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COPPE/UFRJCOPPE/UFRJ ANÁLISES DE CIRCULAÇÃO HIDRODINÂMICA E DE TRANSPORTE DE SAL EM UM ESTUÁRIO HIPERSALINO: LAGOA DE ARARUAMA - RJ Nathalie Fonseca Gomes Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Oceânica, COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Engenharia Oceânica. Orientador: Paulo Cesar Colonna Rosman Rio de Janeiro Julho de 2009 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. ANÁLISES DE CIRCULAÇÃO HIDRODINÂMICA E DE TRANSPORTE DE SAL EM UM ESTUÁRIO HIPERSALINO: LAGOA DE ARARUAMA - RJ Nathalie Fonseca Gomes DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA OCEÂNICA. Aprovada por: _______________________________________________ Prof. Paulo Cesar Colonna Rosman, Ph.D. _______________________________________________ Prof. Julio César de Faria Alvim Wasserman, Ph.D. _______________________________________________ Profª. Susana Beatriz Vinzon, D.Sc. RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL JULHO DE 2009 iii Gomes, Nathalie Fonseca Análises de Circulação Hidrodinâmica e de Transporte de Sal em um Estuário Hipersalino: Lagoa de Araruama - RJ/ Nathalie Fonseca Gomes. – Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2009. X, 137p.: il.; 29,7 cm. Orientador: Paulo Cesar Colonna Rosman Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de Engenharia Oceânica, 2009. Referencias Bibliográficas: p. 126-137. 1. Modelagem computacional. 2. Lagoa de Araruama. 3. Estuário Hipersalino. I. Rosman, Paulo Cesar Colonna. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de Engenharia Oceânica. III. Titulo. iv “O coração do homem dispõe o seu caminho, mas é o Senhor quem dirige seus passos” (Provérbios 15:16) “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e ele tudo fará” (Salmos 37:5) Este trabalho é dedicado ao meu avô Miguel, por mostrar com seu exemplo que a grande sabedoria reside nas coisas simples da vida. v AGRADECIMENTOS A Deus. A minha mãe Nádia, pelo amor e dedicação incondicionais, compartilhando comigo cada etapa da minha vida. A meu pai, Eduardo, pelo apoio nos momentos decisivos, sempre me incentivando a olhar mais longe. A minha irmã, Natasha e meu cunhado, Everton, pelas conversas, o carinho, as idéias, e, especialmente, por alegrarem a nossa família com a chegada do nosso anjinho Gabriel. A meu irmão Rafael e minha cunhada Patrícia, pela torcida e o carinho. A meus queridos Tios Maria e Walter (in memorian), pelo exemplo de amor e alegria. As queridas Luciene, Paulinha, Clarissa, Rita, Flávia, Janaína e Manuela, pela amizade preciosa. A meus novos amigos Bernardo e Ricardo, por compartilharem comigo suas experiências e pelas palavras de incentivo. A Tia Alice e Fernandinha, por me receberem com tanto carinho nas visitas à Iguaba, pela torcida e pelo apoio nos momentos mais importantes. A Vó Therezinha, Regina, Zezé, Anita e todos os familiares e amigos que estão sempre torcendo por mim. A meu orientador, Paulo Cesar Colonna Rosman, pela oportunidade, a amizade e o conhecimento transmitido. Aos colegas da COPPE: Valéria, Gustavo, Teodósio, Ricardo, Daniel, Guilherme, Carla, Luana e todos aqueles que contribuíram para os momentos de agradável convivência. Em especial agradeço o Marcelo Cabral, pela ajuda tão importante com o modelo numérico, e a Sonia Cavalcante, pelas discussões sobre modelagem, que enriqueceram o meu trabalho. A Marise, pela atenção e carinho de todos os dias. A CAPES, pelo suporte financeiro durante o desenvolvimento deste trabalho. E, com muito carinho, a meu querido Daniel, pelo amor, a doçura, a compreensão e o apoio desde o início do nosso relacionamento. E também pela infinita paciência nos últimos meses do curso, as revisões e as discussões sobre o trabalho. vi Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.) ANÁLISES DE CIRCULAÇÃO HIDRODINÂMICA E DE TRANSPORTE DE SAL EM UM ESTUÁRIO HIPERSALINO: LAGOA DE ARARUAMA - RJ Nathalie Fonseca Gomes Julho/2009 Orientador: Paulo Cesar Colonna Rosman Programa: Engenharia Oceânica O estudo dos processos que controlam a qualidade de água em sistemas estuarinos é de grande importância para fundamentar e orientar as políticas de gestão desses recursos. Este trabalho apresenta uma análise do sistema lagunar de Araruama - uma laguna hipersalina localizada no sudeste do estado do Rio de Janeiro - sob a ótica da circulação hidrodinâmica e da salinidade. O trabalho tem por objetivo avaliar alguns dos principais agentes que interferem na dinâmica da Lagoa, tanto de cunho ambiental quanto antrópico. São abordados os seguintes aspectos: caracterização do padrão de circulação hidrodinâmica e de salinidade em cenários típicos de verão e de inverno; avaliação da influência do balanço hídrico negativo; avaliação da influência do gradiente horizontal de densidade e investigação das mudanças relacionadas à implantação do Programa de Revitalização da Lagoa de Araruama. A metodologia consiste na aplicação de simulações computacionais, com a utilização do modelo SisBaHiA, de forma a representar o comportamento da Lagoa sob diversos cenários. Os resultados encontrados mostram que a salinidade sofre grande influência do aporte fluvial e da descarga de efluentes, tornando-se esta uma questão de grande relevância na definição das ações de recuperação ambiental da Lagoa. Por fim, conclui-se que a revitalização da Lagoa de Araruama pressupõe um conjunto de ações, entre elas, a interrupção do despejo de efluentes (tratados e in natura) e a remoção de pontos de interrupção do fluxo no canal que conecta a Lagoa ao mar, aumentando a troca de massas d’água. vii Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.) HYDRODINAMICS AND SALT TRANSPORT ANALYSES IN AN HYPERSALINE ESTUARY: ARARUAMA LAGOON – RJ Nathalie Fonseca Gomes July/2009 Advisor: Paulo Cesar Colonna Rosman Department: Ocean Engineering The study of the processes that control water quality in estuarine systems are extremely important to support and guide the policies for managing these resources. This work presents an analysis of the Araruama Lagoon – an hypersaline lagoon on the southeast of Rio de Janeiro - from the viewpoint of hydrodynamic circulation and salinity. The study aims to examine some of the factors involved in the dynamics of the lagoon, both environmental and human nature. The following aspects are presented: characterization of the hydrodynamics and salinity patterns in typical scenarios of summer and winter; evaluation of the influence of negative water balance; evaluation of the influence of the horizontal gradient of density; and the research of the changes related to the Revitalization Program of Araruama Lagoon. The methodology consisted of applying computational simulations, using SisBaHiA model, to represent the behavior of the Lagoon in several scenarios. The results show that thesalinity is large influenced by river inflow and discharge of effluents, which becomes a matter of extreme importance to specify the actions of environmental recovery of the lagoon. Finally, it is concluded that the revitalization of the Araruama Lagoon presupposes a set of actions, including stopping the dumping of sewage (treated and in natura), and the removal of hydrodynamics restrictions in the channel that connects the lagoon with the sea, increasing the exchange of water masses. viii Sumário 1. Introdução ........................................................................................................ 1 1.1. Objetivos ............................................................................................................... 3 1.2. Escopo do trabalho ............................................................................................... 3 2. Caracterização da Área de Estudo ................................................................... 5 2.1. Localização e Descrição ....................................................................................... 5 2.2. Características Ambientais ................................................................................... 6 2.2.1. Aspectos Estuarinos .................................................................................... 7 2.2.2. Características Hidrológicas ....................................................................... 8 2.2.3. Características Meteorológicas ................................................................. 10 2.2.4. Balanço Hídrico ........................................................................................ 13 2.2.5. Sedimentos de Fundo ............................................................................... 14 3. Urbanização e Qualidade da Água da Lagoa de Araruama ........................... 16 3.1. Urbanização ........................................................................................................ 16 3.1.1. Principais Obras e Intervenções ............................................................... 20 3.2. Evolução da Qualidade da Água da Lagoa de Araruama ................................... 23 3.3. Recuperação Ambiental da Lagoa de Araruama ................................................ 26 3.3.1. Dragagem do Canal de Itajuru .................................................................. 26 3.3.2. Sistema de Esgotamento Sanitário ........................................................... 29 4. Metodologia ................................................................................................... 