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Crises e Revolução na América no Início do Século XX

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43
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Unidade II
3 CRISES NA AMÉRICA NO INÍCIO DO SÉCULO XX
Ao tratarmos do significativo aumento da influência dos Estados Unidos sobre o restante das 
Américas, devemos ressaltar que é um processo longo e, apesar de ser inequivocamente comercial, se 
desenvolve nos mais diferentes setores da vida das pessoas e dos Estados americanos. Devemos lembrar 
que o eixo de poder mundial estava mudando e pouco a pouco isso se tornava claro para os agentes 
norte‑americanos na consolidação da liderança de seu país. No entanto, não se pode simplesmente 
admitir, anacronicamente, que os Estados Unidos estivessem destinados a exercer o domínio tal como 
acabou acontecendo. Na construção dessa liderança ocorreram embates, discordâncias e negociações e 
é isso que podemos perceber no trecho a seguir,
Até 1914, a influência norte‑americana afirmou‑se especialmente no Caribe 
e na América Central. No período compreendido entre a guerra e a grande 
crise de 1929, os progressos da influência econômica norte‑americana 
foram muito rápidos: os países do Pacífico terminaram por se colocar 
completamente na órbita dos Estados Unidos; o Brasil, assim como o Uruguai 
e a Argentina, sofreram a penetração norte‑americana. O fim da era da 
ferrovia (várias das pequenas nações sul‑americanas sequer chegaram a 
conhecê‑la) significava para a Inglaterra a perda de um válido instrumento 
de dominação comercial e financeira; os Estados Unidos davam um passo à 
frente com a vitória dos transportes automobilísticos e garantiam para si um 
novo mercado, sem terem de efetuar investimentos de capital comparáveis 
àqueles que haviam sido necessários no caso das construções ferroviárias. 
Os investimentos norte‑americanos, não indispensáveis para intensificar o 
consumo de mercadorias produzidas nos Estados Unidos, afluíam não apenas 
para as indústrias de mineração, ou para aquelas que exigiam pouco trabalho 
e eram orientadas para o mercado metropolitano, mas também para outras 
que trabalhavam para o mercado local e não para aqueles dos Estados Unidos. 
Graças a esse procedimento, o peso da influência norte‑americana aumentava 
também em outros setores (é característico que, na terceira década do século, 
enquanto a Argentina continuava a solicitar o parecer de especialistas 
britânicos, missões técnicas e financeiras norte‑americanas visitassem já 
habitualmente os países da margem do Pacífico) (DONGHI, 1975, p. 175).
Vale ressaltar ainda que os países americanos que no decorrer do século XIX e início do XX 
concentraram suas economias em produtos primários começaram a sofrer cada vez mais com os preços 
desfavoráveis que recebem em troca de suas mercadorias e os valores que precisam pagar para obter 
produtos industrializados.
44
Unidade II
No México, o avanço da grande empresa agrícola de cultura nem sempre 
extensiva contribui para provocar uma explosão revolucionária, de violência 
e duração sem paralelo na América Latina do século XX. [...] Para Justo 
Sierra, o mais inteligente e honesto ideólogo do regime, o México de Díaz 
é o México mestiço, síntese conclusiva do passado índio e espanhol. Para o 
regime, trata‑se cada vez mais de um México europeu, ao mesmo tempo 
ficção e programa; nas grandes ocasiões, a polícia afasta das ruas centrais 
da capital as pessoas com aspecto índio, a fim de não dar aos ilustres 
visitantes estrangeiros uma ideia tendenciosa do país... [...] o governo Díaz 
é o governo dos grandes proprietários de terra e torna‑se cada vez mais 
o amigo fiel da Igreja, que lutara encarniçadamente contra a ‘reforma’. O 
conservadorismo é apenas a outra face do progressismo de Díaz: o progresso 
das ferrovias e das culturas vai de pari passu com outros bastante rápidos, 
como o da grande propriedade de novos e velhos latifundiários, que se 
estende sobre os territórios das comunidades indígenas [...] Esses progressos 
são acompanhados por uma lenta afirmação do autoritarismo político 
(DONGHI, 1975, p. 189).
Assim, no decorrer do século XIX, o discurso de modernização ganha espaço significativo na retórica 
e nas ações governamentais e isso tem importantes impactos sobre diversos setores sociais mexicanos.
3.1 A Revolução Mexicana
O governo modernizador era politicamente autoritário e repressor, mantendo‑se no poder por um 
período bastante dilatado que atravessou as duas últimas décadas do século XIX e sobreviveu até 1911 
– vale lembrar que sendo eleito e reeleito entre 1884 e 1911. A construção da ditadura chamada na 
historiografia de Porfiriato foi lenta e cada vez mais excludente em termos sociais.
 
Principais cidades
Mais de 1 000 000 Hab.
Mais de 100 000 Hab.
Mais de 20 000 Hab.
Escala: 1:28 000 000
Figura 14 – Principais cidades do México
No México, no governo Díaz, aquilo que era alardeado como modernização, alterou o modo de vida 
dos camponeses,
45
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
sob a nova legislação, o governo obteve o direito de vender terras de domínio 
público a companhias de desenvolvimento ou entrar em contratos com 
companhias que faziam levantamento e divisões de terras em troca de um terço 
da terra medida. Em 1889, havia sido feito o levantamento de 32 milhões de 
hectares. Vinte e nove companhias haviam obtido a posse de mais de 27,5 milhões 
de hectares, ou seja, 14% do total da área da República. Entre 1889 e 1894, foram 
ainda alienadas terras correspondentes a 6% do total. Foi assim entregue de mão 
beijada aproximadamente um quinto da República do México (WOLF, 1984, p. 34).
Indicando o mesmo autor, a complexidade da situação por mencionar que os nativos e camponeses 
não tinham meios legais de contestar a sentença de que as terras eram devolutas uma vez que não 
tinham os títulos dessas.
[...] Ao final do período Díaz, existiam 8.245 haciendas. Trezentas delas mediam, 
pelo menos, 10.000 hectares; 116 mediam por volta de 250.000; 51 possuíam 
aproximadamente 30.000 hectares, cada uma; 11 mediam nada menos que 
100.000. [...] Southworth (1910) registra para 1910, 168 proprietários, donos, cada 
qual, de 2 haciendas; 52, com 3 haciendas, cada um; 15, com 4 haciendas, 4 com 
seis; 3 com sete; 5 com oito e com nove. Luiz Terrazas, protótipo do proprietário de 
hacienda do período Díaz, possuía 15 propriedades, abrangendo 2 [...] Ele possuía 
500.000 cabeças de gado e 250.000 carneiros, exportando entre 40.000 e 65.000 
cabeças de gado por ano, para os Estados Unidos (WOLF, 1984. p. 35).
Considerando o trecho anterior podemos ter uma dimensão do que é falar em desigualdade relacionada à 
questão da terra no México. A autoridade de Porfírio Díaz sofre um abalo significativo quando se passa a discutir 
amplamente na sociedade mexicana como deveria ser o processo sucessório de Díaz e, em 1908, o regime dá 
sinais que vai permitir eleições com a presença da oposição. O nome que emerge no processo, inicialmente 
muito próximo a Díaz e que paulatinamente passa a defender publicamente a não reeleição e discussões sobre 
as terras e seu programa é organizado no chamado Plano de San Luís Potosí com indícios de inclinação à 
reforma agrária, o que o levou a receber apoio Emiliano Zapata e também à intensa mobilização popular.
Figura 15 –Pintura de Diego Rivera, 1931. Zapata, líder camponês (detalhe)
46
Unidade II
3.1.1 Terra e liberdade
O soldo, a bem dizer, não existia; quando os chefes decretavam um 
empréstimo forçado, eles o distribuíam a cada um de nós. Na verdade, 
não tínhamos necessidade de dinheiro. Dinheiro para quê? Estávamos nas 
montanhas ou então cavalgando pelas planícies. Para comer? Matávamos 
vacas e assávamos a carne; as pessoas nos davam farinha de milho para 
as tortilhas e cada um se virava. Às vezes os chefes nos davam ordens de 
preparar muita carne seca com cabritos fritos na gordura. Ela se conservava 
durante meses, ou mesmo anos. Forragem para os cavalos, isso sim. Sem 
forragem não poderia haver cavalos. Em tempos de guerra, o cavalo deve 
comer primeiro e o homem depois. O cavalo é a nossa salvação,e quando ele 
está esgotado, no fim das forças, e cheio de feridas é preciso abandoná‑lo, 
trocá‑lo por outro, que a gente apanha ali onde encontrar. O cavalo deve 
estar descansado e pronto para carregar o homem [...]. Roupas limpas? Onde 
encontrá‑las? A gente fedia como bichos selvagens. Nosso chefes, quando 
impunham empréstimos, sempre davam uma explicação: “Pagaremos depois 
da revolução, diziam eles” (URQUIZO, 1984 apud MOTA, p. 424).
A modernização construída no decorrer do governo de Díaz (1876‑1911), provocou a expropriação 
de milhões de camponeses que viviam em terras comunais chamadas de ejidos.
O progresso significava rápido desenvolvimento industrial e comercial; a 
liberdade, foi concedida ao empresário particular e a ordem foi reforçada 
por uma criteriosa política que alternava remunerações em dinheiro e 
repressão – a célebre técnica de Díaz, de ‘pan y palo’ (pão e pau) [...] 
(WOLF, 1984, p. 19).
Estima‑se que a população mexicana no início da Revolução estava em torno de 15 milhões de 
pessoas, sendo que deles menos de 30% tinha alguma instrução. E desses 15 milhões, pereceram na 
Revolução mais de 1 milhão!
Se a sucessão de Díaz, inicialmente parecia controlada pelo próprio governo, em função da 
proximidade entre ele e Francisco Madero, a situação saiu do controle e transformou‑se na primeira 
grande revolução social do século XX. Além da intensa mobilização camponesa, as cidades também 
se viram em meio aos conflitos e greves começaram a ser recorrentes. A crise se intensifica e setores 
populares passam a apoiar a eleição de Madero devido às promessas de reformas sociais ligadas à 
questão da terra e o fim da reeleição.
Umas das marcas fundamentais de processo foi o envolvimento de grupos camponeses armados 
sob a liderança de alguns chefes que ganharam projeção nacional e mesmo internacional, tal como 
foi o caso de Emiliano Zapata e Pancho [Francisco] Villa. Esses dois líderes representavam as forças 
populares de diversas regiões do país, sendo Zapata ligado ao sul indígena e Pancho Villa ao norte. Em 
comum, ambos tiveram a guerra contra o latifúndio expropriador dos camponeses e o combate à Igreja, 
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HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
então sustentáculo do regime do Porfiriato e identificada também com responsável pelas mazelas da 
sociedade mexicana.
Canção da Carabina
Compañeros del arado / y de toda herramienta / nomás nos queda un camino 
/ ¡agarrar un treinta‑treinta!
Companheiros do arado / e de todas as ferramentas! / não nos resta outro 
caminho: / agarrar uma trinta‑trinta! (WOLF, 1984, p. 19).
Quando explodiu a Revolução e Díaz partiu para o exílio na França e lá teria afirmado que Madero 
“soltou um tigre, vejamos se consegue controlá‑lo”.
A Revolução Mexicana explodiu quando Madero assumiu provisoriamente o governo da República 
por meio de uma proclamação conhecida como Declaração de San Luís de Potosí, na qual instituiu o dia 
20 de novembro de 1910 para o início do levante armado contra o exército de Porfírio Díaz.
Tanto o Poder Legislativo quando o Judiciário estão totalmente submissos 
ao Executivo. É certo que nossa constituição proclama a divisão de 
poderes, a soberania dos estados, a liberdade das comunas e os direitos do 
cidadão; mas, na verdade, apenas a lei marcial reina no México; a justiça, 
ao invés de proteger os fracos, só serve para legalizar as expropriações 
desejadas pelos mais poderosos; os juízes, longe de serem dignos 
representantes da justiça, são agentes do Executivo, a cujos interesses 
servem fielmente; as Câmaras só conhecem a vontade do ditador; é ele 
quem nomeia os governadores dos estados que, por sua vez, designam e 
impõem com os mesmos métodos as autoridades municipais. O conjunto 
das engrenagens administrativas, judiciárias e legislativas é um fantoche 
movido apenas pela vontade e pelo capricho do general Porfírio Díaz, o 
qual já demonstrou, durante sua longa administração, que tem apenas 
um princípio fundamental: o que lhe permite permanecer no poder a 
qualquer preço (PLANA, 1996, p. 24).
O plano surge em meio às sérias perturbações políticas, pois Madero estava preso na cidade que deu 
nome ao plano, por determinação de Díaz, encaminhado para lá depois de ser capturado em Monterrey 
em 16 de junho de 1910, apenas dez dias antes das eleições que deram, uma vez mais, a vitória a Porfírio 
Díaz – que provoca denúncias de fraudes contra o governo. Madero consegue fugir para o Texas e em 
San Antonio e aí deu publicidade ao plano para derrubar o governo.
Entre fins de 1910 e os meses iniciais de 1911, diversas revoltas eclodem mas de forma desorganizada 
e sem força suficiente para depor o presidente Díaz e, nesse contexto, as lideranças populares emergem, 
tal como Zapata, que defende a reforma agrária.
48
Unidade II
Em maio de 1911, a presidência e os revoltosos chegam a um acordo em Ciudad Juárez sendo 
acordada a saída de Díaz e de seu vice, a transmissão do poder provisoriamente a Francisco la Barra e 
anistia aos revoltosos, além de realização de novas eleições. O acordo foi cumprido e Díaz parte para a 
Europa. As eleições são vencidas por Madero, que é empossado em novembro de 1911.
Uma das dificuldades mais evidente era a persistência das revoltas camponesas que o governo não 
conseguia fazer cessar, piorando quando percebem que Madero, contrariamente ao que havia sinalizado 
para conseguir o apoio das lideranças populares, não vai resolver os problemas da reforma agrária. 
Zapata e Madero rompem, o que é evidenciado na publicação do Plano de Ayala.
A partir daí, as disputas pela sucessão presidencial no país entra em um vórtex que duraria ao menos 
uma década, consumiria diversas lideranças, um milhão de vidas, recursos incalculáveis e que seria 
marcada pela extrema violência.
Um dos traços característicos desse processo é que os revolucionários, 
que pertencem a diferentes classes sociais, são em geral provenientes do 
norte. Entre eles Francisco Madero, um dos principais adversários de Porfírio 
Díaz durante as eleições presidenciais de 1910, provém de uma rica família 
de Nuevo León [...] Venustiano Carranza, por outro lado, é um agricultor 
do estado de Coahuila e um dos raros dirigentes dotados de experiência 
política na administração porfiriana. Quanto a Álvaro Obregón, este veio de 
uma família de pequenos agricultores da região meridional de Sonora. [...] 
Pancho Villa, que personifica a figura do revolucionário saído do povo, vem 
do estado de Durango, mas se instala nas regiões meridionais do estado 
fronteiriço de Chihuahua. [...] a única exceção notável é Emiliano Zapata, 
que milita no pequeno estado de Morelos (PLANA, 1996, p. 15).
Vale ressaltar que entre 1910 e 1920 o país esteve sob o controle de Madero (1910‑1913), derrubado 
por Victoriano Huerta (1913‑1917) sendo o presidente Venustiano Carranza entre 1917 e 1920.
O lema da Revolução Mexicana “Tierra y Libertad” (Terra e Liberdade), segundo indicação de Wolf 
(1984, p. 51), teria sido criado por Ricardo Flores Magón, um anarco‑sindicalista e que viera a público 
no Regeneración, a 19 de novembro de 1910. A ação de Zapata que já havia iniciado a redistribuição de 
terras na região sul do México encontra no lema a síntese de duas demandas e, em 25 de novembro de 
1911, proclama seu célebre Plano de Ayala.
Assim,
Saibam todos: que as terras, bosques e águas usurpadas pelos haciendados, 
científicos, ou caciques, através da tirania e da justiça venal, serão 
imediatamente devolvidas aos pueblos e cidadãos que possuem os títulos 
correspondentes a essas propriedades, das quais foram despojados pela má 
fé de nossos opressores. Eles deverão manter sua posse a todo custo, pela 
força das armas (WOLF, 1984. p. 52).
