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Unidade 2 - Metodologia Científica - EAD Laureate

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UNIFACS – Universidade Salvador
Metodologia Científica
 Por: Flávia Argôlo França 
Unidade 2 – Todo trabalho acadêmico/científico deve ser elaborado respeitando os aspectos metodológicos?
2.0. Introdução
Desde a introdução até as considerações finais ou conclusões, o trabalho acadêmico possui forma e linguagem próprias. A forma é definida pelas instituições educacionais e as organizações de normas técnicas, enquanto que a linguagem é característica, levemente formal, enfaticamente técnica e deixou de ser rebuscada faz um bom tempo.
2.1. Etapas da pesquisa científica
2.2.1. Introdução e justificativa
Ao escrever a introdução do trabalho, o estudante deve se preocupar com a consistência e com a capacidade de articulação e relacionamento entre os dados, fortalecendo os argumentos. A introdução deve ser elaborada gradativamente, à medida do avanço do estudo e da pesquisa. Assim, o texto deve ser revisado e, ao final de todo o trabalho, a introdução recebe uma leitura crítica em que os ajustes e as adequações serão procedidas. Afinal, como bem afirma Castro (2011, p. 06), “[...] a introdução, por boas razões, pode ser escrita por último”.
Ainda de acordo com Castro (2011), a introdução possui um caráter didático na forma como deve orientar a leitura do trabalho apresentado ao esclarecer as pretensões do autor e ao situar o “estado da arte” sobre o tema em estudo. Ou seja, é preciso deixar claro o que foi encontrado, as lacunas e as ideias convergentes e divergentes apontadas durante a revisão de literatura. Ela deve, também, indicar os pontos de contribuição apresentados ao debate no trabalho realizado. 
Sob o ponto de vista metodológico, a introdução de um trabalho acadêmico deve responder algumas perguntas, como: o que sabemos sobre o assunto? Que autores consultados trabalharam com ideias semelhantes e que conhecimentos produziram? Quem já publicou sobre o assunto? Qual é a dúvida relacionada ao tema? Quais foram as observações que despertaram a curiosidade para aquele determinado problema? Para que serve o que se vai estudar? Qual pergunta a pesquisa irá responder? Qual é a necessidade da pesquisa?
Dessa forma, com tantas perguntas a serem respondidas, o pesquisador deve tomar alguns cuidados para evitar equívocos comumente cometidos, especialmente pelos menos experientes. Alguns desses erros durante a elaboração de uma introdução de trabalhos acadêmicos são: não usar referencial bibliográfico na introdução; fragmentar a introdução por frases e parágrafos; usar a introdução como resumo; usar a introdução como referencial teórico; ser extensa e cansativa; ter objetividade excessiva; ter ausência de foco.
É na justificativa que o pesquisador apresenta as razões da escolha pelo tema, apontando sua importância teórica e prática. Portanto, mesmo podendo ser pessoal, a justificativa precisa convergir com os interesses da ciência, fugindo dos “achismos”. Além disso, a justificativa não deve apresentar citações de outros autores, pois não se trata de argumentação do referencial teórico, mas, sim, de evidenciar a relevância teórica do tema pesquisado.
Assim, na justificativa de todo trabalho o autor deve procurar responder perguntas, como: o tema é relevante? Por quê? Quais são os pontos positivos que você percebe na abordagem proposta? Que vantagens e benefícios você pressupõe que a pesquisa irá proporcionar? A pesquisa permitirá a descoberta de soluções para casos gerais e/ou particulares?
2.2. Construção do referencial teórico
No momento de construir o referencial teórico, todo pesquisador deve reconhecer os limites ou até onde outros autores foram ou escreveram sobre os assuntos abordados na pesquisa. Castro (2011, p. 78) argumenta que é preciso conhecer o “[...] legado de conhecimento” deixado pelos demais, a fim de analisar, sintetizar e trabalhar a partir do que de fato existe e do que foi escrito sobre os assuntos pesquisados.
2.2.1. Pesquisa bibliográfica
Conceitualmente, Gil (2011, p. 50) afirma que “[...] a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Por outro lado, Cervo, Bervian e Silva (2007) indicam que a pesquisa bibliográfica é um meio de formação por excelência, constituindo em procedimento básico para estudos acadêmicos pelos quais se busca o domínio do “estado da arte” sobre determinado tema. No entanto, vale destacar que existe uma diferença entre a pesquisa bibliográfica e a revisão de literatura, conforme vemos na figura a seguir.
Os critérios de definição para a coleta de dados possuem relação direta com o universo da pesquisa. Lima e Mioto (2007) assim os apresentam:
Parâmetros temáticos: são as obras relacionadas ao objeto de estudo, organizadas de acordo com os assuntos que lhe são correlatos;
Parâmetros linguísticos: são as obras nos idiomas selecionadas, nos diferentes idiomas, como francês, inglês e espanhol;
Principais fontes: são livros, teses, artigos e documentos que se pretende consultar e selecionar para a pesquisa, de acordo com os assuntos abordados;
Parâmetros cronológicos: consistem na linha do tempo definida para a pesquisa, ou seja, até três anos, cinco anos, 10 anos. Quanto mais amplo esse fluxo temporal, mais trabalho gerará para o pesquisador.
Definidos os critérios para a coleta de dados, tem-se a aplicação de uma técnica na pesquisa bibliográfica: a leitura. São cinco os tipos de leituras comumente aplicados, o que inclui a leitura de reconhecimento do material bibliográfico, a leitura exploratória, a leitura seletiva, a leitura reflexiva ou crítica e a leitura interpretativa. 
Outra certeza presente na pesquisa bibliográfica consiste no significativo acervo para ser lido pelo pesquisador, que usará fontes como trabalhos acadêmicos, teses, dissertações, monografias, artigos, revistas especializadas, documentos institucionais, filmes, documentários em áudio, entre outros. Isso porque o embasamento teórico é uma etapa da pesquisa científica que costuma apresentar progresso lento e oferece certo nível de esgotamento ao pesquisador.
2.3. Conceitos
A objetividade deve ser perseguida no desenvolvimento. Isso é importante para que a análise e as avaliações sejam imparciais, posto que a parcialidade é um crime capital para qualquer pesquisa, tornando-a sem efeito e desacreditada.
Muitos fenômenos naturais são relativamente fáceis de explicar, mas os fenômenos ou eventos sociais geralmente são complexos, de difícil explicação. Nesse contexto, Castro (2011, p. 93) nos ensina que, nas ciências sociais, as variáveis que se quer explicar são influenciadas por outras variáveis, as quais precisam ser tratadas estatisticamente para serem compreendidas, por isso, considera que “[...] a investigação em ciências sociais raramente é óbvia, simples ou sumária”.Isso significa que, em uma pesquisa social, o evento ou fenômeno não tem apenas uma causa determinística, mas, sim, um contexto de variáveis que se somam, influenciando umas às outras. Assim, o estabelecimento do número de indicadores é tarefa exigente e delicada a qual o pesquisador deverá dedicar certa dose de experiência, criatividade e sutileza. 
2.4. Procedimentos e técnicas de pesquisa
Os procedimentos e técnicas de pesquisa variam conforme a natureza da pesquisa, a forma de abordagem, os objetivos e os procedimentos técnicos empregados.
Segundo Koche (2016, p. 122), “[...] o planejamento de uma pesquisa depende tanto do problema a ser investigado, da sua natureza e nível de conhecimento do investigador. Isso significa que pode haver um número sem fim de tipos de pesquisa”. Naturalmente, as possibilidades de tipos de pesquisa e suas combinações concorrem para que exista uma gama de tipos de pesquisa, de forma a atender aos mais diversos problemas de investigação. O autor ainda distingue três tipos de pesquisa: a bibliográfica, a experimental e a descritiva.
Considerando a natureza da pesquisa, seus tipos podem ser classificados em pesquisa básicaou pura e pesquisa aplicada. A pesquisa básica, também denominada pesquisa pura, tem por característica a criação de conhecimento científico de interesse universal, sem efeito prático direto. A pesquisa aplicada, por sua vez, tem por característica realizar a investigação situada em um ambiente específico para solucionar um problema de interesse local, particular, em uma determinada realidade especial. 
Quanto a classificação do tipo de pesquisa científica do ponto de vista dos objetivos, Gil (2011, p. 27) distingue três níveis: “[...] estudos exploratórios, estudos descritivos e estudos que verificam hipótese causais”, nomeadas explicativas. 
Os estudos exploratórios são adequados em pesquisas de temáticas genéricas, pouco conhecidas, concorrendo com dificuldade na operacionalização dos procedimentos de verificação. A pesquisa do tipo exploratória serve, principalmente, para esclarecer conceitos e ideias, acumular conhecimento sobre o tema, favorecendo estudos posteriores com melhor delimitação do campo e procedimentos mais sistematizados. A operacionalização da pesquisa exploratória “[...] não requer a elaboração de hipóteses a serem testadas no trabalho, restringindo-se a definir objetivos e buscar mais informações sobre determinado assunto de estudo” (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007, p. 62). 
Do ponto de vista do objetivo, a pesquisa do tipo descritiva visa a “[...] descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis” (GIL, 2011, p. 28).