34 4.1. Considerações sobre o Sistema de Modelos Adotado ........................................ 34 4.1.1. Modelo de Circulação Hidrodinâmica 2DH para Corpos D’água Rasos ix com Variação de Densidade ........................................................................................... 35 4.2. Cenários de Simulação ....................................................................................... 44 4.2.1. Influência da Sazonalidade ....................................................................... 44 4.2.2. Efeito do Balanço Hídrico Negativo ........................................................ 45 4.2.3. Influência do Gradiente de Densidade...................................................... 45 4.2.4. Efeitos do Programa de Revitalização da Lagoa de Araruama ................ 46 5. Desenvolvimento dos Modelos ...................................................................... 48 5.1. Domínio de Modelagem e Batimetria ................................................................ 48 5.2. Discretização espacial......................................................................................... 50 5.3. Ventos ................................................................................................................. 51 5.4. Evaporação e Precipitação .................................................................................. 54 5.5. Sedimentos do Fundo ......................................................................................... 55 5.6. Condição de Contorno ........................................................................................ 56 5.7. Vazões Afluentes ................................................................................................ 58 5.8. Condição Inicial .................................................................................................. 63 6. Apresentação e Análise dos Resultados ......................................................... 64 6.1. Caracterização da Circulação Hidrodinâmica .................................................... 65 6.2. Distribuição Horizontal de Salinidade ................................................................ 80 6.3. Comparação com Dados Medidos ...................................................................... 86 6.4. Sobre o Balanço Hídrico Negativo ..................................................................... 89 6.4.1. Influência do Balanço Hídrico Negativo na Hidrodinâmica .................... 89 6.4.1. Influência do Balanço Hídrico Negativo na Salinidade ........................... 94 x 6.5. Sobre o Gradiente Horizontal de Densidade ...................................................... 99 6.5.1. Influência do Gradiente Horizontal de Densidade na Hidrodinâmica ...... 99 6.5.1. Influência do Gradiente Horizontal de Densidade na Salinidade ........... 103 6.6. Sobre o Programa de Revitalização da Lagoa de Araruama ............................ 106 6.6.1. Influência do Sistema de Esgotamento Sanitário na Revitalização da Lagoa de Araruama ...................................................................................................... 107 6.6.2. Influência da Obra de Dragagem do Canal de Itajurú na Revitalização da Lagoa de Araruama ...................................................................................................... 111 7. Conclusões ................................................................................................... 121 8. Sugestões ...................................................................................................... 125 Referências Bibliográficas .................................................................................. 126 1 1. Introdução O estudo dos processos que controlam a qualidade de água em sistemas estuarinos é de grande importância para fundamentar e orientar as políticas de gestão desses recursos. A gestão integrada dos recursos hídricos abrange a região costeira e a bacia hidrográfica, visando conciliar os múltiplos usos, garantindo a disponibilidade e a qualidade da água da bacia. Os estuários estão em uma zona de transição entre a bacia hidrográfica e a zona costeira, sendo caracterizados por um delicado equilíbrio hidrológico, resultado da interação entre águas fluviais, atmosféricas e oceânicas, que ocorrem dentro de seus limites geográficos. Qualquer alteração neste equilíbrio acarreta alterações importantes na qualidade de água destes ambientes (SCHETTINI, 1994 apud COLLIER, 1970). As lagunas costeiras são estuários semifechados, rasos, onde os processos físicos determinantes da circulação são o vento, a descarga fluvial e, em menor intensidade, a maré. Estes ambientes estão frequentemente sujeitos a impactos, tanto por influências naturais – resultantes de variações das condições ambientais – quanto antrópicas, em função de aterros, dragagens, construção de pontes, recebimento de efluentes domésticos, entre outros (KJERFVE, 1996). As lagunas costeiras, do tipo sufocada, são particularmente mais sensíveis, em função da pequena e lenta renovação de suas águas. O semisolamento da bacia interior conduza uma grande acumulação de nutrientes, poluentes ou qualquer substância que venha a ser lançada nesse sistema. Dependendo do saldo do balanço hídrico, as lagunas costeiras podem apresentar tendência a concentração de sal, gerando lagunas hipersalinas (KJERFVE, 1994). Uma das componentes da circulação hidrodinâmica em um estuário é mantida pelas diferenças de densidade produzidas pelo contraste de salinidade entre a água doce, oriunda do escoamento fluvial e a água salgada advinda do mar. Tanto a circulação estuarina quanto os processos de mistura são influenciados pelas diferenças de densidade e pela interação entre as massas d’água presentes. Em estuários hipersalinos, particularmente, esta componente é mais importante, devido aos altos gradientes de densidade. 2 Modificações no aporte de água doce, decorrentes do acréscimo do lançamento de efluentes, alteram, portanto, o balanço hídrico, e, consequentemente, os gradientes de densidade, gerando mudanças significativas na dinâmica destes ambientes. O estado do Rio de Janeiro possui uma série de lagoas costeiras, inseridas entre os costões rochosos e cordões arenosos de seu litoral, formadas a partir de variações em escala geológica do nível do mar. Entre elas, destaca-se a Lagoa de Araruama por suas grandes dimensões e uma característica peculiar: a hipersalinidade. A salinidade média da Lagoa é de 52 (SOUZA, 1993), a qual é resultado da interação entre o clima semiárido, a pequena bacia de drenagem e a ligação restrita com o mar. A Lagoa de Araruama está situada na Região dos Lagos, uma área intensamente explorada por atividades de turismo e veraneio. A expansão habitacional esteve sempre à frente dos investimentos, fazendo com que a infra-estrutura, sobretudo, no que tange ao saneamento, permanecessem sempre aquém da demanda. Segundo (MUEHE e VALENTINI, 1998), a especulação imobiliária foi desfigurando a região e acarretando graves danos ambientais. Entre os principais fatores destacam-se os grandes aterros – causadores de estrangulamentos no fluxo e, consequentemente, da diminuição da troca de massas d’água – e o lançamento de esgotos sanitários sem tratamento, que comprometeu a qualidade da Lagoa e de seus rios afluentes. Como consequência, episódios de explosão de algas e mortandade de peixes tornaram-se frequentes nas últimas décadas. Os estudos baseados em levantamentos de campo sobre a Lagoa de Araruama apontam para um contínuo processo de eutrofização, decorrente do acréscimo do lançamento de efluentes, com salinidade menor que a da Lagoa, ricos em matéria orgânica e em nutrientes (SOUZA, 1993, SHETTINI, 1994, KJERFEVE, 1996, SOUZA, 1997 e MELLO, 2007). Dentro deste contexto, destaca-se a importância da realização de estudos que forneçam uma visão dinâmica dos complexos processos que regem esses sistemas ambientais, viabilizando testar e levantar novas hipóteses a respeito das interações que ocorrem no estuário, simulando cenários, fornecendo prognósticos de situações futuras e possibilitando avaliar o impacto de intervenções no ambiente (LAVRADO, 1998). 3 1.1. Objetivos Face ao exposto, o presente estudo tem como objetivo realizar uma análise do sistema lagunar de Araruama – sob a ótica da circulação hidrodinâmica e da salinidade –, examinando alguns dos principais agentes que interferem na dinâmica deste corpo lagunar, sejam eles de cunho ambiental ou antrópico. Os objetivos específicos do estudo desenvolvido são: � caracterizar o padrão de circulação hidrodinâmica e de salinidade em cenários típicos de verão e de inverno; � analisar a influência do balanço hídrico negativo no processo de hipersalinização da Lagoa; � analisar a influência do gradiente horizontal de densidade e � investigar as mudanças decorrentes da implantação do Programa de Revitalização da Lagoa de Araruama. 