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Pró-Reitoria de Extensão – PROEX 154 Ciências Humanas contra os indígenas, inclusive aprofundando as hostilidades entre as diversas tribos que aqui se encontravam. Segundo a antropóloga Manuela Carneiro da Cunha (1943-), estima-se que, à época da chegada (que podemos qualificar de invasão) dos portugueses, habi- tavam aqui algo entre 1 e 8,5 milhões de indígenas e, após 150 anos, acredita-se que cerca de 95% dessa população tenha sido dizimada, tanto pelo confronto, quanto pelo trabalho forçado ou por doenças espalhadas pelos europeus. Variam as culturas, as línguas, as formas de organização social e política, os rituais, as cosmologias, os mitos, as formas de expressão artística, as habitações, as maneiras de se relacionar com o ambiente em que vivem etc. Muitas foram as contribuições indígenas à cultura brasileira e universal. Alguns elementos das culturas indígenas revolucionaram a economia ocidental, com destaque para certas plantas e alimentos, como a batata, o milho e a mandioca, os quais foram rapidamente assimilados pelo restante do mundo e enriqueceram muitas carências alimentícias da população mundial. Outras plantas, como o cacau, o to- mate, o tabaco, o mate e muitas plantas medicinais representam até hoje destacado papel na economia mundial. ForMação soCioCultural brasileira Aproximadamente por três séculos, o que hoje chamamos de Brasil foi um território colonizado. Essa condição colonial circunscreve certas características fundamentais que deixaram marcas profundas, nesta parte do mundo. As colônias foram constituídas a partir de um desdobramento da expansão marítimo-comercial europeia, iniciada pioneiramente por Portugal, no século XV. Grande parte do tra- balho no território era realizado por mão de obra escravizada, o que faz a influência das populações negras no país, hoje, ser de ordem bem diversa das demais migrações. Diferente dos contingentes europeus ou asiáticos, por exemplo, que vieram mais recentemente para o Brasil como mão de obra livre, as populações negras de África chegaram marcadas pelo processo de escravização – e desumanização – que a coloni- zação escravista acarretava. Desse modo, a formação sociocultural brasileira é o resultado de um pro- cesso de inúmeras influências, as quais passam pelos colonizadores que ocuparam as terras no séc. XVI, o uso de mão de obra africana e indígena e a vinda de imigrantes europeus e asiáticos, num momento posterior. Com os imigrantes europeus e asiáticos, vieram tradições, costumes, cren- ças, culinária, arte, ritos religiosos de suas culturas de origem, assim como conheci- mentos característicos de suas profissões, como agricultores, artesãos, ourives, mar- ceneiros etc. Pró-Reitoria de Extensão – PROEX Sociologia 155 Povos tão diferentes, coabitando um mesmo território, resultaram numa variedade imensa de características culturais presentes desde a formação do que hoje chamamos de Brasil. Também as migrações internas propiciaram trocas intercultu- rais e interferiram no desenvolvimento de uma identidade nacional própria do Brasil, como a culinária, onde temos o churrasco, o pão de queijo, a tapioca, o vatapá, a feijoada, entre outros elementos que nos auxiliam a nos entendermos enquanto um povo, que, apesar das diferenças, possui características próprias. Essa pluralidade de etnias e culturas composta por diversas formas de or- ganização social, em diferentes grupos, é uma marca de nossa cultura. Todas essas di- ferenças entre seus habitantes, pela cor da pele, classe social a que pertencem, região onde moram etc., fizeram do Brasil um país extremamente desigual, em que existem um racismo e uma discriminação difusos, porém efetivos, de preconceitos. Muitas são as concepções e representações da cultura brasileira, em função de nossa diversidade e desigualdade social marcantes. Podemos lembrar os sobrevi- ventes do genocídio indígena, que, até o momento atual, não conseguem viver sua cultura de forma plena, quando, por exemplo, fazendeiros se aproveitam de suas terras ilegalmente, acabando com os recursos naturais que as tribos utilizariam como forma de subsistência. Mesmo que muitos traços culturais indígenas estejam presentes até hoje, em nosso modo de vida, a participação desses povos em nossa história é pouco valo- rizada pela maioria. O mesmo ocorreu com os africanos escravizados, a quem foram impostas a língua e a religião dos portugueses, para facilitar o entendimento das ordens recebidas e fazê-los obedecer mais facilmente. Dessa forma, é comum a cultura europeia ser julgada superior às ou- tras, o que resultou em inúmeros conflitos e formas de resistência por boa parte da população. ConFlitos e ForMas de resistênCia indíGena e aFriCana na aMériCa Desde a resistência à escravidão até a criação de instituições, os cativos africanos se opuseram das mais diversas maneiras à ordem escravista. As formas mais frequentes se constituíram em fugas, revoltas, aquilombamentos, sabotagens, entre outros recursos. Porém, a resistência dos escravos africanos ocorreu também por meio de estratégias pacificas, como em atos de desobediência, afirmação cultural e atitudes dissimuladas. A presença africana nos conflitos nacionais foi notável. Episódios que en- volveram os quilombos dos Palmares, a Guerra dos Farrapos, a Guerra do Paraguai, são alguns exemplos. A seguir, outros com presença marcante dos africanos: