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DIREITO PENAL 02 Teoria da Lei Penal Norma Penal Fontes do Direito Penal As fontes podem ser: 1) Materiais ou de Produção: A única fonte de produção do Direito Penal é o Estado. Determina a Constituição Federal que compete privativamente à União legislar sobre direito penal. ! Há a possibilidade de os Estados legislarem sobre questões específicas das matérias relacionadas no art. 22 da Constituição Federal, assim, ao menos em tese existe a possibilidade de o Estado- membro legislar sobre matéria particular, restrita, de direito penal, se autorizado por lei complementar. 2) Formais ou de Conhecimento: Dividem-se estas ainda em: a) imediatas ou diretas: única fonte direta é a lei; b) mediatas ou indiretas: são os costumes, os princípios gerais do direito, a doutrina e a jurisprudência. Norma Penal e Binding A norma penal obedece a peculiar técnica legislativa. O legislador não diz expressamente que matar é crime ou que é proibido matar. A lei expressa o comportamento humano ilícito e a sanção correspondente. Assim, o preceito imperativo que deve ser obedecido não se contém de maneira expressa na norma penal. www.concursosjuridicos.com.br pág. 1 Copyright 2003 Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico. Essa forma de elaboração legislativa deriva do princípio da reserva legal. Somente quando um fato se ajusta a um modelo legal de crime é que o Estado adquire o direito concreto de punir. Desta forma, em toda norma penal incriminadora há duas partes distintas: o preceito (preceito primário) e a sanção (preceito secundário). Binding relata que se nos fixarmos na redação dos preceitos contidos na lei penal, veremos que a proibição está implícita. Portanto não se viola a lei, mas sim algo que está por cima da regra escrita, a norma penal. Com sua teoria, Binding distinguia norma penal e lei penal. Esta cria o delito; aquela, o antijurídico. Características da Norma Penal Afirma-se que a norma penal apresenta as seguintes características: 1) É imperativa: porque a violação do preceito primário acarreta a pena; é geral: porque está destinadas a todos, mesmo aos inimputáveis, sujeitos à medida de segurança. 2) É impessoal: por não se referir a pessoas determinadas. 3) É exclusiva: porque somente ela pode definir crimes e cominar sanções. 4) Aplica-se somente a fatos futuros, não alcançando os pretéritos, a não ser quando aplicada em benefício do agente criminoso. Classificações da Norma Penal Gerais ou Especiais: a) gerais: as que vigem em todo o território; b) especiais: vigem apenas em determinados segmentos do território. ! Não há no Brasil leis especiais de Direito Penal, embora não esteja proibida constitucionalmente a sua elaboração. Leis Comuns e Leis Especiais: a) leis comuns: Direito Penal comum; b) leis especiais: Direito Penal especial. Leis Penais Ordinárias e Leis Excepcionais: a) leis penais ordinárias: são as que vigem em qualquer circunstância; b) leis penais excepcionais: são as destinadas a viger em situações de emergências, como nas hipóteses de estado de sítio, de guerra, de calamidade pública. www.concursosjuridicos.com.br pág. 2 Copyright 2003 Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico. Leis Penais Incriminadoras, Não Incriminadoras e Permissivas: a) incriminadoras (leis penais em sentido estrito): são as que definem os tipos penais e comina as respectivas sanções; b) não incriminadoras (leis penais em sentido amplo): podem ser ainda ser explicativas (esclarecem o conteúdo de outras ou fornecem princípios gerais para a aplicação das penas, ex.: conceitos de reincidência, de casa ou de funcionário público) e permissivas (as que não consideram como ilícitos ou isentam de pena o autor de fatos que, em tese, são típicos, ex.: estado de necessidade); c) permissivas: são as que determinam a licitude ou a impunidade de certas condutas, embora estas sejam típicas em face das normas incriminadoras. Norma Penal em Branco Noções Iniciais: As normas penais em branco são as de conteúdo incompleto, vago, exigindo complementação por outra norma jurídica (lei, decreto, regulamento, portaria, etc.) para que possam ser aplicadas ao fato concreto. Normas Penais em Branco em Sentido Amplo: Tem o seu complemento na própria lei (também chamadas de normas incompletas ou fragmentos