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5.1 Introdução A Lei da Gravitação Universal foi formulada por Newton em 1666 e publicada em seu livro Principia em 1687. Ela afirma que duas partículas pontuais se atraem mutuamente com força propor- cional ao produto das massas e inversamente pro- porcional ao quadrado da distância entre elas. Matematicamente falando, o módulo da força de atração entre as duas massas da figura abaixo é dado por 5 Gravitação 2r mMGF = onde G é a constante de proporcionalidade, chama- da constante de gravitação universal e r é a distância entre as massas. r rˆ Vetorialmente, a força que a massa M exerce sobre a massa m é dada por M m 32 ˆ r GmMr r mMG rF −=−= onde r é o vetor que vai de M até m e é o vetor unitário na direção de r. A constante G foi medida pela primeira vez por Cavendish em 1798 e o seu valor (medida atual) é rˆ 11 2 26,6726 10 N m / kgG −= × ⋅ É interessante observar que apesar de ser a cons- tante universal da Física conhecida a mais tempo (outras são c, e, h, ...), a constante G é aquela medida com menor precisão experimental. A força de atração sofrida por uma partícula pontual de massa m colocada nas proximidades de um corpo extenso (não pontual) pode ser calculada através do princípio da superposição. Imaginamos o corpo dividido em pequenos elementos infinitesi- mais e escrevemos a força total sobre a partícula como sendo a soma (integral) das forças devidas a cada elemento. Assim, a força sobre a massa m da figura abaixo é dada por )(')'( 3∫ ′− ′−−= rr rrrF υρ dGm r 'r 'υd onde é a densidade volumétrica de massa e dυ´ é o elemento de volume na posição r´; r – r´ é o vetor que vai do elemento de massa até a massa pontual. )( 'rρ Como você acha que deve ser a expressão para a força de atração gravitacional entre dois corpos com extensão finita? O vetor campo gravitacional, g, é definido como sendo a força por unidade de massa exercida sobre uma partícula de prova (a massa m). Assim, o campo gravitacional no ponto r da figura acima (onde se encontra a massa m) é dado por 1 Observe que g é uma propriedade somente da distribuição de massa (não depende da massa de prova). O campo gravitacional tem dimensão de força dividida por massa que é igual a aceleração. O campo gravitacional é a aceleração que uma massa de prova sofreria se fosse colocada no ponto r. No SI, g é medido em m/s2 = N/kg. m rr ′− )(')'()( 3∫ ′− ′−−= rr rrrrg υρ dG 2 O campo gravitacional no ponto P da figura abaixo, devido a uma massa pontual M situada na origem, é dado por r r MG r GM ˆ )( 23 −=−= rrg PM r 5.2 Potencial gravitacional Como 3 1′ = −∇ ′′ r - r r - rr - r Podemos escrever a integral do campo gravita- cional como Esta expressão nos permite escrever o campo gravitacional como Φ é chamado potencial gravitacional e C é uma constante aditiva que não altera o campo gravita- cional. Um caso interessante (e bastante comum) é o de uma distribuição localizada de massa (a massa está toda localizada dentro de uma esfera de raio finito). Nesse caso a integral acima tende a zero quando │r│→∞ e é conveniente (embora não obrigatório) fazer C igual a zero. Como g é um gradiente, . Portanto, o campo gravitacio- nal é um campo conservativo. No caso de uma massa pontual M situada na origem, a densidade de massa pode ser escrita como ( )( ) Mρ δ ′=r' r Se a massa estiver distribuída em uma superfície, ')'( )( daG∫ ′−−=Φ rr rr σ onde σ é a densidade superficial de massa. Se a massa estiver distribuída ao longo de uma linha, onde λ é a densidade linear de massa. Uma interpretação física do potencial gravitacional pode ser dada em termos do trabalho realizado pela força gravitacional sobre a massa de prova. Suponha que uma massa de prova m seja deslocada do ponto a ao ponto b através de um caminho qualquer em um campo gravitacional. a b F rd O trabalho realizado pela força gravitacional sobre a massa m é dado por )( ab b a b a b a b aab mdm dmdmdW Φ−Φ−=Φ−= ⋅Φ∇−=⋅=⋅= ∫ ∫∫∫ rrgrF Conforme definido no capítulo 2, a diferença de energia potencial é definida como m Wab ab −=Φ−Φ ou abab WUU −=− de forma que m UU ab ab −=Φ−Φ rˆ sdG ′′−−=Φ ∫ rr rr )'( )( λ • = −∇Φg O potencial gravitacional é a energia potencial por unidade de massa! ( ') '( ) dG ρ υ⎧ ⎫⎪ ⎪= ∇⎨ ⎬′−⎪ ⎪⎩ ⎭∫ rg r r r onde ( ') 'dG Cρ υΦ = − +′−∫ rr r de forma que a integral acima resulta em ( ') 'd GM GMGM r δ υΦ = − = − = −′−∫ rr r r 0∇× =g 3 Se a for o ponto onde escolhemos fazer o potencial e a energia potencial nulos e se a posição do ponto b for dada pelo vetor r, podemos escrever m U )()( rr =Φ Exemplo 5.1 --------------------------------------------- Considere a camada esférica de raio interno b e raio externo a da figura abaixo. Obtenha expre- ssões para o potencial gravitacional no exterior, no interior e na camada. Solução. ' )'( υρ dG∫ ′−−=Φ rr r 'υd r rr ′− P Em coordenadas esféricas φθθυ ′′′= dddrrd ' sen'' 2 ∫∫∫ ′− ′′′−=Φ ππ φθθρ 2 00 2 sen'' rr dddrrG a b onde ρ é a densidade de massa suposta constante. Como o integrando não depende de φ, a integral em dφ pode ser realizada de imediato. Assim sen''2 0 2 ∫∫ ′− ′′−=Φ π θθπρ rr ddrrG a b A integral em θ´ é dada por 1 1 2 ' ' du u rr rru =∫ 'r ( ) ( ){ }2 22 ' ' abG r r r r r drrπρ ′ ′Φ = − + − −∫ O resultado do termo entre chaves na expressão acima depende do ponto P estar no exterior ou no interior da camada. Se o ponto P estiver no exterior da camada, r > r´, de forma que ( ) 2 3 3 4 ' ' 4 (5 .17 ) 3 a b G r dr r G a b r πρ πρ Φ = − = − − ∫ Assim Como a massa total da camada é dada por 3 34 ( ) 3 M a bπρ= − podemos escrever ( ) (5.19)GMr a r Φ > = − θb a ′r - rr' Para resolver a integral você pode fazer u = r2 + r´2 – 2rr´cosθ´, de forma que du = 2rr´senθ´dθ´. Assim a integral torna-se ( ) ( ) 2 20 0 2 2 0 2 2 sen sen 2 co s 1 2 co s 1 d d r r rr r r rr rr r r r r rr π π π θ θ θ θ θ θ ′ ′ ′ ′=′− ′ ′ ′+ − ′ ′ ′= + −′ ⎧ ⎫′ ′= + − −⎨ ⎬′ ⎩ ⎭ ∫ ∫r r Para efeito do cálculo do potencial no exterior da camada esférica, ela se comporta como se toda sua massa estivesse concentrada em seu centro. Este resultado pode ser estendido para uma esfera maciça imaginando que ela seja composta de várias camadas, uma dentro da outra (como uma cebola). Se o ponto P estiver no interior da camada, r < r´, de forma que Com este resultado a expressão para o potencial torna-se ( ) ( ) ( ) ( )2 2 2r r r r r r r r r′ ′ ′ ′ ′+ − − = + − − = ( ) ( ) ( ) ( )2 2 2r r r r r r r r r′ ′ ′ ′+ − − = + − − = r ( )2 2 ( ) 4 ' ' 2 (5.20) a b r b G r dr G a b πρ πρ Φ < = − = − − ∫ O potencial gravitacional no interior da camada esférica é constante (independe de r). Finalmente, devemos considerar a situação em que o ponto P está na camada (b < r < a). Nesse caso, é conveniente dividir a camada em duas sub- camadas de forma que P esteja no interior de uma delas e no exterior da outra. P P r ba O potencial é a soma das contribuições das sub- camadas interna (de raio menor b e raio maior r) e externa (de raio menor r e raio maior a). Utilizando as soluções (5.17) e (5.20), temos raG br r Gbrb )(2)( 3 4)( 2233 −−−−=<<Φ πρπρ (5.21) 632 4 232 r r baG ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ −−−= πρ Observe que esta solução leva ao mesmo resultado que (5.20) quando r =b e ao mesmo resultado que (5.17) quando r = a (o potencial é contínuo). A componente radial do campo gravitacional (a única não nula) pode ser calculada da equação rg d dr= − Φ ( ) 0rg r b< = 3 2 4( ) 3r G bg b r a r r πρ ⎛ ⎞< < = − −⎜ ⎟⎝ ⎠ 2( )r GMg r a r > = − A figura abaixo mostra os gráficos do potencial e do campo gravitacional em função de r. Observe que ambos, gr e Φ, são contínuos (verifique). rab Φ− rab rg− Assim: A lei de Gauss para g Em analogia com o fluxo do campo elétrico, define-se o fluxo