49
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
O ponto fundamental é a defesa da Reforma Agrária.
No artigo 7 do mesmo Plano,
Considerando que, em sua grande maioria, as aldeias e os cidadãos 
mexicanos não possuem nem sequer a terra onde pisam, que não têm 
condições de melhorar, minimamente que seja,a sua condição social nem 
de dedicar‑se à indústria e à agricultura, e as terras, montanhas e águas se 
encontram nas mãos de um pequeno número de pessoas, fica estabelecido 
o seguinte: um terço desses monopólios será expropriado, contra uma 
indenização, desses riquíssimos proprietários, e distribuído aos aldeões e 
aos cidadãos incapazes de fazer prevalecer os antigos direitos sobre a terra. 
Como esse terço serão constituídos ejidos [núcleos coletivos], colônias e 
fundos de auxílio às aldeias, para a organização das semeaduras e para 
tudo o que possa atenuar as limitações à prosperidade e ao bem‑estar dos 
mexicanos (PLANA, 1996, p. 26).
Figura 16 – Diego Rivera. Afresco do Palácio Presidencial de 
Chapultepec (detalhe). Cidade do México. Leia‑se Tierra y Libertad
A identificação revolucionária é claramente relacionada ao problema da terra, e por esse motivo, 
receberam o apoio dos camponeses expropriados de suas aldeias, suas terras originais. Os partidários 
de Emiliano Zapata, os Zapatistas, lutavam em grupos que variavam de 30 a 300 combatentes, sendo 
tanto homens como mulheres e contavam, também, com populações jovens. A identificação deles era 
por uma vestimenta simples que acabou se constituindo como ícone dos revolucionários – inclusive 
eternizados por meio de fotografias e pinturas murais que colaboraram enormemente para a construção 
do imaginário da Revolução Mexicana. Portavam eles, normalmente, camisas brancas de algodão, calças, 
sandálias e chapéus de abas largas conhecidos como sombreros.
50
Unidade II
Figura 17 – OROZCO, José Clemente. Zapatistas. 1931. Pintura, óleo sobre tela. 114.3 x 139.7 cm
A precariedade era uma realidade diária indo a falta de pagamentos, à escassez de alimentos e 
ao uso de armas rudimentares e de fabricação caseira com granadas e uso de dinamite, mas quando 
conseguiam se apoderar de recursos dos inimigos, passavam a incorporar canhões em suas forças. 
Estima‑se que no auge, por volta de 1915, Zapata comandava 70.000 pessoas, caindo para umas 10.000 
quatro anos depois.
A forte onda revolucionária abalou o país todo e um momento notável foi a entrada dos rebeldes 
na própria capital federal, evento também registrado em uma fotografia dos líderes populares com a 
cadeira presidencial, fotografia registrada no dia 6 de dezembro de 1914.
Se ao sul Zapata abalava o poder latifundiário e dava combate aguerrido às tropas federais devido 
ao fato de que de aliado de véspera, Madero tornou‑se inimigo ao não atender às aspirações populares 
pela terra. Ao norte, na província de Chihuahua, o outro grande líder popular, Francisco Villa, o Centauro 
do Norte, se levantara contra uma situação de expropriação das terras também já que em seu estado, 
algo como dois quintos de todas das terras eram de apenas dezessete pessoas. Villa teve grande apoio 
entre vaqueiros, rancheiros e também trabalhadores das minas de seu estado. Sua División Del Norte, 
iniciada com quase 3.000 pessoas, chegou a cerca de 40.000.
Nas Memórias de Pancho Villa (1938), de Guzmán, Villa descreve o 
nascimento de seu exército: Na assembleia de La Loma, eu me dirigi a todos 
os chefes: Senhores, em tempo de guerra não se pode fazer nada se não 
for capaz de comandar e de obedecer. Quando forças diferentes se unem 
em grandes números, os chefes de todos os grupos devem escolhe entre si 
um comandante que assuma a responsabilidade pelo comando [...] Assim, 
a meu ver, devemos nomear um chefe que nos dirija e que possa, com 
autoridade, dotar todas as nossas tropas da organização necessária para 
levar a campanha a bom termo. Creio, salvo opinião contrária, que devemos 
escolher como general meu camarada Tomás Urbina, ou o general Calixto 
Contreras, ou então eu mesmo. Outros chefes falaram depois de me escutar. 
51
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
[...] Juan Medina levantou‑se e enumerou as razões pelas quais acreditava 
que era necessário reunir todas essas tropas numa só divisão e escolher a 
mim como general. Todos compartilharam sua opinião e depois eu, Pancho 
Villa, fui considerado chefe da División Norte, que neste momento se 
constituiu. Isso ocorreu em 29 de setembro de 1913 (PLANA, 1996, p. 40).
Ainda de acordo com Plana (1996, p. 39), em 26 de março de 1913, Carranza faz uma proclamação 
contra Huerta chamada de Plano de Guadalupe, apelando para o retorno de uma ordem constitucional.
Ele estipula, entre outras coisas:
4. O cidadão Venustiano Carranza, governador constitucional do estado 
de Coahuila, fica nomeado comandante‑em‑chefe do exército que 
deverá conduzir nossa causa ao triunfo: ele o organizará de maneira 
a constituir o exército chamado ‘constitucionalista’.
5. Assim que o exército constitucionalista ocupe a cidade do México, 
Venustiano Carranza, ou quem o tenha substituído no comando, será 
nomeado chefe provisório do Poder Executivo.
6. Assim que a paz for restabelecida, o presidente provisório da República 
convocará imediatamente eleições gerais e cederá o poder ao cidadão 
que for eleito (PLANA, 1996, p. 39).
 Observação
A construção do imaginário da Revolução Mexicana se dá, entre outros 
fatores como educação e discurso oficial, com a elaboração de obras de 
arte como quadros, murais, literatura, fotografia e edifícios. Essa construção 
é tão relevante que seu produto encontra‑se em acervo de qualidade 
indiscutível como o MoMa, em Nova Iorque.
3.1.2 Crises no processo revolucionário
A situação estava crítica desde aquilo que foi chamada de dezena trágica – os 10 dias entre 9 e 18 
de fevereiro de 1913 em que as tropas federais tiveram que lutar aguerridamente contra partidários do 
porfiriato e, nesse momento, se aproveitando das dificuldades de Madero, os Estados Unidos dão seu 
apoio a Gal. Victoriano Huerta em um levante que derrubou o presidente.
Huerta era conhecido de longa data, pois foi do exército de Díaz, onde ganhou força ao ser enviado 
pelo governo contra os zapatistas. Quando Madero que é preso e fuzilado, volta‑se contra ele, ficando 
o Gal. Victoriano em seu lugar. Seu governo durou pouco uma vez que foi batido pelas forças de Villa 
em 1914, fugindo em julho para a Espanha. Em abril de 1915, Gal. Vitoriano estava no Novo México 
52
Unidade II
tramando uma forma de retornar ao poder, mas morre preso pelas autoridades dos Estados Unidos no 
Texas, em 1916.
Huerta, ao que tudo indica, foi presa da disputa entre a Inglaterra e os Estados Unidos pela exploração 
petrolífera mexicana, não conseguindo apoio nos Estados Unidos do presidente Woodrow Wilson. Ao 
contrário, no momento mais crítico de seu governo, para complicar ainda mais as coisas, o México foi 
invadido por 3000 fuzileiros navais norte‑americanos em 21 de abril de 1914, impedindo em Veracruz 
que um importante abastecimento de armas chegasse em socorro à Huerta. A crise advinda dessa 
manobra provoca uma articulação internacional que mobiliza os Estados Unidos, a Argentina, o Brasil e 
o Chile, que discutem a situação com representantes de Huerta em Niagara Falls, conforme indica Plana 
(1996, p. 59).
Um dos momentos críticos ocorreu em março de 1914 quando Gal. Villa resolve atacar Torreón, um 
importante posto das forças federais de Huerta e, para tanto, mobiliza 15 trens, oito mil homens e cerca 
de trinta canhões (Plana, 1996, p. 53) o que dá o indício das forças da Divisão Norte. A batalha que selou 
os destinos do governo Huerta ocorreu em 23 de junho em Zacatecas para onde se dirigiu Villa com 
vinte e três mil soldados. Como resultado, Huerta sai do poder e Álvaro Obregón toma a capital federal 
para os revolucionários em 15 de agosto de 1914.
Pancho Villa tornou‑se uma figura quase lendária no processo revolucionário e referência de 
guerrilheiros por diversas gerações. Vale lembrar que jovem ainda passa para clandestinidade ao atirar 
em um fazendeiro que violentou uma irmã sua e precisa inclusive trocar de nome, abandonando Doroteo 
Arango, para tornar‑se Pancho Villa.
Pelas palavras de Marte R. Gómez, político do período entre guerras,Seria difícil encontrar um protagonista que fosse ao mesmo tempo tão 
generoso quanto implacável, tão capaz de amor como de rancor, pronto à 
obediência mas de um tal orgulho que lhe permite impor‑se quase sempre 
durante sua vida atormentada, e tão hábil em detectar perigos que o 
ameaçam; e ao mesmo tempo, cândido a ponto de deixar‑se seduzir pelas 
intrigas de todos os que queriam fazê‑lo acreditar que ele era superior aos 
outros e que podia dirigir os destinos do país (PLANA, 1996, p. 32).
Contribuiu com a lenda de Villa o fato de que em 1914 a Mutual Film Corporation, empresa de 
cinema dos Estados Unidos, filma as ações de suas tropas e as transforma em um filme sob o título 
The Life of General Villa, momento esse romantizado em um filme bem mais recente que tem como 
protagonista Antonio Banderas no papel de Villa, filme denominado Estrelando Pancho Villa.
O país entre 1914 e 1915 continua a ser assolado pela guerra civil, uma vez que um antigo apoiador 
de Francisco Madero, chamado Venustiano Carranza, político que será responsável por conseguir derrotar 
as formas revolucionárias.
53
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Figura 18 – OROZCO, José Clemente. A trincheira
 Saiba mais
A respeito do episódio da filmagem de Pancho Villa, recomendamos o 
filme de ficção:
ESTRELANDO Pancho Villa. Dir.: Bruce Beresford. EUA, 2003, 112 min.
Derrotado Huerta, as diferenças entre Carranza e Villa voltam a se acirram e impedem a pacificação 
do México por fazer o país mergulha numa nova onda de conflitos que deixa algo como 200.000 mortos 
no final de 1914. A guerra civil se generaliza pois Zapata não reconhece a autoridade de Carranza 
enquanto Villa levanta‑se contra ele.
Nesse momento, acreditamos ser importante fazer um esclarecimento em função da exposição 
da situação de conflito interno no México – nosso horizonte deve ser o país que emerge dessa 
situação que aparentemente seria insolúvel. Para tanto, precisamos observar que Villa é um 
comandante militar arraigado em sua Divisão Norte e com escassas possibilidades de construir 
alianças com outras forças políticas e militares do país e, por isso, Carranza encontra espaço para 
articular sua liderança no governo provisório. Como manobra internacional Carranza negocia com 
o presidente Wilson a saída das forças dos Estados Unidos e transforma Veracruz em capital o que 
não era irrelevante uma vez que Villa e Zapata rumavam para a Cidade do México, onde conseguem 
entrar em 6 de dezembro, data da célebre fotografia referida anteriormente. Foi um momento 
único, pois, pela primeira vez, os líderes revolucionários se encontravam e suas forças de cerca de 
vinte mil homens cada, desfilavam e causavam forte impressão no povo em geral. A presença dos 
cavaleiros de ambas as forças, dos Dorados (guarda pessoal de Villa) e dos próprios comandantes 
Villa (que aderiu então à demanda zapatista pela terra) e Zapata impunha o então presidente na 
cidade do México, Gutiérrez, receber ambos no palácio presidencial. Gutiérrez era um presidente 
54
Unidade II
apenas nominal e incapaz de ações sendo que ao tentar fugir em 26 de dezembro é preso pelo 
próprio Villa mas escapa depois.
Não existe unidade de forças no país e a instabilidade continua muito grande. Villa, em 1915 chegou 
a formar um governo em Chihuahua, sendo suas forças importantes no Norte e Zapata ao sul, mas o 
restante do país era controlado por Carranza, que articulava politicamente suas forças e se aproxima de 
Álvaro Obregón para combater Villa, sendo este último batido em Celaya, em abril de 1915.
No território que mantinha sob seu controle, Villa realiza uma medida de grande significado social 
para toda a América Latina, a reforma agrária.
Em 24 de maio de 1915, Villa publica em León (Guanajuato) um decreto 
sobre a reforma agrária. Eis alguns extratos:
Artigo 1. As grandes propriedades rurais são consideradas incompatíveis com 
a paz e a prosperidade da República. É por isso que os governos dos vários 
estados, durante os três primeiros meses seguintes à promulgação desta lei, 
estabelecerão a superfície máxima da terra de que cada pessoa poderá ser 
proprietária no conjunto do território do estado; ninguém poderá possuir 
ou adquirir terras de uma superfície mais vasta do que a delimitada. [...]
Artigo 2. Para fixar as modalidades de aplicação do artigo precedente, o 
governo de cada estado deverá levar em consideração a extensão global 
do território sob sua jurisdição, o volume de irrigação, a densidade da 
população, a qualidade da terra, a superfície atualmente cultivada e todos 
os outros elementos que possam contribuir para determinar o limite do qual 
a propriedade rural se torna uma ameaça à estabilidade das instituições e da 
sociedade (PLANA, 1996, p. 87).
A derrocada de Villa é rápida, pois Carranza negocia a anistia para quem entregasse as armas e em 
dezembro de 1915 é declarado fora da lei pelo governo e seus últimos aliados militares em Ciudad Juarez 
se rendem ao governo. Villa passa à guerrilha contra o governo e despertando a ira inclusive dos Estados 
Unidos que chega a mobilizar uma expedição punitiva que invade o México comandada pelo general 
Pershing em resposta ao ataque de Villa a cidade norte‑americana de Columbus em 1916. Os últimos 
eventos militares de Villa se dão em 1919 quando seu estrategista Gal. Felipe Angeles é capturado e 
fuzilado e Villa escapa para as montanhas.
A sobrevivência política de Carranza fora construída em torno da estabilização política, institucional 
e jurídica do país com a Constituição de 1917.
O processo vinha sendo construído desde 1916 quando foi formado um Congresso Constituinte em 
Querétaro mas a proposta inicial de reformas na Constituição de 1857 é recusada e Marco Antonio Villa 
indica que,
55
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
O artigo 27, sobre as formas de propriedade territorial, abandona a redação 
conservadora sugerida por Carranza e, na introdução, estabelece o princípio 
de que a propriedade das terras e águas dentro do território nacional 
corresponde originariamente à Nação, que tem o direito de transmitir o 
domínio a particulares, constituindo a propriedade privada. No parágrafo 
3º., declara que a Nação tem o direito de impor à propriedade privada as 
modalidades ditadas pelo interesse público, visando uma distribuição 
equitativa da riqueza pública. Reconhece o direito de as comunidades 
solicitarem terras em quantidade suficiente para as suas necessidades. 
Assim, desaparecia o princípio clássico do indivíduo proprietário anterior 
à sociedade. O cidadão proprietário o era por concessão da Nação, ou seja, 
do governo enquanto representante da nacionalidade (VILLA, 1993, p. 26).
Como estratégia de aplacar as demandas sociais crescentes de setores urbanos de trabalhadores 
que desde a década de 1910 começavam a se agitar na sociedade mexicana, na Constituição a questão 
trabalhista é também importante:
Outro artigo fundamental na Constituição é o 123: é o segundo em extensão. 
Consagra direitos como a jornada máxima de trabalho, descanso semanal, 
salário mínimo, participação nos lucros, direito de greve, etc. A Constituição 
trata também da educação, limita a ação da Igreja, estabelecendo um Estado 
forte, onde o presidente é um verdadeiro déspota durante o seu mandato 
(VILLA, 1993, p. 27).
