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Departamento de Química Universidade Federal de São Carlos “Bromação da Acetanilida: Uma reação de substituição eletrofílica aromática” Química Orgânica Experimental I Aluna: Lívia de Lima Conceição - RA: 800850 Professor: Edson Rodrigues Filho São Carlos 30 de Agosto de 2023 2 Índice 1. Introdução………………………………………….. 2 2. Objetivos………………………………………….…10 3. Procedimento experimental…………………..……..10 3.1. Materiais…………………..…………………....10 3.2. Reagentes e solventes…………………..……....10 3.3. Métodos………………………………………...11 3.3.1. Preparação da Acetanilida…………....…11 3.3.2. Bromação da Acetanilida…………….....11 3.3.3. Caracterização da 4-bromoacetanilida por espectroscopia no infravermelho………………………….12 3.3.4 Identificação da 4-bromoacetanilida por cromatografia em camada delgada……………………………………….12 4. Discussões e resultados……………………..……….12 5. Conclusão……………………………………………15 6. Referências Bibliográficas.…………………..………16 3 1. Introdução A história do benzeno remonta ao século XIX, quando sua estrutura intrigante despertou a curiosidade de químicos visionários. A busca para compreender essa molécula culminou na década de 1860, quando o químico alemão Friedrich August Kekulé propôs a estrutura hexagonal do benzeno. No entanto, essa estrutura desafiava as noções tradicionais de ligações químicas e gerou debates acalorados. O mistério foi finalmente solucionado com a teoria de ressonância, desenvolvida na primeira metade do século XX, que permitiu uma compreensão mais profunda da natureza dos elétrons pi deslocalizados no anel benzênico. Isso abriu caminho para a compreensão da aromaticidade e sua relação com a estabilidade excepcional do benzeno. Figura 1: Estrutura real do benzeno Os hidrocarbonetos aromáticos são conhecidos como arenos e as reações mais características que estes compostos podem sofrer são conhecidas como substituição eletrofílica aromática. Essas reações ocorrem devido à disponibilidade de elétrons pi em excesso nos orbitais p da estrutura aromática, que podem reagir com espécies eletrofílicas. Como mostrado na figura abaixo, o benzeno, que atua como nucleófilo tem um dos hidrogênios aromáticos substituídos pelo eletrófilo. Os nucleófilos são potencialmente todos os ânions ou moléculas neutras que possuem um par de elétrons não-compartilhados ou elétrons. Estas espécies (os nucleófilos) têm afinidade por eletrófilos (E+), ou seja, um cátion ou uma espécie deficiente em elétrons. A primeira ação que ocorre no mecanismo de Substituição Eletrofílica em Sistemas Aromáticos (SEAr) é a complexação do eletrófilo (E+) com o sistema p, formando o complexo p. Essa formação é, no entanto, reversível e transitória. Figura 2: Esquema de adição de eletrófilos num aromático benzílico. Na sequência, de uma maneira geral, as reações SEAr ocorrem em duas etapas: (1) Ataque do sistema p ao eletrófilo (E+), o que leva a um intermediário catiônico e; (2) 4 A perda de um próton restaurando a aromaticidade. A etapa de formação do intermediário catiônico pode ser reversível, tudo depende de quão facilmente o eletrófilo pode ser eliminado, relativamente ao próton. Na maioria dos exemplos, é mais fácil eliminar o próton. Figura 3: Mecanismo simplificado de uma substituição eletrofílica aromática. Claro que o intermediário catiônico é menos estável do que o material de partida ou do que o produto. No entanto, esse intermediário é estável o suficiente para ser formado, por causa da deslocalização eletrônica que ocorre através do anel aromático. O intermediário é um sistema com quatro elétrons p deslocalizados, mas sem conjugação cíclica, sendo similar a um cátion pentadienila. A carga positiva formada pode ser deslocalizada para as duas posições orto e para a posição para em relação ao eletrófilo inserido. Portanto, a carga pode ser também convenientemente desenhada como ligações pontilhadas e cargas parciais nas posições orto e na posição para. Figura 4: Estruturas de