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TRADUÇÃO: SILVEIRA, Maria Laura. Los territorios corporativos de la globalización. [En línea]. Geograficando, v. 3, n. 3, p. 13-26, 2007. Disponível em: <http://www. fuentesmemoria.fahce.unlp.edu.ar/art_revistas/pr.3665/pr.3665.pdf>. Os territórios corporativos da globalização Maria Laura Silveira Resumo Cada período histórico pode ser visto como uma ordem socioespacial, um momento de formação socioespacial, que requer um esforço de análise mais complexo a cada dia, em duas dimensões importantes. Primeiramente, podemos analisar o que está lá, os estoques do território usado, o território como é hoje usado a partir de uma articulação entre as principais variáveis do tempo; isto é, o complexo da chamada tecnociência, mas também com o conteúdo da informação e, certamente, o conteúdo financeiro. Estas são as variáveis que revelam a face hegemônica do espaço e cuja análise mostra o funcionamento dos territórios. Em seguida, devemos estar atentos ao movimento; isto é, como o território está sendo usado e como ele poderia ser usado. Em outras palavras, uma olhada nas possibilidades do período histórico em que vivemos, que podem ou não se tornar estoques. O espaço atual, dominado pela ciência e tecnologia, cuja dinâmica responde aos totalitarismos de informação e finanças, poderia também ser o resultado de outras possibilidades e combinações, que começam timidamente a surgir como modos de vida e de trabalho. Palavras-chave: território usado, território corporativo, tecnociência. Introdução Cada período histórico pode ser visto como uma ordem socioespacial, um momento de formação socioespacial, que requer um esforço de análise - mais complexa a cada dia - em duas dimensões importantes. Primeiramente, podemos analisar o que está lá, os estoques do território usado, o território como é hoje usado a partir de uma articulação entre as principais variáveis do tempo; isto é, o complexo da chamada tecnociência, mas também com o conteúdo da informação e, certamente, o conteúdo financeiro. Estas são as variáveis que revelam a face hegemônica do espaço e cuja análise mostra o funcionamento dos territórios. Em seguida, devemos estar atentos ao movimento; isto é, como o território está sendo usado e como ele poderia ser usado. Em outras palavras, uma olhada nas possibilidades do período histórico em que vivemos, que podem ou não se tornar estoques. O espaço atual, dominado pela ciência e tecnologia, cuja dinâmica responde aos totalitarismos da informação e finanças, poderia também ser o resultado de outras possibilidades e combinações, que começam timidamente a surgir como modos de vida e de trabalho. Daí a proposta de Milton Santos de entender o espaço geográfico como sinônimo de território usado, isto é, como um grupo solidário indissolúvel e contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações. Está definição inclui, certamente, a dimensão política da ideia de território que existe há muito tempo, mas enfatiza especialmente a maneira pela qual o território é usado, com objetos e com formas de trabalho que podemos chamar de técnicas, e com ações políticas que, de acordo com sua força e poder, determinam os usos e combinações. Eles são os atores na cooperação e no conflito, como Hägerstrand já disse, outro grande geógrafo que também estava procurando uma discussão substantiva sobre o assunto de nossa disciplina. A partir dessa perspectiva, podemos entender cada região a partir dos objetos que estão lá e que tendem a fornecer funções diferentes, mas, ao mesmo tempo, a partir das ações submetidas ao regulamento das instituições e empresas, cujo peso está crescendo no período atual. Por quê? como o título deste artigo, porque o poder das empresas adquiriu tal vigor que podemos falar sobre o território corporativo ou uso corporativo de território. Divisão de trabalho sobreposta O território utilizado é constituído, então, pela base material e pela vida que o encoraja, em cooperação e conflito. Cada empresa constrói sua base material ou utilizar aquela que já existe para realizar seu trabalho, para cumprir os mandamentos de sua vida corporativa. Cada uma tem uma forma particular de combinar os objetos que precisa para exercitar sua ação e um caminho particular de organizar as ações para colocar tais objetos em funcionamento. Estes são pontos e áreas que a empresa seleciona e que compõem sua base material da existência. É a sua própria divisão de trabalho: uma verdadeira topologia, tantas