1.2. Escopo do trabalho Dando continuidade ao texto desta dissertação, no capítulo 2 será feita uma caracterização da área de estudo, incluindo considerações sobre o tipo de estuário, as características hidrológicas e meteorológicas, o balanço hídrico e os sedimentos de fundo. No capítulo 3 descrever-se-á o processo de urbanização da Região dos Lagos, relacionando-o aos problemas encontrados na qualidade da água da Lagoa de Araruama e às ações de recuperação, que vêm sendo conduzidas através do Programa de Revitalização da Lagoa de Araruama. A metodologia será apresentada no capítulo 4, no qual será também descrito o sistema de modelos utilizado neste estudo. Discutir-se-ão, ainda neste capítulo, algumas particularidades a respeito da modelagem da Lagoa de Araruama e apresentar-se-ão os cenários de simulação determinados para a abordagem do problema. O capítulo 5 será dedicado ao desenvolvimento dos modelos, especificando-se as considerações seguidas no tratamento dos dados de entrada. 4 No capítulo 6, serão apresentados e discutidos os resultados obtidos, no capítulo 7, as conclusões e, por fim, no capítulo 8, as sugestões para trabalhos futuros. 5 2. Caracterização da Área de Estudo Neste capítulo é realizada uma breve descrição da Lagoa de Araruama, abordando algumas das principais características ambientais da região em que está situada. 2.1. Localização e Descrição A Lagoa de Araruama está localizada no sudeste do estado do Rio de Janeiro, compreendida geograficamente entre os limites 22º 49'S, 22º 57'S, 42º 00'W e 42º 23'W. Seu espelho d’água se estende pelos municípios de Saquarema, no extremo oeste, Araruama, Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio e Arraial do Cabo. A laguna está situada na Mesorregião das Baixadas Litorâneas, Microrregião dos Lagos, integrando o sistema de lagunas costeiras do sul do estado do Rio de Janeiro, conforme ilustrado na Figura 1. A Lagoa possui uma área de 220 km² e profundidade média de 3,0 metros, com pontos que atingem até 19 metros, configurando um volume de 636 milhões de m³. Sua largura máxima é de 14 km por 33 km de comprimento, com um perímetro de 190 km. A ligação com o mar se dá através de um único canal natural, de embocadura estável, localizado na extremidade leste da Lagoa, no município de Cabo Frio. O Canal de Itajuru é um canal estreito (de 100 a 300 metros de largura) e meândrico, com 6 km de extensão. O canal compreende a região entre a entrada da Enseada das Palmeiras e a boca do estuário (BIDEGAIN e BIZERRIL, 2002). 6 Figura 1. Mapa de localização da Lagoa de Araruama. FONTE: Adaptado de REIS (2006). A face norte da Lagoa é a mais ocupada, compreendendo as zonas urbanas dos municípios de Araruama, Iguaba Grande e São Pedro da Aldeia. Essa região é formada por diversas enseadas separadas por penínsulas, em sua maioria de natureza rochosa. Na porção leste, localiza-se o município de Cabo Frio, cortado pelo Canal de Itajuru. A orla sul é formada por quatro esporões arenosos, que se projetam rumo ao interior da laguna, a partir da Restinga da Massambaba. As porções sudeste e sul integram o município de Arraial do Cabo e, o extremo oeste, o município de Saquarema. Sob o ponto de vista econômico-social, trata-se de uma região voltada para o turismo e o veraneio, onde alguma atividade de pesca não-industrializada ainda persiste, tendo ocorrido intensamente extração de sal e de conchas (MUEHE e VALENTINI, 1998). 2.2. Características Ambientais A seguir serão descritas algumas das características ambientais da região, abordando os aspectos estuarinos, características hidrológicas, características meteorológicas, balanço hídrico e sedimentos do fundo. Estas informações compõem elementos para a definição dos dados de entrada dos modelos aplicados neste estudo. Praia Seca Saquarema Enseada das Palmeiras 7 2.2.1. Aspectos Estuarinos Uma das principais característicasda Lagoa de Araruama é a de estuário negativo, onde o somatório das vazões afluentes (fluviais e pluviais) é inferior à vazão de evaporação. Essa circunstância é resultado da associação entre o clima da região e a pequena bacia de drenagem, que promove a característica de hipersalinidade. A Lagoa de Araruama, assim como toda a região do litoral do Brasil, compreendida entre o estado do Rio Grande do Sul e o estado de Alagoas, está submetida ao regime de micromaré (MUEHE, 2005). No Porto de Arraial do Cabo, região de estudo, a amplitude da maré de sizígia é de 0,8 metros. Quanto à propagação da onda de maré, trata-se de um estuário hipossíncrono, com acentuada perda de energia no canal de ligação como mar. A onda de maré no Canal de Itajuru é predominantemente progressiva, com níveis e correntes praticamente em fase. Dentro da Lagoa, a onda tende a ser estacionária. Quanto à formação, a Lagoa de Araruama pode ser classificada, segundo DYER (1973), como um estuário de restinga frontal. Esse tipo de estuário é caracterizado por ter dimensões em planta (x e y) muito maiores que a profundidade (z), apresentar um ou mais canais de maré, que podem ser estáveis ou não, e possuir vazão de água doce muito menor que a vazão de água salgada. Geralmente, são formados em regiões de micro-maré, sendo separados do oceano por grandes cordões arenosos. São estuários comumente encontrados em regiões tropicais, onde os ventos exercem maior influência na hidrodinâmica do que a maré. Segundo classificação sugerida por PHELEGER (1969) e KJERFVE (1994) , a Lagoa de Araruama é uma lagoa costeira do tipo sufocada. As lagunas sufocadas são geralmente formadas por uma série de células elípticas, ocorrem ao longo de linhas de costa com alta energia de ondas, possuem um ou mais canais estreitos e apresentam troca d’água restrita com o oceano. As lagunas, principalmente as do tipo sufocada, podem evoluir, conforme as condições hidrometeorológicas, para sistemas marinhos de concentração ou diluição. No primeiro caso, o balanço hídrico negativo (precipitação + descarga fluvial - evaporação < 0) dá origem a um corpo d’água mais salino que a região costeira adjacente, de forma que o 8 balanço precipitação-evaporação desempenha papel importante na circulação hidrodinâmica e na concentração de constituintes. Por conseguinte, são ambientes que respondem rapidamente a variações de condições meteorológicas sinóticas e sazonais, tornando-se também bastante vulneráveis a ações antrópicas (MIRANDA et al, 2002). 2.2.2. Características Hidrológicas A Bacia Hidrográfica da Lagoa de Araruama, ilustrada na Figura 2, compreende os centros urbanos dos municípios de Araruama, Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia e Cabo Frio, além de parte dos municípios de Saquarema e Arraial do Cabo, totalizando uma área de 440 km2. Ao leste e ao sul estão as restingas da Massambaba e de Cabo Frio, que drenam para o mar. A bacia hidrográfica é composta por vinte sub-bacias que são apresentadas na Figura 3. Figura 2. Municípios integrantes da Bacia do Complexo Lagunar da Lagoa de Araruama BIDEGAIN e BIZERRIL (2002). Limite da Bacia Rio Bonito Saquarema Araruama São Pedro da Aldeia Cabo Frio Arraial do Cabo Iguaba Grande Restinga da Massambaba Restinga de Cabo Frio 9 Figura 3. Bacia Hidrográfica da Lagoa de Araruama destacando as 20 sub-bacias da região. FONTE: BIDEGAIN e BIZERRIL (2002). Os únicos cursos d’água que apresentam alguma vazão perene são os rios das Moças e Mataruna, que deságuam no município de Araruama, e o Rio Salgado, cuja foz está situada em Iguaba Grande (SHETTINI, 1994). Estes três corpos d’água representam de 80% a 99% do aporte fluvial à Lagoa. Os demais rios não apresentam vazões significativas e permanecem estagnados em grande parte do ano. Destaca-se ainda a alta correlação existente entre a descarga de água doce medida e a precipitação ocorrida nos dez dias anteriores, mostrando que, por se tratar de uma região semi-árida, as vazões fluviais são muito reduzidas nos meses de seca, concentrando-se nos períodos chuvosos (SOUZA, 1997). Além da vazão fluvial, contribui para o aporte de água doce à Lagoa de Araruama a vazão transposta da bacia do Rio São João, transportada principalmente pela adutora de Juturnaíba. Essa vazão, destinada ao abastecimento da população, chega posteriormente à laguna, através da descarga de esgotos in natura e de efluentes das estações de tratamento. As águas resultantes da transposição da bacia representam um adicional de mais de 50% no aporte de água doce. Por se tratar de uma das principais regiões de veraneio do Estado, há uma grande flutuação na população e consequentemente, na vazão. O gerenciamento de recursos hídricos é conduzido pelo Subcomitê das Bacias Hidrográficas da Lagoa de Araruama e do Rio Una, ligado ao Comitê da Bacia Lagos São João, criado em 2005, em conjunto com o Consórcio Intermunicipal Lagos São João. 10 2.2.3. Características Meteorológicas As características meteorológicas da região da Lagoa de Araruama são fundamentais para a compreensão da dinâmica deste sistema lagunar. O regime de ventos, principal forçante hidrodinâmico do maior recinto da laguna, e o balanço entre precipitação e evaporação são determinantes na variação da concentração de sal e demais nutrientes deste corpo d’água. A região é caracterizada por um baixo índice pluviométrico e por altas taxas de evaporação, associadas a registros de intensa incidência solar e temperaturas elevadas. Tais características se destacam em meio a um contexto regional úmido do litoral sudeste brasileiro. Estudos apresentados por BARBIÉRI em 1975, 1984 e 1985 relatam uma possível distinção entre dois microclimas na região, fator sugerido pela alta disparidade, em termos de produção de sal, entre os municípios de Araruama, São Pedro da Aldeia e Cabo Frio. BARBIÉRI (1975) analisou uma série de dados meteorológicos medidos pela Companhia Nacional de Álcalis, em Arraial do Cabo (estação considerada em Cabo Frio por BARBIÉRI), entre 1971 e 1980 e