de normas). Ex.: Normas que tem o seu complemento no próprio no Código Penal ou até mesmo no Código Civil. Normas Penais em Branco em Sentido Estrito: É aquela cujo complemento está contido em outra regra jurídica procedente de uma instância legislativa diversa, seja de categoria superior ou inferior àquela. Ex.: Crime de trangressão das tabelas de preços de gêneros alimentícios, mercadorias e serviços e que deve ser complementada pelas portarias da SUNAB. Conflito Aparente de Normas Noções Iniciais: Existe quando duas ou mais normas parecem regular um mesmo fato. O princípio do non bis in idem impede que duas normas incriminadoras venham a incidir sobre um só fato natural. Existem quatro princípios para tentar resolver as dúvidas sobre o conflito de normas: 1) Especialidade: Consiste na derrogação da lei geral pela especial. Afasta-se, desta forma, o bis in idem, pois o comportamento do sujeito só é enquadrado na norma incriminadora especial, embora também descrito pela geral. 2) Subsidiariedade: Consiste na anulação da lei subsidiária pela principal. Aplica-se a norma subsidiária, que é uma espécie de tipo de reserva, apenas quando inexiste no fato algum dos elementos do tipo geral. www.concursosjuridicos.com.br pág. 3 Copyright 2003 Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico. Ex.: Haverá apenas o crime de ameaça se ela não é usada para forçar alguém a fazer alguma coisa o que caracteriza o crime de constrangimento ilegal. 3) Consunção: Também chamado de absorção. Consiste na anulação da norma que já está contida em outra, mais gravemente apenada. Ex.: O delito de violação de domicílio é consumido pelo de furto, ou o de roubo que inclui o furto e ameaça ou lesão corporais. Pode ocorrer absorção no crime complexo, no crime progressivo e na progressão criminosa. " A diferença entre subsidiariedade e consunção é que no primeiro comparam-se normas e no segundo comparam-se fatos. 4) Alternatividade: O agente só será punido por uma das modalidades inscritas nos chamados crimes de ação múltipla, embora possa praticar duas ou mais condutas do mesmo tipo penal. Ex.: Se instigar alguém ao suicídio e, em seguida, auxiliar a vítima na prática do ato, o agente somente responderá por instigação ou auxílio, e não pelas duas condutas. Interpretação da Lei Penal Noções Gerais Interpretação e Hermenêutica: Interpretação é o processo lógico que procura estabelecer a vontade contida na norma jurídica. Hermenêutica é a ciência ou método que se preocupa com a interpretação da lei. Espécies de Interpretação: 1) Quanto ao Sujeito que Realiza a Interpretação: a) autêntica: é a que procede da mesma origem que a lei e tem força obrigatória; b) jurisprudencial: é a orientação que os juízos e tribunais vêm dando à norma, sem, entretanto, ter força vinculativa; c) doutrinária: quando constituída do entendimento dado aos dispositivos legais pelos escritores ou comentadores do direito, também não tem, evidentementeforça obrigatória. 2) Quanto aos Resultados Obtidos: a) declarativa: ocorre quando o texto examinado não é ampliado nem restringido, encontrando- se apenas o significado oculto do termo ou expressão utilizada pela lei; www.concursosjuridicos.com.br pág. 4 Copyright 2003 Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico. b) restritiva: quando reduz o alcance da lei para que se possa encontrar sua vontade exata; c) extensiva: ocorre quando é necessário ampliar o sentido ou alcance da lei; d) progressiva: se abarcam no processo novas concepções ditadas pelas transformações sociais, científicas, jurídicas ou morais que devem permear a lei penal estabelecida; e) analógico: quando fórmulas casuísticas, inscritas em um dispositivo penal são seguidas de espécies genéricas, abertas, utiliza-se a semelhança (analogia) para uma correta interpretação destas últimas. ! Não se confunde a interpretação extensiva com a interpretação analógica, pois esta última é busca da vontade da norma através da semelhança com fórmulas usadas pelo legislador, com a analogia, que é forma de auto-integração da lei com a aplicação a um fato não regulado por esta de uma norma que disciplina ocorrência semelhante. Elementos de Interpretação 1) Elemento Sistemático: Quando se procura a interpretação para harmonizar o texto interpretado com o contexto da lei, elaborada, ao menos em tese, em um sistema lógico. O parágrafo de um dispositivo, por exemplo, deve ser sempre analisado tendo-se em vista o caput do artigo e este de acordo com o apítulo a que pertence. 