vezes confundida com as necessidades da Nação. Não Haveria então uma única divisão territorial do trabalho em nossos países e regiões, mas uma sobreposição ou uma rede de divisões de trabalho. Por quê? portanto, estamos diante de um conceito plural. Assim, o território nacional, que se torna uma rede de topologias corporativas, aponta a importância da escala na abordagem à ação. Mas aqui procuramos um conceito renovado de escala, entendendo-o como escala de tempo. Mesmo com o risco de simplificar demais a análise, poderíamos dizer que há um punhado de corporações cuja topologia excede as escalas nacional e cujo território é o planeta, e um grande grupo de empresas, cujas ações não ultrapassam as fronteiras nacionais. Evidentemente há um conjunto de situações intermediárias, de grupos nacionais a pequenos empresas de bairro, como é o caso do circuito inferior da economia urbano. Esse é o retrato do trabalho coletivo no território nacional que é dado em cooperação e conflito, uma organização complexa e às vezes difícil de desvendar e estudar em suas partes. São observados, por exemplo, novos conflitos entre o agronegócio e as formas tradicionais de agricultura nos países, entre o domínio dos hipermercados que dominam o setor varejista e as pequenas lojas de bairro em nossas cidades. Todo um conjunto de situações geográficas que dão indicações de que esta rede de divisões de trabalho não são feitas sem formas de cooperação, que são, ao mesmo tempo, altamente conflitivas. A cooperação é o outro lado da divisão territorial do trabalho. É o que a inteligência do capital une após a separação territorial pela técnica de um período histórico. Orientado por sua sofisticação e por equações de lucro complexas, a técnica contemporânea permite dividir as etapas de produção em todo o planeta, leva a uma complexa e extensa unificação material e imaterial desses processos. Mas cooperação também é competição: entre empresas poderosas, entre estes e outros subordinados, entre empresas e Estado nos seus diversas segmentos. As empresas hegemônicas têm o propósito de influenciar decisões sobre as novas infra-estruturas de um porto e as utilizações que vai fazer esse porto, nas estradas que devem ser construídas e como será utilizado, na prioridade de tais estradas versus a necessidade de estradas bairros. Dessa forma, a maior questão explicativa seria saber quem, em certas circunstâncias, regula quem. Quando vemos que a Cargill, juntamente com três ou quatro outras empresas do agronegócio, controla a produção e a circulação (em sentido amplo) do suco de laranja no Estado de São Paulo, ou quando a Coca-Cola compra metade do suco de laranja produzido Noroeste da Argentina, outras empresas podem continuar a existir, mas a pergunta é quem governa quem naquele espaço regional e nacional. Não é exagero dizer que hoje, na divisão territorial do trabalho do mundo globalizado, o poder das empresas regula a vida política da nação, impondo suas respectivas topologias no território nacional e forçando a formas de cooperação; isto é, modernizar as infra-estruturas, aumentar a velocidade e a fluidez materiale normativa, exigências que as pessoas tomam como verdadeiras necessidades nacionais. Territórios empresariais e privatização do território Como as empresas adquirem tal vigor na regulação dos territórios nacionais, nossas nações se tornam ingovernáveis. É impressionante que os governos não percebem ou compreendem as causas de tal ingovernabilidade e, pelo contrário, insistem em formular políticas setoriais. Dessa forma nós estamos cada vez mais longe da verdadeira compreensão e resolução de problemas regionais que vêm desses grandes círculos de cooperação, tecidos pelas grandes corporações cujo território é o mundo. As regiões abrigam apenas alguns estágios das divisões territoriais do trabalho dessas empresas e da cooperação que eles exigem. A condição sine qua não é a modernização da região, cuja população tende a ser convencida da necessidade e inevitabilidade desse processo que assegurará sua participação nos mercados mundiais, como se afirma. Imponente como princípio político da macroeconomia das nações, a fluidez do território é, de fato, um fato da microeconomia das empresas. Por essa razão, geralmente começa a ser normativo. Em vários países da América Latina, a reforma regulatória precedeu a implementação de sistemas modernos de objetos e, ainda mais, a fluidez ideológica ou simbólico era anterior à fluência normativa. Essa enteléquia