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tempo esqueceu, isolada do resto da humanidade até esse repentino aparecimento. Subsistindo unicamente dos macacos que conseguiam caçar e das frutas que colhiam, eles não tinham o conceito do dinheiro. Significativamente, tampouco possuíam a noção de futuro. Naqueles dias, eles viveram numa clareira perto da cidade, confiando sua subsistência aos alimentos doados pelo governo. Quando lhes perguntaram se sentiam falta da floresta, eles riram. Depois de uma vida inteira de caminhadas penosas, durante dias inteiros, em busca de comida, eles estavam assombrados que perfeitos estranhos lhes dessem tudo, sem lhes pedir nada em troca.3 A vida de um caçador primitivo é, de fato, como Thomas Hobbes disse sobre o estado da natureza: “solitária, pobre, detestável, brutal e curta”. Em alguns aspectos, para estar seguro, perambular pela floresta matando macacos pode ser preferível ao duro trabalho da agricultura de subsistência. Mas os antropólogos mostraram que muitas tribos primitivas, que sobreviveram nos tempos modernos, eram menos plácidas do que os Nukak. Entre os Jivaro do Equador, por exemplo, quase 60% das mortes de homens eram resultado da violência. Para os índios brasileiros Ianomani, a cifra chegava perto dos 40%. Ao que parece, quando dois grupos desses povos primitivos se encontram por acaso, muito provavelmente eles brigam por causa dos recursos escassos (comida e mulheres férteis), em vez de iniciar uma troca comercial. Homens caçadores primitivos não comerciam. Eles vagueiam e atacam. Tampouco economizam, pois consomem sua comida na medida em que e se a encontram. Consequentemente, não precisam de dinheiro. A Montanha de Dinheiro Sociedades mais sofisticadas do que os Nukak funcionaram sem dinheiro, é verdade. Há quinhentos anos, a sociedade mais sofisticada da América do Sul, o Império inca, também não usava dinheiro. Os incas apreciavam as qualidades estéticas dos metais raros. O ouro era “o suor do sol”, a prata era “as lágrimas da Lua”. O trabalho era a unidade de valor no Império Inca, exatamente como mais tarde foi suposto ser numa sociedade comunista. E, exatamente como no comunismo, a economia inca dependia de frequentes planos centrais e do trabalho forçado. Em 1532, entretanto, o Império inca foi destruído por um homem que, como Cristóvão Colombo, veio para o Novo Mundo expressamente em busca de metais preciosos, para depois cunhá-los*. Filho ilegítimo de um coronel espanhol, Francisco Pizarro cruzou o Atlântico em busca de fortuna em 1502.4 Um dos primeiros europeus a atravessar o istmo do Panamá para o Pacífico, ele liderou a primeira das três expedições ao Peru, em 1524. O terreno era agreste, a comida escassa e os primeiros povos indígenas que encontraram foram hostis. Entretanto, a boa acolhida que sua segunda expedição recebeu na região de Tumbes, onde os habitantes os saudaram como “os filhos do Sol”, convenceu Pizarro e seus confederados a persistirem. Depois de voltar para a Espanha, para obter a aprovação real a seu plano de “estender o