Nos principais manuais de história das Américas, a Constituição de 1917 no México é muitas vezes 
vista como uma maneira institucional de parar a Revolução, uma vitória da burguesia mexicana e 
consegue desacelerar as demandas populares e pacificar o país. Apesar disso, a situação interna não é 
tão pacífica uma vez que Zapata é morto em 1919 por ordem do Gal. González, pretenso sucessor de 
Carranza que disputa a posição com Obregón, sendo que o presidente Carranza é assassinado ao tentar 
escapar de um golpe em 1919. O que se segue é uma série de governos instáveis atravessando a década 
de 1920 e que não conseguiam resolver a questão da terra de uma vez por todas.
Tabela 1 – Estatísticashistóricas do México
Terras distribuídas por períodos presidenciais (1915‑1930)
Presidente Meses de governo
Hectares 
distribuídos
Média 
mensal
Venustiano Carranza 66,5 167.936 2525
Adolfo de La Huerta 6,0 33.696 5616
Álvaro Obregón 48,0 1.100.117 22919
Plutarco E. Calles 48,0 2.972.876 61935
Emilio Portes Gil 14,1 1.707.750 121117
Fonte: Villa (1993, p. 35).
56
Unidade II
Paralelamente às sangrentas disputas pela terra na sociedade mexicana, a demanda por direitos 
sociais a partir de trabalhadores urbanos cresce em reivindicações e adesão. Surge no México aquilo que 
pode ser chamado de Movimento Operário, sendo a Confederación Regional Obrera Mexicana (CROM), 
surgindo como uma central sindical com um discurso reformista desde que 1918 que segundo Villa, 
(1993, p. 42) vai abandonando as premissas anarquistas originais.
Em 1921 na cidade do México surge a Confederación General de los Trabajadores (CGT), de influências 
comunistas presentes no México desde a fundação em 1919 do Partido Comunista Mexicano (PCM) e 
em seus escassos quadros existia um nome, John Reed, de destaque internacional e que notabilizaria 
por ser testemunha ocular das principais crises do início do século XX, pois esteve nos Balcãs às vésperas 
da explosão da I Guerra Mundial, na Revolução Mexicana e também na Revolução Russa sendo que de 
cada uma dessas “aventuras” produziu uma importante obra:
I) Guerra dos Balcãs, sobre a grave crise no Balcãs.
II) México Insurgente, sobre a Revolução Mexicana.
III) Os 10 dias que abalaram o mundo, sobre a Revolução Russa.
 Saiba mais
Sobre a vida de John Reed recomendamos o filme Reds no qual se 
apresenta aspectos de seu ativismo político, os conflitos sociais nos Estados 
Unidos do início do século XX e, principalmente, a ideia de intercomunicação 
entre os diversos movimentos sociais daquela época, culminando com a 
Revolução Russa e a participação de ativistas de diversas partes do mundo.
REDS. Dir. Warren Beatty. EUA, 1981. 194 min.
3.1.3 Cárdenas e a década de 1930
As principais reivindicações da sociedade mexicana ainda estavam presentes na década de 1930 
quando Lázaro Cárdenas alcança o comando do Estado federal. A reforma agrária, os direitos trabalhistas, 
o sindicalismo, a educação, a nacionalização do petróleo fazem parte do ideário Cardenista.
Nas eleições de 1934 sagrou‑se vencedor o general Lázaro Cárdenas para os seis 
anos seguintes. [...] o seu governo teve três fases distintas. A primeira durou de 
sua posse ao rompimento com Calles e a subsequente mudança do gabinete 
ministerial, na virada de 1935 para 1936. Nesse primeiro momento, Cárdenas 
não tinha uma posição política forte e independente. Calles acreditava que 
continuaria na situação de domínio político, mas não contava com a autonomia 
de Cárdenas. Os dois entraram em choque, principalmente devido à posição deste 
57
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
com a política sindical. Cárdenas conseguiu conciliar uma série de alianças com 
caudilhos locais, o Exército e sindicatos. Cárdenas apoiou e teve respaldo dos 
operários via Comité de Defensa Proletaria, que posteriormente se transformou 
na Confederación de Trabalhadores de México (CTM), e da Confederación 
General de Obreros y Campesinos de México (CGOCM), comandada por Vicente 
Lombardo Toledano. Esses fatos ocorreram entre junho e dezembro de 1935. 
No mesmo período, o Partido Comunista Mexicano aproximou‑se de Cárdenas 
graças uma proposta de Frente Popular após a realização do VII Congresso da 
Internacional Comunista em Moscou, entre julho e agosto de 1935. Foi nesse 
contexto nacional e internacional que Cárdenas, primeiro isolou Calles e, 
posteriormente, rompeu com ele (BARBOSA, 2010, p. 106).
Figura 19 – Lázaro Cárdenas, presidente mexicano (1934 a 1940)
No momento subsequente, Cárdenas percebe a importância de se aproximar das classes mais 
desfavorecidas e passa a implantar medidas sociais entre 1936 e 1938 com a emblemática reforma 
agrária, nacionalização do petróleo e das ferrovias e colocação dos sindicatos sob tutela estatal.
O governo cardenista levou a cabo uma reforma agrária das mais 
significativas, que afetou uma parcela considerável da população de 
uma região agrícola importante. Com essa reforma agrária, a hacienda 
tradicional foi quase que eliminada por completo. Para se ter uma ideia, ao 
final de seu governo praticamente a metade dos terrenos cultivados eram 
ocupados por ejidos. Além do mais, esses camponeses ejidatários receberam 
maior apoio governamental na forma de crédito, ajuda técnica e suporte na 
comercialização. O termo ejido (palavra derivada do latim exitum) foi criado 
no período colonial para denominar as terras limítrofes dos povoados que 
exploravam principalmente a pecuária e a lenha. Na era pós‑revolucionária 
adquire outra conotação. Atualmente, o ejido, uma criação da Revolução 
Mexicana, foi o instrumento para a reforma agrária no México. O ejido 
58
Unidade II
é uma espécie de dotação, não há compra; procedia da expropriação de 
latifundiários ou de terras do Estado e torna‑se propriedade da nação, cedida 
em usufruto perpétuo e hereditário aos camponeses, seja individualmente 
ou de forma coletiva (BARBOSA, 2010, p. 107).
Assim, ocorre importante intensificação na reforma agrária.
 Lembrete
No início da Revolução Mexicana, a questão da terra aparece com a 
demanda por ‘Tierra y Libertad’, sendo essa necessidade atendida pelo 
governo por meio concessão de terras mas também como maneira de 
fortalecer os traços populistas dos governantes.
Tabela 2
Presidentes Período presidencial Hectares distribuídos
Porcentagem 
do total
Venustiano Carranza 1915‑1920 132 0,3
Adolfo de la Huerta Maio – nov. 1920 34 0,1
Álvaro Obregón 1920‑1924 971 2,0
Plutarco Ellías Calles 1924‑1928 3.088 6,4
Emilio Portes Gil 1928‑1930 1.173 2,4
Pascual Ortiz Rubio 1930‑1932 1.469 3,0
Abelardo Rodríguez 1932‑1934 799 1,7
Lázaro Cárdenas 1934‑1940 17.890 37,1
Fonte: Barbosa (2010, p. 107).
Nota‑se na tabela anterior uma intensificação sem paralelo na distribuição de terras. De 1938 até o 
final do governo, em 1940, Cárdenas buscou consolidar politicamente seu grupo transformando o antigo 
PNR em Partido da Revolução Mexicana (PRM), consolidando intenções já presentes na Constituição 
Mexicana de 1917.
 Saiba mais
Ainda sobre a Revolução Mexicana, recomendamos um filme que trata 
da vida e da época de Emiliano Zapata.
VIVA Zapata! Dir.: Elia Kazan. EUA, 1952. 115min.
59
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Exemplo de aplicação
No início do século XXI, na América Latina, a questão da terra ainda é uma grande demanda em 
diversos países. Você conseguiria fazer uma lista dos principais movimentos sociais que reivindicam 
reforma agrária no Brasil e verificar se existem outros grupos semelhantes da América Latina?
4 ESTADOS UNIDOS NAS DÉCADAS DE 1920 E 1930
Em fins da década de 1930, em meio à Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos passaram a 
promover uma importante política de liderança continental e, para tanto, desenvolveu múltiplos 
mecanismos de aproximação e convencimento para diversos países das Américas se alinhassem a eles. 
O governo estava à cargo de Franklin Delano Roosevelt, presidente que, entre outros feitos, conseguiu 
superar os nefastos efeitos da Grande Depressão sobre os Estados Unidos ao construir o New Deal e que 
conduziu seu país contra o avanço do Eixo formado por Alemanha, Itália e Japão.
Buscando consolidar seus esforços de construção de uma liderança efetivamente continental, o presidente 
Roosevelt trava conversações com Nelson Rockefeller, membro de uma das mais poderosas e ricas famílias 
dos Estados Unidos e que apostava no aumento da influência norte‑americana na América Latina.
Roosevelt tinha razões pessoais para querer se encontrar com Nelson. O 
presidente estava pleiteando um inédito terceiro mandato em 1940. 
Conseguir apoio do herdeiro de uma família que fazia o possível para que o 
corretor de Wall Street, Wendel Wilkie, fosse seu sucessorrepublicano, seria 
um feito. E poderia até encorajar algum apoio nos círculos empresariais. 
Quando Nelson deixou a Casa Branca, o presidente concordara em participar 
de transmissões internacionais de rádio comemorando a nova sede do 
Museum of Modern Art (Moma). Sua participação iria aumentar muito 
a reputação de Nelson Rockefeller nos Estados Unidos. Nelson também 
planejava usar o museu para insinuar‑se junto à América Latina. O discurso 
de quinze minutos de Roosevelt, em 10 de maio, foi suficientemente inócuo 
na área política, mas o pronunciamento de Nelson causou rebuliço entre os 
devotos da arte. Nelson deixou de mencionar que o museu tinha dez anos e 
que outras pessoas ajudaram a fundá‑lo. Parecia que o museu estava sendo 
inaugurado naquela noite, um membro da audiência contou mais tarde. “Foi 
uma surpresa e tanto para a equipe”. Para os latino‑americanos que ouviram, 
o MOMA acabara de abrir naquela noite, e Nelson Rockefeller era o benfeitor 
assumido. Este evento preparou o cenário para a jogada surpreendente de 
Nelson na diplomacia internacional: ele ofereceu ao governo Cárdenas, em 
plena crise do petróleo, uma mostra no MOMA sobre vinte séculos de arte 
mexicana (COLBY, 1998, p. 124‑5).
A articulação dos Estados Unidos tinha, como uma de suas motivações negociações sobre o comércio 
do o vizinho ao sul do Rio Grande e Nelson Rockefeller se empenhou nisso – sendo herdeiro da Standard 
60
Unidade II
Oil seus interesses não eram meramente filantrópicos. Rockefeller, juntamente com o casal Sr. e Sra. 
Walter C. Douglas, voou para o México e,
Cárdenas os saudou com um calor tipicamente mexicano em sua nova 
residência na aldeia Juquilpan de Juárez, ao lado do lago Pátzcuaro. Ali, afinal 
estava o tipo de acionista que Cárdenas mandara Cam Townsend buscar 
em Nova York. Nelson, no entanto, bancou o discreto. Ele se identificou 
apenas como presidente do Moma e limitou seus comentários à mostra 
sobre a história cultural do México. Ele pediu a Cárdenas para equiparar 
a contribuição de vinte mil dólares do museu para a exposição. Cárdenas 
concordou imediatamente e Rockefeller passou a uma outra concessão que 
desejava. A Fundação Rockefeller estava tendo dificuldade com a exigência 
de idade elevada da lei trabalhista mexicana, que impediam jovens médicos 
mexicanos treinados nos EUA pela fundação de assumir posições de destaque 
na assistência médica rural (COLBY, 1998, p. 125).
A aproximação entre EUA e México era extremamente complexa pois envolvia o petróleo mexicano 
anteriormente controlado por acionistas norte‑americanos.
Na manhã seguinte, Cárdenas decidiu ter direto com Rockefeller e 
abordou a questão da expropriação do petróleo. – Estou aqui como pessoa 
física e não tenho ligações oficiais com as empresas de petróleo – alegou 
Nelson dissimuladamente. Feita a ressalva pro forma, ele se lançou numa 
discussão de quatro horas. – Seus empresários não se relacionam com os 
funcionários do nosso governo ou com nossa comunidade empresarial 
– Cárdenas disse a Nelson. Arrogância dos estrangeiros à parte, as 
exigências do México tinham uma base histórica que derivava de sua 
luta pela independência. – Você precisa lembrar que na base está a 
anexação do Texas em 1863 e o envio de tropas para combater [Pancho] 
Villa em 1916. Deve então recordar que nossa revolução acabou com 
o domínio espanhol no México e restaurou a autoconfiança do povo. 
Esta foi nossa libertação da dominação em nosso próprio país. – Mas 
esta libertação significava que a dominação econômica pelas empresas 
e bancos americanos também tinha que terminar, das estradas de 
ferro às grandes propriedades de açúcar e henequém, até mesmo das 
companhias de petróleo, as mais arrogantes de todas. – Precisamos 
manter a posse, mesmo que o petróleo tenha que ficar no chão. É melhor 
assim do que o povo perder a dignidade. Nelson ficou estupefato. As 
convicções de Cárdenas eram tão ardentes e básicas que se tornavam 
esmagadoras. Nelson tentou negociar termos que deixassem a Standard 
e outras empresas com controle majoritário, mas o presidente mexicano 
não quis ouvir. Sua concessão máxima foi 49%. O petróleo mexicano 
deveria continuar mexicano (COLBY, 1998, p. 125).
61
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Podemos localizar como um momento de importantes alterações na política dos Estados Unidos 
a época da Primeira Guerra Mundial (1914‑8) e até o início da década de 1920 quando ocupava a 
presidência Woodrow Wilson (1913‑1921), democrata que se notabilizou historicamente com a 
proposta de seus 14 Pontos. Nesse período, a América Latina passou a ver a intensificação da presença 
norte‑americana,
Dois fatores favoreceram o delírio das intervenções: em primeiro lugar, 
a eclosão da I Guerra Mundial fez com que as repúblicas caribenhas 
assumissem uma importância geopolítica significativa em assuntos de 
segurança dos Estados Unidos. Reafirmar o poder americano na região 
era uma maneira de evitar um possível ataque das Potências Centrais ao 
“baixo ventre” americano. Em segundo, não se pode ignorar a verdadeira fé 
missionária que tomou conta do presidente Wilson, que pretendia regenerar 
os latinos decadentes que habitavam o Sul do Rio Grande. Foi como se 
sentisse impregnado de uma força providencial que o impulsionava a levar 
as maravilhosas instituições americanas aos povos que desconheciam suas 
virtudes (SCHILLING, 1984, p. 29‑30 apud MOCELLIN, 2006, p. 366).
O pós‑guerra para os Estados Unidos foi um período intenso de discussões e debates políticos que 
contrastavam com o crescimentos econômico no momento posterior ao conflito. Já em 1920, em 
função da queda nas exportações em relação ao período do conflito, os Estados Unidos viviam uma 
crise econômica que teve reflexos da disputa presidencial, pois o presidente Wilson advogava que não 
dava mais para distanciar os Estados Unidos da realidade mundial, principalmente a europeia, e isso 
se chocava com o tradicional isolacionismo. Assim, a proposta vitoriosa foi do republicano Harding 
que defendeu o isolacionismo e a não intervenção do Estado na economia, seguindo um discurso 
tradicionalmente liberal e muito bem aceito no país.
Foram impostas restrições à imigração europeia, para concorrer com a mão 
de obra do país e evitar a entrada das ideias comunistas. As greves foram 
contidas. Os sindicatos das empresas se organizaram contra os sindicatos 
dos trabalhadores, criando uma polícia particular e corpos organizados 
de furadores de greves. Os republicanos mantiveram‑se no poder: Warren 
Harding, morto em 1923, foi substituído por Calvin Coolidge, reeleito em 
1924; em 1928 o secretário de Estado Herbert Hoover foi eleito presidente. 
Era um período de franca prosperidade. As relações entre os Estados Unidos 
e o resto do mundo foram bastante modificadas com a guerra. A dívida 
dos países europeus para com os Estados Unidos elevava‑se a 15 bilhões 
de dólares. A sua ligação econômica com a Europa tornara‑se indissolúvel 
pois das suas importações dependia a continuidade do progresso 
norte‑americano. A ameaça japonesa no Extremo Oriente levou os Estados 
Unidos a convocar a Conferência de Washington em 1922, na qual foi dado 
um golpe nas ambições japonesas. O poderio do país caminhava em direção 
ao Pacífico (ARRUDA, 2004, p. 387).
62
Unidade II
Considerando nossas discussões, torna‑se relevante ainda sinalizar que essas mudanças tiveram 
reflexos nas relações entre Estados Unidos e a América Latina uma vez que
[...] os americanos substituíram a política do dólar (empréstimos a governos 
leais) pela política de intervenção, caracterizada no corolário Roosevelt de 
1904, segundo a qual os americanos arrogavam‑se o direito de intervir onde 
quer que os interesses americanos fossem ameaçados (JOBSON, 2004, p. 387).
4.1 Os EUA e a Era dos Gângsteres
Internamente, os Estados Unidos também mudavam rapidamente no período e
um desdobramento perverso do isolacionismo e do conservadorismo nos 
Estados Unidos foi a implantação da Lei Seca,em 1920, que proibia a produção 
e comercialização de bebidas alcoólicas. Escudada num moralismo tacanho, a lei 
aplicada a todo o país tinha precedente em alguns estados da União, contando 
com o suporte entusiasta da União das Mulheres pela Temperança Cristã, que 
defendia o voto feminino, identificando‑o com a ação pela extinção dos bares e 
a instalação de um clima de limpeza moral. No fundo, a Lei Seca representava a 
última tentativa do país rural e provinciano sobre o crescente poder das cidades 
e sua inexorável liberalização dos costumes. O que pretendia ser uma defesa da 
moral e dos bons costumes foi, na verdade, a centelha para a explosão do crime 
organizado, que fez a fortuna e a glória de gângsters e enraizou a máfia nos 
Estados Unidos (JOBSON, 2004, p. 392 apud REIS FILHO, 2000, p. 19‑21).
E continua com uma aguçada visão relativa aos efeitos perniciosos do simples moralismo tão 
presente e tão inócuo que acabou por funcionar inversamente ao desejado. Ao invés de preservar alguns 
valores sociais de setores muito específicos, disseminou condições para a emergência da violência e do 
submundo do crime organizado.
Jobson (2004) continua:
Bares e cafés se multiplicavam e, muitas vezes, sob a aparência de 
inocentes sorveterias, comercializavam‑se as bebidas proibidas. Destilarias 
clandestinas, contrabando, corrupção de autoridades policiais e judiciais 
tornaram‑se regra do jogo. As fortunas surgiram da noite para o dia e a 
galeria de gângsters notórios se sucedia, dirigidos pelo próprio aparelho que 
haviam criado. Jovens pobres e ambiciosos, servindo como guarda‑costas, 
tornavam‑se futuros chefes depois de assassinar seus antigos patrões. Assim 
se deu com Big Jim Colosimo, morto por Johnny Torrio, que, por sua vez, 
transformou Al Capone em seu braço direito, alimentando a carreira do mais 
famoso criminoso do mundo, responsável, segundo algumas estatísticas, 
por mais de 400 assassinatos. A legitimidade dos gângters era tão flagrante 
que não procuravam esconder o seu poderio, exibindo‑o em carros luxuosos, 
63
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
roupas vistosas, doações fantásticas a casas de caridade, que terminavam 
por atiçar a ambição dos jovens desamparados da sorte. Chicago tornou‑se 
a capital emblemática do crime [...] (JOBSON, 2004, p. 392).
Tal perspectiva nos permite apreender alguns aspectos de uma sociedade marcada pelas profundas 
diferenças entre os valores alardeados e as suas práticas diárias marcadas pela violência e domínio do 
crime organizado.
Talvez não fosse exagerado chamar de dancing days o período que se inicia 
com o fim da Primeira Guerra Mundial e se encerra com a Grande Depressão 
de 1929. Foxtrots e blues embalam a Era do Jazz, enquanto os concursos de 
Charleston criam heroínas, um sinal de novos tempos, no qual as melindrosas 
esmeravam‑se no estilo solto de vestir, costas desnudas, cintura baixa e seios 
represados. O cabelo curto veio para ficar. Sapatos adequados para a dança 
eram indispensáveis nos concursos em que os vencedores haviam resistido 
quarenta horas dançando, depois de verem seus competidores derreados ao 
chão, esbaforidos pelo cansaço. Mas nem tudo era liberdade. As banhistas, 
que ousavam substituir os volumosos trajes de banho compostos por duas 
peças por maiôs inteiriços e muito mais sensuais, foram parar na cadeia 
arrastadas por truculentos policiais. Apesar da organização eficiente dos 
movimentos de defesa dos valores tradicionais, circulavam cada vez mais 
as revistas contendo material com forte apelo sexual, ao mesmo tempo 
que o esporte, especialmente o boxe, tornava‑se uma mania nacional, 
transformando os grandes lutadores pesos pesados, como Jack Dempsey, 
em referências nacionais obrigatórias. O mesmo se deu com excepcionais 
jogadores de beisebol, como Babe Ruth (JOBSON, 2004, p. 392).
E ainda tratando dos aspectos culturais dessa sociedade que rapidamente se sofisticava, o culto às 
celebridades cresce em intensidade e em nomes, originando uma constelação de pessoas que todos 
deveriam conhecer.
64
Unidade II
Figura 20 – O jazz na música foi um dos símbolos dos “anos loucos”
A visibilidade com uma intensa exposição pública torna‑se quase que uma febre nacional e, no ramo 
do entretenimento, o cinema ocupou um lugar de enorme destaque uma vez que,
foi no cinema, contudo, o grande vértice mobilizador da indústria do 
entretenimento. Em termos imediatos, operou no sentido de superar tabus 
consagrados a propósito do relacionamento entre os sexos: o namoro no 
cinema, na última fileira, sob a inspiração de cenas românticas que na tela se 
desenrolavam, embalado pelos sons mágicos da trilha sonora e agasalhados 
pela cumplicidade de penumbra envolvente. De um modo mais amplo, o 
êxtase provocado pelas cenas projetadas nas telas, magnetizando homens, 
mulheres e crianças, demonstravam sua vasta potencialidade no campo da 
diversão, atraíram a atenção dos empresários que viram aí o filão de ouro 
da indústria cultural, que acabou por transformar Hollywood na grande 
fábrica de mitos sintéticos; a matriz geradora de astros e estrelas. O cinema 
revolucionou a arte da comunicação. Suas possibilidades eram infinitamente 
superiores às do teatro. Suas mensagens poderiam ser decodificadas pelas 
grandes massas com enorme facilidade. Por isso, seus princípios eram 
básicos. Concentram‑se em astros e estrelas que fossem capazes de tornar 
o mais real possível seus personagens, e cujas expressões faciais pudessem 
ser facilmente captadas pelas câmeras e traduzidas pelas plateias. A doentia 
identificação do público com seus artistas preferidos escapava até mesmo à 
compreensão dos empresários da sétima arte (JOBSON, 2004, p. 393).
Apesar de o aspecto de entretenimento ser algumas vezes lúdico e noutras, informativo, o cinema 
também foi utilizado como arma de propagação de preconceitos e de discriminação, mesmo em uma 
sociedade que alardeava a defesa da liberdade.
65
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Uma tenebrosa ramificação da “defesa da tradição” foi o ressurgimento 
da Ku Klux Klan (KKK). Falida desde o fim da década de 1870, 
renasceu em 1915, no ambiente chauvinista dos tempos de guerra. 
Um dos primeiros produtos da nova indústria do cinema, o filme 
Nascimento de uma Nação (1916), do diretor D. W. Griffiths, glorificou 
abertamente esse grupo racista. Preocupado primariamente com 
negros, a KKK ampliou sua mensagem de ódio e violenta intimidação 
nos anos 1920, denunciando imigrantes (especialmente católicos e 
judeus) e todas as forças (socialistas e feministas) que ameaçaram a 
“liberdade individual” e “o jeito americano de viver”. Até 1925, o grupo 
conseguiu recrutar quatro milhões de membros, muitos dos quais 
mulheres e “cidadãos respeitáveis” dos estados do Norte. Apesar do 
seu extremismo e posterior declínio no fim da década, o grupo, sem 
dúvida, refletiu sentimentos nativistas bem enraizados na sociedade 
americana (KARNAL, 2007, p. 204).
 Saiba mais
Sobre o submundo do crime organizado, nos Estados Unidos, vale 
assistir: 
Os INFRATORES. Dir. John Hillcoat. 115 minutos. 2012.
Os INTOCÁVEIS. Dir. Brian De Palma. 119 minutos. 1987.
4.2 A crise de 1929 e a Grande Depressão
O mundo demorou a perceber que estava às portas de uma das maiores catástrofes econômicas da 
história. Nos três maiores países industriais do mundo – Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha – 10 
milhões de trabalhadores permanecem ociosos. Dificilmente haverá, em qualquer parte, uma indústria 
importante que obtenha lucro bastante para expandir‑se – o que é o teste do progresso. Ao mesmo 
tempo, nos países de produção primária, o produto da mineração e da agricultura está sendo vendido, 
no caso de quase toda mercadoria importante, a um preço que, para muitos ou para a maioria dos 
produtos, não cobre o custo. Em 1921, quando os preços caíram tão pesadamente, a queda partiu de um 
nível de boom no qual os produtores estavam obtendo lucros anormais; e não há, na história moderna, 
exemplo de uma queda de preçostão grande e tão rápida de uma cifra normal como no ano passado. 
Daí a magnitude da catástrofe.
O tempo decorrido antes que a produção cesse e o desemprego atinja o máximo é, por várias razões, 
muito mais longo no caso de produtos primários do que na manufatura. Na maioria dos casos, as 
unidades produtivas são menores e menos bem organizadas entre si para conduzir um processo de 
contração ordenada. A extensão do período de produção, especialmente na agricultura, é maior. Os 
66
Unidade II
custos de uma queda temporária são maiores; os homens são mais frequentemente seus próprios 
empregadores e assim se submetem mais facilmente a uma contração rendimento pelo qual estão 
dispostos a trabalhar; os problemas sociais de desempregar homens são maiores nas comunidades mais 
primitivas: e os problemas financeiros da parada da produção primária são mais sérios em países onde 
tal produção é quase toda o sustento do povo. Não obstante, aproximamo‑nos rapidamente da fase 
em que a produção primária se restringirá quase tanto quanto a manufatureira, e isso terá um efeito 
adverso para os industriais, já que os produtores primários não terão poder aquisitivo para comprar 
manufaturas, e assim por diante, num círculo vicioso.
Neste quadro de incerteza, os produtores individuais baseiam esperanças ilusórias em cursos de ação 
que beneficiariam agentes individuais ou uma classe de produtores enquanto os percorressem sozinhos, 
mas que não beneficiariam ninguém quanto todos os adotassem. Por exemplo: restringir a produção 
de uma mercadoria primária particular eleva seu preço enquanto permanecer irrestrita a produção de 
indústrias que a utilizam; mas, se a retração se generalizar, então a demanda dessa mercadoria primária 
cairá tanto quanto a oferta e ninguém ficará em vantagem. Ou, então, se um produtor particular de um 
determinado país reduzir os salários, ele será capaz de avantajar‑se no comércio internacional, enquanto 
os outros não fizerem o mesmo. Se, no entanto, os salários forem reduzidos em todas as partes, o poder 
aquisitivo da comunidade como um todo cairá na mesma proporção da redução dos custos e, de novo, 
ninguém ficará em vantagem.
Assim, nem a restrição do produto nem a redução dos salários servem, por si, para restaurar o 
equilíbrio.
Mais ainda: mesmo que conseguíssemos, eventualmente, restabelecer a 
produção ao nível inferior dos salários nominais apropriado – digamos – 
ao nível de preços anterior à guerra, nossos problemas não terminariam, 
pois desde 1914 foi contratado um imenso encargo de dívidas nacionais e 
internacionais, representadas por obrigações fixadas em termos nominais. 
Assim, toda queda de preços elevará o peso das dívidas, por aumentar o 
valor da moeda em que estão fixadas. Por exemplo, se devêssemos retornar 
ao nível de preços anterior à guerra, a dívida nacional britânica seria cerca 
de 40% maior do que era em 1924 e o dobro do que era em 1920; o Plano 
Young pesaria muito mais para a Alemanha que o Plano Dawes, que ela 
não poderia, segundo se concordou, suportar; o endividamento de seus 
associados para com os Estados Unidos na Grande Guerra representaria 40 a 
50 por cento mais bens e serviços do que na data em que os acertos foram 
feitos; as obrigações de devedores tais com a América do Sul e a Austrália se 
tornariam insuportáveis sem uma redução de seu padrão de vida em benefício 
de seus credores; agricultores e famílias de todo o mundo, que tomaram 
empréstimos sob hipoteca, se encontrariam vítimas de seus credores. Em 
tal situação, deve ser duvidoso que os necessários ajustes possam fazer‑se 
a tempo de prevenir uma série de bancarrotas, inadimplência e repúdios 
que abalariam a ordem capitalista até suas fundações. Aqui estaria um 
solo fértil para agitação, sedições e para revolução. Já é assim em muitos 
67
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
quadrantes do mundo. No entanto, em todo tempo, os recursos da natureza 
e os instrumentos humanos continuariam sendo tão férteis e produtivos 
quanto antes. A máquina teria sido somente emperrada em consequência 
de uma confusão. Mas, por termos perturbação no magneto, não temos de 
admitir que cedo voltaremos a uma barulhenta carruagem e que terminou 
o tempo do automóvel (KEYNES, p. 312‑4 apud MORAES, 1998, p. 405‑6).
Na obra “As Vinhas da Ira”, o escritor John Steinbeck retrata o quadro descrito anteriormente:
Uma família isolada mudava‑se de suas terras. O pai pedira dinheiro emprestado 
ao banco e agora o banco queria as terras. A companhia das terras quer tratores 
em vez de pequenas famílias nas terras. Se esse trator produzisse os compridos 
sulcos em nossa própria terra, a gente gostaria do trator, gostaria dele como 
gostava das terras quando ainda eram da gente. Mas esse trator faz duas coisas 
diferentes: traça sulcos nas terras e expulsa‑nos dela. Não há quase diferença 
entre esse trator e um tanque de guerra. Ambos expulsam os homens que lhes 
barram o caminho, intimidando‑os, ferindo‑os (STEINBECK, 2013).
Figura 21 – Desempregados nos Estados Unidos à espera de refeição grátis
 Saiba mais
Para saber mais indicamos a leitura de
BRENER, J. 1929: a crise que mudou o mundo. São Paulo: Ed. Ática. 
(Coleção Retrospectiva do Século XX).
MELO, F. R. Família norte‑americana e miséria: análise das representações 
da pobreza e da instituição familiar em “As vinhas da Ira”, de 1940. UFPR, 
Curitiba, 2014. Disponível em: http://www.humanas.ufpr.br/portal/
historia/files/2014/12/flavia_rosa_melo.pdf. Acesso em: 03 jun. 2015.
68
Unidade II
Figura 22 – Um desempregado em Detroit, nos EUA
A escala dos impactos da crise dificilmente é mensurável, mas, com alguns números, talvez 
consigamos nos aproximar da gravidade da situação. 
Ainda que os historiadores discutam sobre as estatísticas, a escala 
do desastre foi evidente. Durante os anos 1920, a taxa nacional de 
desemprego nos Estados Unidos mantinha‑se por volta dos 5% ou 6%, 
caindo para menos de 2% nos anos bons do meio da década. A taxa 
aumentou então para 9% em 1930 e chegou a quase 24% em 1932. 
Nos piores tempos de 1933, quase 13 milhões de pessoas estavam 
desempregadas. Em 1932, a produção industrial estava a 40% da sua 
capacidade e o mercado bolsista estava a 1/10 do seu nível anterior ao 
crash. A depressão atingiu novos máximos em 1932 e havia sinais de 
rasgões graves no tecido social. A influência comunista aumentava entre 
os desempregados e as manifestações e protestos de fome tornavam‑se 
comuns nas grandes cidades. Pessoas sem abrigo formaram aldeias de 
tendas conhecidas como “Hoovervilles”, numa homenagem cínica ao 
presidente, que afirmava repetidamente que a confiança na economia 
permanecia firme. As Associações de Desempregados adotaram o lema 
“Luta – não passes fome”. Em março de 1930, uma manifestação de 
35.000 pessoas na cidade de Nova Iorque foi violentamente reprimida 
por ação policial (JENKINS, 2012, p. 198).
Os Estados Unidos passaram rapidamente de uma realidade de enorme prosperidade material para 
uma crise sem precedentes em termos de consequências sociais. A era da enorme industrialização no 
pós‑Primeira Guerra, parecia sem fim e inabalável para alguns entusiastas do American Way of Life. As 
enormes construções, a sociedade de consumo estimulada pela ideia de prosperidade e ampliação das 
possibilidades de crédito vinham acompanhadas pela expansão do cinema e do rádio. Em termos diretos, 
o crescimento e industrialização dos Estados Unidos foram exorbitantes,
69
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
[...] os Estados Unidos concentravam, em 1929, 44,8% da produção 
industrial do mundo. As sociedades financeiras constituídas para a 
formação de conglomerados, os holdings, que dominavam um grande 
conjunto de empresas, expandiram‑se enormemente: a General Motors 
produzia 35 % dos automóveis; a United Steel, 32% do aço; a Kodak, 75% 
dos produtos fotográficos. Não mais do que duzentos holdings tinham o 
controle de 38% do capital das empresas americanas. Ao mesmo tempo, 
desenvolveram‑seos acordos internacionais que permitiram o surgimento 
de multinacionais. O crescimento econômico americano em alguns setores 
estratégicos foi espantoso. A produção industrial cresceu 50% entre 1922 
e 1929, e 90% se considerarmos o período de 1921 a 1929. Os Estados 
Unidos produziram 600 mil automóveis em 1928, correspondendo a 75% 
da produção automobilística mundial e a 50% do produto nacional bruto 
americano. Enquanto mantinham‑se estáveis, determinando uma elevação 
em torno de 35% do poder de compra dos consumidores americanos 
(JOBSON, 2004, p. 397).
Vale ressaltar que para o senso comum, quando se fala em crise do capitalismo, antes da crise de 
2007‑8, a única seria a de 1929 que se converteu na Grande Depressão. Isso é um equívoco, uma vez 
que já no século XIX, por volta de 1873, as grandes potências capitalistas já enfrentavam uma crise de 
grandes proporções diretamente relacionada à Segunda Revolução Industrial, ao nacionalismo com as 
unificações – especialmente à alemã e a disputa por mercados internacionais.
30
1925 1926 1927 1928 1929 1930 1931 1932 1933
40
50
60
70
80
90
100
110
120
130
140
150
160
170
180
190
200
210
Base 100 em 1926
Figura 23 – Movimentação da Bolsa de Nova Iorque
70
Unidade II
No contexto de 1929, o caos, ao menos em parte, foi causado pela grande insistência na 
manutenção de um ritmo de produção da época da Primeira Guerra num contexto de mercados 
que não conseguiam absorver o que era oferecido. Acrescente‑se a isso a queda das exportações 
dos Estados Unidos para a Europa em razão da recuperação econômica dela e coroando a 
situação, o não intervencionismo oficial no governo em política interna, deixando os grandes 
conglomerados agirem ao segundo seus interesses imediatos e convicções. O liberalismo 
econômico colaborou diretamente no processo uma vez que mesmo com alguns sinais de 
problemas em setores com a indústria, mineração e agricultura, o Estado norte‑americano se 
eximia de responsabilidade direta.
A crise tinha, entretanto raízes profundas que penetravam na própria 
natureza do capitalismo monopolista americano, pois a distribuição 
da riqueza na sociedade era desequilibrada: os salários e os preços 
tendiam a permanecer relativamente estáveis, aumentando o lucro 
das empresas pelo crescimento da produtividade. Em 1929, 5% da 
população americana concentrava 35% da riqueza gerada no país. 
De 1919 a 1929, a parcela mais rica da sociedade (1%) aumentou 
sua participação no bolo em 15%. Na indústria do aço trabalhava‑se 
12 horas por dia; em certas indústrias, sete dias por semana. Essas 
disparidades explicam por que, entre 1922 e 1929, o setor de bens de 
produção (indústria pesada) cresceu 70 %, o setor de bens de consumo 
não duráveis (roupas, sapatos etc.) cresceu 35% e o setor de bens 
de consumo duráveis (eletrodomésticos, por exemplo) cresceu 50% 
(JOBSON, 2004, p. 399).
O problema é que a enorme expansão vai saturando os espaços de aplicação para o crescimento 
e com o passar do tempo – curto em nosso exemplo de crise – existe uma grande migração 
para a forma de capitais especulativos investidos na Bolsa de Valores de Nova Iorque. Quando 
a produção em diversas áreas começou a ultrapassar a capacidade de absorção do sistema, ou 
seja, produtos começaram a ficar sem consumo, a empresas começaram a ter problemas. Assim, 
a crise desenvolve‑se no interior do núcleo do sistema, a Bolsa de Valores em Manhattan, onde 
diariamente se negociava as ações das principais empresas dos Estados Unidos. Quando os indícios 
de problemas se espalharam os investidores correram para tentar vender as ações que possuíam 
antes de que uma grande baixa atingisse os mercados e isso deflagrou a crise já que em 24 de 
outubro de 1929, o sistema ficou inoperante em razão dos volumes de negociação e o pânico se 
alastrou no capitalismo mundial.
71
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
60
1929 1930 1931 1932 1933 1934
60
60
60
60
1929 = 100 Desocupação
Produção
Figura 24 – Estados Unidos em crise: produção e desemprego
As estimativas mais conservadoras apontam para a falência de mais de 85 mil empresas nos Estados 
Unidos. A queda dos salários foi de mais de 20% e o desemprego – em uma sociedade até então de 
pleno emprego, chegou a 14 milhões de pessoas em 1933. Para efeito de comparação, estima‑se que, 
na Inglaterra, em 1931, havia 2,7 milhões de desempregados e, considerando todo o mundo, entre 1929 
e 1933, seria de cerca de 30 milhões. Uma repercussão imediata da crise foi a retirada de capitais dos 
Estados Unidos investidos da Europa, provocando um caos e a falência de bancos tradicionais e consigo, 
indústrias. No Brasil, uma repercussão imediata foi a ruína do setor cafeeiro que exportava quase 70% 
da produção para os Estados Unidos. O arranjo oligárquico que determinava a predominância política 
no poder federal de seus interesses com a alternância entre São Paulo e Minas Gerais ruiu e Vargas deu 
um golpe assumindo o poder que era das oligarquias. Era o fim da República das Oligarquias do café.
Já ressaltamos aqui que não existe unanimidade em relação às explicações para as causas da Crise 
de 1929 e para seu desenvolvimento conhecido como Grande Depressão.
Analistas como Alan Brinkley apontam três causas principais para a 
Grande Depressão. Primeiro, à economia americana nos anos 1920 faltava 
diversificação. O crescimento econômico dependia desproporcionalmente de 
poucas indústrias, como a automobilística e a da construção civil. Quando 
as vendas nesses setores diminuíram, o resto da economia não conseguiu 
compensar. Segundo, a distribuição altamente desigual da renda significava 
um mercado de consumo truncado. Terceiro, bancos dependiam de muitos 
empréstimos feitos por fazendeiros, negociantes e países estrangeiros 
e, quando a economia tombou, os devedores não conseguiram pagar, 
causando uma reação em cadeia de falências econômicas. A especulação 
selvagem na Bolsa de Valores foi a faísca que ateou fogo no barril de pólvora 
de uma economia fundamentalmente exuberante, mas frágil. Para quem 
72
Unidade II
está acostumado com a imagem do típico americano abastado do período 
pós‑Segunda Guerra Mundial é difícil conceber a extrema miséria da Grande 
Depressão. No campo e na cidade, americanos nunca haviam enfrentado 
tanta pobreza, choque social e desespero quanto nos anos 1930 (KARNAL, 
2007, p. 204).
O impacto foi muito severo uma vez que,
Além de ser abatida pela falência econômica, uma grande área do país 
sofreu uma seca devastadora. A renda familiar nas pequenas propriedades 
caiu 60% entre 1929 e 1932 e um terço de proprietários rurais perderam 
suas terras. [...] Nas cidades industriais, as condições de vida tornaram‑se 
igualmente miseráveis. O desemprego paralisou muitas dessas cidades. No 
estado de Ohio, em 1932, a taxa de desemprego era de 50% em Cleveland, 
60% em Akron e 80% em Toledo. Milhões de solteiros desempregados 
com rostos magros e roupas puídas caminhavam penosamente pelas ruas 
de todas as cidades, procurando empregos inexistentes. Muitos foram 
humilhantemente forçados a pedir ajuda da prefeitura ou do Estado cujos 
poucos órgãos de assistência não acompanharam a crescente necessidade. 
Favelas proliferaram nas periferias das cidades do Oeste. Foram chamadas 
“Hoovervilles”, uma ironia ao odiado presidente americano, e constituíram 
marcas pungentes da paisagem urbana na severidade da Depressão 
(KARNAL, 2007, p. 207).
A dificuldade em sair da crise foi tremenda e, enquanto o centro do capitalismo mundial não se 
reerguia, o restante do mundo era dragado para essa conturbada situação. Para superar a crise nos 
Estados Unidos, foram necessários alguns anos uma mudança de rumos imposta por Franklin Delano 
Roosevelt. O presidente da crise de 1929, o republicano Herbert Hoover, lançou‑se como candidato 
à reeleição, recebendo algo como 16 milhões de votos contra 23 milhões dados à Roosevelt. E para 
resgatar o país do caos, Roosevelt implantou o New Deal. Um conjunto de medidas financeirase de 
combate ao desemprego que modificou a relação do Estado com economia na agricultura, indústria e 
comércio exterior
A Depressão confundiu completamente a liderança política dos Estados 
Unidos. O presidente Hoover e o Congresso, controlado pelos republicanos, 
tomaram algumas medidas moderadas que tiveram pouco impacto dado 
o tamanho da crise. Logo, o público se convenceu de que Hoover não se 
importava muito com seus problemas, o que foi confirmado em 1932 
quando ele mandou tropas, lideradas pelos futuros heróis de guerra, general 
Douglas MacArthur, George S. Patton e futuro presidente Dwight Eisenhower, 
extinguirem um protesto de veteranos militares em Washington, matando 
três manifestantes e ferindo centenas. O candidato do Partido Democrata à 
presidência, Franklin Delano Roosevelt, ganhou as eleições de 1932 com a 
promessa de restaurar a confiança na economia e sociedade. Roosevelt era 
73
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
um político sagaz que constantemente invocava a retórica da liberdade do 
povo comum e mudava suas políticas conforme o ânimo da nação. Quando 
veteranos manifestaram‑se em Washington durante seu governo, ele 
pessoalmente recebeu seus líderes com cafezinho e conversa amistosa. [...] 
Roosevelt reconheceu que a intervenção estatal massiva era necessária para 
salvar o sistema econômico e aliviar o conflito social (KARNAL, 2007, p. 211).
Figura 25 – Roosevelt
Figura 26 – Roosevelt
 Observação
Quando se trata das causas das crises no sistema capitalista é preciso 
ter clareza de que ocorrem em momentos diferentes com causas e reações 
diversas. Assim, seria simplista estudar 1929 para “entender” outras crises, 
sendo mais relevante entender os movimentos internos e os interesses em 
conflito que causam tamanhos desajustes sistêmicos.
74
Unidade II
4.3 O New Deal e a busca da solução para a Grande Depressão
Para solucionar a crise, novos rumos eram traçados pelo governo federal capitaneado por Roosevelt.
Em 1933 e 1934, Roosevelt lançou o primeiro New Deal – um pacote de 
reformas para promover a recuperação industrial e agrícola, regular o sistema 
financeiro e providenciar mais assistência social e obras públicas. O principal 
órgão público criado pelas reformas, a Administração da Recuperação Nacional 
(NRA em inglês), foi desenhado para controlar a economia por meio de uma série 
de acordos entre empresários, trabalhadores e o governo, estabelecendo limites 
para os preços, salários e competição. Programas de planejamento regional, obras 
públicas e subsídios à construção civil tentaram animar a economia enquanto 
diversos esquemas de previdência e empregos públicos foram implementados 
para mitigar o desemprego. Esse empenho de Roosevelt logo se enfraqueceu: os 
novos órgãos públicos mostraram‑se ineficientes, a economia piorou e desafios 
significativos foram levantados pela esquerda e por organizações populistas, 
como a do senador Huey J. Long, de Louisiana, que propôs um programa radical 
de redistribuição de riqueza (KARNAL, 2007, p. 210).
Frente à continuação da crise, Roosevelt mobiliza as forças necessárias para alterar a situação geral, 
e assim nascia o segundo New Deal.
Como resposta política, Roosevelt também radicalizou, lançando o segundo 
New Deal, em 1935, com programas ampliados de assistência social 
emergencial, impostos sobre fortunas privadas, um sistema de relações 
industriais que incentivou a sindicalização e a previdência social para os 
desempregados, crianças, deficientes e aposentados. Três anos depois, 
legislação foi estabelecida para construir habitação pública, garantir um 
salário mínimo e limitar a jornada de trabalho. Inteligentemente usando os 
meios da propaganda política, apelando aos sentimentos de justiça social 
e fazendo alianças com políticos regionais, sindicatos, intelectuais e muitos 
imigrantes, Roosevelt e o Partido Democrata construíram um programa 
político que duraria duas gerações. Comparado aos estados de bem‑estar dos 
países social democratas da Europa, o New Deal de Roosevelt foi modesto. 
Não recuperou a economia (a Segunda Guerra Mundial o fez) nem redistribuiu 
renda, mas trouxe em alguma medida segurança econômica para muita gente, 
transformando as relações entre cidadãos e o Estado por meio da garantia 
de uma mínima qualidade de vida e proteção social contra adversidades. 
Imigrantes e sindicatos participaram pela primeira vez na cena política 
nacional (garantindo o seu apoio ao Partido Democrata até os dias de hoje), 
americanos rurais receberam novos serviços públicos como eletricidade, e os 
mais pobres, inclusive negros, beneficiaram‑se da previdência emergencial. 
Depois de anos de miséria econômica, muitos americanos ganharam um 
senso de confiança e progresso (KARNAL, 2007, p. 211).
75
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
No entanto, para finalizar as observações sobre o governo Roosevelt e suas ações para superar a 
Grande Depressão, consideramos importante recorrer a Karnal (2007) mais uma vez, a fim de desconstruir 
a noção idílica de governo perfeito e único. Apesar dos avanços econômicos, a dívida social era gigantesca 
e permaneceria por décadas ainda,
Mas as limitações do governo Roosevelt foram tão acentuadas quanto 
os sucessos. Apesar de esforços dos sindicatos, socialistas, feministas e 
organizações negras, o sistema geral da seguridade social (aposentadoria, 
seguro desemprego e salário mínimo) não foi universal, sendo diretamente 
relacionado ao emprego assalariado formal urbano, excluindo muitas 
mulheres e negros que trabalhavam como empregados domésticos ou no 
campo. A administração de Roosevelt aceitou muitas das normas raciais da 
época, por exemplo, segregando abertamente os conjuntos habitacionais. 
A dependência eleitoral de Roosevelt dos políticos racistas do Sul resultou 
na derrota de iniciativas contra a discriminação racial e na confinação de 
trabalhadores e trabalhadoras não brancos nas alas menos generosas e mais 
vulneráveis do estado do bem‑estar (KARNAL, 2007, p. 211). 
 Saiba mais
Para compreender importantes aspectos sociais dessa conturbada 
época, recomendamos assistir a:
TEMPOS Modernos. Dir.: Charles Chaplin. EUA, 1936. 83 min.
CIDADÃO Kane. Dir.: Orson Welles. EUA, 1941. 119 min.
AS VINHAS da ira. Dir.: John Ford. EUA, 1940. 130 min.
A LUTA pela Esperança. Dir.: Ron Howard. EUA, 2005. 144 min.
Exemplo de aplicação
Para entender alguns dos impactos sociais que as crises do capitalismo produziram, recomendamos 
que você faça um quadro com as principais características das crises de 1929 e de 2007‑8.
