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<p>Extinção da PunibilidadeExtinção da Punibilidade</p><p>(arts. 107-120 do CPB)(arts. 107-120 do CPB)</p><p>Matheus NascimentoMatheus Nascimento</p><p>Servidor Público Federal e AdvogadoServidor Público Federal e Advogado</p><p>Pós Graduado em Direito Penal e Processo PenalPós Graduado em Direito Penal e Processo Penal</p><p>Ex-assessor de Procurador da República - MPF/RSEx-assessor de Procurador da República - MPF/RS</p><p>Introdução</p><p>● Punibilidade é o direito que tem o Estado de aplicar</p><p>a sanção penal prevista na norma incriminadora,</p><p>contra quem praticou a infração penal. A</p><p>punibilidade, como se percebe, não integra o</p><p>conceito analítico de crime, sendo sua consequência</p><p>jurídica (efeito do crime). Extinta a punibilidade,</p><p>não desaparece o crime, somente seu efeito.</p><p>CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE</p><p>O direito de punir não é absoluto. Praticado o injusto penal por</p><p>um agente culpável, é possível que, in casu, incida alguma causa</p><p>extintiva da punibilidade, fazendo com que o Estado não possa</p><p>aplicar a sanção cominada no tipo penal.</p><p>O artigo 107 do Código Penal apresenta um rol meramente</p><p>exemplificativo de causas que fazem desaparecer o direito de o</p><p>Estado aplicar a pena, o que significa que outras normas podem</p><p>dispor sobre o tema.</p><p>É o que faz, a título de exemplo, o artigo 312, §3°, do Código</p><p>Penal, anunciando que a reparação do dano (ou restituição da coisa)</p><p>no peculato culposo atua como causa extintiva de punibilidade.</p><p>Morte do agente</p><p>Extingue-se a punibilidade pela morte do agente (indiciado, réu,</p><p>sentenciado ou executado) em decorrência do princípio mors omnia solvit</p><p>(a morte tudo apaga) e do princípio constitucional da personalidade da</p><p>pena, segundo o qual nenhuma sanção criminal passará da pessoa do</p><p>delinquente (art. 5°, XLV, CF/88).</p><p>Em razão dela (morte), extinguem-se todos os efeitos penais da</p><p>sentença condenatória (principais e secundários), permanecendo os</p><p>extrapenais (a decisão definitiva, por exemplo, conserva a qualidade de</p><p>título executivo judicial).</p><p>Trata-se, por certo, de causa personalíssima, incomunicável aos</p><p>concorrentes.</p><p>ANISTIA, GRAÇA E INDULTO</p><p>● Na anistia o Estado, por meio de lei penal, devidamente discutida no Congresso Nacional e</p><p>sancionada pelo executivo federal, por razões de clemência, política, social etc., esquece</p><p>um fato criminoso, apagando seus efeitos penais (principais e secundários). Os efeitos</p><p>extrapenais, no entanto, são mantidos, podendo a sentença condenatória definitiva ser</p><p>executada no juízo cível, por exemplo. Note que, uma vez concedida a anistia (renunciando o</p><p>Estado seu poder de punir), não pode lei superveniente impedir seus (anistia) efeitos extintivos</p><p>da punibilidade; deve ser respeitada a garantia constitucional da proibição da retroatividade</p><p>maléfica.</p><p>● A doutrina, de modo geral, trata a graça e o indulto em conjunto, considerando as inúmeras</p><p>semelhanças entre os dois institutos. Ambos são concedidos pelo Presidente da República,</p><p>via decreto presidencial (art. 84, XII, CF/88 —ato administrativo), podendo ser delegada a</p><p>atribuição aos Ministros de Estado, ao Procurador Geral da República ou ao Advogado Geral</p><p>da União. Atingem apenas os efeitos executórios penais da condenação, subsistindo o crime, a</p><p>condenação irrecorrível e seus efeitos secundários (penais e extrapenais). Nesse sentido temos</p><p>a Súmula 631 do STJ.</p><p>Retroatividade de lei que não mais considera o fato</p><p>como criminoso"Abolitio criminis".</p><p>● Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa</p><p>de considerar crime, cessando em virtude dela a execução</p><p>e os efeitos penais da sentença condenatória (art. 20 CP).</p><p>Desse modo, se lei nova abolir do ordenamento penal lei</p><p>incriminadora, o fato não é mais punível, ainda que</p><p>praticado no momento em que existia a incriminação,</p><p>prevalecendo, no caso, a regra nova (retroatividade).