ressonância do íon arênio Esse intermediário estabilizado por ressonância é um cátion ciclohexadienílico e pode ser chamado de ÍON ARÊNIO. A etapa determinante da velocidade, na maioria dos casos, é a formação desse intermediário. Isso não é nenhuma surpresa, uma vez que a aromaticidade é temporariamente perdida e, forma-se uma espécie carregada. A segunda etapa, que é a restituição da aromaticidade, com a perda do próton, é a etapa rápida. O perfil energético de uma reação de substituição eletrofílica genérica pode ser observado na figura abaixo. Onde o estado de transição (ET) que leva a formação do íon arênio é o de maior energia (ET1). 5 Figura 5: Gráfico de exergia para a reação de substituição eletrofílica aromática Tanto o ciclo aromático quanto o eletrófilo participam da etapa determinante da velocidade e, são importantes para a equação da velocidade da reação que é de primeira ordem em relação a cada um deles e, portanto, de segunda ordem global: V = K [Sist. Ar][Eletrófilo] As reações de substituição eletrofílica aromáticas permitem a introdução de uma grande variedade de grupos funcionais no anel aromático e, por isto, são úteis para a síntese de muitos compostos importantes em nossas vidas, como por exemplo, fármacos, defensivos agrícolas, corantes têxteis e alimentícios. As reações de substituição eletrofílica aromáticas mais conhecidas são: halogenação, sulfonação, alquilação de Friedel-Crafts, acilação de Friedel-Crafts e a nitração. No contexto das reações eletrofílicas aromáticas, os grupos ativadores e desativadores desempenham um papel crucial. Grupos ativadores, como os grupos alquílicos e alcóxidos, aumentam a densidade eletrônica no anel benzênico por meio da doação de elétrons por ressonância. Isso resulta em um aumento na reatividade do benzeno em relação a reações eletrofílicas, facilitando a adição de grupos funcionais em sua estrutura e tornando também mais rápida. Figura 6: Estruturas de ressonância com um grupo ativador no aromático. Por outro lado, grupos desativadores, como nitro e halogênio, retiram densidade eletrônica do anel benzênico por ressonância ou efeito indutivo, diminuindo a 6 reatividade e influenciando as posições preferenciais de substituição. Eles tendem a direcionar a reação para sítios específicos no anel, influenciando a regiosseletividade das reações. Figura 7: Estruturas de ressonância com um grupo desativador no aromático. Um exemplo notável de composto aromático é a anilina, que é um derivado da benzidina. A anilina é uma amina aromática que possui um grupo amina (-NH2) ligado ao anel benzênico. Figura 8: Fórmula estrutural da anilina. Devido à presença do grupo amino, que contém um par de elétrons não ligantes livre, a anilina é classificada como um grupo ativador, aumentando a reatividade do anel benzênico em reações eletrofílicas. A anilina tem uma ampla gama de aplicações, desde a produção de corantes até a síntese de produtos farmacêuticos. Uma reação de síntese comum envolvendo a anilina é a sua conversão em acetanilida, inclusive, essa será a reação utilizada neste relatório. Isso pode ser alcançado pela adição do anidrido de acético. A reação produz a acetanilida, que é um composto importante usado em sínteses orgânicas e na indústria farmacêutica. 7 Figura 9: Mecanismo reacional da formação da acetanilida através da anilina com o anidrido acético. O par de elétron não-ligante do nitrogênio ataca a carbonila do anidrido, pois este é um centro eletrofílico. A dupla ligação com o oxigênio é quebrada e então, têm-se o nitrogênio com uma carga positiva, visto que este está ligado ao anel aromático, aos dois hidrogênios e agora ao carbono. O par de elétron não ligante do oxigênio “restaura” a dupla ligação com o carbono, expulsando uma parte da molécula do anidrido, que sai em forma de íon acetato. O íon acetato, por sua vez, abstrai um próton do nitrogênio, fazendo com que este perca a carga positiva.E por fim a molécula de acetanilida é obtida. Este procedimento é muito importante pois o grupo amino é um grupo fortemente ativador do anel aromático, visto que o par de elétron não ligante do nitrogênio pode ser deslocalizado para o anel, tornando-o muito rico em elétrons. Entretanto, para este experimento, essa característica de forte ativação não seria proveitosa, afinal, ela causaria mais que uma halogenação à acetanilida, formando um produto di ou trisubstituído. As amidas, por sua vez, ativam moderadamente o anel aromático, pois o par de elétron não-ligante do oxigênio faz parte da ressonância com a dupla carbono- oxigênio, não estando tão disponível para o anel aromático. Logo, esta etapa garante que o produto será monosubstituído. A etapa de bromação consiste num ataque eletrofílico da ligação pi do anel aromático a um bromo da molécula Br2, liberando um íon brometo ao meio reacional. Nessa etapa, há a formação de um carbocátion e a aromaticidade do anel é perdida. O íon brometo recém liberado age como base e abstrai um próton do carbono o qual o bromo foi adicionado. Os pares de elétrons da ligação com o hidrogênio são deixados à molécula, formando novamente a ligação pi. Assim, a aromaticidade do anel é restaurada e obtém-se o 1-bromo-4-acetanilida e ácido bromídrico, como mostra o mecanismo a seguir: 8 Figura 10: Mecanismo de bromação da acetanilida Para a caracterização da 4-bromoacetanilida sintetizada utilizaremos o método de espectroscopia no infravermelho. A espectroscopia de infravermelho (espectroscopia IV) é um tipo de espectroscopia de absorção que usa a região do infravermelho do espectro eletromagnético. Como as demais técnicas espectroscópicas, ela pode ser usada para identificar um composto ou investigar a composição de uma amostra. Sendo amplamente utilizada nas áreas de química de produtos naturais, síntese e transformações orgânicas. Figura 11: Espectro IR da 4-bromoacetanilida. A região >1500 cm-1: Nesta região estão presentes sinais de ligações duplas, ligações triplas e ligações XH (X = C, N, O). Na região do grupo funcional, as ligações duplas dão sinal nas regiões 1600-1850 cm-1, as ligações triplas nas regiões 2100-2300 cm-1 e 9 as ligações XH nas cm-1 regiões 2700-4000. Região da impressão digital (ocorrência de espuma durante a filtração. 3.3.2 Bromação da Acetanilida Mediante a disponibilização do reagente acetanilida já pronto, começou-se a etapa de bromação. Primeiramente, dissolveu-se em um Erlenmeyer de 125 mL, 1,35 g (0,01 mol) de acetanilida em 5,0 mL de ácido acético glacial. Em seguida, dissolveu-se 60g de bromo em 2,0 mL de ácido acético glacial e misturou-se essa solução à solução de acetanilida. Agitou-se por cinco minutos. Adicionou-se 40 mL de água gelada e aproximadamente 30 mL de metabissulfito de sódio, suficiente para que houvesse a descoloração da mistura. Filtrou-se o produto num funil de Buchner à vácuo, lavando o produto sólido com água gelada. Pesou-se o produto e calculou-se o rendimento. 3.3.3 Caracterização da 4-bromoacetanilida por espectroscopia no infravermelho (FTIR) 13 Para a preparação da amostra, a amostra a ser analisada, após a evaporação do solvente, deve ser preparada em uma forma adequada para a análise. Pegou-se uma pequena quantidade da 4-bromoacetanilida (após a evaporação do solvente) e misturou-se com uma quantidade de aproximadamente 1:10 de KBr. Com o auxílio do almofariz e pistilo, toda a mistura foi homogeneizada e levada para a prensa. Em seguida, com a pastilha pronta, a análise com FTIR pode ser iniciada, e a partir dela, será gerado um gráfico na qual será possível a verificação do composto através da verificação dos estiramentos característicos das moléculas presentes na 4- bromoacetanilida. 