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Gerenciamento na Construção Civil: Planejamento e Controle de Obras Conceito: O planejamento pode ser definido como um trabalho de preparação para um determinado empreendimento, uma ferramenta que nos possibilita estabelecer metas e objetivos e as ações que devemos executar para atingi-las. Ainda, pode-se dizer que o planejamento é o processo de tomada de decisões que envolvem o estabelecimento de metas e dos procedimentos necessários para atingi-las, sendo efetivo quando seguido de um controle. Segundo BERNARDES (2001), o planejamento é necessário devido a diversos motivos, entre eles: facilitar a compreensão dos objetivos do empreendimento; definir todos os trabalhos exigidos para habilitar os participantes a identificar e planejar a sua parcela de trabalho; desenvolver uma referência básica para processos de orçamento e programação; disponibilizar uma melhor coordenação e integração vertical e horizontal (multifuncional), além de produzir informações para tomadas de decisões mais consistentes; Evitar decisões errôneas para projetos futuros, através da análise do impacto das decisões atuais; Melhorar o desempenho da produção através da consideração e análise de processos alternativos; Aumentar a velocidade de resposta para mudanças futuras; Fornecer padrões para monitorar, revisar e controlar a execução do empreendimento; Explorar a experiência acumulada da gerência obtida com os empreendimentos executados, em um processo de aprendizado sistemático. Dimensões do planejamento: SANTOS (2007) salienta que o processo de planejamento e controle pode ser representado em duas dimensões básicas: horizontal e vertical. A primeira refere-se às etapas pelas quais o processo de planejamento e controle é realizado e, a segunda, como essas etapas são vinculadas entre os diferentes níveis gerenciais de uma organização. Planejamento horizontal: A dimensão horizontal do processo de planejamento compreende as seguintes etapas: a) Preparação do processo do planejamento; b) Coleta de informações; c) Preparação de planos; d) Difusão da informação; e) Avaliação do processo de planejamento; A primeira e última fase do ciclo tem um caráter intermitente, isto é, ocorrem em períodos específicos na empresa construtora, seja por ocasião do lançamento de novos empreendimentos, término da construção ou de etapa importante da obra. Já as fases intermediárias formam um ciclo que ocorre continuamente durante toda a etapa de produção. Analisando o processo de planejamento apresentado na figura 01, percebe-se que existe um ciclo de replanejamento, que se inicia com a coleta de informações sobre o sistema que está sendo controlado. Essas informações são processadas na etapa de preparação dos planos e difundidas para as entidades que delas necessitam. A partir destas informações, são geradas ações que possibilitam o cumprimento das metas fixadas. São, então, coletadas novamente informações sobre o sistema controlado, objetivando a identificação de possíveis desvios nas metas dos planos e suas causas. Mais uma vez, as informações são processadas, os planos são reformulados e difundidos. a) Preparação do processo de planejamento Nesta primeira etapa, são tomadas decisões relativas ao horizonte e ao nível de detalhes do planejamento, frequência de replanejamento e grau de controle a ser efetuado. Entende-se por horizonte de planejamento o intervalo de tempo entre a preparação do plano e a realização da ação inerente às metas fixadas naquele plano. Essas decisões são relativas aos planos que são necessários no processo de planejamento, como os mesmos são utilizados, seu grau de detalhamento, as técnicas mais apropriadas para sua construção, quando os mesmos devem ser preparados, dentre outras (SANTOS, 2007). b) Coleta de informações: Na segunda etapa, ocorre a coleta das informações necessárias para se realizar o planejamento. Essas informações incluem, geralmente, contratos, plantas, especificações técnicas, descrição das condições do canteiro e ambientais, tecnologia a ser utilizada, viabilidade de terceirização ou não de processos, índices de produtividade, dados de equipamento e metas estabelecidas pela alta gerência. Iniciada a construção, o processo de reunião de informações continua, mas a partir desse ponto com ênfase nos recursos consumidos e metas alcançadas. Essa fase tem como objetivo a redução da incerteza através de uma abordagem na qual, inicialmente, se deve procurar selecionar, de forma sistemática, as informações necessárias à execução do processo produtivo. Contudo, a maior deficiência desta fase é o fato de que a incerteza não é normalmente considerada. c) Preparação de planos: A etapa que recebe maior atenção dos responsáveis pelo planejamento em empresas de construção é, normalmente, a de preparação dos planos. Dessa forma, é importante, então, que seja realizada uma análise crítica da utilização das técnicas utilizadas nesta fase. Alguns profissionais utilizam nesta fase a técnica PERT/CPM1 , porém, em uma pesquisa realizada na grande Porto Alegre, indicou que apenas 9% das empresas de construção de pequeno porte utilizavam técnicas de rede (FRUET e FORMOSO, 1993). Nesta pesquisa, foram colocados como principais fatores para a não utilização destas técnicas, sua dificuldade, desconhecimento e percepção de que não se aplica à construção civil. d) Difusão da informação: Esta etapa do planejamento apresenta três principais problemas. O primeiro se deve ao fato de que algumas pessoas podem impor obstáculos à sua implantação. O segundo refere-se à grande quantidade de informações organizadas em um formato não apropriado. O terceiro é a existência de dois sistemas de informações paralelos para o gerenciamento do empreendimento, o tático e o operacional. No tático, o sistema é formal e situa-se no escritório central da empresa construtora. No operacional, existe no canteiro de obras um sistema de informação informal e um de decisão que ditam no curto prazo, a execução da construção (SANTOS, 2007). 