Prévia do material em texto
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE PATOS DE MINAS - UNIPAM DISCIPLINA: CULTURA E SOCIEDADE CULTURA E SOCIEDADE - TEXTOS ADAPTADOS PROFESSORES (AS) COLABORADORES (AS): Altamir Fernandes de Sousa Carlos Roberto da Silva Guilherme Caixeta Borges Henrique Carivaldo de Miranda Neto Maria da Penha Vieira Marçal Maria de Fátima Silva Porto Moacir Manoel Felisbino Paulo Sérgio Moreira da Silva Roberto Carlos dos Santos PATOS DE MINAS 2013� SUMÁRIO 3MENSAGEM � 4PLANO DE ENSINO DE CULTURA E SOCIEDADE � 10TEMA 1: TRABALHO, MERCADO E RESPONSABILIDADE SOCIAL � 131.1 EDUCAÇÃO E SOCIEDADE DO CONHECIMENTO � 191.2 RELAÇÕES DE TRABALHO E O PERFIL DO PROFISSIONAL NO SÉCULO XXI � 221.3 EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO � 241.4 RESPONSABILIDADE SOCIAL: SETOR PÚBLICO, PRIVADO E TERCEIRO SETOR � 30TEMA 2 - O CONHECIMENTO EM SEUS DIVERSOS ASPECTOS � 312.1 OS QUATRO TIPOS DE CONHECIMENTO � 342.2CORRELAÇÃO ENTRE CONHECIMENTO POPULAR E CONHECIMENTO CIENTÍFICO � 352.3 – CIÊNCIAS EXTAS x CIÊNCIAS HUMANAS � 372.4- MÉTODO CIENTÍFICO � 40TEMA 3 - O HOMEM E A CULTURA � 403.1 O HOMEM: SER BIOLÓGICO E CULTURAL � 423.2 A CULTURA: DEFINIÇÕES, CULTURA POPULAR E CULTURA ERUDITA � 483.3 MULTICULTURALISMO, RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS, HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA � 563.4 INDÚSTRIA CULTURAL � 61TEMA 4 – MEIOS DE COMUNIÇÃO DE MASSA, TECNOLOGIA E NOVAS MÍDIAS � 614.1 OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA E SUAS CARACTERÍSTICAS � 684.2 AS VELHAS E NOVAS MÍDIAS � 704.3 COMUNICAÇÃO E TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO � 734.4 MÍDIA E SOCIEDADE DE CONSUMO � 78TEMA 5 – ÉTICA E IDEOLOGIA � 795.1 MORAL E ÉTICA � 835.2 ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL � 865.3 DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA � 935.4 IDEOLOGIA � 98TEMA 6 - RELAÇÕES SOCIAIS DE GÊNERO � 1006.1 CONFIGURAÇÕES DE GÊNERO NA SOCIEDADE ATUAL � 1036.2 MACHISMO E SEXISMO � 1086.3 FEMINISMO � 1136.4 DESIGUALDADE E DISCRIMINAÇÃO DA MULHER NA CULTURA E NA SOCIEDADE BRASILEIRA � 118TEMA 7 - REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E GEOPOLÍTICA � 1187.1 REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E TOYOTISMO � 1237.2 GLOBALIZAÇÃO E NEOLIBERALISMO � 1277.3 A GLOBALIZAÇÃO E A GRISE FINANCEIRA MUNDIAL � 1347.4 REFLEXOS POLÍTICO-INSTITUCIONAIS, ECONÔMICOS E SOCIAIS DA GLOBALIZAÇÃO NO BRASIL � 138TEMA 8 – GERAÇÃO Y � 1388.1 NOVAS TECNOLOGIAS E A NOVA GERAÇÃO DE TRABALHADORES DO CONHECIMENTO (Y) � 1408.2 CONTEXTO HISTÓRICO DO NASCIMENTO DAS GERAÇÕES BABY BOOMERS, X, Y E Z � 1458.3 O QUE A GERAÇÃO Y QUER E PRECISA NO TRABALHO � 1468.4 ESTRATÉGIAS E PROGRAMAS PARA GERENCIAR A GERAÇÃO Y � 155TEMA 9 - ECOLOGIA E BIODIVERSIDADE � 1559.1 NATUREZA E SOCIEDADE COMO ESPAÇO DE CIDADANIA � 1599.2 O MOVIMENTO ECOLÓGICO E POLÍTICAS PÚBLICAS � 1659.3 DESENVOLVIMENTO, SUSTENTABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL � 1689.4 CATÁSTROFES AMBIENTAIS E SOCIEDADE � 172TEMA 10 - VIOLÊNCIA URBANA E RURAL � 17310.1 ORIGENS DA VIOLÊNCIA � 18010.2 DISCURSO MIDIÁTICO E A VIOLÊNCIA � 18410.3 POLÍTICAS PÚBLICAS E VIOLÊNCIA � 18510.4 MOVIMENTOS SOCIAIS � �� MENSAGEM Caro (a) estudante, saudações! Esta apostila da disciplina CULTURA E SOCIEDADE é composta por dez (10) temas selecionados por uma equipe de nove (9) professores (as) colaboradores (as), os quais ministram a referida disciplina em todos os cursos do Centro Universitário de Patos de Minas – UNIPAM. A seleção dos temas teve como diretriz as orientações do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE, que integra o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – SINAES, com o objetivo de verificar o rendimento dos (as) alunos (as) dos cursos de graduação em relação aos conteúdos programáticos, suas competências e suas habilidades e, também, oferecer uma formação básica e geral sobre a realidade e/ou sociedade onde atuará profissionalmente. Os temas foram adaptados e padronizados para todos os cursos, o que não impede que cada professor (a), ao ministrar a disciplina em um curso específico, possa acrescentar a seu modo, a seu critério e a seu ponto de vista, outros textos complementares em cada tema por meio de atividades diversas que serão aplicadas durante o semestre letivo. Seja muito bem-vindo (a) e desejamos que você tenha um excelente aproveitamento! Atenciosamente, Professores (as) colaboradores (as). � PLANO DE ENSINO DE CULTURA E SOCIEDADE UNIPAM – CENTRO UNIVERSITÁRIO DE PATOS DE MINAS CURSO: DIREITO ANO LETIVO PERÍODO CARGA HORÁRIA SEMANAL 2013 2º 4 h/a Identificação da Disciplina: CULTURA E SOCIEDADE Professor(a): Me. Guilherme Caixeta Borges Ementa Estudo de temas clássicos e contemporâneos essenciais para o entendimento da configuração do mundo atual nas perspectivas histórica, antropológica, sociológica e filosófica. Conhecimento dos aspectos caracterizadores da formação étnico-racial e cultural da sociedade brasileira. Objetivos gerais Desenvolver a capacidade de reflexão crítica por meio da discussão e da análise dos principais temas relacionados às áreas do saber histórico, filosófico, antropológico e sociológico. Objetivos específicos - Compreender o processo de constituição da cultura ocidental a partir das matrizes da antiguidade clássica greco-romana. - Analisar a geopolítica contemporânea, a partir das relações do Brasil com o mercado internacional. - Reconhecer aspectos relevantes da cultura contemporânea para a formação profissional. - Estimular a leitura, a interpretação e a produção de textos relacionados às áreas do conhecimento humanístico. - Estabelecer relações, comparações e contrastes em diferentes situações. - Compreender os aspectos caracterizadores da formação étnico-racial e cultural brasileira. Conteúdos de plano de ensino 1 Trabalho, mercado e responsabilidade social 1.1 Educação e Sociedade do Conhecimento 1.2 Relações de trabalho e o perfil do profissional no século XXI 1.3 Empreendedorismo e inovação 1.4 Responsabilidade social: setor público, privado e terceiro setor 2 O conhecimento em seus diversos aspectos 2.1 Tipos de conhecimento (religioso, vulgar, filosófico e científico) 2.2 Senso comum X conhecimento científico 2.3 Ciências exatas/ ciências humanas 2.4 Método científico 3 O homem e a cultura 3.1 O homem: ser biológico e cultural 3.2 A cultura: definições, cultura popular e cultura erudita 3.3 Multiculturalismo, relações étnico-raciais, história e cultura afro-brasileira e indígena 3.4 Indústria Cultural 4 Meios de comunicação de massa, tecnologia e novas mídias 4.1 Os meios de comunicação de massa e suas características 4.2 As velhas e novas mídias 4.3 Comunicação e tecnologia de informação 4.4 Mídia e sociedade de consumo � 5 Ética e Ideologia 5.1 Moral e ética 5.2 Ética geral e profissional 5.3 Democracia, ética e cidadania 5.4 Ideologia 6 Relações sociais de gênero 6.1 Configurações de gênero na sociedade atual 6.2 Machismo e sexismo 6.3 Feminismo 6.4 Desigualdade e discriminação da mulher na cultura e na sociedade brasileira. 7 Reestruturação Produtiva e geopolítica 7.1 Reestruturação produtiva e toyotismo 7.2 Globalização e Neoliberalismo 7.3 A globalização e a crise financeira mundial 7.4 Reflexos político-institucionais, econômicos e sociais da globalização no Brasil 8 Geração Y 8.1 Novas tecnologias e a nova geração de trabalhadores do conhecimento (Y) 8.2 Contexto histórico do nascimento das gerações Baby Boomers, X, Y e Z 8.3 O que a Geração Y quer e precisa no trabalho 8.4 Estratégias e programas para gerenciar a geração Y 9 Ecologia e Biodiversidade 9.1 Natureza e sociedade como espaço de cidadania 9.2 O movimento ecológico e políticas públicas 9.3 Desenvolvimento, sustentabilidade social e ambiental 9.4 Catástrofes ambientais e sociedade 10 Violência urbana e rural 10.1 Origens da violência 10.2 Discurso midiático e a violência10.3 Políticas públicas e violência 10.4 Movimentos Sociais Atividades práticas supervisionadas Os discentes farão leituras de ensaios científicos e artigos de revistas selecionados pelo professor e assistirão a filmes, cuja abordagem se refira à disciplina, com a finalidade de reconhecer, interpretar e analisar os apontamentos teóricos analisados nas aulas. Além disso, serão realizados trabalhos e exercícios. Metodologia Pretende-se, mediante fundamentação teórica e recortes da realidade, compreender e criticar as transformações engendradas pelo homem na sociedade. As aulas serão desenvolvidas sob a forma de exposições dialogadas, seminários, análises de textos e filmes. Recursos didáticos Quadro, giz, datashow, filmes e livros e textos das obras indicadas na referência bibliográfica. Avaliação Durante o semestre letivo, a nota do discente na disciplina será composta pelos seguintes indicadores avaliativos: a) Quarenta pontos distribuídos pelo docente da disciplina, em exercícios, trabalhos e provas. b)Vinte pontos distribuídos no Projeto Integrador. c) Vinte pontos da Avaliação Colegiada. d) Vinte pontos da Avaliação Integradora (AVIN) Considerar-se-ão dois critérios, que não se excluem, para a aprovação na disciplina, a saber: a) Mínimo de sessenta pontos de aproveitamento, conforme nota global da disciplina. b) Mínimo de setenta e cinco por cento de frequência na disciplina. Referência bibliográfica básica ARON, R. As etapas do pensamento sociológico. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Lei nº 11.465, de março de 2008. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, ... a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Brasília: SEPPIR/SECAD/INEP, 2005. Disponível em: < http://www.iteral.al.gov.br/legislacao/http___www.iteral.al.gov.br_legsilacao_Lei-2011.465_-20de-202008.pdf/view>. Acesso em: 18 abr. 2011. CHAUÍ, M. Convite à filosofia. 14. ed. São Paulo: Ática, 2011. LARAIA, R. de B. Cultura: um conceito antropológico. 24. ed. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro, 2009. Referência bibliográfica complementar ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. 5. ed. São Paulo: Boitempo, 2009. ARANHA, M. L. de A. Filosofando: introdução à filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2009. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília: SEPPIR/SECAD/INEP, 2005. Disponível em: <http://www.sinpro.org.br/arquivos/afro/diretrizes_relacoes_etnico-raciais.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2011. BRASIL. Lei nº 10.639, de 09 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 09 jan. 2003. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm>. Acesso em: 03 fev. 2011. CARVALHO, J. M. de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 14. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. COLEÇÃO. Os Pensadores. 5. ed. São Paulo: Nova Cultura, 1991. MASI, D. D. A sociedade pós-industrial. São Paulo: Senac, 2003. NILO, O. O que é violência. São Paulo: Brasiliense, 1983. SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 7. ed. São Paulo: Record, 2001. RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. VALLS, A. L. O que é ética. 9. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.� TEMA 1: Trabalho, mercado e responsabilidade social 1.1 Educação e Sociedade do Conhecimento 1.2 Relações de trabalho e o perfil do profissional no século XXI 1.3 Empreendedorismo e inovação 1.4 Responsabilidade social: setor público, privado e terceiro setor Introdução Trabalho: Atividade Humana O que é o trabalho? Como podemos definir essa atividade? O trabalho, segundo o pensador Karl Marx, coloca frente a frente o homem e a natureza, ou seja, o trabalho é uma atividade que medeia à relação homem e natureza por ser uma prática que aproxima um do outro, provocando transformações materiais e espirituais. O trabalho para além da transformação da natureza, esse algo é o planejamento, a pré-ideação, em outras palavras, o ser humano constrói seu objeto - tendo por base o mundo material - primeiro na sua mente, isto é, cria a idéia do objeto, planeja como construí-lo e depois materializa sua idéia, executa a atividade prática-transformadora da natureza com consciência. Essa atividade laboral também transforma o próprio ser que trabalha, em outros termos, essa atividade transforma a natureza e, ao mesmo tempo, transforma o homem, ou melhor, quando o homem produz objetos ele se autoproduz. História do Trabalho A concepção de trabalho sempre esteve ligada a uma perspectiva negativa. A palavra “trabalho” deriva etimologicamente do vocabulário latino tripaliare do substantivo tripalium, aparelho de tortura formado por três paus, ao qual eram atados os condenados e que também servia para manter presos os animais difíceis de ferrar. Daí a associação do trabalho com tortura, sofrimento, pena, labuta. Na Antiguidade grega, o trabalho manual é desvalorizado por ser feito por escravos, enquanto as pessoas da elite, desobrigadas de se ocuparem com a própria subsistência, dedicam-se ao “ócio digno”, que, para os gregos, significa a disponibilidade de gozar do tempo livre e cultivar o corpo e o espírito. Não por acaso, a palavra grega scholé, da qual deriva “escola”, significava inicialmente “ócio”. Para Platão, por exemplo, a finalidade das pessoas livres é justamente a “contemplação das ideias”, na medida em que a atividade teórica é considerada mais digna, por representar a essência fundamental de todo ser racional. Também a Roma escravagista desvaloriza o trabalho manual. É significativo o fato de a palavra negotium indicar a negação do ócio: a ênfase posta no trabalho como “ausência de lazer” o distingue do ócio, prerrogativa das pessoas livres. Na Idade Média, Santo Tomás de Aquino procura reabilitar o trabalho manual, dizendo que todos os trabalhos se equivalem, mas, na verdade, a própria construção teórica de seu pensamento calcada na tradição grega, tende a valorizar a atividade contemplativa. Muitos textos medievais consideram a ars mechanica (arte mecânica ou trabalho mecânico) uma ars inferior. Na idade Moderna, a situação começa a se alterar: o crescente interesse pelo trabalho justifica-se pela ascensão dos burgueses, vindos de segmentos de antigos servos, acostumados ao trabalho manual, que compram sua liberdade e dedicam-se ao comércio. A burguesia nascente procura novos mercados, estimulando as navegações. No século XV os grandes empreendimentos marítimos culminam com a descoberta de outro caminho para as Índias e das terras do Novo Mundo. O interesse prático em dominar o tempo e o espaço faz com que sejam aprimorados os relógicos e a bússola. Com o aperfeiçoamento da tinta e do papel e a descoberta dos tipos móveis, Gutenberg inventa a imprensa. Todas essas mudanças indicam a expectativa com relação a novas formas do agir e do pensar humanos, às quais se acrescentam, no século seguinte, s revoluções do comércio e da ciência. Como se vê, está ocorrendo uma mudança de enfoque na relação entre o pensar e o fazer. Enquanto na Idade Média uma hierarquia privilegia o saber contemplativo em detrimento da prática, no Renascimento e na Idade Moderna dá-se a valorização da técnica, da experimentação, do conhecimento alcançado por meio da prática. Nascimento das fábricas Na passagem do feudalismo para o capitalismo, ocorrem marcantes transformações na vida social e econômica, como o aperfeiçoamento das técnicas e a ampliação dos mercados. O capital acumulado torna possível a compra de matérias-primas e demáquinas, obrigando muitas famílias, que desenvolviam o trabalho doméstico nas antigas corporações e manufaturas, a disporem de seus instrumentos de trabalho e, para sobreviver, a venderem sua força de trabalho em troca de salário. Com o aumento da produção, aparecem os primeiros barracões das futuras fábricas, onde os trabalhadores são submetidos a uma nova ordem, a da divisão do trabalho com ritmo e horários preestabelecidos. O fruto do trabalho deixa de pertencer aos trabalhadores e a sua produção passa a ser vendida pelo empresário, que retém os lucros. Está ocorrendo o nascimento de uma nova classe: o proletariado. No século XVIII, a mecanização do setor da indústria têxtil sofre impulso extraordinário na Inglaterra, como aparecimento da máquina a vapor, que aumenta significativamente a produção de tecidos. Outros setores se desenvolvem, como o metalúrgico; também no campo se processa a revolução agrícola. No século XIX, o resplendor do progresso não oculta a questão social, caracterizada pelo recrudescimento da exploração do proletariado e das condições subumanas de vida. A nova classe é submetida a extensas jornadas de trabalho, de dezesseis a dezoito horas, sem direito a férias, sem garantia para velhice, doença e invalidez. As condições de trabalho nas fábricas são insalubres, por serem elas escuras e sem higiene. Embora todos sejam mal pagos, crianças e mulheres são arregimentadas como mão de obra mais barata ainda. Os trabalhadores moram em alojamentos inadequados e apertados, nos quais não se consegue evitar a promiscuidade. Em decorrência desse estado de coisas, surgem no século XIX os movimentos socialistas e anarquistas, que denunciam a exploração e propõem formas para a modificação das relações de produção. A flexibilização da produção Com a implantação da tecnologia avançada da automação, da robótica, da microeletrônica, surgem novos padrões de produtividade, a partir das décadas de 1970 e 1980. A tendência nas fábricas é de quebrar a rigidez do fordismo, caracterizada pela linha de montagem e produção em série, centrado na produção em massa. Destaca-se a atuação da fábrica de automóveis Toyota, no Japão, ao criar novo método de gerenciamento que passou a ser conhecido como toyotismo. Essa revolução administrativa adaptou-se melhor à economia global e ao sistema produtivo flexível, evitando a acumulação de estoques ao atender aos pedidos à medida da demanda, com planejamento a curto prazo. Privilegia-se agora o trabalho em equipe, a descentralização da iniciativa, com maior possibilidade de participação e decisão, além da necessidade da polivalência de mão de obra, já que o trabalhador passa a controlar diversas máquinas ao mesmo tempo. Além disso, como a flexibilização depende da demanda flutuante, algumas tarefas são encomendadas a empresas “terceiras” subcontratadas. Essa terceirização atomiza os empregados, antes unidos nos sindicatos, o que provocou seu enfraquecimento no final da década de 1980, repercutindo negativamente na capacidade de reivindicação de novos direitos e manutenção das conquistas realizadas. Os temores mais frequentes dessa nova geração de trabalhadores da era da automação são o desemprego e o excesso de trabalho decorrente do “enxugamento” realizado pelas empresas em processo de “racionalização” de atribuição de tarefas. A sociedade pós-industrial A partir de meados do século XX, surge o que chamamos de sociedade pós-industrial, caracterizada pela ampliação dos serviços (setor terciário). Isso não significa que os outros setores tenham perdido importância, mas que as atividades agrícolas e industriais também dependem do desenvolvimento de técnicas de informação e comunicação. A mudança de enfoque descentraliza a atenção, antes voltada para a produção (capitalista versus operário), e orientando-se agora para a informação e o consumo. A atividade da maioria dos trabalhadores se encontra nos escritórios, ampliada por uma comunicação ágil, instantânea, veiculada em âmbito mundial pela expansão da Internet. Desde as décadas de 1980 e 1990, outra tentativa em direção à ética e à qualidade de vida está na efetiva ampliação das empresas do terceiro setor, assim chamadas por não serem gestadas nem pelo setor governamental ( o Estado) nem pelo mercado econômico, que visa lucros. Trata-se das organizações não governamentais (ONGs) que representam uma forma de atuação privada, mas com funções públicas e sem fins lucrativos. Tais instituições ocupam-se de atendimento de causas coletivas e sobrevivem de doações, que são aplicadas nas atividades-fins e no pagamento dos especialistas contratados. 1.1 - Educação e Sociedade do Conhecimento Inovação no contexto da Sociedade do Conhecimento Na sociedade do conhecimento, o elemento diferenciador na atividade produtiva é o próprio conhecimento, sendo que as matérias primas passam a ter uma conotação secundária. Nessa sociedade produziram-se também outras grandes mudanças nos âmbitos social, econômico e produtivo. Entre elas, a mudança no modo de comunicação, derivada do surgimento da internet e das tecnologias de digitalização de documentos. A comunicação passa a ser processada de “muitos para muitos", facilitando a disseminação de informações e a socialização do conhecimento. Fortes investimentos em pesquisa e desenvolvimento feitos pelas organizações e promovidos geralmente pelos governos dos países desenvolvidos, e o intercâmbio de fluxos de informação entre países além de bens e capitais, entre outros, são fatores preponderantes nessa nova sociedade. Todos esses fatores dão suporte e facilitam a criação de conhecimento, o bem mais apreciado nesta época. A inovação é vista como uma vantagem competitiva pelas organizações e, consequentemente, investimentos em pesquisa e desenvolvimento de produtos são realizados, para se criar conhecimento, o principal insumo do processo inovativo. A inovação é entendida no contexto da sociedade do conhecimento, identificando sua relação com o conhecimento, as novas tendências empresariais frente a ela, e os novos papéis que os governos têm para fomentar esse processo. A Sociedade do Conhecimento A sociedade do conhecimento é compreendida como aquela na qual o conhecimento é o principal fator estratégico de riqueza e poder, tanto para as organizações quanto para os países. Nessa nova sociedade, a inovação tecnológica ou novo conhecimento, passa a ser um fator importante para a produtividade e para o desenvolvimento econômico dos países. A sociedade de conhecimento é então posterior à sociedade industrial moderna, na qual matérias primas e o capital eram considerados como o principal fator de produção. Essa nova sociedade é impulsionada também por contínuas mudanças, algumas tecnológicas como a Internet e a digitalização, e outras econômico-sociais como a globalização. Características da sociedade do conhecimento Quando se observa a sociedade pelo prisma histórico percebe-se, que do ponto de vista econômico, pode-se visualizar várias fases tais como: da sociedade agrícola, na qual a terra e a mão de obra foram os fatores preponderantes para determinar o nível de desenvolvimento; sociedade industrial, na qual o capital e o trabalho passam a ser forças motrizes do desenvolvimento econômico e na sociedade do conhecimento, na qual o conhecimento passa a ser o fator essencial do processo de produção, geração de riquezas e desenvolvimento dos países. O conhecimento se tornou a principal força produtiva, os produtos da atividade social não são mais produtos de trabalho cristalizado, mas de conhecimento cristalizado. O valor de troca das mercadorias não é determinado pela quantidade de trabalho social nelas contidas, mas pelo conteúdo de conhecimento, de informações e de inteligências gerais. Assim, o capital humano passa a fazer parte do capital da empresa, os trabalhadores pós-fordistas entram no processo de produção com toda a sua bagagem cultural. Assim, entre as principais características da sociedadedo conhecimento, encontram-se as seguintes: A - Os produtos são valorados pelo conhecimento neles embutido. Assim, o poderio econômico das organizações e dos países está diretamente relacionado ao fator conhecimento. B - A pesquisa científica tornou-se fundamental para o desenvolvimento dos países. C - A criação de conhecimento organizacional tornou-se um fator estratégico chave para as organizações, sendo fonte de inovação e vantagem competitiva. D - O conhecimento, a comunicação, os sistemas e usos da linguagem tornaram-se objetos de pesquisa cientifica e tecnológica, sendo o estado um agente estratégico para o desenvolvimento científico. E - Os fluxos de informação e conhecimento entre países, são acrescentados aos fluxos de capital e de bens já existentes, tornando-se uma economia transnacional. F - Ocorreu uma mudança no paradigma de comunicação, a lógica comunicacional de “um para muitos" foi substituída pela de “muitos para muitos", impulsionado pelo surgimento da Internet como meio de disseminação de informações e pelas novas tecnologias motivadas pela digitalização de documentos. Dávila Calle, Guillermo Antonio e Da Silva, Edna Lucia, 2008. Inovação no contexto da sociedade do conhecimento. Revista TEXTOS de La CiberSociedad, 8. Temática Variada. Escola, sociedade da informação e o novo mundo do trabalho (Ligia leite) O mundo contemporâneo apresenta mudanças que afetam todos os setores da sociedade, inclusive a educação. Compreendemos que passamos de uma sociedade cuja base tecnológica era analógica para uma vida digital, como nos afirma Negroponte (1995). Essa desafiadora situação exige novas capacidades mentais, habilidades gerais de comunicação e maior capacidade de abstração, num reduzido espaço de tempo. As pessoas e as instituições devem adaptar-se a esta nova situação, passando a rever, métodos de ensinar e aprender, tanto na escola como no trabalho. A sociedade global, que nos é imposta, objetiva um agir e pensar padronizados. Conclui-se que neste quadro que se apresenta, resultam mudanças que deslocam as estruturas das sociedades modernas e de suas instituições. A escola, enquanto instituição local, que pelas novas tecnologias pode inserir-se globalmente, não poderia deixar de acompanhar estas transformações. Dentro deste contexto, objetivamos refletir sobre o papel da escola, a integração da tecnologia no processo ensino aprendizagem e a pensar sobre a formação de um educando integrado na sociedade da informação e capaz de sobreviver neste Novo Mundo do Trabalho. A escola no contexto atual Tornou-se urgente fazer com que a escola seja parte integrante do futuro que por agora se configura, resignificando o seu papel, estabelecendo uma relação prazerosa entre o conhecimento e o saber, desenvolvendo a comunicação, o pensamento crítico e trabalhando no sentido de levar o educando a resolver situações problemas, num processo dinâmico de construção do conhecimento. Para que se realize um trabalho novo, há necessidade de mudanças na escola. Pretto (2000) aponta alterações de currículo, programas, materiais didáticos, estrutura administrativa e arquitetônica, para que a escola possa enfrentar os novos desafios que lhe são colocados. Além de centro mediador da informação, ela deve ser o centro facilitador do acesso das comunidades carentes às novas tecnologias. Complementaria o seu papel transformando-se em espaço da discussão, da crítica, da sistematização das informações que estariam disponíveis dentro e fora da escola. Por estar inserida nas mudanças por que passa a sociedade, a escola, segundo Alencar (2001: 44) apresenta-se como aparelho ideológico, cujas transformações se fazem de forma mais lenta. "mais ainda assim, decisiva". Dessa forma, o papel da escola passa a ser de fundamental importância para a configuração deste novo cidadão que, na urgência, nós, educadores, precisamos ajudar a formar. A sociedade da informação e o novo mundo do trabalho Vivendo na cibercultura torna-se necessário considerar a posição de Castells (2003) ao se referir à Internet como a transformação tecnológica que resume o conjunto de transformações da sociedade da informação, ressaltando que tudo que é significativo hoje passa pela Internet e que as pessoas que não têm acesso a ela permanecem excluídas do que é importante, assim sendo, não se pode aceitar que o professor permaneça afastado da Internet e que esta tecnologia não esteja presente na sala de aula da cibercultura. Numa sociedade em transformação, a internet, juntamente com as tecnologias de telecomunicação, contribui para que o aluno aprenda a conviver com a diversidade, portanto, ela se apresenta como um potencial para produzir mudança social revolucionária na educação e na sociedade. Se pensarmos na Internet como uma tecnologia que possibilita o desenvolvimento de um ambiente de aprendizagem baseado na construção de conhecimento, sua presença em situações de aprendizagem, oportuniza aos sujeitos-aprendentes ter mais condições para desenvolver sua própria aprendizagem, pois esta tecnologia permite que eles se tornem participantes ativos na busca de conhecimento, definindo suas necessidades de aprendizagem, encontrando informações, construindo suas próprias bases de conhecimento e compartilhando suas descobertas. Navegar na Internet pode ser um processo de busca de informações que podem ser transformadas em conhecimento, gerando um rico ambiente interativo facilitador e motivador de aprendizagem, bem como pode ser um dispersivo e inútil coletar de dados sem relevância que não agregam qualidade pedagógica ao uso da rede. Assim, cabe ao professor, profissional responsável pelo planejamento, desenvolvimento e avaliação dos processos de aprendizagem sob responsabilidade da escola, orientar os alunos no uso da Internet de modo que os conduza ao processo de construção do conhecimento. Reflexões finais De acordo com Moran (2002), os modelos de educação tradicional não nos servem mais, porém, a função primordial da escola continua sendo a mesma: o ensino, tendo a questão pedagógica na base de todos os esforços para a melhoria da sua qualidade. Porém, a escola precisa re-significar o seu papel estabelecendo uma relação prazerosa entre o conhecimento e o saber, transformando-se em um lugar de produção e não apenas apropriação de conhecimento e cultura. Deve procurar desenvolver a comunicação, a memória, o pensamento crítico e trabalhar no sentido de levar o educando a resolver situações-problema em todos os níveis: os que aparecem no trabalho escolar, os que pertencem ao gerenciamento de questões diárias e os sociais, os que encontramos na interação com as outras pessoas. E o trabalho com a imagem, através do vídeo e do computador pode possibilitar a concretização dessas possibilidades. A escola não deve dispensar nenhum meio de comunicação, mas integrá-los, utilizando-se de novos procedimentos e entre eles inclui-se a aprendizagem cooperativa, a pesquisa, o trabalho com projetos. Parece-nos premente continuar mudando a educação, porém, esta ação deve ser contínua e fruto da reflexão de professores e alunos, e não uma imposição do sistema educacional. Este novo professor deve desenvolver novas competências e habilidades em seus alunos, tornando-os capazes de sobreviver num mundo globalizado e fazendo-os perceberem-se como construtores das suas próprias histórias, capazes de aprender a aprender, numa atualização constante, na qual a imagem da TV, do vídeo e do computador têm papel significativo. Finalizando com Dowbor (2001), é preciso que a educação mobilize a sua força na reconstrução de uma convergência entre o potencial tecnológico e os interesses humanos. Somente articulando dinâmicas mais amplas, que extrapolam a sala de aula poderá a educação realizar mais este novo modelo de alfabetização tecnológica, que permitirá a permanência e sobrevivência dos nossos alunos neste Novo Mundo do Trabalho. Fonte: http://br.monografias.com/trabalhos/escola-sociedade-informacao-mundo-trabalho/escola-sociedade-informacao-mundo-trabalho2.shtmlEducação, cidadania e ética A educação deve ser entendida como fator de realização da cidadania, com padrões de qualidade da oferta e do produto, na luta contra a superação das desigualdades sociais e da exclusão social. Nesse sentido, a articulação da escol com o mundo do trabalho torna-se a possibilidade de realização da cidadania, pela incorporação de conhecimentos, de habilidade técnicas, de novas formas de solidariedade social, de vinculação entre trabalho pedagógico e lutas sociais pela democratização do Estado. No contexto da sociedade contemporânea, a educação pública tem tríplice responsabilidade: ser agente de mudanças, capaz de gerar conhecimentos e desenvolver a ciência e a tecnologia; trabalhar a tradição e os valores nacionais ante a pressão mundial de descaracterização da soberania das nações periféricas; preparar cidadãos capazes de entender o mundo, seu país, sua realidade e de transformá-lo positivamente. Essas possibilidades indicam, complementarmente, três objetivos fundamentais que devem servir de base para a construção de uma educação pública de qualidade no contexto atual: preparação para o processo produtivo e para a vida em uma sociedade técnico-informacional, formação para a cidadania crítica e participativa e formação ética. A preparação para o processo produtivo e para a vida em uma sociedade técnico-informacional envolve a necessidade de a escola preparar para o mundo do trabalho e para formas alternativas de trabalho, tendo em vista a flexibilização que caracteriza o processo produtivo contemporâneo e a adaptação dos trabalhadores às complexas condições de exercício de sua profissão. Isso implica que a educação escolar deverá centrar-se: na formação geral, cultural e científica que permita a diversidade/integração de conhecimentos básicos da ciência contemporânea e de habilidades técnicas que fundamentam os novos processos sociais e cognitivos; na preparação tecnológica e no desenvolvimento de saberes, habilidades e atitudes básicas que caracterizam o processo de escolarização, incluindo as qualificações do novo processo produtivo, como compreensão da totalidade do processo de produção, capacidade de tomar decisões, fazer análises globalizantes, interpretar informações de toda natureza, pensar estrategicamente e desenvolver flexibilidade intelectual; no desenvolvimento de capacidades cognitivas e operativas encaminhadas para um pensamento autônomo, crítico e criativo. Tal desenvolvimento está intimamente relacionado à auto-socioconstrução do conhecimento, com a ajuda pedagógica do professor. A formação para a cidadania crítica e participativa diz respeito a cidadãos-trabalhadores capazes de interferir criticamente na realidade para transformá-la, e não apenas para integrar o mercado de trabalho. A escola deve continuar investindo para que se tornem críticos e se engajem na luta pela justiça social. Deve ainda entender que cabe aos alunos se empenhar, como cidadãos críticos, na mudança da realidade em que vivem e no processo de desenvolvimento nacional e que é função da escola capacitá-los para que desempenhem esse papel. Cidadania hoje significa, usando a expressão do italiano Mário Manacorda, dirigir ou controlar aquele que dirigem, e, para que isso ocorra, o aluno precisa ter as condições básicas para situar-se competente e criticamente no sistema produtivo. Nesse sentido, a preparação para a vida social é exigência fundamental, especialmente porque um dos pontos fortes da chamada sociedade pós-moderna é a emergência de movimentos localizados, baseados em interesses comunitários mais restritos, no bairro, na região, nos pequenos grupos, organizados em associações civis, entidades não-governamentais, etc. A preparação para a vida social é exigência educativa para viabilizar o controle não estatal sobre o Estado, mediante o fortalecimento da esfera pública não estatal. Constata-se que muitos movimentos sociais atuais tendem a dispensar a intermediação político-partidária para a conquista de seus objetivos, seja por inoperância deste canal, seja pela hostilidade com que setores da opinião pública encaram os políticos profissionais. É preciso aliar a atuação dos movimentos localizados não-governamentais com as formas convencionais de representação política. Daí a necessidade de a escola preocupar-se com o desenvolvimento de competências sociais como relações grupais e intergrupais, processos democráticos e eficazes de tomada de decisões, capacidades sociocomunicativas de iniciativa, de liderança, de responsabilidade, de solução de problemas, etc. A formação ética é um dos pontos fortes da escola do presente e do futuro. Trata-se de formar valores e atitudes diante do mundo da política e da economia, do consumismo, do individualismo, do sexo, da droga, da depredação ambiental, da violência e, também, das formas de exploração que se mantêm no capitalismo contemporâneo. Segundo o filósofo alemão Habermas, é possível reabilitar a sociedade no âmbito da esfera pública, de modo que as pessoas possam participar das decisões não por imposição, mas por uma disposição de dialogar e de buscar consenso, com base na racionalidade das ações expressa em normas jurídicas compartilhadas. A emancipação objetiva de todas as formas de dominação torna-se possível se os indivíduos desenvolverem capacidades de aprendizagem baseadas em uma prática comunicativa. A escola pode auxiliar no desenvolvimento de competências comunicativas que possibilitarão diálogo e consenso baseados na razão crítica. Para que os indivíduos possam compartilhar de uma situação comunicativa ideal, recomenda-se: investimento na capacidade do indivíduo de situar-se em relação aos outros, de estabelecer relações entre objetivos, pessoas e idéias; desenvolvimento da autonomia, isto é, indivíduos capazes de reconhecer nas regras e nas normas sociais o resultado do acordo mútuo, do respeito ao outro e da reciprocidade; formação de indivíduos capazes de ser interlocutores competentes, expressar suas idéias, desejos e vontades, de forma cognitiva e verbal, incluindo a perspectiva do outro (nível de informações, de intenções e outros); capacidade de dialogar. 1.2 Relações de trabalho e o perfil do profissional no século XXI A formação profissional no século XXI: desafios e dilemas – Edna Lúcia O século XXI chegou e vem marcado com algumas características: o mundo globalizado e a emergência de uma nova sociedade que se convencionou chamar de sociedade do conhecimento. Tal cenário traz inúmeras transformações em todos os setores da vida humana. O progresso tecnológico é evidente, e a importância dada à informação é incontestável. O mundo globalizado da sociedade do conhecimento trouxe mudanças significativas ao mundo do trabalho. O conceito de emprego está sendo substituído pelo de trabalho. A atividade produtiva passa a depender de conhecimentos, e o trabalhador deverá ser um sujeito criativo, crítico e pensante, preparado para agir e se adaptar rapidamente às mudanças dessa nova sociedade. O diploma passa a não significar necessariamente uma garantia de emprego. A empregabilidade está relacionada à qualificação pessoal; as competências técnicas deverão estar associadas à capacidade de decisão, de adaptação a novas situações, de comunicação oral e escrita, de trabalho em equipe. O profissional será valorizado na medida da sua habilidade para estabelecer relações e de assumir liderança. Para Drucker, "os principais grupos sociais da sociedade do conhecimento serão os 'trabalhadores do conhecimento"', pessoas capazes de alocar conhecimentos para incrementar a produtividade e gerar inovação. Na perspectiva do trabalho na sociedade do conhecimento, a criatividade e a disposição para capacitação permanente serão requeridas e valorizadas. As tecnologias de informação e comunicação estão modificando as situações de trabalho, e as máquinas passaram a executar tarefas rotineiras em substituição aos seres humanos. Neste ambiente de mudanças, "a construção do conhecimentojá não é mais produto unilateral de seres humanos isolados, mas de uma vasta colaboração cognitiva distribuída, da qual participam aprendentes humanos e sistemas cognitivos artificiais". Nesta conjuntura, em que a mudança tecnológica é a regra, buscar condições para ancorar a preparação do profissional do futuro requer uma estratégia diferenciada. Este profissional deverá interagir com máquinas sofisticadas e inteligentes, será um agente no processo de tomada de decisão. Além disso, o seu valor no mercado será estimado com base em seu dinamismo, em sua criatividade e em seu empreendedorismo. Todas esses fatores evidenciam que só a educação será capaz de preparar as pessoas para enfrentar os desafios dessa nova sociedade. Além disso, segundo De Masi, existem alguns valores emergentes, nesta nova sociedade, que merecem ser levados em consideração quando tratamos de formação e educação profissional. Um deles é a intelectualidade (valorização das atividades cerebrais em detrimento às atividades braçais); outro é a criatividade (tarefas repetitivas e chatas serão feitas pelas máquinas); outro é a estética (o que distingue hoje não é mais a técnica, e sim a estética, o design). Para este autor, ainda, a subjetividade, a emotividade, a desestruturação e a descontinuidade também são valores importantes e, por isso, deverão, também, estar na mira dos processos educativos do futuro. Esta realidade parece apontar para uma educação básica e polivalente que valorize a cultura geral, a postura profissional, a ética e a responsabilidade social. A UNESCO, que nos dá as dicas de algumas competências e conhecimentos desejados, ou seja, oito características do trabalhador do século XXI: 1. Ser flexível e não especialista demais 2. Ter mais criatividade do que informação 3. Estudar durante toda a vida 4. Adquirir habilidades sociais e capacidade de expressão 5. Assumir responsabilidades 6. Ser empreendedor 7. Entender as diferenças culturais 8. Adquirir intimidade com as novas tecnologias O mundo do trabalho na sociedade do conhecimento Sociedade informacional Uma nova sociedade está surgindo e é expressa das mais diferentes formas como sociedade da pós-informação (NEGROPONTE), sociedade de inteligências coletivas (LEVY), sociedade pós-industrial (DE MASI) e sociedade do conhecimento. Muito precisa é a definição sociedade informacional, baseada em um modo de desenvolvimento específico em que as informações, sua geração, processamento e transmissão, tornam-se as fontes fundamentais de produtividade e poder na sociedade (CASTELLS). Essas novas terminologias expressavam uma das maiores reviravoltas sócio-econômicas da história, sem falar nas consequências políticas e relativas à reorganização do Estado. Tudo isso porque há ganho de eficiência e uma mudança de processos que representa o surgimento de novas formas de fazer as coisas. A nova economia está nas ideias, no conhecimento, na inteligência. Por isso, capital e trabalho ficam menos antagônicos, pois o verdadeiro capital passa a ser o capital intelectual. Novas relações de trabalho no século xxi Discutir as mudanças que estão ocorrendo no mundo e a sua influência nas várias estruturas da sociedade e das organizações é cada vez mais um assunto pertinente. Estamos vivendo uma transição nas relações de trabalho em decorrência da evolução dos processos produtivos. E nisto as tecnologias tiveram papel fundamental buscando responder ao desafio de produzir sempre mais com menos trabalho. Ainda vivemos numa sociedade em que grande parte da vida das pessoas adultas é dedicada ao trabalho. Constrói-se hoje uma sociedade na qual montante significativo do tempo das pessoas será dedicado a outra atividade, mais criativa. Essa é uma transição que se materializa na busca de novas formas de inventar e difundir um novo tipo de organização capaz de elevar a qualidade de vida e de trabalho e ao mesmo tempo promover a felicidade das pessoas. Ora, a história nos mostra (e o nosso dia a dia) que o trabalho foi sempre visto como um problema e a partir daí, criou-se, inovou-se e investiu-se em tecnologia para criar mecanismos que minimizassem esse problema. Educação e habilidades para o trabalho É por isso que a nova sociedade, e sua busca de eficiência e mudança de processos, trouxe alto ganho de produtividade e com ele o aumento do desemprego. Aparentemente, não haveria nova indústria para substituir os empregos perdidos. Deve surgir e está surgindo um novo perfil de atividades que podem absorver a função dos velhos processos. De qualquer forma, hoje os postos de trabalho estão escassos, e por motivos diversos. O crescimento econômico tem sido anêmico e, sem crescimento, não há trabalho. Por outro lado, as necessidades humanas são infinitas (não esqueça o enorme aumento da população) e, por isso, a demanda sempre existirá. O que parece cada vez mais óbvio é o descompasso entre a oferta de novos empregos e a capacidade das pessoas para eles. As oportunidades estão aí. Mesmo assim, muitas vagas estão vazias pelo mundo afora. Isso mostra que, mesmo havendo postos de trabalho, a sociedade necessita de pessoas preparadas para preenchê-los. Resta, portanto, implementar uma educação arrojada, ininterrupta e abrangente. É preciso uma qualificação para a era da informação. Um profissional deve hoje assumir um outro perfil, privilegiando: Flexibilidade Gerenciar risco Lógica do raciocínio Conhecimento de línguas Saber trabalhar em equipe Habilidade para lidar com pessoas Iniciativa e criatividade Liderança Aprendizado contínuo Multifuncionalidade Como deve ser, então, o profissional do futuro? Philip Kotler, em seu o livro Marketing para o século XXI, aponta que os Profissionais do futuro devem ter os seguintes atributos, que eu gostaria de discorrer um pouco sobre cada um deles: 1- Os Profissionais do futuro têm que ser competentes – Os mercados não perdoarão o amadorismo. Chega de improvisação, do chamado “jeitinho brasileiro”! 2- Os profissionais do futuro devem ser bem-educados – Isto significa que devemos ser cavalheiros, diplomáticos, finos no trato, elegantes, conhecedores de etiquetas e cordiais. Sim, quem não atentar para estas coisas estão fora de sintonia com as novas leis de mercado. 3- Os Profissionais do futuro devem ser bem-humorados – Um toque de humor, de alegria, faz bem a qualquer ambiente. É bom ter cuidado, porém, com as piadas! Estas, quando bem empregadas produzem bem estar na maioria, mas quando mal utilizadas, podem comprometer qualquer negócio. 4- Os Profissionais do futuro devem ser confiáveis e honestos - Como isto serve para todas as áreas, tenho esperança de que a sociedade brasileira consiga mecanismos para viabilizar o judiciário e este venha punir nossos políticos corruptos, que levam para os paraísos fiscais boa parte das nossas riquezas! O fato é que não haverá espaço, no mercado, em todos os segmentos, para o desonesto. 5- Os Profissionais do futuro serão responsáveis – Assumir os seus atos, agir com responsabilidade, tomar decisões abalizadas, trabalhar com dados que sedimentem as decisões, são características desse Profissional que os mercados necessitam. Só uma observação: esse futuro já chegou! 1.3 Empreendedorismo e inovação Características do Comportamento Empreendedor Dificilmente uma pessoa tem todas as características de comportamento empreendedor em perfeito equilíbrio porque essas características não são herdadas, mas sim aprendidas ao longo da vida, com experiências de trabalho, determinação e estabelecimento de metas pessoais desafiadoras. Se você é uma pessoa obstinada, persistente e está o tempo inteiro buscando informações para melhorar e aumentar seus negócios, será meio caminho andado. No jogo dos negócios é muito importante que você identifique suas reais características empreendedoras, pois um grande número de pessoas tem buscado iniciar negóciospróprios, sem, no entanto, apresentar comportamento adequado. É importante estar consciente de quais são suas qualidades e suas deficiências. Uma análise de suas experiências práticas, capacidade e personalidade ajudarão a enfrentar qualquer situação. Características de Comportamento Empreendedor 1. Busca de oportunidades e iniciativa Faz as coisas antes de solicitado, ou antes, de ser forçado pelas circunstâncias; Age para expandir o negócio em novas áreas, produtos ou serviços; Aproveita oportunidades fora do comum para começar um negócio, obter financiamentos, equipamentos, terrenos, local de trabalho ou assistência. O empreendedor é alguém que está sempre buscando novas oportunidades. Observando o ambiente, costuma ter idéias que possam ser transformadas em negócios e as coloca em prática. 2. Persistência Age diante de um obstáculo; Age repetidamente ou muda de estratégia a fim de enfrentar um desafio ou superar um obstáculo; Assume responsabilidade pessoal pelo desempenho necessário para atingir metas e objetivos. 3. Comprometimento Faz sacrifícios pessoais ou despende esforços extraordinários para completar uma tarefa; Colabora com os empregados, colaboradores e parceiros ou se coloca no lugar deles, se necessário, para terminar um trabalho; Esmera-se em manter os clientes satisfeitos e coloca em primeiro lugar a boa vontade em longo prazo, acima do lucro em curto prazo. 4. Exigência de qualidade e eficiência Encontra maneiras de fazer as coisas melhor, mais rápido ou mais barato; Age de maneira a fazer coisas que satisfazem ou excedem padrões de excelência; Desenvolve ou utiliza procedimentos para assegurar que o trabalho seja terminado a tempo ou que o trabalho atenda a padrões de qualidade previamente combinados. 5. Correr riscos calculados Avalia alternativas e calcula riscos deliberadamente; Age para reduzir os riscos ou controlar os resultados; Coloca-se em situações que implicam desafios ou riscos moderados. 6. Estabelecimento de metas Estabelece metas e objetivos que são desafiantes e que têm significado pessoal; Define metas de longo prazo, claras e específicas; Estabelece objetivos de curto prazo, mensuráveis. 