</p><p>Aliás, mesmo que exista condenação transitada em</p><p>julgado, cessam a execução e os seus efeitos penais.</p><p>Decadência</p><p>● A decadência está prevista como causa extintiva da punibilidade no art.</p><p>107, IV, do CP. Consiste na perda do direito de ação pela consumação do</p><p>termo prefixado pela lei para o oferecimento da queixa (nas ações penais de</p><p>iniciativa privada) ou representação (nas ações penais públicas</p><p>condicionadas), demonstrando, claramente, a inércia do seu titular. Extinto</p><p>o direito de ação, perde o Estado, por conseguinte, também o seu direito de</p><p>punir. O artigo 103 do Código Penal (bem como o art. 38 do CPP)</p><p>estabelece que, salvo disposição expressa em contrário, o ofendido decai</p><p>do direito de queixa ou de representação se não o exercer dentro de</p><p>prazo de seis meses, contado do dia em que veio a saber quem é o autor</p><p>do crime (esse termo inicial visa alcançar aquelas infrações cometidas na</p><p>clandestinidade ou cuja autoria não é conhecida de plano), ou, na hipótese</p><p>de ação privada subsidiária da pública, do dia em que se esgota o prazo</p><p>para o oferecimento da denúncia.</p><p>● Havendo coautoria ou participação, o prazo decadencial, como ressoa da</p><p>unânime voz de nossos doutrinadores, tem seu dies a quo assinalado pelo</p><p>conhecimento do primeiro autor do fato punível.</p><p>● O termo decadencial é contado na forma do art. 10, CP, computando-se o</p><p>dia de início e excluindo o dia do fim. Trata-se de prazo fatal, ou seja,</p><p>improrrogável, não ficando sujeito a causas de interrupção ou suspensão</p><p>● O direito de queixa ou de representação, até o ofendido completar dezoito</p><p>anos, deve ser exercido, em seu nome, pelo representante legal. Com 18</p><p>(dezoito) anos completos, desaparece o representante, ficando apenas ele</p><p>(ofendido) legitimado a representar.</p><p>● Caso o representante legal não tenha ofertado tempestiva</p><p>representação, a vítima, quando maior, poderá fazê-lo. Até a</p><p>maioridade não corre para o ofendido o prazo de decadência (apenas</p><p>para o seu representante legal).</p><p>Perempção</p><p>● Sanção processual ao querelante inerte ou negligente.</p><p>● Esta causa de extinção da punibilidade incide somente na ação penal de iniciativa privada, desde que</p><p>exclusiva ou personalíssima, uma vez que, tratando-se de ação penal privada subsidiária da pública,</p><p>a inércia do querelante implica a retomada da titularidade da ação por parte do Ministério Público.</p><p>As hipóteses de perempção estão enunciadas no artigo 60 do Código de Processo Penal:</p><p>● (A) quando, iniciada a ação penal privada, o querelante deixar de promover o andamento do</p><p>processo durante 30 dias seguidos;</p><p>● (B) quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo,</p><p>para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem</p><p>couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;</p><p>● (C) quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do</p><p>processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações</p><p>finais;</p><p>● (D) quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.</p><p>● Havendo pluralidade de querelantes, a sanção processual em relação ao desidioso não atinge os</p><p>demais. Seja qual for a hipótese de perempção, a consequência é a extinção da punibilidade, ficando</p><p>vedada a interposição de nova ação por aquele fato.</p><p>Prescrição</p><p>● A prescrição é a perda, em face do decurso do tempo, do direito de o Estado</p><p>punir (prescrição da pretensão punitiva) ou executar uma punição já imposta</p><p>(prescrição da pretensão executória).</p><p>● Trata-se de um limite temporal ao direito de punir do Estado. Sendo matéria de</p><p>ordem pública, deve ser conhecida, ainda que de ofício, pelo juiz. Nesse sentido</p><p>dispõe o artigo 61 do Código de Processo Penal: "Em qualquer fase do processo, o</p><p>juiz, se reconhecer extinta a punibilidade, deverá declará-la de ofício".</p><p>Hipóteses de imprescritibilidade</p><p>● Os crimes, ordinariamente, por mais graves que sejam,</p><p>prescrevem. A Constituição Federal estabeleceu como</p><p>regra a prescritibilidade, anotando o legislador constituinte</p><p>ordinário as exceções. Com efeito, são imprescritíveis:</p><p>● (A) o crime de racismo, tipificado na Lei n° 7.716/89 (art.