pela UFF no campus de Iguaba Grande, validando, posteriormente, os dados através de uma sequência de 50 anos de medições em Cabo Frio (1931-1980). A partir dessa análise, o autor identificou diferenças sensíveis em relação aos índices de precipitação (altura média anual 20% superior em Iguaba), evaporação (média anual 53% maior em Iguaba), umidade relativa (sempre inferior em Iguaba) e temperaturas máximas e mínimas absolutas (mais extremas e variáveis em Iguaba). As diferenças entre essas duas estações, distantes entre si não mais do que 20 km, configuram, na porção oeste (Araruama), o domínio do clima tropical, com chuvas intensas no verão e seca no inverno, e, na parte leste (Cabo Frio), uma semelhança maior com o clima semi-árido quente, situando-se a Lagoa de Araruama nessa zona de transição. Segundo esses estudos, a precipitação anual média em Iguaba Grande é de aproximadamente 900 mm/ano, enquanto em Cabo Frio chega a apenas a 750 mm/ano. Apesar da desigualdade quantitativa, em relação à distribuição das chuvas o regime pluviométrico é semelhante, seguindo um padrão sazonal. O período de maior índice 11 pluviométrico estende-se de novembro a janeiro e o período seco ocorre entre junho e agosto. Assim como a precipitação, a evaporação é maior em Iguaba Grande. A taxa média anual de evaporação é de aproximadamente 1400 mm/ano, em Iguaba e de 900 mm/ano, em Cabo Frio, valores esses que superam em até 500 mm/ano os totais de precipitação. A Figura 4 apresenta a diferença entre as médias mensais de precipitação e evaporação em Arraial do Cabo e Iguaba Grande (os mesmos dados analisados por BARBIÉRI, 1975), na qual se observa na maior partedo período a diferença negativa. Contudo, notam-se alguns períodos em que esse valor se torna positivo, especialmente nos meses de verão (KJERFVE, 1996). Figura 4. Médias mensais de precipitação, evaporação e precipitação - evaporação, medidas na antiga estação da Companhia Nacional Álcalis, próxima a Arraial do Cabo. FONTE: KJERFVE, (1996). A insolação, por sua vez, difere dos parâmetros anteriores no que se refere à diferenciação entre os valores observados nas duas estações, onde se destacam a coincidência no número de horas e na evolução rítmica sazonal. Os picos são observados no verão, com registros de 250 a 300 horas mensais, o que corresponde a Pr ec ip ita çã o - Ev ap o ra çã o (m m ) Ev ap o ra çã o (m m ) Pr ec ip ita çã o (m m ) 1970 1980 1990 12 cerca de 8,5 a 10 horas de sol, por dia. Nos meses de inverno, esse valor cai para cerca de 200 a 220h/mês, que representa de 6,5 e 7h diárias. As médias das temperaturas máximas variam entre 29ºC (no verão) e 24,5ºC (no inverno), em Cabo Frio, e entre 31ºC e 25ºC, em Iguaba. A umidade relativa se mantém próxima aos 80%, variando em Cabo Frio entre 82% (no verão) e 80% (no inverno) e entre 75% e 77%, em Iguaba Grande. O clima de ventos é caracterizado por ventos reinantes e dominantes1 de nordeste, na área compreendida entre o limite norte do estado do Rio de Janeiro e o sul da Lagoa de Araruama. Os ventos do quadrante nordeste, apresentam intensidades médias de 4 a 7 m/s, seguidos dos ventos do quadrante norte, alternando sua frequência ao longo do ano. Nos meses de verão, o nordeste chega a atingir frequências de 58%, em Cabo Frio, reduzindo ligeiramente, no outono e no inverno, e voltando a se destacar na primavera. Apresentam também boa expressividade os ventos do quadrante sul, em especial nos períodos de outono e inverno, quando a frequência dos fluxos de sudoeste chega a 14,7%, em Iguaba Grande, podendo atingir velocidades de mais de 10 m/s, quando associados à passagem de frentes frias (MUEHE e VALENTINI, 1998). A atuação dos ventos intensos do quadrante nordeste promove o fenômeno da ressurgência, observado nas proximidades da Ilha de Cabo Frio, onde ocorre uma mudança do alinhamento da linha de costa, passando de nordeste - sudoeste para leste- oeste. A ressurgência, caracterizada pelo afloramento de águas mais profundas e frias no litoral (nesta região dada pela Água Central do Atlântico Sul - ACAS), ocorre devido à atuação de ventos intensos ao longo da costa, associada ao efeito de coriolis, os quais causam o deslocamento da água superficial em direção ao oceano, possibilitando a ascensão das águas mais profundas. Essa ressurgência, entretanto, é marcadamente sazonal, ocorrendo com maior frequência no verão do que no inverno (IO/USP, 2009). 1 Ventos reinantes são os mais frequentes. Ventos dominantes são os de maior força, avaliados por um fator dado pelo produto da frequência de ocorrência do vento, multiplicado pelo quadrado de sua intensidade (MUEHE e VALENTINNI, 1998). 13 2.2.4. Balanço Hídrico O baixo aporte de águas pluviais e fluviais, em contraposição à alta taxa de evaporação, configura um déficit hídrico que, associado à condição do estuário de laguna sufocada, promove a condição de hipersalinidade permanente no corpo principal da Lagoa de Araruama. Os dados da CNA de 1965 a 1991 destacam esse déficit e sua relação com a salinidade da laguna. Apesar das médias mensais (Figura 4) indicarem meses com balanço positivo, os acumulados anuais, apresentadas na Figura 5, demonstram o predomínio da evaporação sobre a precipitação, com exceção dos anos de 1987 e 1988, na estação Iguaba Grande (KJERFVE, 1996). Nota-se que, de uma forma geral, o padrão de salinidade acompanha a tendência da diferença evaporação/precipitação. Figura 5. Acumulado anual de precipitação, de evaporação e a diferença (precipitação – evaporação) em Arraial do Cabo ( ----- ) e Iguaba Grande ( - - - ), e, médias de salinidade e de densidade junto à praia do Figueira. FONTE: KJERFVE, (1996). Pr ec ip ita çã o - Ev ap o ra çã o (cm ) Ev ap o ra çã o (cm ) Pr ec ip ita çã o (cm ) D en sid ad e (ºB é, 25 º C) Sa lin id ad e 14 2.2.5. Sedimentos de Fundo Os sedimentos de fundo da Lagoa de Araruama foram estudados e mapeados pela Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais – CPRM entre 1980 e 1984. A Tabela 1, resume as características dos cinco tipos de sedimentos identificados pela CPRM, e, a Figura 6, mostra a disposição espacial. Tabela 1. Características dos sedimentos da Lagoa de Araruama. FONTE: BIDEGAIN e BIZERRIL (2002). Tipo de Sedimento Descrição Areias de fundo de laguna Cores claras, encontram-se entre profundidades de 2,5 a 6,0 metros e contêm alta concentração de conchas. A espessura estimada é de 4 metros. Areias mistas flúvio- lagunares Cores cinza e marrom. Silte e argila presentes de 5 a 10%. Situam-se junto à orla norte até a profundidade de 4 metros com espessura máxima de 3 metros. Vaza orgânica de fundo de lagoa Lama fluída de cor escura. Por diferença de compactação passa em 0,5 metros a um fluído viscoso. Composta por matéria orgânica coloidal e argilas, rica em carapaças de algas diatomáceas e/ou cianofíceas. Deposita-se nas partes mais profundas da lagoa, em bacias ou canais com mais de 6 metros de profundidade. Areias de enseada rasa Cores claras, com alguma presença de conchas. As profundidades vão até 2,5 metros, predominando em áreas muito rasas, com menos de 1 metro de lâmina de água. Ocorre somente na parte sul da lagoa. Areias de cúspides de laguna Cores claras. Material fino como argila e silte praticamente ausentes. O teor de concha é variado. Alcançam a espessura de 6 metros e constituem a parte submersa dos esporões. Figura 6. Distribuição espacial dos sedimentos na Lagoa de Araruama. FONTE: BIDEGAIN e BIZERRIL (2002). Iguaba Grande Araruama São Pedro da Aldeia Cabo Frio Arraial do Cabo 15 Além do levantamento realizado pela CPRM, LESSA efetuou, em 1990, um levantamento granulométrico do fundo do Canal de Itajuru. Segundo esse estudo, no Canal predominam areias que variam de muito finas a grossas, conforme observado na Figura 7. Figura 7. Distribuição granulométrica dos sedimentos do Canal de Itajuru. FONTE: LESSA (1990). Areia grossa (1.00 – 0.50 mm) Areia média (0.50 – 0.25 mm) Areia fina (0.25 – 0.125 mm) Areia muito fina (0.125 – 0.062 mm) 16 3. Urbanização e Qualidade da Água da Lagoa de Araruama Este capítulo apresenta uma descrição do processo de urbanização ocorrido na Região dos Lagos, relacionando-o aos problemas de qualidade da água observados na Lagoa de Araruama. Incluem-se nesta abordagem o histórico das intervenções mais relevantes ─ a fim de demonstrar como se deu a influência dessas nos problemas de qualidade da água ─ e as ações mitigadoras que vêm sendo realizadas. Dessa forma, serão contextualizados os objetivos deste trabalho, evidenciando assim sua motivação. 3.1. Urbanização A Região dos Lagos apresentou uma urbanização rápida e pouco planejada, caracterizada por escassos investimentos em infra-estrutura (PEREIRA, 2004). O ritmo e a evolução do uso do solo estiveram vinculados a programas governamentais de incentivo à ocupação e à construção das vias de acesso. Dados demográficos da Fundação Centro de Informações e Dados do Estado do Rio de Janeiro – CIDE –, apresentados no Gráfico 1, mostram essa evolução, destacando-se doismomentos importantes. O primeiro, nos anos 50, corresponde à abertura da rodovia litorânea (atual Amaral Peixoto) e à implantação de um projeto estatal, que visava à transformação da região em área especializada no turismo-veraneio. O segundo se inicia a partir de 1974 e foi caracterizado por uma enorme explosão urbana, a qual está diretamente relacionada aos efeitos da criação do Sistema Financeiro de Habitação e da construção da Ponte Presidente Costa e Silva (Rio-Niterói) (COSTA, 1993). Os municípios do entorno da Lagoa de Araruama fazem parte da Mesorregião das Baixadas Litorâneas, que compreende também Arraial de Búzios, Cachoeiras de Macacu, Casimiro de Abreu, Rio Bonito, Rio das Ostras e Silva Jardim. Contudo, os municípios integrantes da Bacia Hidrográfica da Lagoa representam de 53% (1940) a 65% (2000) da população residente na Região das Baixadas Litorâneas. 17 -2.00 -1.00 0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 1940-1950 1950-1960 1960-1970 1970-1980 1980-1991 1991-2000 Ta xa de Cr e sc im e n to (% ) Metropolitana Noroeste Flu min en se Norte Flu min ense Serrana Médio Paraíba Cen tro-Su l Flu minense Baía da Ilh a Gran de Baixadas Litorân eas Gráfico 1. Taxas de crescimento populacional das regiões fluminenses. FONTE: FUNDAÇÃO CIDE. A Tabela 2 destaca esse crescimento, em termos de população absoluta, dos municípios do entorno da laguna. Nesta tabela chama-se atenção para o elevado percentual da população urbana residente em municípios localizados às margens da Lagoa de Araruama, a qual, por sua vez, é o destino final dos rejeitos desse contingente populacional. Dentre esses municípios, o único cujo centro não se situa às margens da Lagoa de Araruama é o de Saquarema, que se localiza junto a Lagoa de Saquarema, de modo que apenas uma parcela de sua população rural contribui para a descarga de esgotos na Lagoa. Tabela 2. População residente nos municípios do entorno da Lagoa de Araruama e percentual residente nos núcleos urbanos. FONTE: FUNDAÇÃO CIDE. Município 1940 1950 1960 1970 1980 1991 1996 2000 2007 % Urbano 2007 Araruama 25049 26242 30904 40031 49822 59024 66148 82717 98 268 93% Arraial do Cabo 2897 3195 7275 10974 15362 19866 21548 23864 25 248 100% Cabo Frio 8816 9750 16646 29297 50239 76311 101398 126894 162 229 78% Iguaba Grande 2877 2877 3528 4153 4131 8074 9221 15052 19 716 100% São Pedro da Aldeia 14340 16109 15868 23568 33371 42400 55926 63009 75 869 93% Saquarema 18970 18880 19865 24378 28194 37888 44017 52464 62 174 97% Total 72949 77053 94086 132401 181119 243563 298258 364000 443504 - Ta xa de Cr es cim en to (% ) 18 O rápido crescimento populacional, entretanto, não foi acompanhado de infra-estrutura compatível, sobretudo no que tange ao saneamento. O abastecimento de água foi, durante muitos anos, um problema crônico na Região dos Lagos. Devido à falta de água potável canalizada, as alternativas costumavam ser a perfuração de poços subterrâneos ─ que muitas vezes continham águas salobras ─ e a compra de água proveniente de outras bacias, em carros-pipa. No intuito de contornar essa deficiência, foi inaugurada em 1977 a adutora de Juturnaíba, ampliando-se a oferta de água na bacia e, consequentemente, o volume de esgotos, em uma vazão de aproximadamente 1000 l/s. Os problemas de abastecimento de água, porém, não foram solucionados, visto que a ocupação crescia em descompasso com os investimentos no setor, por parte dos governos e da então concessionária local, a Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Estado do Rio de Janeiro. Até o ano de 1998, o abastecimento funcionava em sistema de rodízio em São Pedro da Aldeia, Cabo Frio, Arraial do Cabo e Iguaba Grande, sendo cada área abastecida por vez. A cidade de Cabo Frio era ainda dividida em quatro setores, que recebiam água, alternadamente, a cada quatro dias (PROLAGOS, 2005). A partir de 1998, a administração dos serviços de águas e esgotos, até então sob domínio do Estado, foi concedida à iniciativa privada. As empresas Águas de Juturnaíba SA e Prolagos SA assumiram o controle dos serviços e obras de implantação, ampliação, manutenção e operação dos sistemas de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos sanitários. A Águas de Juturnaíba ficou responsável pela administração das áreas urbanas dos municípios de Araruama, incluindo Iguaba Pequena e São Vicente de Paula, Saquarema, juntamente com o distrito de Bacaxá, e Silva Jardim. À Prolagos couberam os serviços de água e esgoto dos municípios de Armação dos Búzios, Cabo Frio, Iguaba Grande e São Pedro da Aldeia, além da distribuição de água na cidade de Arraial do Cabo. O período das concessões é de 25 anos, com vigência de 1998 a 2023. Entretanto, a prioridade dos editais de concessão foi o aumento da oferta de água, ainda grande problema na época, ficando o esgotamento sanitário para um segundo momento. Segundo os contratos, até o ano de 2006 83% da população deveria ser atendida por rede de abastecimento de água e apenas 40% por esgotos (PROLAGOS, 2005). As melhorias no abastecimento de água promovidas pelas concessionárias acabaram por 19 acarretar o aumento no volume de esgotos lançado na bacia. PEREIRA (2007) relata que apenas durante os três primeiros anos de concessão, de 1998 a 2001, a vazão de água aduzida subiu de cerca de 1000 l/s para 1800 l/s. A resposta da Lagoa às agressões sofridas, por sua vez, foi clara e os primeiros indícios de um avançado processo de eutrofização surgiram no verão de 1999, caracterizados pelo aparecimento de uma superpopulação de algas. O odor fétido das algas em decomposição, o aspecto amarronzado das águas, antes cristalinas, e episódios de mortandade de peixes afugentaram os turistas e veranistas, mostrando que providências urgentes deveriam ser tomadas (PEREIRA, 2004). A Figura 8 ilustra um desses episódios, ocorrido em julho de 2003. Figura 8. Acúmulo de algas na Lagoa de Araruama, na Enseada de São Pedro da Aldeia, em julho de 2003. Fonte: CILSJ, 2007. Em contrapartida, a sociedade começou a se organizar, o que gerou o surgimento, em dezembro de 1999, do Consórcio Intermunicipal Lagos São João – CILSJ, órgão que reúne as prefeituras dos municípios localizados às margens da Lagoa de Araruama, as empresas sediadas na região, as ONG’s e o governo do Estado. O CILSJ tem como uma de suas principais atribuições a consolidação da Política Nacional e Estadual de Recursos Hídricos na região, traduzida, entre outras, nas ações de criação do Comitê de Bacia Lagos São João (2005), de renegociação dos contratos de concessão e de instauração do Programa de Revitalização da Lagoa de Araruama. Com a renegociação dos contratos, as concessionárias se comprometeram a antecipar os investimentos em esgotamento sanitário, iniciando a construção de estações de 20 tratamento. A coleta, devido ao alto custo de implantação de redes coletoras, foi introduzida primeiramente através de captações em tempo seco (PEREIRA, 2007). Além da implantação do sistema de esgotamento sanitário, o Programa de Revitalização da Lagoa de Araruama incluiu também medidas corretivas para os problemas relacionados às diversas intervenções realizadas na Lagoa. 3.1.1. Principais Obras e Intervenções A Lagoa de Araruama e o Canal de Itajuru sofreram, e vêm sofrendo, uma série de intervenções ao longo dos séculos, decorrentes dos processos de urbanização e exploração econômica da Região dos Lagos. LESSA (1990), que realizou um histórico das intervenções no Canal, relata que após a chegada dos portugueses, no início do século XVI, a boca da barra passou a ser usada como porto para o tráfico de pau-brasil, recebendo simultaneamente cinco navios de cento e cinquentatoneladas. Com base no exame da planta de uma nau de 120 toneladas, estima-se que a profundidade mínima na baixa-mar de sizígia era, então, de quatro metros. Em 1615, os portugueses promoveram a obstrução da boca da barra, permanecendo assim por duzentos e cinquenta anos, até ser reaberta, em 1880. Esse período promoveu intenso assoreamento no interior do Canal, interferindo em sua dinâmica de sedimentos. Em 1988, sondagens feitas no Canal de Itajuru indicaram profundidades médias de apenas trinta centímetros. Com o avanço da ocupação, sucessivos aterros foram sendo realizados para a instalação de salinas, loteamentos, condomínios e marinas, reduzindo a profundidade e a superfície da Lagoa e do Canal. A Figura 9 ilustra o processo de ocupação das margens do Canal, onde é possível observar uma expressiva redução em sua seção, com a formação de um delta de enchente, cuja parte emersa deu origem à Ilha do Japonês (LESSA, 1990). 21 Figura 9. Modificações nas margens do Canal de Itajuru. FONTE: LESSA (1990). Atualmente, apesar da embocadura estável ─ devido a sua natureza rochosa ─, o Canal de Itajuru apresenta importantes pontos de diminuição em sua seção hidráulica. Seguindo da boca do canal para a montante, o primeiro ponto de destaque é junto à barra, ao redor da Ilha do Japonês, onde se observam grandes bancos de areia, apontados pelas setas na Figura 10. Seguindo para montante, nas imediações da ponte Feliciano Sodré, encontram-se, como resultado do insucesso de uma intervenção recente, os destroços, da estrutura de uma antiga ponte, deixados dentro do Canal. A batimetria nessa seção foi sensivelmente alterada, existindo cotas de 1 (um) metro junto às peças de concreto, com um buraco adjacente da ordem de seis metros. Além da ponte Feliciano Sodré, há outras três pontes na região: a ligação entre a Ilha do Anjo e a margem sul do Canal de Itajuru, a ponte sobre o Canal Palmer e a Ponte RJ- 140, a qual une São Pedro da Aldeia a Cabo Frio. Esta última, construída sobre um grande aterro, cujos detalhes serão descritos à frente, provocou um forte estrangulamento do fluxo. As obras representam um grande entrave à circulação hidrodinâmica no Canal de Itajuru, diminuindo a velocidade das correntes, proporcionando assoreamento nas porções mais internas e dificultando a troca de massas d’água entre a Lagoa e o mar. 22 Figura 10. Imagem do Canal de Itajuru. FONTE: GOOGLE EARTH - 27/12/08. Além do Canal de Itajuru, o corpo principal da laguna também apresentou grandes mudanças, em função da ocupação de suas margens. HANSEN (1993) faz um relato sobre os principais problemas ambientais da Lagoa, destacando a ocupação de terrenos mediante aterros de brejos, a invasão da faixa dinâmica de praia, a construção de espigões, a construção de marinas, o engordamento artificial de praias, a abertura de canais e as recorrentes dragagens. Entre as atividades mais impactantes estão a perda de grandes áreas marginais pelas salinas e marnéis (totalizando uma área de, aproximadamente, 65 km2) e o lançamento de esgotos in natura. A Figura 11 mostra as áreas da laguna tomadas por salinas e marnéis e a localização dos canais. Figura 11. Áreas ocupadas por salinas e marnéis. As regiões em destaque localizam os principais canais construídos na laguna. FONTE: BIDEGAIN e BIZERRIL (2002). Salinas Marnéis Canal Palmer Canal do Mossoró Canal da Cia.Álcalis Ponte Feliciano Sodré Ilha do Japonês 23 3.2. Evolução da Qualidade da Água da Lagoa de Araruama A qualidade das águas da Lagoa de Araruama tem sido objeto de estudo de diversos grupos de pesquisa. A rápida mudança no aspecto da laguna despertou o interesse de pesquisadores no intuito de explicar a evolução de seu estado trófico e propor soluções para a sua recuperação ambiental. Em 1977, um estudo da FEEMA mostrava que a Lagoa apresentava-se oligotrófica, característica confirmada por SOUZA (1993), ao analisar os resultados de medições realizadas no período de abril de 1991 a março de 1992. Segundo esse estudo, apesar do aporte estimado de fósforo e nitrogênio, associado às interferências antrópicas, ser superior ao de outras lagunas fluminenses de pior nível trófico, a Lagoa de Araruama mantinha-se oligotrófica, em função de seu grande volume e de mecanismos de remoção de fósforo da coluna d’água. O autor destaca que a produtividade primária seria limitada por esse nutriente e a coluna d’água se mostrava inteiramente fótica. A salinidade foi o fator de maior influência na variabilidade dos constituintes. O fosfato e a clorofila-a apresentaram relação inversamente proporcional à concentração de sal, ocorrendo menores concentrações em áreas mais salinas. SOUZA et al (2003), com base nos mesmos dados, relatam que o estado oligotrófico da coluna d'água, na maior parte do tempo, é resultado da combinação entre o grande volume d’água, o longo tempo de residência, a produtividade primária dominada por microfitobêntos e a remoção de fósforo por algas bentônicas. Entretanto, o autor enfatiza a existência de indícios de que essa capacidade estaria próxima a atingir um limite, de forma que o sistema poderia se tornar mesotrófico. Outra campanha, realizada em 1994, pelo Instituto Acqua, efetuou o monitoramento da laguna, realizando um total de 21 coletas, em 16 estações, ao longo do ano. SOUZA (1997) comparou as medições com dados pretéritos e identificou um aumento na produtividade primária, induzido pelo acréscimo do aporte de nutrientes. O autor classificou o sistema como oligo a mesotrófico, onde a limitação da produtividade primária (através do fósforo retido nas interfaces fluvio-lagunar, água-sedimento e mar- lagoa) seria responsável pela manutenção do nível trófico e pelo retardamento da eutrofização. O autor desenvolveu ainda um modelo conceitual para essa mudança. De acordo com esse modelo, se ocorresse queda na salinidade, em função do aporte de água 24 doce e da descarga de efluentes, a turbidez e a demanda de oxigênio iriam aumentar, fazendo com que a produtividade primária passasse a ser comandada pelas comunidades fitoplanctônicas e não mais pelas fitobentônicas, estabelecendo, em um futuro próximo, condições eutróficas. MELLO (2007), a partir de dados medidos entre setembro de 2005 e janeiro de 2006, relata a alteração do sistema de meso para eutrófico, evidenciado por altas concentrações de fósforo e nitrogênio, grande turbidez, alta demanda por oxigênio e substituição da predominância dos produtores primários bentônicos por planctônicos. As concentrações de clorofila-a encontradas passaram de 2 µg/l em 1992 para 134µg/l. A Figura 12 mostra a Lagoa de Araruama em dois momentos. Uma quando as águas ainda eram cristalinas, com data estimada no início dos anos 90, e outra em 2008, onde a coloração se mostra amarronzada e observa-se um tapete de algas junto ao fundo. Figura 12. Fotos da Lagoa de Araruama retratando as mudanças na qualidade de água. À esquerda, quando as águas eram cristalinas (CILSJ, 2007), e, à direita, em 2008, em frente à Prefeitura de Iguaba Grande. Durante a realização deste estudo, por três anos consecutivos foram registrados grandes episódios de mortandade de peixes, todos nos meses de janeiro. O primeiro ocorreu nos dias 13 e 14 de janeiro de 2007, quando mais de 50 toneladas de peixes, siris e camarões apareceram boiando nas águas da laguna (Figura 13). Em decorrência do evento, o IBAMA, através da Instrução Normativa 155, de 7 de março de 2007, proibiu, por um período de 90 dias, qualquer atividade de pesca, coleta, beneficiamento e comercialização de organismos aquáticos, na Lagoa de Araruama. 25 Figura 13. Fotos publicadas na edição eletrônica do dia 17 de janeiro de 2007 do jornal O GLOBO, retratando a mortandadede peixes ocorrida nos dias 13 e 14 na Lagoa de Araruama. FONTE: O GLOBO, 2007. O evento mais recente aconteceu no dia 24 de janeiro de 2009. Segundo informações do jornal O GLOBO (2009a), estima-se que aproximadamente 200 toneladas de peixes morreram em toda a laguna (Figura 14). O município de São Pedro da Aldeia, mais uma vez, foi o mais atingido e decretou estado de emergência. A Enseada de São Pedro é especialmente vulnerável em função de sua localização. Ocorre que, em épocas de chuvas, os ventos típicos de nordeste se invertem, com a entrada de frentes frias, assumindo direção predominante de sudoeste. Essa condição favorece a advecção dos peixes ou algas que estiverem na superfície, rumo à enseada de São Pedro, localizada no extremo nordeste do corpo principal da laguna. Figura 14. Fotos publicadas na edição eletrônica do dia 26 de janeiro de 2009 do jornal O GLOBO, retratando mortandade de peixes ocorrida entre os dias 24 e 26 na Lagoa de Araruama. FONTE: O GLOBO, 2009a. Vários são os motivos do declínio da qualidade da água. Entre os principais fatores destaca-se o lançamento de esgotos sanitários sem tratamento, que comprometeu a 26 manutenção da qualidade da água da laguna e de seus rios afluentes (MUEHE e VALENTINI, 1998). Esse quadro é especialmente agravado durante o verão ─ período chuvoso e de férias ─, quando, naturalmente, a vazão dos rios tende a aumentar e concomitantemente ocorre um aumento da vazão de esgotos, devido ao incremento populacional. Nessa época, o aumento do nível dos rios imprime a necessidade de abertura das comportas para evitar inundações à montante, junto às margens dos córregos. O sistema de captação em tempo seco, então, deixa de atuar no barramento dos esgotos, proporcionando um grande despejo na laguna de água doce, rica em matéria orgânica, nutrientes e sedimentos. O acréscimo de nutrientes e de matéria orgânica promove o aumento da demanda por oxigênio e a proliferação de algas. A depuração dessa carga consome o oxigênio disponível na coluna d’água, ocasionando a morte dos peixes. 3.3. Recuperação Ambiental da Lagoa de Araruama Após os inúmeros prejuízos causados pelo expressivo declínio da qualidade da água, teve início, no ano de 2003, o Programa de Revitalização da Lagoa de Araruama. O programa consiste basicamente em duas ações: � a dragagem do Canal de Itajuru e � a implantação de sistema de esgotamento sanitário. As ações têm por objetivo promover um acréscimo na troca de massas d’água, entre a lagoa e o mar, e diminuir a vazão de esgotos que segue diretamente para a laguna, possibilitando, assim, melhoria na qualidade das águas. 3.3.1. Dragagem do Canal de Itajuru A obra de dragagem irá remover uma importante zona de obstrução no fluxo, caracterizada pelo aterro construído sob a antiga ponte RJ-140, além de diversos bancos de areia formados ao longo de seu eixo de dragagem. A área total dragada abrangerá a entrada do Canal de Itajuru, a Enseada das Palmeiras, o Canal Palmer e a Enseada Maracanã, até as proximidades do Boqueirão, incluindo pontos importantes, como a Ponta do Ambrósio. 27 De acordo com o projeto de dragagem realizado pela empresa Oriente Construção Civil LTDA, a seção transversal da calha principal será de 456 m2, com profundidade média de 2,5 metros em relação ao zero hidrográfico da DHN e taludes de 1:4 no Canal Palmer e 1:6 nos demais canais. O volume total dragado foi estimado em cerca de 1.800.000 m³, correspondente a uma área de 744.000 m². As regiões de bota-fora de dragagem ocuparão áreas de antigas salinas nas enseadas das Palmeiras e Maracanã, além de disponibilizarem areia para obras da prefeitura e de outros empreendimentos particulares. A Figura 15 ilustra o traçado da região de dragagem e as áreas de bota- fora. Figura 15. Croquis do projeto de dragagem e áreas de bota-fora. A faixa cinza destaca a área a ser dragada e as áreas em vermelho representam as regiões de bota-fora. FONTE: ORIENTE, 2006. Junto à dragagem do Canal de Itajuru, a construção de uma nova ponte sobre o Canal do Ambrósio constitui ação imprescindível para a desobstrução do fluxo entre a Lagoa e o oceano. A ponte antiga, erguida sobre um grande aterro, estrangulava a passagem da água entre as Enseadas das Palmeiras e Maracanã. Além da baixa altura, dificultando a navegação, o vão total era de apenas trinta metros. A situação era agravada, ainda, pela presença da adutora da Companhia Álcalis, que com seus cento e sessenta pilares, impedia o trânsito de embarcações e provocava grande assoreamento nesse trecho do Canal (CILSJ, 2007). A Figura 16 ilustra a adutora e a antiga Ponte RJ-140, com destaque para o pequeno vão, entre o aterro e a margem. Ponta do Ambrósio Ponte RJ-140 28 Figura 16. À esquerda, foto da antiga Ponte RJ-140 sobre o Canal do Ambrósio, onde se destaca o estreito canal sobre a ponte. À direita, destaca-se a adutora. FONTE: CILSJ, 2007. Com a construção da nova ponte e a conclusão da dragagem, esse trecho do canal de ligação lagoa-mar passará a ter trezentos e cinquenta metros de largura, além do aumento da profundidade, que subirá de pouco mais de um metro para dois metros e meio. A nova Ponte RJ-140 foi inaugurada oficialmente em novembro de 2007 e a realocação da adutora foi concluída no final de 2008. A dragagem foi paralisada inúmeras vezes e não foi finalizada até o momento da conclusão deste estudo. A Figura 17 ilustra imagens da construção da nova ponte. Já a Figura 18 mostra a ponte antiga e a projeção da nova ponte, quando toda a dragagem estiver sido concluída, ilustrando a desobstrução que ocorrerá no trecho. Figura 17. Foto da obra de construção na nova Ponte RJ-140. FONTE: CILSJ, 2007. Ponte nova 300 metros Ponte antiga 30 metros Cabo Frio São Pedro da Aldeia 29 Figura 18. Comparação entre a antiga Ponte RJ-140, à esquerda, e a projeção da nova ponte, à direita. FONTE: ORIENTE, 2006. 3.3.2. Sistema de Esgotamento Sanitário A implantação do sistema de esgotamento sanitário foi alavancada pela revisão dos contratos de concessão e teve início em 2002, quando se iniciaram as construções de estações de tratamento de esgotos, estações elevatórias e do sistema de coleta dos esgotos. A seguir, é descrito o sistema de esgotamento sanitário implantado em cada município. Os croquis apresentados destacam os trechos contemplados pelo sistema de coleta, que serão considerados na modelagem dos cenários após a implantação do sistema de esgotamento sanitário. Eles foram obtidos na homepage da Prolagos, em 2008, portanto é possível que já existam alguns avanços. � Cabo Frio A estação de tratamento de esgotos de Cabo Frio foi inaugurada em novembro de 2003. A ETE opera com tratamento primário quimicamente assistido, no qual a remoção de sólidos em suspensão se dá por meio de processos físico-químicos de coagulação, floculação e sedimentação. A vazão nominal é de 400 l/s e os efluentes são descartados na Enseada Maracanã, nas imediações da estação. No ano de 2004, foi concluído um cinturão coletor na margem sul do Canal de Itajuru, para captar os esgotos que eram despejados no canal e encaminhá-los à estação de tratamento. O sistema de coleta, apresentado na Figura 19, conta com apenas seis quilômetros de rede separativa, no bairro do Braga. 30 Figura 19. Sistema de esgotamento sanitário de Cabo Frio. Fonte: PROLAGOS, 2007. � São Pedro da Aldeia O município de São Pedro da Aldeia foi um dos pioneiros em ações de tratamento de esgotos na região. Onde hoje funciona a ETE de São Pedro da Aldeia, existia um sistema de tratamento com lagoa de estabilização, lagoa de sedimentação e lagoa de maturação, além de dezoito quilômetros de rede coletora, operados pela prefeitura.A estação de tratamento de esgotos atual entrou em operação em abril de 2004 e possui sistema terciário, equipada com tanque de lodo ativado, remoção biológica de fósforo e nitrogênio e desinfecção por raios ultra-violeta. A vazão tratada é de aproximadamente 60 l/s, com capacidade para 100 l/s e possibilidade de expansão para até 200 l/s. A Figura 20 apresenta o sistema de esgotamento de São Pedro da Aldeia. 31 Figura 20. Sistema de esgotamento sanitário de São Pedro da Aldeia. Fonte: PROLAGOS, 2007. � Iguaba Grande A estação de tratamento de esgotos de Iguaba Grande foi a última a entrar em operação, sendo inaugurada apenas em março de 2006. O sistema de tratamento é semelhante ao de São Pedro. A vazão atual é de aproximadamente 75 l/s, com possibilidade de expansão para até 155 l/s. O Município de Iguaba Grande possui cerca de dez quilômetros de rede coletora separativa no bairro de Iguabela, além de rede interceptora próximo ao centro e uma comporta no Rio Salgado, cujas vazões são bombeadas através das estações elevatórias para a ETE. A Figura 21 ilustra o sistema de coleta da região. 32 Figura 21. Sistema de esgotamento sanitário de Iguaba Grande. Fonte: PROLAGOS, 2007. O lodo das estações de tratamento é descartado em aterros sanitários dos municípios ─ conforme definição das prefeituras ─ e os efluentes lançados na Lagoa de Araruama. Dados da PROLAGOS (2006) informam que 91% da população dos municípios sob sua administração é atendida por rede de abastecimento de água e 46% por esgoto. Segundo as metas contratuais, o percentual da população atendida por rede de abastecimento de água, até 2022, já foi atingido: 90%. Quanto ao esgotamento sanitário, a empresa também está dentro do cronograma contatural, já que para 2010 a meta é de 50%, em 2017, 65% e em 2022, 70%. Os projetos da companhia para os próximos anos são a expansão da rede separativa e a construção de uma nova ETE, em Jardim Esperança, Cabo Frio (CILSJ, 2009). � Araruama O sistema de tratamento de Araruama operou até o ano de 2005 com um conjunto de lagoas de estabilização, constituído de duas lagoas anaeróbias, uma facultativa e uma de maturação. Após obras de recuperação, o sistema foi ampliado para receber uma vazão de 150 l/s, sendo composto atualmente por gradeamento, desarenação, lagoa aerada e lagoa de sedimentação. Segundo informações da empresa Águas de Juturnaíba (2008), em 2008 o município de Araruama possuía 93% de sua população atendida por rede de abastecimento de água e 55% por esgotos tratados e coletados, através de sistema de captação em tempo seco. 33 Atualmente, a prioridade da empresa é a melhora no sistema de tratamento da ETE Ponte dos Leites, com previsão de implantação de um wetland, aumentando assim a remoção de nutrientes (fósforo e nitrogênio). A Figura 22 ilustra a ETE Ponte dos Leites e uma barragem feita no Rio Mataruna, para a contenção dos efluentes. Nesta imagem pode-se observar nitidamente a diferença na coloração da água. À direita observa-se a porção a montante da barragem, com águas mais escuras, e à esquerda o trecho de jusante, conectado à Lagoa de Araruama. Figura 22. ETE Ponte dos Leites, em Araruama (esquerda) e barragem de nível no Rio Mataruna (direita) FONTE: CILSJ, 2007. 34 4. Metodologia A metodologia adotada baseia-se na aplicação de modelos computacionais, hidrodinâmicos e de transporte euleriano de sal, verificados através dos dados de campo disponíveis, de forma a representar qualitativamente o comportamento da Lagoa em diferentes cenários. A escolha do modelo computacional para simular as condições de qualidade de água de um corpo hídrico depende de suas características, dos parâmetros de interesse, do nível de precisão desejado em função dos objetivos do trabalho e dos dados disponíveis sobre o sistema TUCCI (1989). Uma solução eficiente deve apresentar resultados representativos do ambiente com boa acurácia e custo computacional oportuno. Os modelos desenvolvidos são bidimensionais promediados na vertical (2DH), considerando que a Lagoa de Araruama é um corpo d’água raso, com influência de ventos intensos e frequentes, onde a variação de salinidade e temperatura na coluna d’água não é significativa (SOUZA, 1993). Esta aproximação possibilita uma análise consistente da região e diminui significativamente o custo computacional da modelagem. Os modelos computacionais empregados neste estudo fazem parte do Sistema Base de Hidrodinâmica Ambiental – SisBaHiA –, desenvolvido na Área de Engenharia Costeira e Oceanográfica do Programa de Engenharia Oceânica da COPPE/UFRJ. O SisBaHiA vem sendo continuamente ampliado e aperfeiçoado na COPPE/UFRJ, desde 1987, através do desenvolvimento de inúmeras teses de mestrado e doutorado, além de ser largamente empregado em projetos de pesquisa na análise de problemas ambientais. 