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22 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 0/ 05 /2 01 4 Unidade II Unidade II 3 CADEIAS PRODUTIVAS A aplicação do conceito de cadeia produtiva ao agronegócio surgiu na França, na década de 1960. Segundo Araújo (2009), as cadeias produtivas devem ser consideradas “sucessões de atividades ligadas verticalmente, necessárias à produção de um ou mais produtos correlacionados”. Por meio da análise da cadeia produtiva dos produtos agropecuários, torna‑se possível detectar as inter‑relações entre os componentes particulares da cadeia produtiva analisada. Assim sendo, tal análise nos permite descrever a cadeia de produção como um todo, de modo a avaliar a função da tecnologia na estruturação da cadeia produtiva em questão, as possibilidades de otimização e integração, a análise das políticas direcionadas ao agronegócio e as relações entre os insumos e os produtos deles derivados. Observação O termo cadeia de produção (análise de filière) surgiu na Escola Francesa de Economia Industrial. Essa cadeia de produção pode ser dividida em três macrossegmentos: comercialização, industrialização e produção de matérias‑primas. Segundo Araújo (2009), a cadeia produtiva deve ser compreendida como um conjunto de etapas consecutivas pelas quais são transferidos e submetidos a transformações os diversos insumos, ao longo de seus ciclos de produção, distribuição e comercialização de bens e serviços. O conceito de cadeia produtiva pressupõe a existência de grupos de trabalho nos quais cada agente ou conjunto de agentes é responsável pela execução de etapas específicas do processo produtivo. Tais grupos não se encontram restritos obrigatoriamente a uma mesma área ou localidade e podem incluir, além das empresas, instituições financeiras, de ensino e pesquisa, apoio técnico etc. Ao analisarmos um produto específico, tendo em mente a sua produção, normalmente não levamos em conta todos os possíveis agentes econômicos posicionados após a produção, fato compatível com a análise da produção, pois não estamos analisando sua cadeia produtiva. Segundo Araújo (2009), na atualidade, o agronegócio exige que os agentes posicionados após a produção venham a ser incluídos no processo global de produção. Tal exigência fez surgir a ideia de cadeia de valor, um novo conceito mais abrangente da cadeia produtiva. Do ponto de vista econômico, mundialmente, o agronegócio é considerado um segmento de grande importância e valor, sendo tal representatividade econômica variável em função da área geográfica ou do país em questão. Particularmente em nosso país, revela‑se como um dos mais importantes setores da economia, principalmente com respeito à carta de exportação de produtos. 23 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 0/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO AO AGRONEGÓCIO Na atualidade, nosso volume anual de produção de produtos agropecuários é crescente, e essa produção tem sido absorvida tanto pelo mercado interno como pelo externo. Os produtos agropecuários brasileiros são reconhecidos no exterior como de boa qualidade. E nosso volume de exportações também é crescente ano a ano, condição essa que representa uma grande oportunidade para os produtores. Segundo Araújo (2009), os produtores agropecuários brasileiros podem buscar apoio técnico e econômico tanto no Estado como na sociedade civil, por meio de serviços agropecuários disponíveis no segmento “antes da porteira”. Entre tais serviços, podem ser citados a extensão rural e a assistência técnica; o crédito e os financiamentos; os incentivos fiscais; as pesquisas agropecuárias; as comunicações; a infraestrutura; o fomento, o treinamento e a mão de obra; as análises laboratoriais; a vigilância e a defesa agropecuária; a proteção e a defesa ambiental; e a elaboração de projetos. A elaboração do projeto agropecuário deve estabelecer metas ou objetivos da atividade em questão, meios a serem usados para atingi‑los, comercialização da produção e público consumidor do referido empreendimento. Contudo, na realidade brasileira, a elaboração de tais projetos revela‑se limitada, visto que não é uma característica comum aos brasileiros realizar estudos anteriores à implantação de empreendimentos, exceto na hipótese de busca de financiamentos bancários. Tal cultura “aventureira” tende a desaparecer, principalmente em função da competitividade crescente do agronegócio. Tanto em nível federal como estadual, no Brasil, o Estado investe em pesquisa na área agropecuária. Em nível federal, destaca‑se no setor de pesquisa a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), empresa pública federal vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Em nível estadual, representados pelos Estados da Federação, a pesquisa agropecuária é desenvolvida em universidades e secretarias de agricultura. Quanto à iniciativa privada brasileira, comparativamente pouco investe no setor de pesquisa, pois, em geral, as empresas agropecuárias limitam‑se a investir em pesquisas quase que exclusivamente em suas respectivas áreas de atuação. Em resumo, o governo federal e os governos estaduais incentivam a produção da atividade agropecuária em todos os níveis, incluindo a orientação do que produzir, como viabilizar a produção e para quais possíveis mercados deveria ser canalizada a produção. Tal planificação é direcionada basicamente para a agricultura familiar, e o governo incentiva tal fomento, inclusive do ponto de vista econômico. O Ministério da Agricultura é responsável pelos programas de incentivo. Saiba mais Para mais informações sobre esse tema, acesse: <www.agricultura.gov.br>. 24 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 0/ 05 /2 01 4 Unidade II 3.1 Segmento “antes da porteira” e seus insumos Do ponto de vista didático, é conveniente estudar o sistema agroindustrial de forma segmentada, ou seja, embora indivisível na prática, dividi‑lo visando tornar mais fácil seu estudo. Como fruto dessa divisão, é lógico abordar inicialmente o segmento “antes da porteira”. Partindo do princípio de que os insumos agropecuários melhoram, facilitam ou aumentam a produção, abordaremos as relações dos produtores de insumos com os agropecuaristas. Os insumos incluem os fatores de produção, que viabilizam a elaboração de certos serviços ou bens. Ao aplicarmos tal conceito à atividade agropecuária, pode‑se considerar que eles incluem todos os bens e serviços que viabilizam a otimização das atividades do setor agropecuário, entre os quais a disponibilidade de água, de fontes de energia, de rações, de equipamentos e maquinário, de implementos, sais minerais, produtos veterinários e fertilizantes. Tais insumos serão abordados a seguir em sua individualidade. 3.1.1 Máquinas A produção agropecuária está fortemente vinculada à utilização de vários tipos de máquina, que facilitam o exercício da atividade tanto para o produtor como para o criador, visto que há máquinas empregadas em ambas as atividades. Deve‑se também destacar que máquinas específicas possuem seus próprios implementos, os quais são imprescindíveis para seu funcionamento, e que, para cada tipo particular de serviço, há um tipo específico de máquina a ser empregada. Há um conceito errôneo relativo a máquinas e equipamentos segundo o qual seriam usados exclusivamente em grandes propriedades, sendo inúteis nas de pequeno porte. Os proprietários dos latifúndios têm mais recursos para adquirir máquinas e equipamentos adequados às suas propriedades, ao passo que os pequenos e médios proprietários adquirem diferentes tipos de insumos, entre os quais máquinas e equipamentos. Entre as categorias de máquinas mais empregadas na agropecuária,destacam‑se os tratores, os motores fixos e as colhedoras, sendo variável e às vezes múltipla a função de cada um, conforme as necessidades dos produtores. Por exemplo, alguns utilizam tratores menores equipados com arados, para o preparo de solos arenosos, e, conforme a necessidade, o mesmo tipo de trator pode ser empregado para tracionar roçadeiras, carretas e niveladoras, além de outros serviços. Contudo, embora sua função seja múltipla, a mesma categoria de trator é inútil na aração mais pesada, a qual exige tratores maiores, com tração 4x4. Outra situação distinta é observada na necessidade de desmatar áreas de vegetação arbórea de pequeno ou médio porte, na qual o proprietário, a princípio, teria de empregar dois tratores de esteira equipados com correntes que estariam presas em cada uma das pontas dos tratores esteira. Cada tipo de colhedora pode ser empregada especificamente na colheita de cana‑de‑açúcar, laranja ou grãos. No segmento das máquinas menores, podem ser citados os pivôs e as bombas de água. É imprescindível destacar que, em primeiro lugar, a relação custo‑benefício deve ser devidamente analisada antes de o proprietário adquirir suas máquinas e equipamentos, pois o mercado oferece um vasto arsenal de variada qualidade e preço. 25 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 0/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO AO AGRONEGÓCIO 3.1.2 Energia elétrica Outro insumo de fundamental importância, a ponto de ser considerada a energia básica da sociedade. Pode‑se afirmar que sem ela praticamente todos os meios de comunicação não funcionariam. A comunicação via telefonia, tanto fixa como móvel ou por meio da internet ou televisão, é no mínimo parcialmente dependente da energia elétrica, ou seja, sua limitação causa prejuízos às cadeias produtivas, pois tanto os pecuaristas como os produtores agrícolas a utilizam. 