</p><p>5°, XLII, CF/88);</p><p>● (B) os delitos praticados por grupos armados, civis ou</p><p>militares, contra a ordem constitucional e o Estado</p><p>Democrático (art. 5°, XLIV, CF/88).</p><p>Prescrição: espécies</p><p>Existem duas principais espécies de prescrição:</p><p>A) da pretensão punitiva, que ocorre antes do trânsito em julgado da</p><p>sentença e extingue o direito de punir do Estado, impedindo-o de acionar</p><p>o Poder Judiciário na busca da aplicação da lei penal ao fato cometido</p><p>pelo agente, ou, caso exercido o direito de ação, impedindo-o de ver</p><p>julgado, definitivamente, o processo em curso;</p><p>B) da pretensão executória (art. 110, caput, do CP), esta posterior ao</p><p>trânsito em julgado, impedindo o Estado de executar a punição (pena ou</p><p>medida de segurança) imposta na sentença definitiva, subsistindo,</p><p>porém, os efeitos secundários da condenação e extrapenais.</p><p>A prescrição da pretensão punitiva, por sua vez, apresenta quatro</p><p>formas:</p><p>1) propriamente dita (em abstrato), tratada no art. 109 do CP;</p><p>2) superveniente, disposta no art. 110, § 1°;</p><p>3) retroativa, prevista no art. 110, § 1°;</p><p>4) e virtual ou antecipada (criada pela jurisprudência).</p><p>Prescrição da pretensão punitiva propriamente dita ou prescrição em abstrato</p><p>(PPPA)</p><p>Tendo o Estado a tarefa de buscar a punição do delinquente, deve dizer até quando essa</p><p>punição lhe interessa (não podendo eternizar o direito de punir). Sendo incerto o</p><p>quantum (ou tipo) da pena que será fixada pelo juiz na sentença, o prazo prescricional</p><p>é resultado da combinação da pena máxima prevista abstratamente no tipo</p><p>imputado ao agente e a escala do art. 109.</p><p>(i) Qualificadoras:</p><p>As qualificadoras representam uma pena autônoma, distinta do tipo básico, motivo pelo qual deverão ser consideradas</p><p>para a identificação da pena máxima abstrata. Exemplo: no crime de homicídio simples, cuja pena é de 6 a 12 anos,</p><p>deve-se trabalhar com o limite máximo de 12 anos (art. 121, caput, CP); em se tratando de homicídio qualificado, a</p><p>prescrição é calculada com base na pena máxima de 30 anos (art. 121,§2º, CP).</p><p>(ii) Circunstâncias judiciais Previstas no artigo 59 do Código Penal:</p><p>As circunstâncias judiciais não têm quantum (de aumento ou diminuição) previsto em lei, bem como sua incidência não</p><p>é capaz de alterar os limites mínimo e máximo definidos no tipo penal, justificando o porquê de não serem</p><p>consideradas para fins de prescrição</p><p>(iii) Agravantes e atenuantes:</p><p>Para encontrar a pena máxima em abstrato, desprezam-se as agravantes e atenuantes, valendo, aqui, os motivos que</p><p>justificam a não aplicação das circunstâncias judiciais: patamar de aumento e diminuição não previstos em lei e</p><p>impossibilidade de, com a sua incidência, elevar a pena além do limite máximo ou reduzir aquém do patamar</p><p>mínimo (como, aliás, anuncia a súmula n° 231, STJ 269).</p><p>(iv) As causas de aumento ou de diminuição da pena</p><p>Uma vez que as majorantes e minorantes têm aumento e diminuição ditados em lei, sendo capazes de extrapolar os</p><p>limites máximo e mínimo da pena cominada, o cômputo da pena máxima abstrata deverá levá-las em</p><p>consideração. Em se tratando de aumento ou diminuição variável (ex: 1/3 a 2/3)> deve ser aplicada a teoria da pior</p><p>das hipóteses: para a causa de aumento, considera-se o maior aumento possível (2/3, considerando nosso exemplo); para</p><p>a causa de diminuição, a menor redução cabível dentre os parâmetros fixados no dispositivo respectivo (de acordo com o</p><p>exemplo, 1/3).</p><p>(v) Concurso de crimes Em caso de concurso material, concurso formal e de crime continuado, a extinção da</p><p>punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente (art. 119, CP).</p><p>(B) PPPA: consequências</p><p>Do reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva, decorrem</p><p>as seguintes consequências:</p><p>(i) Desaparece para o Estado seu direito de punir, inviabilizando</p><p>qualquer análise do mérito;</p><p>(ii) Eventual sentença condenatória provisória é rescindida, não se</p><p>operando qualquer efeito (penal ou extrapenal);</p><p>(iii) O acusado não será responsabilizado pelas custas processuais;</p><p>(iv) Terá direito à restituição integral da fiança, se a houver</p><p>prestado.</p><p>PPPA: termo inicial</p><p>O termo inicial da prescrição da pretensão punitiva em abstrato é disciplinado pelo artigo 111 do Código Penal: .</p><p>i) Do dia em que o crime se consumou. O CP adotou a teoria do resultado para o começo do prazo prescricional,</p><p>embora, em seu artigo 4°, considere que o crime é praticado no momento da ação ou da omissão, ainda que outro</p><p>seja o do resultado (teoria da atividade). Assim, o crime ocorre no momento em que se dá a ação ou omissão, mas a</p><p>prescrição só começa a correr a partir da sua consumação</p><p>ii) No caso da tentativa, do dia em que se verificou o último ato configurador da tentativa, isto é, do dia em que</p><p>cessou a atividade criminosa;</p><p>iii) No crime permanente, do dia em que cessa a permanência, isto é, a partir do dia em que findou para o agente</p><p>seu poder sobre o curso da ação criminosa;</p><p>iv) Nos crimes de bigamia e falsificação ou alteração de assentamento do registro civil, a prescrição começa a</p><p>correr desde a data em que o crime se tornou conhecido. O Código Penal, ao estabelecer o termo inicial da</p><p>prescrição para tais casos, fugiu à regra do inciso I do art. 111, atendendo ao fato de que esses crimes são de difícil</p><p>descoberta, pois rodeados de precauções e dissimulações. Se a eles fosse aplicado o disposto no inciso I do art. 111,</p><p>prescreveriam com facilidade.</p><p>v) Nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos no Código Penal ou em legislação</p><p>especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a</p><p>ação penal. Enquanto a vítima (criança ou adolescente) não completar dezoito anos, não corre o prazo fatal</p><p>(prescricional), salvo se até o advento da maioridade for proposta a ação penal (caso em que o prazo se inicia</p><p>do recebimento da denúncia, art. 117, I, do CP 270). Se, todavia, ocorrer a morte da vítima, a prescrição começa a</p><p>correr da morte, não de quando se completariam os dezoito anos.</p><p>PPPA: causas suspensivas</p><p>Identificados o prazo e o seu termo inicial aplicável ao caso concreto, não se</p><p>pode ignorar a existência de causas de suspensão ou interrupção da prescrição.</p><p>As causas de suspensão estão no artigo 116 do Código Penal. Resolvida a causa</p><p>suspensiva, a prescrição torna a correr, considerando-se o tempo já decorrido.</p><p>I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o</p><p>reconhecimento da existência do crime: O exemplo clássico é o do réu que,</p><p>processado por bigamia, questiona no juízo cível a validade do primeiro</p><p>casamento.</p><p>II - enquanto o agente cumpre pena no exterior;</p><p>III - na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos Tribunais</p><p>Superiores, quando inadmissíveis; e</p><p>IV - enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não persecução</p><p>penal.</p><p>PPPA: causas interruptivas</p><p>As causas de interrupção desta espécie de prescrição, por sua vez, constam do artigo 117,</p><p>incisos I a IV. Segundo o dispositivo, o curso da prescrição interrompe-se:</p><p>(i) Pelo recebimento (e não oferecimento) da denúncia ou da queixa;</p><p>(ii) Pela pronúncia Entendendo existente a materialidade, bem como indícios suficientes da</p><p>autoria de um crime doloso contra a vida, tentado ou consumado, deve o juiz submeter a causa à</p><p>apreciação do Conselho de Sentença (jurados). Tal decisão interrompe a prescrição não apenas</p><p>do crime doloso contra a vida, como também do conexo, começando a contar o novo prazo</p><p>prescricional a partir da sua publicação em cartório. A pronúncia é causa interruptiva da</p><p>prescrição, ainda que haja desclassificação, pelos jurados (segunda fase do júri) para crime de</p><p>competência da vara criminal comum. É o que se depreende da súmula nº 191 do STJ: A</p><p>pronúncia é causa interruptiva da prescrição do, ainda que o Tribunal do Júri venha a</p><p>desclassificar o crime".