7. Busca de informações Dedica-se pessoalmente a obter informações de clientes, fornecedores e concorrentes; Investiga pessoalmente como fabricar um produto ou fornecer um serviço; Consulta especialistas para obter assessoria técnica ou comercial. Conversar com clientes, fornecedores e concorrentes é essencial para posicionar melhor sua empresa no mercado. 8. Planejamento e monitoramento sistemáticos Planeja dividindo tarefas de grande porte em subtarefas com prazos definidos; Revisa seus planos constantemente, levando em conta os resultados obtidos e as mudanças circunstanciais; Mantém registros financeiros e utiliza-os para tomar decisões. Para se tornar um empreendedor bem-sucedido é preciso que você aprenda a planejar. Por isso, é indispensável que você aprenda a fazer um planejamento de suas ações futuras. 9. Persuasão e rede de contatos Utiliza estratégias deliberadas para influenciar ou persuadir os outros; Utiliza pessoas-chave como agentes para atingir seus próprios objetivos; Age para desenvolver e manter relações comerciais. 10. Independência e autoconfiança Busca autonomia em relação a normas e controles de outros; Mantém seu ponto de vista, mesmo diante da oposição ou de resultados inicialmente desanimadores; Expressa confiança na sua própria capacidade de complementar uma tarefa difícil ou de enfrentar um desafio. Fonte: <http://super.abril.com.br/ciencia/sucesso-584272.shtml> 1.4 RESPONSABILIDADE SOCIAL: setor público, privado e terceiro setor A função social da empresa sob a ótica do desenvolvimento sustentável Bruna Medeiros David de Souza Advogada, Pós-graduanda em Direito Civil pela Faculdade de Direito Milton Campos. A função social da propriedade privada é um princípio consagrado na Constituição brasileira de 1988, que, em seu artigo 170, preceitua que “a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observado, dentre outros, o Princípio da Função Social da Propriedade”. O princípio da função social da empresa busca estabelecer um equilíbrio entre a nova ordem econômica social e as idéias do liberalismo clássico, mesclando elementos de ambos. Diante dessa nova concepção, o lucro, por si só, não é mais um elemento capaz de justificar a existência de uma empresa. A missão das companhias privadas não é somente gerar lucro; este é uma recompensa justa e legítima a ser recebida pelos investidores, que aceitaram correr o risco de aplicar seu capital em um empreendimento produtivo. Outra forma de atuação empresarial que se coaduna com a função social da empresa é a busca pelo desenvolvimento sustentável. Exerce função social a empresa que utiliza os recursos naturais de forma justa e reduz ao mínimo o impacto de suas atividades no meio ambiente. Responsabilidade sócio-ambiental é a “forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais”. Bem assim, o respeito às leis trabalhistas e aos interesses dos empregados também demonstram o princípio da função social pautando as relações da empresa com seus empregados. Tal forma de atuação empresarial prevê, além da observância aos direitos trabalhistas, respeito à dignidade dos trabalhadores, em seus diversos aspectos. Uma empresa realiza sua função social com a opção por ações que promovam a dignidade da pessoa humana, como a valorização do trabalho, a busca do pleno emprego e a redução das desigualdades sociais. Hoje, os consumidores estão mais exigentes e demonstram preocupação com o futuro do nosso ambiente, o que tem alterado seu comportamento ao adquirir um produto. Dá-se preferência hoje aos ecologicamente sustentáveis, que não agridem a natureza, sem se esquecer da qualidade. Empresas de diferentes atividades estão tentando se adaptar a essa nova realidade, e atender a essa nova busca do consumidor. A atuação empresarial, em relação aos consumidores, também deve ser orientada pelo princípio da função social. O Código de Defesa do Consumidor determina a responsabilidade empresarial pela prestação de serviços e pela qualidade dos produtos, reconhecendo a função social da empresa ao estabelecer finalidades sociais e proteção aos interesses do consumidor (CDC, art.51). A questão da responsabilidade social tem sido tema recorrente no mundo dos negócios. Há uma crescente preocupação por parte das empresas brasileiras em compreender seu conceito e dimensões e incorporá-los à sua realidade. Muitas empresas já se mobilizaram para a questão e estruturaram projetos voltados para uma gestão socialmente responsável, investindo na relação ética, transparente e de qualidade com todos os seus públicos de relacionamento. Essas iniciativas, apesar de apresentarem resultados positivos, representam, na maioria das vezes, ações pontuais e desconectadas da missão, visão, planejamento estratégico e posicionamento da empresa e, consequentemente, não expressam um compromisso efetivo para o desenvolvimento sustentável. Em muitos casos, as empresas brasileiras acabaram por associar responsabilidade social à ação social,seja pela via do investimento social privado, seja pela via do estímulo ao voluntariado. Esse viés de contribuição, embora relevante, quando tratado de maneira isolada, coloca o foco da ação fora da empresa e não tem alcance para influenciar a comunidade empresarial a um outro tipo de contribuição, extremamente importante para a sociedade:a gestão dos impactos ambientais, econômicos e sociais provocados por decisões estratégicas, práticas de negócio e processos operacionais. Para que se compreenda esta abordagem mais ampla, que podemos chamar de sustentabilidade empresarial, é necessário que se conheça previamente o conceito de desenvolvimento sustentável. O conceito de responsabilidade social empresarial traz, ainda, a questão da relação da empresa com seus diversos públicos de interesse, conforme expresso na definição do Instituto Ethos: “Responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais”. Dito de outra maneira, espera-se cada vez mais que as organizações sejam capazes de reconhecer seus impactos ambientais, econômicos e sociais e, a partir desse pano de fundo, construam relacionamentos de valor com os seus diferentes públicos de interesse, os chamados stake-holders – público interno, fornecedores, clientes, acionistas, comunidade, governo e sociedade, meio ambiente, entre outros. Embora já haja diversos exemplos de práticas de gestão socialmente responsável, a inserção da sustentabilidade e responsabilidade social às práticas diárias de gestão ainda representa um grande desafio para grande parte da comunidade empresarial brasileira. A associação desses conceitos à gestão dos negócios deve necessariamente expressar o compromisso efetivo de todos os escalões da empresa, de forma permanente e estruturada. Do exposto conclui-se que, diante da nova ordem constitucional, toda empresa deve pautar sua atuação de acordo com o Princípio da Função Social da Empresa, não visando unicamente o lucro, mas também o atendimento dos interesses socialmente relevantes, buscando um equilíbrio da economia de mercado com a supremacia dos interesses sociais previstos na Constituição Federal. Fonte:<http://direito.newtonpaiva.br/revistadireito/docs/convidados/13_convidado_bruna.pdf A influência da responsabilidade social empresarial no setor público Uzias Ferreira Adorno Jr. 09/10/2011 O artigo discute as aplicações e benefícios que o conceito de responsabilidade social prevê a nova gestão pública para responder adequadamente às necessidades e exigências da sociedade civil que hoje representa para as instituições do Estado. Isto levará o último a assumir um comportamento socialmente responsável, tanto internamente como externamente, de modo a alcançar um nível de "qualidade ética sustentável" e um acordo com os novos desafios dos serviços públicos em todo o mundo. Normalmente, o conceito de responsabilidade social tem sido limitado às ações desenvolvidas pelas empresas, referindo-se, em particular, os efeitos e o impacto que estas atividades possam ter sobre o ambiente para eles. No entanto, a responsabilidade social tem uma aplicação muito mais ampla, abrangendo não só o ambiente externo de uma organização, mas também dentro da organização, em todas as ações, atitudes e comportamentos dos indivíduos no exercício das suas funções normais, como um valor na cultura organizacional. A abordagem da responsabilidade social das empresas coloca a necessidade de uma gestão organizacional baseada em princípios e valores, a fim de desenvolver um relacionamento ético e transparente com as partes internas e externas que a organização possui. Essa relação é expressa como uma preocupação constante para o impacto gerado no âmbito das atividades principais e fins declarados na sua missão e visão, e fornecer feedback para cada um dos sistemas de gestão de uma instituição. Além disso, a reforma da administração pública tem desenvolvido importantes processos de modernização da governança, incorporando técnicas de gestão numerosas do setor privado, além de fazer investimentos significativos em equipamentos, infraestrutura e treinamento de servidores. Nesse cenário, o governo emerge para novos desafios resultantes dos processos de globalização e desenvolvimento da sociedade do conhecimento. Estes mostrar ao público a necessidade de respeitar e tomar novos direitos, tais como a não discriminação, equidade, diversidade, autonomia e participação. Portanto, os desafios usuais que deve assumir o governo de qualquer Estado, na implementação de políticas públicas que visem efetivamente questões como a pobreza, criminalidade, desemprego, exclusão, saúde ou educação, bem deve incorporar questões de gênero e intersetoriais, porque estes dois aspectos são parte dos impactos e das condições que devem conceber e implementar políticas e programas de governo que devem ser executados para atender às demandas emergentes. Aplicação da responsabilidade social na administração pública É possível associar a responsabilidade social com a governança em matéria de ética pública, probidade administrativa, especialmente no caso do governo, com o qual tanto os servidores e as instituições devem desenvolver seu respectivo serviço civil, em conformidade com sua missão. A este respeito, a responsabilidade social apresenta critérios importantes para fortalecer a ética e a probidade no serviço público, por exemplo, cultura organizacional, associada com a responsabilização ou prestação de contas (accountability), relatórios de sustentabilidade, códigos de ética, gestão do relacionamento com partes interessadas, entre outras práticas que fortaleçam um comportamento socialmente responsável de uma organização. Assim, a necessidade de reforçar a consciência dos efeitos e impactos das ações e decisões são implementadas na sociedade em geral, é uma das principais razões para levantar como viável e necessária para aplicar o modelo de responsabilidade social corporativa em governança, não só para reforçar o empenho e conhecimento dos serviços e instituições governamentais em geral, mas também dos servidores públicos em relação à assunção de um conjunto de valores e princípios relacionados com um comportamento socialmente responsável, a nível individual. Outro elemento que pode reforçar um comportamento socialmente responsável é a accountability e a transparência - expressa através do pleno acesso à informação, por exemplo, a publicação de relatórios de sustentabilidade ou gestão de contas públicas. É evidente que, por si só, a transparência e a responsabilidade tornam-se características distintivas da gestão pública, porém tornam-se também os indicadores de comportamento socialmente responsável, com outros elementos descritos neste trabalho. Por isso, é importante não considerar como sinônimo de transparência e responsabilidade, a responsabilidade social, porque os primeiros são a expressão de um aspecto específica do processo de gestão e tomada de decisão em uma organização (a avaliação e controle, por exemplo). Já a responsabilidade social, em vez disso, deverá abranger e ultrapassar todas as etapas e atividades de gestão de uma organização. Estas são condições essenciais para desenvolver a gestão dos serviços públicos, adequada ao cenário atual, definido pelo processo de globalização e, em especial, o desenvolvimento da sociedade do conhecimento. Esta procura de instituições do Estado para o desenvolvimento contínuo de uma atitude mais responsável e comportamento aberto no acesso à informação e conhecimento sobre os resultados alcançados e, sobretudo, em relação ao uso adequado dos recursos, claramente expressando um comportamento socialmente responsável. Responsabilidade está relacionada à necessidade de transparência com que os serviços públicos devem agir em relação aos cidadãos, não somente em matéria de acesso à informação, mas também nos resultados obtidos por instituições públicas no cumprimento da sua missão, em que "a criação de mecanismos institucionais de controle e supervisão[...] institucionalizada a prática social relacionada à responsabilidade democrática da administração pública [...] exige a existência de sistemas políticos e administrativos, com um elevado grau de legitimidade política e eficiência administrativa". No entanto, as ações de responsabilidade e transparência não são eficazes em si mesmas, se houver uma sociedade civil ativa e vigilante para estar alerta e comunicar qualquer irregularidade. (artigo adaptado pelo prof. Altamir Fernandes). Fonte:<http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/a-influencia-da-responsabilidade-social-empresarial-no-setor-publico/47145/> � TEMA 2 - O CONHECIMENTO EM SEUS DIVERSOS ASPECTOS 2.1 TIPOS DE CONHECIMENTOS (RELIGIOSO, VULGAR, FILOSÓFICO E CIENTÍFICO) 2.2 SENSO COMUM x CONHECIMENTO CIENTÍFICO 2.3 CIÊNCIAS EXATAS / CIÊNCIAS HUMANAS 2.4 MÉTODO CIENTÍFICO Introdução No processo de apreensão da realidade do objeto, o sujeito cognoscente pode penetrar em todas as esferas do conhecimento: ao estudar o homem, por exemplo, pode-se tirar uma série de conclusões sobre a sua atuação na sociedade, baseada no senso comum ou na experiência cotidiana; pode-se analisá-lo como um ser biológico, verificando através de investigação experimental, as relações existentes entre determinados órgãos e suas funções; pode-se questioná-lo quanto à sua origem e destino, assim como quanto à sua liberdade; finalmente, pode-se observá-lo como ser criado pela divindade, à sua imagem e semelhança, e meditar sobre o que dele dizem os textos sagrados. Apesar da separação metodológica entre os tipos de conhecimento popular, filosófico, religioso e científico, estas formas de conhecimento podem coexistir na mesma pessoa: um cientista, voltado, por exemplo, ao estudo da física, pode ser crente praticante de determinada religião, estar filiado a um sistema filosófico e, em muitos aspectos de sua vida cotidiana, agir segundo conhecimentos provenientes do senso comum. Ao se falar em conhecimento científico, o primeiro passo consiste em diferenciá-lo de outros tipos de conhecimento existentes. Para tal, analisemos uma situação histórica, que pode servir de exemplo. Desde a Antiguidade, até aos nossos dias, um camponês, mesmo iletrado e/ou desprovido de outros conhecimentos, sabe o momento certo da semeadura, a época da colheita, a necessidade da utilização de adubos, as providências a serem tomadas para a defesa das plantações de ervas daninhas e pragas e o tipo de solo adequado para as diferentes culturas. Tem também conhecimento de que o cultivo do mesmo tipo, todos os anos, no mesmo local, exaure o solo. Já no período feudal, o sistema de cultivo era em faixas: duas cultivadas e uma terceira "em repouso", alternando-as de ano para ano, nunca cultivando a mesma planta, dois anos seguidos, numa única faixa. O início da Revolução Agrícola não se prende ao aparecimento, no século XVIII, de melhores arados, enxadas e outros tipos de maquinaria, mas à introdução, na segunda metade do século XVII, da cultura do nabo e do trevo, pois seu plantio evitava o desperdício de deixar a terra em pousio: seu cultivo "revitalizava" o solo, permitindo o uso constante. Hoje, a agricultura utiliza-se de sementes selecionadas, de adubos químicos, de defensivos contra as pragas e tenta-se, até, o controle biológico dos insetos daninhos. Mesclam-se, neste exemplo, dois tipos de conhecimento: o primeiro, vulgar ou popular, geralmente típico do camponês, transmitido de geração para geração por meio da educação informal e baseado em imitação e experiência pessoal; portanto, empírico e desprovido de conhecimento sobre a composição do solo, das causas do desenvolvimento das plantas, da natureza das pragas, do ciclo reprodutivo dos insetos etc.; o segundo, científico, é transmitido por intermédio de treinamento apropriado, sendo um conhecimento obtido de modo racional, conduzido por meio de procedimentos científicos. Visa explicar "por que" e "como" os fenômenos ocorrem, na tentativa de evidenciar os fatos que estão correlacionados, numa visão mais globalizante do que a relacionada com um simples fato - uma cultura específica, de trigo, por exemplo. 2.1 OS QUATRO TIPOS DE CONHECIMENTO Existem pelo menos quatro tipos fundamentais de conhecimento, que são: o conhecimento popular (senso comum), conhecimento religioso, conhecimento filosófico e conhecimento religioso(teológico).Trujillo (1974, p.11) sistematiza as características dos quatro tipos de conhecimento: Conhecimento Popular Conhecimento Científico Valorativo Real (factual) Reflexivo Contingente Assistemático Sistemático Verificável verificável Falível Falível Inexato Aproximadamente exato Conhecimento Filosófico Conhecimento Religioso (Teológico) Valorativo Valorativo Racional Inspiracional Sistemático Sistemático Não Verificável Não Verificável Infalível Infalível Exato Exato Conhecimento Popular O conhecimento popular é valorativo por excelência, pois se fundamenta numa seleção operada com base em estados de ânimo e emoções: como o conhecimento implica uma dualidade de realidades, isto é, de um lado o sujeito cognoscente e, de outro, o objeto conhecido, e este é possuído, de certa forma pelo cognoscente, os valores do sujeito impregnam o objeto conhecido. É também reflexivo, mas, estando limitado pela familiaridade com o objeto, não pode ser reduzido a uma formulação geral. A característica de assistemático baseia-se na "organização" particular das experiências próprias do sujeito cognoscente, e não em uma sistematização das idéias, na procura de uma formulação geral que explique os fenômenos observados, aspecto que dificulta a transmissão, de pessoa a pessoa, desse modo de conhecer. É verificável, visto que está limitado ao âmbito da vida diária e diz respeito àquilo que se pode perceber no dia-a-dia. Finalmente é falível e inexato, pois se conforma com a aparência e com o que se ouviu dizer a respeito do objeto. Em outras palavras, não permite a formulação de hipóteses sobre a existência de fenômenos situados além das percepções objetivas. Conhecimento Filosófico O conhecimento fIlosófico é valorativo, pois seu ponto de partida consiste em hipóteses, que não poderão ser submetidas à observação: "as hipóteses filosóficas baseiam-se na experiência, portanto, este conhecimento emerge da experiência e não da experimentação" (TRUJILLO, 1974.p. 12); por este motivo, o conhecimento fIlosófico é não verificável, já que os enunciados das hipóteses filosóficas, ao contrário do que ocorre no campo da ciência, não podem ser confirmados nem refutados. É racional, em virtude de consistir num conjunto de enunciados logicamente correlacionados. Tem a característica de sistemático, pois suas hipóteses e enunciados visam a uma representação coerente da realidade estudada, numa tentativa de apreendê-la em sua totalidade. Por último, é infalível e exato, já que, quer na busca da realidade capaz de abranger todas as outras, quer na definição do instrumento capaz de apreender a realidade, seus postulados, assim como suas hipóteses, não são submetidos ao decisivo teste da observação (experimentação). Portanto, o conhecimento filosófico é caracterizado pelo esforço da razão pura para questionar os problemas humanos e poder discernir entre o certo e o errado, unicamente recorrendo às luzes da própria razão humana. Assim, se o conhecimento científico abrange fatos concretos, positivos, e fenômenos perceptíveis pelos sentidos, através do emprego de instrumentos, técnicas e recursos de observação, o objeto de análise da filosofia são idéias, relações conceptuais, exigências lógicas que não são redutíveis a realidades materiais e, por essa razão, não são passíveis de observação sensorial direta ou indireta (por instrumentos), como a que é exigida pela ciência experimental. O método por excelência da ciência é o experimental: ela caminha apoiada nos fatos reais e concretos, afirmandosomente aquilo que é autorizado pela experimentação. Ao contrário, a filosofia emprega "o método racional, no qual prevalece o processo dedutivo, que antecede a experiência, e não exige confirmação experimental, mas somente coerência lógica" (RUIZ, 1979, p. 110). O procedimento científico leva a circunscrever, delimitar, fragmentar e analisar o que se constitui o objeto da pesquisa, atingindo segmentos da realidade, ao passo que a filosofia encontra-se sempre à procura do que é mais geral, interessando-se pela formulação de uma concepção unificada e unificante do universo. Para tanto, procura responder às grandes indagações do espírito humano e, até, busca as leis mais universais que englobem e harmonizem as conclusões da ciência. Conhecimento Religioso O conhecimento religioso, isto é, teológico, apóia-se em doutrinas que contêm proposições sagradas (valorativas), por terem sido reveladas pelo sobrenatural (inspiracional) e, por esse motivo, tais verdades são consideradas infalíveis e indiscutíveis (exatas); é um conhecimento sistemático do mundo (origem, significado, finalidade e destino) como obra de um criador divino; suas evidências não são verificadas: está sempre implícita uma atitude de fé perante um conhecimento revelado. Assim, o conhecimento religioso ou teológico parte do princípio de que as "verdades" tratadas são infalíveis e indiscutíveis, por consistirem em "revelações" da divindade (sobrenatural). A adesão das pessoas passa a ser um ato de fé, pois a visão sistemática do mundo é interpretada como decorrente do ato de um criador divino, cujas evidências não são postas em dúvida nem sequer verificáveis. A postura dos teólogos e cientistas diante da teoria da evolução das espécies, particularmente do Homem, demonstra as abordagens diversas: de um lado, as posições dos teólogos fundamentam-se nos ensinamentos de textos sagrados; de outro, os cientistas buscam, em suas pesquisas, fatos concretos capazes de comprovar (ou refutar) suas hipóteses. Na realidade, vai-se mais longe. Se o fundamento do conhecimento científico consiste na evidência dos fatos observados e experimentalmente controlados, e o do conhecimento filosófico e de seus enunciados, na evidência lógica, fazendo com que em ambos os modos de conhecer deve a evidência resultar da pesquisa dos fatos ou da análise dos conteúdos dos enunciados, no caso do conhecimento teológico o fiel não se detém nelas à procura de evidência, pois a toma da causa primeira, ou seja, da revelação divina. Conhecimento Científico Finalmente, o conhecimento científico é real (factual) porque lida com ocorrências ou fatos, isto é, com toda "forma de existência que se manifesta de algum modo" (TRUJILO, 1974, p. 14). Constitui um conhecimento contingente, pois suas proposições ou hipóteses têm sua veracidade ou falsidade conhecida através da experiência e não apenas pela razão, como ocorre no conhecimento filosófico. É sistemático, já que se trata de um saber ordenado logicamente, formando um sistema de idéias (teoria) e não conhecimentos dispersos e desconexos. Possui a característica da verificabilidade, a tal ponto que as afirmações (hip6teses) que não podem ser comprovadas não pertencem ao âmbito da ciência. Constitui-se em conhecimento falível, em virtude de não ser definitivo, absoluto ou final e, por este motivo, é aproximadamente exato: novas proposições e o desenvolvimento de técnicas podem reformular o acervo de teoria existente. Apesar da separação "metodológica" entre os tipos de conhecimento popular, filosófico, religioso e científico, no processo de apreensão da realidade do objeto, o sujeito cognoscente pode penetrar nas diversas áreas: ao estudar o homem, por exemplo, pode-se tirar uma série de conclusões sobre sua atuação na sociedade, baseada no senso comum ou na experiência cotidiana; pode-se analisá-lo como um ser biol6gico, verificando, através de investigação experimental, as relações existentes entre determinados órgãos e suas funções; pode-se questioná-lo quanto à sua origem e destino, assim como quanto à sua liberdade; finalmente, pode-se observá-lo como ser criado pela divindade, à sua imagem e semelhança, e meditar sobre o que dele dizem os textos sagrados. Por sua vez, estas formas de conhecimento podem coexistir na mesma pessoa: um cientista, voltado, por exemplo, ao estudo da física, pode ser crente praticante de determinada religião, estar filiado a um sistema Filosófico e, em muitos aspectos de sua vida cotidiana, agir segundo conhecimentos provenientes do senso comum. 2.2CORRELAÇÃO ENTRE CONHECIMENTO POPULAR E CONHECIMENTO CIENTÍFICO O conhecimento vulgar ou popular, às vezes denominado senso comum, não se distingue do conhecimento científico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto conhecido: o que os diferencia é a forma, o modo ou o método e os instrumentos do "conhecer". Saber que determinada planta necessita de uma quantidade "X" de água e que, se não a receber de forma "natural", deve ser irrigada pode ser um conhecimento verdadeiro e comprovável, mas, nem por isso, científico. Para que isso ocorra, é necessário ir mais além: conhecer a natureza dos vegetais, sua composição, seu ciclo de desenvolvimento e as particularidades que distinguem uma espécie de outra. Dessa forma, patenteiam-se dois aspectos: A ciência não é o único caminho de acesso ao conhecimento e à verdade. Um mesmo objeto ou fenômeno - uma planta, um mineral, uma comunidade ou as relações entre chefes e subordinados - pode ser matéria de observação tanto para o cientista quanto para o homem comum; o que leva um ao conhecimento científico e outro ao vulgar ou popular é a forma de observação. Para Bunge (1976, p. 20), a descontinuidade radical existente entre a Ciência e o conhecimento popular, em numerosos aspectos (principalmente no que se refere ao método), não nos deve fazer ignorar certa continuidade em outros aspectos, principalmente quando limitamos o conceito de conhecimento vulgar ao "bom-senso". Se excluirmos o conhecimento mítico (raios e trovões como manifestações de desagrado da divindade pelos comportamentos individuais ou sociais), verificamos que tanto o "bom-senso" quanto a Ciência almejam ser racionais e objetivos: "são críticos e aspiram à coerência (racionalidade) e procuram adaptar-se aos fatos em vez de permitir-se especulações sem controle (objetividade)". Entretanto, o ideal de racionalidade, compreendido como uma sistematização coerente de enunciados fundamentados e passíveis de verificação, é obtido muito mais por intermédio de teorias, que constituem o núcleo da Ciência, do que pelo conhecimento comum, entendido como acumulação de partes ou "peças" de informação frouxamente vinculadas. Por sua vez, o ideal de objetividade, isto é, a construção de imagens da realidade, verdadeiras e impessoais, não pode ser alcançado se não ultrapassar os estreitos limites da vida cotidiana, assim como da experiência particular; é necessário abandonar o ponto de vista antropocêntrico, para formular hipóteses sobre a existência de objetos e fenômenos além da própria percepção de nossos sentidos, submetê-los à verificação planejada e interpretada com o auxílio das teorias. Por esse motivo é que o senso comum, ou o "bom-senso", não pode conseguir mais do que uma objetividade limitada, assim como é limitada sua racionalidade, pois está estreitamente vinculado à percepção e à ação. Características do Conhecimento Popular "Se o ‘bom-senso’, apesar de sua aspiração à racionalidade e objetividade, só consegue atingir essa condição de forma muito limitada", pode-se dizer que o conhecimento vulgar ou popular, latu sensu, é o modo comum, corrente e espontâneo de conhecer, que se adquire no trato direto com as coisas e os seres humanos: "é o saber que preenche nossa vida diária e que se possui sem o haver procurado ou estudado, sem a aplicação de um método e sem se haver refletido sobre algo" (BABINI, 1957, p.21). Para Ander-Egg (1978, p.13-14), o conhecimento popular caracteriza-sepor ser predominantemente: superficial, isto é, conforma-se com a aparência, com aquilo que se pode comprovar simplesmente estando junto das coisas: expressa-se por frases como "porque o vi", "porque o senti", "porque o disseram", "porque todo mundo o diz"; sensitivo, ou seja, referente a vivências, estados de ânimo e emoções da vida diária; subjetivo, pois é o próprio sujeito que organiza suas experiências e conhecimentos, tanto os que adquire por vivência própria quanto os "por ouvi dizer"; assistemático, pois esta "organização" das experiências não visa a uma sistematização das idéias, nem na forma de adquiri-las nem na tentativa de validá-las; acrítico, pois, verdadeiros ou não, a pretensão de que esses conhecimentos o sejam não se manifesta sempre de uma forma crítica. 2.3 – CIÊNCIAS EXTAS x CIÊNCIAS HUMANAS Conceito de ciência Diversos autores tentaram definir o que se entende por ciência. Consideramos mais precisa a definição de Trujillo Ferrari, expressa em seu livro Metodologia da ciência. Entendemos por ciência uma sistematização de conhecimentos, um conjunto de proposições logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos fenômenos que se deseja estudar: "A ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação" (1974, p.8). As ciências possuem: a)Objetivo ou finalidade. Preocupação em distinguir a característica comum ou as leis gerais que regem determinados eventos. b)Função, Aperfeiçoamento, através do crescente acervo de conhecimentos, da relação do homem com o seu mundo. c)Objeto. Subdividido em: material, aquilo que se pretende estudar, analisar, interpretar ou verificar, de modo geral; formal, o enfoque especial, em face das diversas ciências que possuem o mesmo objeto material. Classificação e divisão da ciência A complexidade do universo e a diversidade de fenômenos que nele se manifestam, aliadas à necessidade do homem de estudá-los para poder entendê-los e explicá-los, levaram ao surgimento de diversos ramos de estudo e ciências específicas. Estas necessitam de uma classificação, quer de acordo com sua ordem de complexidade, quer de acordo com seu conteúdo: objeto ou temas, diferença de enunciados e metodologia empregada. Fonte: MARCONI, M. A.; LAKATOS, E.M. Fundamentos da metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.p.75-81 Uma ciência exata é qualquer campo da ciência capaz de expressões quantitativas e predições precisas e métodos rigorosos de testar hipóteses, especialmente os experimentos reprodutíveis envolvendo predições e medições quantificáveis. Matemática, Estatística, Física, Química, assim como partes da Biologia, Psicologia, e Economia podem ser consideradas ciências exatas nesse sentido. O termo implica uma dicotomia entre esses campos e outros, como as ciências humanas, que possuem um caráter menos preciso. As ciências exatas estão entre as mais antigas, desde a antiguidade, o homem utiliza a matemática para resolver seus problemas e organizar melhor a sua sociedade. Foram as ciências exatas que proporcionaram que os antigos egípcios construíssem as pirâmides, permitiu que os gregos erguessem suas acrópoles e monumentos e também que o homem realizasse a viagem espacial até a lua no século 20. Embora do ponto de vista técnico, toda e qualquer conhecimento produzido pela humanidade seja uma “ciência humana”, a expressão Ciências Humanas em si refere-se somente a aquelas ciências que tem o ser humano como seu objeto de estudo ou então o seu foco. Em outras palavras, as ciências humanas consistem nas profissões e as carreiras que tratam primariamente dos aspectos humanos. Basicamente são apoiadas na Filosofia (tentativa de compreensão do homem e da sua sociedade), beleza (artes em geral, relacionadas ao entretenimento ou a cultura) e comunicação (questão da informação, questão da política e questão da lingüística). As ciências humanas, devido as suas bases, assim como a condição humana em si, tem um caráter múltiplo: ao mesmo tempo em que engloba características teóricas em ramos tais como linguistica, gramática e filosofia, engloba características práticas através do jornalismo, comunicação social e direito e também engloba características subjetivas, quando entra no ramo da arte. Geralmente definida como uma ciência “não exata” e de grande margem subjetiva, as ciências humanas são também muito profundas, complexas e de grande importância na sociedade, afinal sem matemática e engenharia não se pode sobreviver, mas sem arte e sem compreensão do mundo, também, não se pode viver. As ciências humanas ou humanidades são as disciplinas que tratam dos aspectos do homem como indivíduo e como ser social, tais como a antropologia, história, sociologia, ciência política, lingüística, pedagogia, economia, geografia, direito, arqueologia, filosofia, teologia, psicologia entre outros. (Adaptação de: <http://www.guiadacarreira.com.br/artigos>. Acesso em: 22 jan.2011. 2.4- MÉTODO CIENTÍFICO Todas as ciências caracterizam-se pela utilização de métodos científicos; em contrapartida, nem todos os ramos de estudo empregam estes métodos são ciências. Dessas afirmações podemos concluir que a utilização de métodos científicos não é da alçada exclusiva da ciência, mas não há ciência sem o emprego de métodos científicos. Assim sendo, o método é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo-conhecimentos válidos e verdadeiros, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista. Desenvolvimento histórico do Método A preocupação em descobrir e, portanto, explicar a natureza vem desde os primórdios da humanidade, quando as principais questões referiam-se às forças da natureza, a cuja mercê viviam os homens, e à morte. O conhecimento mítico voltou-se à explicação desses fenômenos, atribuindo-os a entidades de caráter sobrenatural. A verdade era impregnada de noções supra-humanas e a explicação fundamentava-se em motivações humanas, atribuídas a “forças” e potências sobrenaturais. À medida que o conhecimento religioso se voltou, também, para a explicação dos fenômenos da natureza e do caráter transcendental da morte, como fundamento de suas concepções, a verdade revestiu-se de caráter dogmático, baseada em revelações da divindade. É a tentativa de explicar os acontecimentos através de causas primeiras- os deuses-, sendo o acesso dos homens ao conhecimento derivado da inspiração divina. O caráter sagrado das leis, da verdade, do conhecimento, como explicações sobre o homem e o universo, determina uma aceitação sem crítica dos mesmos, deslocando o foco das atenções para a explicação da natureza da divindade. O conhecimento filosófico, por seu lado, volta-se para a investigação racional na tentativa de captar a essência imutável do real, através da compreensão da forma e das leis da natureza. O senso comum, aliado à explicação religiosa e ao conhecimento filosófico, orientou as preocupações do homem com o universo. Somente no século XVI é que se iniciou uma linha de pensamento que propunha encontrar um conhecimento embasado em maiores garantias, na procura do real. Não se buscam mais as causas absolutas ou a natureza íntima das coisas; ao contrário, preocupa-se compreender as relações entre elas, assim como a explicação dos acontecimentos, através da observação científica aliada ao raciocínio. Com o passar do tempo, muitas modificações foram feitas nos métodos existentes, inclusive surgiram outros novos. Para Bunge, (1980, p.25), “o método científico é a teoria da investigação”. Esta alcança seus objetivos, de forma científica, quando cumpre ou se propõe a cumprir as seguintes etapas: a) descobrimento do problema ou lacuna num conjunto de conhecimentos. Se o problema não estiver enunciado com clareza, passa-se à etapaseguinte; se o estiver, passa-se à subseqüente; b) colocação precisa do problema, ou ainda a recolocação de um velho problema, à luz de novos conhecimentos (empíricos ou teóricos, substantivos ou metodológicos); c) procura de conhecimentos ou instrumentos relevantes ao problema (por exemplo, dados empíricos, teorias, aparelhos de mediação, técnicas de cálculo ou de mediação). Ou seja, exame do conhecido para tentar resolver o problema; d) tentativa de solução do problema com auxílio dos meios identificados. Se a tentativa resultar inútil, passa-se para a etapa seguinte; em caso contrário, à subseqüente; e) invenção de novas idéias (hipóteses, teorias ou técnicas) ou produção de novos dados empíricos que prometam resolver o problema; f) obtenção de uma solução (exata ou aproximada) do problema com auxílio do instrumental conceitual ou empírico disponível; g) investigação das conseqüências da solução obtida. Em se tratando de uma teoria, é a busca de prognósticos que possam ser feitos com seu auxílio. Em se tratando de novos dados, é o exame das conseqüências que possam ter para as teorias relevantes; h) prova (comprovação) da solução: confronto da solução com a totalidade das teorias e da informação empírica pertinente. Se o resultado é satisfatório, a pesquisa é dada como concluída, até novo aviso. Do contrário, passa-se para a etapa seguinte; i) correção das hipóteses, teorias, procedimentos ou dados empregados na obtenção da solução incorreta. Esse é, naturalmente, o começo da um novo ciclo de investigação" (BUNGE, 1980, p.25). Fonte: MARCONI, M. A.; LAKATOS, E.M. Fundamentos da metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.p.83-85. � Tema 3 - O homem e a cultura 3.1 O homem: ser biológico e cultural 3.2 A cultura: definições, cultura popular e cultura erudita 3.3 MULTICULTURALISMO, RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS, HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA 3.4 Indústria cultural 3.1 O homem: ser biológico e cultural A cultura interfere no plano Vimos, acima, que a cultura interfere na satisfação das necessidades fisiológicas básicas. Veremos, agora, como ela pode condicionar outros aspectos biológicos e até mesmo decidir sobre a vida e a morte dos membros do sistema. Comecemos pela reação oposta ao etnocentrismo, que é a apatia. Em lugar da superestima dos valores de sua própria sociedade, numa dada situação de crise os membros de uma cultura abandonam a crença nas mesmas e, consequentemente, perdem a motivação que os mantém unidos e vivos. Diversos exemplos dramáticos deste tipo de comporta mento anômico são encontrados em nossa própria história. Os africanos removidos violentamente de seu continente (ou seja, de seu ecossistema e de seu contexto cultural) e transportados como escravos para uma terra estranha, habitada por pessoas de fenotipia, costumes e línguas diferentes, perdiam toda a motivação de continuar vivos. Muitos foram os suicídios praticados, e outros acabavam sendo mortos pelo mal que foi denominado de banzo. Traduzido como saudade, o banzo é de fato uma forma de morte de corrente da apatia. Foi, também, a apatia que dizimou parte da população Kaingang de São paulo, quando teve o seu território invadido pelos construtores da Estrada de Ferro Noroeste. Ao perceberem que os seus recursos tecnológicos, e mesmo os seus sobrenaturais, eram impotentes diante do poder da sociedade branca, estes índios perderam a crença em sua sociedade. Muitos abandonaram a tribo, outros simplesmente esperaram pela morte que não tardou. Entre os índios Kaapor, grupo tupi do Maranhão, acredita-se que se uma pessoa vê um fantasma ela logo morrerá. O principal protagonista de um filme, realizado em 1953 por Darcy Ribeiro e Hains Forthmann, ao regressar de uma caçada contou ter visto a alma de seu falecido pai perambulando pela floresta. O jovem índio deitou em uma rede e dois dias depois estava morto. Em 1967, durante a nossa permanência entre os índios (quando a história acima nos foi contada), fomos procurados por uma mulher, em estado de pânico, quem teria visto um fantasma (añan). Confiante nos poderes do branco, nos solicitou um “añan-puhan” (remédio para fantasma). Diante de uma situação crítica, acabamos por fornecer-lhe um comprimido vermelho de vitaminas, que foi considerado muito eficaz, neste e em outros casos, para neutralizar o malefício provocado pela visão de um morto. É muito rica a etnografia africana no que se refere às mortes causadas por feitiçaria. A vítima, acreditando efetivamente no poder do mágico e de sua magia, acaba realmente morrendo. Pertti Pelto descreve esse tipo de morte como sendo conseqüência de um profundo choque psicofisiológico: “A vítima perde o apetite e a sede, a pressão sangüínea cai, o plasma sangüíneo escapa para os tecidos e o coração deteriora. Ela morre de choque, o que é fisiologicamente a mesma coisa que choque de ferimento na guerra e nas mortes de acidente de estrada”. E de se supor que em todos os casos relatados o procedimento orgânico que leva ao desenlace tenha sido o mesmo. Deixando de lado esses exemplos mais drásticos sobre a atuação da cultura sobre o plano biológico, podemos agora nos referir a um campo que vem sendo amplamente estudado: o das doenças psicossomáticas. Estas são fortemente influenciadas pelos padrões culturais. Muitos brasileiros, por exemplo, dizem padecer de doenças do fígado, embora grande parte dos mesmos ignorem até a localização do órgão. Entre nós são também comuns os sintomas de mal estar provocados pela ingestão combinada de alimentos. Quem acredita que o leite e a manga constituem uma combinação perigosa, certamente sentirá um forte incômodo estomacal se ingerir simultaneamente esses alimentos. A sensação de fome depende dos horários de alimentação que são estabelecidos diferente em cada cultura. “Meio-dia, quem não almoçou assobia”, diz um ditado popular. E de fato, estamos condicionados a sentir fome no meio do dia, por maior que tenha sido o nosso desjejum. A mesma sensação se repetirá no horário determinado para o jantar. Em muitas sociedades humanas, entretanto, estes horários foram estabelecidos diferentemetne e , em alguns casos, o indivíduo pode passar um grande número de horas sem se alimentar e sem sentir a sensação de fome. A cultura também é capaz de provocar curas de doenças, reais ou imaginárias. Estas curas ocorrem quando existe a fé do doente na eficácia do remédio ou no poder dos agentes culturais. Um destes agentes é o xamã de nossas sociedades tribais (entre os Tupi, conhecidos pela denominação de pai’é ou pajé). Basicamente, a técnica de cura do xamã consiste em uma sessão de cantos e danças, além da defumação do paciente com a fumaça de seus grandes charutos (petin), e a posterior retirada de um objeto estranho do interior do corpo do doente por meio de sucção. O fato de que esse pequeno objeto (pedaço de osso, insetos mor tos etc.) tenha sido ocultado dentro de sua boca, desde o inicio do ritual, não é importante. O que importa é que o doente é tomado de urna sensação de alivio, e em muitos casos a cura se efetiva. A descrição de uma cura dará, talvez, uma ideia mais detalhada do processo. Após cerca de uma hora de cantar, dançar e puxar no cigarro, o pajé recebeu o espirito. Aproximando-se do doente que etava sentado em um banco, o pajé soprou a fumaça primeiro sobre as própias mãos e, em seguida, sobre o corpo do paciente. Ajoelhando-se junto a ele, esfregou-lheo peito e o pescoço. A massagem era dirigida para um ponto no peito do doente e o pajé esfregava as mãos como se tivesse juntado qualquer coisa. Interrompia a massagem para soprar a fumaça nas mãos e esfregá-las uma na outra, como se quisesse livrá-las de uma substância invisível. Após muitas massagens no doente, levantou-lhe os braços e encostou seu peito ao dele. Queria assim passar o ymaé ( a causa da doença, aquilo que um ser sobrenatural faz ao entrar no corpo da vítima) do doente para o seu próprio corpo. Não o conseguiu evoltou a repetir as massagens, dessa vez dirigidas para o ombro. Aí aplicou a boca e chupou com muita força. Repetiu as massagens e sucções, intercalando-as com baforadas de cigarro e contrações como se fosse vomitar. Finalmente conseguiu extrair e vomitar o ymaé, que fez desaparecer na mão. Nas curas a que assistimos, os pajés jamais mostraram o ymaé que extraiam dos doentes. Guardavam- nos por algum tempo dentro da mão, livre do cigarro, para fazê-lo desaparecer após. Explicavam, porém, à audiência a sua natureza, oque parecia bastante. Dizem que os pajés mais poderosos o fazem, e algumas pessoas guardam pequenos objetos que acreditam terem sido retirados de seu corpo por um pajé. LARAIA, Roque de Barros. A cultura interfere no plano biológico. In. ____________, Cultura: um conceito antroplógico. Rio de Janeiro: 19. ed. Jorge ZAHAR Editor, 2006. p. 75 -79. 3.2 A cultura: definições, cultura popular e cultura erudita A origem da palavra CULTURA - Alfredo Bosi Uma definição da cultura hoje em dia se tornou particularmente difícil, porque a cultura pode ser estudada de vários pontos de vista e precisaríamos escolher uma perspectiva para poder defini-la. Como professor de língua portuguesa e pessoa que sempre se dedicou ao estudo do que se chama de Humanidades, eu gostaria de remontar ao primeiro significado da palavra cultura na tradição romana. A palavra cultura é latina e sua origem é o verbo colo. Colo significava, na língua romana mais antiga, “eu cultivo”; particularmente, “eu cultivo solo”. A primeira acepção de colo estava ligada ao mundo agrário, como foi Roma antes de se transformar naquele império urbano que nós conhecemos. Os romanos começaram efetivamente pela agricultura. A palavra agricultura diz muito: “cultura do campo”. Inicialmente, a palavra cultura, por ser um derivado de colo, significava, rigorosamente, “aquilo que deve ser cultivado”. Era um modo verbal que tinha sempre alguma relação com o futuro; tanto que a própria palavra tem essa terminação –ura, que é uma desinência de futuro, daquilo que vai acontecer, da aventura. As palavras terminadas em –uro e –ura são formas verbais que indicam projeto, indicam algo que vai acontecer. Então a cultura seria, basicamente, o campo que ia ser arado, na perspectiva de quem vai trabalhar a terra. Esse significado material da palavra, relacionado com a sociedade agrária, durou séculos; até que os romanos conquistaram a Grécia e foram em parte helenizados. Nós sabemos a extrema importância da cultura grega, da arte e da filosofia grega para o desenvolvimento da cultura romana. E os gregos tinham já uma palavra para o desenvolvimento humano, que era paideia. Paideia significava o conjunto de conhecimentos que se devia transmitir às crianças – paidós (criança é paidós) – daí Pedagogia, que é a maneira de levar a criança ao conhecimento. Dessa raiz é que se criou paideia, que por volta do primeiro século antes de Cristo, o momento forte da helenização de Roma, passou para o Império Romano e carecia de uma tradução em latim. Os romanos sabiam o que era paidéia, pois os seus pedagogos eram escravos gregos que iam para a Itália; alguns contratados e outros como escravos deveriam trabalhar para os seus donos e tinham a função de ensinar grego e retórica para os meninos das famílias patrícias. Nessa altura, a Grécia também exercia a função de “emprestar” palavras; começava-se a usar palavras gregas frequentemente entre os romanos. Só que, por outro lado, o nacionalismo romano também exigia que se traduzissem os termos gregos. E qual era o paralelo que eles podiam fazer? Os romanos não tinham nenhum termo que significasse “conjunto de conhecimentos que deveriam ser transmitidos à criança”. Mas, conhecendo a palavra paideia e não querendo usá-la porque era uma palavra estrangeira, passaram a traduzi-la por cultura. A palavra cultura passou do significado puramente material que tinha em relação à vida agrária para um significado intelectual, moral, que significa conjunto de ideias e valores. E é tardio isso, só a partir do primeiro século é que se encontram exemplos da palavra nessa acepção; se a gente for aos dicionários de latim compilados depois da época imperial, encontramos cultura sempre definida em primeiro lugar como o amanho do solo, o trabalho sobre o solo, ligado sempre ao verbo colo e seus derivados, por exemplo: in-cola – aquele que mora num certo lugar; inquilino – aquele que mora num lugar que não é seu; colônia – lugar para onde se deslocam trabalhadores que vão arar em outras terras. Culto vem do particípio passado de colo (colo é o verbo, que tem um particípio passado: cultus), é aquilo que já foi trabalhado. Depois, passou a ter um significado espiritual-religioso. Aliás, entre parênteses, nós não sabemos se o significado religioso foi anterior ou posterior ao significado material. Agora, cultura certamente sabemos que passou de um significado material para um significado ideal e intelectual. Essas observações que estou fazendo, etimológicas, poderão nos servir como um fio em nosso discurso, porque ambos os significados sobreviveram nas línguas modernas. Podemos falar na cultura do arroz, na cultura da soja, na cultura do trigo, entendemos muito bem que é uma terra cultivada; falamos em cultivo (palavra também derivada de colo) e mais ainda, com frequência, usamos a palavra cultura na acepção ideal, que é muito rica, porque traz dentro de si, na forma verbal terminada em -ura, a ideia de futuro, de projeto. Se tivéssemos que definir a palavra a partir dessas considerações, teríamos uma riqueza de possibilidades, porque a cultura, pensada como um conjunto de ideias, valores e conhecimentos, traz dentro de si, em primeiro lugar, a dimensão do passado. Muitos conhecimentos foram herdados de outras gerações, não estamos começando do zero, muito pelo contrário, cada ano que passa acumula mais conhecimento. Cada vez mais a dimensão cumulativa, a dimensão de passado, se impõe. É extraordinário como a nossa memória tem que ficar cada vez mais enriquecida, porque o tempo passa e a memória cresce proporcionalmente. Sem dúvida nenhuma, a primeira ideia que temos quando falamos em cultura é a de transmissão de conhecimentos e valores de uma geração para outra, de uma instituição para outra, de um país para outro; subsiste sempre a ideia de algo que já foi estabelecido em um passado – que pode ser um passado próximo ou um passado remoto. Evidentemente, nossa cultura tecnológica tem proximidade com a Revolução Industrial e com tudo o que veio depois, ao passo que a cultura humanística deve remontar aos gregos e aos romanos, há 2.000 ou 3.000 anos atrás. Não importa: seja um passado recente, séculos XIX e XX, seja um passado remoto (antes de Cristo, ou épocas arcaicas), sempre a palavra cultura carrega dentro de si a ideia de transmissão de ideias e valores. Mas, voltando à etimologia, cada vez mais nos preocupamos com a outra dimensão, que é a dimensão do projeto. Não basta que nós herdemos do passado todas essas riquezas, é preciso que continuemos aprofundando certos veios; se a cultura está sempre “in progress”, ela está sempre em fase de desvios, ela não é algo estabelecido para sempre. Só as culturas em decadência é que fixam, congelam, tal como a cultura bizantina, que, dizem, durante mil anos repetiu as fórmulas do Império Romano do Oriente; ou a cultura chinesa, antes de a China entrar em contato com o mundo ocidental, também codificou formas, comportamentos; a japonesa também. No mundo contemporâneo, ao contrário, cada vez menos nos atemos à fixidez das fórmulas e cada vez mais (como a cultura é um complexo de conhecimentos científicos, técnicos etc., e não só históricos) nos preocupamos em criar projetos de cultura; e cada vez mais, além desta criação, os nossos ideais democráticos exigem uma socialização do conhecimento. Não só cavar na matéria em si da cultura, mas também estendê-la na linha da comunicação, na linha da socialização; e fazer com que este bem seja repartido, distribuído,da maneira mais justa e mais ampla possível, o que é próprio da sociedade democrática. Disponível em: <http://pandugiha.wordpress.com/2008/11/24/alfredo-bosi-a-origem-da-palavra-cultura/> acessado em 05/02/2011. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2006. p. 291-296. Cultura O mundo que resulta do pensar e do agir humanos não pode ser chamado de natural, pois se encontra transformado e ampliado por nós. Portanto, as diferenças entre pessoa e animal não são apenas de grau, porque, enquanto o animal permanece mergulhado na natureza, nós somos capazes de transformá-la, tornando possível a cultura. A palavra cultura tem vários significados, tais como cultura da terra ou cultura de uma pessoa letrada, “culta”. Em antropologia, cultura significa tudo que o ser humano produz ao construir sua existência: as práticas, as teorias, as instituições, os valores materiais e espirituais. Se o contato com o mundo é intermediado pelo símbolo, a cultura é o conjunto de símbolos elaborados por um povo. Dada a infinita possibilidade humana de simbolizar, as culturas são múltiplas e variadas: são inúmeras as maneiras de pensar, de agir, de expressar anseios, temores e sentimentos em geral. Por isso mudam as formas de trabalhar, de se ocupar com o tempo livre, mudam as expressões artísticas e as maneiras de interpretar o mundo, tais como o mito, a filosofia ou a ciência. Nesse processo de transformação, vale lembrar que a ação humana é coletiva, por ser exercida como tarefa social, peal qual a palavra toma sentido pelo diálogo. O mundo cultural é um sistema de significados já estabelecidos por outros, de modo que, ao nascer, a criança encontra o mundo de valores já dados, onde ela vai se situar. A língua que aprende, a maneira de se alimentar, o jeito de se sentar, andar, correr, brincar, o tom da voz nas conversas, as relações familiares; tudo, enfim, se acha codificado. Até na emoção, que nos parece uma manifestação tão espontânea, ficamos à mercê de regras que educam desde a infância a nossa expressão. O corpo humano nunca é apresentado como mera anatomia, a ponto de não se poder pensar em ‘nu’ natural: toda pessoa já se percebe envolta em panos e portanto em interdições pelas quais é levada a ocultar sua nudez em nome de valores (sexuais, amorosos, estéticos) que lhe são ensinados. Portanto, quando se desnuda, o faz a partir de valores, transgredindo aqueles estabelecidos ou propondo outros novos. Todas as diferenças existentes no comportamento modelado em sociedade resultam da maneira pela qual são organizadas as relações entre os indivíduos. É por meio delas que se estabelecem os valores e as regras de conduta que nortearão a construção da vida social, econômica e política. Como fica, então, a individualidade diante do peso da herança social? Haveria sempre o risco de o indivíduo perder sua liberdade e autenticidade? Martin Heidegger, filósofo alemão contemporâneo, alerta para o que chama de “mundo do man”: man equivale em português ao pronome reflexivo se ou ao impessoal a gente. Veste-se, come-se, pensa-se, não como cada um gostaria de se vestir, comer ou pensar, mas como a maioria o faz. Os sistemas de controle da sociedade aprisionam o indivíduo numa rede aparentemente sem saída. Assim como a massificação pode ser decorrente da aceitação sem crítica de valores impostos pelo grupo social, também é verdade que a vida a autêntica só pode ocorrer na sociedade e a partir dela. Justamente aí encontramos o paradoxo de nossa existência social. Como vimos, se o processo de humanização se faz por meio das relações pessoais, será dos impasses e confrontos surgidos nessas relações que a consciência de si poderá emergir lentamente. O importante é manter viva a dialética, a contradição fecunda de pólos que se opõem, mas não se separam. Ou seja, ao mesmo tempo que nos reconhecemos como seres sociais, também somos pessoas, temos uma individualidade que nos distingue dos demais. Portanto, a sociedade é a condição da alienação e da liberdade; nela o ser humano pode ser perder, mas pode também se encontrar. O sociólogo norte-americano Peter Berger usa a expressão êxtase (ékstasis, em grego, significa ‘estar fora’, ‘sair de si’) para explicar o ato possível de o indivíduo ‘ se manter do lado de fora ou dar um passo para fora das rotinas normais da sociedade’, o que permite o distanciamento crítico do próprio mundo em que se vive. O ‘sair de si’ representa um esforço para nos livrarmos de convicções inabaláveis e portanto paralisantes. É a condição para que, ao voltar de sua ‘viagem’, o ser humano se torne melhor, menos dogmático ou preconceituoso. TOMAZI, Nelson Dácio. Iniciação à Socilogia. 2. ed. São Paulo: Atual, 2000. p.175-178. Cultura: um conceito com várias definições Se fôssemos tentar definir o conceito de cultura, teríamos que procurar saber como ele surgiu. De acordo com o sociólogo inglês Raymond Williams, a palavra vem do latim – colere – e definia inicialmente o cultivo das plantas, o cuidado com os animais e também com a terra (por isso, agricultura). Definia, ainda, o cuidado com as crianças e sua educação; o cuidado com os deuses (seu culto); o cuidado com os ancestrais e seus monumentos (sua memória). Passando por todos esses elementos, chegaríamos, finalmente, ao sentido mais comum que o termo possui em nossa sociedade: o de que o homem que tem cultura é um homem “culto”. É aquele que “cultiva” (no sentido de desenvolver, praticar, cultuar) a inteligência, as artes e o conhecimento presente nos livros. Mas, se pensássemos em cultura apenas nesse sentido, teríamos que perguntar: só quem lê muito, quem passou um longo tempo na escola é que tem cultura? Somente o professor, o intelectual, os profissionais de formação universitária? Mas e o bóia-fria, o operário, o comerciante, estes não têm cultura? Numa outra perspectiva, poderíamos responder que cultura é cinema, pintura, teatro, as manifestações artísticas em geral. Nesse caso, só os artistas é que teriam cultura? Mas e as festas populares, as crenças, as chamadas tradições, seriam o que? A maneira de agir, pensar e sentir de um grupo de pessoas ou classe social seria ou não cultura? O “modo de ser” dos brasileiros, como se costuma ouvir e dizer, tem algo a ver com “cultura”, com “cultura brasileira”? Antes de responder a essas perguntas, devemos partir, especificamente, da compreensão do próprio conceito. Pensar em cultura requer que se pense, inicialmente, em sua relação com outros dois conceitos fundamentais: o de civilização e o de história. Foi na Europa, a partir do século XVIII, que o conceito de cultura passou a ser associado ao conceito de civilização. Os pensadores do período, preocupados em estudar o homem e a sociedade, pensavam a relação entre os conceitos de cultura e de civilização de maneiras diversas, como nos mostra a filósofa brasileira Marilena Chauí. Segundo Chauí, o filosofo Rousseau (1712-78) definia a cultura de maneira positiva. Para ele, um pensador para quem o homem era naturalmente bom, cultura seria definida como bondade natural, interioridade espiritual, imaginação, solidariedade espontânea. A essa idéia positiva de cultura, Rousseau opunha a idéia negativa de civilização. O conceito de civilização era pensado como o aprisionamento da bondade humana natural; aprisionamento que Rousseau acreditava dar-se por meio de regras e convenções artificiais e exteriores ao homem. Já para Voltaire e Kant cultura e civilização representavam ambas, o processo de aperfeiçoamento moral e racional da sociedade, sendo a cultura a forma de avaliar o estágio de progresso e desenvolvimento de uma civilização. Para esses autores, portanto, não havia oposição entre cultura como reino natural e civilização como reino do artificial. A cultura seria, para eles, um conceito dinâmico e transformador que definiria aquilo que é específico do ser humano, na sua relação com a natureza e na construção de uma ordem humana superior (civilizada). E, dessa forma, acabaria servindo para, aolongo do tempo, distinguir os homens cultos (educados intelectual e artisticamente) dos incultos e também para comparar e classificar civilizações diferentes em mais ou menos “civilizadas”. Cultura Popular e Cultura Erudita Cultura é uma construção humana e se opõe à natureza, aquilo que não passa pelo trabalho do homem. Para não deixar o conceito tão amplo, algumas divisões são criadas, entre elas as de popular e erudita. Fala-se em cultura popular e cultura erudita como se houvesse um rio que separasse claramente as duas margens. Este rio não existe, mas a divisão tem alguma utilidade operacional. A cultura popular seria aquela que é produto de um saber não institucionalizado, que não se aprende em colégios ou academias; exemplo disso é o crochê, ou a culinária tradicional, ou ainda a literatura de cordel. A cultura erudita, por outro lado, pressupõe uma elaboração maior e por isso uma institucionalização do saber. Isto é: o domínio da cultura erudita passa não pela tradição familiar, mas por academias, bibliotecas, conservatórios musicais, etc, que selecionam o material e impõem regras rígidas e complexas elaborações. Bach, na música, e Ingres, na pintura, são exemplos disso. Evidentemente, os conceitos popular e erudito escondem também uma valoração. Por muitos anos, a cultura popular foi considerada inferior à erudita; e erudito mesmo era aquilo que era europeu, de preferência francês, inglês ou alemão. Os brasileiros eram os primos pobres, que tinham que beber naquelas fontes para se curar de seu incurável atraso. Esse pensamento foi se transformando ao longo dos anos, graças às contribuições de autores que, dominando o saber erudito, reconheciam o valor imenso da cultura popular (Gilberto Freire, Mário de Andrade e Guimarães Rosa são alguns desses autores). Uma manifestação típica da cultura popular brasileira (junto com a literatura de cordel) é a frase de parachoque de caminhão, que condensa muito da experiência e do saber popular. O bom humor do brasileiro, por décadas, foi literalmente "veiculado" nos parachoques de caminhão. Em estradas muitas vezes em péssimas condições, ficar atrás de um caminhão tinha pelo menos uma vantagem: ler a frase do parachoque. "A vida é um sutiã: a gente tem que meter os peitos", por exemplo, tem mais força que um tratado acadêmico sobre a importância do empreendedorismo! A Mókpi está lançando neste mês de julho (de 2009) o Baralho do Caminhoneiro, justamente porque acredita no valor das manifestações populares. Como a "filosofia de caminhoneiro" corria o risco de se perder (existe uma lei que proíbe a colocação das frases no parachoque, porque elas distraem a atenção dos motoristas que passam pelo caminhão), a Mókpi está agora eternizando esta manifestação cultural no Baralho do Caminhoneiro, para que as novas gerações conheçam estas "pérolas" e respeitem os sábios anônimos que as criaram. Disponível em < http://mokpi.blogspot.com/2009/07/cultura-popular-e-cultura-erudita.html> acesso: em 20 jan. 2011. 3.3 Multiculturalismo, relações étnico-raciais, história e cultura afro-brasileira e indígena Multiculturalismo Hibridismo, diversidade étnica e racial, novas identidades políticas e culturais: estes são termos diretamente relacionados ao multiculturalismo. Se a diversidade cultural acompanha a história da humanidade, o acento político nas diferenças culturais data da intensificação dos processos de globalização econômica que anunciam, segundo os analistas, uma nova fase do capitalismo, denominada por autores como Ernest Mandel de "capitalismo tardio" e por outros, como Daniel Bell, de "sociedade pós-industrial". A despeito das querelas acerca das origens dessa nova fase, o fato é que as discussões acerca do multiculturalismo acompanham os debates sobre o pós-modernismo e sobre os efeitos da pós-colonização na cena contemporânea, o que se verifica de forma mais evidente a partir dos anos 1970, sobretudo nos Estados Unidos. A globalização do capital e a circulação intensificada de informações, com a ajuda de novas tecnologias, longe de uniformizar o planeta (como propalado por certas interpretações fatalistas), trazem a afirmação de identidades locais e regionais, assim como a formação de sujeitos políticos que reivindicam, com base em garantias igualitárias, o direito à diferença. Mulheres, negros (ou afro-americanos), homossexuais, populações latino-americanas ("hispanos" ou chicanos) e migrantes em geral se fazem presentes como atores políticos com a marcação de diferenças de gênero, culturais e étnicas. A cultura torna-se instrumento de definição de políticas de inclusão social - as "políticas compensatórias" ou as "ações afirmativas" - que tomam os diversos setores da vida social. Cotas para minorias, educação bilíngue, programas de apoio aos grupos marginalizados, ações antirracistas e antidiscriminatórias são experimentadas em toda parte. Primeiro, é conveniente esclarecer as diferenças entre multiculturalismo, pluralismo, universalismo e relativismo. O pluralismo é uma característica de sociedades livres, em que há a convivência pacífica e respeitosa entre pensamentos diferentes, atualmente encontrada nos Estados Democráticos de Direito. Não se pode falar em um pensamento melhor que outro, pois todos são dignos de respeito. O pluralismo combate o pensamento único, o que contraria uma das tendências do processo de globalização. O fenômeno da globalização não admite diálogo ou outra opção; se é universal, não pode ser local. Não existe alternativa possível, o mundo deve ser unipolar. Pauta-se por uma ética individualista, mas sem liberdade para o indivíduo seguir qualquer plano de vida. Há um único modelo a ser seguido. A globalização como projeto político e econômico transmuta-se no neoliberalismo (democracia + livre mercado) e repercute na seara dos direitos humanos com o plano de diminuição dos direitos sociais, econômicos e culturais, bem como com a sobrevalorização dos direitos de propriedade. Não existem mais pessoas ou cidadãos, mas clientes. O projeto político mundial é conduzido conforme interesse de grandes multinacionais. A Constituição brasileira, em seu preâmbulo, assegura a pluralidade da sociedade nacional. Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL (grifo nosso). O artigo 5º da mesma Carta assegura a liberdade de pensamento, de opinião, de culto, de associação, de ofício, de opção sexual, de casamento, de partido político etc. Sem embargo, será que realmente o texto constitucional garante a pluralidade em nosso país? Para garantir a pluralidade, para que uma sociedade seja plural, as pessoas devem ter a capacidade de optar por esse ou aquele modelo, e essa opção deve ser livre e consciente. Liberdade de eleição todos temos, é inerente ao ser humano. Entretanto, essa liberdade deve manifestar-se como liberdade moral, que é a ética (opção) privada - de cada indivíduo. Esta nem todos temos, pois deve ser livre e individual. Aí entra o Estado, com a ética pública, para garantir que todos teremos condições de optar, com a utilização de políticas de isonomia, especialmente via garantia de direitos de segunda geração, que são os direitos econômicos, sociais e culturais. No multiculturalismo, existe a convivência em um país, região ou local de diferentes culturas e tradições. Há uma mescla de culturas, de visões de vida e valores. O multiculturalismo é pluralista, como já se pode observar, pois aceita diversos pensamentos sobre um mesmo tema, abolindo o pensamento único. Háo diálogo entre culturas diversas para a convivência pacífica e com resultados positivos a ambas. O problema reside no fato de que o multiculturalismo pode ser abordado de forma relativista e de forma universalista. Há a abordagem relativista quando não se estabelecem critérios mínimos para o diálogo entre culturas, isto é, tudo é aceito e tudo é correto. O julgamento interno é mais importante do que o julgamento externo (da sociedade internacional). Nessa concepção do multiculturalismo, não se pode falar em direitos humanos universais, pois cada cultura é livre para estabelecer seus próprios valores e direitos. Não existe a possibilidade de proteção internacional dos direitos humanos nessa visão. O multiculturalismo também pode ser universalista, ou seja, permitir a propagação e convívio de diferentes ideias, desde que esteja estabelecido um denominador mínimo, comum entre as partes para o início do diálogo (valores universais). Esse mínimo a ser respeitado são os direitos humanos. No universalismo, o julgamento externo sobrepõe-se ao interno. Sinceramente, creio que cada cultura possui um peso que não pode ser valorado, mas não vejo como deixar de estabelecer um padrão mínimo para a convivência entre os povos. O relativismo permite que sejam aceitas culturas que desejam aniquilar-se umas com as outras, o que inviabiliza a paz. Com o relativismo, a Declaração Universal de Direitos Humanos (1948) tem diminuído seu peso, sua importância. As conquistas advindas dela deixam de ter seu valor. No multiculturalismo universalista, pode-se defender o caráter geral da Declaração Universal de Direitos Humanos (para todos, em qualquer nação, em qualquer tempo). Esta seria a base para o convívio entre os povos. Imaginem se em um condomínio não existissem regras de convivência, sobre como possuir animais, sobre como jogar o lixo fora, sobre os horários de festas etc. Imaginem se todas as atitudes de quaisquer moradores fossem aceitas. Provavelmente os conflitos seriam maiores. Como realizar intervenções humanitárias? No relativismo o peso da soberania ganha novo fôlego na sociedade internacional, podendo justificar inação dos agentes globais e graves violações aos direitos humanos. Assim, a defesa dos direitos humanos universais é compatível com o pluralismo e com o multiculturalismo universalista, mas é totalmente inviável em um ambiente de multiculturalismo relativista. Pode-se dizer que é uma visão ocidental e limitada, mas não vejo possibilidade em conciliar toda e qualquer prática em nosso mundo. Não consigo ver como aceitável ou com a possibilidade de me adaptar à circuncisão feminina em diversos países da África do Norte, à discriminação feminina em diversos países, à sacrifícios humanos etc. O direito à diferença e o respeito às tradições culturais devem ter um limite, e este limite são os direitos humanos. Falar de tolerância em situações abusivas aos direitos humanos é ser indiferente. A defesa do pluralismo não pode ser deturpada, pois o ser humano precisa estar acima de qualquer tradição ou prática. Essa deturpação me parece ser o relativismo, que permite até a quebra do próprio relativismo, ao permitir que uma cultura destrutiva ganhe espaço na sociedade internacional e, com o tempo, destrua essa própria sociedade por não seguir seus valores belicosos, acabando com o multiculturalismo relativista (ldem p/ democracia s/ direitos fundamentais). Destaco que as concepções relativista e universalista do multiculturalismo somente serão importantes quando possuírem um objeto moral também importante, que são os direitos humanos. Tradições e costumes que não afetam esse catálogo mínimo de direitos não devem sofrer alteração por um julgamento externo, o da sociedade internacional. Aí, prevalece o entendimento do grupo social. A palavra tolerância pode significar a preponderância do meu pensamento sobre o do outro. Eu tolero o outro, eu o aguento, eu o suporto. Os relativistas não admitem o termo tolerância, pois afirmam que desiguala os conceitos e tradições, com a existência de uma superior. Garantir direitos mínimos, que são os direitos humanos, é assegurar que todos terão liberdade moral (dignidade), capacitando os indivíduos a que realizem seus planos de vida com liberdade e consciência. Uma lista mínima de direitos não me parece atentar contra identidades culturais deste ou daquele povo. Creio ser plausível pelo menos uma regra mínima como ponto de partida para o diálogo entre culturas: a de não prejudicar terceiros. Parece-me que universalizar um direito tem um peso muito forte na sociedade internacional, o que permite tirar um pouco da carga desta expressão com a universalização de um valor, que é o de respeito à dignidade humana, como ocorre em quase todas as religiões do mundo. A partir daí pode-se permitir que as mais diversas tradições culturais se manifestem com toda plenitude e liberdade. Universalizar, ao contrário do que pensam alguns autores, não é uniformizar as ideias, criar um pensamento único. Trata de levar a todo o planeta um marco mínimo de respeito entre as mais diversas culturas, para que haja diálogo entre elas. Esse diálogo deve ser produtivo, ao contrário do que ocorreria com o relativismo, pois não haveria como chegar a um mínimo de entendimento. A partir deste marco, que são os direitos fundamentais, cada povo tem a máxima liberdade de expressar suas tradições e crenças. É verdade que a universalidade dos direitos humanos tem sido utilizada no curso da história para justificar intervenções imperialistas de alguns Estados em outros povos, como ocorreu no colonialismo e no neocolonialismo, assim como, mais recentemente, na invasão americana ao Estado soberano do Iraque. Apesar disso, essas manipulações do Direito devem ser vistas como patologias e não como o próprio Direito, pois este tem como meta a convivência pacífica entre os povos, com a proibição de excessos na seara internacional. Confesso que se existisse a possibilidade de um diálogo entre culturas em um marco relativista, eu seria relativista. Isso poderia acontecer se eu acreditasse no caráter bom e pacífico do ser humano, o que não é verdade. Se não houvesse a possibilidade de que determinado povo fizesse o mal a outro grupo ou indivíduo, não necessitaríamos de um catálogo mínimo de direitos, pois a base já estaria pronta – respeito à dignidade humana. Entretanto, não é isso que temos visto na história do homem. Ao contrário, mecanismos artificiais de contenção do homem têm sido desenvolvidos desde o seu aparecimento no planeta, por intermédio da religião, da filosofia, da ciência e, mais recentemente, do Direito. (Adaptado de Multiculturalismo e direitos humanos, artigo de Marcus Vinícius Reis, disponível em http://www.senado.gov.br/sf/senado/spol/pdf/ReisMulticulturalismo.pdf.) Os efeitos dos debates sobre o multiculturalismo no Brasil mereceriam uma discussão à parte, dada a sua complexidade. País de raízes mestiças, e que não constitui historicamente minorias que se organizam como comunidades apartadas do conjunto - os migrantes assimilam à sociedade nacional -, o Brasil parece ficar à margem dessas discussões até a década de 1980, data do fortalecimento e visibilidade das chamadas minorias étnicas, raciais e culturais. A pressão dos novos atores sociais reverbera diretamente no texto da Constituição de 1988, considerada um marco em termos da admissão do nosso pluralismo étnico. Os efeitos dessas formas renovadas de engajamento podem ser observados no campo da produção artística, sobretudo da literatura fala-se em "escrita feminina", em "vozes negras", homoerótico etc.). Na música jovem, das periferias urbanas, define-se o espaço de uma cultura negra: o funk, o rap, o hip hop. O campo das artes visuais recebe o impacto dessas problemáticas - a experiência das minorias aparece tematizada em um ou outro artista -, ainda que pareça difícil localizar aí uma produção de cunho multicultural com contornos definidos. Relações étnico-raciais É muito importante que as criançase adolescentes do Semi-árido tomem conhecimento de suas culturas locais, como parte integrante da cultura da nação brasileira, que se empenhem na sua valorização, sobretudo a partir das escolas onde estudam, atendendo ao que determina a legislação específica em vigor. A Lei 10. 639/03, por exemplo, é da maior importância, na medida em que altera a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), ao instituir a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e africana no currículo, em todos os sistemas e modalidades de ensino do país. Entre a população indígena, a luta maior é por uma educação escolar diferenciada, que respeite a sua diversidade cultural e lingüística, garantida pela Constituição de 1988 e pela Resolução 03 da Câmara de Educação Básica – CEB, de novembro de 1999. Segundo o Censo Escolar de 2003, existem 149.311 estudantes indígenas que freqüentam a educação básica no Brasil, em mais de 2000 escolas indígenas. Indígenas e afro-brasileiros ainda são vistos na escola de forma preconceituosa e estereotipada, ou seja, sem respeito a suas características étnicas e culturais. Dois documentos podem ajudar a comunidade e a escola a mudar essa visão, com uma abordagem que garanta os direitos educacionais e culturais dessas populações. Esses documentos são o Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas – RCNEI e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações étnico-raciais e para o Ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Africana. As políticas públicas para o Semi-árido deverão estar comprometidas com a superação das desigualdades raciais na região, a partir da escola e de seus principais agentes – professores e alunos – para que educação e cultura caminhem juntas na promoção da igualdade e da justiça social. História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena A força da cultura de negros/ as e indígenas pode ser vista em todos os momentos cotidianos da vida. Nos seus modos diversos de falar, andar, comer, orar, celebrar e brincar, estão inscritas as marcas civilizatórias desses povos que, ancorados na dimensão do sagrado, celebram e respeitam a vida e a morte, mantendo uma relação ética com a natureza. É através destas formas cotidianas de se expressar e de ver o mundo que indígenas e afro-brasileiros/as têm resistido culturalmente na manutenção de sua história. A importância de crianças e adolescentes, independente da raça, etnia ou cor da pele, serem estimuladas a reconhecer e valorizar as identidades culturais da sua região – que podem estar presentes em quilombos, terreiros, aldeias, bairros populares, assentamentos e outros territórios – é que elas podem se orgulhar de que a cultura da sua localidade integra a diversidade que caracteriza a cultura brasileira. Cultura, como sabemos, é tudo que as pessoas lançam mão para construir sua existência, tanto em termos materiais como espirituais, envolvendo aspectos físicos e simbólicos. A cultura é um patrimônio importante de um povo, porque resulta dos conhecimentos compartilhados entre as pessoas de um lugar, e vai passando e sendo recriada, de geração em geração. É a cultura que nos diz em que acreditar, influencia os nossos modos de ser e estar no mundo, de agir, sentir e nos relacionar com o natural e o social. Como são e como vivem as pessoas de cada município? Como se relacionam com as culturas indígena e afro-brasileira? Como lembram os antepassados, quais suas lutas para sobreviver, seus valores, crenças, suas formas de lazer? As culturas de origem africana e indígena possuem uma diversidade enorme, mas, de modo geral, é possível identificar algumas características bastante semelhantes. Trata-se de povos que incluem crianças, jovens, adultos/ as, idosos/as, preservam a vida natural e social, se organizam por meio da participação coletiva, se juntam em torno de objetivos comuns... Mas, os modos como vivenciam essas experiências variam bastante. A dimensão sagrada é outra característica importante. Possuem vários deuses e deusas – a lua, a água, o sol, as plantas; acreditam no poder de cura desses elementos, sempre relacionando corpo físico e espiritual. Nestas sociedades, o ensinar/aprender está muito presente. Historicamente, essas sociedades foram atingidas por diversas formas de violência física e cultural, ameaças de dissolução e deformação. Por isso, é tão importante trazer à tona suas histórias e culturais, nem sempre valorizadas e reconhecidas como deveriam. Importante também é observar como as pessoas de mais idade ou as envolvidas nas religiões de matriz africana e indígena elaboram visões de mundo, a partir das suas vivências e sentimentos. Isso é um legado, um patrimônio, uma herança, “bens de família”, uma memória. Ouvindo as histórias das pessoas mais velhas, se conhecem mais as tradições, identifica-se um patrimônio que se perpetuou e se recriou nos mais diversos contextos e situações. Assim, independente da forma como são denominados ou se autodenominam na região – negros/ as, índios/ as, caboclos/ as, sertanejos – as influências indígenas e afro-brasileiras podem estar presentes nas suas formas de ser e viver, embora isto nem sempre seja explicitamente mencionado. Identidade, Ancestralidade e Resistência: Marcas das Culturas Indígenas e Afro-brasileiras no Brasil Identidade indígena e identidade negra têm a ver com as tradições desses povos, encontradas nas memórias, nas manifestações artísticas e religiosas, muitas vezes recriadas ou reinterpretadas em função dos contextos socioculturais onde ocorrem. Assim, em cada região ou município, essas culturas apresentam características distintas, que formam uma identidade étnico-racial. Crianças e adolescentes no Semi-árido, portanto, possuem identidades diferenciadas. Daí a necessidade de procurar perceber as muitas formas como a identidade indígena e a identidade negra se apresentam na cultura do município. A ancestralidade – respeito aos que existiram e aos que virão – consiste numa relação equilibrada entre o passado, o presente e o futuro, remetendo para a valorização das pessoas que nos antecederam, suas lutas, suas histórias e o papel das gerações atuais na continuidade de seus feitos, transmitindo a um tempo futuro aquilo que fizeram e tiveram de melhor. A resistência mostra o processo de luta pela sobrevivência física e cultural dos povos indígenas e negros no Brasil, por meio de práticas sociais, políticas, culturais e religiosas, fazendo com que se mantivessem conhecimentos ancestrais próprios que fortalecem a identidade étnico-racial. Expressões Culturais Afro-Brasileiras e Indígenas O selo Município Aprovado 2008 está dando visibilidade às formas como indígenas de diversas etnias e afro-brasileiros, em modos de vida também diferenciados, têm preservado suas culturas, através de diversas expressões e linguagens, destacando-se grupos de hip-hop, capoeira, blocos carnavalescos, afoxés, maracatus, bumba-meu-boi, caboclinhos, ternos de reis e muitos outros eventos, histórias, personalidades da cultura brasileira, como exemplificado nos quadros a seguir. EVENTOS compreendem festas, festivais, acontecimentos, apresentações teatrais, de dança, recitais, poéticos, exposições de artes plásticas; bumba-meu-boi, maracatus, reinados do congo, afoxés maculelê, ternos e folias de reis, tambor-de-crioula, cantos de trabalho, ritos de passagem, casamentos, cantorias, cordel, quadrilhas juninas, sambas, que tenham a cultura negra e/ou indígena evidenciada. OFÍCIOS E MODOS DE FAZER são processos de trabalho e produtos obtidos, próprios do município ou da região e que são característicos do viver, celebrar, conviver, cuja origem e história se baseiam nas civilizações indígenas e/ou africanas. Estas expressões culturais podem ser encontradas nas artes e no artesanato, na fabricação de instrumentos e outros objetos de uso religioso, na culinária. São exemplos: cerâmica, cestarias, cocares, pinturas corporais, ferramentas de orixás, carranca, acarajé,panos-da-costa, penteados, trançados e outros. MITOS, CONTOS, HISTÓRIAS são contados, geralmente, pelas pessoas mais velhas, que conhecem a história e a cultura e têm prazer de repassar aos que não vivenciaram, os quais passam a conhecer e se orgulhar de seu pertencimento étnico-racial. A memória cultural de uma localidade é o maior bem que ela possui. É a tradição oral que faz este bem circular, ganhar mundo, organizando a vida, as ideias, mantendo e preservando a riqueza cultural de um povo. Isto faz parte da cultura de cada localidade, mostrando o jeito como as pessoas se relacionam, se vinculam ao passado e à tradição, dando continuidade à existência. Nas culturas indígena e negra, essas histórias são a forma principal de transmissão e preservação do conhecimento e da sua cultura, que assim têm resistido, com o passar do tempo, à massificação e suas tendências uniformizantes e descartáveis. LUGARES E CONSTRUÇÕES são espaços construídos ou naturais, como terreiros, territórios quilombolas, aldeias e reservas indígenas, mercados, feiras, rios, cachoeiras, praias, mangues, açudes, que traduzem a experiência afro-brasileira e indígena no município e são testemunhos de passagens importantes da história local. HISTÓRIAS DOS LOCAIS E DOS TERRITÓRIOS são narrativas que contam um pouco da vida do município e /ou de uma comunidade específica, resgatando suas origens, como surgiu, se existe há muito tempo, quem foram seus pioneiros, se já foi maior, se já pertenceu a outro município etc., além de explanações sobre como o município se encontra atualmente e também a história dos seus bairros, comunidades e distritos. LIDERANÇAS E PERSONALIDADES são pessoas que têm um trabalho reconhecido por grande parte da população. Geralmente, são grandes líderes religiosos, artistas, com conhecimentos importantíssimos e enorme experiência de vida, que se incubem de representar e cuidar de seu povo e repassar os modos de celebração e de cura aprendidos de seus ancestrais, como caciques, mães e pais de santo, pajés, guerreiros e outros. INTITUIÇÕES, ENTIDADES E LOCAIS representativas da população indígena e negra do município, tais como: associações e grupos culturais ou comunitários – filarmônicas, grupos de folguedos, danças populares –terreiros, organizações não governamentais, etc. Esta área permite perceber o grau de organização popular no município, quem são as lideranças, o reconhecimento dos trabalhos realizados por essas organizações. EXPRESSÕES E VOCÁBULOS locais e regionais são expressões lingüísticas de origem indígena e africana que permanecem no falar cotidiano do povo, sua linguagem específica e seus mais diversos significados. As formas de participação nessas expressões culturais são mais coletivas que individuais. As atividades de identificação, escolha e registro da expressão, fiéis a este princípio de participação, envolverão professores e professoras, alunos e alunas, lideranças culturais e religiosas, reconhecendo o valor e a legitimidade, não só das expressões culturais, mas das pessoas e civilizações que as geram. Expressões culturais afro-brasileiras e indígenas buscam fortalecer a identidade étnico-racial; promovem a auto-estima e a autoconfiança de negros e negras e de indígenas; têm forte relação coma memória e a tradição oral; resgatam processos de luta e resistência, valorizam e mostram os feitos dessas populações; trazem aspectos negados dessas culturas. (Fonte: Selo UNICEF. Guia de orientação para os municípios. Elaboração CEAFRO (Educação e profissionalização para Igualdade Racial e de gênero). Edição 2008. Pág. 6 à 17.) 3.4 Indústria Cultural A indústria cultural ou cultura de massa A expressão “cultura de massa” foi muito usada, principalmente pelos norte-americanos. Os sociólogos americanos criaram a expressão mass culture, que foi moeda corrente até os anos 1950. Nos anos 1950 falava-se em mass communication, mass culture, muitos livros traziam esses títulos. Mas na Europa, particularmente na Alemanha, com a Escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer, filósofos marxistas) implantou-se uma forte tendência humanista. Estes filósofos eram críticos da cultura de massas e eles próprios, sobretudo Adorno, julgaram que essa expressão era inadequada, porque cultura de massas poderia dar a impressão de que é uma cultura produzida pelas massas; cultura de massas, como se as massas, que são alguma coisa anônima, (massas de uma cidade, massas de um país – a palavra “massa” já é por si anônima) produzissem cultura. Indústria cultural Conceito formulado pelos filósofos alemães Adorno e Horkheimer, em 1947. É fruto de uma sociedade capitalista industrializada, onde até mesmo a cultura é vista como produto a ser comercializado. É a exploração com fins econômicos e comerciais de bens considerados culturais. Tudo que é produzido pelo sistema industrializado de produção cultural (TV, rádio, jornal, revistas, etc) elaborado de forma a influenciar, aumentar o consumo, transformar hábitos, educar, informar, etc. I.C. tem como único objetivo a dependência e a alienação dos homens. Ao maquiar o mundo nos anúncios que divulga, ela acaba seduzindo as massas para o consumo de mercadorias culturais. I.C. promove a resignação, manipula as distrações, permanece ligada aos clichês ideológicos e chavões que perpetuam os estereótipos e que são repetidas à exaustão. Indústria cultural é o nome genérico que se dá ao conjunto de empresas e instituições cuja principal atividade econômica é a produção de cultura, com fins lucrativos e mercantis. No sistema de produção cultural encaixam-se a TV, o rádio, jornais, revistas, entretenimento em geral; que são elaborados de forma a aumentar o consumo, modificar hábitos, educar, informar, podendo pretender ainda, em alguns casos, ter a capacidade de atingir a sociedade como um todo. Desde a década de 1990, seis empresas transnacionais tomaram conta de 96% do mercado mundial de música. No que se refere ao cinema a situação é ainda mais chocante. Mais de 90% das telas norte-americanas só exibem filmes feitos no próprio país. O americano comum, portanto, não conhece o que se faz no estrangeiro. E o que se produz, na verdade, é pouco -- 85% dos filmes exibidos em todo o planeta brotam de Hollywood. Para a filósofa Marilena Chauí, a indústria cultural vende cultura. Para vendê-la, deve seduzir e agradar o consumidor. Para seduzi-lo e agradá-lo, não pode chocá-lo, provocá-lo, fazê-lo pensar, fazê-lo ter informações novas que o perturbem, mas deve devolver-lhe, com nova aparência, o que ele já sabe, já viu, já fez. A “média” é o senso comum cristalizado que a indústria cultural devolve com cara de coisa nova Ela define a cultura como lazer e entretenimento, diversão e distração, de modo que tudo o que nas obras de arte e de pensamento significa trabalho da sensibilidade, da imaginação, da inteligência, da reflexão e da crítica não tem interesse, não “vende”. Massificar é, assim, banalizar a expressão artística e intelectual. Em lugar de difundir e divulgar a cultura, despertando interesse por ela, a indústria cultural realiza a vulgarização das artes e dos conhecimentos. É dentro deste contexto que ele formula o conceito de Indústria Cultural que ocorre, pela primeira vez, em 1947, na obra Dialética do Iluminismo, escrita em parceria com Horkheimer, na qual defende que o Iluminismo, tido como um esforço consciente de valorização da razão . Indústria Cultural é a exploração, com fins comerciais e econômicos, de bens considerados culturais, não só daqueles criados unicamente para os fins citados, mas também daqueles genuinamente culturais, como por exemplo, a festa dos bois bumbás de Parintins (AM), que se descaracterizou a partir da exploração econômica que a transformou numa indústria. A Indústria Cultural é a indústria da cultura, indústria stricto sensu. Nela, há classificação e padronização dos consumidores através das distinções entre filmes A e B, por exemplo, as quais não estãocalcadas na realidade – são artificiais: prevê-se, para todos, um tipo de arte a ser “consumida”, assim, ninguém escapa. A publicidade é, hoje, um exemplo forte da Indústria Cultural porque ambas estão fundidas. A função de um publicitário é fazer com que o consumidor compre aquilo que ele não precisa com o dinheiro que ele não tem; ele, de fato, consegue cumpri-la: quando produz uma propaganda, já sabe qual público atingir porque pesquisou, anteriormente, suas necessidades (que foram construídas por ele próprio). Deste modo, o consumidor é o objeto da Indústria Cultural. A Indústria Cultural extermina o que é particular, nega a particularização, seja a cor, a composição, a arquitetura. O que a Indústria Cultural fornece, de fato, é a vida cotidiana, a verdadeira imagem do mundo tal qual ela se apresente; ela promove a resignação que se quer esquecer nela, estraga o prazer, manipula as distrações, permanece voluntariamente ligada aos clichês ideológicos da cultura em vias de liquidação, defende e justifica a arte física em confronto com a arte espiritual, não tem substância e despersonaliza o humano contra o mecanismo social. O melhor sinônimo para Indústria Cultural é, hoje, a globalização: processo de aceleração capitalista que vem ocorrendo desde a Pré-história, mas que só recentemente ganhou a velocidade da luz; pode criar uma civilização genuinamente transnacional alimentada pela exposição à tecnologia e pelas mesmas fontes de informação; possui um tremendo potencial para solucionar os problemas do homem contemporâneo e pode criar riquezas num ritmo alucinante. Arte, Indústria Cultura e Educação Quando a Indústria Cultural privilegia um produto pseudo-artístico padronizado, calculado tecnicamente para surtir efeitos determinados de modo a serem por todos desejados e repetidos, na forma e na medida adequados a garantir o poder e o lucro do sistema dominante. Como consequência dessa massificação, podemos considerar que o fato de se ter acesso somente à cultura de massa acaba por não permitir ao indivíduo a aquisição do conhecimento de outros aspectos culturais que expressam a cultura do povo, seus valores e suas lutas. Em nosso entender, a música é a expressão do pensar e do sentir das pessoas de uma determinada época. Além de proporcionar prazer, ela também pode informar e conscientizar. Portanto, para nós, esta postura de consumo significa estar à margem da cultura como um todo. Adorno considera que a Indústria Cultural prostitui os valores estéticos da arte, dando-lhe uma falsa imagem. A música tornou-se um fundo convencionalmente necessário e repetitivo. O público a escuta de forma infantil ou não a escuta. Vemos que essa crítica é muito atual quando sintonizamos qualquer emissora de rádio ou de televisão preocupadas, tão somente, com o sentido mercadológico da arte musical. Os ritmos e as letras das músicas são sempre idênticos, não acrescentando absolutamente nada à nossa formação cultural e como pessoa. As implicações da chamada "música de mercado" influenciam, tanto no aspecto cultural como no social, a formação das crianças. De maneira especial, seduzem-nas pela sensualidade das danças e das letras musicais, acarretando um desenvolvimento precoce de aspectos da sexualidade que atropelam, de alguma forma, seu desenvolvimento afetivo. Isso sem falar em outros aspectos, pois o vocabulário pobre e equivocado de muitas músicas acaba por interferir, também, em seu processo de desenvolvimento cognitivo. Veja este funk: “Mas se liga aí novinha, por favor tu não se engane. Abre as pernas e relaxa. Que esse é o Bonde do Inhame. Que esse é o Bonde do Inhame. Esse é o bonde dos cria que enfogueta as novinhas. Esse é o bonde dos cria que enfogueta as novinhas. Vai na treta do Nem que a Kátia tá também eeemmm. Larga o inhame na Silvinha.” No dizer de Adorno (1999, p. 67), a música atual, ao invés de entreter, parece contribuir "para o emudecimento dos homens, para a morte da linguagem como expressão, para a incapacidade de comunicação". A música de entretenimento preenche os vazios do silêncio que se instalam entre as pessoas deformadas pelo medo, pelo cansaço e pela docilidade de escravos sem exigências. Assume ela em toda parte, e sem que se perceba, o trágico papel que lhe competia ao tempo e na situação específica do cinema mudo. A música de entretenimento serve ainda e apenas como fundo. A cultura popular individualizada Feita a exposição dos três tipos de cultura, a erudita, a popular e a de massa, é provável que o leitor esteja se perguntando onde encaixar algumas produções culturais como, por exemplo, a música de Caetano Veloso, Chico Buarque e de Adoniran Barbosa, as peças de teatro de Guarnieri ou o teatro de revista. Trata-se da cultura popular individualizada, que se caracteriza por ser produzida por escritores, compositores, artistas plásticos, dramaturgos, cineastas, enfim, intelectuais que não vivem dentro da universidade (e portanto não produzem cultura erudita), nem são típicos representantes da cultura popular (que se caracteriza pelo anonimato) nem da cultura de massa (que resulta do trabalho de equipe). O criador individual sofre a influência de todas essas expressões culturais e, "nessa luta, a obra é tanto mais rica e densa e duradoura quanto mais intensamente o criador participar da dialética que está vivendo a sua própria cultura, também ela dilacerada entre instâncias 'altas', 'internacionalizastes' e instâncias populares". Educar para qual cultura? As diversas manifestações culturais são expressões diferentes de uma sociedade pluralista, e não tem sentido tecer considerações a respeito da superioridade de uma sobre outra, o que leva à depreciação, quando a avaliação é feita segundo parâmetros válidos para outro tipo de cultura. � TEMA 4 – MEIOS DE COMUNIÇÃO DE MASSA, TECNOLOGIA E NOVAS MÍDIAS 4.1 Os meios de comunicação de massa e suas características 4.2 As velhas e novas mídias 4.3 Comunicação e tecnologia de informação 4.4 Mídia e sociedade de consumo 4.1 Os meios de comunicação de massa e suas características Introdução Origem do termo: o termo originou-se da combinação do termo inglês MASS com o termo latino MEDIA = MASSA + MEIO = Meio de Comunicação de Massa ou simplesmente MÍDIA. Massa Do inglês mass, que vem do grego μᾶζα; termo que era empregado para conceituar a composição da pasta compacta e de textura consistente de um tipo de bolo de cevada. No campo da física o termo foi empregado para definir a medida quantitativa da resistência de um objeto denominada de massa inercial ou a quantidade de matéria de um corpo. No campo das Ciências Sociais e da Teoria da Comunicação o termo está vinculado a multidão, grupo de pessoas ou agregado