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Michelle Almeida da Silveira; Luis Carlos dos Passos Martins | 125 
 
Com base nas fontes citadas pela maioria dessas postagens, a inspi-
ração dessa visão sobre Alexandre viria de Plutarco, o que pode nos dar 
uma ideia da importância e da eficácia desse autor para construir na 
“longa duração” um Alexandre a partir dos seus conceitos sobre as “virtu-
des” dos homens ilustres. 16 Todavia, embora com uso de fontes 
semelhantes, as abordagens fazem diferentes apropriações dos mesmos 
aspectos. No texto “Quatro casais que marcaram a História”, do site edu-
cacional Brasil Escola, o “respeito com as mulheres” é salientado para 
forçar um lado “romântico” entre Alexandre e Roxana, que é a tônica da 
narrativa sobre os casais selecionados: 
 
Como Alexandre evitava a tirania, uma das formas que encontrou para manter 
uma boa relação com os povos conquistados foi respeitar as bases fundamen-
tais de suas culturas. No caso específico da conquista da Pérsia, algo imprevisto 
ocorreu: Alexandre apaixonou-se por uma nobre bactriana (...) de nome Ro-
xana (...). 
Historiadores, como Johan Droysen, suspeitam de que a paixão tenha sido re-
almente verdadeira. Roxana e Alexandre acabaram casando-se e selando a 
união entre as culturas grega e persa.17 
 
Nesse caso, o relacionamento com Roxana aparece como uma quebra 
de continuidade da política matrimonial de Alexandre, porque ele é fruto 
de “algo imprevisto que aconteceu: Alexandre apaixonou-se”. Embora, 
pelo texto do Brasil Escola, procure-se conciliar a paixão com os interesses 
de Estado (“Roxana e Alexandre acabaram casando-se e selando a união 
 
amantes foram sempre guiadas pela ética, tal como aprendera com o seu mentor, Aristóteles, dando vários exemplos 
da moralidade de Alexandre neste domínio”. 
16 Para Plutarco, as principais virtudes de um “homem público” eram Temperança, Coragem e Justiça. Os principais 
vícios eram a Avareza, a não participação da vida pública. A “gloria”, nomalmente militar, pode ser tanto um vício, 
quanto uma virtude, dependendo do efeito que gera sobre a personalidade pública. 
Sobre isso, consultar: SILVA, Maria Aparecida de Oliveira. Plutarco e Roma: O Mundo Grego no Império. São Paulo: 
EDUSP, 2014. 
17 “Quatro casais que marcaram a História”. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com. 
br/historia/quatro-casais-que-marcaram-historia.htm e consultado em 16 de agosto de 2021. 
126 | Histórias Antigas: entre práticas de ensino e pesquisa 
 
entre as culturas grega e persa”), a escolha da noiva teria sido resultado 
da “paixão verdadeira” e não uma opção pragmática. 
Como contraste, podemos ver como a paixão de Alexandre por Ro-
xana é abordado na reportagem “Homens e mulheres: os enigmáticos 
amores de Alexandre, o Grande”, do site AH - Aventuras na História: 
“Como já foi dito, ele se casou três vezes. O primeiro matrimônio, com 
Roxana pode ter tido um sentido bastante político, mas, segundo o histo-
riador alemão Ulrich Wilcken, ele também era apaixonado pela mulher.” 
Nesse texto, que foca mais no exótico do que no romântico, a relação entre 
casamento político e amor está em ordem invertida, aparecendo o “amor” 
em uma condição subordinada, como um acréscimo, como podemos ler 
na frase “ele [Alexandre] também era apaixonado pela mulher”.18 
Já no site ligado a uma instituição religiosa, temos uma abordagem 
diferente. No verbete O Homem Alexandre Magno, o texto também cita 
Plutarco para lembrar que o casamento com Roxana se tratava “deveras, 
dum caso de amor” e que, apesar de apaixonado pela princesa, “o mais 
temperado dos homens (...) se dominou até poder obtê-la de modo legí-
timo e honroso.” Depois, ao apontar a postura geral do rei macedônio 
sobre o tema, salienta-se: “Alexandre também respeitava os casamentos 
dos outros. Embora a esposa do Rei Dario fosse sua cativa, certificou-se de 
que fosse tratada com honra. Pessoalmente, Alexandre não a viu e não 
permitiu que outros falassem da beleza dela na presença dele”. Aqui, pa-
rece-nos que se procura transmitir a ideia de um Alexandre próximo aos 
 
18 “Homens e mulheres: os enigmáticos amores de Alexandre, o Grande”, do site AH - Aventuras na História. 
Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-vida-intima-de-alexandre-o-
grande.phtml., e consultado em 18 de agosto de 2021.

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