</p><p>(iii) Pela decisão confirmatória</p><p>da pronúncia Não se conformando com a decisão de</p><p>pronúncia, pode o réu recorrer para o tribunal. Porém, em caso de ser confirmada a remessa dos</p><p>autos para julgamento popular, gera interrupção da prescrição, começando a correr novo prazo a</p><p>partir da data da sessão que confirmou a decisão de primeiro grau.</p><p>(iv) Pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis O art. 117,</p><p>inciso IV, do Código Penal foi modificado pela Lei nº 11.596/07 para anunciar que, além</p><p>da sentença condenatória, também o acórdão condenatório interrompe o curso da</p><p>prescrição.</p><p>PPPA: exemplo</p><p>Suponhamos que MARIA abandonou recém-nascido, para ocultar desonra própria (art. 134 do CP, punido com</p><p>6 meses a 2 anos). Quanto tempo tem o Estado para investigar o fato e formalizar, por meio da ação</p><p>penal, uma acusação em face de MARIA?</p><p>Tratando-se de PPPA, o tempo que perdura o interesse de punir (art. 109 do CP) depende da pena máxima</p><p>prevista para o crime. No caso, o art. 134 do CP, na sua forma simples, tem pena máxima de 2 anos que,</p><p>combinada com o art. 109 do CP, gera um prazo prescricional de 4 anos (ar. 109, V, do CP). Logo, o Estado</p><p>tem 4 anos para receber a denúncia.</p><p>Quanto tempo tem o Estado para processar e julgar MARIA?</p><p>Recebida a inicial acusadora, interrompe-se a prescrição (art. 117, I, do CP). O Estado volta a ter 4 anos para</p><p>encerrar o processo com a publicação da condenação da ré. O Juiz fixa a pena de 6 meses. O Ministério</p><p>Público não se conforma e recorre. Quanto tempo tem o Estado para julgar (e dar provimento) o recurso?</p><p>Com a publicação da sentença condenatória, interrompe-se, novamente, a prescrição (art. 117, IV, do CP).</p><p>Como a pena não transitou para a acusação (que recorre buscando seu aumento), continua servindo como norte</p><p>a pena máxima em abstrato (2 anos), tendo o Estado, portanto, mais 4 anos para julgar o processo em grau</p><p>de recurso.</p><p>Ocorrendo a prescrição em qualquer das balizas, desaparece para o Estado seu direito de punir, inviabilizando</p><p>qualquer análise do mérito; eventual sentença condenatória provisória é rescindida, não se operando qualquer</p><p>efeito (penal ou extrapenal); a acusada não será responsabilizada pelas custas processuais; terá direito à</p><p>restituição integral da fiança, se a houver prestado.</p><p>Prescrição da pretensão punitiva superveniente ou intercorrente (PPPS ou</p><p>PPPI)</p><p>Antes da sentença recorrível, não se sabe qual o quantum ou tipo de pena a ser</p><p>fixada pelo Magistrado, razão pela qual o lapso prescricional regula-se pela pena</p><p>máxima prevista em lei, atendendo à já referida "teoria da pior das hipóteses".</p><p>Contudo, fixada a reprimenda, ainda que provisoriamente, transitando esta</p><p>em julgado para a acusação (ou sendo o seu recurso improvido) , não mais</p><p>existe razão para se levar em conta a pena máxima, já que, mesmo diante do</p><p>recurso da defesa, é proibida a reformatio in pejus. Surge, então, um novo norte,</p><p>qual seja, a pena recorrível efetivamente aplicada.</p><p>Portanto, a pena concreta, aplicada na sentença, é o parâmetro para o cálculo da</p><p>prescrição superveniente. Nesse sentido, entende o STF (súmula nº 146): “A</p><p>prescrição da ação penal regula-se pelo pena concretizada na sentença, quando</p><p>não há recurso da acusação”:</p><p>Esta espécie de prescrição encontra previsão no artigo 110, §1°, lª parte, do</p><p>Código Penal: “A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em</p><p>julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela</p><p>pena aplicada, (...)”:</p><p>A prescrição da pretensão punitiva superveniente possui as seguintes</p><p>características:</p><p>(i) pressupõe sentença ou acórdão penal condenatórios;</p><p>(ii) pressupõe trânsito em julgado para a acusação no que se relaciona com a</p><p>pena aplicada;</p><p>(iii) tem como norte a pena concretizada na sentença.