1 As técnicas PERT e CPM foram independentemente desenvolvidas para o planejamento e controle de projetos por volta de 1950, porém a grande semelhança entre estas fez com que o termo PERT/CPM seja utilizado corriqueiramente como uma única técnica. Estas técnicas de planejamento consistem em uma rede com “setas” que representam as atividades e eventos de um projeto. e) Avaliação do processo de planejamento Corresponde à avaliação de todo processo de planejamento, que deve ocorrer ao término da construção ou, ainda, durante a própria execução caso haja mudanças substanciais nas metas estabelecidas nos planos. f) Ação Durante a fase de ação o progresso da produção é controlado e monitorado, e as informações resultantes desse controle são utilizadas para atualizar os planos e preparar relatórios sobre o desempenho da produção. Planejamento vertical: O planejamento é feito em todos os níveis gerenciais da organização. Devido às grandes incertezas presentes no processo construtivo, o grau de detalhamento deve variar de acordo com os níveis do planejamento, obedecendo ao objetivo a que se destina. De acordo com o detalhamento o planejamento vertical pode ser dividido em três níveis: Nível estratégico - define a estratégia geral do projeto, do início ao fim, envolvendo todas as áreas abrangidas. Geralmente teremos, além de especificações e outros documentos de projeto, um cronograma geral; Nível tático - onde será desenvolvido o detalhamento dos documentos gerados no nível estratégico, geralmente com divisões por área ou especialidade, para a alimentação do nível operacional; Nível operacional - onde serão desenvolvidos detalhamentos de cada área ou especialidade, em nível de individualização de ações ou recursos necessários. Figura 02 – Níveis verticais de planejamento (SANTOS, 2007) Geralmente o planejamento no nível estratégicoé de longo prazo e apresenta um grau de detalhamento menor em relação ao nível tático, já que se destina a definir grande marcos do projeto. Ele descreve o trabalho a ser executado através de metas gerais. Por sua vez, o nível operacional é um planejamento de curto prazo e deve apresentar um detalhamento maior que o tático, já que se destina a execução individualizada das tarefas. O nível tático é um planejamento de médio prazo e deve ter detalhamento intermediário, para permitir a ligação entre os planejamentos estratégico e operacional. Métodos de planejamento: GEHBAUER (2002) salienta que planejar a execução de uma obra significa ordenar a realização das atividades pelas equipes de trabalho, de acordo com sua sequencia e dentro dos intervalos de tempo previstos para elas. Estas atividades podem ser planejadas segundo três métodos principais: produção em sequencia; produção simultânea; produção em linha / trabalho cadenciado. a) Produção em sequencia: No método de produção em sequencia uma equipe de trabalho, geralmente mista, realiza os trabalhos de uma etapa um após o outro. Como nesta forma de execução, os prazos obrigatórios são determinados geralmente por fatores técnicos (por exemplo, o tempo de cura do concreto), o trabalho durante o planejamento é relativamente simples. Porém, a organização das atividades na produção sequencial não se mostra ideal no que diz respeito ao desenvolvimento dos custos, tempo de construção e utilização dos recursos. Portanto, a utilização deste método de produção só é recomendada em determinados casos, como, por exemplo: em etapas de trabalho pouco volumosas, prazos de construção não muito curtos, quando a sequencia das atividades não permite outra forma de desenvolvimento (do ponto de vista técnico) e quando o espaço da obra for limitado ou o tamanho da equipe de trabalho não permitir outro procedimento (GEHBAUER, 2002). b) Produção simultânea:Neste método de produção são usadas diversas equipes de trabalho ao mesmo tempo, geralmente mistas, em uma mesma etapa de produção, ou em etapas de produção paralelas. Com isto é possível diminuir significativamente o tempo de construção. Este planejamento, embora seja mais trabalhoso para a equipe, permite obter um aproveitamento otimizado dos recursos disponíveis (maior aproveitamento da capacidade dos equipamentos e das instalações do canteiro) reduzindo-se assim os custos indiretos. Entretanto, o processo de produção simultânea só deve ser utilizado quando: as dimensões do projeto e das etapas de produção são suficientemente grandes, há mão-de-obra suficiente e que a utilização intensa dos recursos tenha sido adequadamente planejada (GEHBAUER, 2002). c) Produção em linha / trabalho cadenciado: São formas de produção sequencial onde ocorrem interrupções obrigatórias no processo, porém, essas interrupções são dispostas de forma organizada. Neste caso, cada atividade é executada por uma equipe especializada, ou várias atividades são executadas por equipes semi-especializadas, uma após a outra em intervalos predeterminados. O desenvolvimento de um processo contínuo, sem delimitação clara das etapas de construção é denominado produção em linha; e processos escalonados em etapas de produção delimitadas são denominados trabalhos cadenciados. Na construção de edifícios o método que corresponde ao processo de execução, é o trabalho cadenciado. O objetivo desse método é diminuir ao máximo possível os custos de produção, através da utilização contínua dos recursos disponíveis, com intervalos tão curtos quanto possível. GEHBAUER (2002), diz que de acordo com o recurso utilizado pode-ser ter as seguintes formas de trabalho cadenciado: operação sincronizada - o rendimento é igual em todas as atividades, ou seja, todas as etapas são executadas simultaneamente e apresentam a mesma duração em suas execuções. Neste tipo de trabalho cadenciado todas as atividades da obra deverão ter o mesmo tempo de duração; Figura 03 – Trabalho cadenciado com operação sincronizada. (GEHBAUER, 2002) operação interrompida - quando o desempenho de uma atividade é dentro de uma etapa, por motivos tecnológicos (técnicas construtivas), é muito maior que o das outras. Quando uma atividade é realizada em um tempo muito menor que outras atividades paralelas, a equipe que a executa interrompe seus trabalhos por um período de tempo (t) para realizar outros serviços da obra (equipe B no exemplo da fig. 04). Figura 04 – Trabalho cadenciado com operação interrompida. (GEHBAUER, 2002) operação com revezamento - são realizadas duas ou mais atividades consecutivas por uma equipe semi-especializada para aproveitar tempo (equipe B/C, no exemplo da fig. 05); Figura 05 – Trabalho cadenciado com revezamento. (GEHBAUER, 2002) operação em saltos - quando, por motivos tecnológicos, for necessário manter um certo intervalo de tempo entre duas atividades que são executadas por uma mesma equipe (equipe B/C, no exemplo da fig. 06). Como por exemplo, a concretagem de uma laje e a posterior retirada das fôrmas e dos escoramentos. Figura 06 – Trabalho cadenciado com operação em saltos. (GEHBAUER, 2002) 4.5. Estrutura analítica do projeto – EAP Segundo NOCÊRA (2007), a EAP - Estrutura Analítica do Projeto é uma síntese estrutural do projeto, ou seja, a divisão das atividades em níveis que permitam o controle. Sendo assim a EAP é a primeira ferramenta de gerenciamento do projeto. Ela pode ser representada por um diagrama, onde é possível observar uma síntese da divisão das atividades. Normalmente, a EAP é estruturada de cima para baixo, de forma que, identificam- se primeiro as grandes fases ou áreas do projeto promovendo um detalhamento até o último grau desejado, quase sempre o de tarefa individualizada. NOCÊRA (2007) exemplificou que em na implantação de uma nova fábrica, podemos ter a seguinte decomposição (parcial) do trabalho: Figura 07 - Diagrama da implantação de uma fabrica. (NOCÊRA, 2007) Observa-se, no exemplo em questão, que é somente no 6º nível que obtemos tarefas terminais, sendo possível exercer controle sobre as mesmas. Para cada tarefa desse nível podemos determinar a quantidade do serviço, a duração e os recursos necessários, como por exemplo: Concreto Quantidade .................... 