chamou a opinião pública e, com isso, a convicção social sobre a necessidade de reforma. A fluidez do território é a causa e conseqüência da difusão de atividades na modernidade, e requer a cooperação entre empresas, entre empresas e Estado nos seus diferentes níveis, entre as empresas e a sociedade. Essas topologias de uma geometria variável unem pontos e áreas distante sob a mesma lógica particular, a produzir o que chamamos de solidariedade: isto é, uma interdependência organizacional e não necessariamente uma interdependência social ou contígua. Os sistemas de objetos que, nas regiões, poderiam ser vistos como sistemas de engenharia, permiti que a cooperação, que vai da estrada moderna e concessionada à fibra óptica, passando por um conjunto de redes mais ou menos material, mais ou menos imaterial, como o sistema de televisão digital e seus respectivos imperativos técnicos e políticos. Um conjunto de sistemas de engenharia que são, em grande parte, construídos com recursos públicos, mas cujo uso privado nos autorizaria a falar de uma verdadeira privatização dos territórios nacionais. Infelizmente, esse não é o único problema político sério que enfrentamos. grandes empresas arrastam, em sua lógica, outras empresas agrícola, industrial e de serviços, e influenciam fortemente o comportamento do poder público, indicando formas subordinadas de ação que jogam a vida econômica, social e territorial na arena do mercado. Frequentemente, partidos políticos, mesmo aqueles que são mais progressistas ou com boas intenções, propoem ações que não deixem de ser subordinadas, porque, entre outros aspectos, a forma de existência no território é ignorada. Essas formas de ação, mediadas por sistemas de objetos, permitem adjetivar o uso do território como corporativo, bem como as cidades, já que nelas há processos idênticos com a modernização de certos porções e o abandono de outros. A implantação de grandes corporações em áreas modernas requer processos de renovação e implementação de políticas que tratam a cidade não como um todo, mas como parcelas. E cada vez mais, a convicção é que as áreas modernizadas arrastarão os outros em seu crescimento. É sobre mais heranças ou menos reconhecível em diferentes escalas da antiga teoria dos pólos de crescimento. Agora: esse território usado não é apenas o conjunto de topologias de grandes empresas, mas existem atividades de vários tipos; quer dizer, empresas de diferentes tamanhos e diferentes forças. Todos juntos constituem o que Milton Santos, inspirado por Perroux, chama de espaço banal. Este aqui é o espaço de todos os atores, independentemente de sua força, e todo o espaço. Uma recomendação de método, porque não é apenas sobre o espaço industrial ou agrícola ou turístico. Existem algumas empresas que estão fortemente relacionadas com o território, com a sociedade local, com as virtualidades sociopolíticas do lugar. Tomando os sistemas de objetos que estão lá e dando-lhes outros usos ou usando técnicas do passado com novos conteúdos. É um processo de verdadeira horizontalização de certas partes do território que, nas cidades, constitui o circuito inferior da economia. Enquanto isso, encontramos, em paralelo, essas grandes corporações, porque elas dominam as variáveis determinantes do tempo. Essas empresas são produtoras e usuárias da tecnociência, produzem as informações necessárias para elas mesmas e para essencialmente convencer os outros de sua superioridade, e comandar as fontes financeiras. Daí a sua condição de globalidade e hegemonia. Se estabelecem nos lugares, relações absolutamente verticais e, quando parecem horizontais, são muitas vezes falsas. Essas relações verticais, ligadas a seu poder econômico e político, são explicados pela efemeridade de suas equações para lucro, é o circuito superior, como podemos chamá- lo no campo das cidades, que entrelaça relações absolutamente funcionais. São empresas que exigem o que precisam, extorquindo quando as condições se tornam insuficientes ou saem quando não têm perspectivas satisfatórias. Assim, nas áreas mais modernas do campo, os mandamentos de empresas estão crescendo e implacáveis, como a escolha de sementes fertilizantes ou simplesmente o uso de transgênicos, o controle de espécies ou a concessão de créditos a taxas inferiores às dos bancos, contratos de exclusividade, assistência técnica, transporte e logística, que hoje eles adquirem tanta relevância. Isto é, um processo de divisão do trabalho e de maior cooperação. Isso