</p><p>(iv) os prazos prescricionais são os mesmos do art. 109 do CP;</p><p>(v) o termo inicial conta-se da publicação da sentença ou acórdão penal</p><p>condenatórios até a data do trânsito em julgado final;</p><p>PPPS: exemplo</p><p>Suponhamos que JOÃO furtou uma bicicleta estacionada na rua (art. 155, caput, do</p><p>CP, punido com reclusão de 1 a 4 anos). Depois de investigado e processado, foi</p><p>condenado a 1 ano. Somente a defesa recorre, tendo a pena transitado em julgado</p><p>para o Ministério Público. Quanto tempo tem o Estado para julgar o recurso?</p><p>Com a publicação da sentença condenatória, interrompe-se a prescrição (art. 117,</p><p>IV, do CP). Sabendo que a pena transitou em julgado para o MP, fala-se em PPPS.</p><p>Levando em conta a pena em concreto — 1 ano — (e não mais a sanção máxima</p><p>em abstrato), o Estado tem, a partir da publicação da sentença condenatória, 4 anos</p><p>(art. 109, V, do CP) para julgar o processo em grau de recurso. Ocorrendo a</p><p>prescrição em qualquer das balizas, desaparece para o Estado seu direito de punir,</p><p>inviabilizando qualquer análise do mérito; eventual sentença condenatória</p><p>provisória é rescindida, não se operando qualquer efeito (penal ou extrapenal); o</p><p>acusado não será responsabilizado pelas custas processuais; terá direito à</p><p>restituição integral da fiança, se a houver prestado.</p><p>Prescrição da pretensão punitiva retroativa (PPPR)</p><p>Tal qual a prescrição intercorrente ou superveniente, a</p><p>prescrição retroativa tem por base a pena concreta. Apesar</p><p>de reconhecida após o trânsito em julgado para a acusação, a</p><p>prescrição retroativa tem por termo data anterior à da</p><p>publicação da sentença, do que advém o adjetivo "retroativa".</p><p>Com efeito, a peculiaridade da prescrição da pretensão</p><p>punitiva retroativa é que se deve contar o prazo</p><p>prescricional retroativamente, ou seja, da data do</p><p>recebimento da denúncia ou da queixa até a publicação da</p><p>sentença condenatória.</p><p>PPPR: exemplo</p><p>Suponhamos que JOÃO, mediante fraude, recebeu vantagem indevida em</p><p>prejuízo alheio (art. 171, caput, do CP, punido com reclusão de 1 a 5 anos).</p><p>Depois de 6 anos respondendo ao processo penal, JOÃO foi condenado ao</p><p>cumprimento de 1 ano de reclusão. O Ministério Público não recorre da decisão.</p><p>Sabendo que a pena imposta na sentença passou a ser também a pena máxima</p><p>para o caso, eis o novo norte do prazo prescricional. Combinando a pena de 1 ano</p><p>na tabela do art. 109 do CP chega-se a um prazo de 4 anos.</p><p>A defesa, voltando no tempo, perceberá que do recebimento da inicial até a</p><p>condenação transcorreu prazo superior a 4 anos, acarretando no reconhecimento</p><p>da PPPR, desaparecendo para o Estado seu direito de punir, inviabilizando</p><p>qualquer análise do mérito; eventual sentença condenatória provisória é</p><p>rescindida, não se operando qualquer efeito (penal ou extrapenal); o acusado não</p><p>será responsabilizado pelas custas processuais; terá direito à restituição integral da</p><p>fiança, se a houver prestado.</p><p>Prescrição da pretensão executória (PPE)</p><p>A segunda espécie de prescrição é a da pretensão executória, prevista no artigo 110,</p><p>caput, do Código Penal. Trata-se de prescrição de pena "in concreto" (pena</p><p>efetivamente imposta), que tem como pressuposto sentença condenatória com</p><p>trânsito em julgado para ambas as partes (decisão definitiva, irrecorrível) e que se</p><p>verifica dentro dos prazos estabelecidos pelo artigo 109 do Código Penal, os quais são</p><p>aumentados de 1/3, se o condenado é reincidente.</p><p>Reconhecida esta espécie de prescrição, extingue-se a pena aplicada, sem, contudo,</p><p>rescindir a sentença condenatória (que produz efeitos penais secundários e extrapenais, a</p><p>exemplo da reincidência).</p><p>PPE: termo inicial</p><p>Dispõe o artigo 112 do Código Penal sobre o termo inicial da PPE:</p><p>(A) Do dia em que transita em julgado a sentença condenatória para a</p><p>acusação.</p><p>(B) Do dia em que foi revogado o sursis ou o livramento condicional. A</p><p>suspensão condicional da pena (art. 77, CP) e o livramento condicional (art. 83,</p><p>CP) são incidentes da execução penal e, durante esses incidentes, não corre a</p><p>prescrição. Porém, revogado um desses benefícios, conforme o estabelecido no</p><p>artigo 112, inciso I, 2ª parte, do Código Penal, a prescrição começa a</p><p>correr da data</p><p>em que passa em julgado a sentença revocatória.