Você pode levantar informações relativas às causas, número de desempregados, gastos governamentais 
ou mesmo duração das crises, e para isso recomendamos a seguinte leitura:
NOVOS ESTUDOS. Dossiê crise econômica. São Paulo: Cebrap, n. 82, nov. 2008. Disponível em: http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_issuetoc&pid=0101‑330020080003&lng=pt&nrm=iso. Acesso 
em: 3 jun. 2015.
76
Unidade II
Recomendamos, em especial, o artigo:
MAZZUCCHELLI, F. A crise em perspectiva: 1929 e 2008. Novos estudos. São Paulo: Cebrap 
[online]. 2008, n. 82, p. 57‑66. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/nec/n82/03.pdf. Acesso em: 
8 jun. 2015.
4.4 Guerra Civil Espanhola e o envolvimento de americanos
O principal motivo de observamos um conflito que aconteceu na Europa na década de 1930 é que, 
além de ser tradicionalmente visto como uma prévia da Segunda Grande Guerra, levou ao envolvimento 
das forças antagônicas naquele momento histórico – esquerdistas e fascistas – e ainda envolveu 
americanos que partiram para lutar no Velho Mundo em nome de princípios libertários e contrários ao 
autoritarismo que avançava na Europa.
Para além dos aspectos políticos mais claros, podemos indicar quer a Espanha era um país dominado 
por latifundiários e fracamente industrializado, sendo que dadas as condições de intensa precariedade 
dos trabalhadores, sua organização era considerável e seu caráter combativo colocava os setores mais 
retrógradosde sobreaviso.
Até o início da década de 1930, o país vivia sob uma monarquia que foi encerrada com a queda do 
rei Alfonso XIII, fazendo nascer uma república dividida. A Frente Popular que mobilizava as forças de 
esquerda progressista venceu as eleições parlamentares de 1936, provocando a reação dos grupos mais 
retrógrados e conservadores que se articularam contra aquela república. Os latifundiários, a burguesia 
industrial, setores católicos tradicionalistas, monarquistas e fascistas, bem como parte do Exército se 
organizaram, e o levante teve início nas forças espanholas no Marrocos, com o Gal. Francisco Franco 
y Bahamonde (1892‑1975) que acabaria por liderar o grupo conhecido como Falange Tradicionalista 
Espanhola.
Figura 27 – O Gal. Franco, líder dos falangistas espanhóis
77
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
A Guerra Civil duraria de 1936 até 1939 e a oposição entre os republicanos da esquerda 
democraticamente eleita e os nacionalistas fascistas sofre uma escalada de violência que envolveria o 
apoio de potências como a Alemanha de Hitler, que junto da Itália mandaram tropas à Espanha para 
ajudar Franco, a chamada Legião Condor. E de outro lado a União Soviética auxilia os republicanos 
juntamente com combatentes de diversas partes do mundo que acorreram à Espanha para se engajar 
nas brigadas internacionais que lutaram pela Frente Popular.
As disputas da década de 1930, travadas dentro dos Estados ou entre 
eles, eram portanto transnacionais. Em nenhuma parte foi isso mais 
evidente do que na Guerra Civil Espanhola de 1936‑9, que se tornou a 
expressão exemplar desse confronto global. Em retrospecto, pode parecer 
surpreendente que esse conflito tenha mobilizado instantaneamente as 
simpatias da esquerda e da direita na Europa e nas Américas, especialmente 
dos intelectuais ocidentais. A Espanha era uma parte periférica da Europa, 
e sua história estivera persistentemente fora de compasso com o resto 
do continente, do qual se separa pela muralha dos Pirineus. [...] não foi 
por acaso que a política interna desse país notoriamente anômalo e 
autossuficiente se tornou o símbolo de uma luta global na década de 
1930. Suscitou os principais problemas políticos da época: de um lado, 
democracia e revolução social, [...] do outro, um campo singularmente 
rígido de contrarrevolução ou reação, inspirado por uma Igreja Católica 
que rejeitava tudo o que acontecera no mundo desde Martinho Lutero 
(HOBSBAWM, 1995, p.158).
Deve‑se salientar que, dos dois lados, o movimento pareceu catalisar os anseios internacionais e o 
envolvimento de pessoas de diversos continentes no conflito. Essa foi uma importante característica do 
movimento.
Mais de 40 mil jovens estrangeiros de mais de cinquenta países 
acabaram indo lutar, e muitos morrer, num país sobre o qual 
provavelmente não conheciam mais que o mapa no atlas da escola 
(HOBSBAWM, 1995, p. 161).
Em nota, Hobsbawm menciona que dos EUA seriam algo como 2.800. Então, concluímos que não 
apenas os norte‑americanos partiram para lutar contra o fascismo na Europa.
O avanço do fascismo na Espanha era, na medida do possível, se lembrarmos da prática comum da 
censura em países como o Brasil, acompanhado por pessoas de várias partes do mundo.
78
Unidade II
 
Zonas ocupadas pelos franquistas em:
Julho/1936
Março/1937
Dezembro/1938
Março/1939
Direção das ofensivas franquistas
Figura 28 – Avanços franquistas na Guerra Civil Espanhola
Vale lembrar que não estamos aqui esgotando o assunto, ao contrário, nossa intenção maior é alertar 
uma importante característica da época que é a circulação de pessoas entre os continentes e o que é 
bastante significativo, como os americanos dos mais diferentes países resolveram se engajar na luta 
antifascista. Para isso, lembramos do envolvimento de brasileiros, mas não só. Estavam lá mexicanos, 
peruanos, cubanos e outros.
 Observação
Apesar do uso do termo fascista indica os membros da falange franquista 
serem alvo de problematizações, considerações, plenamente adequado 
em função de seu caráter nacionalista, de extrema direita, militarista e 
contrário às ideias progressistas. Além disso, a aproximação da Alemanha 
de Hitler e da Itália de Mussolini contribuem para esse olhar.
Logo no início do conflito, a situação não era muito clara, uma vez que,
Os Estados Unidos, ainda que indiretamente, também acabaram por 
beneficiar Franco: na iniciativa privada, a Texas Oil Colega vendeu gasolina 
a crédito às tropas de Franco e, até o fim da guerra vendia armamento, 
beneficiando‑os no que concerne ao combustível. Em contrapartida, o 
lado dos republicanos teve pouca ajuda. Ainda que afirmem que o evento 
“atraiu atenção e solidariedade do mundo”, os países pouco influíram de 
modo efetivo à República, eleita e, portanto, legítima. A França, simpática 
ao governo republicano, começou a ajudar, mas logo cessou, com a decisão 
da Liga das Nações, em setembro de 1936, de não intervir, para evitar a 
internacionalização (que já ocorria, do outro lado) da guerra e por medo, 
na realidade, de atender aos interesses “comunistas” no país. A Inglaterra, 
de caráter conservador, optou pela não intervenção e até mesmo chegou a 
pressionar a França a fazer o mesmo, por receio de uma guerra ideológica 
79
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
com os dois países apoiadores dos levantes. Segundo Hugh Thomas, essa 
não‑intervenção “passou de equívoco a hipocrisia”, pois não impediu a 
ajuda italiana e alemã e acabou por desequilibrar o jogo de forças. Apenas o 
México e a URSS posicionaram‑se a favor do governo republicano. O México 
contrabandeava armas e, de certa forma, ajudava na obtenção e envio de 
recursos e correspondências, porém, devido à grande distância, pouco pôde 
fazer de fato. [...] Porém, os republicanos provocaram a solidariedade e o 
apoio voluntário da sociedade civil mundial, com o engajamento de artistas 
e intelectuais (como Ernest Hemingway, George Orwell, Pablo Neruda e 
Albert Camus) e a organização de brigadas internacionais, em que 60 mil 
voluntários de até 53 nacionalidades (inclusive 40 cidadãos brasileiros) 
foram ao auxílio espanhol (CARNEIRO, 2010, p. 14).
Tratando mais diretamente do envolvimento de brasileiros, indicamos,
Em seu relato autobiográfico, o ex‑tenente Apolônio de Carvalho chama 
atenção para o número reduzido de voluntários brasileiros, “não mais que 
uma vintena de combatentes, dispersos por frentes e armas”. Não obstante, 
o autor enfatiza o caráter homogêneo e politicamente engajado do grupo 
– “na ANL, todos, no PC, um terço”. Como as fontes indicam, a relação de 
voluntários brasileiros que lutaram a favor do campo republicano – uma 
frente reunindo socialistas, democratas e comunistas, contando com o apoio 
instável dos anarquistas – é a seguinte: 1) Alberto Bomilcar Besouchet; 2) 
Apolônio de Carvalho; 3) Carlos da Costa Leite; 4) David Capistrano; 5) Delcy 
Silveira; 6) Dinarco Reis; 7) Eny Silveira; 8) Hermenegildo de Assis Brasil; 9) 
Homero de Castro Jobim; 10) Joaquim Silveira dos Santos; 11) Jorge Enéas 
de Andrade; 12) José Gay da Cunha; 13) José Homem Correia de Sá; 14) 
Nelson de Souza Alves; 15) Nemo Canabarro Lucas; 16) Roberto Morena 
(PEREIRA, 2011, p. 6).
Figura 29 – Anarquistas em Barcelona, no início da Guerra Civil Espanhola
80
Unidade II
 Saiba mais
Sobre o envolvimento de brasileiros na Guerra Civil espanhola, indicamos:
POMINI, I. P. Guerra Civil e autogestão: a revolução espanhola. Disponível em: 
http://www.historia.uff.br/estadoepoder/7snep/docs/025.pdf. 
Acesso em: 5 jun. 2015.
ALMEIDA, P. R. Brasileiros na Guerra Civil Espanhola, 1936‑39: 
combatentes brasileiros na luta contra o fascismo. Revista Sociologia e 
Política. Curitiba, ano 4, n. 12, jun. 1999. Disponível em: http://www.scielo.
br/pdf/rsocp/n12/n12a03.pdf. Acesso em: 5 jun. 2015.
SOARES, D. L. Anarquistas na Guerra Civil Espanhola: uma abordagem a 
partir das obras literárias de Ernest Hemingway e André Malraux. Monografia 
de conclusão de curso. UFRGS.Porto Alegre. 2010. Disponível em: https://
www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/31962/000772670.
pdf?sequence=1. Acesso em: 5 jun. 2015.
Sobre norte‑americanos e latino‑americanos:
PEREA, H. Los mexicanos en la guerra de España. Disponível em: http://
cdigital.uv.mx/bitstream/123456789/736/2/1999109P119.pdf. Acesso 
em: 5 jun. 2015.
JIMÉNEZ, F. V. Cubanos en la Guerra Civil española. La presencia 
de voluntarios en las brigadas internacionales y el Ejército Popular 
de la República. Revista Complutense de Historia de América, n. 25. 
1999. Disponível em: http://www.latinamericanstudies.org/articles/
Cubanos‑Guerra‑Civil‑Spain.pdf. Acesso em: 5 jun. 2015.
A vitória de Franco e da Falange – os nacionalistas de extrema direita – deu à Espanha um regime 
autoritário, conservador politicamente, que impedia o desenvolvimento de liberdades democráticas até 
a morte de seu ditador em 1975.
O impacto da Guerra Civil pode ser percebido também no mundo das artes quando dois dos principais 
pintores do século XX, Picasso e Miró, registraram o momento e denunciaram ao mundo o que se 
passava na Espanha.
81
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Figura 30 – Guernica, de Pablo Picasso
E, também:
Figura 31 – Cartaz em favor da Frente Popular, do pintor espanhol Miró
 Observação
Para além dos pintores ora indicados, lembramos que já fizemos 
referência no texto a nomes como André Malraux e Ernest Hemingway, no 
campo da literatura.
 Saiba mais
A respeito da Guerra Civil Espanhola, recomendamos que o aluno assista 
ao filme:
O LABIRINTO do Fauno. Dir. Guillermo del Toro. Espanha, México, 2006. 
112min.
82
Unidade II
4.5 Política de massas na América Latina
Na grande imprensa brasileira, é lugar comum o emprego de alguns termos que são tomados de 
empréstimos à determinadas áreas do conhecimento, como se as palavras sempre tivessem o mesmo 
sentido independentemente do uso. Devemos alertar que isso, geralmente, provoca um fenômeno de 
desinformação, uma vez que a simplificação ignora especificidades e mais do que isso, torna os textos 
genéricos e pouco esclarecedores.
Nesse momento, devemos esclarecer que nossa preocupação é tratar da política de massas na 
América Latina e de algumas de suas mais significativas repercussões. Lembramos que ao tratarmos de 
política de massas não significa a afirmação de uma política feita pelas massas, pela própria população, 
mas por determinadas parcelas, setores ou figuras políticas que conseguem transformar seus projetos 
de nação em políticas que, aparentemente, são uma necessidade natural das populações atingidas. É 
quase como se determinadas ações fossem inevitáveis e que apenas aquele líder político fosse capaz de 
sua realização. Claramente, isso é uma visão por demais personalista e que distancia a construção de 
uma perspectiva crítica que nos dê a chance de avaliar diferentes projetos em disputa. Devemos sempre 
ter clareza que são vários os interesses em conflito e também lembrarmos que certos projetos não são 
implantados enquanto outros, em sua efetividade, podem ter desenvolvimentos catastróficos – sem 
esquecer que em alguns momentos os resultados são positivos e são um avanço em termos de garantias 
de direitos coletivos e da consolidação de determinadas instituições voltadas ao interesse coletivo.
A América Latina foi um espaço privilegiado do desenvolvimento de alguns dos mais significativos embates 
políticos entre os anos 1940 e 1950 e as políticas que surgiram nessa época foram muitas vezes rotuladas 
genericamente como populismo. Nesse sentido, a consideração de Prado (2014) é esclarecedora pois,
Não utilizaremos o conceito de populismo, porque ele nos parece 
demasiadamente genérico, eclipsando as particularidades nacionais. 
Preferimos trabalhar, acompanhando Maria Helena Capelato, com a 
perspectiva da presença de um Estado forte, comandado por um líder 
carismático, capaz de manter a ordem, no período em que as classes 
populares lutavam por ganhar espaço no cenário político e exigiam reformas 
sociais (PRADO, 2014, p. 131).
Vale ressaltar no trecho citado que não é possível dissociar certas ações da ideia de pressões populares. 
Assim, recorremos à necessidade de se pensar criticamente o emprego de determinadas ideias ou conceitos 
históricos uma vez que o uso indiscriminado de palavras e expressões que, aparentemente, tem grande poder 
explicativo pode, na verdade, deixar de ressaltar muitos aspectos relevantes e incorrer em anacronismo.
4.6 Política de massas: México
Sobre o México, Maria Lúcia explica que,
Terminada a fase armada da Revolução Mexicana, a década que se 
seguiu foi bastante conturbada. Um grande problema para os governos 
83
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
revolucionários foi o embate com a Igreja Católica. As determinações 
anticlericais da Constituição de 1917 despertaram a insatisfação crescente 
entre os católicos. Mas a política de restrições de participação da Igreja na 
vida pública, rigidamente implementada pelo presidente Plutarco Elías Calles 
(1924‑1928), precipitou a chamada Guerra Cristera (1926‑1929), que pôs 
em confronto milícias católicas e as forças do governo. Um acontecimento 
marcante do período foi o assassinato do líder da Revolução e candidato à 
presidência, Álvaro Obregón, por um jovem católico, José de León Toral. Ele o 
matou a tiros em um jantar, no dia 17 de julho de 1928. Foi imediatamente 
preso, julgado e condenado à morte por fuzilamento. Um acordo entre a 
Igreja e o Estado que amenizava as restrições anteriores só foi alcançado 
durante o governo de Portes Gil (1928‑1930) (PRADO, 2014, p. 137).
O relato anterior indica que a violência ainda era parte da política mexicana em princípios da década 
de 1930, quase vinte anos após o início da Revolução e o país não estava pacificado ainda.
Em 1934, Lázaro Cárdenas chegou à presidência do México, como candidato 
do Partido Nacional Revolucionário (PNR), que havia sido criado em 1929, 
com o objetivo de aglutinar as forças políticas favoráveis à Revolução 
Mexicana. No governo, Cárdenas implementou uma série de reformas 
sociais que foram extremamente relevantes para todo o período posterior. 
Os efeitos da crise de 1929 – aumento do desemprego, êxodo rural, queda 
dos preços das produções minerais e agrárias – começavam a ser superados. 
Cárdenas tinha se comprometido a pôr em prática o chamado ‘Plano Sexenal’, 
elaborado por uma equipe do PNR em 1933, que propunha uma efetiva 
participação do Estado na organização e direção da economia. Pretendia‑se 
estimular a economia nacional e colocar em prática as leis sociais inscritas 
na Constituição de 1917 (PRADO, 2014, p. 137).
De acordo com o exposto, podemos perceber que a construção de grandes lideranças para as massas 
na América Latina não foi um fenômeno apenas mexicano – apesar de Cárdenas ser um dos seus grandes 
ícones, aproximando‑se do que Vargas simbolizava nesse momento para o Brasil e Juan Domingo Perón 
na Argentina. Esses três países tiveram em comum além desses líderes mencionados, a característica 
de estarem nas décadas de 1930 e 1940 atravessando períodos de modernização econômica e intensa 
mobilização das massas.
O México, à época, era predominantemente rural e, assim, a atuação 
mais abrangente do governo Cárdenas aconteceu no campo. O governo 
patrocinou, entre 1934 e 1940, uma ampla reforma agrária, distribuindo 
aproximadamente 18 milhões de hectares a 772 mil ejidatários. 
Anteriormente, a dotação de terras havia sido realizada de forma lenta; 
entre 1915 e 1934, foram entregues 10 milhões de hectares a 1 milhão de 
camponeses (PRADO, 2014, p. 138).
84
Unidade II
A demanda pela terra era uma grande questão na América Latina naquele momento e a realização da 
reforma agrária com terras, fruto de expropriação de latifundiários, fortaleceu o governo para também 
atender às populações urbanas – agindo sobre os dois grandes grupos populares de seu país.
Cárdenas também procurou atender às reivindicações dos trabalhadores 
urbanos. Pela Constituição,os direitos operários estavam garantidos, tendo 
sido reforçados pela Lei Federal do Trabalho de 1931. Como Cárdenas se 
propunha a cumprir os preceitos constitucionais, considerava legais as 
greves, entendendo‑as como armas legítimas de pressão dos operários para 
alcançarem melhores condições de existência. Durante seu governo, ocorreram 
inúmeras greves, sem que o Estado nelas intervisse ou as reprimisse. Em 
1936, ano do auge das manifestações dos trabalhadores, houve 674 greves, 
envolvendo 113.885 trabalhadores. Também promoveu a modernização e o 
crescimento do capitalismo no México, desenvolvendo um vasto programa 
de obras públicas e abrindo possibilidades para novos empréstimos de capital. 
Criou bancos, financiadores como o Banco de Fomento Industrial (1936), o 
Banco Nacional de Comércio Exterior (1937), e vitalizou o já existente Banco 
do México, constituindo um forte arcabouço financeiro para a dinamização 
da economia. Em 23 de junho de 1937, o governo mexicano nacionalizou as 
estradas de ferro. Os interesses norte‑americanos foram os mais afetados já 
que, desde o século XIX, a maior parte das ferrovias mexicanas não passava 
de um prolongamento daquelas dos EUA, pois visavam à exportação de 
matéria‑prima para o país vizinho do norte (PRADO, 2014, p. 139).
A ideia de modernização mexicana, e os esforços para que ela fosse implantada, entrou em conflito 
direto com os interesses dos Estados Unidos como, por exemplo, quando,
A nacionalização das empresas estrangeiras de petróleo – norte‑americanas, 
inglesas e holandesas –, em 18 de março de 1938, e a criação da Petroleos 
de México (Pemex) tiveram um impacto internacional. Esta foi uma 
decisão pioneira na América Latina, a de entregar ao Estado o monopólio 
da exploração do petróleo nacional. O processo havia se iniciado com 
reivindicações dos trabalhadores das empresas petrolíferas por melhores 
salários. Diante da negativa das companhias estrangeiras de atender às 
solicitações, o Estado interferiu, apoiando as exigências dos operários. 
Criado o impasse, a resolução radical foi a nacionalização de todos os bens 
das empresas, com indenização prevista para ser paga em um prazo máximo 
de 10 anos. A justificativa do governo foi de que o ato se fazia em prol da 
“utilidade pública e a favor da Nação” (PRADO, 2014, p. 140).
O esforço de Cárdenas para conseguir um amplo apoio popular deu resultados duradouros e muito 
profundos uma vez não utilizou o povo apenas como elemento de manobra política. Cárdenas deu apoio 
aos sindicatos, inclusive com recursos dados à Confederação Nacional Camponesa, à Confederação dos 
Trabalhadores Mexicanos e ao mesmo reforça seu poder político com a transformação do PNR em Partido 
85
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Revolucionário Mexicano e que, ainda segundo Prado (2014, p. 140), foi dividido em quatro setores: o 
operário, o camponês, o popular e o militar, sendo que em 1938 tinha 4 milhões de adeptos, dos quais 
2,5 estava no campo. Em sua constante busca de apoio popular, investe fortemente na construção de 
uma ideia de preservação da herança indígena, e assim criou o Instituto Nacional de Antropologia e 
História (INAH) e o Museu Nacional de História do México.
O amplo apoio popular não garantiu a Cárdenas um governo tranquilo, uma vez que a oposição 
se articulava contra a politização e mobilização das massas, sendo constantemente combatido por 
setores que se aproximaram depois do fascismo tal como a União Nacional Sinarquista (UNS) que Prado 
(2014, p. 141) identifica como sendo um grupo católico, anticomunista, antiliberal e simpatizante do 
fascismo. Vale ressaltar que o PRM transformou‑se em PRI (Partido Revolucionário Institucional) em 
1946 e monopolizou o poder no país até 2000!
4.7 Política de massas: Argentina
O país vizinho ao Brasil, parceiro comercial importante em termos de Mercosul e ainda, nação que 
em muitos momento de sua história teve sua trajetória entrelaçada com a do Brasil, teve, assim como 
o nosso caso do México, figuras fortes e sintetizadoras de demandas sociais que, recebendo apoio do 
governo, tenderam a crescer e a se transformar em práticas e em leis.
O século XX para os argentinos indubitavelmente foi marcado pelo casal Juan Domingo Perón e Eva 
Duarte Perón (Evita). Considerando a imagem que conseguiram construir em seu país e que ultrapassou 
fronteiras, se transformando inclusive em produção cinematográfica hollywoodiana com Madonna, não 
é simples definir estratégia e modelos de atuação de Perón e de Evita.
Diferentemente do caso mexicano, a realidade argentina anterior à crise de 1929 foi de intenso 
crescimento com a exportação de cereais e de trigo. A prosperidade, no entanto, foi abalada pela crise 
de 1929 e o país que emerge sofre com os golpes políticos que chega a derrubar um presidente. Tal 
é o caso da queda do presidente Hipólito Yrigoyen da União Cívica Radical (UCR) que nos dizeres de 
Prado (2014, p. 143) seria um partido com aspectos democráticos, algum nacionalismo e preocupações 
sociais – sendo derrubado pelo Gal. Uriburu defensor dos setores exportadores. As mudanças foram 
intensas e marcantes em termos de políticos, e assim devemos colocar em paralelo a História do Brasil 
nessa mesma década de 1930 com a consolidação do poder varguista. A caça aos comunistas, as prisões, 
torturas e fraudes eleitorais tornaram‑se frequentes.
Em 1943, um novo golpe militar redireciona o país, agora nas mãos de um grupo chamado Grupo 
de Oficiales Unidos (GOU), caracterizados pelo nacionalismo e admiração pelo nazifascismo, e como 
expressão disso no final desse mesmo ano todos os partidos políticos foral dissolvidos – tal como a 
Alemanha de Hitler faz ao permitir apenas o Partido Nazista ou mesmo a Itália com o monopólio 
político dos fascistas. O autoritarismo político fazia vítimas tanto na Europa quanto na América Latina 
e cresciam os grupos abertamente antiliberais, militaristas e nacionalistas.
Ao longo do século XX provavelmente o nome mais emblemático e referenciado da política argentina 
foi o do coronel Juan Domingo Perón, que era integrante do GOU. Prado (2014, p. 143) assinala que a 
86
Unidade II
ascensão de Perón ocorre no momento em que a Argentina rompeu com o Eixo (Alemanha, Itália e Japão) 
em janeiro de 1944, em um momento específico de mudança de lideranças no governo comandado pelo 
GOU quando o Gal. Farrell assume o governo e Perón torna‑se vice‑presidente, Ministro da Guerra e 
da Secretaria do Trabalho e Previdência. E foi nessa última função que se destacou ao adotar medidas 
para atender às demandas dos trabalhadores, tal como aumentos reais, tribunal do trabalho, previdência 
unificada e o “Aguinaldo” (espécie de 13º salário).
Figura 32 – Eva Perón
Figura 33 – Juan Domingo Perón
Perón teve atenção com o campo também na criação do Estatuto do Peão. Apesar de ser perceptível 
a opção pela defesa dos trabalhadores, estava em questão a sobrevivência de um determinado regime, 
e dessa forma aqueles que não se submetiam eram duramente reprimidos, sendo exemplo dessa prática 
a luta contra os anarquistas, socialistas e comunistas. E então, bem como no resto da América Latina, 
Perón ora escolhe a repressão, ora a cooptação – tal como Vargas no Brasil, por exemplo.
87
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Essa aproximação com os trabalhadores não agradou aos setores mais 
conservadores ligados aos golpistas, que pediram a destituição de Perón. As 
pressões sobre o grupo militar no poder aumentou e, depois de marchas e 
contramarchas, no dia 12 de outubro de 1945, Perón foi preso e enviado à ilha 
de Martín García. No dia 17 de outubro, um acontecimento mudou os rumos 
do poder na Argentina. Desde cedo, trabalhadores foram tomando a Praça de 
Maio e, em frente ao palácio presidencial, aos gritos de ‘Perón, Perón’, exigiam 
sua libertação. A partir dessa extraordinária manifestação popular, Perón foi 
solto e, às 23h, do Balcão da Casa Rosada, falou para a multidão concentrada 
na praça. Já era candidatoà Presidência da República nas eleições que 
ocorreriam em seguida. Para sustentar sua candidatura, foi criado o Partido 
Laborista, com robusta base de trabalhadores (PRADO, 2014, p. 144).
A opção de base política popular provocou a articulação de uma aguerrida oposição composta por 
latifundiários, burguesia industrial citadina, banqueiros e rentistas que eram, na prática, o capitalismo 
nacional associado nessa época. Em 1946 as eleições presidenciais argentinas refletiam o cenário 
mundial tenso uma vez que a esquerda socialista e comunista lançou José P. Tamborini e Enrique Mosca 
e, no espectro contrário, ou seja, na direita mais nacionalista, com apoio da Igreja Católica, do Exército 
e dos setores mais conservadores surge o nome de Juan Domingo Perón e ainda, segundo Prado (2014, 
p. 145), Perón/Quijano saíram vitoriosos por uma pequena margem de votos, obtendo 1.480.000 votos 
contra 1.212.000.
O primeiro período presidencial de Perón (1946‑1952) foi favorecido pela 
situação econômica argentina, pois, durante a Segunda Guerra, o país havia 
acumulado divisas no exterior. Ao lado de estimular o crescimento econômico, 
o governo pôde oferecer aos trabalhadores aumentos de salários e outros 
benefícios sociais. Em 1946, Perón anunciou o Primeiro Plano Quinquenal, que 
foi cumprido apenas em parte. A indústria argentina de alimentos, têxteis e 
metalurgia leve cresceu bastante nesses anos, mas não houve a criação de uma 
indústria de base como aconteceu no Brasil, por exemplo, com a Companhia 
Siderúrgica Nacional em Volta Redonda (PRADO, 2014, p. 145).
Vale ressaltar que o viés autoritário e personalista manifestou‑se rapidamente com a dissolução do 
Partido Laborista, sendo criado o Partido Peronista, extremamente bem articulado quanto às demandas 
sociais, pois havia em seu interior uma ala masculina, outra feminina – comandada por Eva Perón – e 
uma ala sindical com a Confederação Nacional do Trabalho e, então,
Medidas nacionalistas foram tomadas, tais como a nacionalização de 
empresas elétricas, de telefonia e das estradas de ferro que, na sua maior 
parte, eram inglesas; também foi criada uma frota aérea do Estado, as 
Aerolineas Argentinas. O petróleo não foi nacionalizado como no México e, 
posteriormente, no Brasil. A companhia nacional, Yacimientos Petrolíferos 
Fiscales, fundada por Yrigoyen em 1922, continuou sua modesta 
existência em um campo restrito, ao lado das grandes companhia de 
88
Unidade II
petróleo. Todas as nacionalizações foram feitas mediante pagamento de 
indenizações. O autoritarismo do regime peronista mostrou‑se claramente 
suas relações com a Corte Suprema, a universidade e a imprensa. Quatro 
dos cinco membros da Corte foram agastado a mando do Executivo por 
razões aleatórias. Na universidade, a perseguição aos peronistas foi muito 
forte. Um exemplo emblemático foi a demissão do já afamado médico 
neurologista, Bernarod Houssay, da Universidade de Buenos Aires. Quanto, 
em 1947, ele recebeu o prêmio Nobel de Medicina – o primeiro recebido por 
um argentino e latino‑americano na área de ciências. Houve um silencio 
sepulcral da parte do governo. Os meios de comunicação foram bastante 
cerceados pelo governo. A radiodifusão privada foi sendo silenciada, 
não havendo mais espaço para vozes dissonantes. Fecharam‑se jornais 
e revistas de oposição e criaram‑se restrições postais a jornais como La 
Prensa e La Nación, que também viram reduzidas suas quotas de papel de 
impressão (PRADO, 2014, p. 146).
No entanto, é importante assinalar que não era suficiente aos regimes autoritários que buscavam o 
apoio popular agir como repressor apenas. Era fundamental a construção de uma determinada imagem 
pública daqueles que seriam cultuados como grandes líderes em seus países e assim aparatos de 
comunicação foram criados dentro das mais sofisticadas regras de comunicação para a época. Jornais, 
rádios, revistas, cinema, cartazes, festas dos trabalhadores, postais, cartilhas escolares, fotografias, tudo 
que pudesse atingir as pessoas para que acreditassem nesses líderes era mobilizado.
 Saiba mais
No caso do Brasil não foi muito diferente a atuação varguista do 
período e posteriormente com o culto ao líder nacional. O mecanismo 
fundamental de construção ideológica para o culto ao chefe da nação foi o 
DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda, responsável pelo controle 
ideológico e, principalmente, censura.
No caso argentino, ao se falar de Perón é essencial lembrar da figura de Evita (Maria Eva Duarte), 
casada com Juan Domingo Perón e que foi absolutamente importante na estruturação do regime 
peronista. Como a construção da liderança era um dos pontos basilares desses Estados latino‑americanos 
do períodos, as atitudes assistencialistas eram apoiadas em enormes apelos emocionais mobilizados 
com imagens e ações carismáticas e medidas bastante concretas em relação à população mais humilde 
ou mesmo excluída politicamente uma vez que o voto foi estendido às mulheres.
Conheceu Juan Domingo Perón em 1944, quando este era secretário de Trabalho 
e Previdência do governo de GOU. Nos episódios envolvendo a prisão do coronel, 
Evita organizou manifestações em sua defesa. Casaram‑se em 1945, cinco dias após 
o lendário 17 de outubro, quando uma multidão reunida na Praça de Maio forçou 
89
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
o presidente Farrell a ceder, convocando Perón para discursar aos trabalhadores 
dos balcões da Casa Rosada. Evita ocupou um lugar preponderante nas relações 
que o peronismo estabeleceu com a classe obrera na Argentina. Alçada à condição 
de primeira‑dama com a eleição de Perón, assumiu a condução da Secretaria do 
Trabalho, passando a mediar conflitos e as alianças com o meio sindical. Mobilizou 
potentes estratégias simbólicas para cativar a lealdade dos sindicatos e puniu os 
que mantiveram posições independentes. Por meio da Fundação Eva Perón, dirigiu 
ações caritativas voltadas à criação de escolas, orfanatos e asilos, à promoção 
de campeonatos esportivos para crianças e jovens, à acolhida dos pedidos que 
chegavam de camas em hospitais, máquinas de costura, brinquedos e outros 
favores. As cartilhas de primeiras letras adotadas nas escolas públicas reforçaram 
o culto à grande benfeitora, ensinando a máxima “Evita me ama”. E, nos bairros 
populares, as mulheres foram incentivadas a organizar núcleos de ação social 
por meio dos quais construíram sua participação na esfera pública. Em 1947, a 
Argentina peronista instituiu o voto feminino (PRADO, 2014, p. 147).
