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A Grande Depressão de 1932

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mergulhou no abismo da crise, os nervosos emprestadores simplesmente se recusaram a
renovar a hipoteca. Em 1932 e 1933, houve meio milhão de execuções de hipotecas. Em
meados de 1933, mais de um milhão de hipotecas eram executadas diariamente. Os preços das
casas despencaram mais de um quinto do seu valor.21 A indústria da construção civil entrou
em colapso, revelando (como em todas as futuras recessões do século XX) a extensão de
como a ampla economia americana confiava no investimento residencial como uma máquina
de crescimento.22 Embora o efeito da Grande Depressão talvez tenha sido mais devastador no
campo, onde os preços das terras caíram à metade do seu pico em 1920, a situação das
cidades da América era pouco melhor. Os inquilinos também lutavam para pagar seus
aluguéis, quando tudo que recebiam era um quinhão miserável. Em Detroit, por exemplo, a
indústria automobilista empregava apenas a metade do número de trabalhadores que tinha em
1929, e com salários pela metade. Os efeitos da Depressão dificilmente seriam imagináveis
atualmente: a miséria abjeta do desemprego ubíquo, a desolação da distribuição das sopas, a
desesperada busca nômade por um trabalho que não existia. Em 1932, os esbulhados da
Depressão já tinham sofrido mais do que mereciam.
No dia 7 de março de 1932, cinco mil trabalhadores desempregados, demitidos pela Ford
Motor Company, marcharam através do centro de Detroit para exigir lenitivos. Quando a
multidão desarmada chegou ao Portão 4 da fábrica River Rouge da companhia, em Dearborn,
ocorreram tumultos. Repentinamente, os portões da fábrica se abriram e um grupo de homens
da segurança e de policiais armados correu para fora e atirou na multidão. Cinco
trabalhadores morreram. Dias mais tarde, 60.000 pessoas cantaram o hino A Internacional no
seu funeral. O jornal do Partido Comunista acusou Edsel Ford, filho do fundador da
companhia, Henry, de permitir o massacre: “Você, um patrono das artes, um pilar da Igreja
Episcopal, permaneceu na ponte da fábrica Rouge e viu os trabalhadores serem mortos. Você
não levantou uma mão para impedir”. Alguma coisa poderia ser feita para diminuir a
possibilidade do que estava começando a parecer como uma situação revolucionária?
Num gesto extraordinário de reconciliação, Edsel Ford apelou para o artista mexicano
Diego Rivera, que tinha sido convidado pelo Detroit Institute of Arts para pintar um mural que
mostraria a economia de Detroit como um lugar de conciliação, e não de conflito de classes. O
lugar escolhido para a obra tinha sido o imponente Garden Court Institute, um espaço que
encantara tanto Rivera, que ele propôs pintar não apenas dois dos seus painéis, como tinha
sido sugerido originalmente, mas todos os 27. Ford, impressionado pelos desenhos
preliminares de Rivera, concordou em patrocinar todo o trabalho, a um custo de cerca de US$
25.000. O trabalho começou em maio de 1932, apenas dois meses depois dos conflitos na
fábrica River Rouge, e foi terminado por Rivera em março de 1933. Como Ford bem sabia,
Rivera era um comunista (embora um trotskista não ortodoxo, que tinha sido expulso do
partido no México).23 Seu ideal era o de uma sociedade na qual não haveria propriedade
privada, na qual os meios da produção seriam possuídos por todos em comum. Aos olhos de
Rivera, a fábrica River Rouge era o oposto: uma sociedade capitalista onde os operários

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