial, de Fonoaudiologia e de magistério, em seus níveis médio 
e superior, a inclusão o ensino das LIBRAS. 
O Surdo passou a ter, assim, garantia dos seus direitos à educação, 
assegurando uma formação que lhe dê condições de autonomia, em várias 
áreas do contexto brasileiro: no mercado de trabalho, previdência social, lazer, 
esportes, educação, entre outros. A educação promoveu a inclusão social em 
todos os seus aspectos. E igualmente oportunizou a criação de Pós-graduação 
de Educação e Linguística da UFSC, formando doutores e mestres Surdos; 
a abertura de Curso de Letras – LIBRAS, modalidade a distância, por meio 
de decreto 5.626, de 2005, está proporcionando a formação adequada de 
professores de língua de sinais brasileira e de professores bilingues.
Para conhecer os sites que envolvem a área da Surdez:
Letras-Libras – www.libras.ufsc.br
PROLIBRAS – www.prolibras.ufsc.br
22
 Deficiência Auditiva e Libras
22
algUmas considerações
A trajetória histórica da educação dos sujeitos Surdos sempre andou junto 
com a evolução da língua de sinais e suas metodologias. Os sujeitos Surdos 
eram “descartados” pela sociedade pela sua inutilidade física. A desmitificação 
da inutilidade física começou com a viabilidade do uso de restos de audição. 
A metodologia para ensinar aos sujeitos Surdos, geralmente, filhos de reis e 
de condes, começou a impulsionar pesquisas dentro da igreja, dentre elas, 
o alfabeto manual, para que eles pudessem receber a educação refinada e 
de dotes. A partir de então, criou-se uma escola de Surdos, em Paris, uma 
das primeiras escolas do mundo a dar exemplos para outras cidades vizinhas 
da França. Antes da criação da escola, havia um professor Surdo-Mudo que 
ensinava as crianças Surdas a ler, escrever e sinalizar. Mais tarde, o abade 
de l`Epée criou uma escola chamada de Institution Nationale des Sourds-
Muets, em Paris, em 1760, atual Institut Nationale de Jeunes Sourds de Paris 
(INJS), com o objetivo de dar independência e reconhecimento aos Surdos 
como cidadãos às outras pessoas não surdas. Mas, a metodologia “sinais 
metódicos”, criada pelo abade l`Epée, não era reconhecida pela comunidade 
Surda. A comunidade Surda lutava para adquirir o status linguístico com o 
mesmo padrão das línguas orais. Na mesma época, começou a introdução 
da metodologia oralista, com as resoluções do Congresso de Milão, em 1880. 
Houve movimentos de resistência que impulsionaram uma nova prática, que 
é a organização de uma Associação de Surdos. Publicaram vários dicionários 
de língua de sinais, promoveram a fundação de várias escolas de Surdos do 
mundo e no Brasil. O movimento educacional passou por três fases distintas: 
oralismo, comunicação total e bilinguismo. A inclusão da língua de sinais 
brasileira nas escolas inclusivas e bilingues ficou mais forte com a Lei 10.436, 
de 2002, que reconheceu a língua de sinais brasileira da comunidade Surda e 
impulsionou os novos cursos de Letras-Libras, modalidade a distância e, em 
consequência, a formação de professores bilingues.
referências
ACERVO DO INES. Iconographia dos Signaes por Flausino da Gama. Rio 
de Janeiro: Biblioteca do INES. 1875. Obras raras.
BACELLAR, Arnaldo de Oliveira. A Surdo Mudez no Brasil. Tese. São Paulo: 
Matinelli, Maia & C. 1926.
BRITO, Lucinda Ferreira. Por uma gramática de Línguas de Sinais. Rio de 
Janeiro: Tempo Brasileiro: UFRJ, Departamento de Lingüística e Filosofia, 
1995.
23
Um Breve Histórico de edUcação de sUrdos
23
 Capítulo 1 
CAMPELLO, A. R. S. Aspectos da visualidade na educação de Surdos. 
Tese de Doutorado. Florianópolis: UFSC. 2008.
DIDEROT, Denis. Carta sobre os Surdos-Mudos: para uso dos que ouvem e 
falam. São Paulo: Nova Alexandria. 1993.
FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 33 ed. Petrópolis: 
Editora Vozes. 2007.
HALL, Stuart. Da Diáspora: identidades e mediações culturais. Minas Gerais: 
Editora UFMG, 2006.
LANE, Harlan. The mask of benevolence: disabling the deaf community. San 
Diego: DawnSignPress. 1999. Paperback.
McLAREN, Peter. Multiculturalismo Revolucionário. Pedagogia do 
dissenso para o novo milênio. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
PADDEN, Carol & HUMPHRIES, Tom. Deaf in America: voices from a 
culture. Massachusetts: Harvard University Press. 1988. 
PLANN, Susan. A Silent Minority: Deaf Education in Spain, 1550-
1835. Berkeley: University of California Press, c1997 1997. disponível em: 
<http://ark.cdlib.org/ark:/13030/ft338nb1x6/>. Acesso em: 15 mai. 2009.
LE POUVOIR DES SIGNES: Sourds et Citoyens. Paris: Institut National de 
Jeunes Sourds de Paris. 1990.
RANGEL, Gisele Maciel Monteiro. História do povo surdo em Porto Alegre: 
imagens e sinais de uma trajetória cultura. Dissertação de Mestrado. Porto 
Alegre: UFRGS, 2004.
SÁNCHEZ, Carlos M. La increible y triste historia de la sordera. Caracas: 
Ceprosord. 1990.
TRUFFAUT, Bernard. Etienne deFay and the History of the Deaf. In: Fischer, 
R & LANE, H. (eds.) Looking Back. Hamburg: Signum-Verl. 1993.
VILELA, Genivalda Barbosa. Histórico da Educação do Surdo no 
Brasil. Acessado em 14 de maio de 2009. http://www.fonoaudiologos.
net/2007022853/autor-profissional/genivalda-barbosa-vilela/histico-da-educao-
do-surdo-no-brasil.html
WILCOX, Sherman & WILCOX, Phyllis Perrin. Aprender a Ver. Petrópolis: 
Ed. Arara Azul. 2005.
24
 Deficiência Auditiva e Libras
24
.

Mais conteúdos dessa disciplina