cria uma expansão quantitativa e qualitativa da produção: rendimentos e qualidades dos produtos agrícolas no centro-oeste brasileiro ou nos pampas argentinos são frequentemente mais altos que no Canadá e os Estados Unidos. Tudo contribui para embotar os espíritos e alimentar o pensamento único porque, na verdade, nós crescemos e produzimos com qualidade, embora a circulação seja extremamente restrita. Aqui voltamos à ideia de cooperação, porque isso é feito com laços corporativos, desde a compra de um ramal ferroviário que passa a ser usado exclusivamente pelos grandes negócios a fenómenos menos visíveis, como oligopólios e oligopsonias, dos quais nossos países são verdadeiros laboratórios. É o caso de hipermercados que encurralam pequenos produtores com regras de qualidade, quantidade e preços de compra ou, como em Votuporanga e Mirassol, a de um polo moveleiro no Estado de São Paulo, cuja produção de leitos é inteiramente adquirida por uma importante cadeia de venda de móveis e eletrodomésticos, Casas Bahia. Pequenas empresas e medianas de ambas as cidades aumentam sua produção e qualidade, mas são mais dependente dessa economia corporativa e global. Os mecanismos de crescimento econômico são, desse modo, duplamente perverso Por um lado, eles criam concentração da terra, proletarização, desemprego estrutural, entre tantos problemas, mas, por outro lado, gerar o confusão das mentes porque com um país que cresce é mais difícil apontar o equívoco O preço do crescimento é que as próprias regiões, especialmente as mais modernos, já não controlam o seu destino e, desta forma, o conteúdo político contraditório, dos quais também participam certos partidos políticos de base local que acabam produzindo falsas horizontalizações. É o etnocídio de quefala Thierry Gaudin, parafraseando o Robert Jaulin de La paix blanche; isto é, um país, uma região pode crescer economicamente matando sua cultura, seu modo de trabalhar, seu sistema de objetos autênticos, endógenos e participando, cada vez mais, da globalização do mercado, do mercado de commodities ao preço da alienação de suas trabalho e a vulnerabilidade de seus habitantes. Lógica territorial das empresas Cada empresa, cada ramo de atividade produz uma lógica territorial, cuja manifestação visível é uma topologia; isto é, esse conjunto de pontos e áreas de interesse para o funcionamento da empresa que, certamente, excede à própria assinatura e é projetada em outros atores sociais. Eles são os pontos essenciais para o exercício de sua atividade, como no caso da indústria automotiva. Se a topologia é uma manifestação visível, a lógica territorial das corporações têm um lado que tende a ser invisível. Podemos identificar nas fazendas modernas do Centro-Oeste brasileiro, plantas de processamento de soja ou a produção de aves em Santa Catarina e o porto por onde exportam. É a topologia da empresa, mais ou menos visível. Os movimentos entre os fixos são os fluxos; isto é, o circuito espacial da produção de soja, que também pode ser reconhecido e até representado cartograficamente. Esses pontos e áreas de interesse são efêmeros e podem mudar, formando topologias nervosas. Em outros termos, os territórios ficam nervosos mas, de alguma forma, isso piora porque a topologia não é dada apenas pelos campos e seus estágios de transformação até atingir suas docas privadas no porto de Santos, é projetado em fornecedores, compradores e distribuidores; isto é, não é necessariamente construído, como no passado, sobre relações de propriedade. Esse novo conjunto de atores, qualificados e às vezes bem pagos, são convidados a subordinar formas de ação e, embora possam está conscientes de sua subordinação, geralmente não têm outra alternativa. No entanto, a compreensão do lado invisível da lógica territorial torna-se mais complexa. É o conjunto de operações que envolve lugares, o sistema de estoque da própria empresa, o que lhe confere uma posição vantajosa numa escala global e torna possível, graças à técnica contemporânea, uma comunicação em tempo real e a utilização de instrumentos financeiros a tal ponto aperfeiçoados que o dinheiro e a informação estão confusos. Como você procura por um posição vantajosa em escala global, a lógica territorial da empresa em lugar também é global. Por isso, esta ideia da guerra global de lugares. O Rio Grande do Sul disputou com o Estado da Bahia a localização de uma fábrica da Ford, mas o que vemos na realidade é uma ingovernabilidade persistente ao nível dos Estados, dos Municípios, da Federação. A empresa especulou sobre qual seria a situação mais vantajosa em escala global e, por isso, usou os benefícios fornecidos pelo Estado da Bahia. E se tentássemos uma lógica menos dependente da ordem global, uma lógica que nos permitiria outras opções e comportamentos territoriais? Talvez não chegaríamos a tais comportamentos particulares e egoístas, muitas vezes mascarados por pesquisas e políticas que, insistindo na ideia de setor, fazem aparecer, lado a lado, empresas de força muito desigual. Aqui vale a pena dizer uma palavra sobre o mercado interno, sobre o qual devemos levar em conta dois aspectos. Por um lado, as teorias da economia do mercado internacional, para o qual o mercado nacional continua sendo um residual e, portanto, somos aconselhados a não dar muita importância porque, se fosse para crescer, poderia prejudicar nossa participação no mercado internacional. Por quê? Por outro lado, parece que há boas intenções em relação ao alargamento do mercado interno, mas há muitos problemas de interpretação. Freqüentemente, a ideia de desenvolvê-lo está ancorada na citação internacional da moeda, para um único recurso natural ou para uma mercadoria e, como temos controle total sobre essas variáveis, a construção não é sólida, mas efêmera. Em outros momentos, o eixo proposto para o mercado interno é o da integração entre países vizinhos a partir de um sistema de objetos ou mesmo de uma empresa. Não necessariamente fortaleceremos o mercado em si, mas podemos nos integrar com os mercados vizinhos dessa maneira. O risco de o fracasso é recorrente quando a ideia de totalidade está ausente. Muitas vezes falamos sobre o mercado interno e realmente o que é feito é uma profunda internacionalização do consumo interno. Esquecemos que grandes corporações globais ou mesmo nacionais dominam os mecanismos de comércio atacadista e varejista, propaganda e crédito. Os indicadores de consumo crescem sem chegarmos ao desenvolvimento, porque trata-se apenas de aumentar o consumo, mas também de cuidar de formulários para que a produção de todos os tamanhos e todas as velocidades possam ter seu lugar. Quando o consumo doméstico, seja de eletrodomésticos ou móveis, quer se trate de informação, é gerido por algumas empresas internacionais, pode até crescer, mas isso não significa que o mercado interno seja fortalecido. Quem formula políticas, quem tem a responsabilidade do governo pode deixar sua visão ser ofuscada porque está lidando com grandes empresas e, assim, considera-los legítimos interlocutores na discussão da nação. No entanto, não é muito interessante que seu local de nascimento seja nacional quando sua lógica territorial é profundamente global. Talvez uma maneira de exorcizar esse risco seja insistir na idéia de um território usado por toda a sociedade, independentemente da sua força, como ponto de partida e como ponto de chegada da análise e política de Estado. O risco de não fazê-lo é reimaginar que o controle parcial de certos pontos, a existência de uma produção especializada e internacionalizada numa região, a predominância de lógicas externas, a consideração de aspectos particularizados que, certamente, arrastam outros interesses e fazem mais vulneráveis os territórios, mais tarde nos levarão ao desenvolvimento e justiça socioespacial. Nada mais infeliz. Quando uma grande empresa é instalada em uma localidade, equação de emprego e estrutura de consumo, incluindo tanto o consumo mais produtivo ligado ao campo e à indústria como consumo e consumo intangível, tais como educação, cultura e entretenimento; mas também a construção e uso de infra-estrutura, a composição do orçamento e a estrutura das despesas públicas. Tudo tem que estar preparado para a implementação da corporação. Também muda o comportamento de outras empresas e a imagem devido aos impactos no comportamento individual e coletivo, especialmente quando a cidade é pequena. E, além disso, o Estado, em níveis diferentes, começa a fazer uma série de acrobacias para que a empresa ser instalada e depois permanecer, uma vez que todos os dias irão inventar formas de extorsão para manter ou ampliar suas vantagens. A isto nós chamamos de uso hierárquico do território, porque os contextos são expandidos, a região e a cidade crescem, essa parcela do território nacional participa mais abertamente da globalização, mas com um uso diferenciado e hierárquico de recursos públicos e sociais. Predominam a ordem global e os eventos hierárquicos, que