3.1.3 Outras fontes de energia No Brasil, entre as diversas fontes de energia, as mais comuns são a hidráulica e a originária de usinas termelétricas; contudo, nem sempre são as mais indicadas para empreendimentos agropecuários. Há fontes alternativas de energia que, embora necessitem de maiores investimentos de implantação, são mais adequadas para determinados empreendimentos, sem contar o fato de que há uma forte tendência do mercado em implantá‑las. Na atualidade, a sociedade tem se preocupado com o meio ambiente, cobrando dos produtores uma postura que vise à conservação do planeta. Por exemplo, o emprego de fontes limpas de energia atende, ao mesmo tempo, a uma exigência do mercado e à sustentabilidade do planeta. O uso de placas que captam a luz do Sol e a transformam em energia elétrica é um dos exemplos de fontes alternativas de energia. Assim sendo, por meio dessas placas, podemos empregar essa energia para realizar algumas tarefas, como aquecer a água, secar e desidratar produtos agrícolas, iluminar a propriedade e até mesmo gerar energia suficiente para usar bombas d’água e outros equipamentos menores. Outra fonte de energia é proveniente do aproveitamento do vento, sendo denominada eólica. Atualmente, aerogeradores são movidos por meio da utilização da energia eólica. Trata‑se, na verdade, de grandes turbinas com formato de cata‑vento ou de moinho, que ao serem devidamente posicionadas em áreas com muito vento produzem energia elétrica por meio de geradores. Tal fonte de energia tem sido utilizada para a iluminação, assim como para algumas outras tarefas da propriedade. Pode‑se afirmar que a energia hidráulica representa uma das fontes mais utilizadas de energia alternativa; fato justificável em função de seu antigo e comum emprego. Deve‑se ressaltar que a energia hidráulica é uma fonte alternativa de energia, sendo comum seu emprego em pequenas propriedades, particularmente na forma de carneiros hidráulicos e rodas d’água, os quais comumente são usados a fim de levar água para locais distantes e irrigar plantações de pequeno porte. Também por meio de resíduos orgânicos, podemos obter a energia de biomassa. Por exemplo, pela fermentação de matéria orgânica (esterco de gado bovino, suíno, caprino ou de aves), tal biomassa pode gerar energia a partir do biogás gerado em biodigestores. Para tanto, o esterco deve ser colocado em câmaras especiais, denominadas biodigestores, dentro dos quais ocorre a produção de biogás ou gás natural, o qual pode ser transformado em energia elétrica. Outra forma de obter energia elétrica é pela queima de resíduos oriundos da própria produção agropecuária. Por exemplo, ao ser colocado para queimar em fornalhas ou caldeiras, o bagaço da cana‑de‑açúcar tem potencial para gerar energia por meio de sua combustão, ou seja, fornecer energia pela cogeração. 26 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 0/ 05 /2 01 4 Unidade II 3.1.4 Correção e análise laboratorial do solo Em geral, os solos de regiões tropicais são ácidos e pobres em nutrientes, fazendo que correções de pH e fornecimento de nutrientes sejam fundamentais para maior produtividade agrícola. Tais correções podem ser obtidas por meio do uso de calcário e fertilizantes, a fim de corrigir suas deficiências e torná‑los mais férteis. Na verdade, visam proporcionar melhores condições, de modo a permitir a otimização da produção agrícola. O processo correto para a correção dos solos exige análise laboratorial, para que seja possível identificar quais seriam suas deficiências e, assim, corrigi‑las caso necessário. Frequentemente, os pequenos agricultores (proprietários de pequenas propriedades) fazem uso de corretivos sem a prévia análise do solo, apenas baseados em sua experiência pessoal ou familiar ou na cultura popular, muitas vezes desperdiçando recursos e desequilibrando o equilíbrio do solo, reduzindo consequentemente a produtividade. Profissionais capacitados podem se utilizar das análises para fazer suas recomendações, aumentando, com isso, a produtividade e os lucros do produtor. Portanto, a análise laboratorial refere‑se a uma tecnologia avançada, a qual o produtor agropecuário não pode dispensar para obter maior rendimento de sua produção. Na atualidade, o agropecuarista não deve abrir mão das novas tecnologias disponíveis no mercado, pois, se desejar executar um projeto de exploração agropecuária em determinada região cujo solo da propriedade apresenta deficiências ou necessidade de correção para plantar determina cultura, sem a devida correção do solo, tal projeto certamente não irá para a frente. Em resumo, a aplicação de análises laboratoriais é imprescindível para obter sucesso na execução de projetos agropecuários. Na prática, hoje, temos recursos tecnológicos que permitem a realização de análises do solo, da água e dos fertilizantes, além das análises clínicas dos animais voltadas à produção pecuária. A análise dos solos é fundamental para que sejam discriminados os tipos de corretivos necessários para sua correção, a fim de torná‑lo mais fértil. Outro recurso refere‑se à análise das folhas dos vegetais, cujo resultado obtido permite‑nos avaliar quais tipos de nutrientes específicos tais vegetais necessitam. Assim sendo, o produtor agrícola poderá fornecer os nutrientes necessários e em quantidades adequadas para otimizar a produtividade agrícola. A análise adequada dos fertilizantes objetiva não somente determinar a qualidade de tais insumos, mas também estabelecer, de forma precisa, a quantidade necessária ao produtor a fim de obter uma fertilização adequada. Quanto às análises clínicas dos animais, estas devem ter uma finalidade preventiva, de modo a identificar doenças e indicar quais animais estariam doentes, e também curativa, para otimizar a qualidade do rebanho e nortear o tratamento de animais doentes. Cabe lembrar que animaisportadores de doenças transmissíveis, como a febre aftosa, são potenciais fontes de infecção e podem, caso não sejam devidamente manejados, comprometer a saúde de todo o rebanho. Portanto, as análises clínicas dos animais são fundamentais para o pecuarista, no sentido de aplicar produtos veterinários adequados ao rebanho e otimizar e manter a saúde dos animais. Entre as fontes de nutrientes para as plantas, as mais utilizadas são calcário, fertilizantes nitrogenados, potássicos e fosfatados, gesso agrícola e matéria orgânica. O calcário agrícola, constituído principalmente de óxido de cálcio e de magnésio, é utilizado a fim de reduzir a acidez do solo, corrigir as deficiências de cálcio e magnésio e eliminar o efeito tóxico que o alumínio exerce sobre os vegetais. À semelhança 27 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 0/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO AO AGRONEGÓCIO do calcário agrícola, o gesso agrícola é também empregado para a correção de deficiências de cálcio do solo, mas este é mais utilizado para correções em profundidade. Segundo Araújo (2009), os adubos em geral podem ser classificados quanto ao fornecimento de macro e micronutrientes. Entre os principais macronutrientes, citamos: cálcio (Ca), magnésio (Mg), enxofre (S), fósforo (P), nitrogênio (N) e potássio (K), e micronutrientes: zinco (Zn), manganês (Mn), molibdênio (Mo), cobalto (Co) e ferro (Fe). O uso de macro e micronutrientes deve ser objeto de estudo de profissionais especializados e competentes, devendo ser empregados exclusivamente à medida que as deficiências sejam identificadas pelas análises do solo. Outra fonte de fornecimento de nutrientes são os fertilizantes, popularmente conhecidos como adubos. Eles são utilizados desde o preparo e durante toda a manutenção das culturas, das pastagens até culturas perenes. O solo pode ser fertilizado de diferentes formas: adubação na cova de plantio; em covetas laterais às plantas; adubação na superfície; adubação entre linhas de plantio; na irrigação, ao misturar o adubo com a água que será usada na lavoura. Há uma categoria com denominação diversa, mas que na realidade representa o mesmo produto: são os defensivos agrícolas, agrotóxicos ou agroquímicos. Quando empregados a fim de impedir o crescimento de espécies vegetais indesejadas, conhecidas como pragas e ervas daninhas, e até mesmo ataque de doenças na plantação, causadas entre outros por insetos, em geral moscas, formigas e lagartas, são respectivamente denominados herbicidas e inseticidas. Os herbicidas são usados no combate às ervas daninhas ou plantas concorrentes, sendo capazes de impedir seu crescimento no meio da plantação. O uso de herbicidas permite que o produtor não necessite empregar meios mecânicos para eliminar as culturas indesejadas de sua lavoura. Os compostos orgânicos são outras fontes de nutrientes utilizados na correção dos solos e na adubação, sendo gerados a partir da compostagem, da decomposição de resíduos orgânicos, como estercos, restos de vegetais ou animais mortos. Quando bem conduzida, essa técnica não produz chorume, e o resultado é um material rico em nutrientes que, além de tudo, pode melhorar as condições de aeração dos solos. 3.1.5 Mudas e sementes A propagação das plantas pode ser feita de forma sexuada (sementes) ou assexuada ou vegetativa (estaquia, miniestaquia, enxertia e mergulha). A propagação vegetativa, também denominada de propagação clonal, pode apresentar grande vantagem no melhoramento de plantas, uma vez que é possível obter‑se um número muito grande de indivíduos geneticamente idênticos aos exemplares usados para a propagação. Da qualidade das mudas produzidas dependerá o sucesso ou não do plantio em campo. Para isso, é fundamental conhecer as características de cada espécie e a técnica adequada para que se produza uma muda de qualidade. Segundo Araújo (2009), mudas podem ser geradas diretamente a partir das sementes ou de sua germinação. Geralmente é alta a probabilidade de tais mudas não reproduzirem as boas características da planta‑mãe. Na dificuldade de uso de outra técnica de obtenção de mudas, como ocorre no caso de palmeiras (babaçu, tâmara, macaúba, coco‑da‑baía, pupunha, açaí e outras palmeiras), empregam‑se mudas obtidas da forma citada. 