2) A Rubrica: É a denominação jurídica do dispositivo e, no caso da lei penal, muitas vezes o nomen juris do delito, é fator que pode levar a um esclarescimento maior sobre o texto interpretado. 3) Legislação Comparada: É o confronto da lei pátria com a lei de outros países. 4) Elementos Extrajurídicos: São esclarescimentos técnicos, científicos, filosóficos e políticos úteis à descoberta da vontade exata da norma. 5) O Histórico da Lei: Inclui o seu anteprojeto, projeto original, modificações das comissões revisoras, debates legislativos e mesmo as notícias referidas na exposição de motivos, também auxilia a interpretação. Analogia Diante do princípio da legalidade do crime e da pena é inadmissível o emprego da analogia para criar ilícitos penais ou estabelecer sanções criminais. Nada impede, entretanto, a aplicação da analogia às normas não incriminadoras quando se vise, na lacuna evidente da lei, favorecer a situação do réu por um princípio de eqüidade (analogia in bonam partem). Ex.: A exclusão da pena nos casos de aborto que se pratica em mulher vítima de atentado violento ao pudor, que engravidou pela prática do ato delituoso, diante do que dispõe o art. 128, inciso II, do CP, que se refere apenas ao crime de estupro. www.concursosjuridicos.com.br pág. 5 Copyright 2003 Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico. Princípios da Lei Penal Princípio da Legalidade Art. 1º- Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. Pelo princípio da legalidade alguém só pode ser punido se, anteriormente ao fato por ele praticado, existir uma lei que o considere como crime. Ainda que o fato seja imoral, anti-social ou danoso, não haverá possibilidade de punir o autor, sendo irrelevante a circunstância de entrar em vigor, posteriormente, uma lei que o preveja como crime. É a conquista máxima do Direito Penal Liberal. Primeiro tem que haver a previsão normativa e depois o crime. Por esse raciocínio o simples furtus usus (roubar para usar e devolver intacto) não é crime, como disciplinado pela legislação atual. Em razão do princípio da legalidade é vedado o uso da analogia para punir alguém por um fato não previsto em lei, por ser este semelhante a outro por ela definido. Nullum Crimen, Nulla Poena Sine Lege Princípio da Anterioridade Art. 1º- Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. O postulado básico inclui também o princípio da anterioridade da lei penal no relativo ao crime e à pena. Somente poderá ser aplicada ao criminoso pena que esteja prevista anteriormente na lei como aplicável ao autor do crime praticado. Nullum Crimen Sine Praevia Lege / Nulla Poena Sine Praevia Lege Lei Penal no Tempo Vigência e Revogação da Lei Penal Em princípio, a lei é elaborada para viger por tempo indeterminado. Após a promulgação, que é o ato governamental que declara a existência da lei e ordena a sua execução, é ela publicada. Ao período decorrente entre a publicação e a data em que começa a sua vigência, destinado a dar tempo ao www.concursosjuridicos.com.br pág. 6 Copyright 2003 Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico. conhecimento dela aos cidadãos, é dado o nome de vacatio legis. Esse período é de 45 dias quando a própria lei não dispõe de modo contrário e de três meses para a sua aplicação nos Estados estrangeiros, quando esta é admitida. Encerra-se a vigência da lei com a revogação, que pode ser expressa (quando declarada na lei revogadora) ou tácita (quando a lei posterior regulamenta a matéria disciplinada pela antiga). A revogação pode ser parcial, caso em que é denominada derrogação, ou total, quando é chamada de ab-rogação. Existe a auto-revogação quando cessa a situação de emergência na lei excepcional ou se esgota o prazo da lei temporária. Conflito Intertemporal de Leis Penais Art. 2º- Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. Princípio Tempus Regit Actum: A lei rege, em geral, os fatos praticados durante a sua vigência. Não pode, em tese, alcançar fatos ocorridos em período anterior ao início de sua vigência nem ser aplicada àqueles ocorridos após a sua revogação. Entretanto, apesar do princípio exposto, por disposição expressa