social de natureza comum que se caracteriza por um estado elementar, com um grau ínfimo de coesão entre indivíduos do grupo configurando, assim, uma totalidade indistinta de seres facilmente manipuláveis e influenciáveis. No âmbito dos meios de comunicação o termo está associado às multidões impactadas pelos meios de comunicação, assumindo, portanto, o sentido de conjunto de pessoas ou elementos em que: a) o número de pessoas que expressam opiniões é incomparavelmente menor do que os das que as recebem. A massa é, portanto, uma coleção abstrata de indivíduos, recebendo impressões e opiniões já formadas e veiculadas pelos meios de comunicação de massa; b) a estrutura organizacional da comunicação pública impede ou dificulta a resposta imediata e efetiva às opiniões externadas publicamente; c) as autoridades controlam ou fiscalizam os canais por meio dos quais a opinião se transforma em ação; d) os agentes institucionais têm maior penetração, influência e poder de persuasão sobre a massa reduzindo-a à condição de mera espectadora passiva. A massa, ainda vulgarmente chamada de povo ou rebanho, não tem autonomia, impossibilitando, assim, a formação de opinião independente através da discussão, do debate, da interação e da troca.Mídia Do inglês midia, que vem do latim media, plural de medium, que significa meio ou forma. No Brasil, usa-se mais comumente a palavra mídia, derivada da pronúncia inglesa - ainda que alguns gramáticos brasileiros prefiram a forma latina, media, a qual também é usada preferencialmente em Portugal. Ao usar-se a forma latina deve ter-se em conta que é uma palavra estrangeira, o que implica a sua grafia em itálico ou entre aspas e sem acento, e que esta palavra se encontra já no plural, devendo escrever-se os media e pronunciar-se os média. Definição: O termo meio de comunicação, refere-se ao instrumento ou à forma de conteúdo utilizados para a realização do processo comunicacional. Quando referido a comunicação de massa, pode ser considerado sinônimo de mídia. Meios de comunicação de massa, também chamados de MMC, ou simplesmente mídias são os meios ou canais de comunicação usados na transmissão de mensagens emitidas por uma fonte determinada visando atingir a um grande número de receptores. Nas relações sociais de comunicação diária, os meios de comunicação de massa mais comuns são os jornais, as revistas, o rádio, a televisão e, o mais recente, a internet. As obras de Cinema, de Teatro e de outros tipos de Artes (shows, performances, bestsellers) também se tornaram meios de comunicação de massas, mas artísticos. Entretanto, outros meios de comunicação, como o telefone, não são massivos e sim individuais (ou interpessoais). A utilização dos meios de comunicação de massa implica organizações geralmente amplas, complexas, com grande número de profissionais e extensa divisão do trabalho. A empresa jornalística, por exemplo, envolve o trabalho de diretores, jornalistas, redatores, fotógrafos, diagramadores, ilustradores, câmeras, gráficos etc. O fato de a manutenção de um órgão de comunicação de massa ser bastante onerosa faz com que essas empresas dependam dos imperativos de consumo (máxima circulação, no caso de livros e filmes; garantia de audiência e venda de publicidade, no caso dos jornais, revistas, rádio e televisão) para sobreviver ou se expandir. Uma segunda característica básica dos meios de comunicação de massa é o fato de que eles necessariamente empregam máquinas na mediação da comunicação: aparelhos e dispositivos mecânicos, elétricos e eletrônicos possibilitam o registro permanente e a multiplicação das mensagens impressas (jornal, revistas, livro) ou gravadas (disco, rádio) em milhares ou milhões de cópias. A produção, transmissão e recepção das mensagens audiovisuais (rádio, TV) precisa de milhares ou milhões de aparelhos receptores. Outra característica típica dos meios de comunicação de massa é a possibilidade que apresentam de atingir simultaneamente uma vasta audiência, ou, dentro de breve período de tempo, centenas de milhares de ouvintes, de telespectadores, de leitores. Essa audiência, além de hetereogênea e geograficamente dispersa, é, por definição, constituída por membros anônimos para a fonte, ainda que a mensagem esteja dirigida especificamente para uma parcela determinada de público (um só sexo, uma determinada geração). Os meios de comunicação de massa/mídias podem ser classificados em: Sonoros: rádio, podcast, telefone viva-voz. Escritos: jornais, diários e revistas. Audiovisuais: televisão, cinema. Multimídia: diversos meios simultaneamente. Hipermídia: NTICs, CD-ROM, TV digital e internet, que aplica a multimédia (diversos meios simultaneamente, como escrita e audiovisual) em conjunto com a hipertextualidade (caminhos não-lineares de leitura do texto, como abas, caixas, links etc.). Meio e Canal Meio de Comunicação não se confunde com canal, que se refere ao aparato tecnológico utilizado para realizar o processo da comunicação, incluindo a transmissão de informação (geralmente, idéias humanas). Dependendo das características do meio utilizado, pode-se transmitir ou armazenar informação, ou ambos os processos, conforme está exemplificado a seguir: Fala, discurso, gestos, telefone Stone scores, gravações de áudio e vídeo, discos rígidos Papel, cartas Meios de Comunicação de Massa: pronunciamentos, jornais, revistas, cinema, televisão, rádio, websites, CDs, DVDs, videocassetes Mídia interativa: jogos de computador, jogos online, videogame, edutainment, televisão interativa A Internet é um híbrido entre Comunicação de Massa e Comunicação Interpessoal Em Arte, um meio significa o material e o suporte usados pelo artista: pintura, madeira, mármore, aço etc. Por metonímia, a indústria e as empresas que produzem conteúdo de notícias e de entretenimento são geralmente denominadas os media ou a mídia (da mesma forma como a indústria de notícias é denominada a imprensa). No final do século XX, tornou-se lugar-comum este uso no singular ("A mídia é...") em lugar do tradicional plural; em Portugal, não obstante, é preferido o termo no plural, os media (concordando em número com o termo latino que é plural). Tipos de Comunicação A comunicação é um processo por meio do qual a informação é codificada e transmitida por um emissor a um receptor, instantaneamente ou a médio prazo, através de um canal. A comunicação é, portanto, um processo pelo qual se atribui significado a algo ou a alguma coisa para , em seguida, fazer a transmissão deesse contéudo numa tentativa de criar um entendimento compartilhado. Na organização do processo comunicacional existe um vasto emaranhado de redes de comunicação que vão se entrelaçando. Estas, sob diversas formas e em diferentes direções, percorrem a estrutura no seu conjunto: Comunicação pessoal/impessoal; Comunicação descendente/ascendente; Comunicação lateral/diagonal; Comunicação escrita/comunicação oral. A Comunicação não pode ser dissociada da sua relação custo/eficácia, uma vez que as ferramentas, mecanismos e procedimentos usados pelos meios de comunicação de massa para chegar até as massas são muito onerosos, reclamam investimentos vultuosos e envolvem uma complexa teia de recusros tecnológicos e humanos. Daí a premente necessidade que os MCM têm de alcançar e influenciar o maior número possível de pessoas, em diferentes espaço e num espaço de tempo exíguo, a fim de obter resultados rápidos que são convertidos em cifras ou valores correlatos, como status, fama, projeção social etc. Aplica-se aqui a equação matemática do mercado de capital: Quando maior for a produção em menor tempo, com uma demanda elevada, menor será o valor final do produto, pois seu custo é diluído na produção em larga escala. Vivemos formas diferentes de comunicação, que expressam múltiplas situações pessoais, interpessoais, grupais e sociais de se conhecer, sentir e viver, que são dinâmicas, que vão evoluindo, modificando-se, modificando-nos e modificando os outros. Vejamos a seguir as formas mais comuns. A Comunicação Aparente: É um processo de "comunicação" em que as pessoas falam e respondem, sem prestarem verdadeiramente atenção ao outro e ao que ele está dizendo. Cada um precisa "desabafar", ter alguém com quem conversar. Se a necessidade é forte e de ambas as partes, a "comunicação" se transforma num diálogo animado, mas "de surdos", porque cada um fala de si, extravasam suas ideias, sentimentos, necessidades sem prestar atenção ou procurar entender o que o outro está dizendo. A Comunicação Superficial: É uma interação limitada, com trocas previsíveis sobre temas socialmente definidos e com limites preestabelecidos – culturalmente ou pelos grupos e indivíduos. São trocas de mensagens sobre assuntos específicos e que não expõem muito a intimidade de cada um, por exemplo sobre futebol ou fofocas de pessoas ou artistas, em reuniões sociais, festas, bate-papos. Fala-se animadamente, mas sem interação pessoal, sem revelar o eu profundo a não ser neste campo específico; isto é, emite-se uma opinião “aparentemente pessoal”, mas sobre o outro e nunca sobre si mesmo. São processos úteis de manutenção dos vínculos dentro de um grupo ou comunidade, mas que pouco revelam dosindivíduos, porque estes se escondem, não querem se expor ou o fazem somente em outros espaços mais restritos. A "Comunicação" Autoritária: É uma troca ou interação dentro de um sistema fechado, onde se expressam relações de poder, de dominação. É uma troca desigual – em que um fala e o outro assente – baseada no poder econômico, político, intelectual ou religioso. É uma fala em que aquele que tem algum poder procura dominar o outro, impor seus pontos de vista, controlar. O outro se transforma em mero "receptor", destinatário e só pode concordar com o emissor. Evolução histórica Para alguns, os primeiros meios de comunicação de massa foram os livros (principalmente os livros didáticos), que existem há muito séculos. Mas, normalmente, a difusão da mídia se deu no século passado. Em tal período não havia a idéia de que a difusão da informação da parte da mídia poderia ocorrer em tempo real, mas que deveria haver um intervalo de tempo limitado entre a emissão da mensagem e a sua recepção. No curso do século XX, o desenvolvimento e a expansão capilar dos meios de comunicação de massa seguiram o progresso científico e tecnológico. De fato, os meios, além de serem meios para veicular as informações, são também os objetos tecnológicos com os quais o usuário interage. O avanço da tecnologia permitiu a reprodução em grande quantidade de materiais informativos a baixo custo. As tecnologias de reprodução física, como a imprensa, a gravação de discos de música e a reprodução de filmes seguiram a reprodução de livros, jornais e filmes a baixo preço para um amplo público. Pela primeira vez, a televisão e a rádio permitiram a reprodução eletrônica de informações. Os meios eram (pelo menos na origem) baseados na economia de reprodução linear: neste modelo, um obra procura render em modo proporcional ao número de cópias vendidas, enquanto ao crescer o volume de produção, os custos unitários decrescem, aumentando a margem de lucro. Grandes fortunas foram acumuladas devido à indústria da mídia. Se, inicialmente, o termo "meios de comunicação de massa" se referia basicamente a jornais, rádio e televisões, no final do século XX a internet também entrou fortemente no setor. Para alguns, também os telefones celulares já podem ser considerados uma mídia. O jornal foi o primeiro meio de comunicação de massa criado pelo homem: originário dos documentos informativos dos navegadores do século XVI, esse meio originalmente impresso tomou a forma que tem hoje em 1836, na França; o jornal, hoje, também tem a forma falada (imprensa falada), no rádio, e a forma televisiva (imprensa televisada). Veracidade, imparcialidade, objetividade e credibilidade são as qualidades que garantes o sucesso de um jornal. A base do jornalismo é a notícia, seu objeto e seu fim (o resto é secundário). A função principal da linguagem nesse meio de comunicação é a referencial ou informativa. Para que o receptor tenha acesso à mensagem veiculada por esse meio, é preciso que ele saiba ler e escrever, ou seja, pertencer a uma parcela privilegiada da sociedade (elite). O rádio ainda é o meio de comunicação mais popular que existe já que para ter acesso às mensagens que ele veicula o receptor não precisa ler e escrever: o rádio é um meio que se utiliza da linguagem verbal oral, a linguagem que todos os ouvintes sabem usar desde que aprenderam a falar. Praticamente quase toda a população de uma localidade possui um aparelho de rádio. Os primeiros inventos que possibilitaram a concretização do rádio como meio de comunicação de massa também datam do século XIX. As primeiras emissoras de rádio norte-americanas datam de 1920 e as do Brasil, entre 1922-25, tendo seu clímax nos anos 30. A “voz” do rádio, bem como seus musicais, programas de auditório, o rádioteatro e até seus comerciais serão posteriormente absorvidos pela televisão. A televisão surgiu nos anos 40 nos Estados Unidos e ,nos anos 50, no Brasil. É um “liquidificador cultural”, pois é capaz de diluir Cinema, Teatro, Música, Dança, Literatura etc., num só espetáculo, além de ser um meio de entretenimento. Para Muniz Sodré, esse que é o meio de comunicação mais poderoso, aquele que mais influencia o receptor, portanto o meio mais persuasivo que existe, é responsável por uma relação social abstrata, passiva e modeladora dos acontecimentos: o receptor recebe a mensagem pronta através de imagens que consome imediatamente, sem que haja tempo de refletir sobre elas. Tais imagens atingem o inconsciente do receptor, que passa a ter suas idéias condicionadas àquelas recebidas através da TV. Em suma, como se diz popularmente, é um meio que “faz a cabeça” do receptor , de tal forma que ele nem perceba isso: ele obedece e cumpre “suas ordens” sem se dar conta. Além disso, é um veículo de comunicação que nada exige do receptor em termos de esforços e de conhecimentos: não é preciso saber ler e escrever, basta girar um botão (o que não requer prática nem habilidade) para se ter acesso à sua programação, que também não é da escolha do receptor, mas sim uma programação imposta a ele pelas emissoras. Muniz Sodré a chama de “visitadora da família “e diz que não é o receptor quem assiste à televisão, mas sim é ela que assiste a ele”. No Brasil, as emissoras de TV são essencialmente comerciais, tendo apenas uma emissora cultural: a TV Cultura. Dessa forma, a TV é o mais eficiente balcão de anúncios dos produtos nacionais e estrangeiros que, devido à força persuasiva desse meio, são consumidos desesperadamente pelos telespectadores, até mesmo os produtos que não tenham qualquer utilidade para ele. Como tudo que a TV lança ou vende vira moda, e como o telespectador deseja estar sempre na moda, ele adere a essa moda sem pestanejar. A Internet tornou-se o mais novo e mais eficaz meio de comunicação de massa. Por isso, ainda é o menos abrangente, já que para ter acesso a ele, é preciso ter um computador, uma placa de “fax modem”, uma linha telefônica e um provedor de acesso. As necessidades de tais ferramentas implicam em gastos financeiros relevantes, que imensa parcela da sociedade não despende. Sempre que um novo meio de comunicação surge, o otimismo da democratização dos meios de comunicação toma conta daqueles que a desejam. Essa democracia, porém, só será possível no dia em que mudanças políticas diminuírem a distância entre os indivíduos que têm e os que não têm a informação, retirando do controle comunicacional os poderosos de sempre, pois se os novos meios de comunicação tiverem os mesmos donos dos meios existentes, eles serão tão tendenciosos quanto eles. Além de veicular um “saber comum” tendencioso e conveniente à manutenção da classe dominante no exercício do poder, os meios de comunicação são criticados (principalmente a TV) por nivelarem tal conhecimento “por baixo”, utilizando uma linguagem “pobre”, visando o “empobrecimento” da mensagem original. A cultura advinda dos meios de comunicação de massa é chamada CULTURA DE MASSA, opondo-se à cultura de elite, que é de alto nível, de qualidade, advinda dos meios intelectuais da sociedade, aquela que só vai dominar no dia em que toda a sociedade tiver maior escolaridade, em que a Educação for prioridade: aquela que leva qualquer sociedade a pertencer ao PRIMEIRO MUNDO. Grupos de mídia (media) de grande relevância: No Brasil Grupo Abril - fundado por Victor Civita inclui as revistas "Veja", "Exame", "Claudia", "Superinteresante" e "Playboy", além das Editoras Ática e Scipione e a programadora MTV. Grupo Bandeirantes de Comunicação o maior grupo de rádio do país, duas redes abertas de TV, três canais segmentados, dois jornais, uma operadora de TV por assinatura e o portal eBand. Diários Associados - fundado por Assis Chateaubriand, é um dos maiores complexos de comunicação da América Latina reunindo 15 jornais - incluindo Correio Braziliense e Diário de Minas, 12 emissoras de rádio, 8 emissoras de televisão (mídia trazida para o Brasil pelos Associados em 1950 através da TV Tupi), 9 portais incluindoo UAI e 5 sites. Grupo Estado de São Paulo - inclui o jornal O Estado de São Paulo e a Rádio Eldorado Grupo Folha da Manhã - inclui o jornal Folha de S.Paulo e o portal de internet Universo Online (UOL) Organizações Globo - inclui hoje a mais bem estruturada e arrojada rede de televisão; Rede Globo de Televisão, a programadora de TV paga GloboSat, a Globo.com, a produtora de cinema GloboFilmes, os jornais O Globo, Extra e Diário de São Paulo e o Sistema Globo de Rádio. Central Record de Comunicação – Hoje, a TV Record cobre todo o Brasil e, através da Record Internacional, está também em aproximadamente 150 países. O grupo também possui o portal R7, Rádio Record AM, Rede Família de Televisão, Rádio Guaíba AM/FM, Rádio Sociedade da Bahia, Rede Aleluia de Rádio e os jornais “Correio do Povo” (RS) e “Hoje em Dia” (MG). Grupo RBS - Rede Brasil Sul (RBS) inclui a RBS TV em SC e RS, o Canal Rural e a TVCOM. Os jornais Zero Hora, Diário Catarinense, A Notícia, Jornal de Santa Catarina, Diário Gaúcho, Pioneiro, Diário de Santa Maria e o Hora de Santa Catarina. As rádios Rede Gaúcha Sat, Rede Atlântida, Itapema FM, Cidade FM, Farroupilha AM, Rural AM, CBN Diário e CBN 1340. Na internet o Grupo RBS possui o portal ClicRBS e de sites como o Guia da Semana, ObaOba, Agrol, hagah, desejomania, Pense Imóveis, Pense Carros, Portal Mobi e o Eu Comparo. Além da editora RBS Publicações, da gravadora Orbeat Music e da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho. Enfim, a RBS conta com oito jornais, sete portais de Internet, três emissoras locais de televisão, uma operação para o mercado rural, uma gravadora, 24 emissoras de rádio e uma empresa de mobile marketing, a pontomobi. Além disso, possui 18 emissoras de televisão afiliadas à Rede Globo, além de quatro novas em implantação, tornando-se a maior rede regional da América Latina. A rádio Rede Gaúcha Sat possui 110 emissoras afiliadas em nove estados brasileiros. Grupo Silvio Santos – O Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) é o negócio mais expressivo no ramo de comunicações, mas o GSS também está presente na TV por assinatura através da TV Alphaville e da TV Cidade e em diversos outros setores de varejo à agricultura, passando por cosméticos, alimentos, produção teatral e bancos. 4.2 As Velhas e Novas Mídias Mídia tradicional tenta censurar novas mídias Por Najla Passos, no sítio Carta Maior – 09 de novembro de 2011 Em debate na Câmara dos Deputados sobre liberdade de expressão, militantes de novas mídias criticam autoritarismo de veículos tradicionais de imprensa, que reagiriam apelando para censura de que se sentem ameaçados. Aprovação de marco civil da internet e de novo marco regulado para radiodifusão é considerada fundamental para garantir pluralidade. No Brasil, a exemplo do que ocorre na economia e no social, o cenário é desigual também no campo das comunicações. De um lado, os veículos tradicionais da imprensa, comandados por uma meia dúzia de famílias, se armam de todos os meios possíveis para manter o controle exclusivo e absoluto da agenda pública. E, para isso, cometem os mais variados excessos, incluindo aí alguns crimes, como destruir a reputação de pessoas sem provas ou sequer indícios. Do outro lado, cidadãos comuns que só recentemente, com a popularização das novas mídias, alçaram o status de produtores de conteúdo, lutam para consolidarem o legítimo direito à manifestação de opinião e pensamento, a despeito das investidas conservadoras que impõem multas milionárias a blogueiros, tuiteiros e demais internautas produtores de conteúdo mais progressista e irreverente. As velhas mídias são os meios de comunicação tradicionais, como os jornais, revistas, TVs e rádios e as novas mídias são as que nasceram no bojo da internet: sites, blogs e microblogs, dentre outras. Segundo o jornalista e deputado Emiliano Jose (PT-BA), membro da coordenação da Frente Parlamentar em Defesa da Liberdade de Expressão e Democratização da Comunicação “Há uma luta política em andamento entre as velhas mídias e as novas mídias. As velhas mídias, que também se utilizam das novas e estabelecem a propriedade cruzada em tudo, estão profundamente incomodadas com essas últimas”. Emiliano José participou ativamente, no dia 09 de novembro de 2011, da audiência pública convocada pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados para debater as decisões e disputas judiciais que afetam a liberdade de expressão, especialmente dos comunicadores que atuam nas novas mídias. O professor da Universidade Federal de Minas Gerais Túlio Vianna, iniciou a discussão lembrando aos presentes que não existe direito absoluto. “O modelo brasileiro tende a tolerar opiniões divergentes, mas impõe limites. Não há liberdade plena de informação”, explicou. Entretanto, segundo ele, o que a prática vem demonstrando é a utilização de leis criadas para outros fins para penalizar cidadãos comuns que estão apenas exercendo seu legítimo direito à opinião. Exemplo é o processo contra os dois jornalistas que criaram o site de sátira ao jornal Folha de S. Paulo, chamado “Falha de S. Paulo”. A Folha acionou judicialmente esses internautas, com base na Lei de Patentes, que deveria servir para a defesa da propriedade intelectual. “Essa lei não foi criada para impedir a liberdade de expressão, muito menos a paródia, a sátira e a crítica, mas foi acatada para penalizar os jornalistas”, critica o professor Túlio Viana. Outro exemplo, segundo o professor, é a lei de apologia ao crime, utilizada para criminalizar os defensores da legalização da maconha que, além de uma marcha, na cidade de São Paulo, matinham um site da campanha. “Reivindicar a modificação de uma lei não é incitação ao crime, mas nem sempre a Justiça entende isso corretamente”. A jornalista e secretária-geral do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Renata Vicentini Mielli, afirmou que as novas tecnologias de comunicação criaram um novo paradigma na sociedade atual. “Até bem pouco tempo atrás, o agente social responsável por fazer a mediação da agenda pública eram os grandes meios de comunicação. Agora, um novo agente entrou em jogo. As novas mídias permitiram mais pluralidade, mais diversidade na discussão da esfera pública”, diz. As novas mídias constituídas de blogs, microblogs, redes sociais, pequenos sites e uma série de atores atuam na internet permitindo a distribuição e a organização da informação de forma mais ágil e democrática. “Isso, de alguma maneira, diminuiu o monopólio das grandes empresas de comunicação como mediadores da agenda pública. O poder dos grandes veículos não foi sepultado, mas foi diluído. E eles não querem perder esse poder. Por isso, desqualificam esse pólo alternativo de comunicação ou exercem pressão econômica sobre eles, através da via judicial”, afirma Renata Mielli. Segundo ela, o fenômeno é mundial. Nos EUA, só em 2007, processos contra blogueiros movimentaram US$ 17,4 milhões. No Brasil, os valores também assustam. No caso do site “Falha de S. Paulo”, a justiça estipulou multa diária de R$ 5 mil. “Como dois jornalistas, assalariados, vão pagar uma multa dessas? O objetivo é calar as vozes dissonantes”, questiona ela. A jornalista afirma ainda que processos civis e criminais contra blogueiros estão pipocando no mundo inteiro e não é diferente no Brasil. Só o jornalista Paulo Henrique Amorim é alvo de 37 processos. “É preciso cuidado para não virarmos sociedade do patrulhamento, do policiamento. Devemos ser uma sociedade da liberdade. E a comunicação é um direito humano”, acrescenta. Para ela, é urgente que se aprove o marco civil da internet. O projeto de lei está parado justamente na Câmara dos Deputados, esperando a constituição de comissão especial para avaliar o tema. A jornalista avalia que é urgente também a definição de um novo marco regulador para a radiodifusão. “Não é possível que se discuta as questões da comunicação de forma fatiada. Isso permite que as empresas coloquem no movimento social,que sempre defendeu a liberdade de expressão, a pecha de serem novos censores da sociedade. Regra não é censura. A sociedade precisa entender isso." O deputado Emiliano José acrescentou que a distinção entre fatos e opiniões não é algo muito simples: não há jornalismo sem interpretação em nenhum momento. “A organização do fato comporta opinião, mas há alguma diferenciação entre as duas coisas, e o jornalismo brasileiro tem caminhado numa direção." Ele lembrou que as novas mídias, ao mesmo tempo em que permitem maior democratização na produção de conteúdos, também ajudam a trazer à tona velhos preconceitos que resistem nas entranhas da sociedade brasileira, com ocorreu no episódio do câncer do ex-presidente Lula. Ele acha que a velha mídia brasileira é um partido político que conspira contra os governos petistas, de caráter popular e democrático. Segundo o deputado, a velha mídia demite jornalistas que usam as novas mídias para manifestar suas opiniões, como aconteceu, por exemplo, com Maria Rita Khel, que elogiou o impacto da bolsa família na vida das famílias pobres brasileiras e acabou demitida do jornal O Estado de S. Paulo. “Isto sim é censura”, afirma. Ele defendeu a regulamentação da mídia, incluindo novas e velhas. “As novas mídias têm uma responsabilidade social e política muito grande porque representam novas vozes, novos atores políticos. Ninguém faz o que quer. Precisamos ter direito de resposta. A sociedade também precisa ser protegida dos erros dos jornalistas, sejam elas das novas e velhas mídias.” Disponível em:http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=18931Acesso em: 07 ago. 2012 4.3 Comunicação e Tecnologia de Informação A nova mídia e a comunicação de massa na era da informação Por Lázaro Lamberth A partir do desenvolvimento industrial alavancado a partir do século XIX, os meios de comunicação de massa (MCM), em todo o mundo, entraram em um processo de desenvolvimento sem precedentes. Apenas no século XX, invenções como o rádio e a tevê tornaram-se as principais mídias de massa que o mundo já viu. Porém, com o advento da computação, o avanço exacerbado das novas tecnologias, sobretudo a internet, revolucionou o mundo das comunicações e trouxe novos estilos de mídia para a sociedade contemporânea. Numa tentativa de refletir tais questões e estabelecer o que seria uma nova mídia do início do novo século, o americano Wilson Dizard Jr., especialista em tecnologia e comunicação, aborda em A Nova Mídia – a comunicação de massa na era da informação, o impacto das atuais tecnologias sobre as antigas e o que se pode esperar da chamada hibridização midiática e convergência tecnológica para a qual o mundo se encaminha. O presente ensaio consiste em uma reflexão sobre a nova mídia e a comunicação de massa na era da informação e suas implicações sociais e econômicas na atualidade, tendo por base a argumentação central do autor nos textos selecionados. Inicialmente, há um resumo crítico sobre os argumentos principais trabalhado pelo autor no decorrer do texto, estabelecendo prováveis paralelos entre o modelo americano, que é o objeto de análise no texto, e o modelo brasileiro. Wilson Dizard Jr. inicia sua abordagem associando a comunicação de massa à tecnologia à mudança. Tendo em vista que avanço é algo intrínseco à tecnologia, tal relação acarreta transformações em todas as esferas da sociedade. A nova mídia nada mais e que um fenômeno ou tendência mundial de uma forma de mídia onde todos os componentes híbridamente se convertem para o mesmo fim, tendo em comum a computação e a internet como principais tecnologias. Tal contexto tecnológico midiático ocasiona mudanças em sentido técnico, político e econômico no cenário mundial da mídia de massa. Técnico no sentido da adaptação das mídias às novas perspectivas impostas pela digitalização; político no que se refere às leis e regulamentos de qualquer esfera governamental; e, econômico no sentido da concentração do poder dentro dos grandes conglomerados de mídia. Ao analisar o surgimento e desenvolvimento da internet como mídia de massa a partir da década de 90 — com o objetivo de descrever seu impacto inicial e examinar seu potencial nos padrões de mídia no início do século XXI — Dizard propõe reflexões acerca do que se pode esperar das atuais e já consideradas defasadas mídias tradicionais, tendo em vista que a computação e a internet são tecnologias em constante processo de desenvolvimento. Podemos prever com certeza o que o futuro reserva para o rádio, tevê e mesmo a imprensa? Até que ponto o avanço tecnológico satisfaz as necessidades de cada cidadão? Conforme bem problematizado, “a pergunta decisiva é como todas essas possibilidades podem nos beneficiar numa democracia pós-industrial mais complexa.” (DIZARD, 2000, pág. 15). Tais questionamentos se justificam quando, apesar de todo avanço e vantagens em termos de acessibilidade, flexibilidade e interatividade, a digitalização ainda não chega a todas as classes e camadas sociais. O chamado analfabetismo digital, que separa cada vez mais aqueles que têm dos que não tem, é algo que precisa ser tratado urgentemente, sob pena do princípio primordial da cibercultura tornar-se questionável. Sobre isso, Dizard (2000) avalia: “A continuar a atual tendência, os primeiros dominarão totalmente os recursos de informação de que todos necessitam para sobreviver e prosperar, e os segundos se tornarão um lumpemproletariado (facção desprezível e degradada do proletariado) pós-industrial, relegados ao entretenimento irracional e outras trivialidades. A garantia de acesso eqüitativo aos recursos de informação de última geração parece ser a questão mais urgente que enfrentamos à medida que penetramos no padrão da nova mídia.” (2000, pág. 15) O que se percebe das considerações contidas no texto é que embora o autor utilize o modelo norte-americano de mídia eletrônica de massa como objeto de estudo em sua análise, o que ocorre nos EUA em termos de MCM e novas tecnologias pode ser aplicado em todo o mundo, inclusive ao Brasil. A rápida sucessão do avanço tecnológico tira das camadas sociais a percepção do atual cenário de mudança e a emergência de novos padrões de mídia eletrônica de massa e pessoal divide a opinião dos especialistas em comunicação quanto ao futuro da cibercultura e das comunicações na era da informação massiva e excessiva. Há quem acredite que teremos uma sociedade democrática, onde todos serão agentes receptores e produtores de informação. A blogosfera, o jornalismo cidadão e a interatividade digital são algumas das expressões vistas com bons olhos pelos integrados da comunicação. Para os apocalípticos, porém, estamos à caminho do fim, do desconexo, principalmente porque a cultura de massa disseminada pelos mídia introduz conceitos, dita valores e muda a maneira de ser e de agir de milhões de pessoas, acentuando ainda mais a disparidade e segregação social e digital que separa o mundo entre os que têm acesso à comunicação e ao poder e os que, por não estar incluídos ao ciberespaço, ficam alienados do desenvolvimento proporcionado pelas novas tecnologias. O mais provável que ocorra é que, no futuro não muito distante, estaremos em algum ponto entre os dois extremos, pois, apesar de todas as disparidades existentes, não se pode negar as inúmeras possibilidades criadas pela cibercultura e da internet como nova mídia e nova forma de conhecimento. Outro ponto argumentado que convêm algumas observações tem a ver com o aspecto político legal das novas tecnologias da comunicação. Assim como ocorre nos EUA, no Brasil, a defasada legislação não contempla as atuais mídias eletrônicas. O sistema legislativo de comunicação brasileiro ainda encontra-se regido por uma Lei de Imprensa sancionada em plena repressão do Regime Militar, especialmente sobre os meios de comunicação de massa. Como se não bastasse a obsolescência das leis que regem o sistema brasileiro de comunicações em não contemplar, entre outras coisas, as atuais mídiaseletrônicas de massa; a natureza autoritária e centralizada no processo de outorga de licenças e disparidade entre o que está na legislação e o que acontece na prática, podem ser sinalizados como alguns dos problemas existentes na legislação brasileira que refletirão no futuro bem próximo em como o estado intervirá nos problemas ético-legais envolvendo a nova mídia. Outra tendência norte-americana que também pode ser aplicada ao caso brasileiro é que, em decorrência do avanço mundial e a convergência das novas tecnologias da comunicação, atrelados ao fenômeno da globalização, os chamados “conglomerados de mídia” concentram a propriedade no setor das comunicações em todo o mundo, resultando na consolidação e emergência de um pequeno grupo de megaempresas mundiais. Tal processo de oligopolização, como um novo padrão universal, é comparado por estudiosos do setor como o biológico processo de sinergia que, em tese, trabalha com o pressuposto de que a interação de duas unidades “produz algo maior do que a soma de suas duas partes”. No campo das comunicações, isso equivale à junção e ação coordenada de várias empresas, visando uma maior eficiência na atuação das mesmas. Embora positivo e contemporâneo do ponto de vista da eficiência e da dinâmica que o setor das comunicações demanda, tal processo acarreta conseqüências e mudanças estruturais que afetam não só a economia de um país, como também a democrática inserção de outros segmentos no setor envolvido. Analisando o contexto brasileiro, LIMA (2001) diz que “o novo padrão universal vem assumindo no Brasil feições particulares” uma vez que possui como principais características: 1) o inalterado domínio do setor das comunicações por grupos familiares e/ou políticos; 2) a entrada das igrejas no setor das comunicações e 3) o fortalecimento da posição hegemônica da Rede Globo. No contexto externo, Dizard (2000) aborda o exemplo do empresário australiano naturalizado americano Rupert Murdoch, diretor-geral da News Corporation, que, através de uma administração “inteligente e ambiciosa”, conseguiu uma série de aquisições bem sucedidas de empresas do ramo das comunicações, sendo o proprietário, atualmente, de um dos maiores conglomerados de mídia do mundo. Pode-se concluir com base nas abordagens de Wilson Dizard Jr em A Nova Mídia, que a tendência mundial para o novo século no contexto da nova mídia é a convergência das atuais tecnologias da comunicação na produção e distribuição de informações propiciada pela computação, digitalização e internet. Tal convergência reconfigura o padrão até então adotado pelas mídias tradicionais, acirrando severa competição na indústria midiática. Em face das incertezas sobre o que o futuro nos reserva, uma das conseqüências do atual modelo adotado pela mídia de massa é a fusão de grandes empresas de comunicação, o que se repete em todo o mundo, sob a justificativa da chamada sinergia. Por mais absurdo que tal probabilidade represente para a democracia mundial, estamos indo em direção ao previsto mais ainda desconhecido. O que mais assusta, porém, é que embora a tendência de monopólio se concretize a cada estudo realizado no setor, o assunto vem sendo relegado a segundo plano no campo das ciências políticas e sociais. Uma vez que o processo de globalização e a convergência das mídias tornam a sociedade cada vez mais dependente da comunicação midiática, não se pode, sob hipótese alguma, minimizar a importância de sanções políticas no campo das comunicações, sob pena de ser ter seriamente ameaçado o direito à liberdade de expressão no mundo. Fonte:DIZARD, Wilson. A nova mídia – a comunicação de massa na era da informação. Tradução: Antonio Queiroga e Edmond Jorge. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 2000. 324 p. 4.4 Mídia e Sociedade de Consumo Novas Mídias, Tecnologia e Sociedade de Consumo Por André Kadow - 7 de abril de 2010. É certo que a Internet junto com as novas mídias (mobile, proximity marketing etc.) estão se tornando coisas totalmente diferentes do que muitos acreditavam ser há tempos atrás. No nascimento dos browsers gráficos, pensava-se que as novas formas de comunicação seriam o advento de uma comunicação 1 para 1 e todos os conceitos de mídia em massa sofreriam mudanças radicais. Outros mais pessimistas pensavam que as “velhas” mídias como televisão e jornais iriam simplesmente desaparecer em algum momento. Claro que nada disso aconteceu, até hoje. As mídias mais antigas, como nos ensina a história, simplesmente não desaparecem com a chegada de novas. Elas mudam. Do outro lado, como foi o caso da Internet, que no começo se apropria de métodos e técnicas de comunicação dos meios tradicionais, para logo em seguida criar sua própria metodologia e cultura, tudo de acordo com as novas possibilidades abertas pela tecnologia que cresce a passos exponenciais. Em algum ponto, estas novas características encontram seu espaço dentro da mídia tradicional, ao passo que esta se adapta para os novos tempos de interatividade. A idéia de interação em um modelo 1 x 1 surge logo no começo da criação da Internet e continua forte hoje em dia, enquanto estudos das diferenças dos indivíduos no mundo virtual tem se mostrado extremamente úteis, o conceito de uma comunicação de 1 para X, X para 1 e de X para X é o que move toda as interações atuais. Afinal um dos conceitos básicos da Internet é cria um ambiente onde indivíduos que estão social e geograficamente dispersos, podem interagir e colaborar. Novas formas de comunicar Em praticamente todos os artigos sobre o impacto das novas tecnologias e mídias na forma de comunicação uma coisa é certa: as divisões tradicionais das mídias estão desaparecendo rapidamente. Os limites entre comunicação em massa e uma relação interpessoal, propaganda e relações públicas, marketing direto etc. estão cada vez mais difíceis de perceber e até conceitos comumente usados estão perdendo o seu sentido de utilização. Se uma pessoa faz um post recomendando determinado produto em um site como a Amazon, por exemplo, isto é uma comunicação em massa ou extremamente pessoal? Se uma empresa cria uma comunidade para se discutir determinado produto, isto é marketing ou alguma outra coisa? Claramente está cada vez mais complicado descrever e entender o porque das coisas se esta análise for feita de maneira individualizada. Um bom ponto de partida é deixar de lado todos os novos termos, modismos e afins para se perguntar: Por que usamos essas novas mídias? A possibilidade de interação com um número antes inimaginável de pessoas, abre as portas para inúmeras e valiosas oportunidades de negócios, novas idéias e troca de informações. Um dos pontos centrais neste tipo de movimento (redes sociais, softwares livres etc.) é a participação voluntária das pessoas. Então para qualquer movimento em rede, a chave é: como criar e fazer crescer uma página, blog ou qualquer coisa do tipo, na qual as pessoas realmente queiram participar e interagir entre si. Se cada um resolver participar solitariamente, o resultado final será apenas a prevalência de suas convicções, crenças e vontades. Na verdade, é muito mais complicado do que isso. Em um ambiente social, como grupos ou comunidades, os indivíduos tomam decisões em conjunção com as decisões de outros, o que cria uma dinâmica social extremamente complexa, como é o caso da criação de um software livre, por exemplo. Quantas pessoas estão na comunidade? Quantos são ativos? Quantos estão apenas aproveitando dos benefícios e não contribuem com nada? A vontade de cada pessoa se comunicar depende também do que os outros fizeram ou estão fazendo, além de outros fatores que afetam (positivamente e negativamente) a motivação de cada um. Num ambiente deste, em que todo mundo responde para todo mundo, a menor mudança no fluxo das interações pode determinar o destino de um produto, uma pessoa ou até um partido político, como foi sabiamente explorado por Obama na sua campanha eleitoral, em que foi eleito para Presidente do EUA,em 4 de novembro de 2008. Examinar todo o processo social envolvido, requer um estudo micro (individual) e macro (interação entre indivíduos) e como ambos estão relacionados e espero que os próximos estudos façam a ponte entre os dois mundos. Sociedade de consumo Sociedade de consumo é um termo utilizado em economia e sociologia, para designar o tipo de sociedade que se encontra numa avançada etapa de desenvolvimento industrial capitalista e que se caracteriza pelo consumo massivo de bens e serviços, disponíveis graça a elevada produção dos mesmos. O conceito de sociedade de consumo está ligado ao de economia de mercado e, por fim, ao conceito de capitalismo, entendendo economia de mercado aquela que encontra o equilíbrio entre oferta e demanda através da livre circulação de capitais, produtos e pessoas, sem intervenção estatal. Definição A expressão Sociedade de Consumo designa uma sociedade característica do mundo desenvolvido em que a oferta excede geralmente a procura, os produtos são normalizados e os padrões de consumo estão massificados. O surgimento da sociedade de consumo decorre directamente do desenvolvimento industrial que a partir de certa altura, e pela primeira vez em milénios de história, levou a que se tornasse mais difícil vender os produtos e serviços do que fabricá-los. Este excesso de oferta, aliado a uma enorme profusão de bens colocados no mercado, levou ao desenvolvimento de estratégias de marketing extremamente agressivas e sedutoras e às facilidades de crédito quer das empresas industriais e de distribuição, quer do sistema financeiro. As principais características da sociedade de consumo são as seguintes: Para a maioria dos bens, a sua oferta excede a procura, levando a que as empresas recorram a estratégias de marketing agressivas e sedutoras que induzem o consumidor a consumir, permitindo-lhes escoar a produção. A maioria dos produtos e serviços estão normalizados, os seus métodos de fábrica baseiam-se na produção em série (no modelo fordista) e recorre-se a estratégias de obsolescência programada que permita o escoamento permanente dos produtos e serviços. Os padrões de consumo estão massificados e o consumo assume as características de consumo de massas, em que se consome o que está na moda apenas como forma de integração social. Existe uma tendência para o consumismo (um tipo de consumo impulsivo, descontrolado, irresponsável e muitas vezes irracional). Críticas: Negativas Uma das críticas mais comuns sobre a sociedade de consumo é a que afirma se tratar de um tipo de sociedade que se "rendeu" frente às forças do sistema capitalista e que, por tanto, seus critérios e bases culturais estão submetidos as criações postas ao alcance do consumidor. E neste sentido, os consumidores finais perderiam as características de indivíduos para passarem a ser considerados uma massa de consumidores que se pode influir através de técnicas de marketing, inclusive chegando a criação de "falsas necessidades" entre eles. Do ponto de vista ambiental, a sociedade de consumo se vê como insustentável, posto que implica um constante aumento da extração de recursos naturais, e do despejo de resíduos, até o ponto de ameaçar a capacidade de regeneração da natureza desses mesmos recursos imprescindíveis para a sobrevivência humana. Em economia internacional, diz-se que o modelo consumista faz com que as economias dos países pobres se dediquem em satisfazer o enorme consumo das sociedades mais desenvolvidas, o que os fazem deixar de satisfazer suas próprias necessidades fundamentais, como por exemplo a alimentação e saúde da população, pois o mercado faz com que a maioria dos recursos sejam destinados a satisfazer a quem pagar mais. Os enfoques anteriores se combinam ao mostrar que, se a maioria da população mundial alcançar um nível de consumo similar ao de países industrializados, recursos de primeira ordem se esgotariam em pouco tempo, o que envolve sérios problemas econômicos, éticos e políticos. Por último, uma das maiores críticas a sociedade de consumo, vem de quem afirma que esta converte as pessoas a simples consumidores que encontram o prazer no mero consumo por si só, e não pela vontade de possuir o produto. Infelizmente, um impacto desta sociedade de consumo ao meio ambiente e a sociedade em geral é sem dúvida a rápida obsolescência dos equipamentos causando hoje na sociedade o que conhecemos como lixo tecnológico. Positivas Para alguns defensores, a sociedade de consumo é consequência do alto desenvolvimento que chegou a determinadas sociedades e se manifesta no incremento da renda nacional. Por sua vez, possibilita que um número cada vez maior de pessoas adquiram bens cada vez mais diversificados, desta forma, facilitando o acesso a uma maior quantidade e qualidade de produtos por uma parte maior da sociedade, se estaria produzindo uma maior igualdade social. O Capitalismo e a Sociedade de Consumo Nas últimas décadas houve um aumento significativo do consumo em todo mundo, provocado pelo crescimento populacional e, principalmente, pela acumulação de capital das empresas que puderam se expandir e oferecer os mais variados produtos, conjuntamente com os anúncios publicitários que propõe o consumo a todo o momento. Chamamos de consumo o ato da sociedade de adquirir aquilo que é necessário a sua subsistência e também aquilo que não é indispensável, ao ato do consumo de produtos supérfluos, denominamos consumismo. Para suprir as sociedades de consumo, o homem interfere profundamente no meio ambiente, pois tudo que o homem desenvolve vem da natureza, aqui nesse contexto é o palco das realizações humanas. Através da força de trabalho o homem transforma a primeira natureza (intacta) em segunda natureza (transformada). É a natureza que fornece todas matérias primas (solo, água, clima energia minérios etc) necessárias às indústrias. O modelo de desenvolvimento capitalista, baseado em inovações tecnológicas, em busca do lucro e no aumento contínuo dos níveis de consumo, precisa ser substituído por outro, que leve em consideração os limites suportáveis na natureza e da própria vida. O planeta já mostra sinais de esgotamento, um exemplo disso é a escassez de petróleo que é um recurso não renovável, e sua utilização corresponde a 40% da energia consumida no mundo, tendo em vista a sua importância no cenário mundial a situação é preocupante pois alguns estudos mostram que o petróleo existente será suficiente por mais 70 anos. Os problemas ambientais diferem em relação aos países ricos e pobres, a prova disso é que 20% da população é responsável pela geração da maior parte da poluição e esse percentual é similar ao percentual da população que possui as riquezas do mundo. Enquanto essa população vive em altos níveis de consumo, outra grande maioria, cerca de 2,4 bilhões de pessoas, não possui saneamento, 1 bilhão não tem acesso a água potável, 1,1 bilhão não tem habitação adequada e 1 bilhão de crianças estão subnutridas. � TEMA 5 – ÉTICA E IDEOLOGIA 5.1 MORAL E ÉTICA 5.2 ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL 5.3 DEMOCRADIA, ÉTICA E CIDADANIA 5.4 IDEOLOGIA Introdução Os valores Todo mundo já ouviu falar no “jeitinho brasileiro”: poder, não pode, mas sempre se dá um jeito... Certos “jeitinhos” parecem inocentes ou engraçados, e às vezes até são vistos como sinal de vivacidade e esperteza, por exemplo, quando se fura a fila do ônibus ou do cinema. Ou, então, para pegar o filho na escola, que mal há em parar em fila dupla? Os valores podem ser estéticos, afetivos, econômicos, religiosos, éticos, etc. Mas o que são valores? Diante dos seres somos mobilizados pela nossa afetividade, somos afetados de alguma forma por eles, porque nos atraem ou provocam nossa repulsa. Enfim, os valores resultam das relações que os seres humanos estabelecem entre si e com o mundo em que vivem. Por isso os valores são em parte herdados da cultura e nossa primeira compreensão da realidade se funda no solo dos valoresda comunidade a que pertencemos. Esse fato talvez nos faça concluir que tais experiências variam conforme o povo e a época. Os valores são, num primeiro momento, herdados por nós. Ao nascermos, o mundo cultural é um sistema de significados já estabelecidos, de tal modo que aprendemos desde cedo como nos comportar à mesa, na rua, diante de estranhos, como, quando, e quanto falar em determinadas circunstâncias; como andar, correr, brincar; como cobrir o corpo e quando desnudá-lo; qual o padrão de beleza; que direitos e deveres temos. Conforme atendemos ou transgredimos os padrões, os comportamentos são avaliados como bons ou maus. Para Durkheim, a Consciência coletiva “é o conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade”. A consciência coletiva não se baseia na consciência dos indivíduos singulares ou de grupos específicos, mas está espalhada por toda a sociedade. Assim, a consciência coletiva não é o que um indivíduo pensa, mas é o que a “sociedade pensa”. É a consciência coletiva que irá impor as regras sociais de uma sociedade; isto porque ao nascer, o indivíduo já encontra a sociedade pronta e constituída em suas leis. Assim, o direito, os costumes, as crenças religiosas não são criados pelos indivíduos, mas pelas gerações passadas, sendo transmitidas às novas através da Educação. Ex: proibição de andar nus. Em síntese: não matar, não roubar, não andar nu são normas comuns a todos os indivíduos que, por serem comuns a todos, se convertem em leis morais que passam a determinar a conduta das pessoas na sociedade. O indivíduo não faz o que deseja e sim o que permite a moral social de época e lugar dados. 5.1 MORAL E ÉTICA A moral Os conceitos de moral e ética, ainda que diferentes, são com frequência usados como sinônimos. Aliás, a etimologia dos termos é semelhante: moral vem do latim mos, moris, que significa “costume”, “maneira de se comportar regulada pelo uso”, e de moralis, morale, adjetivo referente ao que é “relativo aos costumes”. Ética vem do grego ethos, que tem o mesmo significado de “costume”. No entanto, podemos estabelecer algumas diferenças entre esses dois conceitos. A moral é o conjunto de regras de conduta admitidas em determinada época ou por um grupo de pessoas. A ética ou filosofia moral é a parte da filosofia que se ocupa com a reflexão a respeito das noções e princípios que fundamentam a vida moral. Por exemplo, são questões éticas indagar a respeito do que é o bem e o mal, o que são valores, qual a natureza do dever. Caráter histórico e social da moral Neste texto, foi seguida de maneira livre a exposição de Adolfo Sánchez Vasquez, no seu livro Ética. De início, podemos definir a moral como o conjunto de regras que determinam o comportamento dos indivíduos em um grupo social. A fim de garantir a sobrevivência, o ser humano age sobre a natureza transformando-a em cultura. Para que a ação coletiva seja possível, são estabelecidas regras que organizam as relações entre os indivíduos. É de tal importância a existência do mundo moral que se torna impossível imaginar um povo sem qualquer conjunto de regras. Uma das características humanas fundamentais é a de sermos capazes de produzir interdições (proibições). Segundo o antropólogo francês Lévi-Strauss, a passagem da natureza à cultura, é produzida pela instauração da lei, por meio da proibição do incesto. Assim, se estabelecem as relações de parentesco e de aliança sobre as quais é construído o mundo humano, que é simbólico. Exterior e anterior ao indivíduo, há portanto a moral constituída, que orienta seu comportamento por meio de normas. Em função da adequação ou não à norma estabelecida, o ato será considerado moral ou imoral. O comportamento moral varia de acordo com o tempo e o lugar, conforme as exigências das condições nas quais as pessoas se organizam ao estabelecerem as formas de relacionamento e as práticas de trabalho. À medida que essas relações se alteram, exigem lentas modificações nas normas de comportamento coletivo. Por exemplo, a Idade Média se caracteriza pelo regime feudal, baseado na hierarquia de suseranos, vassalos e servos. O trabalho é garantido pelos servos, possibilitando aos nobres uma vida dedicada ao ócio e à guerra. A moral cavalheiresca que daí deriva baseia-se no pressuposto da superioridade da nobreza, exaltando a virtude da lealdade e da fidelidade – suporte do sistema de suserania – bem como a coragem do guerreiro. Em contraposição, o trabalho é desvalorizado e restrito aos servos. Essa situação tende a ser alterada com o aparecimento da burguesia, a qual formada pelos antigos servos libertos, valoriza o trabalho e critica a ociosidade. Caráter pessoal da moral Vamos agora ampliar a definição provisória dada inicialmente. Mesmo considerando o caráter histórico e social da moral, é preciso reconhecer que ela não se reduz à herança dos valores recebidos pela tradição. À medida que a criança se aproxima da adolescência, aprimorando o pensamento abstrato e a reflexão crítica, ela tende a colocar em questão os valores herdados. A ampliação do grau de consciência e de liberdade, e portanto de responsabilidade pessoal no comportamento moral, introduz um elemento contraditório que irá, o tempo todo, angustiar a pessoal: a moral, ao mesmo tempo que é o conjunto de regras que determina como deve ser o comportamento dos indivíduos do grupo, é também a livre e consciente aceitação das normas. Isso significa que o ato só é propriamente moral se passar pelo crivo da aceitação pessoal da norma. Portanto, o ser humano, ao mesmo tempo que é herdeiro, é criador da cultura, e a vida moral irá se configurar quando, diante da moral constituída, ele for capaz de propor a moral constituinte, aquela que se realiza a cada experiência vivida. Nessa perspectiva, a vida moral se funda em uma ambiguidade fundamental, justamente a que determina o seu caráter histórico. Toda moral está situada no tempo e reflete o mundo em que nossa liberdade se achada situada. Diante do passado que o condiciona nossos atos, podemos nos colocar a distância para reassumi-lo ou recusá-lo. Por experiência própria, cada um sabe como isso é penoso, a partir da descoberta de que normas adequadas em determinado momento tornam-se obsoletas em outro e devem ser alteradas. As contradições e o velho e o novo são vividas quando as relações humanas exigem novo código de conduta. Mesmo quando queremos manter as antigas normas, há situações críticas enfrentadas devido à especificidade de cada acontecimento. Caráter social e pessoal da moral A análise dos fatos morais nos coloca diante de dois pólos contraditórios: de um lado, o caráter social da moral; de outro, a intimidade do sujeito. Se aceitarmos unicamente o caráter social da moral, sucumbimos ao dogmatismo e ao legalismo. Isto é, ao caracterizar o ato moral como aquele que se adapta à norma estabelecida, privilegiamos os regulamentos, os valores dados e não discutidos. Nessa perspectiva, a educação moral visa apenas inculcar nas pessoas o medo das conseqüências da não-observância da lei. Por outro lado, se aceitarmos como predominante a interrogação do indivíduo que põe em dúvida a regra, corremos o risco de destruir a moral: quando ela depende exclusivamente da sanção pessoal, recai no individualismo, na “tirania da intimidade” e consequentemente, no amoralismo, na ausência de princípios. Ora, o ser humano “con-vive” com pessoas, e qualquer ato seu compromete os que o cercam. Portanto, é preciso considerar os dois pólos contraditórios do pessoal e do social como uma relação dialética, ou seja, uma relação em que se estabeleça o tempo todo a implicação recíproca entre determinismo e liberdade, entre adaptação e desadaptação à norma, aceitação e recusa da interdição, a partir de princípios. O aspecto social é considerado é considerado sob dois pontos de vista. Em primeiro lugar, significa apenas a herança dos valores do grupo, mas depois de passar pelo crivo da dimensãopessoal, o social readquire a perspectiva humana e madura que destaca a ênfase na intersubjetividade essencial da moral. Isto é, quando criamos valores, não o fazemos para nós mesmos, mas como seres sociais que se relacionam com os outros. Dessa forma, essa flexibilidade não deve ser interpretada como defesa do relativismo em que todas as formas de conduta são aceitas indistintamente. O professor José Arthur Gianotti assim se expressa: “Os direitos do homem, tais como em geral têm sido enunciados a partir do século XVIII, estipulam condições mínimas do exercício da moralidade. Por certo, cada um não deixará de aferrar-se à sua moral; deve, entretanto, aprender a conviver com outros, reconhecer a unilateralidade de seu ponto de vista. E com isto está obedecendo à sua própria moral de uma maneira especialíssima, tomando os imperativos categóricos dela como um momento particular do exercício humano de julgar moralmente”. Estrutura do ato moral A instauração do mundo moral exige consciência crítica, que chamamos de consciência moral. Trata-se do conjunto de exigências e das prescrições que reconhecemos como válidas para orientar a escolha; é a consciência que discerne o valor moral dos nossos atos. O ato moral é portanto constituído de dois aspectos: o normativo e o fatual. O normativo são as normas ou regras de ação e os imperativos que enunciam o “dever ser”. O fatual são os atos humanos enquanto se realizam efetivamente. Pertencem ao âmbito do normativo, regras como: “Cumpra a sua obrigação de estudar”; “não minta”; “não mate”. O campo do fatual é a efetivação ou não da norma na experiência vivida. Os dois pólos são distintos, mas inseparáveis. A norma só tem sentido se orientada para a prática e o fatual só adquire contorno moral quando se refere à norma. O ato efetivo será moral ou imoral, conforme esteja de acordo ou não com a norma estabelecida. Por exemplo, diante da norma “não minta”, o ato de mentir será considerado imoral. Convém lembrar aqui a discussão anterior a respeito do social e do pessoal na moral. Nesse caso, estamos considerando que o ato só pode ser moral ou imoral se o indivíduo introjetou a norma e a tornou sua, livre e conscientemente. Conclusão O delicado tecido da moral diz respeito ao indivíduo no mais fundo do seu “foro íntimo”, ao mesmo tempo que o vincula às pessoas com as quais convive. Embora a ética não se confunda com a política, elas se relacionam necessariamente, cada uma no seu campo específico. Por um lado, a política, ao estender a justiça social a todos, permite que os indivíduos tenham condições de melhor formação moral. Por outro lado, a formação ética é importante para o exercício da cidadania, quando os interesses pessoais não se sobrepõe aos coletivos. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2005 p. 305-310 Os valores ou fins éticos Do ponto de vista dos valores, a ética exprime a maneira como uma cultura e uma sociedade definem para si mesmas o que julgam ser o mal e o vício, a violência e o crime e, como contrapartida, o que consideram ser o bem e a virtude. Todas as culturas consideram virtude algo que é o melhor como sentimento, como conduta e como ação; a virtude é a excelência, a realização perfeita de um modo de ser, sentir e agir. Os meios morais além do sujeito ou pessoa moral e dos valores ou fins morais, o campo ético é ainda constituído por um outro elemento: os meios para que o sujeito realize os fins. Costuma-se dizer que os “fins justificam os meios”, de modo que, para alcançar um fim legítimo, todos os meios disponíveis são válidos. No caso da ética, porém, essa afirmação não é aceitável. No caso da ética, portanto, nem todos os meios são justificáveis, mas apenas aqueles que estão de acordo com os fins da própria ação. Em outras palavras, fins éticos exigem meios éticos. A relação entre meios e fins pressupõe a idéia de discernimento, isto é, que saibamos distinguir entre meios morais e imorais, tais como nossa cultura ou nossa sociedade os definem. Isso significa também que esse discernimento não nasce conosco, mas precisa ser adquirido por nós e portanto, a pessoa moral não existe como um fato dado, mas é criada pela vida intersubjetiva e social, precisando ser educada para os valores morais e para as virtudes de sua sociedade. Ética ou filosofia moral Toda cultura e cada sociedade institui uma moral, isto é, valores concernentes ao bem e ao mal, ao permitido e ao proibido e à conduta correta e à incorreta, válidos para todos os seus membros. No entanto, a simples existência da moral não significa a presença explícita de uma ética, entendida como filosofia moral, isto é, uma reflexão que discuta, problematize e interprete o significado dos valores morais. A filosofia moral ou a disciplina denominada a ética nasce quando se passa a indagar o que são, de onde vêm e o que valem os costumes. Éthos significa na língua grega costume ou caráter. A filosofia moral ou a ética nasce quando, além das questões sobre os costumes, também se busca compreender o caráter de cada pessoa, isto é, o senso moral e a consciência moral individuais. Em síntese: ÉTICA ciência sobre o comportamento moral dos homens em sociedade. Sua função é explicar, esclarecer e investigar uma determinada realidade. É a ciência que tem como objeto os juízos de valor A ética tem conteúdo universal e parte do princípio da igualdade dos seres humanos e de seus direitos inalienáveis à paz e ao bem-estar O cerne da ética universal transcende a todos os sistemas de crenças e valores. MORAL: “conjunto de normas, aceitas livre e conscientemente, que regulam o comportamento individual dos homens.” (Vasquez) manifesta-se nas diferentes sociedades. Sua função é regulamentar as relações entre os indivíduos e entre estes e a comunidade, contribuindo para a ordem social. A moral não é natural e resulta da ação do homem enquanto ser histórico e social . 5.2 ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL Muitos autores definem a ética profissional como sendo um conjunto de normas de conduta que deverão ser postas em prática no exercício de qualquer profissão. Seria a ação "reguladora" da ética agindo no desempenho das profissões, fazendo com que o profissional respeite seu semelhante quando no exercício da sua profissão. A ética profissional estudaria e regularia o relacionamento do profissional com sua clientela, visando a dignidade humana e a construção do bem-estar no contexto sócio-cultural onde exerce sua profissão. Ela atinge todas as profissões e quando falamos de ética profissional estamos nos referindo ao caráter normativo e até jurídico que regulamenta determinada profissão a partir de estatutos e códigos específicos. Assim temos a ética médica, do advogado, do biólogo, do engenheiro de produção engenheiro químico, engenheiro civil, contador etc. Sendo a ética inerente à vida humana, sua importância é bastante evidenciada na vida profissional, porque cada profissional tem responsabilidades individuais e responsabilidades sociais, pois envolvem pessoas que dela se beneficiam. Virtudes profissionais Não obstante os deveres de um profissional, os quais são obrigatórios, devem ser levadas em conta as qualidades pessoais que também concorrem para o enriquecimento de sua atuação profissional, algumas delas facilitando o exercício da profissão. Muitas destas qualidades poderão ser adquiridas com esforço e boa vontade, aumentando neste caso o mérito do profissional que, no decorrer de sua atividade profissional, consegue incorporá-las à sua personalidade, procurando vivenciá-las ao lado dos deveres profissionais. Existe uma associação entre as virtudes: lealdade, responsabilidade e iniciativa como fundamentais para a formação de recursos humanos. Segundo Clauss Moller o futuro de uma carreira depende dessas virtudes. O senso de responsabilidade é o elemento fundamental da empregabilidade. Sem responsabilidade a pessoa não pode demonstrar lealdade,nem espírito de iniciativa [...]. Uma pessoa que se sinta responsável pelos resultados da equipe terá maior probabilidade de agir de maneira mais favorável aos interesses da equipe e de seus clientes, dentro e fora da organização.. Só pessoas que tenham auto-estima e um sentimento de poder próprio são capazes de assumir responsabilidade. Elas sentem um sentido na vida, alcançando metas sobre as quais concordam previamente e pelas quais assumiram responsabilidade real, de maneira consciente. Prossegue, citando a virtude da lealdade: Um funcionário leal se alegra quando a organização ou seu departamento é bem sucedido, defende a organização, tomando medidas concretas quando ela é ameaçada, tem orgulho de fazer parte da organização, fala positivamente sobre ela e a defende contra críticas. Lealdade não é sinônimo de obediência cega. Lealdade significa fazer críticas construtivas, mas as manter dentro do âmbito da organização. Significa agir com a convicção de que seu comportamento vai promover os legítimos interesses da organização. Assim, ser leal às vezes pode significar a recusa em fazer algo que você acha que poderá prejudicar a organização, a equipe de funcionários. As virtudes da responsabilidade e da lealdade são completadas por uma terceira, a iniciativa, capaz de colocá-las em movimento. Tomar a iniciativa de fazer algo no interesse da organização significa ao mesmo tempo, demonstrar lealdade pela organização. Em um contexto de empregabilidade, tomar iniciativas não quer dizer apenas iniciar um projeto no interesse da organização ou da equipe, mas também assumir responsabilidade por sua complementação e implementação. Gostaríamos ainda, de acrescentar outras qualidades que consideramos importantes no exercício de uma profissão. São elas: Honestidade: A honestidade está relacionada com a confiança que nos é depositada, com a responsabilidade perante o bem de terceiros e a manutenção de seus direitos. A honestidade é a primeira virtude no campo profissional. É um princípio que não admite relatividade, tolerância ou interpretações circunstanciais. Sigilo: O respeito aos segredos das pessoas, dos negócios, das empresas, deve ser desenvolvido na formação de futuros profissionais, pois trata-se de algo muito importante. Uma informação sigilosa é algo que nos é confiado e cuja preservação de silêncio é obrigatória. Competência: Competência, sob o ponto de vista funcional, é o exercício do conhecimento de forma adequada e persistente a um trabalho ou profissão. Devemos buscá-la sempre. O conhecimento da ciência, da tecnologia, das técnicas e práticas profissionais é pré-requisito para a prestação de serviços de boa qualidade. Prudência: Todo trabalho, para ser executado, exige muita segurança. A prudência, fazendo com que o profissional analise situações complexas e difíceis com mais facilidade e de forma mais profunda e minuciosa, contribui para a maior segurança, principalmente das decisões a serem tomadas. Coragem: Todo profissional precisa ter coragem, pois "o homem que evita e teme a tudo, não enfrenta coisa alguma, torna-se um covarde" (ARISTÓTELES, p.37). A coragem nos ajuda a reagir às críticas, quando injustas, e a nos defender dignamente quando estamos cônscios de nosso dever. Nos ajuda a não ter medo de defender a verdade e a justiça, principalmente quando estas forem de real interesse para outrem ou para o bem comum. Perseverança: Qualidade difícil de ser encontrada, mas necessária, pois todo trabalho está sujeito a incompreensões, insucessos e fracassos que precisam ser superados, prosseguindo o profissional em seu trabalho, sem entregar-se a decepções ou mágoas. Compreensão: Qualidade que ajuda muito um profissional, porque é bem aceito pelos que dele dependem, em termos de trabalho, facilitando a aproximação e o diálogo, tão importante no relacionamento profissional. Vê-se que a compreensão precisa ser condicionada, muitas vezes, pela prudência. Humildade: O profissional precisa ter humildade suficiente para admitir que não é o dono da verdade e que o bom senso e a inteligência são propriedade de um grande número de pessoas. Otimismo: Em face das perspectivas das sociedades modernas, o profissional precisa e deve ser otimista, para acreditar na capacidade de realização da pessoa humana, no poder do desenvolvimento, enfrentando o futuro com energia e bom-humor. TOMAZI, Nelson Dacio. Iniciação à Sociologia. 2. ed. São Paulo: Atual, 2000. pag. 180-186 5.3 DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA O analfabeto Político Bertold Brecht (1898-1956) - escritor, poeta e teatrólogo alemão “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil, que da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”. O que é política? Segundo Nicolau Maquiavel, em O Príncipe, política é a arte de conquistar, manter e exercer o poder, o próprio governo. Ainda existem algumas divergências sobre o tema, para alguns, política é a ciência do poder e para outros é a Ciência do Estado. Se há alguma certeza nos tempos em que vivemos, é a de que vivemos um momento de incerteza e desordem em todas as atividades humanas: saber, poder, ética e valores. Há uma tendência atual de menosprezar o papel da política em nosso dia a dia e de elogiar o seu esquecimento, dando mais importância à economia, à privatização da vida pública, à religião, ao moralismo e à eficiência técnica. Este pensamento é defendido pelos grandes empresários da comunicação, reforçando a estratégia dos poderosos de manter os cidadãos longe do exercício da política, principalmente os jovens. Acontece que a política não deixou de ser exercida em momento algum. Ela apenas ganhou novos contornos e novos espaços nas lutas pelas políticas afirmativas (inclusão, direito à livre orientação sexual, etc), por exemplo. Vivemos hoje em um momento em que a política é questionada, pois, ela é sistematicamente confundida com as ações dos políticos profissionais, principalmente, pelos maus políticos. Arendt nos diz que "A política baseia-se no fato da pluralidade dos homens", portanto, ela deve organizar e regular o convívio dos diferentes e não dos iguais. Vejamos o que diz Hannah Arendt: ". Tarefa e objetivo da política é a garantia da vida no sentido mais amplo". Para ela, a tarefa da política esta diretamente relacionada com a grande aspiração do homem moderno: a busca da felicidade. Não é fácil discutir a questão da política nos dias de hoje. Estamos carregados de desconfianças em relação aos homens do poder. Porém, o homem é um ser essencialmente político. Todas as nossas ações são políticas e motivadas por decisões ideológicas. Tudo que fazemos na vida tem consequências e somos responsáveis por nossas ações. Nossa ação política está presente em todos os momentos da vida, seja nos aspecto privado ou público. Vivemos com a família, relacionamos com as pessoas no bairro, na escola, somos parte integrantes da cidade, pertencemos a um Estado e País. Não podemos confundir que política é simplesmente o ato de votar. Estamos fazendo política como tomamos atitudes em nosso trabalho. Estamos fazendo política quando exigimos nossos direitos de consumidor, quando nos indignamos ao vermos nossas crianças fora das escolas sendo massacradas nas ruas. A política está presente cotidianamente em nossas vidas: na luta das mulheres contra uma sociedade machista que discrimina e age com violência; na luta dos portadores de necessidade especiais para pertencerem de fato à sociedade. O futuro da democraciaRousseau foi quem melhor definiu o ideal da democracia, que hoje está em conflito com as democracias reais: uma sociedade só é democrática quando ninguém for tão rico que possa comprar alguém e ninguém seja tão pobre que tenha de se vender a alguém. Analisada globalmente, a democracia oferece-nos duas imagens muito contrastantes. Por um lado, na forma de democracia representativa, ela é hoje considerada internacionalmente o único regime político legítimo. Investem-se milhões de euros e dólares em programas de promoção da democracia, em missões de fiscalização de processos eleitorais, e, quando algum país do chamado Terceiro Mundo manifesta renitência em adotar o regime democrático, as agências financeiras internacionais têm meios de o pressionar através das condições de concessão de empréstimos. Por outro lado, começam a proliferar os sinais de que os regimes democráticos instaurados nos últimos trinta ou vinte anos traíram as expectativas dos grupos sociais excluídos, dos trabalhadores cada vez mais ameaçados nos seus direitos e das classes médias empobrecidas. Sondagens recentes feitos na América Latina revelam que em alguns países a maioria da população preferiria uma ditadura desde que lhe garantisse algum bem-estar social. Acrescente-se que as revelações, cada vez mais freqüentes, de corrupção levam à conclusão que os governantes legitimamente eleitos usam o seu mandato para enriquecer à custa do povo e dos contribuintes. Por sua vez, o desrespeito dos partidos, uma vez eleitos, pelos seus programas eleitorais parece nunca ter sido tão grande. De modo que os cidadãos se sentem cada vez menos representados pelos seus representantes e acham que as decisões mais importantes dos seus governos escapam à sua participação democrática. O contraste entre estas duas imagens oculta um outro, entre as democracias reais e o ideal democrático. Rousseau foi quem melhor definiu este ideal: uma sociedade só é democrática quando ninguém for tão rico que possa comprar alguém e ninguém seja tão pobre que tenha de se vender a alguém. Segundo este critério, estamos ainda longe da democracia. Os desafios que são postos à democracia no nosso tempo são os seguintes. Primeiro, se continuarem a aumentar as desigualdades sociais entre ricos e pobres ao ritmo das três últimas décadas, em breve, a igualdade jurídico-política entre os cidadãos deixará de ser um ideal republicano para se tornar uma hipocrisia social constitucionalizada. Segundo, a democracia atual não está preparada para reconhecer a diversidade cultural, para lutar eficazmente contra o racismo, o colonialismo e o sexismo e as discriminações em que eles se traduzem. Isto é tanto mais grave quanto é certo que as sociedades nacionais são cada vez mais multiculturais e multiétnicas. Terceiro, as imposições econômicas e militares dos países dominantes são cada vez mais drásticas e menos democráticas. Assim sucede, em particular, quando vitórias eleitorais legítimas são transformadas pelo chefe da diplomacia norte-americana em ameaças à democracia, sejam elas as vitórias do Hamas, de Hugo Chávez ou de Evo Morales. Finalmente, o quarto desafio diz respeito às condições da participação democrática dos cidadãos. São três as principais condições: ser garantida a sobrevivência: quem não tem com que se alimentar e alimentar a sua família tem prioridades mais altas que votar; não estar ameaçado: quem vive ameaçado pela violência no espaço público, na empresa ou em casa, não é livre, qualquer que seja o regime político em que vive; estar informado: quem não dispõe da informação necessária a uma participação esclarecida, equivoca-se quer quando participa, quer quando não participa. Pode dizer-se com segurança que a promoção da democracia não ocorreu de par com a promoção das condições de participação democrática. Se esta tendência continuar, o futuro da democracia, tal como a conhecemos, é problemático. Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal). Cidadania: o sentido tradicional Um dos sentidos mais atuais da cidadania nasce com o Estado moderno, quando a burguesia contrapõe ao antigo sistema de privilégios feudais. O liberalismo institui a igualdade jurídica (todos os cidadãos possuem direitos e deveres iguais); por outro lado, as classes sociais constituem um sistema marcado pela desigualdade. Assim, todos os cidadãos são considerados iguais do ponto de vista jurídico e formal. Mas, na realidade, a nação apresenta-se dividida em classes. Que proposta de educação do cidadão pode resultar dessa forma de compatibilização entre cidadania e classes sociais? A educação do cidadão, entendida tradicionalmente como integração ou adaptação do indivíduo à sociedade, tem como pressuposto a aceitação da ordem social vigente. As desigualdades inerentes ao sistema são consideradas naturais e mesmo inevitáveis, atribuídas às diferenças quanto às capacidades e funções desempenhadas pelos indivíduos. A educação como mecanismo de ascensão social. Dentro da visão burguesa e conservadora que enfatiza a integração á ordem social, a educação para a cidadania visa, basicamente, tornar o indivíduo consciente de seus direitos e deveres. Tal interpretação supõe um cidadão passivo, ao qual compete o conhecimento de direitos e deveres pré-determinados no âmbito do poder jurídico constituído, cabendo-lhe apenas cumpri-los. Fica excluída a alternativa do cidadão tornar-se sujeito ativo no processo de elaboração de seus direitos, questionar os princípios em que estes se assentam ou indagar a que interesses eles servem. Um novo sentido de “educar para a cidadania” Nas últimas décadas, no Brasil, assistiu-se a uma nova articulação da relação entre cidadania e classes sociais a partir da prática dos movimentos sociais que procuraram tornar efetivas as promessas de igualdade formalmente contidas no conceito de cidadania. Fruto de um processo de lutas, assistiu-se à ampliação dos direitos dos cidadãos. Sobre essa base, é possível pensar numa outra direção a questão da educação como preparação para o exercício da cidadania. Do interior da luta dos movimentos sociais brotou uma nova noção de cidadania, pela qual se rompe com a idéia de que ela seja uma outorga do Estado para concebê-la como processo histórico de luta, o que quer dizer que as classes populares e não mais o Estado, constituem o sujeito na construção da cidadania. Embora a nova noção de cidadania, que eclode no Brasil nos anos 1990, tenha em comum a velha visão liberal a manutenção da noção de direitos, esta noção é redefinida , passando a assentar-se sobre o princípio do “direito a ter direitos”. Isso implica alargar o âmbito tradicional do acesso e implementação efetiva dos direitos previamente definidos em lei, lançando-se na criação e invenção de novos direitos, como fruto de lutas específicas. A nova noção de cidadania só se tornou possível a partir da constituição do cidadão – sujeito de direitos – como um sujeito social ativo, abrindo um canal de lutas para os excluídos da cidadania. Construir a cidadania de baixo para cima implica romper com a idéia tradicional de que seu conteúdo seria determinado pela relação do individuo com o Estado, para promover sua articulação no âmbito da própria sociedade civil. O ponto de partida é a realidade e a desigualdade de classes. Sob esta ótica, a cidadania deixa de ser pensada como um estado ou condição para converter-se em estratégia política. Isso parece e permite transcender a simples idéia do cidadão como sujeito de direitos e deveres previamente definidos pelo sistema político, para concebê-lo como agente capaz de aplicar os meios de que dispõe na construção de novos conteúdos para a cidadania. Tal processo de construção ativa e social da cidadania coloca em novas bases o princípio da educação como preparação para o exercício da cidadania. Já não basta formar o educando para tomar consciência dos seus direitos e deveres, formulação que no passado pareciasuficiente para que a escola desse conta da questão da cidadania.; Às novas concepções políticas deve corresponder uma reinterpretação da educação como preparação para o exercício da cidadania , na qual a própria noção de escolarização precisa ser revista. É necessário que a formação que tem como alvo a autonomia do indivíduo, a construção de uma subjetividade capaz de pensar, decidir e agir por conta própria constitui o horizonte educativo que melhor corresponde ao ideal de uma cidadania ativa. O educador e filósofo, Luckesi, sustenta que os fins políticos da prática educativa devem visar ao desenvolvimento e independência de cada cidadão. Mas deve ser construída e a escolarização pode contribuir para tanto, desde que promova um processo ativo de assimilação da cultura, pelo qual os conteúdos culturais adquiridos devem servir não como mero padrão de conduta, mas como base com a qual o educando interage e sobre a qual constrói a si mesmo de forma ativa. Conclusão A construção da cidadania não se processa dentro da escola, mas no âmbito da sociedade civil. O que se espera da escola é a “preparação para a cidadania” que pode ser interpretada em dois sentidos bem distintos. Ou a educação resigna-se a promover a adaptação do indivíduo à ordem social tal mo ela existe, formando o cidadão passivo e obediente aos direitos e deveres que emanam do alto, das instâncias jurídico-políticas do Estado ou ela decide enfrentar o desafio de formar sujeitos autônomos, capazes de pensar por conta própria e de acionar estratégias políticas que os levem a atuar criativamente na invenção de novos espaços democráticos. A cidadania pode ser pensada e analisada em duas dimensões: como condição legal e como atividade desejável. Condição legal: cidadania é reconhecida como o pertencimento a uma comunidade política na qual os indivíduos são portadores de direitos. Para o liberalismo, a questão da cidadania aparece associada à noção de direitos (liberdade, igualdade perante a lei e direito à propriedade e dos direitos de nação (soberania nacional e separação dos poderes). Quem era o cidadão? O homem esclarecido para escolher seus representantes, com conhecimento de causa e era ainda, um proprietário de terras ou imóveis. Locke (1632-1704) no século XVII – defende os “direitos naturais inalienáveis” (direito à vida, à liberdade de pensamento e de movimento (de ir e vir) e à propriedade( sabemos hoje que eles não são direitos naturais, mas sim direitos históricos; surgiram como demandas da burguesia em ascensão contra o clero e os aristocratas); de tendências liberais justifica a diferenciação de direitos entre trabalhadores e burguesia, pois para ele o trabalhador é incapaz de ter idéias sublimes e seria incapaz de pensar; sua ação é desordeira e ameaçaria a ordem. Este pensamento muda no século XVIII. Contribuição T.H. Marshall (sociólogo inglês) – deve se distinguir três dimensões na construção histórica da cidadania: a civil, a política e a social. (ele tem uma visão otimista), baseando-se na história da Grã-Bretanha (texto clássico Cidadania e classe social, de 1949). É indiscutível que essa ordem cronológica, do modo “clássico” não se reproduziu do mesmo modo em um grande número de países, entre os quais o Brasil. (tal definição de Marshall é considerada vaga e obscura). Cidadania, para Marshall é a participação integral do indivíduo na comunidade política. Século XVIII – criaram condições para o desenvolvimento da CIDADANIA CIVIL: direito à liberdade de expressão, de pensamento e de religião. Ou seja, direitos necessários à liberdade individual: liberdade de ir e vir, liberdade de expressão, pensamento e fé, o direito à propriedade. XVIII – A educação volta a ser pensada pelas classes dirigentes como mecanismo de controle social. Adam Smith, justifica a necessidade da educação, devido à divisão do trabalho. Seria competência do Estado facilitar à população a importância do aprendizado mínimo às necessidades do capital: saber ler, contar, apreender rudimentos de geometria, pois povo instruído seria ordeiro, obediente a seus superiores – propõe o cidadão passivo. Século XIX – permitiu o desenvolvimento da CIDADANIA POLÍTICA: direitos políticos, o direito à participação do exercício do poder, como membros de um organismo investido de autoridade político ou como eleitores de tais membros.. A cidadania se dirige a todos, inclui as massas, mas para disciplina-las e domesticá-las. Os direitos sociais não são conquistados, são outorgados pelo Estado. Século XX – condições para a construção da CIDADANIA SOCIAL: extensão da cidadania para a esfera social mediante o desenvolvimento dos direitos sociais e econômicos (o direito à educação, ao bem-estar, à saúde, ao trabalho, etc). Novas acepções ao conceito de cidadania. O projeto burguês enfatizará a questão dos direitos dos indivíduos, menos como direitos e mais como deveres. Deveres para com o Estado e este passa a regulamentar os direitos dos cidadãos e a restringi-los ou cassa-los, em determinadas conjunturas históricas. A questão da cidadania deixa de ser conquista da sociedade civil e passa a ser competência do Estado. Os direitos civis e políticos são chamados direitos de primeira geração; os sociais, de segunda geração. Na segunda metade do século XX surgiram os direitos de terceira geração, que tem como titular não o indivíduo, mas os grupos humanos, como o povo, a nação, coletividades étnicas, minorias discriminadas. Os direitos humanos, o direito das mulheres, o direito ao desenvolvimento, direito à paz, direito ao meio ambiente. Entre esses direitos da terceira geração estariam também os “novos movimentos sociais”, como direitos relativos a interesses difusos, direito do consumidor, direito à ecologia, direito à qualidade de vida, direito da terceira idade, direito das crianças, etc. esse tipo de interpretação estabelece uma relação entre cidadania e posse de direitos: ser cidadão significa ser portador de uma série de direitos. Essa concepção limita a cidadania a um conjunto de atributos formais (o reconhecimento de direitos comuns) e restringe e condiciona as possibilidades e os alcances da ação cidadã. Redução do campo da cidadania a uma questão meramente jurídica e acaba condenando a condição cidadã à esfera da lei e ao compromisso por respeita-la. Atividade desejável: a cidadania exige uma dimensão mais substancial e radical. A posse de direitos deve combinar-se como uma série de atributos e virtudes que fazem dos indivíduos cidadãos ativos em consonância e mais além do que a lei lhes concede. o exercício da cidadania se vincula ao campo da “ética cidadã” – aqui a cidadania é considerada uma dimensão que excede o meramente formal (a esfera dos direitos legalmente reconhecidos) para vincular-se de forma indissolúvel, a um tipo de ação social e de possibilidades concretas para a realização dos atributos que a definem. Aqui a cidadania é construída socialmente como um espaço de valores, de ações e de instituições nas quais se garantem condições efetivas de igualdades que permitem o mútuo reconhecimento dos sujeitos como membros de uma comunidade de iguais. A cidadania é o exercício de uma prática política e fundamentada em valores como a liberdade, a igualdade, a autonomia, o respeito à diferença e às identidades, a solidariedade, a tolerância. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando – Introdução à Filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2003. 5.4 IDEOLOGIA Ideologia: um conceito polêmico O conceito de ideologia foi criado por Destutt de Tracy, filósofo francês, no final do século XVIII: a ideologia deveria ser compreendida como “ciência das idéias”, assemelhando-se às ciências naturais. Partia-se da crença na razão (própria do espírito iluminista do século XVIII). Raymond Williams (marxista) afirma que o conceito de ideologia pode ser definido, basicamente, de acordo com três concepções básicas: Como sistema de crenças de uma classe ou grupo social. Nessa concepção estariamincluídos os valores, idéias e projetos de um grupo ou classe social específicos. Como sistema de crenças ilusórias – o que se costuma chamar de “falsa consciência”. Essas crenças ilusórias, baseadas em critérios impossíveis de ser comprovados, contrastariam com o conhecimento verdadeiro ou científico. Como o processo geral de produção de significados e idéias. Conforme Williams, as duas primeiras conotações serão as mais encontradas no pensamento marxista, vertente que se destacou no estudo da ideologia. No livro A ideologia alemã, Marx e Engels apresentarão os três elementos básicos que caracterizarão sua compreensão da sociedade capitalista e sua definição de ideologia (definição, como veremos, fortemente apoiada nas duas concepções destacadas por Williams). Esquematicamente, esses três elementos são: Separação – resultante da afirmação da divisão da vida humana em duas instâncias específicas: a infraestrutura, que é a esfera da produção material, e a superestrutura, esfera da produção das idéias. De maneira muito simplificada, podemos dizer que a infraestrutura se compõe da economia (a produção dos bens necessários à sobrevivência dos homens) e a superestrutura se constitui da moral, do direito, da política e das artes. Determinação –domínio estabelecido pela infraestrutura sobre a superestrutura. Serão as relações de produção que irão determinar (definir) a organização social – as formas de comportamento e de convívio entre os homens. São as relações de produção que os homens estabelecem entre si, as quais dependem, por sua vez, das relações desses homens com os meios de produção – terra, máquinas, matérias-primas, fábricas, força de trabalho. Inversão – elemento constitutivo fundamental do conceito de ideologia, considerada distorção da realidade. Isto é, ela aparece para os homens de maneira inversa àquilo que é na realidade. Nesse contexto, o conhecimento científico, ou saber real, será o elemento capaz de desmascarar a ideologia, recolocando o mundo de cabeça para cima, mostrando a realidade tal como ela é. Para compreender a sociedade capitalista a partir dessas três relações (separação, determinação e inversão) estabelecidas por Marx e Engels, não podemos tomá-las como formas imutáveis e inquestionáveis. No que diz respeito à definição de ideologia, por exemplo, é fundamental que se note que, ao longo do tempo, os próprios autores acabaram relativizando a conotação mistificadora que inicialmente deram ao conceito (essa relativização aparece no prefácio de Para a crítica da economia política, escrito por Marx, em 1859). Além disso, eles também relativizaram a questão da determinação estrita da esfera econômica (infraestrutura) sobre a superestrutura (em cartas que escreveu a outros pensadores, Engels reconheceu certo grau de independência – ou autonomia relativa – da superestrutura diante da infraestrutura). É preciso que se diga finalmente que, ao longo do tempo, os elementos destacados por Marx e Engels serão questionados, reinterpretados ou aprimorados por outros pensadores (inclusive e principalmente os de linha marxista), o que comprova não serem esses elementos formas congeladas e irretocáveis de compreensão da realidade. Ideologia e classe social: classe dominante, ideias dominantes Marx e Engels afirmam, em A ideologia alemã, que as ideias dominantes de uma época são as ideias da classe então dominante. Poderíamos deduzir a partir desse pressuposto que, para manter sua dominação, interessa a essa classe fazer com que os seus próprios valores sejam aceitos como certos por todas as demais classes sociais. Expliquemos: conforme Marilena Chauí, o discurso ideológico se caracteriza exatamente por pretender anular a diferença entre o pensar, o dizer e o ser, criando uma lógica que consiga unificar pensamento, linguagem e realidade, obtendo a identificação de todos os sujeitos sociais com uma imagem particular universalizada: a imagem da classe dominante. Surge daí “um corpo de representações e normas através do qual os sujeitos sociais e políticos” (as classes sociais) “se representarão a si mesmos e à vida coletiva”. Para Chauí, é exatamente esse “o campo da ideologia no qual esses sujeitos explicam as formas de suas relações sociais, econômicas e políticas; a origem da sociedade e do poder político; explicam as formas ‘corretas’ ou ‘verdadeiras’ de conhecimento e ação; justificam, através de ideias gerais (o Homem, a Pátria, o Progresso, a Família, a Ciência, o Estado), as formas reais da desigualdade, dos conflitos, da exploração e da dominação como sendo, ao mesmo tempo, ‘naturais’ (isto é, universais e inevitáveis) e ’justas’ (ponto de vista dos dominantes) ou ‘injustas’ (ponto de vista dos dominados”. O Estado tem como função ocultar os conflitos e antagonismos que exprimem a existência das contradições próprias de uma sociedade dividida em classes – classes que se encontram em luta permanente. A ideologia veiculada pelo Estado oferece a essa sociedade uma imagem que anula a luta, a divisão e a contradição; uma imagem da sociedade como idêntica, homogênea e harmoniosa. E é por isso que ela se mantém. Além disso, elabora a imagem de um Estado que representa a sociedade como um todo. Segundo Chauí, a ideia de que o Estado representa toda a sociedade e de que todos os cidadãos estão representados nele é uma das grandes forças para legitimar a dominação dos dominantes (isto é, para fazer com que essa dominação seja aceita como norma, legal, justa). Não se pode negar que, com o passar do tempo, o conceito de ideologia acabou adquirindo um caráter pejorativo. Por um lado, a prática de associá-lo exclusivamente à classe dominante parece fazer com que se interprete que essa classe possui domínio total sobre o conjunto da sociedade. Mas não podemos negar a importância do conceito de ideologia para compreender a sociedade. Podemos não concordar com a idéia da existência de uma única ideologia – uma ideologia dominante – capaz de exercer sobre o conjunto da sociedade uma dominação total e completa, homogeneizando-a, padronizando-a. Entretanto, não podemos negar a existência de uma ideologia – certamente composta de elementos de várias ideologias – que caracteriza a sociedade capitalista, é veiculada a todo momento pelos meios de comunicação de massa, aparece nos acontecimentos comuns do nosso cotidiano e visa influenciar o nosso comportamento. Nesse sentido, poderíamos procurar refletir sobre como a transmissão ou a reprodução dessa ideologia se dá. Um debate polêmico, que surgiu nos anos 1970 entre os estudiosos da questão, ocorreu com a publicação do livro Ideologia e aparelhos ideológicos de Estado, do pensador marxista francês Louis Althusser. Para esse autor, instituições como o aparato estatal (órgãos governamentais), os meios de comunicação de massa, a religião e principalmente a escola seriam responsáveis pela reprodução da ideologia dominante entre os membros da sociedade capitalista. Segundo Althusser, a escola funcionaria como um aparelho ideológico de Estado, assegurando a reprodução e a qualificação da força de trabalho, e simultaneamente adaptando os indivíduos à ordem social, ao inculcar-lhes as formas de justificação, legitimação e ocultação das diferenças e do conflito de classes. Posteriormente, sua interpretação foi questionada: as instituições, em geral, e o aparelho escolar, em particular, seriam simultaneamente duas coisas: lugar da reprodução da ideologia, sim, mas igualmente de reflexão crítica. Desse modo, o caráter contraditório de nossa sociedade apareceria no interior de todas as instituições, que seriam, simultaneamente, arenas de reprodução (por isso, aparelhos ideológicos de Estado), mas também de luta; da tentativa de camuflagem das injustiças sociais, mas também da consciência de sua real existência. ARANHA, Maria Lúcia Arruda de. Filosofando – introdução à Filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2003. pag. 60-68 O discurso não-ideológico A ação e o pensamento humanos nunca se acham totalmente determinadospela ideologia. Sempre haverá espaços de crítica e fendas que possibilitem a elaboração do discurso contra-ideológico. Não é simples, no entanto, o trabalho de desvelamento do real, porque a ideologia penetra em setores insuspeitados: na educação familiar e escolar, nos meios de comunicação de massa, nas igrejas, nas indústrias, impedindo de todas as formas a flexibilidade entre o pensar e o agir, determinando a repetição de fórmulas prontas e acabadas. Por outro lado, exatamente nesses mesmos espaços que veiculam a ideologia é que poderá ser iniciado o processo de conscientização. A ideologia em ação a) a ideologia na escola Por volta dos anos 1970, teóricos franceses passaram a admitir que a escola não é equalizadora, mas reprodutora das diferenças sociais. Segundo alguns desses pensadores, o próprio funcionamento da escola repetiria a estrutura hierarquizada do sistema, reproduzindo as relações autoritárias existentes fora dela. Em decorrência dessas concepções pessimistas a respeito da atuação da escola, outros estudiosos passaram a investigar o caráter ideológico da produção da literatura infanto-juvenil e dos livros didáticos. A partir dessa análise, porém, não devemos generalizar apressadamente, reduzindo a escola e o material didático em instrumentos de ideologia, por ser uma posição por demais redutora. Além disso, as boas escolas são críticas do sistema e cada vez mais buscam aproximar ensino e vida. Sempre haverá na escola e nos livros, a possibilidade de professores, autores e alunos inventarem práticas que se tornem críticas da inculcação ideológica. A escola é um espaço possível de luta, de denúncia da domesticação e de procura de soluções criativas. b) A ideologia nas histórias em quadrinhos Os quadrinhos são um fenômeno característico da indústria cultural e têm sua principal divulgação no século 20, quando começam a aparecer nas publicações diárias dos jornais. Além da função de entretenimento e lazer, representantes que são de uma nova linguagem artística. Nossa abordagem do tema parte da reflexão acerca da ambiguidade de toda produção cultural: ao mesmo tempo que serve à consciência, pode servir à alienação; tanto ao conhecimento como à escamoteação da realidade; tanto pode ser criativa como paralisadora. Os chilenos Ariel Dorman e Armand Mattelart defenderam a tese de que a leitura das histórias em quadrinhos não era tão inocente assim como se pensava. Fizeram impiedosa crítica aos quadrinhos ao denunciarem a ideologia subjacente aos quadrinhos, nos quais as histórias escamoteiam os conflitos, transmitem uma visão deformada do trabalho e levam à passividade política. Para eles, na maioria das histórias em quadrinhos, a sociedade aparece como una, estática e harmônica e a “ordem natural” do mundo é quebrada apenas pelos vilões, que, encarnando o mal, atentam geralmente contra o patrimônio (roubo de bancos, jóias e caixas-fortes). A defesa da legalidade dada e não-questionada é feita pelos “bons”, com a morte dos “maus” ou com a integração desses à norma estabelecida. c) Outros espaços de ação ideológica A ideologia se faz presente nos mais diversos campos de atuação. Um deles é a propaganda. Tudo bem que possamos entender a propaganda como uma maneira de divulgar ao provável consumidor a variedade e a qualidade do que é produzido, o que por sinal é muito bem-feito pelas competentes agências de propaganda. A propaganda não vende apenas produtos, mas também ideias. Compramos o “sonho americano”, o desejo de “subir na vida”, os estilos de vida, as convicções políticas e éticas que de certa forma são veiculadas nos comerciais. Isso sem falar nas campanhas de governos ou no marketing dos candidatos a qualquer cargo público. Outro espaço possível de ação da ideologia é o da mídia. A imprensa falada e escrita é formadora de opinião, o que representa algo positivo, desde que, numa sociedade plural, tenhamos acesso a diversos veículos de informação a fim de poder comparar a diversidade de posicionamentos e então assumir uma posição crítica pessoal. As distorções ocorrem quando a empresa jornalística determina o que deve ser considerado notícia; quando é manipulada por meio de recursos linguísticos. Da mesma forma, quando são utilizados adjetivos carregados de juízos de valor, como “baderneiros”, “perturbadores da ordem” ao noticiar uma greve. A diferença entre a informação ideológica e a não-ideológica é que a primeira impede a pluralismo, veicula interesses e se transforma em instrumento de poder. Já a informação não-ideológica está aberta à discussão e dispõe de espaços para opiniões diversificadas. Como vimos, a ideologia está presente no cotidiano, na propaganda, na mídia, nas atividades que julgamos inócuas, como ler quadrinhos, assistir à televisão, ler jornais e revistas, bem como em instituições às quais confiamos a nossa formação e a de nossas crianças: a escola. Contudo, precisamos lembrar que a tarefa de cada um questionar esse discurso, onde ele existe, a partir da vivência concreta, da procura por teorias que nos levam a aprender a analisar o mundo ao nosso redor, do trabalho crítico que empreendemos ao construir nossa existência. � Tema 6 - Relações sociais de gênero 6.1 Configurações de gênero na sociedade atual 6.2 Machismo e sexismo 6.3 Feminismo 6.4 Desigualdade e discriminação da mulher na cultura e na sociedade brasileira Introdução A construção ou formação de homens e mulheres é realizada por meio da educação e socialização, e essa construção é denominada de gênero. Na sociedade brasileira essa construção se caracteriza por um tratamento diferenciado entre homens e mulheres baseada nas diferenças sexuais, na desigualdade e na subordinação da mulher. Além da mulher, existem outros grupos de pessoas que são também discriminados, por não se adequarem ao modelo patriarcal construído e estabelecido como superior e de poder em nossa sociedade. Esses grupos são compostos pelos homossexuais masculino e feminino, transexuais e outros indivíduos de orientação sexual diversa. Desse modo, as definições de masculinidade, de feminilidade e as questões de gênero estão presentes em todas as nossas relações cotidianas, nas diversas classes sociais e etnias, pois o gênero é social e histórico. A desigualdade e a exclusão são percebidas em todos os espaços da sociedade e nos âmbitos econômico, político, social e cultural. À mulher foram atribuídas as denominadas “tarefas domésticas”, um exemplo da tirania masculina, da divisão sexista, da dominação, do poder e do seu enquadramento à esfera do lar. O espaço público e político foi reservado somente para os homens. Ainda hoje, em diversas áreas profissionais, percebe-se uma diferenciação salarial entre a mulher e o homem, ou seja, o salário da mulher é menor que o do homem, apesar de exercer a mesma função no trabalho. A discriminação entre os homossexuais masculino e feminino ou outros considerados diferentes são, também, práticas cotidianas em nossa sociedade, onde percebe-se a falta de tolerância e respeito com o outro designado como “diferente”. Assim, as relações de gênero abordam as interações entre as definições do que é o masculino e o feminino e as funções ou papéis estabelecidos para o homem e a mulher. O estudo do gênero, portanto, vem contribuir para o entendimento e reconhecimento da importância das relações sociais, suas diferenças, variações e mudanças na cultura, na sociedade, e em nossas próprias relações com o “outro”. E, o mais importante, é que contribua para se buscar uma sociedade com práticas de relações de gênero caracterizadas pela alteridade, pelo respeito e pelo direito à diferença. Exclusão e Minorias Fonte: APOSTILA FORMAÇÃO GERAL E ESPECÍFICA-2009. 2 / Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos O conceito "exclusão começou a ser usado pelas ciências sociais em meados da década de 80, especialmente após a crise dos Estados e paradigmas socialistas". A exemplo de muitos outros conceitos, tais como:"movimento", "revolução", "massa", etc, este também foi emprestado de outras ciências. Sua origem vem da lógica da matemática, especificamente, da teoria dos conjuntos, segundo a qual "forma-se conjunto com os elementos iguais". Portanto, pertencer ou não, estar incluído ou excluído depende do elemento ser igual ou diferente ao conjunto dos elementos predominantes. Essa ideia da lógica da matemática, para as ciências sociais tem sido um achado. O conceito é um instrumento para explicar de maneira clara, objetiva, precisa e didática o fenómeno que ocorre no mundo da globalização. A sociedade determinada, organizada e regida pela lógica do mercado é dc natureza excludente. Há na sua essência a mesma lógica inspiradora, "ordenadora" e "fundante" da teoria dos conjuntos. Como chave hermenêutica, o conceito exclusão nós permite enterder e explicar um fenômeno extremamente situado no seio da sociedade contemporânea, o qual, os velhos conceitos da teoria marxista, tais como: "luta de dasses", "dominação", "exploração", "oprimidos" ou "empobrecidos", não conseguiam atingir essa complexidade. Em geral, esses conceitos tinham uma forte influência de uma concepção economicista dos conflitos sociais. Por sua vez, o conceito exclusão nos permite perceber as diversas formas de se excluir na sociedade. A exclusão não ocorre apenas por motivos económicos, mas também, por motivos políticos, culturais, étnicos, religiosos, etários, sexuais, etc. De qualquer maneira, há no conceito uma forte carga política de denúncia. O conceito não é neutro, ingénuo ou inofensivo. Ele, entre outras coisas, denúncia uma situação de conflito e desigualdade. A exclusão é decorrente de uma lógica perversa que determina as relações sociais. No conceito está Implícito o outro aquele que faz exclusão, o vencedor. Os excluídos são seres concretos, historicamente derrotados e humilhados, à margem da vida social, descartáveis, quase sem perspectivas de vida. São os pobres, miseráveis, Indigentes, desempregados, doentes, portadores de deficiências, índios, negros, gays, lésbicas, etc, os que não tem acesso ao mercado, emprego, previdência, educação, saúde, terra, moradia e qualquer direito fundamental. São aqueles aos quais se lhes nega sistematicamente a ddadanla. Os excluídos têm na luta pela cidadania não só uma nova estratégia, mas um novo paradigma. A luta pela cidadania é a luta pelos direitos iguais. Isso, não só tem inspirado e mobilizado os excluídos, mas, assim dc tudo, tem nos permitido refletir sobre os fundamentos de uma nova sociedade baseada no direito igual entre os diferentes. Partimos do pressuposto de que as diferenças são naturais e não podem ser eliminadas e que o direito é uma condição civilizatória. Isto fica claro quando passamos a entender que a luta das mulheres pelos direitos iguais, não é uma luta para ser igual aos homens. A natureza as fez diferentes. Elas não podem, nem querem ser igual aos homens. Elas querem ter direitos iguais, para preservar, inclusive, suas diferenças. A mesma coisa podemos refletir acerca de todos os diferentes: estrangeiros, índios, negros, pessoas com deficiência, etc. Este paradigma é radicalmente contrário à lógica da exclusão. Segundo ele, há uma diferença substancial entre ser e ter. Somos seres diferentes, mas mesmo na diferença podemos TER direitos iguais. Assim a luta dos excluídos pela cidadania é também uma luta contra todo e qualquer discurso, politica ou estratégia de inclusão. A luta pela cidadania é a luta pela erradicação de toda e qualquer forma de exclusão. Ela é uma luta radical, contrária à lógica e às políticas compensatórias, onde os que praticam a exclusão, a fim de aliviar as consequências da mesma, são capazes de crias cotas, para incluir um e outro, mas não são capazes de pensar nem lutar pela erradicação da exclusão. Incluir significa admitir que haja exclusão. As políticas de inclusão pressupõem um direito tutelado. O problema é quem diz: "Vamos induir" e quem decide sobre que critério, princípios, abrangências e valores se incluem a quem dentro de quê? Dc tal maneira que, a luta por uma nova sociedade pressupõe de fato a erradicação de toda c qualquer forma de exclusão. 6.1 CONFIGURAÇões DE GÊNERO NA SOCIEDADE ATUAL Identidade de gênero Na sociedade, identidade de género se refere ao género em que a pessoa se identifica (i.e, se ela se identifica como sendo um homem, uma mulher ou se ela vê a si como fora do convencional), mas pode também ser usado para referir-se ao género que certa pessoa atribui ao indivíduo tendo como base o que tal pessoa reconhece como indicações depapol social de género (roupas, corte de cabelo, etc). Identidade do género de base é geralmente formada por três anos de idade e é extremamente difícil mudar depois disso.1^ Do primeiro uso, acredita-se que a identidade de género se constitui como fixa e como tal não sofrendo variações, independente do papel social de género que a pessoa se apresente. Do segundo, acredita-se que a identidade de género possa ser afetada por uma variedade de estruturas sociais, incluindo etnicidade, trabalho, religião ou irreligião, e família. Identidade de gênero - além do superficial Martin Van Maele. 1905 Na vasta maioria dos casos não há qualquer dificuldade em determinar sexo e género. A grande maioria dos seres humanos são considerados ou homens ou mulheres. Antes do século 20 o sexo de uma pessoa era determinado apenas pela aparência da genitália, mas quando passou-se a entender cromossomos e genes, estes passaram a ser usados para determinar o sexo. Normalmente, homens possuem genitália masculina e, um cromossomo X e um Y; e mulheres possuem genitália feminina e possuem dois cromossomos X. Entretanto algumas pessoas se consideram fora destas categorias, e alguns possuem combinações de cromossomos, hormônios, e genitália que não seguem as definições típicas de "homem'' e "mulher". Estudos recentes sugerem que um em cada cem indivíduos podem ter um sexo atípico. O caso em que se torna mais fácil de entender a necessidade de distinguir sexo e oênero é quando a genitália externa é removida - quando tal caso ocorre por acidente ou por intento deliberado, a libido e a habilidade de expressar uma atividade sexual sofrem alterações, mas não por esta razão o indivíduo deixa de considerar-se como garoto ou homem. Um caso como este é reportado em Sexo Trocado ("As The Nature Made Him") de John Colapinto. Este livro detalha a persistência da identidade de género masculina e a adesão a um papel social de género masculino de uma pessoa cujo pênis foi totalmente destruído logo após o nascimento devido a uma circuncisão mal feita, e que foi então subsequentemente redesignado pela construção de uma genitália feminina. Assim, o termo "identidade de género" não tem necessariamente relação com o sexo do individuo através da análise da genitália externa, dos genes ou dos cromossomos. Variantes na identidade de gênero Algumas pessoas sentem que sua identidade de gênero não corresponde com seu sexo biológico, sendo identificadas por pessoas transexuais ou pessoas intersexo em algumas situações. Como a sociedade insiste que os indivíduos devem seguir a maneira de expressão social (papel social de gênero) baseada no sexo estas pessoas sofrem uma pressão social adicional. Por outro lado existem também indivíduos transqêneros em que a identidade de gênero não está conforme a norma social dos dois gêneros macho/fêmea, idependentemente de terem ou não concordância com o sexo biológico com a maioria das suas manifestações de género social. No caso das pessoas intersexo, alguns indivíduos podem possuir cromossomos que não correspondem com a genitália externa. Isso devido desequilíbrios hormonais ou outros fatores incomuns durante os períodos críticos da gestação. Tais pessoas podem parecer para as outras como sendo de um determinado sexo, mas podem reconhecer a si mesmas como pertencendo a outro sexo. As razões para variantes da identidade de gênero não são claras.Isso tem sido causa de muita especulação, mas nenhuma teoria psicológica foi considerada consistente. Teorias que assumem uma diferenciação no cérebro são ainda recentes e difíceis de provar, porque no momento requerem uma análise destrutiva das estruturas cerebrais inatas, que são bastante pequenas. Nas últimas décadas se tornou possível redefinir o sexo cirurgicamente. Uma pessoa que não tenha concordância entre a sua identidade de gênero e características biológicas pode, então, buscar estas formas de intervenção médica para que seu sexo biológico seja correspondente com a identidade de gênero. Alternativamente, algumas pessoas mantêm a genitália com a qual nasceram, mas adotam um papel social de género que é congruente com a percepção que possuem de sua identidade de gênero! Relação entre identidade de gênero e papel social de género A percepção da diferenças entre os sexos ocorre na infância, Martin Van Maele. 1905 O termo relacionado, "papel social de género" possui dois significados que em casos individuais podem ser divergentes: Primeiro, o papel social de género de uma pessoa pode ser a totalidade de formas no qual uma pessoa pode expressar sua identidade de género. Segundo, o papel social de género das pessoas pode ser definido pelo tipo de atividades que a sociedade determina como apropriada para indivíduos que possuam determinado tipo de genitália externa. Há provavelmente tantas formas e complexidades de identidades sexuais e identidades de género como há seres humanos, e há um igual número de formas de trabalhar as identidades de género na vida diária. As sociedades, entretanto, tendem a designar alguns tipos de papeis sociais aos indivíduos "machos", e algumas classes de papeis sociais para indivíduos "fêmeas" (macho e fêmea na percepção social dos sexos). Muitas vezes a conexão entre identidade de género e papel social de género não é clara. Simplificando, há não-ambíguos "machos" humanos e não-ambígua "fêmeas" humanas que se sentem claramente como homens ou mulheres mas que não se comportam socialmente de forma convencionalmente masculina ou feminina. E para concluir, como muito têm defendido estudiosos em biologia e sociologia: "O sexo entre as orelhas é mais importante que o sexo entre as pernas". Diferentes visões sobre identidade Existem diversos fatores que envolve a formação de identidades, como a diferença entre os diversos tipos de identidade. A primeira das identidades a considerada primordial é a identidade de género homem ou mulher, pois queira ou não as pessoas já rotulam as outras diante disso. Portanto diferentes tipos de identidade são produto da construção da sociedade e da história onde mantém se a relação de poder de acordo com o modelo essencialista. onde a identidade vem da biologia, o que você é, é resultado da sua genética e a ciência vai de acordo com esse modelo. Há também o modelo de construtivismo em que a identidade é construída, transformada, pois não existem identidades que não passaram por mudanças ao longo dos anos e quando isso ocorre ela muda de acordo como é vista e interpretada pelos outros. Pois as transformações sociais são tão alarmantes quanto as tecnológicas, politicas e económicas, então as identidades que encontram se em comflito então no interior dessas transformações. Hoje em dia os conflitos são mais identitários (religião, cultura), em vez de ideológicos (comunismo, capitalismo), como já foi um dia. Portanto, atualmente existem inúmeras formas de identidade e essas apesar de serem muitas vezes contraditórias elas acabam se cruzando e podem até se completarem. 6.2 MACHISMO E SEXISMO O que é ser mulher? O que é ser homem? Subsídios para uma discussão das relações de gênero O que é ser mulher? O que é ser homem? Por que mulheres e homens vivem em condições de desigualdade? Por que se diz que algumas coisas são de mulheres e outras de homens? Por que as mulheres são consideradas inferiores e vivem situações de injustiça por serem mulheres? Conceito de gênero O conceito de gênero procura explicar as relações entre mulheres e homens. Ele surgiu após muitos anos de luta feminista e de formulação de várias tentativas de explicações teóricas sobre a opressão das mulheres. O conceito de gênero foi trabalhado inicialmente pela antropologia e pela psicanálise, situando a construção das relações de gênero na definição das identidades feminina e masculina. Esse conceito coloca claramente o ser mulher e ser homem como uma construção social, a partir do que é estabelecido como feminino e masculino e dos papéis sociais destinados a cada um. Por isto, gênero, um termo emprestado da gramática, foi a palavra escolhida para diferenciar a construção social do masculino e feminino do sexo biológico. A expressão "gênero" começou a ser utilizada justamente para marcar que as diferenças entre homens e mulheres não são apenas de ordem física, biológica. Ou seja, falar de relações de gênero é falar das características atribuídas a cada sexo pela sociedade e sua cultura. A diferença biológica é apenas o ponto de partida para a construção social do que é ser homem ou ser mulher. Sexo é atributo biológico, enquanto gênero é uma construção social e histórica. A noção de gênero, portanto, aponta para a dimensão das relações sociais do feminino e do masculino. As contribuições do conceito de gênero 1º) Ao afirmar a construção social dos gêneros, coloca que as identidades e papéis masculino e feminino não são um fato biológico, vindo da natureza, mas algo construído historicamente e que, portanto, pode ser modificado. 2º) As relações de gênero estruturam o conjunto das relações sociais. Os mundos do trabalho, da política e da cultura também se organizam conforme a inserção de mulheres e homens, a partir de seus papéis masculinos e femininos. 3º) Gênero supera as antigas dicotomias entre produção e reprodução, público e privado e mostra como mulheres e homens estão ao mesmo tempo em todas essas esferas, só que a partir de seu papel masculino ou feminino. Surgimento do conceito de gênero. O termo gênero começou a ser utilizado por teóricas e estudiosas de mulheres e do feminismo, no final da década de 70. Naquele momento, o movimento feminista ressurgia com força em todo o mundo, provavelmente por influência da onda revolucionária que percorrera a Europa, a China, a América Latina e EUA, no final da década de 60, com os grandes movimentos estudantis e a contestação dos papéis e comportamentos sexuais. A construção social da desigualdade de gênero As pessoas nascem bebês machos e fêmeas e são criadas e educadas conforme o que a sociedade define como próprio de homem e de mulher: Os adultos educam as crianças marcando diferenças bem concretas entre meninas e meninos. A educação diferenciada dá bola e caminhãozinho para os meninos e boneca e fogãozinho para as meninas, exige formas diferentes de vestir. Educados assim, meninas e meninos adquirem características e atribuições correspondentes aos considerados papéis femininos e masculinos. As crianças são levadas a se identificarem com modelos do que é feminino e masculino para melhor desempenharem os papéis correspondentes. Usamos a expressão relações de gênero para deixar bem claro que as desigualdades entre homens e mulheres são construídas pela sociedade e não determinadas pela diferença biológica entre os sexos. Elas são uma construção social, não determinada pelo sexo. A partir da consolidação do capitalismo, existe a idéia de que ocorre uma divisão entre as esferas pública e privada, sendo que a esfera privada é considerada como o lugar próprio das mulheres, do doméstico, do cuidado. A esfera pública é considerada como o espaço dos homens, dos iguais, da liberdade, do direito. Nessa compreensão, o papel feminino tradicional estabelece a maternidade como principal atribuição das mulheres e, com isso também o cuidado da casa e dos filhos, a tarefa de guardiã do afeto e da moral na família. Ela é uma pessoa que devesentir-se realizada em casa. O homem típico é considerado o provedor, isto é, o que trabalha fora, traz o sustento da família, realiza-se fora de casa, no espaço público. Para uma mulher, ainda é considerado mais adequado ser meiga, atenciosa, maternal, frágil, dengosa, e do homem, o que ainda se espera, é que tenha força, iniciativa, objetividade, racionalidade. Esse modelo de vida, em que os homens trabalham fora e as mulheres só fazem o trabalho doméstico, nunca existiu, de verdade, desse jeito. Na realidade, só uma parcela muito pequena de mulheres vive essa situação. As mulheres negras, por exemplo, sempre trabalharam fora de casa, primeiro como escravas e depois na prestação de serviços domésticos ou como vendedoras ambulantes, circulando por muitos espaços públicos. Para as mulheres camponesas, o que é chamado de cuidar da casa esconde o trabalho na roça, a produção de artesanato, o cultivo da horta e a criação de animais, trabalho que produz mercadorias, cuja venda contribui para o sustento da família. Além disso, nas cidades, muitas mulheres vivem sozinhas com seus filhos e são as principais responsáveis por sua manutenção. E muitas, muitas outras trabalham fora e dividem com o marido o sustento da casa. Divisão sexual do trabalho As relações de gênero são sustentadas e estruturadas por uma rígida divisão sexual do trabalho. O papel masculino idealizado é de responsabilidade pela subsistência econômica da família e a isso corresponde designar o trabalho do homem na produção. A atribuição do trabalho doméstico designa as mulheres para o trabalho na reprodução: ter filhos, criá-los, cuidar da sobrevivência de todos no cotidiano. O que se observa é que essa divisão entre trabalho reprodutivo e produtivo não é tão real assim. Há homens trabalhando no campo da reprodução e há muitas mulheres na produção. No entanto, o mito que designa um tipo de trabalho para cada gênero influencia o real. No caso das mulheres, a tentativa é sempre de considerar o trabalho realizado fora da casa como uma extensão do seu papel de mãe. As mulheres se concentram em atividades consideradas tipicamente femininas como serviço doméstico, professoras, enfermeiras, assistentes sociais. Em 1990, 30% das mulheres que se declararam como trabalhadoras na pesquisa do IBGE eram empregadas domésticas, costureiras e professoras primárias. Desigualdade e pobreza Como os homens é que são considerados os provedores da família, o trabalho profissional das mulheres é sempre visto como complementar às suas "responsabilidades" domésticas, estas, sim, sua verdadeira ocupação. A partir dessa idéia, surgem várias conseqüências negativas para as mulheres. A primeira é a de que os salários delas podem ser baixos, já que o que elas ganham é visto como suplementar: Quem não se lembra do Maluf dizer que o problema das professoras de São Paulo não era o salário baixo, mas serem mal-casadas? O resultado disso é uma enorme desigualdade na distribuição dos recursos e do poder na sociedade, entre homens e mulheres. Segundo a ONU, as mulheres executam 2/3 do trabalho realizado pela humanidade, recebem 1/3 dos salários e são proprietárias de 1 % dos bens imóveis. Dos quase 1,3 bilhão de miseráveis do mundo, 70% são mulheres. Sexualidade A sexualidade é uma questão bastante complexa. Podemos dizer que a sociedade tenta impor normas que refletem o que se considera mais correto de acordo com os papéis sexuais definidos pela construção dos gêneros. Por isso, o controle da sexualidade das mulheres, o controle da função procriativa e a criminalização do aborto fazem parte da opressão das mulheres. Dessa forma, a vivência da sexualidade foi desde vários séculos rodeada por tabus e mitos, que têm como ponto em comum, considerar pecado, desvio, doença, exagero, falta de pudor e até mesmo crime, as manifestações da sexualidade feminina. A partir disso, as mulheres em geral têm vivido sua sexualidade de acordo com os padrões impostos como os mais corretos, considerando o papel social de esposas "honestas" e mães dedicadas que lhes é destinado. Outras vivem como "profanas" e, portanto, indignas de respeito: são "as piranhas, as usadas, as fáceis, as putas". Uma das formas de definição desse modelo passou pelo estabelecimento de um duplo padrão do que é ou não correto em relação à sexualidade. Para os homens, a ideia da virilidade é sinônimo de muitas relações sexuais, de preferência com muitas mulheres diferentes. As mulheres, ao contrário, devem viver a sexualidade em função da reprodução, negando o prazer. A repressão à sexualidade feminina em boa parte se dá pelo desconhecimento do corpo e pela imposição de regras rígidas do que significa ser uma mulher "honesta". Violência contra as mulheres A violência contra as mulheres expressa a demonstração de poder dos homens e a ideia de que as mulheres são objeto de posse. É uma forma de reproduzir e manter o machismo e de dizer o tempo todo que a mulher é inferior: Esse tipo de violência se manifesta de muitas maneiras: espancamento, insultos, ameaças, estupros, assédio, assassinatos, mas também em formas sutis de desqualificação das mulheres, como quando alguém diz que uma mulher é boa profissional, "apesar de ser mulher". Em 2006, a luta contra a violência doméstica ganha a Lei Maria da Penha. Lei 11.340 decretada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em 7 de agosto de 2006; dentre as várias mudanças promovidas pela lei está o aumento no rigor das punições das agressões contra a mulher quando ocorridas no âmbito doméstico ou familiar. O caso nº 12.051/OEA, de Maria da Penha Maia Fernandes, foi o caso homenagem à lei 11.340. Ela foi espancada de forma brutal e violenta diariamente pelo marido durante seis anos de casamento. Em 1983, por duas vezes, ele tentou assassiná-la, tamanho o ciúme doentio que ele sentia. Na primeira vez, com arma de fogo, deixando-a paraplégica, e na segunda, por afogamento. Após essa tentativa de homicídio ela tomou coragem e o denunciou. O marido de Maria da Penha só foi punido depois de 19 anos de julgamento e ficou apenas dois anos em regime fechado, para revolta de Maria com o poder público. Em razão desse fato, o Centro pela Justiça pelo Direito Internacional e o Comitê Latino-Americano de Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem), juntamente com a vítima, formalizaram uma denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, que é um órgão internacional responsável pelo arquivamento de comunicações decorrentes de violação desses acordos internacionais. Essa lei foi criada com os objetivos de impedir que os homens assassinem ou batam nas suas esposas, e proteger os direitos da mulher. Família A sociedade estabelece um modelo-padrão de família, no qual se espera que todas as pessoas se enquadrem. O modelo considerado ideal de família em nossa sociedade é chamado mononuclear, ou seja, constituído por um núcleo que são o pai, a mãe e as filhas ou filhos, de preferência poucos, melhor ainda se forem um casal. A família é considerada o lugar de socialização das crianças, o lugar onde se criam e se educam. Na atualidade pós-moderna, existe uma profunda crise da família mononuclear. A reprodução do machismo Como mães e professoras, as mulheres muitas vezes reproduzem o machismo e as ideias dominantes na sociedade, que pregam a suposta inferioridade das mulheres em relação aos homens. Não podemos nos esquecer de que as ideias dominantes na sociedade são dominantes justamente porque estão na cabeça da maioria dos homens e das mulheres também. Essas ideias são repetidas à exaustão na família, na escola, nas igrejas, nos meios de comunicação. Meios de comunicação Os meios de comunicação têm se posicionado de maneira contraditória quanto às mulheres. Por um lado, abrem espaço para uma maior discussão sobre a condição feminina, Atualmente os meios têm dado alguma cobertura para a discussão sobre o aborto. Por outro lado, como a mídia não defendeinteresses homogêneos, também trata as mulheres nas propagandas, nas telenovelas, no noticiário, de forma a reforçar seu papel tradicional. O tratamento é diferenciado conforme o público que os meios querem atingir. Os programas mais informativos da televisão, por exemplo, são apresentados em horários menos nobres. Nas novelas, que são os programas mais assistidos, as mulheres são tratadas de forma muito estereotipada, mesclada com alguns momentos mais críticos. Nos programas de humor, praticamente não há momentos críticos, só repetição das ideias dominantes mesmo: mulher interesseira, loura burra, sogra horrenda. As revistas femininas, vendidas às centenas de milhares por mês, permanecem em assuntos estereotipados: moda, beleza, decoração, culinária, como cuidar dos filhos e como agarrar, agradar e conservar o seu homem. São raros os artigos que saem das ideias dominantes. Nas revistas ditas masculinas, o corpo das mulheres é exposto ao desfrute, transformando-as de pessoas em objeto sexual. Gênero e cidadania Outro aspecto importante relacionado ao gênero é o da cidadania. Como sabemos, as mulheres foram por muito tempo excluídas de direitos como, por exemplo, freqüentar a escola, votar, ter propriedades, trabalhar sem autorização do marido ou pai. Isso ocorria por uma série de razões. A estrutura familiar contribuía para barrar a participação feminina na vida pública porque necessitava das mulheres na esfera privada, cuidando dos filhos e da casa. Nas últimas décadas, muita coisa já mudou; no entanto, embora até o aspecto legal já tenha sido alterado, a realidade ainda apresenta muitas discriminações ligadas ao gênero. 6.3 FEMINISMO Muitas faces do feminismo no Brasil O conceito de feminismo aqui utilizado parte do princípio de que o feminismo é a ação política das mulheres. Engloba teoria, prática, ética e toma as mulheres como sujeitos históricos da transformação de sua própria condição social. Propõe que as mulheres partam para transformar a si mesmas e ao mundo. As mulheres nos movimentos A presença das mulheres na cena social brasileira nas últimas décadas tem sido inquestionável. Durante os 21 anos em que o Brasil esteve sob o regime militar, as mulheres estiveram à frente nos movimentos populares de oposição, criando suas formas próprias de organização, lutando por direitos sociais, justiça econômica e democratização. As mulheres estiveram presentes nas lutas democráticas e, simultaneamente, mostraram e têm demonstrado que diversos setores se inserem diferentemente na conquista da cidadania. As mulheres - novas atrizes -, ao transcenderem seu cotidiano doméstico, fizeram despontar um novo sujeito social: mulheres anuladas emergem como inteiras, múltiplas. Elas estavam nos movimentos contra a alta do custo de vida, pela anistia política, por creches. Criaram associações e casas de mulheres, entraram nos sindicatos, onde reivindicaram um espaço próprio. O movimento de mulheres que aparece durante os anos 70 rompeu com uma tradição segundo a qual as mulheres manifestavam publicamente valores tradicionais e conservadores, como ocorreu com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que precede o golpe militar (BLAY, 1987). O movimento de mulheres nos anos 70 trouxe uma nova versão da mulher brasileira, que vai às ruas em defesa de seus direitos e necessidades e que realiza enormes manifestações de denúncia das desigualdades. O movimento feminista que reapareceu no Brasil a partir de meados dos anos 70 teve algumas características dos movimentos que surgiram na Europa e nos Estados Unidos nos anos 60. O ano de 1975 é freqüentemente citado como aquele em que os grupos feministas reapareceram nos principais centros urbanos. Naquele ano, quando muitas vozes dissidentes eram sistematicamente silenciadas pelos militares brasileiros, a proclamação da Década da Mulher pelas Nações Unidas ajudou a legitimar demandas incipientes de igualdade entre homens e mulheres. As mulheres souberam aproveitar a brecha e organizaram encontros, seminários, conferências, principalmente nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. Os primeiros grupos feministas criados na década de 1970 nasceram com o compromisso de lutar tanto pela igualdade das mulheres como pela anistia e pela abertura democrática. Muitas mulheres passaram a dirigir sua atuação, por intermédio dos grupos recém-criados, para lutas em bairros e comunidades das periferias urbanas, da Igreja católica, em clubes de mães, associações de vizinhança, onde donas de casa e mães se reuniam, organizavam-se e mobilizavam-se por questões do cotidiano. Os grupos feministas e os movimentos populares de mulheres proliferaram durante os anos 70 e início dos 80. As comemorações do Dia Internacional da Mulher se constituíram em momentos-chave para a organização de fóruns das mulheres, articulando protestos públicos contra a discriminação de sexo e uma agenda de reivindicações, consolidando uma coordenação de mulheres e laços de solidariedade. Anos 90: uma explosão A década de 1980 foi marcada pela reconstrução das instâncias da democracia liberal: reorganização partidária, eleições para os diversos níveis, reelaboração da Constituição do país, eleições presidenciais etc. Assim, o movimento feminista, a partir de 1981, ficou mais complexo em sua organização e mais diverso ideologicamente. Com a reorganização partidária, Muitas mulheres privilegiaram a atuação nos partidos. A partir de então, apareceu uma nova militante nos partidos políticos, a feminista, e nestes espaços o tema mulher tornou-se alvo de debate, item obrigatório dos programas e plataformas eleitorais dos partidos progressistas, como resultado da visibilidade que as questões das mulheres ganharam, trazidas pelos seus movimentos. Uma outra consequência foi a tentativa de incorporar suas reivindicações nas políticas sociais do Estado por iniciativa das militantes feministas nos partidos. São criadas instâncias com a finalidade de pensar e propor políticas públicas, que remetem à questão da igualdade/diferença: igualdade de direitos e condições diferentes de exercer estes direitos. Os anos 90 também se caracterizaram pela introdução de novas temáticas: as ações afirmativas, as cotas mínimas de mulheres nas direções dos sindicatos, partidos políticos e, mais recentemente, nas listas de candidaturas aos cargos legislativos, como medidas para superar a quase ausência das mulheres nesses ambientes. Recentemente, a luta pelo direito das mulheres ao aborto tem sido alvo de muitos debates e reportagens na grande imprensa. Esse é um velho tema das feministas, mas no Brasil só após a democratização tem envolvido em maior número as mulheres. Dia Internacional das Mulheres – mulheres na luta por justiça Origens da data A referência histórica principal da instituição do Dia Internacional da Mulher é a II Conferência Internacional das Mulheres Socialistas em 1910, em Copenhague, na Dinamarca, quando Clara Zetkin, dirigente do Partido Social Democrata Alemão, propôs a resolução de instaurar oficialmente um dia internacional das mulheres. Nessa resolução, não se faz nenhuma alusão ao dia 8 de março. A versão mais popularizada é uma homenagem às 129 operárias têxteis que durante uma greve, no dia 8 de março de 1857, em Nova York, morreram queimadas na fábrica onde trabalhavam quando reivindicavam redução da jornada de trabalho e aumento salarial. Os donos da empresa teriam sido os responsáveis pelo incêndio criminoso. Diferentes versões Para a pesquisadora canadense Renée Cote, os verdadeiros fatos e datas das misteriosas origens do 8 de março, até hoje confusas, maquiadas e esquecidas, não há fontes históricas que registrem essa greve, e sim uma série de lutas das mulheres para se firmarem. Outra versão para a escolha do 8 de março está na ligação dessa data com a participação ativa das operárias russas em ações que desencadearam a Revolução russa de 1917. Naquele ano, uma ação das operárias realizadano dia 8 de março – no calendário ocidental foi o fato político que precipitou o início das ações revolucionárias que tornaram vitoriosa a Revolução Russa. Em Petrogrado, explodiu uma greve de tecelãs e costureiras. Contrariando a decisão do partido, que defendia que aquele não era o momento ideal para a mobilização, 90 mil trabalhadoras saíram às ruas exigindo paz e alimento. A manifestação foi considerada o estopim da revolução. Apesar de diferentes, as versões guardam entre si a semelhança da histórica reivindicação feminina por melhores condições de trabalho e vida. Evidenciam também que as mulheres historicamente estiveram nas lutas sociais em todo o mundo. Luta no Brasil No Brasil, a luta feminista conquista manifestação expressiva no Ano Internacional da Mulher, comemorado em 1975 e que refletiu de forma positiva no movimento de mulheres, instaurando definitivamente o 8 de março como data integrante da agenda de luta dos movimentos sociais e organizações de trabalhadores do país. A partir de então, grupos e entidades feministas se organizaram ou ganharam força para encaminhar as atividades. Grandes manifestações promovidas por mulheres organizadas em partidos, sindicatos e outras entidades passaram a tomar as ruas. 100 anos de conquistas das mulheres Entrada no mundo do trabalho, direito ao voto, mudança de comportamento, pílula anticoncepcional, liberdade sexual e afetiva, divórcio, luta por melhores salários e por igualdade de direitos. Tudo isso começou há cem anos pelas mãos das primeiras feministas que lideraram greves, revoltas e desafiaram a sociedade. Hoje, as mulheres fazem suas próprias escolhas, são autônomas, independentes e capazes de assumir qualquer tarefa. As mulheres conquistaram a liberdade, embora ainda haja um longo caminho a ser trilhado para uma sociedade mais justa e igualitária para todos. Emancipação feminina A luta das mulheres teve seu auge na década de 1960, no mundo ocidental, quando o movimento conquistou espaço público e político e fortaleceu os demais movimentos de emancipação. A década foi marcada pela efervescência das lutas sociais pela democracia, contra a guerra, o racismo e o capitalismo. As mulheres tinham suas próprias bandeiras e lideraram a luta pela igualdade de direitos. Todos queriam mudar o mundo e elas conseguiram. Um das conquistas, foi o voto, a chamada à consciência da cidadania. Em 1932, a mulher brasileira já tinha o direito de escolher os candidatos nas eleições. Mas tudo foi fruto da luta das sufragistas da época como Chiquinha Gonzaga, que teve um papel fundamental nesse processo. Apesar da conquista do voto nos anos 1930, a mulher brasileira começou a sair do mundo doméstico somente a partir dos anos 1940 e 50. O feminismo brasileiro só ganhou força nos anos 1970, com os movimentos sexistas (das mulheres contra os homens) e legalistas (que lutavam por direitos no campo jurídico). O feminismo começou radical, uma forma de enfrentamento entre homens e mulheres. Com o tempo, ele foi encontrando o seu caminho através da vivência no movimento. Nos anos 1980, começamos a compreender que a igualdade só viria de fato com a transformação da sociedade, quando todos tiverem direito à terra, ao trabalho e a melhores condições de vida. Os anos de 1975 a 1985 foram declarados pela ONU – Organização das Nações Unidas – como a Década da Mulher. Foi nesse período que o movimento feminista do Brasil teve um grande desenvolvimento e seguiu avançando nas décadas seguintes. Na década de 1980, questões sobre direitos civis também ganharam espaço na discussão da constituinte brasileira. As questões femininas foram tratadas de forma especial e a constituição foi bastante cidadã em termos de direitos da mulher. Principais conquistas das mulheres 1910 - A Conferência Internacional na Dinamarca estabelece o 8 de março como o “Dia Internacional da Mulher”, em homenagem às mulheres que morreram numa fábrica têxtil em Nova York, em 1857. A data foi oficializada pela ONU em 1975. 1932 – o voto feminino foi definitivamente conquistado no Brasil. 1962 – O Código Civil Brasileiro, de 1916, é alterado concedendo o direito das mulheres trabalharem fora do lar sem a autorização do marido ou do pai e, em caso de separação do casal, o direito à guarda do filho. 1988 – Com o “lobby do batom as mulheres incluíram 122 emendas na Constituição Federal Brasileira. A partir daí, direitos como licença maternidade, políticas contra a discriminação no mercado de trabalho e maior igualdade entre homens e mulheres começam a valer. 1995 – Realizada a IV Conferência Mundial das Nações Unidas sobre a Mulher em Pequim, China,que marcou o reconhecimento definitivo do papel econômico e social da mulher. 1996 – Instituído o sistema de cotas, na legislação eleitoral, obrigando os partidos políticos a inscreverem no mínimo 30% de mulheres em suas chapas proporcionais. 2006 – Lei Maria da Penha 2010 – entra em vigor a lei que amplia a licença maternidade para seis meses. Trabalho de casa? Trabalho de mulher? Já é lugar comum se comentar sobre a ampliação da participação das mulheres no mercado de trabalho. Afinal, hoje, elas formam 43,6% da força de trabalho no Brasil. Mas muito pouco se fala sobre o outro lado da moeda: o trabalho dentro de casa, aquelas tarefas que são indispensáveis no cotidiano. Quando comparamos o número de horas dedicados ao trabalho doméstico realizado por homens e mulheres. Segundo dados da PNAD (Pesquisa Nacional de amostra de Domicílios), em 2008, trabalhando fora, as mulheres dedicam até 25 horas semanais aos afazeres domésticos. Os homens registram em média 10 horas semanais com o trabalho doméstico. Além das atividades realizadas na própria casa, como cuidar da alimentação, do vestuário, da limpeza da casa, atender as necessidades das crianças, nesses afazeres também se incluem as atividades relacionadas ao acompanhamento da saúde, o cotidiano da escola, a atenção aos familiares idosos etc. Mas, mesmo tendo, em média, uma jornada menos longa no trabalho remunerado, a jornada total de trabalho das mulheres é significativamente mais extensa que a dos homens. Uma das principais razões das desigualdades entre mulheres e homens em relação ao emprego e renda decorre do fato de serem mulheres consideradas as responsáveis pelas tarefas domésticas, pelo cuidado com as crianças e a família. 6.4 DESIGUALDADE E DISCRIMINAÇÃO DA MULHER NA CULTURA E NA SOCIEDADE BRASILEIRA Gênero e exclusão social A exclusão que atinge a mulher se dá, às vezes, simultaneamente, pelas vias do trabalho, da classe, da cultura, da etnia, da idade, da raça, e, assim sendo, torna-se difícil atribuí-la a um aspecto específico desse fenômeno, em vista de ela combina vários dos elementos da exclusão social. A exclusão social remonta à antiguidade grega, onde escravos, mulheres e estrangeiros eram excluídos, mas o fenômeno era tido como natural. A exclusão, em sua essência, é multidimensional, manifesta-se de várias maneiras e atinge as sociedades de formas diferentes, sendo os países pobres afetados com maior profundidade. Os principais aspectos em que a exclusão se apresenta dizem respeito à falta de acesso ao emprego, a bens e serviços, e também à falta de segurança, justiça e cidadania. Assim, observa-se que a exclusão se manifesta no mercado de trabalho (desemprego de longa duração), no acesso à moradia e aos serviços comunitários, a bens e serviços públicos, à terra, aos direitos etc. A exclusão social da mulher é secular e diferenciada. É sabido que o fenômeno da exclusão não é específico da mulher, mas atinge os diferentes segmentos da sociedade. A exclusão é gerada nos meandros do econômico, do político e do social, tendo desdobramentos específicos nos campos da cultura, da educação, do trabalho, das políticas sociais, da etnia, da identidade e de vários outros setores. A reprodução da exclusão social feminina As relações entre homens e mulheres, ao longodos séculos, mantêm caráter excludente. São assimiladas de forma bipolarizada, sendo designada à mulher a condição de inferior, que tem sido reproduzida pela maioria dos formadores de opinião e dos que ocupam as esferas de poder na sociedade. Aristóteles afirmava que a mulher é fêmea em virtude de certas características: é mais vulnerável à piedade, chora com mais facilidade, é mais afeita à inveja, à lamúria, à injúria, tem menos pudor e menos ambição, é menos digna de confiança, é mais encabulada. Os ideólogos burgueses destacaram sua inclinação natural para o lar e a educação das crianças. Nesse sentido, Rousseau vê a mulher como destinada ao casamento e à maternidade. Kant a considera pouco dotada intelectualmente, caprichosa indiscreta e moralmente fraca. Sua única força é o encanto. Sua virtude é aparente e convencional. Esses são alguns dos atributos imputados à mulher, que reforçam a base da exclusão do feminino na sociedade e cuja reversão tem tomado longo tempo das feministas na sua busca por construir conceitos de eqüidade entre os dois sexos. A tradicional exclusão da mulher na esfera do trabalho O preconceito de inferioridade designado ao sexo feminino, durante séculos – através da religião, das leis, da escola e da família, onde, cotidianamente, a própria mulher reproduz a superioridade masculina através da educação familiar ou informal – é apropriado, inclusive, pelo capital e reproduzido nas relações de trabalho pelo mesmo sistema capitalista. No mercado, dada a sua condição de mulher (paciente, obediente, dedicada etc.), vende a sua força de trabalho a preço mais baixo: o seu trabalho é considerado ajuda no orçamento familiar; concentra as atividades em setores extensivos do doméstico, a exemplo da educação, saúde, assistência social, enfermagem e têxtil. 1968: O ANO QUE NÃO TERMINOU Maio francês de 1968 1968: ano mítico – ponto de partida para uma série de transformações políticas, éticas, sexuais e comportamentais, que afetaram as sociedades da época de uma maneira irreversível. Foi o marco para os movimentos ecologistas, feministas, das ONGs e dos defensores das minorias e dos direitos humanos sufocados por um mundo burocratizado e repressivo: jovens queriam lutar pela liberdade de viver de uma forma diferente Defendia a liberalização dos costumes: imprensa feminina discutia a sexualidade Henry Weber (líder estudantil 1968) “No plano da autoridade, era a família patriarcal. O marido era todo poderoso, a mulher não tinha o direito de abrir uma conta no banco. Era uma sociedade de outra idade. No plano da moral era a velha moral católica, repressiva e as relações fora do casamento eram muito mal vistas. A homossexualidade era considerada quase uma doença... Para Zuenir Ventura “a sociedade brasileira era muito autoritária; havia uma dominação muito grande do homem sobre a mulher; do professor sobre o aluno; do marido sobre a mulher; pai sobre o filho e 1968 mexeu com tudo isso, ou seja, com este esquema rígido. Cidades universitárias: regulamentos para separar rapazes das garotas; livros eram censurados (os eróticos); filmes proibidos Legião de estudantes universitários e colegiais: desenvolvimento de uma “cultura própria” – música, moda (jeans e minissaia) e linguagem Geração “baby boom” aspirava= liberdade, autonomia e emancipação O que foi a rebelião estudantil no maio francês de 1968? - Reitoria proibiu que os rapazes visitassem as moças em seus dormitórios -Daniel Cohn-Bendit liderou uma manifestação contra o reitor e esta foi reprimida pela polícia - Conflitos no Quartier Latin e a Sorbonne é fechada - Passeatas estudantis - “noite das barricadas” (10/5/68) = rapazes e moças jogam nos policiais paralelepípedos e estes utilizam gás lacrimogêneo - Greves gerais: estudantes + operários Revolução sexual: motor de 1968. O termo "revolução sexual" é comumente usado para descrever o movimento sócio-político testemunhado entre meados dos anos 1960 e início dos anos 1970. Foi no auge de 1968 que as proibições caíram por terra. Os códigos morais, religiosos e econômicos que reprimiam os impulsos de homens e mulheres foram contestados. A combinação de protestos estudantis, movimentos Contracultura e contraceptivos levou à liberação sexual. As conquistas dessa revolução sobreviveram, mas seu valor ainda é contestado. Legado de 1968: expansão do movimento feminista mudanças no “modelo familiar” e o lugar da criança na sociedade (pais passaram a manter um diálogo com os filhos) liberação sexual Conquistas da revolução sexual princípio do tratamento de doenças sexualmente transmissíveis uso de métodos contraceptivos como a pílula e a camisinha igualdade no seio da família mudanças nas relações entre homens e mulheres liberação das mulheres mobilização dos movimentos homossexuais início de uma maior comercialização e mercantilização da sexualidade através da pornografia relaxamento da censura A emancipação feminina e a Revolução Sexual Durante a Segunda Guerra Mundial, com a Europa praticamente rendida às forças alemãs, a Inglaterra teve que suportar um brutal esforço de guerra. A maior parte dos homens estava na frente de combate, mas o país não podia parar. Assim as mulheres tomaram o lugar dos homens nas fábricas, nos estaleiros, a conduzir comboios ou a operar máquinas. A indústria bélica estava mais ativa que nunca e eram as mulheres que construíam os tanques, as armas e os aviões. Com os homens fora eram elas que agora tomavam o lugar deles. Depois da guerra nada voltou a ser como dantes. Se precisaram delas naquela altura de crise não era agora que as mulheres iam permitir que as relegassem de novo para segundo plano. A verdadeira revolução feminina começou quando Katherine Mccormick e Margareth Sanger desafiaram e financiaram o cientista Gregory Pincus para que criasse uma pílula contra a gravidez que fosse fácil de usar, eficiente e barata. O trabalho de Pincus deu frutos e em 1957 era aprovada a venda do Enovid-10, um contraceptivo oral vendido como um medicamento para complicações menstruais. Só a 18 de Novembro de 1960 seria abertamente aprovada a sua venda como método contraceptivo. Com a pílula a mulher estava agora livre para viver em pleno a sua sexualidade sem o receio de engravidar. A generalização do uso do contraceptivo oral não foi fácil, perante a resistência da igreja e da sociedade machista, muitas mulheres foram obrigadas a tomá-lo à revelia dos próprios maridos. Em 1967, apenas alguns meses antes do início dos protestos do Maio de 1968, era aprovada a venda da pílula em França. A pílula foi a grande invenção que permitiu a libertação da mulher e conduziu à grande revolução sexual que levou ao Maio de 68 e ao "Verão do Amor". Em 1969 a revolução sexual e a contestação à guerra do Vietnã atingiam o seu auge com três dias de amor, paz e música, em Woodstock, uma pequena localidade rural do Estado de Nova Iork. A revolução sexual de 1968 – Renata Rios Entre os anos 60 e 70 se passou a revolução sexual. O auge desta foi em 1968, o ano das mudanças de maneira geral. Em vários aspectos esse ano transformou o mundo, desde questões políticas até lutas feministas como a pelo direito ao uso da pílula. O estopim da luta ocorreu em Maio de 68, quando alunos da universidade de Nanterre lutaram pelo direito de dormir no mesmo dormitório homens e mulheres. As mudanças comportamentais se propagaram por todo mundo. A luta pela liberdade tinha várias finalidades, dentre elas igualar os direitos de homens e mulheres, criar um clima de aceitação. O sexo passou a ser algo banal, houve uma tentativa de acabar com o tabu que o assunto carregava. Enquanto as feministas lutavam pelo direito aos métodos contraceptivos outros grupos lutavam pelo direito de existir, os homossexuais é um exemplo desses grupos. A discriminação e a repressão era muito presente e com a revolução os reprimidos avistaram a chance de se impora sociedade. Temas como o uso da pílula também entrou na revolução. As mulheres lutavam pelo direito à escolha de ter ou não filhos, assim deixariam de ser objetos sexuais, que por acaso produziam herdeiros, e poderiam passar a ser parte do mercado de trabalho. A escolha viria em um momento muito oportuno uma vez que uma das justificativas para a não empregar as mulheres era o longo período que a mulher se ausentava a cada gravidez. A mulher ganhou espaço no mercado de trabalho e agora tentava, apesar da discriminação remanescente, caminhar com as próprias pernas. A revolução sexual não conseguiu tudo que se propôs, mas foi responsável por grandes avanços. Devido a maior liberdade perdeu-se boa parte da vergonha de se abordar temas relacionados ao sexo, isso não só contribuiu para uma maior comercialização de coisas relacionadas ao sexo como também permitiu o inicio do tratamento de DSTs. A revolução trouxe a liberdade para se usar métodos contraceptivos, como a pílula e a camisinha. As mudanças na relação homem mulher, a igualdade nas famílias, as conquistas feministas e homossexuais também são um avanço. Mas talvez em curto prazo a maior conquista para a época foi o relaxamento da censura, que permitiu uma maior mobilização pelo fim da ditadura e a volta à democracia. � TEMA 7 - REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E GEOPOLÍTICA Reestruturação produtiva e toyotismo Globalização e Neoliberalismo A globalização e a crise financeira mundial Reflexos político-institucionais, econômicos e sociais da globalização no Brasil 7.1 REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E TOYOTISMO A crise do modelo de produção taylorista/fordista e a emergência do toyotismo� Márcia Naiar Cerdote Pedroso� “O mundo atual parece, mais do que nunca, um mundo convulsionado. Profundas transformações tecnológicas revolucionam o modo de produzir nossa vida material, com enormes implicações sobre a organização da produção e do trabalho; nossos modos de vida e de organização social são violentamente modificados”. (Márcia de Paula Leite). Nos últimos anos, particularmente a partir da década de 1970, o mundo passou a presenciar uma crise do sistema de produção capitalista. Após um período próspero de acumulação de capitais, o auge do fordismo e do keynesianismo das décadas de 1950 e 1960, o capital passou a dar sinais de um quadro crítico, que pode ser observado por alguns elementos como: a tendência decrescente da taxa de lucro decorrente do excesso de produção; o esgotamento do padrão de acumulação taylorista/fordista� de produção; a desvalorização do dólar, indicando a falência do acordo de Bretton Woods; a crise do Welfare State ou do “Estado de Bem-Estar Social”; a intensificação das lutas sociais (com greves, manifestações de rua) e a crise do petróleo que foi um fator que deu forte impulso a esta crise. Esta “crise estrutural do capital” impulsionou, principalmente nos anos 1980 e 1990, uma gama de transformações sócio-históricas que afetam das mais diversas formas a estrutura social. Nestas condições o sistema capitalista vai buscar várias formas de restabelecer o padrão de acumulação. Neste sentido é que se insere a implementação de um amplo processo de reestruturação do capital, com vistas a recuperar o seu ciclo produtivo, o que afetou fortemente o mundo do trabalho, promovendo alterações importantes na forma de organização da classe dos trabalhadores assalariados. Neste contexto, o modelo de produção taylorista/fordista, que vigorou na grande indústria ao longo do século XX, particularmente a partir da segunda década, mostra-se em decadência. Harvey (2002) salienta que a base do método de produção de F. W. Taylor e Henry Ford era a separação entre gerência, concepção, controle e execução. O que havia em especial em Ford e que em última análise distingue o fordismo do taylorismo era o seu reconhecimento explícito de que produção em massa significava consumo em massa, um novo sistema de reprodução da força de trabalho, uma nova política de controle e gerência do trabalho, em suma, um novo tipo de sociedade democrática e racionalizada. Em muitos aspectos, as inovações de Ford eram mera extensão de tendências bem-estabelecidas, ele fez pouco mais do que racionalizar velhas tecnologias e uma detalhada divisão do trabalho pré-existente. Ford lançou as bases de um sistema em que os próprios trabalhadores – até então vistos como mão-de-obra a ser usada no limite de suas potencialidades – deveriam ser considerados também como consumidores. Assim, em síntese, podemos afirmar que o sistema taylorista/fordista caracteriza-se pelo: padrão de produção em massa, objetivando reduzir os custos de produção, bem como ampliar o mercado consumidor; produção homogeneizada e enormemente verticalizada obedecendo à uniformidade e padronização, onde o trabalho é rotinizado, disciplinado e repetitivo; parcelamento das tarefas, o que conduzirá o trabalho operário à desqualificação. Em linhas gerais, nos anos 70 se evidenciou a crise do fordismo norte-americano. E as mobilizações que haviam movimentado as instituições de poder desde o final da década de 60, rebelando-se contra aquele padrão de trabalho e de vida não conseguiram impor alternativa. Nesta medida, o enfraquecimento da resistência dos trabalhadores foi um fator importante para abrir caminho ao movimento do capital. Desta forma, os desdobramentos da crise da década de 70 englobam mudanças fundamentais, que se tornam evidentes com o esgotamento do padrão fordista. Nas palavras de Antunes: Como resposta à sua própria crise, iniciou-se um processo de reorganização do capital e de seu sistema ideológico e político de dominação, cujos contornos mais evidentes foram o advento do neoliberalismo, com a privatização do Estado, a desregulamentação dos direitos do trabalho e a desmontagem do setor produtivo estatal, da qual a era Thatcher-Reagan foi expressão mais forte; a isso se seguiu também um intenso processo de reestruturação da produção e do trabalho, com vistas a dotar o capital do instrumental necessário para tentar repor os patamares de expansão anteriores (Antunes, 2002, p. 31). Neste momento inicia-se uma mutação no interior do padrão de acumulação, visando alternativas que dessem um novo dinamismo ao processo produtivo que dava sinais de esgotamento. O capital iniciou um processo de reorganização de suas formas de dominação, não só reorganizando em termos capitalistas de produção, mas também buscando a gestão da recuperação de sua hegemonia nas diversas esferas da sociabilidade�. Intensificam-se as transformações no processo produtivo, através do avanço tecnológico, da constituição de formas de acumulação flexível e dos modelos alternativos ao binômio taylorismo/fordismo, no qual se destaca especialmente o modelo toyotista� ou modelo japonês. O toyotismo assume e desenvolve novas práticas gerenciais e empregatícias tais como just in time/kanban�, controle de qualidade total e engajamento estimulado. Elas surgem como uma nova via de racionalização do trabalho, centradas na produção enxuta� (também denominada lean production), adequadas a uma nova ordem do capitalismo mundial. Na observação de Chesnais (1996, p. 35), “em cada fábrica e em cada oficina, o princípio de ‘lean production’, isto é, sem ‘gordura de pessoal’ tornou-se a interpretação dominante do modelo ‘ohnista’ japonês de organização do trabalho”. No final das últimas décadas o toyotismo assume uma posição de objetivação universal tornando a flexibilidade� num valor universal para o capital. De acordo com Alves (2000), as condições originárias do toyotismo partem da lógica do “mercado restrito”, surgindo sob a égide do capitalismo japonês dos anos 1950, caracterizado por um mercado interno débil. Por isso tornou-se adequado, em sua forma de ser, às condições do capitalismo mundial dos anos 1980, caracterizado por uma crise de superprodução que coloca novas normas de concorrência. Foi o desenvolvimento (da crise) capitalista que constituiu, no entanto, os novospadrões de gestão da produção de mercadoria, tal como o toyotismo. As economias de escala buscada na produção fordista de massa foram substituídas por uma crescente capacidade de manufatura e uma variedade de bens a preços baixos em pequenos lotes. As economias de escopo substituem as economias de escala�. Numa análise feita pelo sociólogo Coriat, que apreendeu com perspicácia os nexos contingentes do novo modo de racionalização do trabalho, ele coloca que: (...) o toyotismo procurou responder à interrogação, posta pelo capital diante das condições do mercado japonês dos anos 50 (e que é, de certo modo, posta sob o capitalismo mundial na crise de superprodução): o que fazer para elevar a produtividade quando as quantidades não aumentam? O que impulsionou – e impulsiona – o toyotismo, em seu aspecto ontológico foi, e ainda é, ‘buscar origens e naturezas de ganhos de produtividade inéditas, fora dos recursos das economias de escala e da padronização taylorista e fordista, isto na pequena série e na produção simultânea de produtos diferenciados e variados (Coriat, apud Alves, 2000, p. 37). O novo método de gestão da produção, impulsionado, em sua gênese sócio-histórica pelo Sistema Toyota, tornou-se adequado à nova base técnica da produção capitalista vinculada a Terceira Revolução Industrial que exige novas condições de concorrência e de valorização do capital a partir da crise dos anos 1970. Este é um período de mudanças na estrutura produtiva, uma fase de transição denominada de pós-fordismo. Sendo os aspectos mais decisivos desta fase o aumento da flexibilidade em escala global, a mobilidade de capital e a liberdade para colonizar e mercantilizar praticamente todas as esferas, destruindo-se as fronteiras sociais e espaciais relativamente fixas e gerando-se uma descentralização da produção. Porém, sobre a transição do fordismo para o pós-fordismo devemos evitar pronunciamentos que supõem a idéia de que as características do fordismo tenham sido eliminadas nos dias atuais. Ao contrário, elas afirmam a complexidade das condições presentes que envolvem a contínua existência de características básicas do fordismo. Até mesmo Ohno e Krafcik, proponentes dos novos métodos de produção, reconheceram que é mais importante insistir sobre as continuidades do que sobre as rupturas do toyotismo com relação ao taylorismo/fordismo. De certo modo o toyotismo conseguiu superar alguns aspectos predominantes da gestão de produção da grande indústria do século XX inspiradas no taylorismo e fordismo, que instauraram a parcelização e a repetitividade do trabalho. Mas, por trás da intensificação do ritmo do trabalho que existe no toyotismo, persiste uma nova repetitividade do trabalho. Alves (2000, p.11) denomina este cenário de “‘o novo complexo de reestruturação produtiva’ que envolve um sistema de inovações tecnológico-organizacionais no campo da produção capitalista”. Este processo ocorre sustentado nas novas políticas de gestão/organização do trabalho fundadas na “cultura da qualidade” e numa estratégia patronal que visa a cooptar e neutralizar todas as formas de organização e resistência dos indivíduos. São políticas que por um lado, “incluem” uma elite neste novo padrão que está sendo gestado e, por outro, “excluem” - através do desemprego e das formas precária de contratação/subcontratação. É importante ressaltar que, o atual processo de reestruturação produtiva não vem se produzindo no âmbito especifico de qualquer país ou região, mas vem se produzindo no contexto de um conjunto de transformações que ocorrem em nível mundial desde meados dos anos 1970. Isto significa reconhecer este processo dentro do contexto da globalização econômica, o que implica, portanto, reconhecer a presença de um processo mundial de transformações. A emergência desta Nova Era conduzida pelos impactos do toyotismo promove uma série de alterações decisivas na estrutura de classe, ocorrendo uma fragmentação da classe trabalhadora, cujos principais aspectos sociais são o desenvolvimento, por um lado, de uma subproletarização tardia�,e, por outro, do desemprego estrutural. Com base nestes pressupostos posso dizer que esta seja uma das principais características do novo perfil do mundo do trabalho que coloca novas provocações para o trabalho assalariado. Portanto, as últimas décadas assistiram - sobretudo a partir da crise dos anos 1970 – a uma profunda reestruturação do sistema capitalista, que pode caracterizar-se por aspectos como a globalização da economia, a utilização massiva das novas tecnologias nos sistemas produtivos, a reestruturação organizacional e a renovação das técnicas de administração das empresas, incrementos fortes na produtividade do trabalho e que buscam níveis cada vez mais sofisticados da formação da força de trabalho. Como afirma Castells (2005), o trabalho humano há décadas vem sendo transformado, primeiro a mecanização, depois a automação, sempre provocando debates semelhantes sobre questões relacionadas à demissão de trabalhadores, “desespecialização” versus “reespecialização”, “produtividade” versus “alienação”, “controle administrativo” versus “autonomia dos trabalhadores”. Assim, podemos concluir afirmando que estamos diante de um intenso processo de transformação do mundo do trabalho, com a emergência de novos modelos de produção, acompanhados do crescente avanço tecnológico. Desta forma, assistimos a construção de uma nova ordem econômica, na qual o conhecimento assume um papel primordial. Esse novo momento redimensiona a demanda de trabalho e afeta diretamente os trabalhadores. Estamos, portanto, no limiar de um novo processo histórico. 7.2 GLOBALIZAÇÃO E NEOLIBERALISMO O que é Globalização? (Fonte: http://orbita.starmedia.com) Chama-se globalização, ou mundialização, o crescimento da interdependência de todos os povos e países da superfície terrestre. Alguns falam em “aldeia global”, pois parece que o planeta está ficando menor e todos se conhecem (assistem a programas semelhantes na TV, ficam sabendo, no mesmo dia, o que ocorre no mundo inteiro). Um exemplo: “Você vê, hoje, uma indústria de automóveis que fabrica um mesmo modelo de carro em montadoras de 3 países diferentes e os vende em outros 5 países. As empresas não ficam mais restritas a um país, seja como vendedora ou produtora.” Globalização 1. “Mundialização” – Crescimento da interdependência de todos os povos. 2. “Aldeia global” – Notícias, produtos, programas de TV, Internet. 3. Na história da humanidade: 3.1. Império Chinês, povos egípcios, romanos (estradas) 3.2. Expansão marítima portuguesa – novos fornecedores e consumidores 3.3. Século XIX – Imperialismo ou Neocolonialismo - Superprodução – Europeus, EUA e Japão – Continentes Africano e Asiático 3.4. Década de 70 – “Globalização” 4. Características 4.1. Diminuição (eliminação) de impostos sobre importações 4.2. Fortalecimento de grupos internacionais ( Mercosul, Comunidade Europeia etc) 4.3. Aceleração do tempo 4.4. Circulação da informação 4.5. Variedade de produtos, marcas e serviços 4.6. Abertura da economia e globalização – processos irreversíveis 5. Problemas 5.1. Desemprego – crescer o suficiente para absorver a mão de obra disponível 5.2. Aumento da distância e da dependência tecnológica 6. Reflexos 6.1. Necessidade de aprimoramento constante 6.2. Familiaridade com novas tecnologias 6.3. Idiomas (inglês) 6.4. Não ficar restrito à determinada função A História da Globalização Tendo uma visão apenas da globalização econômica, a história, vamos encontrá-la já muito antes do Império Romano. A globalização aparece na constituição do Império Chinês; na civilização egípcia, que manteve o domínio de todo o continente africano; Na Grécia, que apesar das cidades-estado, que mesmo independentes, viam uma globalização da economia. O que os romanos fizeram foi organizar, por meio de leis, a globalização da economia. Os gregos descobriram o direito. Masé em Roma que o direito surge como instrumento de poder, pois só assim os romanos poderiam organizar e controlar o Estado. Além disso, com a expansão territorial, os romanos se veem obrigados a construir uma rede de estradas, que possibilitou a comercialização e a comunicação entre os diversos povos. Porque os portugueses se lançaram às grandes descobertas? Não só para se proteger dos mouros espanhóis, mas também para procurar novas rotas comerciais de globalização. Nesses séculos (XIV e XV), ocorreu um descompasso entre a capacidade de produção e de consumo. O resultado disso. era uma produtividade baixa e a falta de alimento para abastecer os núcleos urbanos. Enquanto a produção artesanal não tinha um mercado consumidor, a solução para esses problemas estava na exploração de novos mercados, capazes de fornecer alimentos e metais e, ao mesmo tempo, aptos a consumir os produtos artesanais europeus. Outro exemplo que temos, é do século XIX, chamado de Imperialismo ou Neocolonialismo. Ocorreu quando a economia europeia entrou em crise, pois as fábricas estavam produzindo cada vez mais mercadorias em menos tempo, assim, com uma superprodução, os preços e os juros despencaram. Na tentativa de superar a crise, países europeus, EUA e Japão buscaram mercados para escoar o excesso de produção e de capitais. Cada economia industrializada queria mercados cativos, transformando o continente Africano e Asiático em centro fornecedor de matéria prima e consumidores de produtos industrializados, gerando, com isso, um alto grau de exploração e dependência econômica. Podemos comparar essa dependência econômica e exploração com os dias de hoje, pois é difícil de acreditar na possibilidade de os países desenvolvidos serem generosos com os demais, os emergentes e subdesenvolvidos. Já no final dos anos 70, os economistas começaram a difundir o conceito de globalização, usada para definir um cenário em que as relações de comércio entre os países fossem mais frequentes e facilitadas. Depois, o termo passou a ser usado fora das discussões econômicas. Assim, as barreiras comerciais entre os países, começaram a cair, com a diminuição (a eliminação) de impostos sobre importações, o fortalecimento de grupos internacionais (como o Mercosul ou a Comunidade Europeia) e o incentivo do governo de cada país à instalação de empresas estrangeiras em seu território. O Dia-a-dia da Globalização Para se ter ideia desse processo, saiba que, nos anos 60, somente cerca de 25 milhões de pessoas viajavam de avião de um país para outro, por ano. Hoje em dia, esse número subiu para cerca de 400 milhões. As ligações telefônicas entre os EUA e a Europa, atualmente, chegam a 1 bilhão por ano. Em 1980, o volume dos investimentos de residentes de um país nos mercados de capitais (compra de ações de empresas) de outros países, atingia a quantia de 120 milhões de dólares; em 1990, dez anos depois, esse valor já atingia a casa dos 1,4 trilhões de dólares, Isso quer dizer que as economias nacionais estão se desnacionalizando em ritmo acelerado, pois os norte-americanos possuem ações ou títulos de propriedades no Japão, na Europa e na América Latina; japoneses investem em empresas norte-americanas ou coreanas, alemães compram ações de firmas russas ou tailandesas etc. A Globalização está associada a uma aceleração do tempo. Tudo muda mais rapidamente hoje em dia. E os deslocamentos também se tornaram muito rápidos: o espaço mundial ficou mais integrado. Em 1950, eram necessários 18 horas para um avião comercial cruzar o oceano Atlântico, fazendo a rota NY-Londres. Em 1990, essa rota era feita em somente 3 horas, por um avião supersônico, e até o final do século, esse tempo vai se reduzir ainda mais. Em 1865, quando o presidente dos EUA, Abraham Lincoln, foi assassinado, a notícia levou 13 dias para chegar à Europa. Hoje em dia, bastam apenas alguns segundos para uma notícia qualquer cruzar o planeta, seja por telefone, seja por fax, pelas redes de TV, por mensagens telefônicas, pela Internet etc. Vantagens e Desvantagens - Prós e Contras A abertura da economia e a globalização são processos irreversíveis, que nos atingem no dia-a-dia, das formas mais variadas e temos de aprender a conviver com isso, porque existem mudanças positivas para o nosso cotidiano e mudanças que estão tornando a vida de muita gente mais difícil. Um dos efeitos negativos do intercâmbio maior entre os diversos países do mundo é o desemprego que, no Brasil, vem batendo um recorde atrás do outro. No caso brasileiro, a abertura foi ponto fundamental no combate à inflação e para a modernização da economia e, com a entrada de produtos importados, o consumidor foi beneficiado: podemos contar com produtos importados mais baratos e de melhor qualidade e, essa oferta maior, ampliou, também, a disponibilidade de produtos nacionais com preços menores e mais qualidade. É o que vemos em vários setores, como eletrodomésticos, carros, roupas, cosméticos, e, em serviços, como lavanderias, locadoras de vídeo e restaurantes. A opção de escolha que temos hoje é muito maior. Mas a necessidade de modernização e de aumento da competitividade das empresas produziu um efeito muito negativo, que foi o desemprego. Para reduzir custos e poder baixar os preços, as empresas tiveram de aprender a produzir mais com menos gente. Incorporaram novas tecnologias e máquinas. O trabalhador perdeu espaço e esse é um dos grandes desafios que, não só o Brasil, mas algumas das principais economias do mundo têm hoje pela frente: crescer o suficiente para absorver a mão-de-obra disponível no mercado. Além disso, houve o aumento da distância e da dependência tecnológica dos países periféricos em relação aos desenvolvidos. A questão que se coloca, nesses tempos, é como identificar e aproveitar as oportunidades que estão surgindo de uma economia internacional cada vez mais integrada. Cidadão Globalizado Com todas essas mudanças no mercado de trabalho, temos que tomar muito cuidado para não perder espaço. As mudanças estão acontecendo com muita rapidez. O cidadão, para segurar o emprego ou conseguir, também, tem de se manter em constante atualização, ser aberto e dinâmico. Para sobreviver nesse mundo novo, precisamos estar em sintonia com os demais países e, também, aprendendo coisas novas todos os dias. Ser especialista em determinada área, mas não ficar restrito a uma determinada função, porque ela pode ser extinta de uma hora para outra. É preciso atender a requisitos básicos, como o domínio do computador, de outros idiomas e, mais do que tudo, é preciso não ter preconceito em relação a essas mudanças. Introdução ao neoliberalismo (Fonte: www.suapesquisa.com/geografia/neoliberalismo.htm) Podemos definir o neoliberalismo como um conjunto de idéias políticas e econômicas capitalistas que defende a não participação do estado na economia. De acordo com esta doutrina, deve haver total liberdade de comércio (livre mercado), pois este princípio garante o crescimento econômico e o desenvolvimento social de um país. Surgiu na década de 1970, através da Escola Monetarista do economista Milton Friedman, como uma solução para a crise que atingiu a economia mundial em 1973, provocada pelo aumento excessivo no preço do petróleo. Características do Neoliberalismo (princípios básicos): - mínima participação estatal nos rumos da economia de um país; - pouca intervenção do governo no mercado de trabalho; - política de privatização de empresas estatais; - livre circulação de capitais internacionais e ênfase na globalização; - abertura da economia para a entrada de multinacionais; - adoção de medidas contra o protecionismo econômico; - desburocratização do estado: leis e regras econômicas mais simplificadas para facilitar o funcionamento das atividades econômicas; - diminuição do tamanho do estado, tornando-o mais eficiente; - posição contrária aos impostos e tributos excessivos; - aumento da produção,como objetivo básico para atingir o desenvolvimento econômico; - contra o controle de preços dos produtos e serviços por parte do estado, ou seja, a lei da oferta e demanda é suficiente para regular os preços; - a base da economia deve ser formada por empresas privadas; - defesa dos princípios econômicos do capitalismo. Críticas ao neoliberalismo Os críticos ao sistema afirmam que a economia neoliberal só beneficia as grandes potências econômicas e as empresas multinacionais. Os países pobres ou em processo de desenvolvimento (Brasil, por exemplo) sofrem com os resultados de uma política neoliberal. Nestes países, são apontadas como causas do neoliberalismo: desemprego, baixos salários, aumento das diferenças sociais e dependência do capital internacional. Pontos positivos Os defensores do neoliberalismo acreditam que este sistema é capaz de proporcionar o desenvolvimento econômico e social de um país. Defendem que o neoliberalismo deixa a economia mais competitiva, proporciona o desenvolvimento tecnológico e, através da livre concorrência, faz os preços e a inflação caírem. 7.3 A GLOBALIZAÇÃO E A GRISE FINANCEIRA MUNDIAL Globalização e seus (des)caminhos O termo “globalização” foi utilizado pela primeira vez em 1985, em um trabalho de Theodore Levitt denominado “A globalização dos mercados”. Com esse termo pretendia-se caracterizar as grandes transformações ocorridas na esfera econômica mundial nos anos que se seguiram ao colapso da ordem bipolar, com uma notável expansão do capitalismo no contexto do desaparecimento das economias de planejamento centralizado. “Os povos de Porto Alegre e os povos de Davos - New York se batem pela globalização. Qual globalização? Os poderosos, e por isso são poderosos, se apropriaram da palavra globalização e lhe impuseram uma significação que serve a seus interesses. É o processo mundial de homogeneização do modo de produção capitalista, de globalização dos mercados e das transações financeiras, do entrelaçamento das redes de comunicação e do controle mundial das imagens e das informações. A lógica que a preside é a competição de todos com todos”. (Leonardo Boff) Quem se globalizou? Aqui, surge a pergunta: quem se globalizou? Primeiro, os principais agentes econômicos do mundo de hoje, que são os conglomerados transnacionais. Inicialmente, nós os denominamos “firmas multinacionais”. Depois, descobrimentos que não eram “multinacionais”, mas transnacionais. E que também não eram “firmas”, mas conglomerados de firmas. Se considerarmos o tecido produtivo do Brasil, veremos que a grande maioria das empresas que operam no país não são entes globais: são entes nacionais, regionais ou locais. Mas alguns grandes agentes se globalizaram, e são eles os principais atores desse processo. Globalizaram-se também os principais fluxos econômicos: os fluxos comerciais, os fluxos de investimento produtivo, os fluxos financeiros. Globalizaram-se os mercados. E – muito importante para nossa discussão – globalizaram-se os padrões. Isso é muito relevante para a discussão sobre a relação entre globalização e território, porque os agentes locais acabam assimilando esses padrões, usando esses padrões, e eles vão-se tornando cada vez mais disseminados pelo mundo afora. Se observarmos o perfil locacional de um grande conglomerado global, veremos que o comando está centralizado na matriz, a gestão estratégica está lá, a inovação tecnológica está lá, mas a operação se encontra descentralizada por vários lugares. E isso é que dá o tom da relação entre globalização e território. Um exemplo que eu gosto de citar é o de uma entrevista que li com o PDG da Nike. O jornalista perguntou-lhe quantos milhões de pares de tênis a Nike produzia. E ele respondeu que a Nike não produzia tênis; produzia “emoção”. A “emoção” de calçar um Nike – isto é, o marketing – está centralizada nos Estados Unidos. E eles gastam muito mais com marketing do que com o processo produtivo. O processo produtivo está na Ásia, está descentralizado, porque a indústria de calçados, no fundo, é uma indústria de montagem, e, em toda indústria de montagem, o custo da mão-de-obra é um elemento determinante. Então o processo produtivo ocorre onde o custo da mão-de-obra é mais barato. Quem produz o tênis Nike são milhares de pequenas empresas situadas na Ásia. A corporação compra esses tênis e agrega “emoção”. Aí, quem compra o tênis Nike compra junto a “emoção” de poder usar um calçado de 700, 800 reais, que na verdade, pelo custo material de produção, não vale isso. A reorganização do espaço mundial O comando do processo está na tríade Estados Unidos – Japão – União Européia. Então, ao contrário do que muitas vezes se afirma, os grandes condutores do processo têm nome e endereço. E, neste ponto, não se trata mais apenas dos conglomerados transnacionais, mas também dos países a eles associados – países que detêm o maior peso relativo nas decisões tomadas no cenário mundial. A seguir, vêm os países médios, que tentam influir em sua inserção. Alguns o conseguem; outros não. Um exemplo de país que consegue é a China. A China consegue por vários motivos. Primeiro, porque é um país milenar. Já era uma potência antes do avento do capitalismo, um dos lugares que tinham desenvolvido de maneira mais expressiva as forças produtivas. Com a colonização perdeu espaço, foi dominada e virou a “casa da mãe joana”: sucessivamente ocupada, ou seja, lugar onde todo mundo manda. Aí ocorreu a revolução e a China passou por uma importante fase de autonomia. Este é o segundo motivo de seu sucesso atual. Uma das coisas que mais me impressionou foi uma entrevista a que assisti no dia da morte de Mao Tse tung (1976). O repórter chegou junto de um velhinho que estava chorando na beira da calçada e perguntou: “o que Mao legou à China?” O velhinho não falou de socialismo. Ele disse: “Mao recolocou a China de pé”. Ou seja, com o trancamento, a China deixou de ser a casa da mãe joana e passou a se sentir dona de seu próprio destino. E aí está o terceiro motivo: o processo de reinserção da China ocorre num estágio muito avançado da globalização e está sendo conduzido sob o comando do Partido Comunista Chinês. Isso assegura uma reinserção muito mais autônoma do que a de países como o Brasil, que também é de porte médio, mas engatou no processo de globalização no século XVI, como colônia de exploração, e tem, até hoje, uma enorme dificuldade de atuar com soberania. Por último, vêm os países pequenos, que lutam com enormes dificuldades para influir em sua inserção. Portanto, a leitura do mapa-múndi atual continua sendo a leitura de quem manda mais e quem manda menos. Porém, ao contrário do que prega o discurso hegemônico, que tenta apresentar a globalização como um processo inexorável, ao qual temos de nos submeter, este é um processo contraditório e não uma tendência unidirecional. Até porque a globalização é um processo social e não há processo social inexorável. É um processo hegemônico, sem dúvida. Mas há distintas possibilidades de relacionamento entre os distintos territórios e o movimento de globalização. Homogeneização e diferenciação Outro ponto importante é que, na era da globalização, os territórios admitem pelo menos duas leituras. Uma leitura é feita pelos agentes globais, para os quais os territórios são meros “palcos de operação”. Quando abrem o mapa-múndi para traçar suas estratégias, os países, as regiões, os municípios são para eles meros palcos de operação. Pensam nas vantagens ou desvantagens de realizarem suas operações neste ou naquele território. Mas existe uma outra leitura. E esta é feita pelas populações de cada lugar, para as quais os territórios são, acima de tudo, construções sociais. Apesar da uniformização crescente, cada território do mundo tem seu ambiente natural, seu processo histórico de ocupação, seus valores. O que existe hoje é resultado de um longo e complexo processo histórico. Essas duas leituras conflitantes produzem uma tensão entre oglobal e o local, pois o global é fonte de homogeneidade e os territórios são lócus de especificidades. O Brasil é um país que tem história, que possui um território, que construiu nele uma sociedade. E isso tudo não pode ser reduzido a simples palco de operação. Ademais, cada lugar do Brasil é diferente. O Brasil possui três heranças principais, quando visto pela ótica do regional. A primeira herança é ser um país de dimensão continental que, como já disse, engatou na economia mundial como espaço primário exportador. Isso deixou marcas muito importantes – entre elas, o forte contraste entre a faixa litorânea e a região central. A segunda é a diversidade regional. O país estruturou-se sobre um território que comporta seis biomas: o bioma amazônico, o bioma do cerrado, o bioma da caatinga, entre outros. Em cima dessa natureza diversa, estruturam-se pólos produtivos também diversos: o açúcar num canto, o ouro em outro, o café em outro, o algodão em outro, a industrialização em outro... cada um deixou sua marca. Então, o Nordeste açucareiro ficou muito diferente do Sudeste cafeeiro. Cada região misturou à sua maneira os ingredientes indígenas, europeus e negros. E isso gerou uma maravilhosa diversidade cultural, que, do meu ponto de vista, é um dos maiores patrimônios do Brasil. Na era da globalização intensa, estamos redescobrindo o Brasil. A terceira herança é a herança da desigualdade. É uma herança pesada, que cresceu muito no século XX, quando o país engatou na globalização industrial. Então, nossa herança de desigualdade produziu, realmente, dois Brasis. Edmar Bacha chamou de “Belíndia”. E essa desigualdade se reproduz nas várias escalas. Se analisarmos a região metropolitana de Recife, lá encontraremos duas Recifes. Essas são as heranças. Agora, vejamos suas modificações recentes. Uma coisa importante da inserção do Brasil na globalização industrial foi que ela integrou o mercado brasileiro. No período primário exportador, se produzia aqui e realizava fora. Com a indústria, passamos a produzir aqui e realizar aqui. Para isso, foi preciso integrar fisicamente o mercado brasileiro: criar uma malha urbana, uma malha viária, uma malha de telecomunicação. Hoje, em Oeiras, no Piauí, se compra, via internet, um artigo fabricado em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul e, dois dias depois, recebe-se o produto em sua casa. Isso é uma enorme diferença em relação ao Brasil do passado. E um de nossos grandes trunfos diante das corporações transnacionais. Quando desembarcam aqui, elas não vêm atrás de uma plataforma de exportação, mas do próprio mercado brasileiro, que está integrado desde metade do século passado. Uma parte dessa conquista tem que ser creditada a Juscelino, porque foi ele que começou a fazer as ligações verticais da malha viária do país. Antes, só havia ligações horizontais: do interior para a costa, da zona produtora para o porto exportador. Juscelino estabeleceu nova lógica: no meio do território, colocou Brasília, e fez a Belém-Brasília, fez a Rio-Bahia, ou seja, criou as condições materiais para integração do mercado. Com o tempo, ocorreu não apenas a circulação das mercadorias, mas também a circulação do capital. Três agentes se engajaram nesse processo. As transnacionais, por certo. Mas também o capital nacional e o Estado brasileiro. Grandes empresas brasileiras, que nasceram e se desenvolveram em uma região, instalaram filiais em outras, isso foi muito importante. O desembarque da Vale do Rio Doce no Pará mudou o Pará. O desembarque da Petrobrás na Bahia mudou a Bahia. E eram empresas estatais. Isso promoveu a gradual redução da concentração econômica no Sudeste. Os dados mostram que no período JK, a concentração cresceu; no período do “milagre econômico”, a concentração cresceu. Ela começou a decrescer a partir do 2º PND, quando vários investimentos foram feitos em outros lugares do Brasil e isso deu início a um processo de desconcentração. A crise veio, bateu muito forte em São Paulo, até hoje São Paulo tem 2 milhões de desempregados – e outros lugares do Brasil começaram a se destacar. Crise financeira mundial de 2008 11/09/2008 – Emir Sader – Le Monde Diplomatique Brasil setembro 2008 Desequilíbrios estruturais do capitalismo atual A atual crise econômico-financeira internacional se insere no marco de um ciclo longo recessivo, do qual o capitalismo não logrou sair desde seu início, em meados da década de setenta do século passado. Sem essa inserção, fica difícil a apreensão do caráter dessa crise, das conseqüências que pode produzir e do cenário que deve surgir depois dela. Os ciclos e as crises O capitalismo vive, pela própria natureza do seu processo de reprodução, articulado por ciclos, curtos e longos. Estes coordenam os ciclos curtos, numa perspectiva expansiva, se a curva das subidas e descidas das oscilações curtas apontam para cima, recessiva, se para baixo, conforme a teoria do economista russo Kondratieff, retomada teórica e historicamente por Ernst Mandel. No segundo pós-guerra, o capitalismo viveu sua “idade de ouro”, segundo Eric Hobsbawn, em que coincidiram virtuosamente a maior expansão concomitante das grandes economias capitalistas – Estados Unidos, Alemanha, Japão -, do chamado “campo socialista”, dirigido pela União Soviética, e por economias periféricas, como o México, a Argentina, o Brasil, com seus processos de industrialização dependente. A economia capitalista não deixou de apresentar seus ciclos curtos de crise, mas cada novo ciclo retomada a expansão e empurrava a economia para patamares cada vez mais altos. Foi um ciclo longo expansivo comandado por grandes corporações internacionais de caráter industrial e comercial, apoiada por um sistema financeiro em expansão e por grandes transformações na produção agrícola. Um modelo hegemônico regulador – ou keynesiano ou de bem-estar, conforme se queira chamá-lo – incentivava os investimentos produtivos, tendia a fortalecer a demanda interna de consumo, promovia o fortalecimento dos Estados nacionais e a proteção de suas economias. As crises, como é típico no capitalismo, expressavam processos de super-produção ou de sub-consumo – conforme se queira chamá-las -, refletindo o desequilíbrio estrutural desse sistema entre sua – reconhecida já por Marx no Manifesto Comunista – enorme capacidade de expansão das forças produtivas, mas que se chocam constantemente com sua incapacidade de distribuir renda na mesma medida daquela expansão. Na sua fase final, o ciclo longo expansivo do segundo pós-guerra viu esse excedente, resultado acumulado da defasagem entre produção e consumo se transformar em capital financeiro – os chamados euro-dólares, que foi aproveitado por países como o Brasil, para reciclar seu modelo econômico, diversificando sua dependência externa e favorecendo a retomada da expansão econômica interna, ainda antes do final do ciclo longo expansivo. Este fator – o golpe militar ainda no ciclo expansivo – diferenciou o cenário econômico brasileiro do dos outros países da região, em que as ditaduras coincidiram com recessão, por já se darem no ciclo longo recessivo do capitalismo internacional. Que características teve o final desse ciclo e o inicio do novo, de caráter recessivo? Tendo triunfado o diagnóstico de que a estagnação econômica se devia ao excesso de regulamentações, o novo modelo se centrou na desregulamentação, de que as privatizações, as aberturas para o mercado externo, as políticas de “flexibilização laboral”, de ajuste fiscal, foram expressões. Duas consequências mais importantes dever ser recordadas aqui, para entendermos o caráter da crise atual e seus efeitos para os países latino-americanos. A primeira, o gigantesco processo de transferência de capitais do setor produtivo para o especulativo que a desregulamentação promoveu em escala nacional e internacional. Livre de travas, o capital migrou maciçamente para o setor financeiro e, em particular, para o setor especulativo, onde obtêm muito mais lucros, com muito maior liquideze com menos ou nenhuma tributação para circular. Configurou-se assim, no modelo neoliberal, a hegemonia do capital financeiro, sob a forma do capital especulativo, fazendo com que mais de 90% dos movimentos econômicos se dêem não na esfera da produção ou do comércio de bens, mas na compra e venda de papéis, nas Bolsas de Valores ou de papéis das dívidas públicas dos governos. Promoveu-se a financeirização das economias, o que significa, em primeiro lugar, a financeirização dos Estados, cujo primeiro e maior compromisso passa a ser o pagamento das dívidas, isto é, a reserva de recursos mediante o chamado “superávit primário” e a transferência maciça e sistemática de recursos do setor produtivo para o capital financeiro. Grandes grupos econômicos têm à sua cabeça, um banco ou uma instituição financeira, costumam ganhar mais nos investimentos financeiros que naqueles que deram origem às empresas que os compõem. Grande quantidade de pequenas e médias empresas entraram em processos de endividamento, dos quais não conseguem sair. Outras, assim como consumidores, não se atrevem a buscar empréstimos, pelo medo ao endividamento, com as altas taxas de juros. O capital financeiro passou a ser o sangue que corre pelas economias dos países, definindo o metabolismo que as preside. Um capital que tem na volatilidade, na sua extrema liquidez, um elemento essencial, inerente, aquele que permite deslocar-se rapidamente para onde pode ter maiores vantagens e, ao mesmo tempo, lhe atribui um grande poder de pressão, diante da fragilidade das economias que dependem estruturalmente dele. A crise atual e suas consequências A crise anterior da economia norte-americano se deu em 2000, quando se desvanecia a ilusão de que a “nova economia” permitiria que o capitalismo não sofresse mais suas crises cíclicas, seja porque a informática permitira prevê-las e permitir que foram evitadas, seja porque novas demandas, como as de computadores, gerariam, da mesma forma que no caso dos automóveis, o lançamento anual de novos modelos, que estenderiam cada vez mais a demanda. Naquele momento, o papel do mercado norte-americano no mundo seguia sendo determinante no mundo, transferindo os efeitos da sua recessão para o resto da economia mundial. Desta vez a crise norte-americana se dá em um cenário internacional modificado. A continua expansão de países emergentes – entre eles, sobretudo a China e a Índia, mas também países latino-americanos, que mantêm ritmos constantes de crescimento, entre os quais particularmente o Brasil e a Argentina – amortece a diminuição da demanda dos EUA e, pela primeira vez, a recessão da economia norte-americana não tem efeitos diretos e devastadores sobre a economia mundial. Porém, como essa crise se vê agravada com o aumento dos preços dos produtos agrícolas e a continuada crise do petróleo, constituindo-se, na verdade em um triple crise, seus efeitos são mais profundos e extensos do que apenas uma crise cíclica da economia norte-americana. São afetadas então não apenas as exportações para os Estados Unidos, mas também os importadores de energia e de produtos agrícolas, lista que, em uma ou outra proporção, afeta a todos os países do mundo. No entanto, como todo fenômeno de um sistema marcado pela extrema desigualdade de riqueza e de poder entre regiões e países e dentro de cada país, os efeitos das crises não são igualmente repartidos entre todos. Há ganhadores e perdedores, algozes e vítimas. Como a crise está em pleno desenvolvimento, seus alcances não podem ainda ser julgados em toda sua plenitude e se dão pugnas para ver quem consegue extrair vantagens, quem trata de perder menos, ainda não é possível saber com precisão os danos em toda sua extensão e quem arcará com eles. É certo que o mundo sairá modificado desta crise até mesmo porque toca em três pontos nodais das relações econômicas e de poder atuais: dinheiro, energia e comida. No entanto, as estruturas de poder, de produção e de distribuição de riqueza reinantes, garantem resultados absolutamente diferenciados para distintas regiões e países como efeito das crises. Na combinação entre aumento dos preços do petróleo, dos produtos agrícolas e diminuição da demanda dos EUA e da Europa, os países mais pobres, que somam a grande maioria da África, da Ásia e da América Latina, perderão claramente, com fortes pressões recessivas, déficit na balança comercial e aumento do endividamento. Os países exportadores de petróleo e de produtos agrícolas com altas mais significativas, terão suas situações minoradas, mas as pressões inflacionárias não poupam a nenhum país e, com elas, as políticas recessivas voltam a ganhar peso. Para a América Latina, os efeitos são mais pesados e diretos para os países que seguem dependendo mais fortemente do comércio com os Estados Unidos, o México, a América Central e o Caribe, em primeiro lugar. Em segundo lugar, os países com pautas exportadoras menos valorizadas ou aqueles que tiveram seu ciclo de expansão econômica excessivamente voltada para as exportações, em particular as economias mais abertas, entre elas as que têm tratados de livre comércio com os Estados Unidos, como o Chile, o Peru, além dos já mencionados México, Costa Rica e outros países centro-americanos e caribenhos. Relativamente menos afetados devem ser os países com pautas exportadoras mais diversificadas – seja nos produtos, seja nos mercados -, como o Brasil, em parte a Argentina, e os que participam dos processos de integração regional – seja o Mercosul, seja a Alba. Para estes, as crises são uma oportunidade especial para acelerar e intensificar os processos de integração, de comércio, assim como nos planos financeiro e energético. Seja pela combinação das crises, seja porque afeta profundamente os Estados Unidos, no momento em que, pela primeira vez, seu peso na economia mundial decresce, o mundo e a América Latina em particular, terão fisionomias distintas, seja acelerando transformações já em andamento, seja dando inicio a novas dinâmicas, passadas as crises – cujas durações e profundidades, ainda não podem ser medidas com toda precisão. Fonte: Emir Sader é jornalista, sociólogo e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da UERJ. 7.4 REFLEXOS POLÍTICO-INSTITUCIONAIS, ECONÔMICOS E SOCIAIS DA GLOBALIZAÇÃO NO BRASIL O Brasil e a globalização Brasil quer a Integração Comercial de toda a América do Sul O ano de alargamento do Mercosul - essa poderia ser a manchete de síntese da evolução do ConeSul em 1996, se fosse verdade o que a imprensa brasileira noticiou nos últimos meses. Interpretando de forma simplista- e errada- os tratados formados pelo Chile e Bolívia com o Mercosul. O ano de alargamento do Mercosul - essa poderia ser a manchete de síntese da evolução do ConeSul em 1996, se fosse verdade o que a imprensa brasileira noticiou nos últimos meses. Interpretando de forma simplista - e errada - os tratados formados pelo Chile e Bolívia com o Mercosul, jornais e televisões noticiaram a adesão dos dois ao bloco sub-regional liderado pelo Brasil e Argentina. Isso não aconteceu, pelo menos por enquanto. Mas foi dado o primeiro passo nessa direção: o Chile e a Bolívia firmaram tratados de associação, o que significa que, sem aderir ao bloco, eles passam a aceitar regras de tarifas comerciais reduzidas no intercâmbio com os integrantes do tratado de Assunção de 1991. O passo adiante não aponta para o alargamento do Mercosul por agregações sucessivas, mas para o desenvolvimento de um processo mais complicado, que os diplomatas brasileiros apelidaram de estratégia do building blocks. O Chile esnobou o Mercosul até a pouco. "Adios, Latinoamérica", chegou a trombetear uma manchete de EL Mercurio, o principal diário de Santiago, resumindo uma política voltada para a Bacia do Pacífico e uma estratégia de integração do Nafta. As coisas mudaram. A solicitação de adesão à zona de livre comércio liderada pelos EUA esbarrouno colapso financeiro mexicano de dezembro de 1994. Escaldados, os parlamentares americanos negaram a tramitação rápida da solicitação no Congresso e as negociações continuam a se arrastar. Além disso, a abertura comercial que se espraia pela América Latina repercutiu sobre o intercâmbio externo chileno, puxando-o de volta para o subcontinente. A Bolívia solicitou, em julho de 1992, a adesão gradual ao Mercosul. O gradualismo boliviano está orientado para controlar um obstáculo político e diplomático: o país faz parte do Pacto Andino e Tratado de Assunção não permite a entrada de integrantes de outras zonas de comércio. Mas, no terreno da economia e da geografia, a Bolívia está cada vez mais colada ao Mercosul. O acordo recente para fornecimento de gás natural e construção de um gasoduto Brasil-Bolívia vale mais que as filigranas jurídicas que bloqueiam a adesão imediata. E as perspectivas de cooperação de todos os países do Cone Sul tendem a abrir duas saídas oceânicas regulares para a Bolívia, cuja história está marcada pela perda de portos de Atacama, na Guerra do Pacífico (1879-83). Não é provável que o Chile ingresse plenamente no atual Mercosul, e Santiago não quer perder suas vantagens comerciais no intercâmbio com o Nafta e a Bacia do Pacífico. A Bolívia não pretende deixar o Pacto Andino entrar no Mercosul, e o Chile, com melhores razões, não pretende desistir do ingresso no Nafta. O horizonte com o qual trabalham os diplomatas brasileiros é o da articulação gradual do Mercosul com os países e blocos comerciais vizinhos, com vistas á formação de uma Associação de Livre Comércio Sul-Americana (Alcsa). Essa é a estratégia do buiding-blocks. A sua meta consiste em criar, a partir de um grande bloco comercial na América do Sul, a plataforma ideal para negociar a integração pan-americana com a superpotência do Norte. É por isso que o Brasil não tem pressa nas conversações destinadas à formação de uma super zona de livre comércio das três Américas, que foram lançadas pelo ex-presidente dos EUA, George Bush, em 1990. Do ponto de vista brasileiro podemos citar como áreas que ganharam impulso: • Automobilística; Geração de energia; Telecomunicações; Serviços. Enquanto que os setores mais prejudicados são: • Agricultura; Têxtil; Borracha; Calçados. A outra faceta do processo de Globalização está na indústria. Tomem-se as dez maiores corporações mundiais: 1. Mitsubishi; 2.Mitsui;3. Itochu; 4.Sumimoto; 5.General motors; 6.Marunbeni;7. Ford; 8. Exxon; 9. Nissho 10. Shell; Estas empresas faturam 1,4 trilhões de dólares, o que equivale ao PIB conjunto de: •Brasil; México; Argentina; Chile; Colombina; Peru; Uruguai; Venezuela. Metade dos prédios, máquinas e laboratórios desses grupos e mais da metade de seus funcionários em unidades for do país de origem e 61% do seu faturamento é obtido em operações no estrangeiro. A força dessas corporações e sua atuação geográfica mudaram o enfoque do jogo econômico. No passado, quem fazia as grandes decisões econômicas eram os fovernas. Agora são as empresas e estão decidindo basicamente o que, como. quando e onde produzir os bens e serviços utilizados pelos seres humanos. Para conseguir preços melhores e qualidade de mais alta tecnologia em sua guerra contra os concorrentes, as empresas cortaram custos. Isto é, empregos, e ainda aumentaram muito os seus índices de automação, liquidando mais postos de trabalho. Nos estudos economistas, deu-se o nome de "desemprego estrutural" a essa tendência. O desemprego estrutural é um processo cruel porque significa que as fábricas robotizadas não precisam mais de tantos operários e os escritórios podem dispensar a maioria de seus datilógrafos, contadores e gerentes. Ele é diferente do desemprego que se conhecia até agora, motivado por recessões, que mais cedo ou mais tarde passavam. Os economistas apontam no desemprego estrutural um paradoxo do sistema de Globalização. Ele se ergueu para produzir coisas boas e baratas, vendidas numa escala planetária, fabricadas em grande parte por robôs, que são orientados por computadores. Mas por cortar o emprego das pessoas e sua renda não terá para quem vender seus carros reluzentes e seus computadores multimídia. Segundo os críticos, a outra nota ruim da Globalização está no desaparecimento das fronteiras nacionais. Os governos não conseguem mais deter o movimento do capital internacional. Por isso, seu controle sobre a política econômica interna está se esgarçando. A quebra mexicana no final de 1994 é o exemplo mais marcante dessa perda de controle. Assim que o governo desvalorizou o peso frente ao dólar, os investidores sacaram vários bilhões aplicados no país e o México precisou de um pacote de socorro do FMI e do governo estadunidense. Os governos também estão perdendo a capacidade de proteger o emprego e a renda das pessoas. Se um país estabelece uma legislação que protege e encarece o trabalho, é provavelmente excluído da lista de muitos projetos de investimento. Há, enfim, uma perda de controle sobre a produção e comercialização de tecnologia, o que nos tempos da Guerra Fria, seria impensável. Naquela época, a tecnologia estava ligada à soberania dos países. � TEMA 8 – GERAÇÃO Y 8.1 NOVAS TECNOLOGIAS E A NOVA GERAÇÃO DE TRABALHADORES DO CONHECIMENTO (Y) 8.2 CONTEXTO HISTÓRICO DO NASCIMENTO DAS GERAÇÕES BABY BOOMERS, X, Y E Z 8.3 O QUE A GERAÇÃO Y QUER E PRECISA NO TRABALHO 8.4 ESTRATÉGIAS E PROGRAMAS PARA GERENCIAR A GERAÇÃO Y Introdução Juventude: “Nossa juventude adora o luxo, é mal educada, caçoa da autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Nossos filhos hoje são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem a seus pais e são simplesmente maus.” (Sócrates 470-399 a. C.). “Não tenho mais nenhuma esperança no futuro do nosso País se a juventude de hoje tomar o poder amanhã, porque essa juventude é insuportável, desenfreada, simplesmente horrível.” Hesíodo (720 a.C) “Nosso mundo atingiu seu ponto crítico. Os filhos não ouvem mais seus pais. O fim do mundo não pode estar muito longe.” (Sacerdote do ano 2000 a.C.) “Essa juventude está estragada até o fundo do coração. Os jovens são malfeitores e preguiçosos. Eles jamais serão como a juventude de antigamente. A juventude de hoje não será capaz de manter a nossa cultura.” (Descoberta nas ruínas da Babilônia (atual Bagdá). 4000 anos de existência.) Nada mudou! Um Estudo das Gerações: os comportamentos, valores de vida, expectativas com relação ao futuro mudam de forma considerável e, mundialmente a cada 20 anos... Pela primeira vez as empresas estão lidando com diferenças de mais de 40 anos de idade... e esta diferença vai crescer ainda mais... 8.1 NOVAS TECNOLOGIAS E A NOVA GERAÇÃO DE TRABALHADORES DO CONHECIMENTO (Y) Motivações e valores É bom lembrar que os conceitos de motivação e valores pertencem à geração X e até mesmo à anterior, ou seja, foram concebidos por gerações que trocaram uma concepção mecanicista do trabalho por uma mais aberta, na qual o trabalho não é só uma forma de sobreviver economicamente, mas fonte de satisfação e desenvolvimento pessoal. É possível, portanto, que esses termos não se apliquem à geração Y. Por sua vez, o cenário de trabalho de hoje é especialmente complexo, por conta de alguns fenômenos: A idade de aposentadoria aumentou. Ao mesmo tempo, as empresas não valorizam os profissionais mais velhos. Faltam profissionais em vários setores. Um fator de diversidade é acrescido com a imigração e a crescente incorporação das mulheres nas empresas. Em muitas organizações, as horas de trabalho e a pressão são muito altas, o que dificulta a conciliação entre vida profissional e pessoal. Os trabalhadores têm mantido ou reduzido seu poder aquisitivo; os benefícios empresariais e os salários da alta direção, porém, aumentaram extraordinariamente. Devido ao ambiente em que cresceram, os Y são pessoas cominiciativa e grande capacidade de resolver problemas, e seu estado mental diante das opções e desafios costuma ser: “Por que não?”. Desenvolvem-se bem em espaços criativos, nos quais suas iniciativas possam render frutos e seus esforços individuais por conquistar objetivos sejam reconhecidos. Os jovens dessa geração são mais individualistas que os das anteriores e reivindicam a autonomia em suas opiniões e atuações, situando seu âmbito pessoal acima das considerações de ordem laboral ou social. Os Y parecem não se importar muito com uma questão-chave para as gerações anteriores: a promoção. A rotação não os assusta (a situação do mercado lhes permite isso) e, apesar de se motivarem a escalar posições, não é tanto pelo que estas representam em poder, mas porque implicam reconhecimento e maior possibilidade de colocar em marcha suas iniciativas. Por isso, podem rechaçar promoções que resultem em perda da qualidade de vida. Os integrantes da geração Y têm um acesso à informação que nunca existiu. Isso é tão importante que provocou uma verdadeira mudança de paradigma no consumo. Quando um Y vai comprar um celular, por exemplo, é possível que saiba mais de suas características técnicas que o próprio vendedor. E também terá consultado todos os blogs e fóruns para saber a opinião de outros consumidores. O fato é que esse jovem terá a mesma atitude quando comparecer a uma entrevista de emprego. Sabe o que quer, conhece o setor e a empresa, leu notícias a respeito dela. Além disso, a facilidade com que o candidato pode ter acesso à informação sobre o mercado de trabalho faz com que se abram diante dele muitas e diversas alternativas, e ele pulará de uma para outra se as respostas não o convencerem. No entanto, podemos nos aventurar a algumas conclusões: São filhos de seu tempo, pós-modernos. Estão imersos em preocupações ecológicas e se interessam pelos problemas sociais, sobre os quais estão sempre informados. Como são geralmente jovens, mostram-se abertos a novas correntes ideológicas e são sensíveis à injustiça. Aqui há uma grande pergunta para fazer: a formação que recebem das instituições de ensino e as experiências de trabalho os levarão a pender para um lado ou para o outro, ou seja, eles vão exacerbar o peso do valor econômico em sua vida ou integrá-lo a um contexto moral e social mais amplo? Diante disso, três aspectos parecem ser fundamentais para gerenciar esses jovens: Um clima cosmopolita que os atraia, geralmente cidades populosas, em que possam usar o inglês como meio comum de expressão, com acesso às artes, ao lazer e aos esportes, além de instituições de ensino de prestígio. Expectativas de carreira tão motivadoras quanto a remuneração, assim como um tipo de trabalho igualmente motivador, que ofereça desafios constantes. Garantia de autonomia profissional. As tarefas lhes devem ser delegadas e eles precisam ter poder para trabalhar. Os Y costumam se dar muito bem em equipe. 8.2 CONTEXTO HISTÓRICO DO NASCIMENTO DAS GERAÇÕES BABY BOOMERS, X, Y E Z Geração Baby Boomers – nascidos entre 1946 e 1964 Baby Boomers é uma definição genérica para crianças nascidas durante uma explosão populacional - Baby Boom em inglês, ou, em uma tradução livre, Explosão de Bebês. Em geral, a atual definição de Baby Boomers, se refere aos filhos da Segunda Guerra Mundial, já que durante a guerra houve uma explosão populacional. Normalmente, são as pessoas nascidas no final da década de 1940, se consideram como Baby Boomers os nascidos entre 1946 e 1964, separados em duas gerações: Podemos determinar as seguintes características para a Geração de Baby Boomers: Possui renda mais consolidada. Tem um padrão de vida mais estável. Prefere qualidade a quantidade. Não se influencia facilmente por outras pessoas. É firme e maduro nas decisões Enfim, sua atitude típica: “Só se vive uma vez, então aproveite” e para subir na vida é preciso trabalhar muito; seus empregos eram para a vida toda e a carreira era linear; eles trabalham mais tempo e se aposentam mais tarde. Geração X – nascidos entre 1965 e 1980 Os integrantes da Geração X têm sua data de nascimento localizada, aproximadamente, entre os anos 1960 e 1980. A Geração X é formada pelos filhos da Geração Baby Boomers, formada logo após a Segunda Guerra Mundial e pelos pais da Geração Y. Os integrantes da geração X são as pessoas nascidas entre meados dos anos 60 e início dos 1980. Essa geração viveu momentos importantes na política: a Guerra Fria, a Perestroika precipitando a queda do Muro de Berlim. Foi a época dos últimos líderes, como Mikhail Gorbatchov, Ronald Reagan, Margareth Thatcher... As pessoas X não vêem o êxito da mesma forma que seus pais. Ao contrário, nutrem certo cinismo e desilusão em relação aos valores deles. São mais céticas, mais difíceis de atingir pelos meios de comunicação e marketing convencionais. É a geração da MTV, do Nirvana, das Tartarugas Ninjas. Preferem um estilo de vida que lhes dê status, dinheiro e poder. Do ponto de vista social, alguns acontecimentos marcaram essa geração, entre eles o aparecimento da AIDS, em 1981. Essa doença provocou um posicionamento ideológico de dimensões muito relevantes, provavelmente nunca associado a uma enfermidade, tendo assim grande influência na mudança de pautas de comportamento da geração seguinte. Diante de tal panorama de incerteza e sensação de mudança, não é de estranhar que, ao ir ao cinema, esses jovens tenham assistido a Blade Runner (1982), um dos maiores expoentes do movimento cultural conhecido como cyberpunk. A atual geração Y possivelmente desconhece que as origens ideológicas de alguns de seus ícones culturais, como Matrix, venha diretamente dessa visão apocalíptica e obscura, própria da evolução do movimento punk. Entre as principais características dos indivíduos da geração X, encontramos: Busca da renda mais consolidada. Maturidade e escolha de produtos de qualidade. Busca por seus direitos. Respeito à família menor que o de outras gerações. Procura de liberdade. Geração Y – nascidos entre 1981 e 1995 A Geração Y, ao contrário do que muitos pensam, não se refere exatamente a uma legião de adolescentes, mas sim a uma "determinada" geração, nascida entre os anos 1980 e 1990. São os filhos da Geração X e netos dos Baby Boomers. Quem são os integrantes da geração Y? Nascidos na década de 1980 e 90. Entrando no mercado de trabalho, os mais velhos chegando aos 25 anos. Propósito: Satisfação imediata de seus anseios e sonhos e uma vida com significado. Como é uma geração relativamente nova, ainda não há uma conceituação clara das características desta geração, a não ser pelo fato que nasceram em um mundo que estava se transformando em uma grande rede global. A Internet, emails, redes de relacionamento, recursos digitais, fizeram com que a geração Y fizesse milhares de amigos ao redor do mundo, sem ao menos terem saído da frente de seus computadores. Não há acordo entre os estudiosos a respeito da data exata de início e fim desta geração. Alguns voltam alguns anos e ultrapassam os anos 70. Outros dizem que a geração Y se manteve até 2010. O que há em comum, no entanto são os novos hábitos voltados à comunicação e obtenção da informação instantânea. Também são chamados de Millennials por serem a geração da mudança do milênio. A definição foi criada pelo Advertising Age. Uma revista de publicidade e propaganda norte-americana, que definiu, em 1993, os hábitos de consumo dos adolescentes da época. Como eram filhos dos integrantes da Geração X, se achou óbvio, que esta nova geração fosse chamada pela próxima letra do Alfabeto. Histórico Familiar Filhos de pais dedicados à carreira; Pais “culpados” pela pouca dedicação à família; Pais com o pensamento: “Quero propiciar para o meu filho o que eu não tive”; Filhos cuidados, nutridos e programados para inúmeras atividades desde muito cedo; Pouca hierarquia entre pais e filhos;Injeções de autoconfiança Contexto Mundial: Fast-food: tudo rápido e ao alcance globalização Não existe distância Revolução tecnológica Entre as principais características dos indivíduos da Geração Y, encontramos: Estão sempre conectados; São divertidos, empolgados e gostam de desafios; Procuram informação fácil e imediata; Preferem computadores a livros; Preferem e-mails a cartas; Digitam ao invés de escrever; Vivem em redes de relacionamento (principalmente Facebook); Compartilham tudo o que é seu: dados, fotos, hábitos; Eles querem empregos com combinam seu estilo de vida e suas necessidades; Eles não separam a vida pessoal do trabalho, ou seja, para eles a vida é uma só; Estão sempre em busca de novas tecnologias. Em síntese, as características da Geração Y: a) Preparados para superar desafios; Vencedores; Responsáveis; Valorizam a empregabilidade e não a fidelidade. b) Esperançosos: Otimistas; Acreditam no futuro e no seu papel nele; Local de trabalho desafiante e agradável; Colaborativos e sociáveis; Criativos e inovadores; Divertidos. c) Orientados para metas e realizações: Traçam metas ousadas, altas expectativas; Foco e multitarefas; Aprendem rapidamente; Dispostos a correr riscos; iniciativa; Têm pressa de construir a carreira; Lidam muito bem com as mudanças; Compromisso com atingimento de objetivos. d) Consciência cidadã: Pensam no bem maior; ambiente sustentável; Engajados em questões de responsabilidade social; Transparência; Idealistas; Equilíbrio entre trabalho e vida pessoal como obrigação. e) Inclusivos: Trabalho em equipe; Poder coletivo; Justiça no ambiente de trabalho; Diversidade é norma; Não têm protocolos de hierarquia Geração Z Formada por indivíduos constantemente conectados através de dispositivos portáteis e, preocupados com o meio ambiente, a Geração Z não tem uma data definida. Pode ser integrante ou parte da Geração Y, já que a maioria dos autores posiciona o nascimento das pessoas da Geração Z entre 1990 e 2009. Estado de Minas, 10/02/2011 - Belo Horizonte MG Geração Z: tudo é para agora Gleysse Gonçalves de Paula - Psicóloga, neuropsicóloga e coordenadora do curso de pós-graduação em terapia cognitiva comportamental da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais Eles cresceram em meados dos anos 90, rodeados pelas inovações tecnológicas – como a internet e o celular. Sua personalidade é ditada pelo ritmo da tecnologia. Assim são os jovens da chamada Geração Z – o aqui e agora. Ao analisarmos suas características subjetivas e suas relações interpessoais, percebemos que os filhos dessa geração apresentam dificuldades em compreender a si mesmos. Seus projetos de vida, anseios e suas necessidades reais são difíceis de ser identificados. Satisfazem-se de maneira muito particular e efêmera. Não entendem a importância da manutenção das relações e vivem de maneira operacionalizada, sob o substrato do digitalizado, das urgências momentâneas. São individualistas, imediatistas e, principalmente, não projetam e tampouco planejam o futuro. Pensar nas possíveis consequências provenientes das escolhas dessa geração é extremamente preocupante. Por isso, todos nós, pais e educadores, devemos estar preparados. Saber lidar com as expectativas, anseios e desejos desses jovens é o nosso grande desafio. Desde a década de 80 – com a crescente inserção da tecnologia em nossas vidas –, vivenciamos um redimensionamento na noção de tempo. Há quem diga, inclusive, que ele passa rápido demais. A noção é exatamente esta e, justamente por isso, existe uma necessidade, cada vez mais latente, da execução de atividades simultâneas e a cobrança por uma produção mais eficaz. Vivemos em uma aldeia global, onde a informação circula em uma velocidade muito maior do que poderíamos imaginar. Isso tudo ocasiona, não somente nos jovens da Geração Z, mas em todos nós, esta sensação de impulsividade, impaciência, intolerância e individualismo. Não planejamos mais as nossas vidas e, assim, não conseguimos identificar, exatamente, o que almejamos. Como educar, se pouco nos conhecemos hoje em dia? O ser humano é dotado de processos cognitivos complexos (raciocínio, planejamento, organização de estratégia, capacidade de mudança, de adaptação, de tomada de decisão) e está caminhando, progressivamente, em direção ao automatismo. É possível afirmar, inclusive, que talvez estejamos abandonando a nossa capacidade de identificar, perceber, conduzir e gerenciar o nosso próprio caminho e, desta maneira, pouco podemos fazer pelos nossos jovens. Ficamos satisfeitos com pequenas ações imediatas do dia a dia. Poucos paramos para pensar... Neste sentido, creio que chegou o momento para nos conectarmos com nós mesmos, nossos propósitos, nossas crenças, nossos objetivos. Não somente a Geração Z depende dessa nossa mudança de conduta, mas também o nosso próprio organismo. Ledo engano daqueles que acreditam que, ao deixar de se conduzir pela agilidade da produtividade, estará a caminho do sucesso. Quanto mais o indivíduo promove o processo de “autoabandono”, mais o organismo se organiza em uma tentativa de autoproteção. Assim, em vez de se edificar como indivíduo produtivo, há uma organização de uma falsa estabilização, o que é perceptível com as sensações e sentimentos de insegurança, as incertezas, a dor do vazio, o comer compulsivo, a ansiedade e a necessidade imanente de sempre fazer mais... Eis o momento da reorganização. Visualiza-se o instante da promoção do autoconhecimento, ou seja, de conhecer o modo como cada indivíduo percebe, identifica, conecta-se com o que acredita e como estabelece essa conjunção de potencialidade e possibilidades com o mundo que o cerca. A partir das trocas reais entre ser humano integrado e a articulação do modo de funcionar no mundo que se configura a “proatividade” e produção eficaz. Faz-se urgente andar no ritmo contrário – por nós mesmos e pela Geração Z. 8.3 O QUE A GERAÇÃO Y QUER E PRECISA NO TRABALHO Quem é a geração Y – Pilar Garcia Lombardia Pela primeira vez na história do mercado de trabalho, as organizações estão acolhendo pessoas cujas idades cobrem um espectro de mais de 40 anos. Essa tendência vai aumentar na próxima década, devido ao necessário prolongamento dos anos de trabalho motivado pela escassez de profissionais. É necessário identificar um conjunto de vivências históricas compartilhadas – obviamente, de caráter macrossocial – que determina alguns princípios de visão de vida, contexto e, certamente, valores comuns. Sob essa lógica, podemos afirmar que estamos em um momento em que quatro gerações trabalham e convivem nas empresas, cada uma com aspirações e contratos psicológicos diferentes com o empregador. Geração Y A nova geração abrange os nascidos nos anos 1980 e 90. Os mais velhos estão chegando aos 25; os mais jovens acabam de sair da adolescência. É a geração dos Power Rangers e da internet, da variedade, das tecnologias que mudam contínua e vertiginosamente. Os membros dessa geração são considerados independentes, autossuficientes, honestos, empreendedores e seguros em relação ao que sabem e ao que querem. São vistos como profundos conhecedores da tecnologia e a utilizam como principal aliada no processo de aprendizagem e obtenção de informação A geração Y só conhece a democracia. Não deixam de se surpreender com o fato de que a geração anterior tenha sobrevivido sob a tirania de poucas redes de televisão, sob controle governamental estrito, e com telefones pregados na parede. Na geração Y não ocorreu uma ruptura social evidente; não houve Woodstock nem maio de 1968. Os Y são silenciosos e contundentes, parecem saber exatamente o que querem. Eles não reivindicam: executam a partir de suas decisões, dos blogs e dos SMS. Não polemizam nem pedem autorização: agem. Enquanto os X enfrentam o mundo profissional com relativo ceticismo,os Y adotam uma visão mais esperançosa. Seu alto nível de formação os torna mais decididos. Sua atitude diante da hierarquia é cortês, mas não de estrito respeito ou amor/ódio, como a das gerações anteriores. A integração dos Y às empresas está sendo especialmente complicada. Suas expectativas são novas e eles se consideram “a geração excluída”. Chegaram ao mundo em clima de mudança, transformação e certo desassossego político. Esses jovens, além de ver televisão, começaram a dar seus primeiros passos com os computadores de seus pais ou irmãos: a tecnologia nunca vai ser um problema para eles. Cerca de 91,6% dos que têm entre 16 e 24 anos são usuários da internet, porcentagem que cai para 63,4% no caso das pessoas entre 35 e 44 anos. Já se acostumaram ao bombardeio de imagens, à informação imediata e visual, à realidade em 3D. Não desenvolveram a paciência e a laboriosidade, e sim o “já” e o “agora”. Não aprenderam a desfrutar um livro, uma vez que podem obter a mesma informação em minutos, com um clique. É uma geração de resultados, não de processos. Outra diferença importante: se as gerações anteriores se caracterizavam por receber as mensagens, as modas, a música de modo uniforme, a Y, ao contrário, destaca-se pela diversidade. Não que a geração Y não tenha nenhuma tribo ou subgrupo. Ela tem, sim. É a elite urbana, que, de alguma forma, cristaliza seus valores e estilos de vida: são os CBP (cosmopolitan business people, ou pessoas de negócios cosmopolitas). A globalização está criando um coletivo social transversal, situado em todo o mundo (ou quase todo), com traços homogêneos, independentemente da origem cultural, racial ou geográfica. Características comuns diferenciam essa tribo de outros coletivos. Entre as mais significativas estão: Costumam conhecer vários idiomas. Concretamente, seu inglês é fluente, mesmo não sendo sua língua materna. Seu nível de educação é alto. Têm pós-graduação (MBA ou mestrado) ou especialização em alguma instituição de ensino superior de prestígio. São solteiros ou casados com poucos filhos. Às vezes, o casal também é um CBP. Suas famílias tendem à instabilidade. A rede de amizades e conhecidos está distribuída por todo o mundo ou em região ampla. Raça, nacionalidade e religião são secundárias. Os laços profissionais ou de gostos pessoais é que contam. No mercado de trabalho, possuem experiências multinacionais. Têm gostos variados, em que sobressaem os esportes, as artes, a leitura e, sobretudo, as viagens. O manejo das novas tecnologias é inerente a seu cotidiano - tanto profissional como pessoal. Buscam carreiras brilhantes, altos salários 8.4 ESTRATÉGIAS E PROGRAMAS PARA GERENCIAR A GERAÇÃO Y Conselhos para atrair, reter e gerenciar colaboradores y O que os atrai? Seus critérios de decisão entre diferentes ofertas de emprego são: estabilidade, equilíbrio entre vida profissional e pessoal e nível salarial adequado. Valorizam e representam a diversidade. Tendem a pensar no curto prazo. (Lembre-se de que, como têm amplo acesso à informação, possivelmente têm várias alternativas a escolher). O que esperam como remuneração? Para eles, remuneração está relacionada com resultados. Geralmente têm expectativas de alta remuneração, para manter elevado padrão de vida. O que os reterá? Consideram fundamentais a responsabilidade individual e a liberdade para tomar decisões. Crêem mais na co-decisão do que na hierarquia. Pedem flexibilidade de tempo e espaço para manter sua esfera privada. Querem que seu estilo de vida e sua forma de enfocar o trabalho sejam respeitados. Não é fácil despertar neles um sentido de fidelidade à empresa “para a vida toda”. O que oferecem às empresas? Alto nível de formação. Iniciativa e criatividade. Resultados. Alguns aspectos para reflexão A convivência de diversas gerações no mercado de trabalho, como hoje está acontecendo, implica, de saída, a necessidade de incorporar a inovação, a criatividade e a flexibilidade nas tarefas próprias da gestão de pessoas. Se a situação já não fosse complexa em si, uma análise mais profunda exigiria ter em conta outras variáveis que também afetam a questão. As mulheres da geração X, que em grande medida entraram de forma maciça no mercado de trabalho e de modo relevante (mas não maciço) ocuparam postos de direção, fizeram-no sem modelos, na maioria dos casos. Essas profissionais abriram caminho, mas seguramente tiveram de pagar um preço alto, dedicando-se menos à família. As mulheres da geração Y provavelmente vão rechaçar esse modelo, e agora se fala de conciliação de agendas, igualdade e flexibilidade. Serão capazes de construir um novo modelo que concilie vida profissional e pessoal? E as grandes perguntas: que traços marcarão os integrantes da geração seguinte? O que vão aprender a partir da variedade de modelos, atitudes e comportamentos que compõem o meio sociocultural em que estão crescendo? Como a geração Y vai reagir se a – vamos chamá-la assim – geração Z desbancá-la antes do tempo, como ela fez com a geração X? Pirâmide da Motivação Geração Y 1. SIGNIFICADO 2. RESPONSABILIDADE 3. O AMBIENTE DE TRABALHO 4. ENVOLVIMENTO NO TRABALHO 5. O SIGNIFICADO DA REMUNERAÇÃO 6. ACOMPANHAMENTO E RECONHECIMENTO 7. RELAÇÃO COM NORMAS, REGRAS E SUBORDINAÇÃO FUNCIONAL 1. Significado Tudo tem um porquê; dá sentido para tudo o que faz; Pouco treino com processos cognitivos. Não são leitores de obras literárias mais densas; Não são adeptos da instrução formal. Empresas e Gestores: Liderança deverá dar direcionamento, clareza de objetivos; Liderança deve ajudá-los a serem daqui a 10 anos homens mais plenos, complexos, profundos e maduros. Muitas empresas estão instituindo o papel de mentores/tutores; Invista em desenvolvimento e capacitação. Mas se esforce para que os conhecimentos adquiridos sejam aplicados; Crie comunidades de aprendizagem, blogs internos de liderança, programas via satélite, videoconferência, Podcasts, etc; Edutainment (educação com entretenimento); Utilize o trabalho em equipe e tecnologia (wikipédia, google, publicações on line, multitarefas, ipods. 2. Responsabilidade Responsável com aquilo que lhe é atribuído; A empresa não é o único foco dele, responsabiliza-se por tudo que tem significado para ele. Empresas e Gestores: Ofereça horário flexível, oportunidade de trabalhar em casa; Reveja políticas de concessão de férias e licenças por períodos prolongados; A Xerox já está usando um slogan “auto-expressão” para descrever o perfil dos candidatos que busca. E são incentivados a proporem mudanças e novas soluções; Invista em programas de voluntariado. 3. O ambiente de trabalho Alegre, descontraído, espírito leve; Não importa com hierarquia; O sobrenome corporativo não exerce fascínio sobre eles; Trabalhar com pessoas com as quais se identificam; Aparência informal. Empresas e Gestores: Diversão, humor e até uma pitada de tolice; Irreverência tornará o ambiente mais atrativo; Forneça várias oportunidades às equipes; Algumas empresas já estão contratando grupos de amigos; Seja criativo para celebrar, happy-hour, confraternizações; Não descuide da comunicação. 4. Envolvimento no trabalho Não tem paciência para coisas longas e demoradas; Quer tentar coisas novas; “Respeite as nossas ideias”; Necessidade de arriscar-se; Não tem problemas em falhar, em recomeçar, aprender com os erros; Fiel a seus projetos e não à empresa. Empresas e Gestores Empresas estão indo antes às universidades; Estimulem-os a resolver problemas complexos; Quebrem os planos e programas das empresas em projetos; Dê direcionamento e acompanhe; Coloquem-os em mais de um projeto; Liberdade para EXPERIMENTAR; Utilize o erro como processo de aprendizagem; Nos programas de estágios e trainees diversifique ainda mais as áreas para que eles sejam mais expostose tenham mais desafios; Projetos fora do país de origem “chance de conhecer outros países”. 5. O significado da remuneração Gratificação instantânea: não lida bem com promessas futuras; Gosta de “ganhar” premiações, viagens, promoções; Preocupa-se com benefícios e Previdência Privada; Recompensa x competência; Ele não está disposto a esperar muito tempo para uma promoção: planejamento de carreira mais transparente. Empresas e gestores Reveja políticas de bônus anuais e semestrais; Una aprendizado com fazer dinheiro; Implemente programas de incentivos mensais com prêmios, viagens, etc.; Na Microsoft os funcionários agora revisam metas de carreira duas vezes ao ano com o superior imediato; A GE passou a oferecer progressão salarial aos participantes de seu programa de trainee; Pense num cardápio de benefícios e deixem que façam opções. 6. Acompanhamento e reconhecimento Demanda muito feedback; Gosta de autonomia; Movido a elogios; Adora ser reconhecido; Ambicioso. Empresas e Gestores: Implante cultura do feedback imediato e avaliação 360 on-line; Não avalie aparência e gostos pessoais; Invista tempo em reconhecimento; Liderança forte que seja exemplo, propõe metas, apoie, inspire, acompanhe e avalie continuamente; Proporcione reconhecimento e não necessariamente um cargo; O salário é importante, mas o reconhecimento é vital para permanência deles. 7. Relação com normas, regras e subordinação funcional Insubordinados; Ele se subordina a vínculos e não a cargos; Não se adapta a regras muito rígidas; Critério de julgamento é a consciência e não a obediência; Informal; questionador; independente; Respeita e gosta de ser respeitado; Abordam com informalidade até o presidente da empresa. Empresas e Gestores: Não o engesse com normas e regras “bobas”, principalmente com aquelas rígidas e exageradamente formais; Sentirá melhor em ambientes mais informais; Algumas empresas estão treinando lideranças para lidarem com eles; Sejam flexíveis, adote procedimentos mais informais com relação à aparência; Sem perder a essência, revisite práticas e comportamentos. Marca geração Y Insubordinados; Impacientes; Imediatistas; Infiéis; Flexíveis; Inovadores; Inteligentes; Autoconfiantes; Aceitam bem diversidade e mudanças. Dez características da Geração Y A Geração Y são os jovens nascidos nas décadas de 1980 e início de 90. Esta época foi representada por inovações tecnológicas e quebra de tradicionais paradigmas familiares. Isso acabou por moldar as seguintes características. 01 - “Tecnocriação”: Desde jovens foram expostos à tecnologia. Brinquedos, eletrodomésticos, celulares, etc… fizeram e ainda fazem parte de suas vidas e, portanto, são completamente familiarizados com estes aparelhos. 02 - Sem Manual de Instruções: Tendem a dispensar o uso de manuais de instruções, ou utilizá-los em segundo caso. Os “apertadores de botão” dessa época costumam aprender o manuseio e funções das coisas com a boa e velha técnica da tentativa e erro, o mesmo é aplicado para descobertas e aprendizados. 03 - Tudo para Ontem: A necessidade de que tudo aconteça no menor espaço de tempo possível é uma das características mais visíveis, principalmente, pelos nascidos anteriormente a esta época (Geração X). A impaciência acaba, em muitas vezes, até mesmo prejudicando a Geração Y, sendo discriminada por outras gerações. Um estudo da consultoria americana Rainmaker Thinking revelou que 56% dos profissionais da Geração Y querem ser promovidos em um ano. Por tal, hoje em dia a expectativa de permanência destes inquietos em uma empresa é de um a quatro anos. 04 – Idioma: Falam fluentemente a linguagem digital e, na falta de palavras para se expressarem, termos novos são criados como os verbos inexistentes Twittar, Googlar, Taguear, Bugar, entre outros. Sendo também, os criadores do “Internetês”. 05 - O que Comem: Normalmente, preferem comidas rápidas e fáceis de serem preparadas e consumidas, porém, isso não quer dizer que não estejam atentos à saúde ou cientes de que estão prejudicando-a. 06 - Hierarquia Horizontal: Insubordinação é uma palavra forte e errônea a ser dedicada à Geração Y, mas infelizmente, é comumente utilizada para denominar as tentativas desses indivíduos de conquistar espaço e respeito perante uma organização, seja ela familiar ou corporativa. A necessidade de participar e se sentirem parte de um sistema, fazem com que eles se imponham e reivindiquem suas posições. 07 - Qualidade de Vida: Talvez uma das particularidades mais admiráveis da Geração Y perante as anteriores Baby-Boomer e Geração X, seja a contínua busca por uma vida prazerosa e agradável. A vida profissional e particular está cada vez mais homogênea, impulsionadas e exercidas pela expectativa da auto realização. A pesquisa da Fundação Instituto de Administração (FIA/USP) realizada com cerca de 200 jovens de São Paulo, revelou que “99% dos nascidos entre 1980 e 1993 só se mantêm envolvidos em atividades que gostam, e 96% acreditam que o objetivo do trabalho é a realização pessoal”. 08 - Devoradores de Informação: Também conhecidos como a “Geração Multitarefas”, são perfeitamente capazes de assimilar e consumir diversos tipos de informações simultaneamente. É fácil de encontrá-los ouvindo músicas, conversando em um messenger, conferindo seus e-mails, interagindo com seus perfis nas redes sociais e ainda fazendo um relatório para o trabalho, tudo ao mesmo tempo. 09 – Ego: São normalmente confiantes, gostam de ser desafiados e não se mantém realizando atividades que lhes pareçam “sem sentido”, por muito tempo. O respeito desta geração somente pode ser adquirido por meio de conquista e nunca por imposição, sendo assim, não respeitam autoridades e superiores simplesmente por seus títulos, mas sim por admiração e simpatia. 10 – Voláteis: Profissionalmente, a Geração Y é conhecida por não possuir fidelidade com marcas, produtos/serviços e mesmo suas corporações. Ao se sentirem desconfortáveis, desvalorizados, desmotivados, ou simplesmente terem uma oportunidade mais atraente em vista, saem em busca de novas experiências, sem maiores dificuldades. Geração Y chega ao mercado de trabalho Trabalhar com jovens é um desafio constante. Cada geração é fruto da educação que recebeu de seus pais e também da interação com o ambiente e a sociedade. Por Alexandra Periscinoto, www.administradores.com.br Trabalhar com jovens é um desafio constante. Cada geração é fruto da educação que recebeu de seus pais e também da interação com o ambiente e a sociedade. Nos últimos anos, o mundo vem passando por diversas revoluções, que alteraram profundamente o comportamento das pessoas. O surgimento da internet e a revolução digital, por exemplo, trouxeram avanços sem precedentes. No mundo do trabalho, isso traz um desafio interessante: começam a chegar ao mercado os jovens que cresceram regidos pelos bits e bytes do mundo digital. Chamados de geração Y, esses jovens têm menos de 30 anos e possuem características muito próprias - e o choque cultural acontece quando passam a ser comandados pelo pessoal de outras gerações. Mais do que evitar conflitos, ter uma política de recursos humanos que entenda a geração Y pode trazer um excelente ganho de produtividade. Moldados pelo imediatismo da internet, a geração Y necessita de estímulos para desafiá-la a oferecer o que tem de melhor: a ousadia, a criatividade, a facilidade para realizar tarefas múltiplas e o espírito questionador. Algumas dessas características, inerentes no espírito dos jovens, foram levadas ao paroxismo pelo mundo contemporâneo. De um lado, seus pais, libertários da década de 60, que viveram a utopia do "é proibido proibir", estimularam ao máximo o espírito contestador dos jovens. O acesso fácil às informações, trazido pela internet, temperou o caldo de cultura. O resultado é que, para extrair ao máximo as potencialidades dessa talentosa geração, é necessárioabrir-se ao diálogo. Fazê-los entender é muito mais producente do que simplesmente mandar. Para essa geração, a hierarquia não é um argumento-fim. Sem contar a falta de formalidade desses jovens, cuja educação sempre privilegiou a individualidade - e suas manifestações. Outra característica marcante dos jovens da geração Y é a capacidade de realizar diversas tarefas ao mesmo tempo. Não surpreende mais encontrar um deles falando ao celular, digitando no MSN e assistindo tevê, enquanto come um sanduíche. Ao mesmo tempo em que isso comprova as habilidades multifacetadas necessárias para conseguir equilibrar diversas atividades, muitas vezes esse aspecto também vem junto com a dificuldade de esperar a concretização de um projeto de longo prazo. A tendência a dispersar a concentração não é algo incomum. Para fugir dessa armadilha e buscar a maior produtividade da geração Y, uma das alternativas é, por exemplo, dividir um projeto mais longo em etapas mais curtas, com metas e prazos predeterminados, cujos resultados podem ser obtidos com maior rapidez. Com características tão peculiares, principalmente para a geração anterior - que teve de se adaptar, à marra, às modernidades tecnológicas, e para quem o mundo digital não é o habitat natural, é compreensível que surjam dificuldades na comunicação entre eles. No call center, por exemplo, que é provavelmente o setor da economia que mais emprega jovens, esse desafio é permanente. Mas, também, muito gratificante, pois essa nova geração induz à renovação e traz um espírito de inovação às empresas - e ambas as características são a alma da sobrevivência, no longo prazo, de qualquer negócio. As empresas precisam rever seus treinamentos e sistemas de mensuração de resultados, para melhor refletir o mundo contemporâneo e os jovens que ajudarão a construir o futuro. *Alexandra Periscinoto é presidente da empresa de call center SPCOM, que tem mais de 4 mil funcionários - a imensa maioria com menos de 30 anos. Geração Y vai dominar força de trabalho Por Roberta Prescott - 05/06/2008 Em entrevista, Don Tapscott adianta as dificuldades que as empresas vão enfrentar para conciliar suas necessidades com as dos jovens Dinâmica e imersa em tecnologia, a nova geração de profissionais, chamada geração Y, representa um desafio para a TI das empresas. Atender aos anseios destes jovens sem comprometer a segurança e as políticas das companhias é um problema que cabe aos CIOs solucionar. Em entrevista exclusiva à InformationWeek Brasil e IT Web, Don Tapscott, diretor da New Paradigm e co-autor de Wikinomics e de outros dez livros, desenha como estes jovens mudam o ambiente de trabalho das companhias. InformationWeek Brasil - Como você define a geração Y (ou net)? Don Tapscott - Nascidos entre 1977 e 1997, a geração net é a primeira leva de jovens totalmente imersa na interatividade, hiperestimulação e ambiente digital. Globalmente, eles representam um quarto da população do mundo e daqui a pouco vão dominar a força de trabalho, consumo e política. IWB - Como estes jovens vão mudar a maneira que as companhias trabalham? Tapscott - Eles têm a expectativa de um ambiente de trabalho inovador, com flexibilidade de horário, mobilidade e um processo de tomada de decisão muito ágil. Eles ficarão frustrados se encontrarem um ambiente de controles rígidos e que os digam como é melhor que eles façam o trabalho deles. O velho modelo de "recrutar, gerenciar e manter" os empregados não funciona mais. IWB - Qual é o impacto da entrada desta geração para a TI das companhias? Tapscott - Muito grande. Esta geração nasceu em bits e está completamente confortável com tecnologia. Eles querem o estado da arte da tecnologia e de ferramentas de colaboração, tais como wikis e mensagens instantâneas, que os ajudam para trabalhar. Quando convém, eles anseiam por trabalhar desde outras localidades, em casa, por exemplo, e esperam que as tecnologias estejam disponíveis nestas localizações remotas. IWB - Qual tipo de novos valores a geração Y traz para as companhias? Tapscott - Os jovens pensam e se relacionam de forma diferente, e estão dispostos a trabalhar em um ambiente de constantes mudanças. Ainda que os integrantes da geração net sejam confidentes, criativos, independentes e tenham mente aberta, eles tendem a ser um grande desafio para gerenciar. Eles demandam novas oportunidades para aprender e responsabilidade, querem feedbacks instantâneos, primam por balancear a vida profissional e pessoal e anseiam por relacionamentos fortes no ambiente de trabalho. Por isto, as companhias precisam alterar sua cultura de gestão destes jovens, sem, no entanto, perder o respeito com as necessidades dos outros funcionários. Se cultivado propriamente, esta geração traz vantagens para organização no que se refere à inovação e competitividade. IWB - Nos Estados Unidos já é nítido o impacto desta geração nas companhias? Tapscott - Sim, os representantes mais velhos da geração net estão agora com uns 31 anos de idade e já impactaram bastante em como as companhias operam. O CEO da Deloitte me disse que a leva atual de jovens recrutados são os mais produtivos da história da organização. As empresas que não saciarem as necessidades desta geração verão seus novos empregados se frustrarem e saírem. � TEMA 9 - Ecologia e Biodiversidade 9.1 Natureza e sociedade como espaço de cidadania 9.2 O movimento ecológico e políticas públicas 9.3 Desenvolvimento, sustentabilidade social e ambiental 9.4 Catástrofes ambientais e sociedade 9.1 NATUREZA E SOCIEDADE COMO ESPAÇO DE CIDADANIA Por Maurício Waldman Apenas recentemente a cidadania ambiental ingressou no temário de interesse de grupos, povos e classes sociais. Sua proeminência junto ao cenário social é tão recente quanto a própria questão ambiental, que passou a reclamar as atenções da sociedade global apenas nas últimas décadas do século XX, arrastando neste movimento uma série de questões com ela relacionadas. Originalmente restrita ao movimento ambientalista, a questão ambiental está hoje em dia pautada como tema obrigatório nos mais diversos segmentos de opinião. Esta assertiva evidencia-se pelo próprio fato de o meio ambiente marcar presença na agenda dos chefes de Estado, organizações não governamentais (ONGs), populações tradicionais, grupos rurais e urbanos, sindicatos, empresas, associações comunitárias e administrações públicas. O motivo principal de a luta pela preservação da natureza ter conquistado tamanha magnitude é a crise socioambiental sem precedentes que atinge o planeta. Ressalve-se que, nessa assertiva, pouco há de drástico. Indiscutivelmente, a crise ambiental da modernidade inscreve-se juntamente com o elenco de questões fundamentais a serem enfrentadas pelo conjunto da humanidade. Esta crise é de tal ordem que poucos colocam em dúvida que a biosfera esteja integralmente ameaçada. Considera a australiana Lorrairie Elliott, especialista em Ciências Políticas na área ambiental: caso algo não seja feito nos próximos anos, corre-se o risco real de presenciarmos uma espécie de "ponto de não-retorno ambiental", pelo que a estarrecedora situação que hoje conhecemos seria apenas o preâmbulo de desastres iminentes ainda mais aterradores. Ao contrário do passado, quando as crises ambientais eram geralmente sucedidas pela revitalização do entorno natural circundante, a crise atual não sugere nenhuma recuperação posterior ao esgotamento dos ciclos biológicos dos ecossistemas. Em outras palavras, coloca-se como fato objetivo a possibilidade da extinção total da vida no planeta Terra. A realidade contemporânea pressupõe, pois, redobrada atenção relativamente ao entendimento da questão ambiental em toda sua complexidade. Diante da magnitude dos problemas ecológicos, a rediscussão minuciosa dos paradigmas que têm orientado a humanidade nos últimos séculos impõe-se de modo indiscutível. É com base nessa conjuntura que podemos melhor compreender uma noção como