</p><p>(C) Do dia em que o preso evadiu-se do cárcere. No caso de o preso evadir-se, a</p><p>prescrição da pretensão executória conta-se do dia da fuga.</p><p>Anuncia o artigo 113 do Código Penal que a prescrição da pretensão executória, é</p><p>regulada com base no quantum restante da pena nos casos de revogação do</p><p>livramento condicional ou evasão do condenado.</p><p>Suspensão e interrupção da PPE</p><p>Tal qual a prescrição da pretensão punitiva, a prescrição da pretensão executória</p><p>pode ser suspensa (art. 116, parágrafo único, CP) e interrompida (art. 117, incisos V</p><p>e VI, CP).</p><p>Dispõe o art. 116, parágrafo único: "Depois de passada em julgado a sentença</p><p>condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o condenado está</p><p>preso por outro motivo': Se o Estado não pode executar a pena porque o</p><p>condenado está preso por outro motivo, não é razoável que se imponha a prescrição,</p><p>porque, afinal, não se trata da inércia que fundamenta a extinção da punibilidade.</p><p>Noutra quadra, as causas de interrupção da prescrição da pretensão executória</p><p>são :</p><p>(I) o início ou continuação do cumprimento da pena e</p><p>(II) a reincidência, não se confundindo a reincidência anterior, que provoca aumento</p><p>do prazo prescricional (art. 110, caput, CP), com a reincidência posterior à</p><p>condenação, que é causa interruptiva da prescrição da pretensão executória.</p><p>PPE: exemplo</p><p>I. JOÃO foi condenado ao cumprimento da pena de 1 ano e 6 meses de reclusão</p><p>porque praticou furto simples (art. 155 do CP). Reconhecido reincidente na</p><p>sentença, o Ministério Público não recorreu. A defesa também se mostra</p><p>conformada, transitando em julgado a pena para as duas partes. O prazo da PPE,</p><p>contado do trânsito para a acusação (e não para as duas partes), será aumentado de</p><p>1/3 (art. 109, V = 4 anos + 1/3).</p><p>II. Suponhamos que JOÃO era primário, mas após a condenação definitiva pratica</p><p>novo crime. Será, agora, considerado reincidente (art. 63 do CP), interrompendo-</p><p>se a prescrição (art. 117, VI), isto é, todo o prazo da PPE começa a correr</p><p>novamente, do dia da interrupção, sem o aumento de 1 /3 (nesse caso, não existe</p><p>decisão declarando sua reincidência).</p><p>III. Se JOÃO cumpriu dois meses da pena (de um total de 1 ano), mas foge. Da fuga</p><p>começa novo prazo da PPE, porém levando em conta o restante da pena a</p><p>cumprir (= 10 meses) que, na tabela do art. 109 do CP, resulta num prazo de PPE de</p><p>3 anos (inc. VI).</p><p>A redução dos prazos prescricionais (art. 115 do CP)</p><p>● Os prazos prescricionais podem ser reduzidos de metade nas hipóteses</p><p>mencionadas no artigo 115 do Código Penal.</p><p>● A prescrição reduzida pode ocorrer caso o criminoso seja, ao tempo do</p><p>crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de</p><p>70 (setenta) anos.</p><p>● Prevalecendo-se o agente das mesmas circunstâncias de tempo, local e</p><p>modo de execução (art. 71 do CP- crime continuado), praticando vários</p><p>crimes da mesma espécie, sendo alguns antes dos vinte e um anos do</p><p>criminoso e outros depois, a redução só incidirá nos crimes cometidos</p><p>antes da maioridade (art. 119 do CP).</p><p>● Já no caso de crime permanente, iniciado na menoridade e terminado na</p><p>maioridade, não se reduz o prazo prescricional.</p><p>Renúncia ao direito de agir</p><p>● Por renúncia entende-se o ato unilateral do ofendido (ou de seu</p><p>representante legal), abdicando do direito de promover a ação penal</p><p>privada, extinguindo-se, por conseguinte, o direito de punir do Estado</p><p>(art. 107, V, primeira parte, do CP).</p><p>● A renúncia é sempre pré-processual, ocorrendo antes do oferecimento</p><p>da denúncia ou queixa, podendo ser expressa ou tácita.</p><p>● A renúncia expressa constará de declaração assinada pelo ofendido, por</p><p>seu representante legal ou procurador com poderes especiais (art. 50 CPP);</p><p>● a renúncia tácita se caracteriza pela prática de ato incompatível com a</p><p>vontade de exercer o direito de queixa. Alerta a lei não implicar em</p><p>renúncia tácita o fato de receber o ofendido a indenização do dano</p><p>causado pelo crime (art. 104, parágrafo único, CP), salvo, quando se tratar</p><p>de infração de menor potencial ofensivo (art. 74, parágrafo único da Lei nº</p><p>9.099/95).