da lei, é possível a ocorrência da retroatividade e da ultratividade da lei. ! Retroatividade da lei: fenômeno pelo qual uma norma jurídica é aplicada a fato ocorrido antes do início de sua vigência. Ultratividade da lei: fenômeno pelo qual uma norma jurídica é aplicada a fato após a sua revogação. Em havendo conflito de leis penais com o surgimento de novos preceitos jurídicos após a prática do fato delituoso, será aplicada sempre a lei mais favorável. São as seguintes hipóteses de conflitos de leis penais no tempo: 1) Novatio Legis in Mellius: Pelo princípio da anterioridade da lei penal, está estabelecido que não há crime ou pena sem lei anterior, o que configura a regra geral da irretroatividade da lei penal. Por um lado, esse princípio, todavia, somente se aplica à lei mais severa que a anterior, pois a lei nova mais benigna (lex mitior) vai alcançar o fato praticado antes do início de sua vigência, ocorrendo, assim, a retroatividade da lei mais benigna. A aplicação da lei mais benéfica cabe ao magistrado que presidir o processo enquanto não houver proferido sentença, ou, se o feito já estiver sentenciado, ao Tribunal que julgar eventual recurso. ! O Código Penal Espanhol diz que quando houver dúvida sobre qual a penamais benéfica o juiz deve perguntar ao réu (ex.: pena de 6 anos em regime semi-aberto em detrimento da nova lei que impõe 4 anos em regime fechado). www.concursosjuridicos.com.br pág. 7 Copyright 2003 Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico. 2) Novatio Legis in Pejus: Se entrando em vigor lei mais severa que a anterior (lex gravior), não vai esta alcançar fato pretérito. Nessa hipótese, continua a ser aplicada a lei anterior, mesmo após a sua revogação, em decorrência do princípio da ultratividade da lei mais begnigna. 3) Abolitio Criminis: Ocorre a chamada abolitio criminis quando a lei nova já não incrimina fato que anteriormente era considerado como ilícito penal. Trata-se nesse dispositivo da aplicação do princípio da retroatividade da lei mais benigna. Pela abolitio criminis se fazem desaparecer o delito e todos os reflexos penais, permanecendo apenas os civis. 4) Novatio Legis in Incriminadora: Lei nova que torna típico fato anteriormente não incriminado. A lei nova não pode ser aplicada diante do princípio da anterioridade da lei penal. Nessa hipótese, a lei penal é irretroativa. Retroatividade e Lei Processual: A lei processual tem aplicação imediata a todos os feitos em andamentos pouco importando se é ou não prejudicial ao réu. Retroatividade e Lei Penal em Branco: Discute-se, também, o direito intertemporal no que diz respeito à lei penal em branco. Revogada a norma complementar (decreto, portaria, regulamento, etc.), não desaparecerá o crime. Lei Excepcional ou Temporária Art. 3º- A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se a fato praticado durante a sua vigência. A circunstância de ter sido o fato praticado durante o prazo fixado pelo legislador (temporária) ou durante a situação de emergência (excepcional) é elemento temporal do próprio fato típico. Excepcional: Quando promulgada para satisfazer e enquanto persistir situação anormal (terremoto, guerra, epidemia), quando remediada a situação, deixa de vigorar a norma. Temporária: É a norma cuja vigência é predeterminada pelo legislador, terminado o prazo de vigência ela deixa de existir, sem a necessidade de uma nova lei ab-rogatória. Tempo do Crime Art. 4º- Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Existem três teorias a respeito do tempo do crime: www.concursosjuridicos.com.br pág. 8 Copyright 2003 Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico. Atividade O crime é praticado no momento da ação ou omissão ainda que outro seja o momento do resultado (adotado pelo Código Penal). Resultado Considera-se o momento do resultado. Ubiqüidade Considera-se tanto um como o outro. Faz-se coincidir o tempo do delito com a conduta, ativa (ação) ou negativa (omissão). Realmente, é esse o momento em que o agente age ou deixa de agir, em que se põe contra o direito e quando pode e deve sentir o poder intimidatório da pena. Faça-se pois abstração do evento, que não raro, sobrevém muito tempo depois da conduta terminada. Observe-se que, nos crimes plurissubsistentes, em que a conduta se compõe de vários atos, deverá ser levado em consideração o derradeiro ato. A Lei Penal no Espaço Princípios de Aplicação da Lei Penal no Espaço Apontam-se na doutrina cinco princípios a respeito da aplicação da lei penal no espaço. 