subordinam as outras formas de eventos, as outras formas da vida e do trabalho. Se esse uso hierárquico já é um problema em si, sua seriedade real aparece diante de nossos olhos quando a vemos em seu movimento. O uso hierárquico do território não é permanente, nem mesmo durável. As condições da empres são rapidamente alcançadas - a partir da produção de densidades técnica e regulatória, e rapidamenteperdida, porque a voracidade do capital cria uma insatisfação permanente e faz do Estado um refém de sua lógica A consequência imediata é um processo de desvalorização e reavaliações sucessivas e frenéticas das porções do território. Solidariedade orgânica, solidariedade organizacional O território pode ser entendido, também, pela existência de solidariedades orgânica e organizacional. A antiga definição de região, que devemos a Vidal de La Blache, enfatizou os processos auto-contidos nos limites de uma parte do território. Houve uma alusão que, nos confins de uma região, encontraríamos uma articulação ou interdependência contígua entre atores locais, uma interdependência orgânica. No período da globalização, isso parece ser brutalmente substituído por outra forma de interdependência, que é a solidariedade organizacional (M. Santos). É uma interdependência que não está confinada aos limites da região e que, em realidade, não conhece fronteiras, mas cobre o planeta. O uso hierárquico do território, que parece substituir tais relações de contiguidade, dá novo sentido à ideia de Jean Gottmann, quando refere-se ao território como abrigo e como recurso. Pequenas empresas, que dependem da contiguidade, usam o território como um abrigo porque está na contiguidade onde elas podem produzir e desenvolver um mercado para o seu trabalho. Pelo contrário, as grandes empresas usam o território como uma plataforma para obter lucro; para elas, o território é apenas um recurso em sua equação e não a condição de sua existência. Esta é a solidariedade organizacional, fundação do uso hierárquico do território, porque as grandes corporações usam bens públicos privilegiados e bens hierarquicamente privados, atualizando o que, na década de 1970, Topalov definiu como socialização capitalista. Com um papel central na produção e uso do território e da economia, as grandes corporações são, muitas vezes, parte e juiz do conflitos que eles próprios criam com outras empresas, com o Estado e com a sociedade. Mas, graças à produção científica de formas de convicção social, garante a legitimidade de seu comportamento. Diariamente a mídia nos apresenta, com uma lógica binária, um problema de assuntos atuais, em que devemos assumir uma posição a favor ou contra. Tais eventos atuais geralmente envolvem interesses corporativos: discursos travestidos de informação. Outras formas de condenação são normalizações sobre todos os aspectos do trabalho e da vida; isto é, regras que cuidam da higiene, da qualidade, dos processos agrícolas e industrial. Em nome da eficiência, crescimento, segurança e de tantos outros epítetos hoje apresentados como valores, os comportamentos são justificados violência social e territorial. No entanto, essa ordem significa uma desordem para a maioria da sociedade e o território de uma nação. Diante disso, novas formas de convicção ainda mais sofisticadas são produzidas. Hoje, a chamada responsabilidade social corporativa, face moderna e menos generosa da antiga filantropia, procura evitar esse transtorno causado pela ausência social do Estado e pelo "tudo vale" das assinaturas. O cuidado com o meio ambiente e o ensino à distância são, entre muitos, algumas iniciativas. Quando o Banco Bradesco, no Brasil, realiza campanhas na educação, além dos juízos de valor que podem ser formulados em conteúdos e formas, não há poder soberano para exigir duração. O dia em que o Bradesco decidir encerrar sua política social, ninguém pode exigir que não faça isso. Isso mostra, mais uma vez, que o papel da produção e distribuição de bens universais pertence ao Estado e não pode ser transferida para outros agentes. Essas formas de convicção frequentemente mascaram as formas de escassez e a guerra global de lugares; isto é, uma guerra global de empresas por lugares "produtivos". Os lugares são arranjos de materialidades, culturas, normas, formas fiscais, sindicatos, etc .; ou, em outras palavras, tecidos verdadeiros que atraem ou rejeitam certos locais corporativos. O crescimento, o fim do desemprego e da emigração, a modernização só pode ocorrer quando se aceita adaptar-se a esse tecido. Se as regras do município são rígidos, eles devem mudar; se o conteúdo do ensino não for adequado, eles devem ser reformados; se as infraestruturas são poucas, tem que construir uma que funciona. Tudo isso tem um custo social e o velho conceito marxista de produção desnecessário é completado com outra circulação desnecessária; isto é, a circulação de dinheiro, a produção de normas e formas políticas que assegurem fluência. Em suma, o chamado território "flexível" torna-se profundamente instável, ao ritmo da turbulência mundial e de uma velocidade necessária apenas para essas mesmas empresas. É uma ordem permanentemente dissolvida, uma ordem para essas empresas e uma bagunça para a sociedade. Especializações territoriais produtivas são criadas - regiões de soja, milho, trigo, fabricação de móveis ou produção de têxteis - que são produtos das divisões territoriais particulares do trabalho e que exigem do Estado uma forma de ação subordinada. Isso se manifesta administrando os conflitos que ocorrem entre as corporações e suas topologias, sejam preparar os lugares para essas divisões de trabalho em particular a formação de clusters ou sistemas produtivos locais. Menos presente é o papel do Estado que procura liderar uma divisão territorial do trabalho nacional, genuíno e endógeno. Os resultados desse processo social são frequentemente desarticulados, ingovernabilidade, um retorno à economia do arquipélago, embora sobre bases técnicas e científicas. Solidariedade organizacional, definida por uma interdependência mecânica de padrões implacáveis e exigentes de fluidez, procurando substituir a solidariedade orgânica; isto é, interdependência dos atores que surge de sua existência no lugar, a contiguidade, a construção e reconstrução local relativamente autônoma, busca de um destino comum. Talvez devêssemos olhar intensamente para as pistas desses fenômenos novo, de outras lentes que terminam com as formas de subordinação de pensamento. Talvez a solidariedade orgânica tenha adquirido outras formas que, às vezes, se tornam mais visíveis em crises. De tempos em tempos, o meios de comunicação nos mostram outras formas de trabalhar e viver e, mais tarde, eles param de mostrá-los, o que nos leva a pensar que morreram. A falta de visibilidade não significa que eles não existem e é mesmo uma vantagem porque eles não folclorizam essas manifestações incipientes. Quem tem mais força impõe formas de usar o território e contar as história do presente. É necessário analisar tudo isso. Mas sem esquecer os atores que têm outras manifestações existenciais, às vezes efêmeras. Eles estão lá para que procuremos a coisa sistemática que existe neles, para que possamos entender a maneira como o território é usado em contiguidade, onde outras divisões de trabalho que não são necessariamente modernas coexistem. É urgente que cheguemos a uma interpretação geográfica e, em seguida, num discurso, capaz de codificar o que já existe e não pode ser visto, e imaginar outras possibilidades que pode vir. Nesse sentido, pode ser importante aceitar o conselho que a quase um século, Camille Vallaux nos deu para dizer que era necessário fazer uma geografia útil, mas não utilitária, uma geografia inocente, mas não ingênua, porque preocupada em procurar a verdade. Bibliografia GAUDIN, Thierry (1999) Economia cognitiva: uma introdução. San Pablo, bolsa de estudos. GOTTMANN, Jean (1975) "A evolução do conceito de território". Em Ciências Sociais Informações 14, nº 3/4. Hägerstrand,Torsten (1975) "O terreno apropriado da geografia humana". Em: CHORLEY, Richard (comp.) Novas Tendências em Geografia. Madri, Instituto de Estudos da Administração Local. SANTOS, Milton (1991) Ou espaço: sistemas de objetos, sistemas de ações. In: Anais do IV Encontro Nacional da ANPUR, Salvador de Bahia. SANTOS, Milton (1994) "O Retorno do Território". Em: SANTOS, Milton; de SOUZA, Maria Adélia A. e SILVEIRA, Maria Laura (comp.) Território. Globalização e Fragmentação. San Pablo, Hucitec-ANPUR. SANTOS, Milton (1996) A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. San Pablo, Hucitec. TOPALOV, Christian (1973) Les Promoturs imobiliers. Paris, Mouton. VALLAUX, Camille (1923) Les sciences géographiques. Paris. VIDAL DE LA BLACHE, Paul (1922) Princípios da Geografia Humana. Lisboa, Cosmos. Notas 1 Conferência realizada em 23 de maio de 2006 no Departamento de Geografia, Faculdade de Humanidades e Ciências da Educação, Universidade Nacional de La Plata.