3.3.4 Identificação da 4-bromoacetanilida através da cromatografia em camada delgada (CCD) Preparou-se uma mistura de 9:1 de hexano/acetato de etila para usar de eluente na técnica. Preparou-se a placa de sílica, e, com ajuda dos tubos capilares, inseriu-se pequenas quantidades das duas amostras na mesma, do lado esquerdo MP (material de partida) composto de acetanilida e do lado direito PR (produto obtido). Adicionou-se o eluente no béquer, a placa verticalmente, para que o eluente possa ser adsorvido pela fase estacionária, e com um vidro de relógio o sistema foi fechado. Após um período, retirou-se a placa e marcou-se as distâncias percorridas, caso fosse necessário, utilizou-se a luz UV para auxiliar na revelação. 4. Discussões e resultados → CÁLCULO DE RENDIMENTO Acetanilida: d = m/v 1,22 /mL = m/1,1 mL m = 1,35 , como n = m/MM, teremos: 1,35/135,17 gmol-1 = 9,98 mmol 4-bromoacetanilida: 14 papel + filtro = 35,04 g papel + filtro + amostra = 36,60 g, logo, amostra = 1,56 g n = m/MM n = 1,56 /214,08 gmol-1 = 7,28 mmol Rendimento da reação: 9,98 mmol − − − − − −100 % 7,28 mmol − − − − − % → = 73,01 % Figura 14: Espectro IR da 4-bromoacetanilida 15 Figura 15: Espectro IR da acetanilida. Analisando os espectros, verifica-se a formação do produto 4- bromoacetanilida . No espectro de infravermelho, observa-se um estiramento em 3304 cm-1 , referente ao NH da amida secundária. Observou-se em 1670 cm-1 um estiramento de C=O da carbonila de amida. São observadas absorções de estiramento de C-H de sp2 do anel aromático em aproximadamente 3109 cm-1 e estiramento de C=C de anel aromático em 1600 e 1489 cm-1 . Além disso, absorções de estiramento do grupo Br em 1064 cm-1 . 16 Figura 16: Placa de CCD realizada em laboratório. Sendo MP o material de partida (acetanilida) e PR o produto, e utilizando o eluente 9:1 Hexano/Acetato, temos: Rf = dc/ds, com dc1 = 0,8 cm, dc2 = 0,5 e ds = 2,8 cm RfPR = 0,5/2,8 = 0,17 e RfMP = 0,8/2,8 = 0,28 Logo, MP é menos polar, portanto mais rápido e PR é mais polar, e fica mais retido na placa, tendo sua velocidade diminuída. Podemos perceber que a 4-bromoacetanilida é mais polar do que a acetanilida, porque a introdução de um átomo de bromo na acetanilida aumenta a polaridade da molécula devido à eletronegatividade do bromo. Isso resulta em uma maior atração pela fase estacionária polar, diminuindo a velocidade em comparação a acetanilida de partida. 5. Conclusão Através deste experimento, foi possível observar a bromação efetiva utilizando o ácido acético glacial, que auxilia na formação de um melhor eletrófilo de bromo. Mostrou-se eficiente, pois promoveu a formação da 4-bromoacetanilida com um rendimento considerável de 73,01%. A caracterização foi realizada por meio da espectroscopia no infravermelho (FTIR), o que confirmou a obtenção do produto desejado realizando a análise dos dados. Com a técnica CCD percebemos também que há a formação do produto obtido, uma vez que este é mais polar que a acetanilida, e logo ficou mais retido na placa, batendo com os resultados esperados para o procedimento. 17 6. Referências Bibliográficas 1. CORRÊA, Arlene G.; OLIVEIRA, Kleber T. de; PAIXÃO, Marcio W.; BROCKSOM, Timothy J..Química Orgânica Experimental: uma abordagem de química verde. Rio de Janeiro: Elsevier Editora, 2016. 200 p. 2. VOGEL, A.I.; TATCHELL, A.R.; FURNIS, B.S.; HANNAFORD, A.J.; SMITH, P.W.G..Vogel's Textbook of Practical Organic Chemistry. 5ª ed. Pearson, 1996. 3. PAVIA, D.L.; LAMPMAN, G.M.; KRIZ, G.S.; ENGEL, R.G.Química Orgânica Experimental: Técnicas de escala pequena. 2ª ed. São Paulo: Bookman, 2009. 4. https://patyqmc.paginas.ufsc.br/files/2019/07/Substituic%CC%A7a%CC%83o- Eletrofi%CC%81lica-em-Aroma%CC%81ticos.pdf 5. Marques, J. A.; Borges, C. P. F. Práticas de Química Orgânica. Editora Átomo, Campinas-SP, 2007. 6. Pavia, D.; Lampman, G. M.; Kriz, G. S.; Engel, R. G. Química Orgânica Experimental, Técnicas em escala pequena. Bookman, Segunda Edição, Porto Alegre-RS, 2009. https://patyqmc.paginas.ufsc.br/files/2019/07/Substituic%CC%A7a%CC%83o-Eletrofi%CC%81lica-em-Aroma%CC%81ticos.pdf https://patyqmc.paginas.ufsc.br/files/2019/07/Substituic%CC%A7a%CC%83o-Eletrofi%CC%81lica-em-Aroma%CC%81ticos.pdf