1) O princípio da territorialidade prevê a aplicação da lei nacional ao fato praticado no território do próprio país. 2) O princípio da nacionalidade cogita da aplicação da lei do país de origem do agente, pouco importando o local onde o crime foi cometido. 3) Pelo princípio de proteção, aplica-se a lei do país ao fato que atinge bem jurídico nacional, sem qualquer consideração a respeito do local onde foi praticado o crime ou da nacionalidade do agente. 4) Pelo princípio da competência universal, o criminoso deve ser julgado e punido onde for detido, segundo as leis desse país, não se levando em conta o lugar do crime, a nacionalidade do autor ou o bem jurídico lesado. 5) O princípio da representação, subsidiário, determina a aplicação da lei do país quando, por deficiência legislativa ou desinteresse de outro que deveria reprimir o crime, este não o faz, e diz respeito aos delitos cometidos em aeronaves e embarcações. É uma aplicação do princípio da nacionalidade, mas não a do agente ou da vítima, e sim do meio de transporte em que ocorreu o crime. www.concursosjuridicos.com.br pág. 9 Copyright 2003 Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico. Não há, todavia, qualquer legislação que adote integral e exclusivamente apenas um desses princípios. Prevêem as leis a adoção de um sistema em que a base fundamental é um dos princípios citados (normalmente o da territorialidade), complementado por disposições fundadas nos demais. Territorialidade Art. 5º- Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. § 1º Para efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrarem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. § 2º É também aplicável a lei brasileira aos crime praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. A nossa legislação consagra, como base para a aplicação da lei penal no espaço, o princípio da territorialidade. Não se trata da adoção absoluta do princípio, uma vez que se ressalva a não aplicação da lei penal brasileira ao crime cometido no território nacional em decorrência das convenções, tratados e regras internacionais. Além disso, a regra da territorialidade é complementada por outras disposições fundadas em diversos dos sistemas já enunciados, ocorrendo a chamada extraterritorialidade. Território: É todo o espaço, estritamente geográfico ou ampliado mercê de ficção jurídica, sujeito à soberania e a jurisdição do Estado. Doze Milhas: Na costa marítima brasileira o limite até onde vai a jurisdição nacional é de doze milhas náuticas, após este marco (águas internacionais) a lei que prevalecerá será a da bandeira da embarcação ou aeronave. ! Observe-se que a existência de um direito internacional penal pressupõe um organismo internacional, que se superponha às nações e que tenha condições de ditar leis e impor sanções. A ONU entretanto, não parece ter condições de promulgar normas e muito menos de aplicar sanções. Por isso, o direito internacional penal está fadado a vagar no espaço da fantasia. www.concursosjuridicos.com.br pág. 10 Copyright 2003 Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico. Lugar do Crime Art. 6º- Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-seo resultado. Atividade Considera-se o lugar da atividade do agente. Resultado Considera-se o lugar do resultado. Ubiqüidade Considera-se tanto o local da conduta como o do resultado (adotada pela legislação pátria). Delitos a distância: Ação em um local e o resultado em outro. Delitos Plurilocais: Dentro do território, mas em vários locais diferentes. Para dirimir a competência vale o art. 70 do CPC - teoria do resultado. Parte da doutrina levou em conta o momento executivo do delito, relegando a um plano secundário a consumação. Parte entendeu que o crime teria lugar onde se tivesse realizado a parte fundamental da conduta delituosa (teoria da ação ampliada). Não faltou quem sustentasse que o local do crime é aquele onde se verificou o evento. Finalmente a maioria da doutrina seguiu uma teoria mista (teoria abraçada pelo Código Penal de 1940), dita de ubiqüidade que tanto leva em consideração o momento executivo do crime quanto o seu momento