do campo gravitacional através de uma superfície S como ∫ ⋅=Ψ S dan ˆ g onde a integral é calculada sobre S e é o vetor unitário normal à superfície no elemento de área da. A seguir vamos considerar o fluxo do campo gravitacional através de uma superfície fechada que envolve uma massa pontual em seu interior. g nˆ θm θcosˆ 2r Gm n −=⋅g de forma que De acordo com a figura ( aponta para fora), r nˆ nˆ 4 ( )2 22 G a bπρ − GM a 2 GM a Assim da r Gm S ∫−=Ψ cos2θ O integrando acima é chamado elemento de ângulo sólido e pode ser escrito como 22 cos r da r dad ⊥==Ω θ θcosdada =⊥ da rˆ ∫ =Ω S d π4 que é a área de uma esfera dividida pelo quadrado do seu raio. Voltando ao fluxo, temos Gmπ4−=Ψ Este resultado independe de onde a massa se encontra, desde que ela esteja no interior da superfície. Quando a massa se encontra no exterior da superfície fechada, o fluxo é zero. Observe que cada elemento nˆ g nˆ g m m de superfície que contribui com um fluxo positivo possui um elemento oposto que contribui com um fluxo negativo de mesma magnitude (o ângulo sólido é o mesmo para os dois elementos). Quando várias massas pontuais se encontram no interior da superfície, cada uma delas contribui com um fluxo – 4πGmi (note que só as massas que estão no interior da superfície contribuem). Assim, o fluxo total é dado por ∑∫ −=⋅=Ψ i i S mGdan π4 ˆ g Observe que esta expressão é similar à Lei de Gauss do eletromagnetismo em sua forma integral. Para uma distribuição contínua de massa ∫∫ −=⋅ VS dGdan υρπ 4 ˆ g onde a integral em dυ se estende sobre o volume delimitado pela superfície fechada. O teorema da divergência de Gauss afirma que se A for um campo vetorial, então ∫∫ ⋅∇=⋅ VS ddan υ ˆ AA de forma que podemos escrever 4 V V d G dυ π ρ υ∇⋅ = −∫ ∫g Uma vez que o volume de integração é arbitrário, os integrandos devem ser iguais. Portanto, 4 Gπ ρ∇ ⋅ = −g que é um resultado similar à forma diferencial da Lei de Gauss para o campo elétrico. Lembrando que g = –∇Φ, podemos escrever ρπG4=Φ∇⋅∇ ou ρπG42 =Φ∇ que é a equação de Poisson para o potencial gravitacional. Em regiões do espaço onde a densidade de massa é nula, podemos escrever 02 =Φ∇ que é a equação de Laplace para o potencial gravitacional. 5 é chamada ângulo sólido. Quando a integral é feita sobre uma superfície fechada r nˆ θ ∫ Ω=Ω d Veja que da⊥ é proporcional a r2, de forma que dΩ não depende de r. A integral 6 Exemplo 5.3 --------------------------------------------- Considere um disco fino de massa M e raio a. Obtenha a força sobre uma massa m localizada no eixo do disco a uma distância z do seu centro. Solução: método do potencial. m r r′ rr ′− a O potencial gravitacional é dado por ∫ ′− ′−=Φ rr ad G σ onde σ é a densidade superficial de massa do disco, suposta constante. Em coordenadas cilíndricas, 22 e zrdrdrad +′=′−′′′=′ rrφ φ′d rr ≡′≡′ zr e onde Assim ∫∫ ′+′ ′′−=Φ π φσ 2 00 22 d zr rdrG a 2 20 2 2 0 2 2 2 2 2 a a r d rG r z G r z G a z z πσ πσ πσ ′ ′= − ′ + ′= − + ⎡ ⎤= − + −⎣ ⎦ ∫ A força sobre m é dada por Φ∇−== mmgF Como a massa do disco é dada por 2aM σπ= podemos escrever Por argumentos de simetria, pode-se concluir que F só tem componente ao longo do eixo z. Assim 2 2 2z z zF m m G z za z π σ ⎡ ⎤∂Φ= − = −⎢ ⎥∂ +⎣ ⎦ 2 2 2 2 z MmG z zF a z a z ⎡ ⎤= − −⎢ ⎥+⎣ ⎦ ∫ ′− ′−′−== 3rr rrgF adGmm σ Por simetria, vemos que F só tem componente vertical. Como a componente de na direção vertical é z, podemos escrever que é igual ao resultado obtido como derivada do potencial. Outra solução: cálculo direto de F. A força sobre a massa m da figura acima é dada por 2 2 2 3 / 20 0 2 2 3 / 20 2 2 0 2 2 2 2 2 ( ) 2 ( ) 2 2 2 a z a a zr drF m G d r z zr drm G r z zm G r z z zm G za z M m G z z a z a z πσ φ π σ π σ π σ ′ ′ ′= − ′ + ′ ′= − ′ + = ′ + ⎡ ⎤= −⎢ ⎥+⎣ ⎦ ⎡ ⎤= − −⎢ ⎥+⎣ ⎦ ∫ ∫ ∫ rr ′− 7 5.3 Linhas de força e superfícies equipotenciais Da mesma forma que o campo elétrico, o campo gravitacional também pode ser representado por linhas de força. Estas linhas são construídas de forma que: (a) cada linha tenha a mesma direção e o mesmo sentido do vetor g em cada ponto do espaço; (módulo) área linhas de número )( gb ∝ A figura abaixo mostra as linhas de força (pontilhadas) para duas massas iguais. Note que a configuração das linhas é a mesma que para duas cargas elétricas negativas. Define-se uma superfície equipotencial como sendo o conjunto dos pontos onde o potencial assume o mesmo valor, ou seja, é o conjunto dos pontos tais que Φ(x,y,z) = cte. Cada valor da cons- tante define uma superfície equipotencial diferente. É fácil mostrar que as superfícies equipotenciais são perpendiculares às linhas de força. Para isto considere dois pontos infinitesimalmente próximos sobre uma mesma superfície. A diferença de potencial entre estes pontos é dada por dsgddd //−=⋅−=⋅Φ∇=Φ sgs onde ds é um elemento de deslocamento sobre a superfície. Como todos os pontos sobre uma mesma superfície têm o mesmo potencial, dΦ = 0. Assim, g// = 0, e portanto, g é perpendicular à superfície equipotencial. As superfícies equipoten- ciais para duas massas iguais (linhas contínuas) são mostradas juntamente com as linhas de força (linhas pontilhadas). sd g ⊥g//g m m • • Problemas 1. Se o vetor campo gravitacional no interior de uma distribuição esférica de massa for indepen- dente de r, qual a função ρ(r) que descreve a densidade? 2. Desprezando a resistência do ar, calcule a velocidade mínima (obtenha um valor numérico) que uma partícula deve ter na superfície da Terra para escapar do seu campo gravitacional. Esta velocidade é chamada velocidade de escape. 3. Uma partícula encontra-se a uma distância d de um centro de força. A força é dirigida para o centro e tem módulo dado por 32 rmkF = Mostre que a partícula demora um tempo kdt 2= para atingir o centro. 8 4. Calcule diretamente a força gravitacional sobre uma partícula de massa m situada no exterior de uma esfera com uma densidade homogênea de massa. 5. Calcule o potencial gravitacional devido a uma barra fina de comprimento l e massa M em um ponto situado a uma distância R do centro da barra, em uma direção perpendicular à barra. 6. Obtenha uma expressão integral para o potencial gravitacional devido a um anel circular fino de raio a e massa M, em um ponto situado no plano do anel, a uma distância R do seu centro, no seu exterior. Supondo R >> a, expanda a expressão do potencial e calcule os dois primeiros termos da série. 8. Considere um corpo massivo, de formato arbi- trário, e um superfície esférica (imaginária) externa ao corpo (que não contém o corpo). Mostre que o valor médio do potencial, devido ao corpo, tomado sobre a superfície esférica é igual ao potencial nocentro da esfera. 9. No problema anterior, considere que o corpo esteja no interior da superfície esférica. Agora, mostre que o valor médio do potencial sobre a superfície esférica é igual ao potencial que teríamos na superfície da esfera se toda a massa do corpo estivesse concentrada no centro da esfera. 10. Considere um planeta (hipotético) de raio R1 e densidade uniforme ρ1 coberto com uma densa nuvem esférica de poeira de raio externo R2 e densidade ρ2. Qual a força sobre uma partícula de massa m colocada no interior da nuvem de poeira, a uma distância r do centro do planeta? 11. Uma partícula é deixada cair dentro de um (hipotético) buraco reto que atravessa toda a Terra passando pelo seu centro. Desprezando efeitos rotacionais e supondo que a Terra possua uma densidade uniforme, mostre que a partícula executa um movimento harmônico simples. Calcule o período das oscilações. 7. Uma esfera uniforme de massa m e raio R é fixada a uma distância h acima de uma folha fina e infinita de densidade superficial de massa σ. Calcule a força exercida pela esfera sobre a folha.