28 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 0/ 05 /2 01 4 Unidade II No caso da obtenção de mudas por enxertia, estas são geradas a partir da fixação de parte de uma planta em outra. Nesse caso, a parte fixada é chamada enxerto ou “cavaleiro”, podendo ser representada pela ponta mais nova de um galho ou uma gema. O “cavalo” ou porta‑enxerto refere‑se à planta fixadora, que tem como característica um bom sistema radicular para dar suporte a uma copa produtiva similar à planta‑mãe. Abacates, uvas e citros são incluídos entre as culturas mais comumente cultivadas pelo sistema de enxertia. No caso de culturas onde se revela difícil a reprodução por sementes (abacaxi, figo, banana, alho e plantas ornamentais, como rosas, hibiscos, bromélias e quaresmeiras), as mudas são geradas a partir de reprodução assexuada. De acordo com Araújo (2009), são dois os tipos de sementes tradicionais encontrados no mercado: varietais e híbridas. Na atualidade, também estão presentes as transgênicas. Observação Varietal, em Botânica, significa pertencente à planta que desenvolveu resistência a uma praga ou doença que é transmitida aos descendentes. As sementes classificadas como varietais puras provêm de uma única variedade, sendo capazes de gerar ou produzir “filhas” iguais às “mães” por sucessivas gerações. Isso ocorre na impossibilidade de ocorrência de fecundações cruzadas, em que outras variedades estariam envolvidas. Café, feijão, soja, arroz e ervilha podem ser incluídos no grupo das culturas mais comumente cultivadas, em que são empregadas sementes varietais. O cruzamento de duas variedades gera sementes híbridas cujas sementes‑filhas carregam consigo 50% da carga genética correspondente a cada uma das duas variedades envolvidas das quais foram originadas. No território nacional, o coco (híbrido entre “anão” e “gigante”) e o milho podem ser apontados como as sementes híbridas mais comumente utilizadas. Convém ressaltar que não devem ser cultivadas as sementes‑filhas das plantas originárias de sementes híbridas, visto que a maior parte das mesmas não mais carrega as qualidades desejáveis do híbrido. Originalmente geradas em laboratórios pela técnica de deslocamento de um ou mais genes menos desejáveis e pela introdução de outros substitutos, podemos obter sementes transgênicas nas quais foram introduzidas características mais desejáveis, entre as quais teríamos: maior valor nutricional, resistência a doenças, maior resistência pós‑colheita (tomate), produção de medicamentos, maior resistência a determinados herbicidas (soja) etc. O consumo de produtos transgênicos ainda é assunto controverso, em virtude de que ainda não se pode afirmar que seu uso seja seguro tanto com relação a possíveis efeitos indesejáveis à saúde dos consumidores como sobre os seus efeitos com relação ao meio ambiente. No mundo, são raras as empresas produtoras dessas sementes, fato que determina que milhares de produtores tornem‑se verdadeiros “reféns” de um número limitadíssimo de fornecedores. 29 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 0/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO AO AGRONEGÓCIO Observação Transgênico é o ser vivo (bactéria, planta ou animal) em que se introduziu material genético suplementar visando obter o surgimento de novas características. 3.1.6 Inseminação artificial, matrizes e hormônios Na pecuária, embora de forma diferenteda agricultura, também se tem como meta o melhoramento dos rebanhos por meio da procriação. É muito comum a escolha de animais que revelem características desejadas, para que sejam geneticamente passadas para as gerações seguintes. Tais animais geralmente são denominados matrizes, visto que se pretende manter e transmitir suas características desejadas. A coleta do sêmen dos machos e dos óvulos das fêmeas para futura fecundação por inseminação artificial é usual. Após a obtenção dos embriões, estes são implantados no útero de fêmeas. Outra alternativa refere‑se à reprodução natural dos animais, nessa hipótese, o macho e a fêmea matriz são confinados juntos a fim de que ocorra a reprodução natural da espécie. Via de regra, os hormônios são, na verdade, produtos químicos utilizados para acelerar a atividade biológica tanto de animais (zoo‑hormônios) como de vegetais (fito‑hormônios). Os fito‑hormônios ou hormônios vegetais, em geral, são empregados como indutores de florescimento e de brotação e também como aceleradores do ciclo vegetativo da planta. Assim sendo, visto que os fito‑hormônios aceleram o ciclo vegetativo numa lavoura, por exemplo, de cítricos, seu uso pode reduzir o prazo de colheita dos frutos. Os zoo‑hormônios mais usados são capazes de acelerar o crescimento e induzir o aumento de massa corporal, de modo a induzir o rebanho a ganhar peso em menor tempo. Lembrete Na pecuária, embora de forma diferente da agricultura, também se tem como meta o melhoramento dos rebanhos por meio da procriação. 3.1.7 Rações Além das pastagens naturais, os animais herbívoros de criação são normalmente alimentados com ração. No mercado, basicamente há dois tipos, denominadas como: volumosos e concentrados. Os concentrados são basicamente constituídos de vitaminas, sais minerais e, às vezes, até mesmo antibióticos. Com relação aos volumosos, basicamente são constituídos de fibras e proteínas. Portanto, no caso dos bovinocultores, o fornecimento opcional de um tipo ou outro de ração para os animais deve buscar atender a objetivos específicos, ou seja, a lactação de vacas ou a engorda de bovinos. As rações do tipo volumoso, via de regra, são produzidas pelos pecuaristas em suas propriedades, podendo também ser adquiridas no mercado, visto 30 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 0/ 05 /2 01 4 Unidade II que há agroindústrias que as produzem. O mesmo não ocorre com as rações do tipo concentrado, que são, em geral, tanto produzidas como distribuídas por empresas especializadas. Como ocorre com os seres humanos, o organismo dos animais também necessita do sal para manutenção de suas necessidades fisiológicas. Nas rações do tipo concentrado, é comum que o sal já as integre em doses balanceadas e suficientes para o gado. Porém, sal é o nome comercial de um composto de sais minerais e vitamínicos para compensar as deficiências nutricionais das pastagens, serve para nutrir e controlar a volemia sanguínea dos animais, pois eles não têm capacidade de extraí‑la do capim. 3.1.8 Medicamentos e outros produtos veterinários Estimulantes de apetite, parasiticidas (para o combate a ectoparasitas e endoparasitas), antibióticos, probióticos e vacinas estão entre os produtos veterinários mais usados. A categoria dos probióticos inclui produtos veterinários que visam tornar o rebanho mais resistente a eventuais doenças, ou seja, aumentam a imunidade dos animais, de modo a evitar perdas e gastos com outros medicamentos. Entre os mais comuns, destacam‑se aqueles à base de lactobacilos. Os antibióticos (usados no combate a infecções, principalmente bacterianas) e os medicamentos veterinários em geral visam ao combate a doenças previamente instaladas nos animais. A categoria dos parasiticidas inclui medicamentos usados para o combate a endoparasitas (causadores de protozooses – infecções provocadas por protozoários e verminoses – infestações causadas por helmintos) e a parasitas externos ou ectoparasitas, como pulgas, moscas, carrapatos, piolhos e ácaros. Cabe ressaltar que, no caso de animais de criação, os parasiticidas são administrados ao gado somente quando a relação custo/benefício é positiva, ou seja, aumenta a lucratividade do produtor. Ao contrário, no caso dos animais de estimação, eles são tratados a fim de melhorar sua qualidade de vida. Lembrete Parasiticidas são medicamentos capazes de matar endoparasitas (como os parasitas causadores da babesiose bovina e da ascaridíase aviária) e ectoparasitas (como os causadores das miíases do gado bovino e ovino). A categoria dos estimulantes de apetite, como o próprio nome indica, visa estimular o apetite dos animais. 3.1.9 As relações entre os “proprietários rurais” e os “produtores de insumos” No segmento “antes da porteira”, deparamo‑nos com dois grupos bem distintos que atuam na área do agronegócio. Temos, de um lado, os agentes econômicos (produtores de insumos, todos os insumos em geral, seus representantes e revendedores) defendendo seus interesses e, do outro, os produtores rurais que dependem dos insumos. De forma generalizada, os produtores de insumos são representados por grandes empresas ou agroindústrias, as quais em geral monopolizam certos setores da produção 31 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 0/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO AO AGRONEGÓCIO de insumos – são os monopólios. O referido monopólio cria uma situação em que temos somente um fornecedor ou produtor de insumos de um lado e, do outro, muitos compradores – os “proprietários rurais”. No caso dos oligopólios, podemos citar a Monsanto, uma grande produtora de sementes praticamente sem concorrentes no ramo de produção e comercialização. Infelizmente os monopólios e oligopólios estão presentes no setor de insumos agropecuários praticamente como uma regra. Assim sendo, na prática, geralmente observam‑se relações típicas de oligopólios e, por vezes, de monopólios. Resumindo, do ponto de vista social e econômico, ao analisarmos as relações entre os proprietários rurais e os produtores de insumos, observamos a existência de um grupo na posição comercial de sujeitos passivos e desorganizados representado pelos agropecuaristas, ao contrário dos produtores de insumos, que constituem um poderoso grupo organizado. Obviamente, os produtores agropecuários ficam sem outra alternativa a não ser pagar elevados preços pelos insumos, que acabam sendo repassados aos consumidores finais; afinal, os produtores rurais necessitam manter o lucro em sua atividade. 3.1.10 Outras características do setor agroindustrial “antes da porteira” Com respeito ao segmento “antes da porteira”, também é importante avaliar as questões relativas aos subsídios, financiamentos ou empréstimos, infraestrutura de transportes e de comunicações e mão de obra. É comum produtores agropecuários utilizarem uma forma de empréstimo financeiro denominada “financiamento”, a fim de, para cobrir gastos do início da atividade agropecuária, realizar investimentos de infraestrutura em suas propriedades, saldar dívidas antigas ou pagar eventuais necessidades financeiras em geral. Na atualidade, não temos uma política forte voltada a incentivar efetivamente a produção agropecuária. Tais incentivos não se comparam aos subsídios governamentais disponibilizados aos produtores dos Estados Unidos e da União Europeia. Deve‑se destacar que tais subsídios são incentivos financeiros oferecidos pelo Estado aos produtores, de modo a ajudá‑los a cobrir custos da produção. Aqui, essa modalidade é praticamente inexistente. Em geral, os bancos estatais brasileiros disponibilizam a possibilidade de financiamentos ou empréstimos, e não subsídios. São exemplos o Banco do Brasil (BB), o Banco Nacional de DesenvolvimentoEconômico e Social (BNDES) e o Banco do Nordeste, que constituem os três bancos estatais que mais financiam os produtores agropecuários. Em função das necessidades particulares de cada produtor, os bancos procuram viabilizar uma linha de crédito compatível. Mas sem que ele estabeleça metas a fim de posteriormente ter condições de saldar a dívida com o banco, tal empréstimo não é recomendado. Portanto, é usual a prática das instituições financeiras exigirem que o produtor tenha elaborado um projeto agropecuário que discrimine detalhadamente como seria aplicado o recurso emprestado e também a estimativa provável de lucros a serem obtidos. Trata‑se, portanto, de uma forma de as instituições financeiras assegurarem o retorno dos valores emprestados. Instituições privadas também disponibilizam empréstimos aos produtores, com características diferentes dos financiamentos dos bancos estatais. As grandes agroindústrias viabilizam 32 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 0/ 05 /2 01 4 Unidade II empréstimos aos produtores, em contrapartida, estes são obrigados a vender seus produtos para tais agroindústrias. De certo modo, essa modalidade pode ser conveniente ao produtor, visto que ele ganha uma garantia de venda de seus produtos. Com respeito às operações de crédito na agropecuária, observam‑se mais comumente operações distintas realizadas ou por produtores de insumos ou agropecuários. Por meio de uma comunicação eficaz, o produtor tem a possibilidade de identificar corretamente onde há demanda por seus produtos e também pode divulgá‑los de forma mais eficiente. Sendo a infraestrutura de comunicação eficaz e adequada, ele terá condições de acompanhar, em tempo real, tudo o que ocorre na sua propriedade, mesmo estando fisicamente distante, e interferir em sua atividade sem precisar estar presente na cidade. A infraestrutura interna (relativa à planta física construída na propriedade rural: armazéns, currais, sede da fazenda e outras construções voltadas à produção) e externa é essencial para o agronegócio. No caso da infraestrutura externa, está relacionada particularmente às vias que possibilitam o acesso da produção ao mercado consumidor. Quanto às estradas que chegam e saem das propriedades rurais (incluindo as vicinais), sua importância é tão grande que devem ser consideradas ao ser estipulado o preço final do produto. Na eventualidade de as vias de acesso à propriedade rural serem de péssima qualidade, fato comum em nosso meio, o produtor não terá outra alternativa a não ser elevar o custo final dos produtos, pois tal fato acarreta elevados custos tanto para viabilizar a chegada de insumos necessários à propriedade como para escoar a saída da produção. Assim sendo, não há como ignorar que a precariedade da infraestrutura externa eleva os custos para o consumidor final; fato que tem impacto econômico negativo tanto para os consumidores finais (que terão no mercado consumidor produtos mais caros) como para os próprios produtores agropecuários. Ao considerarmos os produtores agropecuários, cuja produção é direcionada particularmente à exportação, os problemas de infraestrutura externa geram perda de competitividade. Tal perda é decorrente das dificuldades impostas ao produtor, cuja produção demora mais tempo para chegar aos portos. Para que cheguem ao mercado externo, os produtos terão custo elevado, o que gera perda de competitividade no mercado internacional. Resumindo, além dos altos custos determinados por problemas de transporte, o produtor ainda terá de pagar tributos de exportação, os quais, somados, podem tornar economicamente inviáveis a exportação de seus produtos. No território nacional, a maioria das estradas e dos portos são de péssima qualidade. Como agravante, praticamente não há ferrovias e hidrovias. Temos uma extensa malha fluvial pouco utilizada, e uma malha rodoviária precária, que dia a dia torna‑se cada vez mais congestionada e sem a devida conservação. Praticamente toda produção é transportada em caminhões que, em geral, operam acima da capacidade (fato que compromete a qualidade das estradas), e como agravante há o descaso do Poder Público com relação à malha rodoviária brasileira. Outra dificuldade dos produtores rurais brasileiros refere‑se à aquisição de mão de obra especializada. O nível de escolaridade no Brasil é muito baixo se comparado ao de outros países, principalmente o dos trabalhadores que atuam no setor agropecuário. 33 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 0/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO AO AGRONEGÓCIO Ainda hoje, impera no Brasil a mentalidade de que os trabalhadores do campo não necessitam de instrução, visto ser um trabalho predominantemente braçal. Tal visão não condiz com a realidade atual, pois o trabalho na produção agropecuária tornou‑se altamente especializado. A carência de mão de obra gera custos, pois o próprio agropecuarista tem de investir no treinamento de sua mão de obra, como ocorre no caso da necessidade de profissionais capazes de operar máquinas colhedoras ou tratores de última geração. Mesmo no caso da contratação de profissionais já devidamente treinados e experientes, tal mão de obra tem custo elevado para o produtor, visto a carência de profissionais habilitados no mercado de trabalho. A demanda por mão de obra especializada não para de crescer no mercado agropecuário. Várias universidades, escolas técnicas (Etecs) e cursos técnicos e profissionalizantes espalhados pelo Brasil oferecem cursos direcionados ao mercado agropecuário. Há também instituições governamentais, como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), que capacitam mão de obra para atuar no setor do agronegócio. A referida demanda crescente de mão de obra, tanto na agroindústria como no agronegócio, é generalizada, ou seja, está presente em todas as áreas, incluindo desde as atividades diretamente ligadas à produção até os gestores do agronegócio (administradores das propriedades rurais). 3.2 Segmento agroindustrial “dentro da porteira” O segmento agroindustrial “dentro da porteira” refere‑se à produção agropecuária propriamente dita. Tal segmento inclui desde o preparo para o início da produção até ela ser comercializada. Para uma melhor abordagem didática do tema, o segmento “dentro da porteira” será abordado de forma separada, ou seja, serão discutidas as relações que ocorrem nos ramos da agricultura e da pecuária separadamente, embora haja pontos em comum na produção agrícola e na criação de animais. 3.2.1 Produção agrícola Consideraremos a produção agrícola como todo o conjunto de atividades desenvolvidas na zona rural, as quais são necessárias ao preparo do solo, ao monitoramento do desenvolvimento da plantação, à colheita, à armazenagem interna da produção e ao gerenciamento das propriedades produtivas. Tais atividades visam à obtenção do máximo de produtos de boa qualidade com o menor custo possível. O gerenciamento da propriedade produtiva torna‑se, cada vez mais, importante, pois atualmente os produtores agrícolas não se limitam a dar valor apenas ao ato da produção, e sim consideram prioritária a administração e a gestão da propriedade, pois sabem que a boa gestão é a chave do sucesso para qualquer empreendimento agropecuário. 3.2.2 Preparo do solo, plantio e cuidados com a plantação O preparo do solo refere‑se ao processo que o torna propício ao plantio; em geral, tal correção é obtida por meio do uso de corretivos e de fertilizantes. Emprega‑se um termo técnico no caso de uma área outrora improdutiva, mas que é transformada a ponto de ser utilizada na produção agrícola: a incorporação dessa área beneficiada ao processo produtivo. Seapenas necessitamos recuperar um solo que já estava sendo empregado na agricultura, tal processo é bem mais simples e comum. 34 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 0/ 05 /2 01 4 Unidade II De modo geral, há a necessidade de que se tenha um pouco mais de cuidado caso o solo esteja sendo usado pela primeira vez na agricultura. Caso isso ocorra, opta‑se pelo processo de desmatamento, seguido da limpeza dos resíduos remanescentes, como tocos de árvores e raízes. Evidenciando que atualmente, antes de qualquer prática nesse sentido de desmatar uma área, deve‑se consultar a legislação ambiental vigente para a região e seguir todos os procedimentos legais. Usando os princípios da agricultura moderna, seguida da limpeza do solo, deve ser realizada a análise laboratorial do solo e, após o resultado de tal análise, o produtor tem o diagnóstico das características e possíveis deficiências e, assim, pode aplicar os corretivos e os fertilizantes adequados a fim de torná‑lo apto para o cultivo das mudas ou sementes. Caso o levantamento topográfico do local indique a necessidade de terraplenagem, ou adequação para implantação das curvas de nível a fim de reduzir o risco de erosão, tais processos devem ser adotados juntamente com a aplicação de corretivos. Assim sendo, em seguida ao desmatamento e à limpeza, e também às análises do solo, ocorre a parte prática propriamente dita, que muitas vezes inclui: aração ou gradação e uso de corretivos e adubos, aplicação de inseticidas e herbicidas e, finalizando o processo, plantio. Define‑se o plantio como o ato por meio do qual o produtor incorpora ao solo as sementes da cultura desejada a fim de que germinem e cresçam ou, às vezes, usando mudas desenvolvidas nos viveiros. Exemplificando, podemos citar vegetais cujas sementes podem ser diretamente lançadas ao solo, como milho, arroz, feijão, enquanto café, manga, coco e tomate são vegetais, a princípio, plantados em mudas. Quanto aos cuidados com a plantação, estes se referem a ações a serem adotadas pelo produtor para que sua lavoura cresça sem problemas, e incluem ações como combater pragas e doenças que comprometam a produção e a qualidade dos produtos obtidos, manter a lavoura limpa, realizar irrigação na medida certa e aplicar a adubação adequada. Para que se mantenha a lavoura limpa, é necessária a remoção de ervas daninhas, que invadem e crescem no meio da plantação. Elas podem concorrer com a plantação, seja pelos nutrientes do solo ou mesmo pelo solo, sendo excluídas ou por meio da aplicação de herbicidas ou de modo manual ou físico, como ocorre na remoção por meio de tratores e enxadas. Outra forma de manter a lavoura limpa deve ser executada retirando‑se possíveis materiais ou objetos descartáveis, como garrafas plásticas, latas em geral e até mesmo lixo. A irrigação da plantação pode ser considerada um dos principais cuidados a serem aplicados à lavoura, salientando que não corresponde ao ato de molhá‑la, mas, sim, de fornecer aos vegetais a quantidade de água adequada ao desenvolvimento da plantação, pois tanto o excesso como a carência de água são nocivos à plantação. Para combater as pragas e doenças que podem atingir a plantação, em geral empregam‑se herbicidas e inseticidas (agrotóxicos). Toda vez que for observada a ocorrência de determinado tipo de praga ou doença que represente risco à lavoura, o produtor deverá aplicar inseticidas fungicidas ou mesmo produtos que a protejam, tornando‑a saudável. Finalmente, a adubação permitirá ao produtor adicionar nutrientes e minerais ao solo a fim de otimizar a produção. É também importante ressaltar que tal tarefa deve ser atribuída a profissionais 35 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 0/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO AO AGRONEGÓCIO devidamente habilitados, que farão a análise do solo para poder indicar o tipo adequado de prática a fim de que a cultura possa se desenvolver, assim como a técnica de adubação a ser empregada. Lembrete Plantio é o ato por meio do qual o produtor incorpora ao solo as sementes da cultura desejada a fim de que germinem e cresçam. 3.2.3 Ciclos vegetativos, tipos de vegetais, viveiros e mudas Em função do tipo de vegetal, este necessita de um tempo para completar sua atividade biológica, para que as plantas produzam frutos de maneira completa, visando serem consumidos e estarem capacitados a gerar outros vegetais. O conceito de ciclo vegetativo de uma planta inclui desde o período de sua germinação até sua colheita. As plantas podem ser classificadas em anuais, perenes e semiperenes, em função direta do ciclo vegetativo da espécie. Assim sendo, denominam‑se anuais as espécies dotadas de um ciclo vegetativo de até 12 meses ou 1 ano, período em que o vegetal cresce, dá frutos e morre. Do ponto de vista prático, a consequência de tal fato é que, após completar seu ciclo vegetativo, o produtor terá de reiniciar todo o trabalho da lavoura, incluindo desde o preparo do solo, o plantio e os cuidados com a plantação, até finalizar uma nova colheita, fato que terá de ser repetido de forma sucessiva. Os vegetais classificados como perenes apresentam ciclos vegetativos prolongados no tempo. Após nascerem, frutificam e se reproduzem inúmeras vezes, por vários anos, até o final de seu ciclo vegetativo. Já os vegetais semiperenes possuem ciclo vegetativo que não se completa em cerca de um ano, porém possuem ciclos longos como as culturas perenes. Assim sendo, tais plantas florescem e se reproduzem algumas vezes antes que seu ciclo vegetativo venha a ser completado, o que ocorre em dois ou três anos. Algumas espécies de vegetais não são colocadas para germinar diretamente na plantação, o início de seu ciclo vegetativo é realizado em viveiros. Suas sementes são colocadas para germinar, visto que não iriam germinar caso fossem lançadas diretamente no solo. Além disso, depois de terem germinado, essas plantas tornam‑se um pouco mais fortes, suas sementes germinadas e crescidas geram mudas, as quais deverão ser transferidas para o solo anteriormente preparado e destinado a receber a lavoura. Observação Os viveiros de plantas ou “berçários de plantas” são áreas reservadas ao plantio principalmente de árvores, arbustos e plantas vivazes, até que se tornem aptas a serem transplantadas ou comercializadas, sendo também locais de semeaduras de plantas anuais ou sementeiras. 36 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 0/ 05 /2 01 4 Unidade II 3.2.4 Colheita O último passo em termos de produção agrícola é representado pela colheita. Os passos anteriores devem ser planejados e executados de forma a se obter uma colheita farta e de alta qualidade. Tal objetivo somente será atingido a partir do momento que o produtor compreenda que cada tipo de cultura exige um tipo particular de colheita. Em função do produto a ser colhido, será necessário o emprego de máquinas, assim como, dependendo do tipo particular de cultura, a colheita terá de ser, obrigatoriamente, manual. Por exemplo, no caso de lavouras de grãos, como o milho e a soja, é necessário que a colheita venha a ocorrer quando os grãos estiverem secos. No caso específico da soja, sua cultura é predominantemente direcionada à exportação. Assim sendo, é plantada em grandes áreas por produtores que podem dispor de elevados recursos financeiros e que efetuam a colheita com máquinas (grandes colheitadoras), as quais permitem que a produção seja colhida de forma rápida e eficiente. 3.3 Segmento agroindustrial “depois da porteira” O funcionamento da agroindústria necessita obrigatoriamente de insumos em quantidade e qualidade suficientes. Caso o agroindustrialdisponha de muita matéria‑prima de baixa qualidade, ele poderá até mesmo produzir com esse material, porém tenderá a ser rejeitado pelo próprio mercado. Problemas também ocorrerão caso a situação seja inversa, pois a agroindústria tem prazos de entrega a cumprir e na quantidade anteriormente acordada. Caso não consiga cumprir com seus contratos de fornecimento, a empresa terá sua imagem maculada no mercado. Assim, é necessário que encontre formas de assegurar suas matérias‑primas em quantidade, qualidade e no prazo certo, a fim cumprir com seus contratos de fornecimento. 3.3.1 Comercialização de produtos Particularmente, a comercialização de produtos alimentícios exige cuidados especiais, que vão desde o manuseio até o estabelecimento de prazos de validade muito bem definidos. Deve‑se ressaltar que o cumprimento de tais prazos é dependente de atividades secundárias. É necessário, ainda, fazer uma análise das margens de comercialização de preços dos produtos agrícolas para ter mais esclarecimento sobre as variações nos preços planejados, já que a natureza biológica da produção agrícola, como variações climáticas, pragas ou doenças, contribui para a instabilidade dos preços finais do produto (produtor, atacado e varejo). 3.3.2 Insumos secundários Consideram‑se insumos secundários os materiais destinados a dar suporte à produção agroindustrial, incluindo, por exemplo, os lubrificantes das máquinas, os aditivos usados nas agroindústrias de produção de alimentos, como conservantes e corantes e os combustíveis. Tais insumos são necessários para que se obtenha uma produção de qualidade. Embora não apareçam de forma mais nítida, os insumos secundários encontram‑se na base das atividades de produção da agroindústria. 37 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 0/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO AO AGRONEGÓCIO Há fatores capazes de alterar a qualidade e a validade dos produtos agropecuários, como a manutenção da integridade da embalagem e do nível ideal de umidade relativa do ar e seu armazenamento em temperatura ideal. Portanto, é necessário muito cuidado com esses produtos antes que cheguem às mãos dos consumidores finais. 3.3.3 Registro da agroindústria A autorização de direito de funcionamento das agroindústrias é uma exigência legal, obtida do registro da agroindústria no Ministério da Fazenda (para o devido cálculo do Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI) e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, além do registro na Junta Comercial, na Secretaria da Fazenda e na Prefeitura; portanto, tal processo é bastante burocrático. Complementando, a marca a ser ostentada pela agroindústria tem de ser registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Outra exigência refere‑se às licenças de funcionamento dos órgãos responsáveis pela proteção do meio ambiente. Caso os registros sejam destinados a indústrias agropecuárias da área alimentícia, também será necessário registrá‑los nos Ministérios da Saúde, Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O processo de registro de produtos da área alimentar exige o preenchimento de formulários, além da descrição do processo produtivo, formulários, incluindo desde a tecnologia e equipamentos utilizados até a composição do produto e suas formas de conservação, tudo deve ser anexado ao pedido de registro. Os pedidos de registros do rótulo e do produto devem ser entregues no mesmo local, sendo exigida a reprodução fiel do rótulo a ser utilizado na embalagem, que deve conter algumas informações obrigatórias, como: identificação do produto, sua marca, informação de que a referida indústria é brasileira, seu valor nutricional, data de fabricação, lote do produto, prazo de validade etc. Saiba mais Diante desse cenário, existem programas e ações governamentais voltados à ampliação do crédito rural que visam garantir a segurança alimentar e a comercialização dos produtos agropecuários. Destacamos o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf); Empréstimos do Governo Federal (EGF); Custeio, Investimento, Aquisições do Governo Federal (AGF); e Garantia e Sustentação de Preços (GSP). Para mais informações, acesse: <https://www.tesouro.fazenda.gov.br> 3.3.4 Logística aplicada ao Agronegócio Segundo Araújo (2009), define‑se Logística como um modo de gestão que visa cuidar, em particular, da movimentação nos diversos segmentos da cadeia produtiva de qualquer produto, inclusive nas 38 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 0/ 05 /2 01 4 Unidade II diferentes cadeias produtivas do agronegócio. Refere‑se, portanto, às operações de apoio aos processos produtivos e às atividades direcionadas à distribuição física dos produtos na comercialização e ao conjunto de atividades relacionadas a suprimentos (incluindo transporte, armazenagem e mecanismos de distribuição). Assim, a logística visa à maior eficiência no transporte e na armazenagem dos insumos e dos produtos, revelando importância crescente na formação de preços de produtos brasileiros. Deve‑se ressaltar que nossos custos de produção são relativamente baixos, mas os de transporte da produção, muito altos. Do ponto de vista didático, seu entendimento torna‑se mais fácil ao dividirmos o estudo da Logística em três etapas: suprimentos, operação de apoio à produção agropecuária e distribuição. A Logística de Suprimentos tem como objetivos viabilizar a chegada de insumos e serviços às agroindústrias no tempo certo e reduzir os custos da produção e comercialização. Os insumos elevam os custos de produção do agronegócio, não sendo raras as vezes em que o transporte da empresa fabricante até a propriedade onde seria utilizado é mais caro que seu preço. Assim, cabe à logística de suprimentos viabilizar um mecanismo em que o insumo possa chegar à propriedade sem muita elevação de preço. A Logística de Operação e apoio à produção visa a uma produção mais eficiente quanto possível. Na prática, deverá indicar como operacionalizar para impedir a formação de estoques desnecessários, geradores de ônus para o empreendedor. Sua tarefa é encontrar um meio termo entre o volume de insumos necessários e a produção, tendo uma margem de reserva emergencial. Após a obtenção da produção, essa área terá de cuidar do transporte dos produtos dentro da propriedade e, a seguir, do transporte e da entrega desses produtos ao mercado consumidor. Já a Logística de Distribuição deverá gerenciar os processos de armazenagem e transporte de produtos agropecuários, levando em conta, em alguns casos, a perecibilidade rápida e a sazonalidade da produção. Dependendo do modo de armazenagem dos produtos, eles irão se manter íntegros, por maior ou menor tempo. Cada produto deverá ser considerado individualmente para que se opte pelo método de armazenamento adequado. Exemplificando, alguns precisam ser congelados (carnes em geral, frutas mantidas em baixa temperatura e elevada umidade relativa do ar). Observação O agribusiness incorpora em seu conceito os agentes que imprimem dinâmica a cada elo da cadeia que sai do mercado de insumos e fatores de produção (antes da porteira), passa pela unidade agrícola produtiva (dentro da porteira) e vai até o processamento, marketing, transformação e distribuição (depois da porteira). 39 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 0/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO AO AGRONEGÓCIO 3.3.5 Mercado consumidor Supermercados e hipermercados são grandes lojas que abrigam imensa variedade de produtos, de todos os tipos, preços e qualidade. Trata‑se de uma tendência mundial a formação de redes onde o consumidor encontra tudo de que precisa em um único local.Em geral, são representados por grandes redes de elevado capital. O supermercado representa um dos maiores formadores de preços de produtos, às vezes, o maior deles. Detém um grande o número de vendedores que almejam ser seus parceiros, sendo grande o número de compradores que procuram os supermercados. Grandes redes demandam um imenso volume de produtos, revendendo‑os para uma também imensa quantidade de consumidores. Ao contrário, o produtor ou intermediário tem somente uma rede de supermercados para vender seus produtos, e o consumidor conta somente com uma opção de vendedor. Os pontos de venda são representados pelos pequenos comerciantes — mercados, mercadinhos, sacolões e armazéns, pontos que em geral atendem e tornam‑se vinculados a clientes específicos, fisicamente mais próximos de tais estabelecimentos, cuja capacidade de formação de preços é pequena, visto que é comum adquirirem seus produtos nos grandes supermercados, além de contarem com um número limitado de clientes. Os pequenos estabelecimentos, caso subam muito seus preços, perdem os clientes, que certamente procurarão outros estabelecimentos para comprar os produtos de que necessitam. A maioria dos produtos comercializados em feiras livres é perecível, como frutas, verduras e hortaliças. Em geral, não possuem embalagens sofisticadas nem beneficiamentos, ou seja, são comercializados quase sem distinção da forma como foram colhidos. Conclui‑se, assim, que o percentual de perda desses produtos é elevado e que as feiras livres têm pouca importância na formação geral de preços. Exportar produtos agrícolas e pecuários é uma tarefa altamente especializada, limitando esse mercado às grandes empresas cujas atividades são direcionadas para essa área. O mercado externo é bem mais exigente que nosso mercado interno. No Brasil, o consumidor gradativamente vem consumindo, cada vez mais, apenas produtos de alta qualidade, prática que no mercado americano e europeu é antiga. O sucesso no mercado internacional exige do vendedor brasileiro produtos de alta qualidade, pontualidade na entrega e competitividade, itens que não podem falhar nem sequer isoladamente, a fim de garantir o sucesso do empreendimento. Caso o empresário rural consiga se firmar no mercado externo, terá garantido grande volume de vendas e uma ótima rentabilidade, visto que receberá em dólar ou euro, moedas mais valorizadas que a nossa. Do ponto de vista da formação dos preços, os produtos exportados seguem um preço internacional, de modo que pouco interferem em nosso mercado. Contudo, conforme a “lei da oferta e procura”, se determinado segmento, como a produção de carne brasileira, por exemplo, atinge o reconhecimento internacional, mais e mais produtores e empresários buscarão o mercado externo. Quanto maior o volume de exportações, observar‑se‑á uma tendência de redução do volume do produto destinado ao mercado interno, o qual pressionará a elevação de preços em nosso mercado. Contrariamente, se por qualquer motivo o mercado internacional deixar de adquirir a carne brasileira, os empresários terão de vender esse excedente no mercado interno, obviamente a preços bem menores que os outrora praticados. 40 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 0/ 05 /2 01 4 Unidade II Com relação às chamadas commodities (produtos agropecuários com cotação em Bolsa de Valores), suas operações de compra e venda ocorrem no sistema da Bolsa de Valores, ou seja, o valor a ser pago pelo produto é, em média, o valor determinado pela Bolsa de Mercadorias de Chicago (Estados Unidos), como é o caso da soja e do milho. As ações dos importadores e dos exportadores se assemelham, porém ocorrem em sentido contrário, ou seja, à medida que o exportador busca vender seus produtos no exterior para obter maior rentabilidade, o importador busca adquirir produtos no exterior e vendê‑los no mercado interno, visando obter maior lucratividade. Em geral, os importadores objetivam atingir consumidores bem definidos, os quais baseiam seu consumo principalmente na qualidade, no sabor e até no status, deixando o preço em segundo plano. Tal fato significa que, mesmo no caso de produtos mais caros que os produzidos no Brasil, o consumidor pagará o valor cobrado. Exemplificando, temos o mercado de vinhos, produto agroindustrial fabricado em larga escala no Brasil. Há muitas fábricas de vinhos brasileiros que vendem suas garrafas a um preço pelo menos dez vezes menor que a de vinhos importados da França; porém, o consumidor brasileiro não reluta em pagar e consumir o produto francês, em função da melhor qualidade do produto importado. Qualquer que seja o empreendimento agropecuário, terá como objetivo atingir o consumidor, o último elo do processo de comercialização e o principal agente econômico do agronegócio. O setor agropecuário visa sempre produzir um maior volume de produtos de qualidade a fim de ganhar o consumidor final, visto que suas exigências são cada vez maiores, tal fato coloca à prova o setor agropecuário no sentido de atender às tendências de consumo para que seus produtos mantenham‑se competitivos. 4 ECONOMIA FLORESTAL As recentes preocupações com a saúde do planeta Terra instigaram os economistas interessados no lado mais sombrio e pernicioso do processo econômico. Tudo estava fora das suas práticas analíticas habituais, enquanto a maioria dos economistas estava focada em resultados positivos e na versão monetária do processo de desenvolvimento. O meio ambiente é um dos assuntos mais complexos e interdisciplinares debatidos na atualidade, que requer uma visão unificadora das técnicas da ciência econômica com aspectos do direito de propriedade. Usamos de forma insustentável os recursos naturais, de modo lesivo ao meio ambiente. Temos uma forma de interferir predominantemente econômica e produtiva em relação aos recursos naturais. Atualmente, domina um padrão insustentável de exploração, que tem colocado em risco a manutenção física de tais recursos, além dos múltiplos bens e serviços que eles fornecem. Como exemplo, no Brasil, temos a expansão da fronteira agropecuária como principal causa do desmatamento florestal na Amazônia paraense, particularmente determinada pela pecuária de corte em regime extensivo (CARVALHO, 2013). 41 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 0/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO AO AGRONEGÓCIO Saiba mais Você pode encontrar detalhes sobre os tipos de produção agropecuária no seguinte documento da Embrapa: “Sistemas de produção de gado de corte no Brasil: uma descrição com ênfase no regime alimentar e no abate”. Disponível em: <http://www.cnpgc.embrapa.br/publicacoes/doc/doc_ pdf/doc151.pdf> A principal razão da escassez de recursos naturais resulta da busca alucinada pelo lucro privado; no entanto, alguns economistas, como Hardin, postulam o contrário e defendem que os direitos de propriedade privados são fundamentais para a proteção do meio ambiente. Recentemente a ciência econômica voltou‑se para problemas como a escassez dos recursos naturais, tendo verificado a incapacidade de o mercado resolver tal problema, necessitando da intervenção governamental a fim de minimizá‑lo. Problemas ambientais, como os desmatamentos, a erosão, a poluição do ar e da água, tornaram‑se muito comuns, em particular em virtude do aumento das atividades econômicas. Hoje, a má definição dos direitos de propriedades reflete na utilização sem controle dos recursos naturais, pois os responsáveis pela produção e pelo consumo dos recursos ambientais são mal definidos, sendo a fiscalização precária em função da grande extensão dessas áreas e também das diferentes comunidades que habitam as florestas. A definição dos direitos de propriedade revela‑se fundamentalpara a eficiência das políticas públicas direcionadas ao meio ambiente. A má definição dos direitos de propriedade em áreas florestais, em particular nas florestas da América Latina, gera problemas tanto para as autoridades governamentais como para as instituições privadas. Portanto, consequências político‑econômicas e ambientais são geradas pela má definição dos direitos de propriedade no meio ambiente, particularmente em áreas florestais, onde são observados danos causados ao meio ambiente decorrentes da falta de regras de uso ou regimes de posse em tais áreas. Ignorou‑se, durante muitos anos, a relação entre economia e meio ambiente. Recentemente tal visão foi alterada em função dos vários estudos publicados na área, que apontaram mudanças no meio ambiente, geradas pela exaustão de recursos naturais, queimadas, desmatamentos, poluição, entre outros. Esses estudos focaram também a relação entre sociedade e meio ambiente e como tal relação afeta e é afetada pelas políticas institucionais e pela economia. De forma geral, os recursos naturais e do meio ambiente são diferentes de muitos outros bens e serviços econômicos. Ambos, ao mesmo tempo, são considerados fonte de recreação para as famílias e indivíduos e parte integrante de ciclos ecológicos e de insumos para os processos produtivos. É, portanto, de fundamental importância entender as relações entre o meio ambiente e o sistema econômico e como interferem na qualidade de vida das atuais e futuras gerações. 42 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 0/ 05 /2 01 4 Unidade II No território nacional, um exemplo clássico da visão monetária de desenvolvimento é a região amazônica, pelo menos duas vezes mais rica do que trinta anos atrás, conforme indica seu Produto Interno Bruto (PIB). Esse crescimento econômico, no entanto, ocorreu principalmente graças a atividades baseadas na destruição da floresta, ou seja, da exploração madeireira e da pecuária extensiva. Para limitar essa forma predatória de desenvolvimento, é preciso desenvolver atividades econômicas que não exerçam pressão sobre a floresta, promovam riquezas e assegurem emprego e renda à população. Na prática, promover o desenvolvimento da Amazônia e o bem‑estar de seus habitantes por meio do extrativismo artesanal tem se revelado uma ilusão, visto que a industrialização de uma matéria‑prima da floresta é feita de forma extensiva, porém os resultados podem gerar lucros incalculáveis. Somos o país da maior floresta tropical do mundo, contudo nossa economia florestal é muito limitada, pois não temos uma política nacional para uso e gestão de florestas. Lembrete A principal diferença entre “crescimento econômico sustentável” e “desenvolvimento econômico sustentável” é que o crescimento não leva em conta as questões sociais, e o desenvolvimento sim. Sem uma política nacional que seja cumprida à risca, o sistema florestal brasileiro se autodestruirá. Temos de compensar o vazio legal por meio do fortalecimento do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), criado em 2006, mas que ainda não atende às expectativas depositadas pela sociedade brasileira em seu funcionamento. Observação O Serviço Florestal Brasileiro tem trabalhado para reunir dados e informações, os mais atuais possíveis, de diversas fontes nacionais, produzidas pelos principais atores envolvidos na gestão, no uso, na conservação e na recuperação das nossas florestas, em um formato conciso para praticidade de consulta. Esse esforço coaduna‑se com a competência do Serviço Florestal de criar e manter um Sistema Nacional de Informações Florestais. 4.1 Economia Sustentável Imagine o seguinte cenário futurista: você vive em um mundo altamente tecnificado, onde a tecnologia alcançou níveis inimagináveis até para os dias atuais. Tudo funciona perfeitamente: os veículos, o transporte público, as pessoas têm acesso à saúde, educação e moradia. De repente, esse cenário sofre uma pequena alteração: as fontes de petróleo, que ainda são uma parte importante da base energética, entram em colapso. As reservas de água secam e cidades inteiras ficam sem energia elétrica; rapidamente, todos ficam sem água até para beber. O que você faria se tivesse toda a tecnologia 43 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 0/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO AO AGRONEGÓCIO à disposição, mas não tivesse onde conseguir um só copo de água para saciar sua sede ou o mínimo de água para tomar um banho diário? Quanto você seria capaz de pagar para conseguir um copo de água? Como isso foi acontecer? Será que isso poderia ser evitado? Em 1972, na Suécia, realizou‑se a Conferência de Estocolmo, considerada o primeiro esforço mundial para discutir as relações do homem e o meio ambiente, pois os níveis de poluição gerados pelas indústrias começaram a preocupar alguns setores da sociedade. Dez anos depois, uma comissão reuniu‑ se com o intuito de fazer uma avaliação sobre essa conferência e produzir um documento formal sobre as discussões que lá ocorreram. Então, em 1987, foi publicado o Relatório Brundtland, um documento elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, intitulado Nosso Futuro Comum (Our Common Future), no qual foi introduzido o conceito de desenvolvimento sustentável e que apresenta uma visão crítica do modelo de desenvolvimento adotado pelos países industrializados e reproduzido pelas nações em desenvolvimento, ressaltando os riscos do uso excessivo dos recursos naturais sem considerar a capacidade de suporte dos ecossistemas. Todas as atividades produtivas exigem custos específicos e envolvem maiores ou menores impactos ambientais e sociais, que podem ser observados e analisados direta e/ou indiretamente. Agregar o conceito de desenvolvimento sustentável aos negócios está ligado à percepção de aspectos que vão além de entender um contexto apenas de ecossistemas físicos, mas também compreender que tudo está interligado e que existe uma interdependência entre todos os elementos do sistema. Numa estrutura econômica, isso deve ocorrer de forma gradativa, pois envolve aspectos culturais, hábitos que se repetem e que servem como degrau para que se evolua para o próximo aspecto a ser considerado. Do mesmo modo que nossos ancestrais sofreram com a escassez dos recursos da natureza, por causa de seus hábitos exploratórios, que faziam com que fossem nômades, migrando cada vez que os recursos se esgotavam, eles foram observando e aprendendo com os resultados, passando a dominar técnicas de produção agrárias e pecuárias que foram além do extrativismo e possibilitaram a mudança de seus hábitos e uma vida sedentária. Lembrete Essas alterações nos hábitos e nos costumes dos nossos ancestrais foram a base que permitiu a eles deixar de ser nômades e se fixar em determinadas regiões, tornando‑se sedentários. Faz‑se necessário novamente que o homem atual também recomece a observar que, do mesmo modo que no passado, ele também precisa compreender que os recursos ambientais são finitos e os ciclos da natureza têm capacidade de resiliência, mas também limitações. É necessário entender que o tempo para que os ciclos de cada parte dessa cadeia se completem e consiga sustentar as próximas gerações é diferente e precisa ser respeitado. O desenvolvimento sustentável baseia‑se no conceito de sustentabilidade, definido, segundo Bruntland (1987), como a satisfação das necessidades da geração presente sem comprometer a 44 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 0/ 05 /2 01 4 Unidade II capacidade das gerações futuras. Sua base é formada pelo tripé economia–ambiente–sociedade, partindo da premissa de que as atividadesdevem ser economicamente viáveis, socialmente justas e ambientalmente corretas. Mas, para atingir esses objetivos, é preciso analisar cada parte separadamente e sua relação com os demais e, da mesma forma que o mercado agrícola, ampliar a percepção para o conjunto de forma sistêmica. Contudo, até que ponto as necessidades são reais e compatíveis com os recursos do planeta? Sustentabilidade econômica Sustentabilidade social Sustentabilidade ambiental Nova gestão Figura 3 – Representação do tripé da sustentabilidade O termo sustentabilidade, quando aplicado institucionalmente, pode ser considerado como o desenvolvimento de um processo ou sistema de gerenciamento que ajuda a criar uma economia vibrante e com alta qualidade de vida, respeitando a necessidade de manter os recursos naturais e proteger o meio ambiente. Programas sustentáveis são aqueles que resultam no compromisso de uma instituição pela saúde ambiental, social e econômica, tanto individual quanto institucionalmente, sendo assim equilibrados. No Agronegócio, o desenvolvimento sustentável deve contemplar as questões sociais, ambientais e econômicas em todo o conjunto de operações e transações, desde o “pré‑porteira”, “dentro da porteira” e “pós porteira”, desde a fabricação dos insumos agropecuários, das operações de produção nas unidades agropecuárias, até o processamento, a distribuição e o consumo dos produtos agropecuários. Integrar definitivamente o conceito de sustentabilidade, em todos os elos da cadeia produtiva, é conseguir um equilíbrio dinâmico, capaz de movimentar e gerar melhorias em todo o sistema de forma proporcional. É necessário compreender a ótica social e sua interação com os aspectos econômicos e ambientais e o que permeia tais interações. Sob a ótica econômica, é preciso analisar seu envolvimento com questões sociais para a geração dos lucros e os custos ambientais para tal. Sob a ótica ambiental, procurar compreender o contexto cultural, as relações do homem com a natureza e suas implicações diretas na economia são reflexões e análises que devem orientar para contemplar esses aspectos. Equilibrar esses três aspectos e suas interações é atingir a sustentabilidade, pois se trata de um equilíbrio dinâmico e, sempre que se altera qualquer um dos componentes, altera‑se o ponto de equilíbrio do conjunto todo. 45 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 0/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO AO AGRONEGÓCIO Ao analisar a ótica dos aspectos sociais, é necessário entender que a forma como se conduz o agronegócio deve levar em conta a qualidade e o padrão de vida dos trabalhadores, o acesso à educação e a capacitação e igualdade de oportunidades, em que os atores sociais teriam condições de melhorar e desenvolver seus potenciais, melhorando não só a si mesmos como também todo o processo no qual estão atuando. Talvez aqui coubesse a reflexão de se colocar no lugar do outro. Por exemplo: eu sou seu patrão e você é meu empregado. Eu o trato como eu gostaria de ser tratado? Que benefícios você acha que tem méritos para receber? E se eu fosse o seu empregado, como você agiria se fosse meu chefe? Como agiria com seus funcionários? O que exigiria deles? Quanto a essas questões, apesar dos avanços, o caminho a ser trilhado é longo; pois, quando se começa a permear e observar da ótica econômica, conceitos como o que seria a ética nos negócios, o modo praticar um comércio justo, contemplando o direito dos trabalhadores, ainda não recebem a devida importância. Lembrete “Crescimento econômico sustentável” e “desenvolvimento econômico sustentável” são conceitos diferentes e, basicamente, distinguem‑se pelo fato de que o “crescimento” não leva em conta as questões sociais, enquanto o desenvolvimento sim. Do ponto de vista dos aspectos econômicos, a geração dos lucros com a redução de custos, de modo a promover um crescimento econômico de forma sustentável, ainda é muito superficial, pois, normalmente, o lucro é o fim que justifica qualquer meio. Quando se consegue trabalhar esse aspecto, levando‑se em conta as questões ambientais, é possível trabalhar a eficiência energética, fornecer subsídios e incentivar o uso racional dos recursos ambientais. Uma das ferramentas para conquistar isso é o pagamento por serviços ambientais, que discutiremos nos próximos capítulos. Outra seriam as certificações, também muito questionadas. Para começar a pensar no aspecto ambiental, faça o seguinte exercício de consciência (esqueça‑se de todos os conceitos e pré‑conceitos e se analise individualmente): a atividade que eu exerço polui ou degrada o meio ambiente? Suponha que ninguém vai multar ou penalizar pela atividade. Se você soubesse que sua residência seria nessa área e não poderia ser mudada, no mesmo espaço físico em que atua, você continuaria fazendo?! O que precisa ser melhorado?! Pense no seu trabalho como se fosse a sua casa e analise. Ainda sob a ótica ambiental, o uso racional dos recursos naturais, os aspectos de gestão que devem contemplar a proteção e a conservação da qualidade do ar, da água, da Terra, a redução e a destinação de resíduos, vêm ganhando destaque, pois o próprio sistema parece retomar a consciência que seus ancestrais também tiveram por causa da escassez pela exploração dos recursos. Nesse contexto, questões culturais estão diretamente conectadas. Por exemplo, há poucos anos no Brasil, e ainda hoje, em alguns lugares, o “mato”, a floresta, que faz parte até da Bandeira Nacional, era 46 Re vi sã o: A nd re ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 0/ 05 /2 01 4 Unidade II considerada como atraso para o desenvolvimento, e a legislação favorecia sua supressão em nome do progresso. Mas, atualmente, pelas próprias reações da natureza no sentido de equilibrar as agressões sofridas, entendeu‑se que a cobertura vegetal, que muitas vezes não tem sua riqueza ligada à capacidade de gerar madeira ou outros produtos rentáveis, é de fundamental importância para a conservação dos recursos hídricos, ou seja, está diretamente ligada à produção da água e, consequentemente, à manutenção da produção agropecuária e do equilíbrio do sistema como um todo. Existem questões culturais, por exemplo, que afetam a poluição das águas, como comunidades que moram na beira de rios ou cursos d´água e jogam seu lixo nas águas não pelo desejo de destruir, mas pela sua limitada capacidade de compreender. Acreditam que, para limpar seus lares, basta jogar toda a sujeira no rio, pois “o rio leva, o rio limpa”. Não entendem que esse rio também abastece outras comunidades e, do mesmo jeito que poluem a água das comunidades rio abaixo, comunidades localizadas rio acima também pensam e agem da mesma forma. Um ciclo que vai se retroalimentando, em que o preço pode ser observado diretamente nas questões de saúde, sanitárias, e comunidades inteiras sofrem com parasitas que facilmente poderiam ser erradicados se houvesse o mínimo de saneamento básico. O conceito de “pensar globalmente e agir localmente” parece bem razoável, mas está ligado diretamente à percepção de até onde vai a concepção do global para cada setor, uma vez que se entendessem o planeta como uma grande cadeia produtiva, em que cada elo, independentemente do setor, é de fundamental importância para o equilíbrio do sistema como um todo, englobaria naturalmente ações que, apesar de pontuais, promoveriam o fortalecimento de todos os demais setores envolvidos. Observação O “tripé da sustentabilidade” é uma forma de equilibrar e equacionar as variáveis ambientais, sociais e econômicas. Sendo um equilíbrio dinâmico, ou seja, alterando‑se um lado, automaticamente é necessário regular as demais partes. O Brasil está em crescimento, principalmente nos setores da