Os estudos de ponto de vista explicativo “[...] têm como preocupação central identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos” (GIL, 2011, p. 28). Nesse tipo de pesquisa, os procedimentos preferenciais são a pesquisa experimental, em que são selecionadas as variáveis intervenientes, define-se formas de controle e de observação dos efeitos produzidos sobre o objeto; e a pesquisa ex-post-facto, em que o experimento se realiza após a ocorrência do fenômeno. Assim, o pesquisador realiza inferências sobre as relações entre as variáveis observadas. 
Do ponto de vista dos procedimentos e técnicas, a distinção das pesquisas são marcadas pela origem das fontes dos dados coletados. Em um primeiro grupo temos as pesquisas que se utilizam das chamadas fontes de papel, características das pesquisas do tipo bibliográfica e documental. No segundo grupo, temos as pesquisas experimental, de ação, levantamento de campo, estudo de caso e participante, em que as fontes de dados são fornecidas por pessoas. 
Na pesquisa bibliográfica e na documental, os dados são coletados mediante consulta de documentos, chamadas fontes de papel¸ escritas ou não. A pesquisa bibliográfica é fundamental para o trabalho científico em suas diferentes formas de apresentação e natureza.
Na pesquisa documental, as fontes são os documentos de primeira mão, ou seja, todo material que ainda não recebeu nenhuma forma de tratamento de análise científica, como matéria jornalística, cartas, contratos, fotografias, folder e catálogos; além dos documentos de segunda mão, que já foram analisados de alguma forma, como relatórios de projetos, atas, projetos de programas oficiais e outros. Lakatos e Marconi (2017, p. 174) classificam em três variáveis as fontes na pesquisa documental, sendo elas: fontes escritas ou não, fontes primárias ou secundárias e fontes contemporâneas. 
A pesquisa do tipo levantamento de campo, também denominada survey, caracteriza-se por uma abordagem quantitativa com o objetivo de descrever características, ações e opiniões de determinado grupo de pessoas, em geral uma população-alvo definida por meio de técnicas de amostragem. As pesquisas de levantamento de campo também são empregadas em grande escala, como no caso de pesquisas censitárias.
Ao considerar as vantagens e limitações da pesquisa do tipo levantamento de campo, o pesquisador poderá avaliar o contexto de execução do trabalho e decidir sobre a melhor opção. Portanto, é importante conhecer as diferentes possibilidades e características de cada uma das modalidades, bem como o tipo de abordagem de pesquisa. 
A complexidade do estudo de caso está no contexto que circunscreve o objeto investigado, quer seja o estudo de um caso particular ou o estudo de um caso que envolva maior quantidade de elementos. Do ponto de vista dos objetivos, a pesquisa do tipo estudo de caso pode ser exploratória, descritiva ou explicativa. Críticas apresentadas ao estudo de caso dizem respeito a falta de rigor na definição dos procedimentos metodológicos, dificuldade de generalização e o longo tempo dedicado ao estudo.
Temos, ainda, por outro lado, a pesquisa-ação e a pesquisa participante, que se realizam mediante interação entre pesquisadores e participantes do contexto investigado. Uma distinção significativa entre pesquisa-ação e a pesquisa participante é fornecida por Thiollent (2005, p. 07), em que “[...] a pesquisa-ação, além da participação, supõe uma forma de ação planejada de caráter social, educacional, técnico ou outro, que nem sempre se encontra em propostas de pesquisa participante”. 
Quanto à forma de abordagem do problema, a pesquisa pode ser do tipo quantitativo ou qualitativo. A pesquisa de abordagem quantitativa objetiva quantificar informações, opiniões e ideias, mas, para tanto, faz uso de instrumental técnico e processos estatísticos para classificação e análise dos resultados. A pesquisa do tipo qualitativa, por sua vez, objetiva a interpretação dos fenômenos, mediante perspectiva relacional entre a realidade e o sujeito. Vamos entender melhor sobre esses dois tipos na sequência.
Günther (2006), então, considera que, para organizar as diferenças e similaridades entre a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa, consideramos: características da pesquisa qualitativa; postura do pesquisador; estratégias de coleta de dados; estudo de caso; papel do sujeito; aplicabilidade e uso dos resultados da pesquisa.
Dessa forma, a pesquisa qualitativa, por ter a subjetividade como uma das suas características mais marcantes, facilita a adaptação da aplicação de instrumentos metodológicos, possibilitando ao pesquisador avançar muito mais do que na pesquisa quantitativa, sobre diversos aspectos da realidade. Assim, infere sobre variáveis observáveis que não fazem parte do escopo da pesquisa.

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