2,20 m³ Duração 1 dia Recursos ........................ 4 serventes + 1 pedreiro Com essa decomposição se torna possível a execução de uma programação detalhada e perfeitamente “controlável”, o que trás um benefício importante para o gerenciamento do empreendimento. Segundo NOCÊRA (2007), os seguintes passos descrevem o processo geral para desenvolvimento da EAP: Identificar o produto final do projeto. O que deve ser providenciado para o sucesso do projeto? Uma revisão detalhada do escopo, das especificações e documentos do projeto é fundamental para assegurar consistência entre a EAP e os requisitos do projeto; Definir as maiores necessidades do projeto, como por exemplo, serviços de engenharia; Decompor as maiores necessidades do projeto em níveis de detalhamento que possibilitem o gerenciamento e o controle integrados; Rever e refinar a EAP até que a equipe do projeto concorde que o planejamento pode ser executado com sucesso e a execução e o controle venham a produzir o resultado desejado. Planejamento de tempos: O planejamento de tempos na construção civil trata-se basicamente da elaboração de cronogramas para execução da obra. O tempo de duração de um projeto é um dos elementos fundamentais para o seu planejamento. A duração de cada uma das atividades que compõem o projeto é que determina o tempo total de duração do mesmo. O tempo de duração de cada atividade é determinado de acordo com o tipo e a quantidade de serviço que a compõe, bem como da produtividade da mão-de-obra que a executa,admitindo- se, inicialmente que a mão-de-obra, os tipos e quantidade de materiais, equipamentos e outros recursos necessários para execução estarão disponíveis tempestivamente. Segundo SANTOS (2007), a duração de uma atividade é dada por: x P MO Onde “DA ” é a duração de uma determinada atividade, “QA ” a quantidade de serviço a ser executado na atividade e “P MO ” a produtividade da mão-de- obra que a executa. Estes tempos de duração são estimados e representados por cronogramas definidos no planejamento. Tais cronogramas têm a função de alimentar a programação e o controle da obra. Quando os prazos são definidos dessa forma, na verdade esta se alocando o recurso mão-de-obra às atividades. Isto acontece devido a mão-de-obra ser um dos dois recursos mais presentes em todas as atividades do projeto. O tempo total estimado para a duração do projeto pode ser representado na forma de um cronograma. No planejamento utiliza-se o cronograma em rede (redes de precedência) e o cronograma em barras. Redes de precedência PERT/COM: Também chamadas de cronogramas de rede ou redes de planejamento, as redes de PERT/CPM se fundamentam na decomposição do projeto em atividades interligadas formando uma malha. São basicamente técnicas de planejamento que consistem de uma rede com “setas” que representam as atividades e eventos de um projeto. O CPM - Critical Path Method (Método de Caminho Crítico), foi desenvolvido em 1956 pela empresa americana DuPont para planejamento e controle de projetos de engenharia. O CPM é formado por uma rede com “setas” que representam as atividades. O PERT - Program Evaluation and Review Technique (Programa de Avaliação e Análise Técnica), foi criado pela Marinha Norte Americana em 1957. O objetivo era planejar e controlar a construção do submarino Polaris. O PERT trata de uma rede com setas e nós que representam, respectivamente, as atividades e os eventos. O Diagrama de precedência, também conhecido como Diagrama de Blocos foi desenvolvido pelo francês Roy. O Diagrama de Blocos é uma ferramenta muito utilizada no gerenciamento de projetos. Incorporando algumas técnicas do PERT e do CPM, ele consiste basicamente de blocos representativos das atividades ligados por setas que indicam as dependências entre elas. Para elaboração de uma rede PERT/CPM é preciso seguir alguns passos: a) O primeiro passo é elaborar uma lista contendo todas as atividades do projeto, a ordem de execução, as atividades precedentes e a duração estimada como mostra o exemplo da tabela 01. Tabela 01 – Lista de atividades, atividades precedentes e duração estimada. Atividade Descrição Atividades Precedentes Duração Estimada (semanas) A Escavação - 2 B Fundação A 4 C Paredes B 10 D Telhado C 6 E Encanamento Exterior C 4 F Encanamento Interior E 5 G Muros D 7 H Pintura Exterior E,G 9 I Instalação Elétrica C 7 J Divisórias F,I 8 K Piso J 4 LPintura InteriorJ5 M Acabamento Exterior H 2 N Acabamento Interior K,L 6 Fonte: Hillier e Liebarman 1988 b) Feito isso, inicia-se a construção da rede. A partir da lista de atividades e das relações de precedências a rede pode ser facilmente construída. Para isto, dado uma atividade (nó), basta procurar na lista quais atividades são suas precedentes. Por exemplo, na rede da fig. 08, a atividade J possui como precedentes as atividades F e I, as quais devem ser orientados por setas, indicando assim a precedência. Figura 08 - Rede PERT / CPM. (HILLIER E LIEBERMAN, 1988) Através da análise da rede obtemos informações cruciais para o planejamento do projeto, como o tempo total necessário para sua finalização sem atrasos e quais atividades podem sofrer atrasos sem comprometer a duração total. c) Após montada a rede faz-se a verificação do caminho crítico. Um caminho é uma rota seguindo as setas a partir do nó inicio até o nó fim. O comprimento desse caminho é a soma das durações das atividades do caminho. Na rede da figura 8 existem 6 caminhos, que são dados na tabela abaixo: Tabela 02 - Caminhos e suas durações. Inicio-A-B-C-D-G-H-M-Fim2 + 4 + 10 + 6 + 7 + 9 + 2 = 40 Inicio-A-B-C-E-H-M-Fim2 + 4 + 10 + 4 + 9 + 2 = 31 Inicio-A-B-C-I-J-K-N-Fim2 + 4 + 10 + 7 + 8 + 4 + 6 = 41 Inicio-A-B-C-I-J-L-N-Fim2 + 4 + 10 + 7 + 8 + 5 + 6 = 42 Caminho Duração (semanas) Inicio-A-B-C-E-F-J-K-N-Fim2 + 4 + 10 + 4 + 5 + 8 + 4 + 6 = 43 Inicio-A-B-C-E-F-J-L-N-Fim2 + 4 + 10 + 4 + 5 + 8 + 5 + 6 = 4 Fonte: Hillier e Liebarman 1988 Como mostra a figura 09 o caminho com o maior comprimento é o caminho crítico, uma vez que, todos os outros caminhos deverão alcançar o nó fim antes do caminho crítico. As atividades sobre este caminho são chamadas de atividades críticas, ou seja, qualquer atraso em uma dessas atividades irá atrasar a duração total do projeto. Já as demais atividades se sofrerem algum atraso poderão ou não atrasar a duração do projeto. Figura 09 - Rede PERT / CPM com caminho crítico. (HILLIER E LIEBERMAN, 1988) d) Definido o caminho crítico dá-se inicio à programação das atividades. Na técnica PERT/CPM a programação das atividades consiste em determinar em que tempo uma atividade deve começar e terminar. A princípio, o tempo de duração de uma atividade deveria ser igual ao tempo final da atividade precedente. No entanto atividades que possuem 2 ou mais precedentes necessitam que todas estas estejam concluídas para dar início a atividade em questão. Já para as atividades não críticas, o tempo inicial não precisa ser necessariamente igual ao tempo final de sua precedente, uma vez que, esta atividade possui uma folga. Cronograma de barras: Principalmente pela fácil visualização que oferece, o cronograma de barras, também chamado de Gráfico de Gantt, é uma das ferramentas de planejamento mais utilizadas em projetos. Basicamente o cronograma de barras é uma forma de representar as atividades com suas pendências e distribuí-las em um intervalo de tempo. Figura 10 - Cronograma de barras / Gráfico de Gantt. (NOCÊRA, 2007) Esse tipo de cronograma apresenta algumas vantagens como a facilidade de visualização, entendimento e aplicação. A principal desvantagem é não mostrar com clareza a interdependência entre as atividades. 4.6.3. Curva “S” A curva “S” é uma representação do projeto que permite visualizar o ritmo de andamento da obra. Com experiências anteriores as empresas envolvidas em gerenciamento de projetos observaram que a evolução da execução dos serviços não se dava de forma linear e sim conforme uma Curva de Gauss. Assim, essa evolução apresentava um inicio lento, uma fase de crescimento rápido e uma fase de término lenta. A fase inicial apresenta uma execução lenta devido a esta ser uma fase de reconhecimento do projeto e de suas necessidades, assim como pelos poucos recursos presentes e a baixa sinergia entre o pessoal envolvido. Após esta fase inicia se uma fase de rápido crescimento, devido ao quase total conhecimento das etapas e necessidades do projeto, bem como a alta sinergia entre o pessoal envolvido. Por fim tem-se uma fase de término lenta que apresenta a utilização de poucos recursos e o natural desgaste mútuo entre o pessoal envolvido (NOCÊRA, 2007). Figura 1 - Curva “S”. (NOCÊRA, 2007) 4.6.4. Cronogramas O cronograma é uma representação gráfica da execução do projeto. Nele estão inseridas informações sobre as atividades que deverão ser executadas e os prazos para execução dessas atividades, dispostas de uma forma lógica, para que o projeto termine dentro de condições previamente estabelecidas. GEHBAUER (2002) salienta que para a elaboração do cronograma são necessários diversos níveis de informação. Como as condições de trabalho previstas para a execução da obra não podem ser completamente avaliadas na fase inicial do planejamento, o grau de precisão dos dados aumenta com o avanço do planejamento, ou seja, verifica-se que os dados iniciais mostram-se cada vezmais imprecisos. Por este motivo, um cronograma para ser coerente, deve ser elaborado em três níveis: Cronograma geral - delimita somente as etapas de execução mais importantes e define para isto, prazos gerais; Cronograma detalhado - indica com maior precisão cada etapa de trabalho e suas respectivas atividades; Controle durante a execução e adaptação - corrige e adapta os desvios ocorridos em relação ao cronograma geral. Na construção civil os cronogramas mais utilizados geralmente são o cronograma de mão-de- obra e o cronograma de materiais e equipamentos. Cronograma de mão-de-obra Para a elaboração do cronograma de mão-de-obra devem-se, levar em conta os tipos e quantidades de serviços para cada atividade, a elaboração de um quadro de cálculo efetivo de mão-de-obra e a disposição de um cronograma de execução do projeto detalhado, apresentado na forma de um gráfico de barras, mostrando os prazos de execução das atividades e respectivos serviços. Esse cronograma permite o melhor aproveitamento e otimização no dimensionamento da mão-de-obra. Segundo GOLDMAN (1999) o cronograma de mão-de-obra pode ser elaborado de acordo com a atividade a ser executada (tabela 03) ou pela categoria da mão- de- obra (tabela 04). Tabela 03 - Cronograma de mão-de-obra por atividade. Período Atividade Categoria Unidade Fonte: Goldman 1999 Tabela 04 - Cronograma de mão-de-obra por categoria. Quant. Hh Quant. Hh Quant. Hh Quant. Hh Fonte: Goldman 1999 4.6.4.2. Cronograma de materiais e equipamentos De acordo com LIMMER (1997), a elaboração de um cronograma de materiais deve seguir os seguintes passos como: relacionar todas as atividades dessa fase do projeto; relacionar todos os tipos de materiais e respectivas quantidades por atividade; distribuir a quantidade de cada tipo linearmente, trapezoidalmente ou percentualmente; analisar se há necessidade de nivelamento dos consumos previstos; montar o cronograma, indicando por período de consumo ou pela data de entrega dos lotes, a quantidade de material necessária. O cronograma de equipamentos trata dos equipamentos que auxiliam a construção. Para elaborar este cronograma levanta-se no cronograma físico o tempo que cada equipamento será utilizado. Neste momento devem estar definidos o método e os processos de execução, para viabilizar a alocação de equipamentos e operadores. As informações são separadas por tipo de equipamentos mobilizados (LIMMER, 1997). Este tipo de cronograma permite o melhor aproveitamento e otimização do canteiro de obras e da programação financeira do empreendimento. Planejamento de recursos: O planejamento de recursos está estreitamente relacionado com o planejamento dos prazos de execução dos serviços, pois o volume de recursos necessários e a duração da disponibilização destes podem ser deduzidos com base no cronograma. Segundo GEHBAUER (2002), um planejamento de recursos deve apresentar informações sobre o momento e a quantidade em que serão necessários os seguintes recursos no canteiro de obras: mão-de-obra; recursos operacionais; materiais de construção; Planejamento de mão-de-obra: O planejamento da mão-de-obra é uma tarefa que exige muito conhecimento, pois ele está