</p><p>Perdão (aceito) do ofendido</p><p>Trata-se de ato pelo qual o ofendido ou seu representante legal desiste</p><p>de prosseguir com o andamento de processo já em curso, desculpando</p><p>o ofensor pela prática do crime.</p><p>Percebe-se cabível somente na ação penal de iniciativa privada, podendo</p><p>ser (A) processual (concedido no bojo dos autos) ou extraprocessual (em</p><p>cartório, por exemplo), (B) expresso ou tácito (tácito é o perdão que</p><p>resulta da prática de ato incompatível com a vontade de prosseguir na</p><p>ação — art. 106, §1 °, CP).</p><p>Diferentemente da renúncia, trata-se de ato bilateral, não produzindo</p><p>efeitos se o querelado o recusa (art. 106, III, CP). Imprescindível,</p><p>portanto, que o perdão seja aceito, expressa ou tacitamente. O silêncio</p><p>do querelado (suposto autor do fato) implica em aceitação (e não recusa).</p><p>Retratação do agressor</p><p>Retratar-se é retirar totalmente o que disse. A retratação do agressor como causa de</p><p>extinção do direito de punir do Estado só é admitida nos casos expressamente previstos em</p><p>lei, a saber:</p><p>(A) calúnia e difamação (art. 143 do CP — "O querelado que, antes da sentença, se</p><p>retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena"). A retratação, em</p><p>regra, dispensa a concordância do ofendido (ato unilateral). Contudo, o artigo 143 do CP foi</p><p>alterado pela Lei 13.188/15, que nele acrescentou parágrafo único anunciando que, nos casos</p><p>em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de meios de</p><p>comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que</p><p>se praticou a ofensa. Nessa hipótese, portanto, o ofendido deve ser ouvido para manifestar se</p><p>deseja (ou não) que a retratação se dê pelos mesmos meios em que foi praticado o crime.</p><p>Ocorrendo a retratação do agente, nada impede que a vítima reivindique a competente</p><p>indenização nos termos da legislação civil (e demais dispositivos aplicáveis à espécie).</p><p>(B) falso testemunho e falsa perícia (art. 342, g 2°, do CP — "O fato deixa de ser punível se,</p><p>antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a</p><p>verdade").</p><p>Perdão judicial</p><p>Perdão judicial (art. 107, IX, CP) é o instituto pelo qual o juiz, não obstante</p><p>a prática de um fato típico e antijurídico por um sujeito comprovadamente</p><p>culpado, deixa de lhe aplicar, nas hipóteses taxativamente previstas em</p><p>lei, o preceito sancionador cabível, levando em consideração determinadas</p><p>circunstâncias que concorrem para o evento.</p><p>Em casos tais, o Estado perde o interesse de punir. Constitui causa extintiva</p><p>de punibilidade que, diferente do perdão do ofendido, não precisa ser aceito</p><p>para gerar efeitos.</p><p>Ex: art. 121,§5º; 129, §8º, ambos do CP.</p><p>Uma vez presentes as circunstâncias previstas em lei, o réu passa a reunir</p><p>direito público subjetivo de não lhe ser imposta qualquer sanção penal.</p><p>Referência bibliográfica</p><p>Manual de direito penal / Guilherme de Souza Nucci. – 16. ed. – Rio de Janeiro:</p><p>Forensse, 2020.</p><p>CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte geral (arts. 1° ao 120)</p><p>/Rogério Sanches Cunha. - 8. ed. rev., ampl. e atual. - Salvador: JusPODIVM, 2020. 720</p><p>p.</p><p>GRECO, Rogério. Código Penal: comentado / Rogério Greco. – 11. ed. – Niterói, RJ:</p><p>Impetus, 2017.</p><p>Slide 1</p><p>Slide 2</p><p>Slide 3</p><p>Slide 4</p><p>Slide 5</p><p>Slide 6</p><p>Slide 7</p><p>Slide 8</p><p>Slide 9</p><p>Slide 10</p><p>Slide 11</p><p>Slide 12</p><p>Slide 13</p><p>Slide 14</p><p>Slide 15</p><p>Slide 16</p><p>Slide 17</p><p>Slide 18</p><p>Slide 19</p><p>Slide 20</p><p>Slide 21</p><p>Slide 22</p><p>Slide 23</p><p>Slide 24</p><p>Slide 25</p><p>Slide 26</p><p>Slide 27</p><p>Slide 28</p><p>Slide 29</p><p>Slide 30</p><p>Slide 31</p><p>Slide 32</p><p>Slide 33</p><p>Slide 34</p><p>Slide 35</p><p>Slide 36</p><p>Slide 37</p><p>Slide 38</p>