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A Sociologia de Um Gênio - resenha simples

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ANDRESSA MESSIAS DA SILVA OLIVEIRA
Mozart
Sociologia de um gênio
São Paulo
2018
ANDRESSA MESSIAS DA SILVA OLIVEIRA
Nº USP: 10692606
MOZART – SOCIOLOGIA DE UM GÊNIO DE NORBERT ELIAS
Resenha para avaliação da disciplina Sociologia da Educação, do curso de Pedagogia, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.
Professora Kimi Tomizaki
São Paulo
2018
ELIAS, Norbert. Mozart: A sociologia de um gênio. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. 
A sociologia nasceu da necessidade de compreender as transformações que estavam ocorrendo no século XVIII por conta do processo de industrialização. Em uma época em que havia uma dicotomia indivíduo-sociedade, vivia Norbert Elias - sociólogo alemão de família judaica, que viveu no século XX – entre aqueles que isolavam sociedade e indivíduo para estudar fenômenos sociais ou psicológicos separadamente. Na obra Mozart: Sociologia de um gênio, Norbert Elias, por meio de uma análise sócio-biográfica da vida de Wolfgang Amadeus Mozart, estuda a relação entre os indivíduos e a sociedade. Elias demonstra que não é possível compreender o artista-Mozart sem entender o homem-Mozart, sua historicidade e as mudanças sociais de sua época.
Ao nascer, o indivíduo é inserido em – e está sujeito a – uma rede de funções estruturada, a que se dá o nome de sociedade, em que as pessoas já desempenham papeis, ordenadas natural e socialmente. A configuração da família de Wolfgang já estava pronta quando ele nasceu, havia uma profissão já determinada para ele - seu pai era músico, servia o arcebispo de Salzburgo, na Áustria, como regente substituto, e ensinou ao filho, desde tenra idade, seu ofício. Como quando uma criança constrói seu vocabulário a partir do que as pessoas ao seu redor falam – que, por sua vez, construíram seu vocabulário de igual forma – Wolfgang construiu seu conhecimento musical com as aulas que o próprio pai havia lhe dado. 
Durante a infância, o indivíduo é ensinado pelos adultos com quem convive a controlar seus impulsos e sentidos, de forma que ele desenvolve sua auto-regulação a partir do repertório composto por cada geração. O pai de Mozart não apenas procurou guiá-lo na socialização entre os burgueses de corte – estrato social que compartilhava com cozinheiros e pasteleiros – e entre aqueles a quem a família Mozart prestava serviço, os aristocratas de corte, mas também o orientou para sublimar seus impulsos caóticos da infância em música, por meio de intensa disciplina, para torná-lo o virtuose infante que ele foi.
Mozart cresceu na “ilha afortunada” que o autor cita em sua outra obra, A Sociedade dos Indivíduos, em que ao adolescente são oferecidas diversas possibilidades para o futuro, que contrastam abruptamente com a vida adulta. O plano de Leopold Mozart, o pai de Wolfgang, era livrar-se dos limites impostos pela aristocracia – um artista-artesão assalariado, com posto oficial que compunha obras encomendadas para determinadas ocasiões. Esse plano foi incorporado pelo filho, de forma que, o maior sonho de Mozart passou a ser seguir sua própria imaginação, ele queria ser um artista livre. 
Os indivíduos estão inseridos em uma sociedade estruturalmente definida, e são pressionados, em certo momento, a decidirem entre conformar-se com os padrões da época e seguirem suas vontades. Mozart tinha inclinações que não condiziam com a estrutura social de sua época, ele estava diretamente dependente, em sua relação como artista, daqueles que consumiam seu trabalho mas, apesar de alertado muitas vezes, tentou seguir seu sonho de ser um artista livre. 
Mozart havia aprendido a música da época, conhecia os padrões e dominava-os, também tinha fantasias e devaneios – como ocorre com os artistas em geral - mas sabia combinar as duas coisas, transformando a música padronizada da aristocracia de corte em uma obra completamente inovadora, o que o fez um gênio. Nesse contexto, é impossível separar a sua genialidade de sua própria época, de forma que o indivíduo Mozart relacionava-se com a sociedade e estava ligado a ela por relações de interdependência.
Após romper com o arcebispo de Salzburgo para tentar ser o artista livre que desejava, Wolfgang tentou por anos conciliar seus anseios com a estrutura da sociedade em que vivia e, de fato em sua época, era possível “uma dependência menos estrita do público aristocrata-cortesão”, mas não foi o suficiente para ele. 
Os indivíduos humanos podem ser moldados de forma a ser de um príncipe a um cozinheiro, isso se deve à maleabilidade, à adaptabilidade da espécie - a ordem natural – mas as possibilidades de funções sociais estão limitadas pela extensão de uma margem de decisões influenciadas diretamente pela estrutura social em que o indivíduo vive – além das possibilidades reais dadas pelo retículo social. Para o indivíduo Johannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus Mozart, nascido em 1756 na Áustria durante o regime absolutista, não havia como equilibrar suas inclinações pessoais e sua função social no establishment da época, de forma que viu-se endividado aos trinta e cinco anos, com uma família dependente dele e um sonho frustrado. A natureza havia criado um indivíduo altamente inteligente, e foi dado a ele todo o material que lhe permitiria exercer sua criatividade de maneira revolucionária, mas vendo-se na encruzilhada entre viver a vida que o pai vivera e a vida que o próprio pai esperava dele, arriscou e fracassou.
Referência Bibliográfica
ELIAS, Norbert. Mozart: A sociologia de um gênio. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. 
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: Um conceito antropológico. Rio de Janeiro, 2008.
ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos. Frankfurt, Alemanha: Suhrkamp Verlag, 1987.

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