4.1. Considerações sobre o Sistema de Modelos Adotado O SisBaHiA é um sistema de modelos numéricos com módulos hidrodinâmico, de transporte de escalares euleriano, de transporte de escalares lagrangeano, de qualidade de água, de geração e propagação de ondas, com representações tridimensionais, bidimensionais promediadas na horizontal ou na vertical. O sistema de arquivos é armazenado em um banco de dados Access, com interface amigável em ambiente Windows. Os dados de saída podem ser exportados em formato texto, permitindo o uso 35 de diversos softwares de pós-processamento. O código é aberto, possibilitando maior compreensão sobre a forma como as equações são resolvidas pelo modelo numérico e facilitando eventuais ajustes, caso seja de interesse do modelador. A versão utilizada neste estudo é a 7.0, onde foram incluídos os termos de evaporação, precipitação e a variação do gradiente horizontal de densidade. O cálculo das variáveis no SisBaHiA é realizado por um modelo numérico denominado FIST (Filtered in Space and Time). No FIST a modelagem da turbulência é baseada em técnicas de filtragem semelhantes às empregadas na simulação de grandes vórtices (Large Eddy Simulation - LES). O sistema de discretização espacial é feito via elementos finitos, preferencialmente, quadrangulares biquadráticos. A discretização temporal se dá através de um esquema implícito de diferenças finitas, com erro de truncamento de segunda ordem. No desenvolvimento das equações governantes, no SisBaHiA, são consideradas as seguintes aproximações: meio contínuo, referencial euleriano, referencial não-inercial, aproximação hidrostática e aproximação de Boussinesq (ROSMAN, 2008). O processo de modelagem aplicado a este estudo seguiu o seguinte roteiro: � Modelagem geométrica: definição do domínio de modelagem, compreendido pelos contornos da fronteira aberta e da fronteira de terra, e discretização do domínio através da malha de elementos finitos. � Modelagem hidrodinâmica com variação de densidade: prescrição de batimetria; rugosidade equivalente do fundo; série de ventos; taxas de evaporação e precipitação; vazões afluentes; condições de contorno e condições iniciais. � Modelagem de transporte de sal: prescrição das condições de contorno e condições iniciais. Esta etapa foi aplicada apenas aos modelos de sal ligados aos modelos hidrodinâmicos sem variação de densidade. 4.1.1. Modelo de Circulação Hidrodinâmica 2DH para Corpos D’água Rasos com Variação de Densidade A descrição do escoamento de fluidos em regime turbulento é dada pelas equações de Navier-Stokes. Tais equações representam o princípio da conservação da quantidade de 36 movimento que, associadas à equação da continuidade, a uma equação de estado e a uma equação de transporte para cada constituinte, compõem o modelo matemático fundamental para qualquer corpo de água (ROSMAN, 2001).Em termos de modelagem computacional, a variação da quantidade de movimento é simulada pelo modelo hidrodinâmico, que calcula as variáveis determinantes da circulação do corpo d’água, constituindo a base para os modelos de transporte. Os dados de elevação da superfície livre e de intensidade de correntes gerados pelo modelo hidrodinâmico são os dados de entrada dos modelos de transporte no cálculo da advecção e difusão dos escalares. Quando a concentração da substância exerce influência sobre a circulação hidrodinâmica, esta substância é considerada ativa e deve ser calculada junto ao modelo hidrodinâmico. Ao passo que, se a substância não exerce influência na circulação hidrodinâmica, pode ser modelada separadamente, como um escalar passivo. A modelagem de substâncias ativas impõe que o modelo hidrodinâmico esteja associado a um modelo de transporte que, através de uma equação de estado, converte a concentração da substância em densidade. Modelos que contabilizam a variação de densidade na determinação do gradiente de pressão serão aqui tratados como ‘barotrópicos com componente baroclínico’ ou, simplesmente, ‘baroclínicos’. Os modelos nos quais a variação do gradiente de densidade é desconsiderada, contabilizando apenas o gradiente de pressão devido a elevação da superfície livre, serão chamados de ‘modelos puramente barotrópico’ ou ‘barotrópico’. Os modelos baroclínicos e barotrópicos podem ser tridimensionais ou bidimensionais. Os modelos tridimensionais se aplicam a corpos d’água com significativa variação vertical ou quando o movimento da substância de interesse está relacionado às correntes junto ao fundo, como é o caso de sedimentos, ou junto à superfície, por exemplo, no cálculo de deriva de corpos flutuantes. Quando o corpo d’água apresenta gradientes de densidade acentuados, é importante também considerar o termo baroclínico. Em sistemas estuarinos bem misturados, tendendo a verticalmente homogêneos, pode-se desprezar o termo baroclínico, e, dependendo do foco do estudo, adotar modelos bidimensionais. 37 Os modelos bidimensionais são aplicados a corpos d’água onde as variações num plano são muito maiores que ao longo do outro eixo. Estes modelos podem ser bidimensionais com variação na vertical (2DV), promediados na horizontal, ou bidimensionais com variação na horizontal (2DH), com valores médios ao longo da coluna d’água. Estes modelos podem contabilizar apenas o termo barotrópico, se a distribuição de densidade no plano não for significativa, ou, considerar também o termo baroclínico. No caso de estuários com grande variação horizontal de densidade, como é o caso da Lagoa de Araruama, o termo baroclínico é importante. Nos modelos hidrodinâmicos do SisBaHiA com variação do gradiente de densidade, o sal, a temperatura, ou ambos, podem ser modelados como escalares ativos. Neste caso, os modelos hidrodinâmico e de transporte rodam em paralelo, adotando a seguinte sequência: o modelo hidrodinâmico dá a partida; com base em seu resultado é iniciado, em seguida, o modelo de transporte, que calcula a concentração do constituinte passivo; o modelo hidrodinâmico, então, é recalculado, contabilizando, a partir da equação de estado, a variação de densidade da massa d’água, tornando o constituinte ativo. Este procedimento é repetido a cada passo de tempo, para todos os nós do domínio, até o fim do tempo de simulação estipulado pelo usuário. Na modelagem da Lagoa de Araruama, o gradiente espacial de densidade foi determinado em função da distribuição de salinidade, já que a variação de temperatura, tanto vertical quanto no plano horizontal, é pequena, em torno de 1ºC (SOUZA, 1997). 4.1.1.1. Equações Governantes A Figura 23 ilustra o esquema de promediação das velocidades empregado no modelo 2DH, onde: NR é o nível de referência adotado; Ui a velocidade promediada na vertical e ui o perfil de velocidades no modelo 3D. O índice i representa os eixos x e y. A profundidade instantânea H é igual à cota da superfície (z=ζ ) subtraída da cota do fundo (z=-h) para o NR estabelecido, chamada de altura da coluna de água. 38 Figura 23. Coordenadas do sistema de modelagem 2DH. FONTE: ROSMAN, 2001. As equações necessárias para determinar as incógnitas da circulação hidrodinâmica no módulo 2DH são descritas a seguir. � Equação da continuidade 2DH ζ Σ ∂ ∂ ∂ + + = + − + ∂ ∂ ∂ �������p e i q UH VH q q q t x y (1) Onde: ζ = elevação da superfície livre; U,V = componentes da velocidade média na vertical, nas direções x e y; H = altura instantânea da coluna d’água (H = ζ + h); eq = fluxo de precipitação por unidade de área; eq = fluxo de evaporação por unidade de área; iq = fluxo de infiltração por unidade de área. Os fluxos de infiltração podem ser afluentes ou efluentes, assumindo valores positivos ou negativos. Como na Lagoa de Araruama o balanço evaporação-precipitação é significativo e as taxas de evaporação superam as de precipitação, qΣ é negativo. Poderiam ainda ser considerados os fluxos de infiltração afluente e efluente. Entretanto, por falta de informações sobre estes valores, estas parcelas não foram contabilizadas. � Equação de conservação da quantidade de movimento 2DH na direção x ( ) 0 ( )( )1 1 1 2 sen ∂ τ ∂ τ∂ ∂ ∂ ∂ + + = − + + ∂ ∂ ∂ ρ ∂ ρ ∂ ∂ + τ − τ + Ω θ − Σ ρ xyxx o S F x x o HHU U U PU V t x y x H x y UV q H H (2) 39 � Equação de conservação da quantidade de movimento 2DH na direção y ( ) 0 ( ) ( )1 1 1 2 sen ∂ τ ∂ τ ∂ ∂ ∂ ∂ + + = − + + ∂ ∂ ∂ ρ ∂ ρ ∂ ∂ + τ − τ − Ω θ − Σ ρ yx yy o S F y y o H HV V V PU V t x y y H x y VU q H H (3) Onde: U,V = componentes da velocidade média na vertical, nas direções x e y; 0ρ = densidade de referência; P = pressão; , , , τ τ τ τxx xy yx yy = resultante das tensões dinâmicas turbulentas; ,τ τS F = tensão de atrito na superfície livre e no fundo; H = altura instantânea da coluna d’água (H = ζ + h); 2 sen 2 sen V U θ θ Ω Ω = termo relacionado a força de Coriolis, onde � representa a velocidade angular de rotação da Terra e θ é o ângulo de latitude; Σq = somatório dos fluxos de evaporação, precipitação e infiltração por unidade de área. Com o intuito de analisar os componentes do termo de pressão, este termo é desenvolvido na equação (4), escrita a seguir na forma de notação indicial. 0 00 1 1 2 ζ ρ ρ ρ ρ ∂ ∂∂ ∂ ∂ = + + + ∂ ∂ ∂ ∂ ∂ atm d i i i i i P PP gHH g H x x x x x (4) Sendo: i = índice que varia de 1 a 2, representando os eixo x e y respectivamente; 0 1 ρ ∂ ∂ atm i P H x = parcela do gradiente de pressão devido à variação da pressão atmosférica; ζ∂ ∂ i g x = parcela do gradiente de pressão barotrópico, relacionado à diferença de nível; 02 ρ ρ ∂ ∂ i gH x = parcela do gradiente de pressão baroclínico, relacionado à diferença de densidade; 0 1 ρ ∂ ∂ d i P H x = parcela dinâmica do gradiente de pressão. 40 Em domínios relativamente pequenos, como baías e lagunas a pressão atmosférica pode ser considerada constante e, como seu valor é muito inferior à densidade de referência 0ρ , este termo é desprezado. Já a pressão dinâmica só se torna relevante na modelagem de escoamentos cujas escalas horizontais sejam muito menores que a profundidade, podendo também ser desconsiderada no caso da Lagoa de Araruama. Reorganizando então a equação (4), chega-se a equação (5): 0 0 1 2 ζ ρ ρ ρ ∂ ∂ ∂ = + ∂ ∂ ∂i i i P gHg x x x (5) O primeiro termo, o componente barotrópico, representa a variação da pressão hidrostática devido à declividade da superfície livre, forçando o escoamento