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169 Capítulo VIII - O trabalhador, as tecnologias e a globalização Imagine que o trabalhador da charge da página 167 seja um amigo seu. Elabore uma carta endereçada a ele propondo-lhe uma possível solução para o problema ali expresso. 5 Desenvolvendo competências AS TECNOLOGIAS NO CAMPO Assim como as novas tecnologias têm proporcionado grande alteração no interior das fábricas, o campo também tem se modificado. Até a década de 1970, os países pobres utilizavam grande quantidade de mão-de-obra agrícola, principalmente em períodos de colheita. Muitos desses trabalhadores, conhecidos no Brasil por “bóias-frias”, passaram a morar nas cidades e a trabalhar no campo. Com a mecanização acelerada do campo, conseqüência da tentativa de expandir a produção destinada à exportação e à indústria, essa mão-de-obra passou a incorporar um contingente enorme de desempregados nas áreas urbanas. Esse fato, associado à grande concentração de terras nas mãos de poucos, possibilitou a formação de movimentos sociais organizados, como é o caso, no Brasil, do MST – Movimento dos Sem Terra. Além da mecanização, as pesquisas da biotecnologia têm alterado de modo significativo a relação entre o homem e a natureza. O uso de hormônios de crescimento acelerado para bovinos, a transferência de embriões, o desenvolvimento da clonagem, assim como as alterações genéticas das sementes, criando os alimentos transgênicos, são alguns exemplos das descobertas nesse setor. Um dos mais polêmicos produtos criados pela biotecnologia são as sementes transgênicas, que têm suscitado um amplo debate entre empresas, governos e movimentos ambientalistas. Essas sementes foram criadas por centros de tecnologia agrícola, pertencentes a grandes conglomerados norte-americanos. Essa tecnologia consiste em alterar geneticamente a planta para que ela se torne resistente ao uso de defensivos agrícolas. Tal procedimento permite uma colheita cerca de 40% maior que a das sementes normais. A polêmica está relacionada ao fato de que não se sabe com certeza se, no futuro, o consumo desses alimentos permitirá o surgimento de novas doenças ou desencadeará processos alérgicos. Além disso, as empresas controladoras dessas tecnologias tornam as sementes resistentes ao herbicida produzido pelo mesmo grupo ao qual pertencem. Assim, o agricultor, ao utilizar a semente modificada geneticamente por uma empresa, deverá, forçosamente, empregar defensivos agrícolas produzidos por essa mesma empresa. Ou seja, ocorre um casamento entre a utilização das sementes e a utilização dos herbicidas. As empresas que desenvolveram os transgênicos alegam que o aumento de produtividade, na ordem de 30%, acarretará maior abastecimento, o que reduziria a fome no mundo e forçaria o preço dos alimentos para baixo, contribuindo, dessa maneira, para uma melhor distribuição de renda. Contra o argumento das empresas interessadas em consolidar os transgênicos, deve-se considerar que o problema não está relacionado à falta de alimentos no mundo ou mesmo às deficiências de produção ou produtividade, mas sim à distribuição desigual das riquezas. As ONGs (Organizações Não Governamentais) de caráter ambientalista alegam que a alteração genética poderá trazer danos futuros à saúde e ao meio ambiente. 170 Ciências Humanas e suas Tecnologias Ensino Médio Quanto à saúde, a preocupação é que as modificações poderão acarretar problemas alérgicos, ou mesmo comprometer a saúde das pessoas devido ao reduzido tempo de pesquisas para a detecção das possíveis reações. Em relação ao meio ambiente, acredita-se que, ao se criar uma planta resistente aos herbicidas, poderá perder-se o controle das áreas de plantio, o que provocaria invasão destes produtos em áreas vizinhas comprometendo a manutenção dos ecossistemas. A proposta das organizações ambientalistas é a de que estes produtos sejam pesquisados por no mínimo dez anos, garantindo desta maneira sua utilização segura. Essa questão envolve um problema de cidadania, já que produtos industrializados estão sendo vendidos no mundo todo, sem que as embalagens contenham informações que ressaltem a utilização ou não dos transgênicos, permitindo a cada cidadão optar ou não pelo seu consumo. Outro problema relacionado às novas tecnologias agrícolas é que os interesses econômicos definem os investimentos em pesquisa. Segundo o relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, de 1999, os cosméticos e o tomate de amadurecimento lento estão mais à frente na lista de prioridades do que a vacina contra a malária ou o desenvolviento de colheitas resistentes à seca em regiões periféricas. Um maior controle das inovações nas mãos das empresas transnacionais ignora as necessidades de milhões. De novos medicamentos às melhores sementes para culturas alimentares, o melhor das novas tecnologias é planejado e tem preços estabelecidos para aqueles que podem pagar. Para as pessoas pobres, o progresso tecnológico permanece muito fora de alcance. 6 Desenvolvendo competências Compare as formas de produção agrícola expressas nas fotografias 1 e 2 quanto à utilização de mão-de-obra empregada e ao tipo de produto plantado. Fotografia 1 Fotografia 2