A enorme popularidade e o carisma de Evita eram constantemente manipulados pelo governo de 
Perón, mas um duro golpe interrompeu esse processo uma vez que ela adoeceu e faleceu de câncer no 
útero em 26 de julho de 1952, aos 33 anos e, ainda conforme indica Prado (2014, p. 146), o corpo foi 
embalsamado e exposto publicamente, mas em 1955, após o golpe militar que derrubou o presidente, o 
cadáver foi roubado e levado a um cemitério na Itália. Foi mais tarde devolvido a Perón, então exilado 
na Espanha, e finalmente trasladado de volta a Buenos Aires, em 1975. Segue atraindo ao cemitério da 
Recoleta romeiros em busca de Santa Evita.
Figura 34 – Santa Evita
90
Unidade II
 Saiba mais
Para discutir a construção de mitos políticos vale assistir a:
EVITA. Dir.: Alan Parker. EUA 1996. 134 min.
Nesse filme/musical Madonna interpreta a célebre música “Don’t Cry 
For me Argentina”. Vale ressaltar que originalmente ela foi escrita para o 
musical Evita, de 1978, de Andrew L. Webber e Tim Rice.
A queda de Perón em setembro de 1955 está relacionada a um ataque do Gal. Lonardi que provocou 
a renúncia do presidente, evitando resistência armada, seguindo para o vizinho Paraguai, do ditador 
Alfredo Stroessner e depois para a República Dominicana do sanguinário ditador Rafael Leônidas Trujillo. 
De lá consegue proteção da Espanha, então dominada pelo fascismo do generalíssimo Franco, talvez 
o último sobrevivente direto da era do nazifascismo. Morto Perón em 1973, o peronismosobrevive 
como paradigma político e no constante apelo de líderes argentinos contemporâneos às referências do 
Justicialismo.
Figura 35 – O Justicialismo, base da política peronista
91
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
 Saiba mais
Para saber mais da vida nas repúblicas americanas mergulhadas em 
ditaduras anticomunistas e que recorreram constante à métodos contrários 
aos direitos humanos, recomendados o livro A festa do Bode, do escritor 
peruano Mario Vargas Llosa, que desenvolve um aguçado olhar sobre o 
regime de Trujillo e sobre o seu final com um atentado espetacular contra 
esse ditador. Vale ainda a indicação do livro:
LHOSA, M. V. A festa do bode. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2011.
Indicamos, ainda, o filme, o qual demonstra a luta das irmãs Mirabal 
contra o corrupto e sanguinário governo de Trujillo.
NO TEMPO das borboletas. Dir.: Mariano Barroso, 2001. 95 min.
Apesar de nosso objeto mais direto aqui não ser propriamente a História do Brasil, mas sim a 
construção de uma visão mais ampla das realidades americanas com seus conflitos, dificuldades e 
avanços, consideramos relevante apontar que no momento em que o México, que foi referido aqui, 
vivia o governo de Lázaro Cárdenas e a Argentina passava pela construção do Peronismo, o Brasil vivia 
momentos muito relevantes que tiveram como referências a atuação de Getúlio Vargas. Devemos 
lembrar que o governo Vargas se caracterizou por ser muito mais duradouro que os similares mexicano 
e argentino, sendo que Vargas esteve no poder de forma ininterrupta entre 1930 e 1945, retornando em 
1951 e governando até seu suicídio em 1954. No entanto, não foram períodos uniformes, muito pelo 
contrário, entre 1930 e 1934 foi um governo provisório fruto de um golpe que afasta as oligarquias 
cafeiculturas do poder federal. Entre 1934 e 1937 foi um período considerado constitucional e no qual 
ocorreram amplas mobilizações política de direita e de esquerda com a Ação Integralista Brasileira (AIB) 
e com a Aliança Nacional Libertadora (ANL), mas tal momento foi encerrado pelo presidente Vargas 
com um golpe de Estado em 1937 que o levaria a estabelecer um regime autoritário conhecido como 
Estado Novo e que se caracterizou, entre outros aspectos, pelo culto ao líder – com a construção de 
uma máquina propagandística sofisticada, eficiente e muito poderosa com o DIP – Departamento de 
Imprensa e Propaganda.
Boris Fausto (1997), tratando da cultura política e autoritarismo, afirmou que,
[...] ganhou força, no Brasil dos anos 1930, a corrente autoritária. O padrão 
autoritário era e é uma marca da cultura política do país. A dificuldade 
de organização das classes, da formação de associações representativas 
e de partidos fez das soluções autoritárias uma atração constante. Isso 
ocorria não só entre os conservadores convictos como entre os liberais 
e a esquerda. Esta tendia a associar liberalismo com o domínio das 
oligarquias; a partir daí, não dava muito valor à chamada democracia 
92
Unidade II
formal. Os liberais contribuíram para justificar essa visão. Temiam as 
reformas sociais e aceitavam, ou até mesmo incentivavam, a interrupção 
do jogo democrático toda vez que ele parecesse ameaçado pelas forças 
subversivas (FAUSTO, 1997, p. 357).
Apesar de o caráter geral da citação contribuir para o entendimento dos conflitos da época, 
o autor parece omitir um dado que não é irrelevante – a diferença existente entre as diversas 
possibilidades democráticas. O que desprezava, no caso, era um tipo específico de arranjo político 
que sob a roupagem democrática na verdade impedia a participação política livre da maioria da 
população. Tal apontamento é necessário para que não incorra no erro comum de se acreditar que 
era um desprezo pela democracia em si.
Devemos distinguir porém entre o padrão autoritário geral e a corrente 
autoritária, em sentido ideológico mais preciso. A corrente autoritária 
assumiu com toda consequência a perspectiva do que se denomina 
modernização conservadora, ou seja, o ponto de vista de que, em um 
país desarticulado como o Brasil, cabia ao Estado organizar a nação para 
promover dentro da ordem o desenvolvimento econômico e o bem‑estar 
geral. O Estado autoritário poria fim aos conflitos sociais, às lutas partidárias, 
aos excessos da liberdade de expressão que só serviam para enfraquecer o 
país. [...] A corrente autoritária não apostava no partido e sim no Estado; 
não acreditava na mobilização em grande escala da sociedade, mas na 
clarividência de alguns homens (FAUSTO, 1997, p. 357).
Dessa maneira, não é de se estranhar a realização de um golpe de Estado, articulado pelo próprio 
governo e que lançou mão de uma retórica anticomunista intensa, em 10 de novembro de 1937, 
quando o Congresso foi cercado pela polícia militar – devido à recusa da mobilização do Exército para o 
movimento, e Vargas discursa à nação pela rádio à noite anunciando os fundamentos do Estado Novo. 
A centralização e a Carta Constitucional de 1937 fortaleceu de tal maneira o governo que Fausto (1997, 
p. 366) indica que, na história do Brasil independente, nunca se vira tamanha concentração de poderes 
com Vargas conseguiu. O ditador, no plano interno, promovia a industrialização ao mesmo tempo que 
criava um ensino profissionalizante que gerava mão de obra para as indústrias em expansão. Assim, 
um dos alicerces do Varguismo foi a política trabalhista enfatizando a ideia de um governante ‘pai’ dos 
trabalhadores e também que conseguia controlar a ação dos trabalhadores com a proibição de greves, 
por exemplo. A Justiça do Trabalho e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) desenharam os contornos 
do Varguismo, somando essas medidas à criação do salário mínimo, objetivamente o governo adotava 
medidas de impacto na vida dos trabalhadores.
Assim como Perón fez na Argentina, no Brasil Vargas usou amplamente o rádio – no caso como o 
programa A Hora do Brasil, ainda existente as rádios nacionais. O já referido DIP tinha também papel 
fundamental na estruturação de Vargas como bom condutor do país, sendo que em nos dias 1º de maio 
eram comuns os cartazes, panfletos e aparição em estádios. Ficando célebre a ideia de que o nessa data, 
a concentração trabalhista deveria homenagear ao benemérito presidente Vargas. A consolidação de seu 
governo esteve muito ligada à imagem construída.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
A construção da liderança varguista passava pela aproximação com a ideia de pai da nação.
Figura 36 – Vargas e as crianças no Brasil
E também com a ideia de benfeitor dos trabalhadores
Figura 37 – Vargas e os trabalhadores
Em termos de política externa, no entanto, a situação rapidamente se deteriorou quando o mundo 
assistiu à ascensão do III Reich de Hitler e da Itália Fascista de Mussolini à condição de potências 
europeias. E o regime varguista do Estado Novo foi obrigado a decidir entre o alinhamento aos Estados 
Unidos ou à Alemanha nazista, e isso teve consequências absolutamente fundamentais para o destino 
do governo de Vargas.
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Unidade II
 Resumo
Nessa unidade trabalhamos inicialmente o processo que culminou 
na Revolução Mexicana e que envolveu importantes demandas sociais 
em torno do acesso à terra e o fim da exploração da imensa maioria da 
população mexicana por setores elitistas mexicanos, que enriqueceram 
com um determinado modelo de modernização adotado no país pelo 
Ditador Porfírio Díaz no final do século XIX e que teve seu esgotamento na 
primeira década do século XX.
O conflito em torno da posse e propriedade dos ejidos por populações que 
anteriormente viviam em comunidades tradicionais arrastou ou país para 
um longo e sangrento conflito no qual emergem as lideranças de Pancho 
Villa e Emiliano Zapata, eles mesmos sendo mortos em decorrência das 
tentativas de mudanças na sociedade mexicana. Em seguida, apresentamos 
a troca de diversos presidentes no comando do país até que Lázaro 
Cárdenas consegue estruturar o Estado de uma maneira que atendeu a 
algumas demandas relativasà terra e conseguiu construir a hegemonia de 
seu partido político que duraria, ao menos, até os estertores do século XX.
No período cronologicamente considerado entre guerras, observamos 
com mais cuidado o que se passava na sociedade norte‑americana, uma 
vez que desde o final do século XIX e início do século XX isso passou a ter 
relevância para todos os demais país americanos.
O exorbitante desenvolvimento do capitalismo nos EUA, a Crise de 
1929, o New Deal e o desenvolvimento do submundo dos gângsters, do 
contrabando e da violência também foram abordados. Vale lembrar que a 
escala dessa crise era inédita e as dificuldades em reverter o quadro geral 
contribuiu para a piora da oposição política entre direitas e esquerdas, nos 
Estados Unidos, na América Latina e na Europa, explodindo inicialmente na 
Guerra Civil Espanhola entre 1936 e 1939. O envolvimento de americanos 
de diferentes nações, inclusive de brasileiros, ajuda a dimensionar como 
os conflitos estavam ficando polarizados naquele momento – fato esse 
percebido pelos contemporâneos que decidiram muitas vezes deixar seus 
amados lares nas Américas para se aventurar na velha Europa e não raro 
morrer ao se deparar com a máquina fascista crescendo e se desenvolvendo.
Paralelamente a esse movimento, assistimos na América Latina à 
emergência de uma nova organização entre Estado e grupos sociais que, 
para muitos, é simplesmente taxado como populismo, mas que preferimos 
analisar em termos de sua complexidade na construção das relações entre 
os líderes políticos e das massas populares que reivindicavam direitos 
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HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
trabalhistas e outras formas de participar da política em seus países; e aí 
nos deparamos com figuras como Lázaro Cárdenas (México), o casal Juan 
Domingo Perón e Eva Perón (Argentina) e também, no caso do Brasil, com 
o Estado Novo varguista.
 Exercícios
Questão 1. Após a Guerra de Secessão, a vitória do Norte significou uma alteração socioeconômica 
radical nos EUA. Qual das alternativas a seguir exemplifica essa transformação?
A) A supremacia do capitalismo industrial sobre a economia rural escravista.
B) O fim da indústria norte americana por causa da guerra, impelindo os EUA a um período 
temporariamente agrícola até o restabelecimento industrial no início do século XX.
C) A anexação política de todo o México, que durante 50 anos pertenceu aos EUA como um Estado 
federado e, ao final desse período, recobrou sua independência, mas perdeu boa parte de seus 
territórios.
D) A supremacia do Sul agrícola sobre o Norte industrial, uma vez que era das lavouras que provinha 
a matéria‑prima das fábricas do Norte e, assim, fica configurada sua extrema dependência dos 
proprietários sulistas.
E) A imediata deflagração da Guerra Hispano‑Americana com a agressão dos EUA ao México, 
aliado da Espanha. Ao final, os EUA haviam anexado Cuba e se apossado da produção canavieira, 
tornando‑se o principal produtor e exportador.
Resposta correta: alternativa A.
Análise das alternativas
A) Alternativa correta.
Justificativa: após a supremacia do capital industrial, em pouco tempo o capitalismo entra em sua 
fase monopolista.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: ao contrário, houve o fortalecimento da indústria. As grandes propriedades escravistas 
que acabaram, na verdade.
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Unidade II
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: nunca houve tal anexação.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: ao contrário, o Norte prevaleceu sobre o Sul. Além disso, o Norte diversificou a busca 
por matérias‑primas.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: a Guerra Hispano‑Americana foi deflagrada mais de 40 anos depois do final da Guerra 
de Secessão.
Questão 2. (Enade 2008) A pintura mural mexicana do século XX caracteriza‑se por suas grandes 
dimensões, sendo exibida em espaços públicos como palácios, bibliotecas, escolas e museus. Abrange 
temas da história nacional que vão desde o período pré‑hispânico até a Revolução Mexicana. Ao 
trabalhar o tema da Revolução Mexicana iniciada em 1910, um professor do ensino médio propõe aos 
alunos a análise de duas pinturas do muralismo mexicano.
Figura
David Alfaro Siqueiros: “Do Porfirismo à Revolução” – O Povo em Armas (1966). Acrílico e piroxilina sobre madeira forrada de tela. 
Sala XIII – Museu Nacional de História – Cidade do México. In: VASCONCELLOS, C. de M. Imagens da Revolução Mexicana; o Museu 
Nacional de História do México. 1940‑1982. São Paulo: Alameda, 2007.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Figura
Jorge Gonzáles Camarena: “A Constituição de 1917” (1967). Pintura em acrílico sobre tela. Sala XII – Museu Nacional de História – 
Cidade do México. In: VASCONCELLOS, C. de M. Imagens da Revolução Mexicana; o Museu Nacional de História do México. 1940‑
1982. São Paulo: Alameda, 2007.
Após a análise, professor e alunos chegaram a algumas conclusões sobre as pinturas, dentre as 
reproduzidas a seguir:
I – Revelam disputas na construção de uma memória nacional da Revolução Mexicana.
II – Retratam de maneira semelhante os líderes revolucionários de etapas distintas da Revolução.
III – Contêm variadas simbologias da luta revolucionária mexicana.
IV – Mostram a preponderância da atuação do povo mexicano na Revolução.
Estão corretas apenas as conclusões:
A) I e III.
B) II e IV.
C) I, II e III.
D) I, II e IV.
E) II, III e IV.
Resposta correta: alternativa A.
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Unidade II
Análise das afirmativas
I – Afirmativa correta.
Justificativa: essa alternativa demonstra que o muralismo mexicano se desenvolveu sob concepções 
distintas quanto à condução da Revolução Mexicana e à formação da memória em torno desse processo. 
O primeiro mural traz mais explicitamente a participação popular, enquanto o segundo já possui uma 
visão em que o povo aparece – literalmente – em segundo plano.
II – Afirmativa incorreta.
Justificativa: os murais apresentam visões antagônicas no que se refere à condução e ao desfecho 
da Revolução.
III – Afirmativa correta.
Justificativa: não apenas simbologias distintas como apresentam de forma diferente as classes 
sociais envolvidas no processo.
IV – Afirmativa incorreta.
Justificativa: a preponderância é mostrada apenas no mural de David Alfaro Siqueiros.

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