consumativo. Quando conduta e evento se verificam em território nacional, não surgem questões a serem deslindadas. Quando, todavia, há um destaque espacial entre conduta e evento, realizando-se aquela no território nacional e este no estrangeiro, algumas dúvidas poderão apresentar-se. (ex.: envio de um pacote com bombons envenenados; tráfico de entorpecentes, que extravasa em muito os limites territoriais). De acordo com o dispositivo, basta a realização de um só fragmento da conduta punível em território nacional para que a ela se aplique a lei brasileira, ainda que se verifique o restante da conduta e mesmo o evento no exterior. Questões teóricas: • Se o agente tivesse praticado atos meramente preparatórios no Brasil, para executar o delito no estrangeiro, não seria de nenhum modo atingido pela lei pátria, que só pune os atos executórios. Se, contudo, tivesse preparado o delito em território nacional, incumbindo terceiro de executá-lo no exterior, ficaria sujeito à lei pátria. • Actiones liberae in causa: o elemento que se tenha colocado em estado de embriaguez preordenada em território nacional, para executar crime no estrangeiro, estará sujeito à lei brasileira. www.concursosjuridicos.com.br pág. 11 Copyright 2003 Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico. • No concurso de elementos, se a conduta de um dos co-autores se desenvolver em território nacional, estarão sujeitos à lei brasileira não só ele, como os demais participantes do delito. • Naquilo que diz respeito à tentativa, considera-se como local do crime tanto aquele onde se desenvolveu a atividade executiva (perfeita ou imperfeita) como aquele outro onde deveria ser realizado o evento. • Nos crimes continuados ou permanentes, onde as condutas esparsas compõem uma unidade jurídica, considera-se o crime praticado onde se tenha realizado qualquer um dos elementos integrantes ao fato unitário. • Lugar do crime, no que concerne ao evento, é aquele em que este iria realizar-0se, não fosse a interferência de circunstâncias alheias à vontade do agente. Jamais o lugar em que o agente tencionava fosse ele aperfeiçoado. Extraterritoriedade Art. 7º- Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, de sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; II - os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. § 1º Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. § 2º Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: a) entrar o agente em território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. § 3º A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça. www.concursosjuridicos.com.br pág. 12 Copyright 2003 Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico. Extradição: Vai para outro país para ser julgado ou para cumprir pena já imposta. Princípio da não extradição dos nacionais (art. 5º, LI da CF). Princípio da exclusão de crimes não comuns (art. 5º, LII da CF). ! Não haverá extradição se não houver tratado internacional de extradição. A extradição não será realizada a países que aplicarem pena de morte ou prisão perpétua. Deportação: Art. 57 do Estatuto do Estrangeiro - situação irregular. Expulsão: Prática de ato inconveniente a sua permanência. Pena Cumprida no Estrangeiro Art. 8º- A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. A Lei Penal em Relação às Pessoas Noções Gerais A lei penal se aplica a qualquer pessoa, porém há exceções no que concerne ao: a) Direito Internacional Público: imunidades diplomáticas; b) Direito Público Interno: imunidades parlamentares. Em ambos os casos, os privilégios da imunidade não se referem à pessoa do criminoso, mas têm em vista a função exercida pelo autor do crime, com o que não se viola o preceito constitucional da igualdade dos cidadãos perante a lei. Imunidade Diplomática Fundamentalmente, a questão das imunidades está prevista na Convenção de Viena, assinada a 18 de abril de 1961, aprovada pelo Decreto-Legislativo n.