sujeito à limitação de recursos e de espaço físico. Sendo assim, faz-se necessária uma coordenação, feita com a devida antecedência do planejamento com o setor de recursos humanos. Deve-se tentar obter um aproveitamento contínuo da mão-de-obra. De acordo com o histograma da figura 1, a quantidade de trabalhadores deve ser pouco a pouco aumentada a partir do inicio da obra e diminuída perto da fase final. Também devem se ter atenção especial neste planejamento outros critérios que podem influenciar na quantidade de mão-de-obra disponível, como períodos de férias, fins de semana e feriados, más condições do tempo ou falta de operário por motivo de doença (GEHBAUER, 2002). Figura 12 - Histograma de recursos humanos de uma obra. (GEHBAUER, 2002) Definido o quadro de recursos necessários, deve-se, em conjunto com o departamento de pessoal, definir a quantidade de mão-de-obra que será empregada na obra. Frequentemente é necessário, e também racional, a divisão da mão-de-obra em grupos segundo a categoria (operários e pessoal de supervisão) ou segundo as profissões (oficial, servente, operadores de máquinas, carpinteiros, encanadores, etc). O planejamento de mão-de-obra pode ser apresentado sob a forma de histograma (figura 1) que, na maioria das vezes é apresentada junto com o cronograma. No departamento de pessoal da empresa devem ser desenvolvidos e apresentados quadros de planejamento de pessoal, que permitam uma coordenação geral sobre todos os canteiros de obra da empresa. A partir dessas informações faz-se o dimensionamento definitivo da mão-de-obra, decidindo-se também sobre a necessidade de deslocamento de operários para as atividades dos diversos canteiros, e qual será este deslocamento. Além do levantamento da mão-de-obra necessária, deve ser feita também a coordenação das atividades a serem realizadas por essa mão-de- obra. Em obras de pequeno e médio porte, a estrutura de organização da obra é feita de acordo com a estrutura e capacidade da empresa construtora. Já no caso de projetos de grande porte e maior complexidade são principalmente os requisitos da própria obra que definem a organização do pessoal. Além disso, é também muito importante para os dirigentes da obra a definição clara das responsabilidades e tarefas daqueles que atuam na mesma. Para isso, GEHBAUER (2002), afirma que deve-se levantar as atribuições que são preponderantemente de chefia (definição e formulação de objetivos, controle contínuo dos resultados, etc.) assim como as técnico-administrativas (medidas de segurança contra acidentes, relatórios diários, semanais e mensais, etc.). Produtividade da mão-de-obra; SOUZA (2005), afirma que a produtividade da mão-de-obra, do ponto de vista físico, pode ser definida como a eficiência (e, na medida do possível, a eficácia) na transformação do esforço dos trabalhadores em produtos de construção (a obra ou suas partes). Ainda segundo SOUZA (2005), dentro de uma abordagem analítica, a produtividade da mão-de-obra pode ser vista, além de globalmente para o edifício, parcialmente para cada uma de suas partes. Assim, é possível analisar a produtividade nos vários serviços que compõem o edifício como um todo, sendo possível discutir a produtividade nos serviços de fôrmas, armação, revestimento, concretagem, etc. Índices de produtividade indicam o número de horas de trabalho por unidade produzida. Eles apresentam unidades usuais no levantamento do tempo gasto em atividades com alto emprego de mão-de-obra. Como na construção de edifícios, grande parte das atividades é realizada com grande emprego de mão-de-obra, são utilizados quase que exclusivamente índices de produtividade na elaboração do cronograma. Existe ainda o índice de rendimento, ou de desempenho, que fornecem a quantidade produzida por unidade de tempo. Em geral este índice se refere ao desempenho de máquinas e equipamentos, como grua e bomba de concreto. Segundo GEHBAUER (2002), esses índices de produtividade e rendimento podem ser determinados através de: registros sistemáticos do uso de insumos e dos cálculos efetuados posteriormente à execução da obra; pesquisas sobre o processo de construção, com coleta de dados das atividades; orçamentistas, planejadores e gerentes de obras experientes, os quais podem fazer estimativas de índices de produtividade de equipes de trabalho com relativa precisão; índices tirados de literatura especializada, os quais são os menos precisos de todos, pois geralmente os rendimentos são dados dentro de uma margem de variação, além de que as condições de produção consideradas no levantamento destes índices raramente ocorrem na prática. É recomendávelque o índice de produtividade considere um valor mínimo, médio e máximo, para que a empresa possa se situar no mercado e observar onde seus indicadores se enquadram. O objetivo é que o valor de homem-hora por metro quadrado (Hh/m²) se aproxime do valor mínimo. Figura 13 - Intervalo de variação da produtividade da mão-de-obra. (SANTOS, 2007) O valor da produtividade dependerá de fatores como: grau de detalhamento do serviço, complexidade, qualificação da mão-de-obra, organização do canteiro, ergonomia, equipamentos e ferramentas apropriadas, projeto, balanceamento da equipe, trabalho em local pouco iluminado e assim por diante. Para o cálculo da produtividade deve-se levar em consideração o maior número de fatores que exercem influência no processo produtivo. Deste modo quanto maior for o número de dados considerados mais este índice estará próximo da realidade. A equação para o cálculo da produtividade pode ser dada por: PO = (EQ x HG) / Q S Onde “EQ ” é o numero de operários da equipe, “HG ” corresponde ao tempo, em horas, gasto para executar o serviço e “QS ” a quantidade de serviço. Dependendo da superfície e do material a unidade final poderá ser Hh/m², Hh/m³, Hh/kg, Hh/m. Efeito aprendizado: Ocorre quando uma mesma etapa de produção se repete inúmeras vezes, criando um efeito de treinamento da mão-de-obra que leva a um aumento da produtividade durante o decorrer destas repetições (figura 14). Isto acontece porque há um maior conhecimento pelo operário e pela gerência da tarefa a executar. Figura 14 - Gráfico do efeito aprendizagem. (SANTOS, 2007) Além das repetições, outros fatores influenciam no efeito aprendizado como: grau e dificuldade do trabalho, composição da equipe, duração do trabalho conjunto dos operários de uma equipe, interrupção no processo de execução e nível de preparação das atividades. Segundo SANTOS (2007), o efeito aprendizado gera um aumento de cerca de 50% e ainda causa uma redução do tempo gasto para execução do serviço. Em atividades mais complexas os valores dessa redução são ainda maiores. Dimensionamento da mão-de-obra: O primeiro passo para o dimensionamento da mão-de-obra é definir as equipes de trabalho ou de equipamentos que serão necessárias para execução de um serviço. Estas equipes de trabalho podem ser: Mistas - a equipe mista é formada por um grupo de diversos trabalhadores que realizam vários tipos de atividades. Este grupo é responsável por realizar uma etapa de produção e pode ser formado, por exemplo, por pedreiros, armadores, carpinteiros e serventes. O tamanho e a combinação da equipe devem ser compatíveis com o projeto em questão. Uma equipe mista pode ser formada por até 20 operários, dirigidos por um supervisor e um contramestre. O desempenho de uma equipe, após a retirada ou inclusão de operários, pode ser recuperado com maior facilidade. A maior estabilidade em relação a alterações, que possam ocorrer na equipe durante a execução, faz com que o planejamento das atividades de cada operário se torne mais fácil. Porém, é desfavorável no caso em que necessita de mão-de-obra especializada ou quando a demanda dessa varia em etapas diferentes de uma única atividade. O efeito aprendizado neste grupo é quase nulo; Especializadas - a equipe é formada por profissionais que realizam sempre as mesmas atividades. Neste tipo de equipe pode haver um aumento de produtividade, já que, o trabalho é dividido em grupos que realizam continuamente a mesma tarefa. Geralmente as equipes são pequenas, com 4 ou 8 trabalhadores, com utilização reduzida de serventes. O efeito aprendizado neste tipo de equipe é alto, consequência da repetição das tarefas que gera um aumento na produtividade. Porém, o uso desse tipo de equipe exige uma coordenação e um planejamento das atividades mais detalhados, sendo essa sua principal desvantagem; Mecanizadas - neste tipo de equipe a produtividade é determinada principalmente em função da utilização de equipamentos. Devido ao alto grau de mecanização este tipo de equipe praticamente não existe na construção civil. Após definidas as equipes pode-se calcular o índice de produtividade desta equipe e assim dimensionar a quantidade de mão-de-obra. A quantidade de mão-de-obra é obtida pela equação: MO = (PO x QS Onde “MO ” é a quantidade de mão-de-obra (homens), “PO ” é a produtividade da mão-de-obra que a executa, “QS ” é a quantidade de serviço a ser executado e “D” é a duração de uma determinada atividade, em horas ou em dias. Considera- se a jornada de trabalho com 8,8 h/dia. Quando se utiliza equipamentos, a quantidade de mão-de-obra deve ser tal que o rendimento da equipe não deve ultrapassar o rendimento do equipamento. Planejamento de recursos operacionais: Os recursos operacionais são todas as máquinas, equipamentos, materiais auxiliares (fôrmas, andaimes, etc.), e todos os equipamentos e instalações permanentes de um canteiro de obra (ferramentas, pequenos aparelhos, almoxarifado, etc). O planejamento de recursos operacionais está estreitamente ligado não só com o planejamento da execução da obra (que levanta todo o equipamento, maquinário e material auxiliar necessário), mas também com o planejamento do canteiro de obras, onde é determinada a quantidade e o tamanho de seus equipamentos e instalações. Deve ser feita uma lista de necessidades para aquisição destes meios de produção. Esta lista deve-se dividir em equipamentos permanentes do canteiro de obras e equipamentos e máquinas cujo emprego é temporário. Assim é possível decidir sobre a disponibilização dos recursos operacionais para uma determinada obra, no momento em que estes forem necessários. Da mesma forma, é possível informar, quando estes recursos não serão mais utilizados nesta obra. Planejamento de materiais de construção: GEHBAUER (2002) diz que um planejamento detalhado da disponibilidade de materiais de construção só se faz necessário em casos muito especiais, como: em obras de grande porte, onde se tem uma demanda de grandes volumes de material, e muitas vezes de forma acumulada; em obras que se tem dificuldades de fornecimento de materiais, tornando necessário seu armazenamento a longo prazo; Geralmente é suficiente determinar a demanda total de material com um nível médio de precisão, e fechar contratos com os fornecedores, antes do início da obra e com a devida antecedência, especificando as condições gerais de fornecimento. 4.8. Planejamento de custos: Independente da localização, recursos, prazo, cliente e tipo de projeto, uma obra é uma atividade econômica, portanto, o aspecto custo reveste-se de especial importância. Na construção civil o planejamento de custos consiste basicamente na elaboração de orçamentos. Um orçamento bem elaborado é um fator primordial para um resultado lucrativo e o sucesso do empreendimento. Quando o orçamento é malfeito fatalmente ocorrem imperfeições e possíveis frustrações de custo e prazo, levando, o empreendimento, muitas vezes ao fracasso. Orçamentação: A orçamentação é basicamente um exercício de previsão. São muitos os itens que influenciam e contribuem para o custo de um empreendimento. A técnica orçamentária envolve a identificação, descrição, quantificação, análise e valorização de uma grande série de itens, requerendo, portanto, muita atenção e habilidade técnica. Como o orçamento é elaborado antes da construção do produto, muito estudo deve ser feito para não deixar lacunas na composição de custos, nem considerações descabidas. Geralmente, um orçamento é determinado somando-se os custos diretos (mão-de-obra de operários, material, equipamentos) e os custos indiretos (equipes de apoio, despesas gerais do canteiro de obras, taxas) e por fim adicionam-se os impostos e lucro, para se chegar ao preço final. Por basear-se em previsões, todo orçamento é aproximado. Por mais que todas as variáveis sejam ponderadas, há sempreuma estimativa associada. O orçamento não tem que ser exato, porém tem que ser preciso. A aproximação de um orçamento está embutida, por exemplo, na produtividade adotada para as equipes de trabalhadores, nas variações de preços dos insumos, no percentual adotado de perdas e desperdício de materiais, na produtividade de equipamentos, imprevistos, entre outros fatores. Uma importante característica observada no orçamento é a especificidade que ele apresenta. Cada orçamento é único, por exemplo, o orçamento de uma casa que será construída na cidade São Paulo será diferente do orçamento desta mesma casa se ela for construída na cidade de Barretos. Outra característica do orçamento é a temporalidade, ou seja, um orçamento que foi elaborado tempos atrás já não é válido hoje. Isto se deve, principalmente, a flutuação no custo dos insumos ao longo do tempo, criação ou alteração de impostos e encargos, evolução dos métodos construtivos, entre outros. Segundo MATTOS (2006), o orçamento não se resume à definição do custo da obra, ele tem uma abrangência muito maior, servindo de subsídio para outras aplicações, tais como: levantamento dos materiais e serviços; obtenção de índices para acompanhamento; dimensionamento de equipes; capacidade de revisão de valores e índices; realização de simulações; geração de cronograma físico-financeiro; Tipos de orçamentos: O orçamento pode ser definido de acordo com seu grau de precisão e do conteúdo dos dados do projeto em questão: a) Orçamento por estimativas – este tipo de orçamento é realizado quando a pouca disponibilidade de tempo para o cálculo dos custos para tomadas de decisões empresariais e pela pouca disponibilidade de dados técnicos relativos ao projeto. Geralmente este tipo de orçamento é elaborado a partir de índices sobre o custo unitário do metro quadrado de construção. Estes índices são obtidos através de revistas técnicas especializadas, por empresas de consultoria, por experiências de empreendimentos executados anteriormente ou através dos sindicatos estaduais da construção civil. Segundo GOLDMAN (1999), a margem de erro nestes casos pode chegar a mais ou menos quarenta por cento, uma margem considerada alta, mas que pela falta de informações podem induzir estas diferenças. b) Orçamento preliminar – a elaboração do orçamento preliminar busca detalhar os quantitativos e custos dos serviços de construção embora nem todos os projetos e informações estejam completos. A estimativa é feita com base no levantamento das quantidades, dos serviços, e na obtenção dos preços unitários dos serviços de construção. Segundo GOLDMAN (1999), a margem de erro nestes casos pode chegar a mais ou menos vinte por cento. c) Orçamento detalhado – a elaboração deste tipo de orçamento busca detalhar quantitativos e custos de todos os serviços de construção com alto nível de precisão e baixo grau de imprevistos. Para este tipo de orçamento é necessário que se tenha informações completas sobre o empreendimento. A elaboração do trabalho se dá com base no levantamento das quantidades e na obtenção dos preços unitários de construção. Segundo GOLDMAN (1999), a margem de erro nestes casos pode chegar a mais ou menos dez por cento. Elaboração de orçamentos: Esquematicamente a elaboração de orçamentos engloba três grandes etapas de trabalho: estudo das condicionantes (condições de contorno), composição de custos e fechamento do orçamento (MATTOS, 2006). Figura 15 – Etapas da orçamentação. (MATTOS, 2006) 4.8.3.1. Estudo das condicionantes (condições de contorno) Todo orçamento se baseia em um projeto, a partir dele serão identificados os serviços constantes da obra com suas respectivas quantidades, o grau de interferência entre eles, a dificuldade relativa de realização das tarefas, etc. De acordo com MATTOS (2006) esta fase de estudo das condicionantes engloba os seguintes passos: leitura e interpretação dos projetos e especificações técnicas ; leitura e interpretação do edital (se existir); visita técnica ao local onde será realizada a obra. Composição de custos A composição de custos de um determinado serviço de construção é a união de todos os insumos, ou seja, materiais, mão-de-obra e meios de produção que atuam diretamente nesta atividade. As composições de custos foram desenvolvidas no sentido de facilitar e agilizar o trabalho do orçamentista. Para isto, é necessário seguir as seguintes etapas para a elaboração de uma composição de custos: a) identificação dos serviços - nesta etapa todos os serviços necessários à realização da obra devem ser levantados. Durante esta etapa o profissional encarregado da elaboração do orçamento deve ter atenção redobrada, pois a exclusão de algum serviço da obra pode comprometer o orçamento. b) levantamento de quantitativos - após identificar os serviços é necessários quantificá-los. Esta quantificação deve ser determinada com base nos desenhos fornecidos pelo projetista. Segundo MATTOS (2006) esta etapa é uma das que intelectualmente mais exigem do orçamentista, porque exige leitura do projeto, cálculos de áreas e volumes, consulta a tabelas de engenharia, etc. c) discriminação dos custos diretos - são levantados todos os custos diretamente ligados aos serviços de campo. Representam o custo orçado dos serviços executados. Um exemplo de custo direto pode ser a execução do item fundações sub-item estacas (Anexo A). Nele é feito a composição de custos envolvendo todos os insumos necessários, como mão- de-obra (armador, ajudante, pedreiro, servente), materiais (areia, cimento, brita, aço, arame) e equipamentos (betoneira). d) discriminação dos custos indiretos – são levantados todos os custos que não estão diretamente ligados aos serviços de campo, mas que são necessários para execução destes serviços, como por exemplo, despesas de deslocamento do pessoal (passagens, transporte), alojamento provisório, taxas e emolumentos, canteiro de obras, entre outras. e) cotação de preços - consiste na coleta de preços de mercado para os diversos insumos da obra, tanto os que aparecem no custo direto, quanto no custo indireto. É nesta etapa que os preços são inseridos no orçamento. f) definição de encargos sociais e trabalhistas - nesta etapa define-se o percentual de encargos sociais e trabalhistas que serão aplicados na mão-de-obra. Envolve os diversos impostos que incidem sobre a hora trabalhada e os benefícios a que têm direito os trabalhadores e que são pagos pelo empregador. Como exemplo desses encargos podemos citar o INSS2 , FGTS3, seguro contra acidente de trabalho, férias, 13o salário, etc. Fechamento do orçamento: No fechamento do orçamento deve-se determinar o lucro que deseja obter na obra em questão, efetuar o cálculo do BDI (Benefícios e Despesas Indiretas) e realizar o desbalanceamento da planilha. Na definição do lucro deve-se levar em conta fatores como concorrência, risco do empreendimento, necessidade de se conquistar aquela obra, entre outros. No cálculo do BDI deverão ser computados todos os custos indiretos da obra e o lucro. Este valor geralmente é expresso em percentual e aplicado uniformemente sobre todos os serviços da obra. Segundo MATTOS (2006) como forma de melhorar a situação econômica do contrato, o construtor pode realizar uma distribuição não uniforme do valor total do BDI nos itens da planilha, fazendo uma “jogada de preços” na planilha sem alteração do preço final. Este desbalanceamento da planilha de preços torna possível obter vantagens da seguinte forma: aumentando o preço de serviços que ocorrem cedo na obra e diminuindo o preço dos serviços que ocorrem mais perto do fim; aumentando o preço dos serviços cujo o quantitativo tende a crescer e diminuindo daqueles cujo quantitativo tende a ser menor do que o da planilha. Controle: O controle visa levantar e mensurar os desvios apresentados na execução com relaçãoao planejamento e, principalmente, indicar a forma de correção da execução ou do planejamento. 1 Ele deve envolver atividades de levantamento de dados, 2 Contribuição para o Instituto Nacional do Seguro Social, incide sobre a remuneração paga no decorrer do mês em questão. Percentual é fixado por lei. 3 Contribuição para o Fundo de Garantia sobre Tempo de Serviço. Percentual fixado por lei. Compilação de dados, comparação com o planejado, análise dos resultados e proposição de ações corretivas. O controle deve ser iniciado simultaneamente com a execução da obra e ele deve ser preventivo ao invés de corretivo, assim, quando detectada uma tendência à ocorrência de desvios na execução, esta deve ser analisada prontamente e, se possível, tomada as medidas necessárias para correção. Por outro lado, os desvios devidos a fatos não previstos no planejamento e que não são possíveis de correção deverão alimentar o replanejamento. Segundo SANTOS (2007) existem duas formas de controle, o operacional e o gerencial. O operacional trata-se do controle direto, sob a responsabilidade de mestres e encarregados alocados no canteiro de obras. Sua função é manter as atividades programadas dentro do prazo estipulado, conforme a produtividade prevista e uma mantendo a qualidade que foi pré- estabelecida para o serviço. O gerencial tem base em relatórios periódicos (semanal, quinzenal ou mensal, dependendo do tipo de empreendimento). Sua função é comparar o previsto com o realizado para detectar anomalias para assim poder tomar as medidas necessárias para a sua correção. Geralmente, a construção civil apresenta os seguintes controles: a) Controle de custos – controlam-se gastos com materiais, mão-de-obra e equipamentos, além de outros custos indiretos comparando o executado com o planejado. Os custos, porém podem sofrer influências externas, como da oferta e da procura do mercado ou da inflação. b) Controle de prazos - é feito por cronogramas, como o de barras. Neste controle as atividades são quebradas em partes segundo os períodos de execução. É colocada a barra do planejamento e embaixo dela a do realizado. Sua função é garantir que a execução esteja dentro dos prazos previstos pelo planejamento. c) Controle de recursos – neste tipo de controle controlam-se materiais, mão-de-obra e equipamentos. Assim como o controle de prazos e custos o controle de materiais e mão-de-obra é feito comparando o realizado com o planejado, através de notas fiscais (materiais) e índices de produtividade (mão-de-obra). O controle de equipamentos visa evitar o uso de ferramentas ou equipamentos inadequados, inseguros ou deficientes. Utilização de softwares no planejamento e controle de obras:Durante o planejamento de uma obras, e principalmente na elaboração do cronograma, é necessário trabalhar com um grande volume de dados. A utilização de softwares próprios para o gerenciamento torna e processo de planejamento e controle mais fácil, rápido e racional. Como exemplo de softwares para gerenciamento temos o Ganttproject, o OpenProj, o PowerProject e o MS Project. Estes softwares utilizam os princípios de redes PERT/CPM, no entanto, as atividades e etapas de construção são apresentadas em forma de diagrama de barras. Inicialmente deve-se fazer um esboço da estruturação do projeto e também uma lista de todas as atividades que compreendem o mesmo. Este esboço deve ser o ponto de partida para a utilização do programa, uma vez que, nestes softwares o planejamento das atividades considera a estruturação do projeto, montando uma hierarquia no diagrama de barras, que corresponde a esta estruturação. O passo seguinte é determinar uma escala de tempo para cada subnível do planejamento. Esta escala de tempo pode ser em horas, dias, semanas ou meses, dependendo do nível de detalhamento que se quer atingir. Além disso, devem ser definidas datas de início e fim de cada atividade e interdependência entre elas. Realizada esta etapa o programa basicamente reconhece as atividades do caminho crítico (sem folga), e para todas as outras, ele calcula e indica a folga disponível. Tornando possível o planejamento da obra dentro de prazos ideais. O estes softwares permitem uma visualização simultânea, em um cronograma de barras, de momentos diferentes do desenvolvimento da obra, permitindo assim uma comparação entre o previsto e o realizado, tornando-se uma ótima ferramenta para controle da execução da obra. Fontes: BERNARDES, M. M. S. (2001). Desenvolvimento de um modelo de planejamento e controle da produção para micro e pequenas empresas de construção. 310p. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. GEHBAUER, F.; EGGENSPERGER, M.; ALBERTI, M. E.; NEWTON, S. A. (2002). Planejamento e gestão de obras: um resultado prático da cooperação técnica Brasil-Alemanha. Curitiba: Editora CEFET-PR. GOLDMAN, P. (1999). Sistema de planejamento e controle de custos na construção civil: Subsetor Edificações. 140p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal Fluminense, Niterói. GOLDMAN, P. (2004). Introdução ao planejamento e controle de custos na construção civil brasileira. São Paulo: Editora Pini. HILLIER, F. S.; LIEBERMAN, G. J. (1988). Introdução à pesquisa operacional. Rio de Janeiro: Editora Campus. LIMMER, C. V. (1997). Planejamento, orçamentação e controle de projetos e obras. Rio de Janeiro: Editora LTC. MATTOS, A. D. (2006). Como preparar orçamentos de obras: dicas para orçamentistas, estudos de caso, exemplos. São Paulo: Editora Pini. NETTO, A. V. (1988). Como gerenciar construções. São Paulo: Editora Pini NOCÊRA, R. J. (2007). Planejamento e controle de obras com o Microsoft Project 2007. Santo André: Editora do Autor. SANTOS, D. G. (2007). Notas de aula. São Cristovão: UFS. SOUZA, U. E. L. (2005). Como reduzir perdas nos canteiros: manual de gestão do consumo de materiais na construção civil. São Paulo: Editora Pini. SOUZA, U. E. L. (2005). Como aumentar a eficiência da mão-de-obra: manual de gestão da produtividade na construção civil. São Paulo: Editora Pini. SUKSTER, R. (2005). A integração entre o sistema de gestão da qualidade e o planejamento e controle da produção em empresas construtoras. 158p. Trabalho de Conclusão (Mestrado Profissional) - Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. YAZIGI, W. (1999). A técnica de edificar. São Paulo: Editora Pini.