° 103, de 1964, e ratificado em 23.02.65. www.concursosjuridicos.com.br pág. 13 Copyright 2003 Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico. 1) Agentes Diplomáticos: Têm imunidade em relação a qualquer crime. São os embaixadores, funcionários de embaixada, funcionários de organizações internacionais, chefes de estado em visita e suas comitivas. ! O próprio titular não pode renunciar sua imunidade, somente o Estado a qual ele pertença pode fazê-lo. 2) Agentes Consulares: Imunidade aos atos praticados no exercício das funções consulares e quanto a prisão preventiva. Cônsules, agentes administrativos que representem interesses em Estado estrangeiro. Sede Diplomática: Já não são mais consideradas extensão de território estrangeiro, embora sejam invioláveis como garantia aos seus representantes. Na Convenção de Viena determina-se que os locais das missões diplomáticas são invioláveis, não podendo ser objeto de busca, requisição, embargo ou medida de execução. Os delitos cometidos nas representações diplomáticas serão alcançados pela lei brasileira sepraticados por pessoas que não gozem de imunidade. Outras Disposições Sobre a Aplicação da Lei Penal Eficácia de Sentença Estrangeira Art. 9º - A sentença estrangeira, quando da aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas conseqüências, pode ser homologada no Brasil para: I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; II - sujeitá-lo a medida de segurança. Parágrafo único. A homologação depende: a) para efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada; b) para outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça. Contagem de Prazo Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias os meses e os anos pelo calendário comum. www.concursosjuridicos.com.br pág. 14 Copyright 2003 Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico. Frações Não Computáveis da Pena Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direito, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro. Legislação Especial Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se a fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso. Lei penal comum é o Código Penal e lei penal especial: toda lei que não o Código Penal. www.concursosjuridicos.com.br pág. 15 Copyright 2003 Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico. Questões de Concursos 01 - (Magistratura/RS 2000) Concernentemente à retroatividade das leis penais, são feitas as assertivas abaixo. I Ninguém pode ser punido por fato que lei penal deixar de considerar crime. Perdura, no entanto, a obrigação de o agente reparar o dano causado como efeito da sentença condenatória. II A lei posterior que, de qualquer modo, favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores não decididos por sentença condenatória transitada em julgado. III A Alteração do complemento da lei penal em branco que possui caráter temporário ou excepcional não retroage, deixando, assim, de beneficiar o agente. Quais são corretas? ( ) a) Apenas I ( ) b) Apenas II ( ) c) Apenas III ( ) d) Apenas I e III ( ) e) I, II e III 02 - (Ministério Público/SP 81) A expressão abolitio criminis significa ( ) a) deixar o juiz de aplicar a pena quando as conseqüências da infração atingirem o agente de forma tão grave que a sanção se torne desnecessária. ( ) b) a possibilidade de absolvição quando a norma tipificadora da infração penal caiu em desuso. ( ) c) revogação de norma que tipifica uma conduta como infração penal; ela não alcança os efeitos cíveis da condenação transitada em julgado. ( ) d) abolição da pena dos criminosos, mediante decreto do Presidente da República, normalmente editado no natal. ( ) e) o mesmo que abolicionismo penal: corrente doutrinária que propugna forma de descriminalização. 03 - (Ministério Público/SP 81) A lei penal temporária ( ) a) é inaplicável a fatos ocorridos em sua vigência se a lei posterior, de caráter permanente, for mais benigna. ( ) b) é inaplicável a fatos ocorridos em sua vigência quando a lei posterior, também temporária, for mais benigna. ( ) c) apenas pode vigorar durante o estado de emergência. ( ) d) sempre se aplica a fatos ocorridos na sua vigência. ( ) e) sempre se aplica a fatos ocorridos na sua vigência desde que nesse mesmo período sejam julgados definitivamente. www.concursosjuridicos.com.br pág. 16 Copyright 2003 Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico. Gabarito 01.D 02.C 03.D Bibliografia • Direito Penal Damásio E. de Jesus São Paulo: Editora Saraiva, 9º ed., 1999. • Manual de Direito Penal Júlio Fabbrini Mirabete São Paulo: Editora Atlas, 9º ed., 1995. www.concursosjuridicos.com.br pág. 17 Copyright 2003 Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico.