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Prévia do material em texto

1
ENTRE
ASPAS
OBRASLIVRO
TEÓRICO
LINGUAGENS, CÓDIGOS 
E SUAS TECNOLOGIAS
Caro aluno 
Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em período integral, 
com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totali-
zando uma coleção com 113 exemplares. O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla, 
de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Para melhorar a 
aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades. A seguir, apresentamos cada seção:
De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desen-
volvida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e 
nos principais vestibulares voltados para o curso de Medicina 
em todo o território nacional.
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS 
Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada co-
leção tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolu-
ção das questões propostas. Os textos dos livros são de fácil 
compreensão, completos e organizados. Além disso, contam 
com imagens ilustrativas que complementam as explicações 
dadas em sala de aula. Quadros, mapas e organogramas, em 
cores nítidas, também são usados e compõem um conjunto 
abrangente de informações para o aluno que vai se dedicar 
à rotina intensa de estudos.
TEORIA
No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cui-
dadosa seleção de conteúdos multimídia para complementar 
o repertório do aluno, apresentada em boxes para facilitar a 
compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, 
livros, etc. Tudo isso é encontrado em subcategorias que fa-
cilitam o aprofundamento nos temas estudados – há obras 
de arte, poemas, imagens, artigos e até sugestões de aplicati-
vos que facilitam os estudos, com conteúdos essenciais para 
ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica, em uma 
seleção realizada com finos critérios para apurar ainda mais 
o conhecimento do nosso aluno.
MULTIMÍDIA
Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é 
elaborada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que 
trata de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares 
atuais não exigem mais dos candidatos apenas o puro co-
nhecimento dos conteúdos de cada área, de cada disciplina.
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abran-
gem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, 
como Biologia e Química, História e Geografia, Biologia e Ma-
temática, entre outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato 
com essa realidade por meio de explicações que relacionam 
a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de 
outros livros, sempre utilizando temas da atualidade. Assim, 
o aluno consegue entender que cada disciplina não existe de 
forma isolada, mas faz parte de uma grande engrenagem no 
mundo em que ele vive.
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS
Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico 
é o seu distanciamento da realidade cotidiana, o que difi-
culta a compreensão de determinados conceitos e impede 
o aprofundamento nos temas para além da superficial me-
morização de fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios na 
aprendizagem dos conteúdos, foi desenvolvida a seção “Vi-
venciando“. Como o próprio nome já aponta, há uma preo-
cupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações 
entre aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm 
contato em seu dia a dia.
VIVENCIANDO
Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fa-
zem parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos 
compilados, deparamos-nos com modelos de exercícios re-
solvidos e comentados, fazendo com que aquilo que pareça 
abstrato e de difícil compreensão torne-se mais acessível e 
de bom entendimento aos olhos do aluno. Por meio dessas 
resoluções, é possível rever, a qualquer momento, as explica-
ções dadas em sala de aula.
APLICAÇÃO DO CONTEÚDO
Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desem-
penho ao fim da escolaridade básica, organizamos essa 
seção para que o aluno conheça as diversas habilidades e 
competências abordadas na prova. Os livros da “Coleção 
Vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas 
dessas habilidades. No compilado “Áreas de Conhecimento 
do Enem” há modelos de exercícios que não são apenas 
resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva e 
descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no 
dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para 
ajudá-lo a apurar as questões na prática, a identificá-las na 
prova e a resolvê-las com tranquilidade.
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso, 
criamos para os nossos alunos o máximo de recursos para 
orientá-los em suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de 
Ideias”, para aqueles que aprendem visualmente os conte-
údos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas 
mentais e fluxogramas.
Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo 
da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta 
aos principais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a 
organização dos estudos e até a resolução dos exercícios.
DIAGRAMA DE IDEIAS
© Hexag SiStema de enSino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2023
Todos os direitos reservados.
Coordenador-geral
Murilo de Almeida Gonçalves
reSponSabilidade editorial, programação viSual, reviSão e peSquiSa iConográfiCa
Hexag Editora
editoração eletrôniCa
Letícia de Brito
Matheus Franco da Silveira
projeto gráfiCo e Capa
Raphael de Souza Motta
imagenS
Freepik (https://www.freepik.com)
Shutterstock (https://www.shutterstock.com)
Pixabay (https://www.pixabay.com)
iSbn
978-85-9542-237-7
Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo 
por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a in-
clusão de informação adicional, ficamos à disposição para o contato pertinente. Do mesmo modo, 
fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre as imagens pub-
licadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não rep-
resentando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.
2023
Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino.
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Telefone: (11) 3259-5005
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ENTRE ASPAS
OBRAS LITERÁRIAS 
OBRA 1: MARÍLIA DE DIRCEU: TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA 004
OBRA 2: QUINCAS BORBA: MACHADO DE ASSIS 010
OBRA 3: ALGUMA POESIA: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE 019
OBRA 4: MENSAGEM: FERNANDO PESSOA 024
OBRA 5: ANGÚSTIA: GRACILIANO RAMOS 032
OBRA 6: ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA: CECÍLIA MEIRELES 042
SUMÁRIO
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1
MARÍLIA
DE DIRCEU
Tomás AnTônio 
GonzAGA
LC
OBRA 
1
1. Minas Gerais e o ciclo do ouro
OurO PretO (MG)
O Arcadismo brasileiro originou-se e teve expressão princi-
palmente em Vila Rica (hoje Ouro Preto), Minas Gerais, e seu 
aparecimento teve relação direta com o grande crescimento 
urbano verificado no século XVIII nas cidades mineiras, cuja 
vida econômica girava em torno da extração de ouro.
O crescimento dessas cidades favorecia tanto a divulgação 
de ideias políticas quanto o florescimento da literatura. Os 
jovens brasileiros das camadas privilegiadas da sociedade 
costumavam ser mandados a Coimbra para estudar, uma 
vez que na colônia não havia cursos superiores. E, ao re-
tornarem de Portugal, traziam consigo as ideias que faziam 
fermentar a vida cultural portuguesa à épocadas inova-
ções políticas e culturais do ministro Marquês de Pombal, 
adepto de algumas ideias do iluminismo.
universidade de COiMbra (POrtuGal)
Em Vila Rica, essas ideias levaram vários intelectuais e es-
critores a sonhar com a independência do Brasil, principal-
mente após a repercussão do movimento de independên-
cia dos Estados Unidos das América (1776). Tais sonhos 
culminaram na frustrada Inconfidência Mineira (1789).
2. Autor
Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810) é um dos mais im-
portantes poetas árcades que desfilou sua lira pelas cidades 
históricas mineiras, em especial Vila Rica (atual Ouro Preto).
Apesar de ter nascido no Porto, em Portugal, é estudado no 
âmbito da Literatura Brasileira, pois foi em território nacio-
nal que teve sua importância artística e histórica. Gonza-
ga vem ainda na infância com a família para o estado da 
Bahia, onde viveu e estudou até a juventude. Em idade uni-
versitária regressa para Portugal por conta dos estudos, ele 
se laureou em Direito na famosa Universidade de Coimbra, 
uma das mais importantes do mundo até hoje.
Neste contexto universitário, o autor entra em contato com 
a vanguarda do pensamento da época que era a filosofia 
iluminista, inclusive escreve o “Tratado de Direito Natu-
ral” que é uma homenagem ao Marquês de Pombal. É na 
própria Universidade de Coimbra que conhece Cláudio Ma-
nuel da Costa, outro importante poeta que irá fazer parte 
do processo de inconfidência.
LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  5
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Em seu retorno ao Brasil, Tomás Antônio Gonzaga vai fin-
car residência em Vila Rica e trabalhar como ouvidor, mo-
mento em que inicia sua atividade literária e sua relação 
amorosa com Maria Dorotéia de Seixas, uma jovem então 
com 16 anos, cantada em seus versos com o pseudônimo 
de Marília.
Em 1789, acusado de participar da Inconfidência, Gonzaga 
foi preso e mandado ao Rio de Janeiro, onde ficou encarce-
rado até 1792, quando foi exilado para Moçambique. Ape-
sar dos sofrimentos passados na prisão, Gonzaga levou na 
África uma vida relativamente tranquila. Ali se casou, enri-
queceu e ainda se envolveu com a política local. 
3. A arte e a vida
A poesia de Tomás Antônio Gonzaga, se comparada à dos 
demais poetas árcades brasileiros, apresenta algumas ino-
vações que apontam para uma transição entre Arcadismo 
e Romantismo.
Incorporando muito de sua experiência pessoal à poesia, 
escrita antes e durante a prisão, Gonzaga conseguiu que-
brar em grande parte a rigidez dos princípios árcades. Por 
exemplo, em contraposição à contenção dos sentimentos, 
sua poesia é mais emotiva e espontânea. Sua Marília, em 
vez de se apresentar como uma mulher irreal, como a Nise 
de Cláudio Manuel da Costa, mostra-se mais humana, pró-
xima e real. Observe esta descrição do rosto de Marília:
Na sua face mimosa,
Marília, estão misturadas
Purpúreas folhas de rosa,
Brancas folhas de jasmim.
Dos rubins mais preciosos 
Os seus beiços são formados;
Os seus dentes delicados
São pedaços de marfim.
Os temas árcades do distanciamento da mulher amada e 
do sofrimento dele decorrente não são, no caso, de Gon-
zaga, meros temas clássicos convencionais, mas assumem 
feição de pura verdade, uma vez que muitos dos seus po-
emas o poeta escreveu quando se encontrava preso. Veja 
os versos a seguir:
Estou no inferno, estou, Marília bela;
e numa coisa só é mais humana
a minha dura estrela;
uns não podem mover do inferno os passos;
eu pretendo voar e voar cedo
à glória dos teus braços.
Essas experiências dão à obra de Gonzaga maior subjeti-
vidade, espontaneidade e emotividade – traços que foram 
aprofundados pelo movimento literário subsequente, o Ro-
mantismo.
Gonzaga cultivou a poesia lírica, reunida na obra Marília de 
Dirceu, e a poesia satírica, reunida nas Cartas Chilenas.
3.1. O Arcadismo e a obra 
Marília de Dirceu
A obra Marília de Dirceu é uma das grandes representantes 
do arcadismo no Brasil, apesar de apresentar algumas 
características particulares, como podemos observar na 
segunda parte em que assume um tom mais melancólica. 
Pois, como é sabido, Gonzaga conclui a obra já no exílio em 
Moçambique distante de sua amada. Porém, não podemos 
perder de vista aquilo que o vestibular pode cobrar sobre a 
relação da obra com sua escola literária. 
6  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
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As características centrais do arcadismo que estão presen-
tes no poema são:
 § Uma forte preocupação formal com o poema, do aspec-
to racionalista oriundo desta pulsão neoclássica, todavia 
neste caso renunciando ao uso dos tradicionais versos 
decassílabos. Neste sentido, a linguagem assume uma di-
mensão de simplicidade e coloquialismo, uma vez que há 
uma aproximação estética entre forma e conteúdo;
 § O culto à natureza, ao chamado “pastoralismo”, uma 
espécie de constituição estética das arcádias em que o 
eu-lírico se transmuta em uma voz típica da enunciação 
árcade, um pastor que vive uma vida simples em harmonia 
e equilíbrio com o ambiente.
 § A recuperação da tradição Greco-latina, especialmente ob-
servada na menção de elementos da mitologia grega, mas 
principalmente na relação temática dos clichês latinos;
 § O culto à simplicidade somado ao repúdio à vida citadina 
como fundamentos que guiam o poeta em sua louvação 
do amor e da amada em equilíbrio com o meio bucólico 
e pastoril.
4. Estrutura da obra
A obra Marília de Dirceu é tradicionalmente dividida em 
duas partes. Porém, é possível encontrar edições com três 
partes sendo que a terceira é uma reunião de poemas sol-
tos de Tomás Antônio Gonzaga que são atribuídos temati-
camente ao conjunto de Marília de Dirceu.
Parte 1
A primeira parte do poema compõe-se de um eu-lírico 
otimista, que busca uma vida futura feliz, casado com sua 
amada e vivendo uma vida perfeita e equilibrada junto ao 
campo. O poeta celebra sua musa, ou seja, a pastora Marília.
Esta parte do livro foi escrita antes da perseguição e prisão 
do autor, bem como do castigo impresso pela coroa portu-
guesa de ser exilado para Moçambique.
Parte 2
A segunda parte da obra “Marília de Dirceu” é escrita du-
rante a prisão e o exílio de Tomás Antônio Gonzaga. Ele 
imprime um ritmo um pouco diferente da parte inicial em 
claro nunca deixar de exaltar sua amada Marília.
O que o vestibulando precisa atentar e isso é motivo de 
muitos tropeços nos vestibulares é que essa é uma parte 
que assume um tom melancólico e com pitadas de pessi-
mismo, uma vez que o eu-lírico entende que diante de sua 
condição não poderá mais ter o amor de sua ama musa. 
Neste sentido, é comum a crítica apontar para um traço 
pré-romântico nesta segunda parte. Surgem expressões 
mais sentimentalistas, e direcionamentos emocionados de 
pesar e emotividade enquanto expressão do eu. “Marília 
LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  7
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de Dirceu” influenciou toda a literatura brasileira vindoura, 
prenunciou o Romantismo e tornou-se um dos mais impor-
tantes clássicos de nossa língua.
Parte 3
Na terceira parte, como mencionado na introdução, obser-
vamos poemas que apontam para a musa Marília, porém 
o eu-lírico lança mão do advento da pluralidade no que diz 
respeito ao direcionamento de seu louvor, ou seja, ao lado de 
sua amada surgem outras pastoras também igualmente lou-
vadas. Tais edições que trazem a terceira parte, recolhem po-
emas escritos por Tomás Antônio Gonzaga antes de conhe-
cer e se relacionar com Marília. São poemas que remetem a 
gênese de seus escritos diante das convenções árcades.
A poesia lírica: 
Marília de Dirceu
A poesia lírica é a parte mais conhecida da produção literária 
de Tomás Antônio Gonzaga. São popularmente conhecidos, 
principalmente na região de Minas Gerais, os amores en-
tre Dirceu (pseudônimo pastoral de Gonzaga) e Marília. Até 
mesmo na literatura de cordel esse tema já foi explorado. 
LIRA 77
Eu, Marília, não fui nenhum vaqueiro
fui honrado pastor da tua aldeia;
vestia finas lãs e tinha sempre
a minha choçado preciso cheia.
Tiraram-me o casal e o manso gado,
nem tenho a que me encoste um só cajado.
Para ter que te dar, é que eu queria
de mor rebanho ainda ser o dono;
prezava o teu semblante, os teus cabelos
ainda muito mais que um grande trono.
Agora que te oferte já não vejo,
além de um puro amor, de um são desejo
Se o rio levantado me causava,
Levando a sementeira, prejuízo,
Eu alegre ficava, apenas via
Na tua breve boca um ar de riso.
Tudo agora perdi; nem tenho o gosto
de ver-te ao menos compassivo o rosto.
Ah! Minha bela, se a fortuna volta.
Se o bem, que já perdi, alcanço e provo
Por essas brancas mãos, por essas faces
Te juro renascer um homem novo,
Romper a nuvem que os meus olhos cerra, 
Amar no céu a Jove e a ti na terra!
Se não tivermos lãs e peles finas, 
podem mui bem cobrir as carnes nossas
as peles dos cordeiros mal curtidas,
e os panos feitos com lãs mais grossas.
Mas ao menos será o teu vestido
Por mãos de amor, por minhas mãos cosido.
Nas noites de serão nos sentaremos
cos filhos, se os tivermos, à fogueira: 
entre as falsas histórias, que contares, 
lhes contarás a minha, verdadeira.
Pasmados te ouvirão; eu, entretanto, 
ainda o rosto banharei de pranto. 
A Musa
 Marília de dirCeu, 1946 - GuiGnard ÓleO sObre GessO e COla 
172,00 CM x 116,00 CM COl. FaMília rOdriGO M.F. de andrade
Marília de Dirceu é muitas vezes exaltada ao patamar de 
uma personagem mitológica. Além, claro, de ser a musa 
8  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
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a qual o eu-lírico destina seus versos, ela também agrega 
características em caráter de comparação com deuses da 
mitologia. Um aspecto que, como já ressaltamos, retoma 
os princípios clássicos que norteiam os árcades, bem como 
dá a ela um aspecto extra-humano.
O poeta se vale de pequenas fábulas ficcionais para clara-
mente elucidar de forma mais enfática o dote de sua ama-
da, suas características físicas e seus ornamentos.
Um exemplo disso se dá na lira I, 2, em que a aparência de 
Marília é comparada ao retrato do deus Cupido: 
Pintam, Marília, os Poetas 
A um menino vendado, 
Com uma aljava de setas, 
Arco empunhado na mão; 
Ligeiras asas nos ombros, 
O tenro corpo despido, 
E de Amor ou de Cupido 
São os nomes, que lhe dão.
AplicAndo pArA Aprender (A.P.A.)
Leia o SONETO.
Obrei quanto o discurso me guiava,
Ouvi aos sábios quando errar temia;
Aos bons no gabinete o peito abria,
Na rua a todos como iguais tratava.
Julgando os crimes nunca os votos dava,
Mais duro, ou pio do que a lei pedia:
Mas devendo salvar ao justo ria,
E devendo punir aos réu chorava.
Não foram, Vila Rica, os meus projetos,
Meter em ferro cofre cópia de ouro,
Que farte aos filhos, e que chegue aos netos:
Outras são as fortunas, que me agouro,
Ganhei saudades, adquiri afetos,
Vou fazer deste bens melhor tesouro.
1. Analisando as características do poema, assinale o 
movimento literário ao qual ele pertence, bem como o 
seu autor:
a) Romantismo, de autoria de Gonçalves Dias.
b) Arcadismo, de autoria de Santa Rita Durão.
c) Arcadismo, de autoria de Tomás Antônio Gonzaga.
d) Simbolismo, de Alphonsus de Guimaraens.
e) Romantismo, de autoria de Álvares de Azevedo.
2. Sobre a obra Marília de Dirceu é correto afirmar:
I. Tem caráter autobiográfico, sendo Marília o sujeito lí-
rico de Maria Joaquina Dorotéia Seixas, amor proibido 
de Tomás Antônio Gonzaga.
II. Contém as seguintes características árcades: exalta-
ção ao bucolismo, linguagem coloquial, culto à simpli-
cidade.
III. Está dividida em três partes: a primeira tem como 
foco a exaltação da amada, a segunda expressa sen-
timento de solidão, enquanto a terceira é fortemente 
marcada pelo pessimismo.
a) Apenas I está correta.
b) Todas estão corretas.
c) Nenhuma está correta.
d) Apenas II está correta.
e) I e II estão corretas.
3. Leia o poema de Tomás Antônio Gonzaga, transcrito 
a seguir, e marque a alternativa que aponta três carac-
terísticas do Arcadismo brasileiro que nele podem ser 
observadas.
Lira I
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
a) Vulgarização da figura da mulher; medievalismo; 
egocentrismo.
b) Denúncia social; exaltação da vida no campo; te-
mas urbanos.
c) Exaltação da vida no campo; linguagem simples; 
pastoralismo.
d) Temas urbanos; linguagem simples; medievalismo.
e) Egocentrismo; pastoralismo; denúncia social.
4. Assinale a alternativa correta em relação a Marília de 
Dirceu, de Tomás Antonio Gonzaga.
a) No livro, é estabelecido um contraste entre a pai-
sagem, bucólica e amena, e o cenário da masmorra, 
opressivo e triste.
b) Trata-se de um conjunto de cartas de amor, en-
viadas por Marília, de Minas Gerais, a Dirceu, que se 
encontra em Moçambique.
c) Na obra, o pensamento racional é anulado em fa-
vor do sentimentalismo romântico.
d) Nas liras de Gonzaga, Marília é uma mulher irreal, 
incorpórea, imaginada pelo pastor Dirceu.
e) Trata-se de um livro satírico, carregado de termos 
pejorativos em relação às convenções da época.
Texto para as próximas duas questões.
Lira XV
Eu, Marília, não fui nenhum Vaqueiro,
Fui honrado Pastor da tua aldeia;
Vestia finas lãs, e tinha sempre
A minha choça do preciso cheia.
Tiraram-me o casal, e o manso gado,
Nem tenho, a que me encoste, um só cajado.
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Para ter que te dar, é que eu queria
De mor rebanho ainda ser o dono;
Prezava o teu semblante, os teus cabelos
Ainda muito mais que um grande Trono.
Agora que te oferte já não vejo
Além de um puro amor, de um são desejo.
Se o rio levantado me causava,
Levando a sementeira, prejuízo,
Eu alegre ficava apenas via
Na tua breve boca um ar de riso.
Tudo agora perdi; nem tenho o gosto
De ver-te aos menos compassivo o rosto.
Propunha-me dormir no teu regaço
As quentes horas da comprida sesta,
Escrever teus louvores nos olmeiros,
Toucar-te de papoulas na floresta.
Julgou o justo Céu, que não convinha
Que a tanto grau subisse a glória minha.
Ah! minha Bela, se a Fortuna volta,
Se o bem, que já perdi, alcanço, e provo;
Por essas brancas mãos, por essas faces
Te juro renascer um homem novo;
Romper a nuvem, que os meus olhos cerra,
Amar no Céu a Jove, e a ti na terra.
Fiadas comprarei as ovelhinhas,
Que pagarei dos poucos do meu ganho;
E dentro em pouco tempo nos veremos
Senhores outra vez de um bom rebanho.
Para o contágio lhe não dar, sobeja
Que as afague Marília, ou só que as veja.
Senão tivermos lãs, e peles finas,
Podem mui bem cobrir as carnes nossas
As peles dos cordeiros mal curtidas,
E os panos feitos com as lãs mais grossas.
Mas ao menos será o teu vestido
Por mãos de amor, por minhas mão cosido.
Nós iremos pescar na quente sesta
Com canas, e com cestos os peixinhos:
Nós iremos caçar nas manhãs frias
Com a vara envisgada os passarinhos.
Para nos divertir faremos quanto 
Reputa o varão sábio, honesto e santo.
Nas noites de serão nos sentaremos
C’os filhos, se os tivermos, à fogueira;
Entre as falsas histórias, que contares,
Lhes contarás a minha verdadeira.
Pasmados te ouvirão; eu entretanto
Ainda o rosto banharei de pranto.
Quando passarmos juntos pela rua,
Nos mostrarão c’o dedo os mais Pastores;
Dizendo uns para os outros: “Olha os nosso
“Exemplos da desgraça, e sãos amores”.
Contentes viveremos desta sorte,
Até que chegue a um dos dois a morte.
GOnZaGa, tOMaZ antOniO. Marília de dirCeu. 
disPOnível eM <httP://www.bibvirt.FuturO.usP.br>. 
aCessO eM: 25.Out.2012. 
5. O poema apresenta a temática árcade conhecida 
como 
a) fugere urbem (fuga da cidade).
b) inutilia truncat (corte das coisas inúteis).
c) carpe diem (desejo de aproveitar o dia, a vida).
d) aurea mediocritas (vida simples materialmente, 
mas feliz). 
6. NÃO é correto afirmar que o pastor 
a) é o eu lírico do poema.b) projeta pela imaginação seu futuro.
c) revela à Marília a causa de sua desgraça.
d) apresenta uma visão nostálgica do passado. 
GAbArito
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1. Machado de Assis
Joaquim Maria Machado de Assis nasceu na cidade do Rio 
de Janeiro em 21 de junho de 1839. Era mestiço, filho do 
pintor Francisco José de Assis e de Maria Leopoldina Ma-
chado de Assis, portuguesa dos Açores. Perdeu a mãe muito 
cedo e foi criado pela madrinha no Morro do Livramento. 
Sem meios para cursos regulares, estudou sempre como 
um autodidata. Com apenas 15 anos incompletos, publicou 
um soneto no Periódico dos Pobres, em 1854. Foi jornalista, 
contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo.
Em 1856, entrou para a Imprensa Nacional como aprendiz 
de tipógrafo. Em 1858, tornou-se revisor e colaborador no 
Correio Mercantil e, em 1860, foi para a redação do Diário 
do Rio de Janeiro. Escreveu para a revista O Espelho, onde 
estreou como crítico teatral, para a Semana Ilustrada e para 
o Jornal das Famílias, no qual publicou contos. Foi um dos 
fundadores da Academia Brasileira de Letras, que presidiu 
por mais de dez anos. Casou-se com Carolina Augusta Xa-
vier de Novais, que foi sua companheira durante 35 anos.
A obra de Machado de Assis abrange diversos gêneros li-
terários. Na poesia, inicia com o romantismo de Crisálidas 
(1864) e Falenas (1870), passando pelo Indianismo em 
Americanas (1875) e pelo Parnasianismo em Ocidentais 
(1901). Paralelamente, apareciam as coletâneas de Con-
tos fluminenses (1870) e Histórias da meia-noite (1873); 
os romances Ressurreição (1872), A mão e a luva (1874), 
Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878) são considerados como 
pertencentes ao seu período romântico.
A partir daí, Machado de Assis entrou na fase das obras-pri-
mas que o tornaram o maior escritor da literatura brasileira e 
um dos maiores autores da literatura de língua portuguesa.
Machado publicou na Gazeta de Notícias, de 1881 a 1897, 
diversos textos, mas, principalmente, suas melhores crôni-
cas. Em 1881, saiu o livro que daria uma nova direção à 
sua carreira literária: Memórias póstumas de Brás Cubas. A 
data se tornou o marco inicial do Realismo no Brasil. A partir 
de 1881, ao remodelar a literatura e trazer conceitos que 
negavam os princípios românticos, suas obras se tornaram 
as representantes máximas do Realismo brasileiro. Os ou-
tros romances dessa fase são: Casa Velha (1885), Quincas 
Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904) e 
Memorial de Aires (1908). 
Como contista, publicou Papéis avulsos (1882), Histórias 
sem data (1884), Várias histórias (1896), Páginas recolhi-
das (1899) e Relíquias de Casa Velha (1906) 
Em 1889, foi promovido a diretor da Diretoria do Comércio 
no Ministério.
Para se compreender as inovações do "Bruxo do Cosme 
Velho", como Machado ficou conhecido, é preciso consi-
derar que ele começou a escrever inspirado no molde de 
José de Alencar, ou seja, publicou inicialmente romances 
românticos, como as já citadas obras Ressurreição, A mão 
e a luva, Helena e Iaiá Garcia. Entretanto, seu reconheci-
mento e consagração ocorre pelas obras realistas.
O diálogo com o leitor, a digressão, a metalinguagem e 
o mergulho na psicologia humana compõem o conjunto 
de genialidade temperada por ironia refinada, estilo que 
desnuda as aparências da sociedade burguesa com um 
cinismo elegante e que faz de Machado de Assis um dos 
maiores nomes da literatura mundial.
QUINCAS 
BORBA
mAchAdo de Assis
LC
OBRA 
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1.1. Linha do tempo
 § 1839 – Nasce Joaquim Maria Machado de Assis, no dia 
21 de junho, no Rio de Janeiro. Filho do brasileiro Fran-
cisco José de Assis e da portuguesa Maria Leopoldina 
Machado de Assis, moradores do Morro do Livramento.
 § 1849 – Depois do falecimento de sua mãe e de sua 
única irmã, Machado é cuidado por sua madrinha
 § 1854 – Seu pai casa-se com Maria Inês da Silva, 
com quem Machado continuará vivendo depois da 
morte do pai.
 § 1855 – Publica “A palmeira”, seu primeiro trabalho, 
e “Ela”, seu primeiro poema, no periódico Marmota 
Fluminense.
 § 1856 – Entra para a Tipografia Nacional como aprendiz.
 § 1858 – Estuda francês e latim com o professor padre 
Antônio José da Silveira Sarmento. Torna-se revisor de 
provas de tipografia e da livraria do jornalista Paula Bri-
to. Nesse período, conhece membros da Sociedade Pe-
talógica, como Manuel Antônio de Almeida e Joaquim 
Manoel de Macedo. Escreve para os jornais O Paraíba 
e Correio Mercantil.
 § 1864 – Publica o volume de poesias Crisálidas, seu 
primeiro livro.
 § 1867 – É nomeado ajudante do diretor no Diário Oficial.
 § 1869 – Casa-se com Carolina Augusta Xavier de Novaes.
 § 1873 – É nomeado o primeiro-oficial da Secretaria 
do Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e 
Obras Públicas.
 § 1878 – Passa uma temporada em Friburgo para cuidar 
da saúde.
 § 1881 – Torna-se oficial de gabinete do ministro da 
Agricultura, Pedro Luis.
 § 1888 – Torna-se oficial da Ordem da Rosa por decreto 
do imperador.
 § 1889 – É nomeado diretor na Diretoria do Comércio.
 § 1897 – É eleito presidente da Academia Brasileira de Le-
tras, da qual, um ano antes, havia sido um dos fundadores. 
 § 1904 – Torna-se membro da Academia das Ciências 
de Lisboa. Morre sua mulher, Carolina Xavier.
 § 1908 – Falece no Rio de Janeiro em 29 de setembro.
1.2. Tempo de mudanças
Na segunda metade do século XIX, Inglaterra e França de-
tinham o controle administrativo, econômico e militar do 
mundo capitalista e buscavam ampliar o número de consu-
midores para seus produtos industrializados. O Brasil conso-
lidava o Império apoiado no sistema escravista e com algum 
encaminhamento de modernização. 
Machado de Assis viveu momentos importantes da história 
do Brasil, como a Guerra do Paraguai, a luta abolicionista 
e a constituição da República, que repercutiram em sua 
produção literária. A segunda metade do século XIX foi, de 
fato, um período de intensas transformações na sociedade 
brasileira. O que é possível perceber no romance Quincas 
Borba, em que o Rio de Janeiro, por ser a corte, era um 
espaço onde surgiam os enganadores e suas falcatruas. 
2. Quincas Borba
Na obra de Machado de Assis, o personagem Quincas Borba 
aparece pela primeira vez no livro Memórias póstumas de 
Brás Cubas. No romance de 1891, por sua vez, o título da 
obra faz referência direta ao filósofo Quincas Borba, que 
morre logo no início da história. Depois de sua morte, Pedro 
Rubião de Alvarenga, que era seu discípulo e enfermeiro par-
ticular, é beneficiado com uma grande herança.
Com o dinheiro da herança, Rubião, ex-professor primá-
rio e enfermeiro, muda-se da fazenda que vivia na cidade 
de Barbacena, em Minas Gerais, para a cidade do Rio de 
Janeiro, e passa a viver em um palacete no bairro de Bo-
tafogo. Rubião fica encarregado de cuidar do cão de seu 
amigo, que, ironicamente, chama-se Quincas Borba.
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Na mudança de sua vida provinciana para a vida na cidade, 
Rubião conhece o casal Palha: Sofia e Cristiano.
A partir daí, ele começa a ter contato com diversas caracte-
rísticas que o levam a se tornar um “professor capitalista”.
No Rio de Janeiro, Rubião foi visto como uma pessoa que 
poderia ser facilmente enganada, dada a sua ingenuidade 
e vida simples que levava em Minas Gerais. Então, Rubião 
passa a conviver com o casal Palha, seus supostos novos 
“amigos”, e acaba se interessando pela beleza e meiguice 
de Sofia. Em certo ponto da história, Rubião resolve declarar 
seu amor, mas é rejeitado pela moça, que é fiel a seu marido. 
Sofia conta o ocorrido a Cristiano, que, mesmo sabendo dos 
intentos de Rubião, continua a relação com ele, uma vez que 
está interessado em sua fortuna. Rubião e Cristiano se tor-
nam sócios em uma importadora, Palha & Cia
Rubião, aos poucos,vai perdendo a razão devido à rejeição 
de Sofia. Ele acredita ser Napoleão III e repete aos quatro 
cantos a máxima de seu falecido amigo Quincas Borba: 
“Ao vencedor, as batatas”.
Fala de Quincas Borba:
“Não há morte. O encontro de ditas expansões, ou a ex-
pansão de duas formas, pode determinar a supressão de 
uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, 
porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência 
da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e 
comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. 
Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As 
batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, 
que assim adquire forças para transpor a montanha e ir 
à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, 
se as duas tribos dividirem em paz as batatas do cam-
po, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de 
inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a 
conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe 
os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, 
recompensas públicas e todos demais efeitos das ações 
bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não 
chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só 
comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e 
pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza 
uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou 
compaixão; ao vencedor, as batatas.”
No fim da história, Rubião foge para Barbacena com o cachor-
ro, onde morre. O casal Palha, por outro lado, torna-se rico.
2.1. Personagens
 § Rubião: enfermeiro, ex-professor do primário na cida-
de de Barbacena e protagonista da narrativa. De origem 
humilde, muda radicalmente de vida quando conhece o 
filósofo Quincas Borba e se torna seu herdeiro. Rubião 
demonstra descontrole em relação à fortuna, além de 
se mostrar ingênuo. Apaixona-se por Sofia, mulher de 
seu mais novo amigo, Cristiano Palha.
“Um criado trouxe o café. Rubião pegou na xícara e, en-
quanto lhe deitava açúcar, ia disfarçadamente mirando a 
bandeja, que era de prata lavrada. Prata, ouro, eram os 
metais que amava de coração; não gostava de bronze, 
mas o amigo Palha disse-lhe que era matéria de preço, 
e assim se explica este par de figuras que aqui está na 
sala, um Mefistófeles e um Fausto.”
 § Cristiano Palha: marido de Sofia e suposto amigo de 
Rubião, mas que está interessado somente em sua fortu-
na. Cristiano rompe a sociedade com Rubião, alegando 
a necessidade de se afastar da empresa para assumir 
cargos no sistema financeiro. Na verdade, já estabeleci-
do, Cristiano quer continuar a conduzir sozinho os seus 
negócios. Sofia também se afasta de Rubião, recusando 
seus insistentes convites para passeios.
“Chegados à estação da corte, despediram-se quase fa-
miliarmente (...). No dia seguinte, estava Rubião ansioso 
por ter ao pé de si o recente amigo da estrada de ferro, 
e determinou ir a Santa Teresa, à tarde; mas foi o próprio 
Palha que o procurou logo de manhã.”
 § Sofia Palha: esposa de Cristiano, que por sua vez, 
fica interessada em Carlos Maria. Ela apoia o marido 
em suas ações.
“As senhoras casadas eram bonitas; a mesma solteira 
não devia ter sido feia, aos vinte e cinco anos; mas Sofia 
primava entre todas elas. Não seria tudo o que o nos-
so amigo sentia, mas era muito. Era daquela casta de 
mulheres que o tempo, como um escultor vagaroso, não 
acaba logo, e vai polindo ao passar dos longos dias. Es-
sas esculturas lentas são miraculosas; Sofia rastejava os 
vinte e oito anos; estava mais bela que aos vinte e sete; 
era de supor que só aos trinta desse o escultor os últimos 
retoques, se não quisesse prolongar ainda o trabalho, 
por dois ou três anos.”
 § Carlos Maria: homem que desperta o interesse de Sofia 
e que, por fim, casa-se com a prima dela. Torna-se amigo 
de Rubião. Trata-se de um rapaz que exala prepotência.
“Queres o avesso disso, leitor curioso? Vê este outro 
convidado para o almoço, Carlos Maria. Se aquele tem 
os modos “expansivos e francos”, – no bom sentido 
laudatório, – claro é que ele os tem contrários. Assim, 
não te custará nada vê-lo entrar na sala, lento, frio e 
superior, ser apresentado ao Freitas, olhando para outra 
parte. Freitas que já o mandou cordialmente ao diabo 
por causa da demora (é perto do meio-dia), corteja-o 
agora rasgadamente, com grandes aleluias íntimas.”
 § Maria Benedita: prima de Sofia e esposa de Carlos 
Maria. Trata-se de uma personagem secundária da obra. 
No livro, há o relato de que o nome “Maria Benedita” a 
incomodava, por ser um nome de velha. É uma mulher 
prendada, que aprende bons costumes com sua prima.
“Maria Benedita, nome que a fechava, por ser de ve-
lha, dizia ela; mas a mãe retorquia-lhe que as velhas 
foram algum dia moça as meninas, e que os nomes 
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adequados às pessoas eram imaginações de poetas e 
contadores de histórias.”
 § Camacho: advogado, político e falso jornalista, figura 
que vai se aproveitar da fortuna de Rubião.
“Ao mesmo tempo entrou no gabinete, onde os dez 
homens tratavam de política, porque este baile, ia-me 
esquecendo dizê-lo, era dado em casa de Camacho, a 
propósito dos anos da mulher.”
 § D. Fernanda: a personagem nasceu em Porto Alegre e 
possuía pouco mais de trinta anos. Era jovem, expansi-
va, corada e robusta.
“Sofia organizou a comissão, que trouxe novas relações 
à família Palha. Incluída entre as senhoras que forma-
vam uma das subcomissões, Maria Benedita trabalhou 
com todas, mas granjeou em especial a estima de uma 
delas, D. Fernanda, esposa de um deputado. D. Fernanda 
se casara com um bacharel das Alagoas, deputado agora 
por outra província, e, segundo corria, prestes a ser mi-
nistro de Estado.”
 § Dona Tônica: é personagem secundária. D. Tônica é 
filha do Major Siqueira. Ela é caracterizada por ser uma 
“solteirona” desesperada para se casar.
 § Quincas Borba (o cão): teve esse nome dado pelo 
seu dono, também chamado Quincas Borba e, mais tar-
de, vem a ter outro dono: Rubião. Ao longo da narrativa, 
o cão mostra-se amável e fiel. As atitudes do cão faziam 
com que Rubião achasse que ele recebera a alma do 
filósofo morto. 
2.2. Análise
2.2.1. Espaço e tempo
O livro foi publicado em 1891, mas a narrativa começa em 
1867, em Barbacena, Minas Gerais, estendendo-se para o 
Rio de Janeiro a partir de 1870. Toda a história se passa em 
Barbacena, devido à universalidade do texto, poderia ser 
em qualquer lugar do mundo. Fora isso, os fatos intermedi-
ários acontecem na Corte (RJ). 
2.2.2. O narrador
O narrado da obra, em terceira pessoa, possui uma posição 
imparcial sobre os fatos. O narrador de Quincas Borba é, em 
certa medida, o próprio Machado de Assis. É importante res-
saltar que não se deve confundir o narrador com o escritor.
Machado de Assis assume a postura de escritor/narrador. A 
passagem a seguir, como outras da obra, quebra a objetivi-
dade do narrador em terceira pessoa: 
Este Quincas Borba, se acaso me fizeste o favor de ler Me-
mórias Póstumas de Brás Cubas, é aquele mesmo náufrago 
da existência, que ali aparece, mendigo, herdeiro inopinado e 
inventor de uma filosofia. Aqui o tens agora, em Barbacena.”
2.2.3. Temas: filósofo ou cachorro?
A principal característica do romance é o foco nas relações 
sociais de seu tempo. Machado faz fortes críticas às rela-
ções humanas. Temas como herança, traição, poder, apa-
rência, loucura, ironia, imoralidade e falsidade são recor-
rentes na obra de Machado.
O adultério, temática sempre presente nas obras macha-
dianas da fase resalista, é insinuada no interesse que Sofia 
manifesta pelos homens que a cortejam: vale mencionar os 
personagens Rubião e Carlos Maria. A traição não chega a 
acontecer de fato, talvez porque a moça tenha no marido 
o seu melhor parceiro na enganação, sendo esta, afinal, a 
temática central da obra. 
O engodo sugere a existência de uma sociedade improdu-
tiva e parasitária, que age sempre sob máscaras que dis-
simulamduvidosas transações financeiras e falsos elogios 
nos jornais. O jogo de aparências revela a verdadeira face 
da sociedade: um diretor de banco é humilhado em uma 
visita ao ministro e desconta em Cristiano Palha, tratando-
-o da mesma forma. O próprio Rubião, senhor de sua for-
tuna, sente-se pequeno ao se deparar com a suntuosidade 
de uma baronesa do Império. Nesse sentido, a demonstra-
ção de poder é sempre mais importante que o poder em si, 
que permanece mascarado. 
No desenrolar do enredo, o leitor pode questionar as razões 
do título dado ao livro. Seria uma referência ao filósofo que 
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morre logo na abertura ou ao cachorro que fica de herança? 
A resposta não pode ser dada antes da reflexão de que am-
bas as respostas estão certas. Segundo a filosofia criada por 
Quincas Borba, Humanitas é o princípio da existência que se 
manifestaria em todo ser vivente, podendo também existir 
no cão. E talvez esteja nesse princípio a verdadeira razão do 
título: ele pode ser uma referência ao Humanitismo. 
A história de Rubião confirma a filosofia de Quincas Borba. 
Sofia e seu marido não fazem mais do que seguir a máxima 
segundo a qual “Humanitas precisa comer”. Eles seguem 
à risca essa prescrição, alimentando-se da fortuna e da in-
genuidade de Rubião. Segundo outra máxima da filosofia 
de Quincas e que aparece na fala de Rubião antes de mor-
rer: “Ao vencedor, as batatas”. Os espólios da guerra se 
destinam aos vitoriosos. Rubião é o derrotado justamente 
por representar o anti-Humanitas, uma vez que nada em 
sua vida foi conquistado com luta, mas por mera condição 
do acaso. Sua loucura gradativa – aproximada da loucura 
que atinge Quincas Borba – é a confirmação do destino de 
quem acreditou excessivamente na aparência. Ironicamen-
te Rubião morreu acreditando ser Napoleão III. 
Nesse sentido, Quincas Borba simboliza a reafirmação dos 
princípios humanitistas, livres de moralidade, em que tudo 
é permitido, porque tudo se faz em nome da substância 
original. A filosofia se enquadra perfeitamente no jogo de 
fingimento das relações sociais – a moralidade aparente es-
conde a imoralidade da essência dessas relações.
2.2.4. A filosofia: Humanitismo
Na obra Memórias póstumas de Brás Cubas, o personagem 
Quincas Borba é citado pelo autor. Por isso, o livro Quincas 
Borba pode ser considerado (em partes) uma continuação 
de Brás Cubas.
As narrativas de Memórias póstumas de Brás Cubas e de 
Quincas Borba tocam-se no início do capítulo IV, sendo 
uma espécie de continuação daquela. Mas a história de 
Quincas Borba é completamente outra.
Quincas Borba retrata a jornada de Rubião rumo à loucu-
ra. Assim, o verdadeiro elo entre os romances é apenas o 
Humanitismo, filosofia com a qual Quincas Borba marcou 
sensivelmente Brás Cubas, mas que, apesar de seus esfor-
ços, não conseguiu transmitir a Rubião.
Nas duas obras, Machado trata da teoria filosófica do Hu-
manitismo criada por Quincas.
Segundo o filósofo, esse conceito está relacionado com a 
exploração das pessoas e a falta de humanismo na cons-
trução das relações sociais.
Assim, nessa luta incessante pela sobrevivência, os ingênu-
os são manipulados pelos espertos, os fracos padecem, e 
os fortes permanecem vivos e manipulando outros.
O livro retrata a filosofia inventada por Quincas Borba, de 
que a vida é um campo de batalha no qual só os mais for-
tes sobrevivem, e em que fracos e ingênuos, como Rubião, 
são manipulados e aniquilados pelos fortes e espertos, 
como Palha e Sofia, que terminam vivos e ricos.
“Nunca há morte. Há encontro de duas expansões, ou ex-
pansão de duas formas”, diz a frase com que Quincas Bor-
ba criou sua filosofia. E, ao tentar explicá-la melhor, acabou 
formulando a célebre máxima: "Ao vencedor, as batatas". 
Esse é o princípio que rege a lógica constitutiva da obra. 
Assim, é importante que o aluno entenda a explicação nas 
palavras do próprio Quincas:
“Supõem-se em um capo de duas tribos famintas. As bata-
tas apenas chegavam para alimentar uma das tribos, que 
assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra 
vertente, onde há batatas em abundância; mas se as duas 
tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam 
a nutrir-se suficientemente e morrerão de inanição. A paz, 
neste caso, é a destruição; a guerra, é a esperança.
Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. 
Daí, a alegria da vitória, os hinos, as aclamações. Se a 
guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam 
a dar-se. Ao vencido, o ódio ou compaixão. Ao vencedor, 
as batatas!”
Esta tal “filosofia” se enquadra no jogo de fingimento das 
relações sociais em que a aparente moralidade esconde a 
imoralidade dessas relações.
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2.3. O romance machadiano
2.3.1. Estilo
O estilo machadiano pode ser definido como elegância e 
certa contenção ao escrever, rápidas pinceladas na compo-
sição da personagem e muita discrição. O autor sempre foi 
adepto de personagens fortes. A sua enorme capacidade 
de observação do ser humano e da sociedade não é um 
privilégio da fase realista e está presente desde o início.
Machado de Assis organizou seus personagens de modo 
diverso ao dos românticos, ainda que tivesse aproveita-
do as lições que aprendeu na leitura de grandes mestres, 
como José de Alencar, o português Almeida Garrett, o fran-
cês Victor Hugo e o inglês Swift.
Nos romances iniciais, Machado é um romântico um pouco 
diferente: já é marcante a crítica que haveria de constituir 
sua característica singular. Em sua obra, o casamento não 
era a cura para todos males (como acreditavam os românti-
cos), mas um tipo de comércio, uma certa troca de favores.
Nos romances escritos depois de 1880, Machado intensifi-
cou essa crítica social, assumindo uma fina ironia ao foca-
lizar questões delicadas como o casamento, o adultério, a 
exploração do homem pelo homem, entre outros. Notabi-
lizou-se por olhar além das máscaras sociais a fim de des-
mascarar o jogo das relações e de compreender a natureza 
humana, focalizando personagens com espírito de análise. 
Em outras palavras, Machado de Assis acreditava que nos 
indivíduos existem sempre intenções supostas para objeti-
vos reais. É disso que resultam os atos, os quais se dirigem 
para a satisfação pessoal de quem os prática.
De acordo com o crítico literário Roberto Schwarz, nos ro-
mances machadianos quase todas as frases possuem se-
gunda intenção ou propósito espirituoso: 
A prosa é detalhista ao extremo, sempre à cata de efeitos 
imediatos, o que amarra a leitura ao pormenor e dificul-
ta a imaginação do panorama. Em consequência, e por 
causa também da campanha do narrador para chamar 
a atenção sobre si mesmo, a composição do conjunto 
pouco aparece.”
(SCHWARZ, rObertO. in: uM Mestre na PeriFeria dO CaPitalisMO 
– MaChadO de assis. P. 18)
Outro elemento do estilo machadiano é a digressão, que 
o autor empregava com maestria. De acordo com o crítico 
Massaud Moisés: 
Própria do discurso oratório, a digressão pode apresen-
tar qualquer medida, aparecer em qualquer parte do 
texto e em obras de qualquer outra natureza, sobretudo 
a poesia épica, o romance e o ensaio. Empregada desde 
a antiguidade greco-latina, constitui expediente difícil de 
manejar, uma vez que pode comprometer a integridade 
da obra em que se insere. Por isso, hoje em dia, tende a 
ostentar sentido pejorativo, equivalente a “desvio”, “di-
vagação”, “subterfúgio”. 
(MOisés, Massaud. 2004, P. 125)
2.3.2. Crítica
“Seja no plano da forma, através das interrupções, seja 
no plano do conteúdo, através de anedotas e apólo-
gos sobre a vaidade humana, a experiência visada não 
muda, (...) Machado carrega a tinta com maestria – são 
formas fechadas em si mesmo, e neste sentido, matéria 
romanesca de segunda classe, estranha ao movimento 
global própria ao grande romance oitocentista.”
(sChwarZ, rObertO. uM Mestre na PeriFeria dO CaPitalisMO. P.51.)
2.4. Trechos da obra
Acompanhe alguns trechos para compreender melhor a 
linguagem utilizada no livro. Confira abaixo:
2.4.1. Prólogo da 3ª edição
A segunda edição deste livro acabou mais depressa que a 
primeira. Aqui sai ele em terceira, sem outra alteração além 
da emenda de alguns erros tipográficos, tais e tão poucos 
que, ainda conservados, não encobririam o sentido.
Um amigo e confrade ilustre tem teimado comigo para que 
dê a este livro o seguimento de outro. “Com as Memórias 
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Póstumas de Brás Cubas, donde este proveio, fará você 
uma trilogia, e a Sofia de Quincas Borba ocupará exclusiva-
mente a terceira parte.” Algum tempo cuidei que podia ser, 
mas relendo agora estas páginas concluo que não. A Sofia 
está aqui toda. Continuá-la seria repeti-la, e acaso repetir o 
mesmo seria pecado. Creio que foi assim que me tacharam 
este e alguns outros dos livros que vim compondo pelo 
tempo fora no silêncio da minha vida. Vozes houve, gene-
rosas e fortes, que então me defenderam; já lhes agradeci 
em particular; agora o faço cordial e publicamente.
1899 – M. de a.
2.4.2. Capítulo II
Que abismo que há entre o espírito e o coração! O espírito 
do ex-professor, vexado daquele pensamento, arrepiou ca-
minho, buscou outro assunto, uma canoa que ia passando; 
o coração, porém, deixou-se estar a bater de alegria. Que 
lhe importa a canoa nem o canoeiro, que os olhos de Ru-
bião acompanham, arregalados? Ele, coração, vai dizendo 
que, uma vez que a mana Piedade tinha de morrer, foi bom 
que não casasse; podia vir um filho ou uma filha... – Bonita 
canoa! – Antes assim! – Como obedece bem aos remos do 
homem! – O certo é que eles estão no céu!
2.4.3. Capítulo XCV
Vou agarrá-la antes de chegar ao Catete, disse Rubião su-
bindo pela Rua do Príncipe.
Calculou que a costureira teria ido por ali. Ao longe, des-
cobriu alguns vultos de um e outro lado; um deles pare-
ceu-lhe de mulher. Há de ser ela, pensou; e picou o passo. 
Entende-se naturalmente que levava a cabeça atordoada: 
Rua da Harmonia, costureira, uma dama, e todas as rótu-
las abertas. Não admira que, fora de si, e andando rápido, 
desse um encontrão em certo homem que ia devagar, ca-
bisbaixo. Nem lhe pediu desculpa; alargou o passo, vendo 
que a mulher também andava depressa.
2.4.4. Capítulo CCI
Queria dizer aqui o fim do Quincas Borba, que adoeceu 
também, ganiu infinitamente, fugiu desvairado em busca do 
dono, e amanheceu morto na rua, três dias depois. Mas, ven-
do a morte do cão narrada em capítulo especial, é provável 
que me perguntes se ele, se o seu defunto homônimo é que 
dá o titulo ao livro, e por que antes um que outro, – questão 
prenhe de questões, que nos levariam longe. Eia! chora os 
dois recentes mortos, se tens lágrimas. Se só tens riso, ri-te! 
É a mesma coisa. O Cruzeiro, que a linda Sofia não quis fitar, 
como lhe pedia Rubião, está assaz alto para não discernir os 
risos e as lágrimas dos homens.
FOnte: YOutube
Quincas Borba, 1987, dirigido por Roberto Santos
Releitura do clássico de Machado de Assis. Rubião sai 
do interior de Minas Gerais com apenas um objetivo 
em mente: aproveitar ao máximo todos os prazeres que 
uma cidade como o Rio de Janeiro pode lhe oferecer, em 
uma viagem patrocinada pelo dinheiro que seu mestre, 
o filósofo Quincas Borba, lhe deixou como herança. No 
entanto, assim que Rubião chega à Cidade Maravilhosa, 
as coisas começam a se complicar.
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AplicAndo pArA Aprender (A.P.A.)
1. (ITA) Em 1891, Machado de Assis publicou o roman-
ce Quincas Borba, no qual um dos temas centrais do 
Realismo, o triângulo amoroso (formado, a princípio, 
pelas personagens Palha–Sofia–Rubião), cede lugar a 
uma equação dramática mais complexa e com diversos 
desdobramentos. Isso se explica porque:
a) o que levava Sofia a trair Palha era apenas o interesse 
na fortuna de Rubião, pois ela amava muito o marido.
b) Palha sabia que Sofia era amante de Rubião, mas 
fingia não saber, pois dependia financeiramente dela.
c) Sofia não era amante de Rubião, como pensava 
seu marido, mas sim de Carlos Maria, de quem Pal-
ha não tinha suspeita alguma.
d) Sofia não era amante de Rubião, mas se interessou 
por Carlos Maria, casado com uma prima de Sofia, e 
este por Sofia.
e) Sofia não se envolvia efetivamente com Rubião, pois 
se sentia atraída por Carlos Maria, que a seduziu e de-
pois a rejeitou.
2. (PUC-RS) No início de Quincas Borba, a personagem 
Rubião avalia sua trajetória, enquanto olha para o 
mar, para os morros, para o céu, da janela de sua casa, 
em Botafogo. Passara de _________ a capitalista ao 
_________. Mas, no final do romance, o personagem 
acaba morrendo na miséria.
As lacunas podem ser correta e respectivamente pre-
enchidas por:
a) jornalista – receber um prêmio
b) professor – receber uma herança
c) enfermeiro – se tornar comerciante
d) filósofo – investir em terras
e) enfermeiro – se casar com Sofia
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3. (UFRGS) Assinale a alternativa correta em relação a 
Quincas Borba, de Machado de Assis.
a) O título do livro, como esclarece o narrador, refere-se 
ao filósofo Quincas Borba, criador do “Humanitismo”.
b) Quincas Borba é apenas um interiorano milionário 
explorado por parasitas sociais como Palha e Camacho.
c) Rubião é objeto de disputa amorosa entre a bela 
Sofia e dona Tonica, filha do major Siqueira.
d) Rubião, sócio do marido de Sofia, comete adultério 
com ela sem levantar suspeitas.
e) Ao fugir do hospital, Rubião retorna com Quincas 
Borba à sua cidade de origem, Barbacena.
As questões 4 e 5 referem-se ao texto a seguir, extraído 
do sexto capítulo de Quincas Borba (1892), de Machado 
de Assis (1839-1908).
“Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As ba-
tatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim 
adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, 
onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividem 
em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficiente-
mente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a 
guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e reco-
lhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, re-
compensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. 
Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a 
dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o 
que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que 
nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. 
Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.”
(assis, JOaquiM Maria MaChadO de. quinCas bOrba. riO 
de JaneirO: nOva aGuilar, 1997, P. 648-649.)
4. Com base nas palavras de Quincas Borba, considere 
as afirmativas a seguir:
I. As duas tribos existem separadamente uma da outra.
II. A necessidade de alimentação determina os termos 
do relacionamento entre as duas tribos.
III. O relacionamento entre as duas tribos pode ser 
amistoso (“dividem entre si as batatas”) ou competiti-
vo (“uma das tribos extermina a outra”).
IV. O campo de batatas determina a vitória ou a derrota 
de cada uma das tribos.
Estão corretas apenas as afirmativas:
a) I e IV.
b) II e III.
c) III e IV.
d) I, II e III.
e) I, II e IV.
5. (UEL) O Humanitismo, filosofia criada por Quincas 
Borba, é revelador:
a) do posicionamento crítico de Machado de Assis 
aos muitos “ismos” surgidos no século XIX: darwinis-
mo, positivismo, evolucionismo.
b) da admiração de Machado de Assis pelos muitos 
“ismos” surgidos no início do século XX: futurismo, 
impressionismo, dadaísmo.
c) da capacidade de Machado de Assis em antever os 
muitos “ismos” que surgiriam no século XIX: darwi-
nismo, positivismo, evolucionismo.
d) da preocupação didática de Machado de Assis com 
a transmissão de conhecimentos filosóficos consoli-
dados na época.
e) da competência de Machado de Assis em antecipar 
a estética surrealista surgida no século XX.6. (CEFET-PR) A filosofia de Quincas Borba é explicada 
nos primeiros capítulos do romance. Posteriormente, em 
alguns momentos de delírio, Rubião recorda-se dos ensi-
namentos do mestre e os sintetiza na frase: “Ao vencedor, 
as batatas”. A versão completa da máxima, enunciada 
por Quincas a Rubião no capítulo 6, é esta: “Ao vencido, 
ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”.
A filosofia inventada por Quincas Borba pode ser com-
provada com os seguintes acontecimentos do romance, 
exceto:
a) a organização da comissão das Alagoas.
b) a morte da avó de Quincas, atropelada por carro puxa-
do a cavalos.
c) o tipo de relação estabelecida entre Camacho e Rubião.
d) o empenho de D. Fernanda em casar Maria Benedita.
e) o gesto de Rubião de salvar de um atropelamento 
o menino Deolindo.
7. (FATEC) Leia o texto.
Capítulo CC
Poucos dias depois, [Rubião] morreu... Não morreu súbdito nem 
vencido. Antes de principiar a agonia, que foi curta, pôs a coroa 
na cabeça, — uma coroa que não era, ao menos, um chapéu 
velho ou uma bacia, onde os espectadores palpassem a ilusão. 
Não, senhor; ele pegou em nada, levantou nada e cingiu nada; 
só ele via a insígnia imperial, pesada de ouro, rútila de brilhantes 
e outras pedras preciosas. O esforço que fizera para erguer meio 
corpo não durou muito; o corpo caiu outra vez; o rosto conservou 
porventura uma expressão gloriosa.
— Guardem a minha coroa, murmurou. Ao vencedor...
A cara ficou séria porque a morte é séria; dous minutos de ago-
nia, um trejeito horrível, e estava assinada a abdicação.
Capitulo CCI
Queria dizer aqui o fim do Quincas Borba, que adoeceu também, 
ganiu infinitamente, fugiu desvairado em busca do dono, e ama-
nheceu morto na rua, três dias depois. Mas, vendo a morte do 
cão narrada em capítulo especial, é provável que me perguntes 
se ele, se o seu defunto homônimo é que dá titulo ao livro, e por 
que antes um que outro, – questão prenhe de questões, que nos 
levariam longe... Eia! chora os dous recentes mortos, se tens lá-
grimas. Se só tens riso, ri-te! É a mesma cousa. O Cruzeiro que a 
linda Sofia não quis fitar, como lhe pedia Rubião, está assaz alto 
para não discernir os risos e as lágrimas dos homens.
(MaChadO de assis. quinCas bOrba.)
Depreende-se do texto que:
a) ao narrar a agonia de Rubião, o narrador deixa 
implícito que aquele merecia as honrarias de um rei.
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b) a ambiguidade no título do romance, Quincas Bor-
ba, justifica-se pelo fato de o autor não conseguir de-
finir-se por homenagear o filósofo ou seu cão.
c) a afirmação que encerra o capítulo CC revela um 
traço machadiano característico: a ironia.
d) a declaração de que Sofia não quis fitar o Cruzeiro 
revela a indiferença como matriz do estilo do autor.
e) a linguagem empregada para descrever a morte 
de Quincas Borba revela tendência do narrador a dar 
mais importância ao cão do que a Rubião.
GAbArito
1. D 2. B 3. E 4. E 5. A
6. D 7. C
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1. Carlos Drummond de Andrade
1.1. A vida do poeta e cronista
Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, em 31 
de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros, estu-
dou em Belo Horizonte, onde também começou a carreira 
de escritor como colaborador do Diário de Minas, que reu-
nia conhecidos jornalistas e escritores mineiros expoentes 
do movimento modernista.
Pressionado pela família, Drummond formou-se em far-
mácia na cidade de Ouro Preto, em 1925. Não seguiu a 
carreira. Ingressou no serviço público e, em 1934, mudou-
-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete do 
amigo Gustavo Capanema, então ministro da Educação. 
Em 1945, passou a trabalhar no Serviço do Patrimônio His-
tórico e Artístico Nacional até se aposentar em 1962. 
“Se eu gosto de poesia?
Gosto de gente, bichos, plantas, lugares, chocolate, vinho, 
papos amenos, amizade, amor. Acho que a poesia está 
contida nisso tudo”
(CarlOs druMMOnd de andrade eM 'PrOCura da POesia')
Ao longo de sua carreira como escritor, lançou dezenas 
de livros de prosa, verso, contos e ensaios. Teve seu título 
traduzido para diversas línguas e levou a poesia mineira 
para muito além das fronteiras brasileiras. Drummond foi 
seguramente, por muitas décadas, o poeta mais influen-
te da literatura brasileira em seu tempo. Além disso, foi 
tradutor de autores estrangeiros: Balzac, Marcel Proust, 
García Lorca e Molière.
Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, 
no dia 17 de agosto de 1987, 12 dias após a morte de sua 
filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade
disPOnível eM: <httP://statiC.aGenCiaMinas.MG.GOv.br/nOtiCia/
hOMenaGens-a-CarlOs-druMMOnd-de-andrade-MarCaM-
O-dia-naCiOnal-da-POesia>. aCessO eM: Jan.2021
2. Alguma Poesia
Meu primeiro livro, Alguma poesia (1930), traduz uma 
grande inexperiência do sofrimento e uma deleitação 
ingênua com o próprio indivíduo. Já em Brejo das al-
mas (1934) alguma coisa se compôs, se organizou; o 
individualismo será mais exacerbado, mas há também 
uma consciência crescente de sua precariedade e uma 
desaprovação tácita da conduta (ou falta de conduta) 
espiritual do autor.
druMMOnd de andrade, CarlOs. "autObiOGraFia 
Para uMa revista". COnFissões de Minas. POesia e 
PrOsa. riO de JaneirO: nOva aGuilar, 1992.
Alguma Poesia é o livro de estreia do poeta de Itabira. Uma 
obra ímpar para compreensão da Literatura no Brasil hoje 
e sempre, o livro é, também, uma chave importante no 
auxílio à percepção crítica do que foi o movimento mo-
dernista. Dedicado a Mário de Andrade, amigo do autor 
e outro grande escritor brasileiro, a obra capta e trabalha 
sobre os influxos da semana de 22, reunindo a "grande 
inexperiência", como diz o próprio Drummond, e uma sin-
cera vontade de escrita.
Definindo o primeiro momento do modernismo como 
uma busca não apenas pelo rompimento e pela iden-
tidade nacional, mas também como um marco para a 
apropriação de uma linguagem que fosse real, o livro 
de Drummond, datado de 1930, figura bem na transi-
ção desse referido período para um segundo momento, a 
fase em que a linguagem está em posse dos escritores, o 
momento de consolidar os ideais. Alguma poesia, portan-
to, traz em seus 49 um olhar irreverente para a tradição 
literária, na mesma medida em que propõe com enorme 
ALGUMA 
POESIA
cArlos drummond 
de AndrAde
LC
OBRA 
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autenticidade atenção para importantes questões sobre o 
indivíduo, o Brasil e a própria poesia.
Aspectos gerais
 § Otto Maria Carpeaux define o conjunto como: “no-
tações sensíveis, descontínuas, características do 
impressionismo sentimental.”;
 § Sensação de incompletude; 
 § Significações para as impotências existenciais e 
poéticas: “Tinha uma pedra no meio do caminho”
 § O sujeito moderno e a autoidentificação;
 § Possibilidades do humor e da confidência prosaica;
 § Legado, desarranjado, do Modernismo de 22 .
2.1. A Modernidade
A obra de Drummond é carregada por tensões dialéticas 
que vez ou outra privilegiam uma face em detrimento da 
outra – o destaque na expressão do privilégio aqui diz res-
peito ao fato de tal tensão jamais encontrar solução. Nessa 
direção, o poeta que vem de Itabira, o mineiro no Rio, ex-
plora a modernidade como o indivíduo que se apresenta 
enquanto faces de uma "vida besta" e de um "mundo 
torto". Há impotência em modificar o último. No entanto, 
ainda assim, há no fazer poético certo aclaramento sobre 
as questões que turvam este mesmo mundo.
Figura que sintetiza a leitura da modernidade nessa obra 
aparentemente descontínua é o gauche, indicado no fa-
moso Poema de sete faces. A figura desse passante (pelas 
ruas, pela vida) remete também aos movimentos moder-
nos de Baudelaire. Enquanto seja a modernidade a busca 
por um abandono do arcaico e do provinciano, há a tenta-
tiva de encontro e conciliação com modos de estar nesse 
novo mundo. O gauche de Drummond,contudo, atualiza 
o pessimismo do poeta francês, trazendo irreverência ao 
soturno e humor como forma de identificação ao sujeito 
moderno no Brasil.
Poema de Sete Faces
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do -bigode,
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
O gauche drummondiano foi bastante estudado por Alci-
des Villaça, professor doutor na Universidade de São Paulo, 
e, em seu livro, Passos de Drummond (2006), desenvolve:
Por ocasião do "Poema de Sete Faces", o estreante Drum-
mond está ainda num primeiro passo da perplexidade: o 
gauche se mostra sobretudo na insuficiência psicológica 
para a ação dentro de um mundo de movimentos rápidos e 
de excessivos convites. A primeira tarefa, para o poeta, é ter 
consciência disso, é iluminar a timidez na praça antes que 
seja acusada pelo outro – sempre um virtual demolidor.
Assim, o poeta assume uma posição de tocaia, como quem 
adapta o voyeurismo de Baudelaire. Essa tocaia, no entan-
to, não deixa de expor percepções e de retorcer sentidos do 
fazer poético, da autoidentificação e do projeto nacional do 
modernismo de 22.
Resumo do tópico
 § Entre “a expressão humana e a angulação geométrica”
 § Consciência moderna múltipla e dinâmica
 § Apresentada em discurso poético
 § O gauche e o desajuste
 § Refinamento irônico da própria condição
 § A condição de voyeur
 § A existência e a movimentação pelos desejos
 § Responsabilização humorística da investigação 
do sujeito
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2.2. Poemas
Cidadezinha qualquer
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.
Anedota búlgara
Era uma vez um czar naturalista
que caçava homens.
Quando lhe disseram que também se caçam borboletas e an-
dorinhas,
ficou muito espantado
e achou uma barbaridade
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história
A rua diferente
Na minha rua estão cortando árvores
botando trilhos
construindo casas.
Minha rua acordou mudada.
Os vizinhos não se conformam.
Eles não sabem que a vida
tem dessas exigências brutas.
Só minha filha goza o espetáculo
e se diverte com os andaimes,
a luz da solda autógena
e o cimento escorrendo nas formas.
Sobrevivente
Impossível compor um poema a essa altura da evolução da 
humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de 
verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades 
mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.
Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado. 
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.
Desconfio que escrevi um poema
FOnte: YOutube
O SOBREVIVENTE - ZÉ MIGUEL WISNIK declama 
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
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AplicAndo pArA Aprender (A.P.A.)
Leia o poema "Sentimental".
Sentimental
Ponho-me a escrever teu nome
com letras de macarrão.
No prato, a sopa esfria, cheia de escamas
e debruçados na mesa todos contemplam
esse romântico trabalho.
Desgraçadamente falta uma letra,
uma letra somente
para acabar teu nome!
- Está sonhando? Olhe que a sopa esfria!
Eu estava sonhando...
E há em todas as consciências um cartaz amarelo:
"Neste país é proibido sonhar."
– alGuMa POesia
1. Da leitura do poema, é coerente afirmar que:
a) Drummond recupera o sonho adolescente do me-
nino que se distrai, brincando de estar apaixonado, 
durante a ceia.
b) Drummond evoca um amor que se manifesta di-
retamente na figura do sonho, trabalhando o incons-
ciente, o onírico.
c) O discurso direto configura um rompimento poé-
tico elaborado por Drummond, sendo uma inovação 
característica do modernismo.
d) A ideia do eu lírico extremamente apaixonado 
contrasta com o restante da obra, na qual o eu lírico 
aparece sempre maduro e realista.
e) Drummond explora uma temática que só é possível 
dentro do modernismo, o amor nos gestos cotidianos 
da figura do adolescente.
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Leia um trecho de “Lanterna mágica”, poema de Carlos 
Drummond de Andrade, que tem como foco a cidade de 
Itabira, onde o poeta nasceu.
Cada um de nós tem seu pedaço no pico do Cauê.
Na cidade toda de ferro
as ferraduras batem como sinos.
Os meninos seguem para a escola.
Os homens olham para o chão.
Os ingleses compram a mina.
Só, na porta da venda, Tutu Caramujo cisma na derrota in-
comparável.
2. A partir da análise do trecho, assinale a alternativa 
correta:
a) No poema, por meio do primeiro verso do trecho, 
há uma reivindicação da divisão igualitária dos bens 
naturais da cidade de Itabira.
b) Ao caracterizar Itabira como “cidade toda de fer-
ro”, o eu lírico apresenta um cenário em que não há 
possibilidade nenhuma para a experiência de senti-
mentos e emoções.
c) Ao encerrar o trecho do poema dizendo que “Tutu 
Caramujo cisma na derrota incomparável”, o eu lírico 
quer demonstrar uma perspectiva positiva do proces-
so histórico de transformou Itabira no século XX. 
d) Com os versos “Os meninos seguem para a escola/ 
Os homens olham para o chão”, o eu lírico apreende 
a banalidade dos dias e está interessado em demons-
trar os ciclos da vida humana.
e) No verso “Os ingleses compram a mina”, o eu lírico 
faz um flagrante do processo histórico de exploração 
dos bens naturais de Itabira.
3. Assinale a alternativa que melhor apresenta a relação 
existente entre o primeiro livro de poesias de Drummond, 
Alguma poesia, com a primeira geração modernista:
a) Nos poemas, há uma avaliação positiva do desen-
volvimento urbano.
b) O poeta, na maior parte dos poemas, assim como 
Mário de Andrade, busca dar conta das diferentes cul-
turas que estruturam a identidade brasileira.
c) Os poemas observam, a partir de um prisma sub-
jetivo, as experiências cotidianas modernas, apresen-
tando, a partir delas, significações mais profundas 
sobre a existência humana e apontamentos políticos.
d) A poesia é apresentada como a possibilidade de 
alcançar um estado sublime.
e) Assim como Oswald de Andrade, Drummond, na 
maioria das vezes, opta por poemas bastante curtos, já 
que considera esta a forma adequada à modernidade. 
Leia o poema “Cota zero” de Carlos Drummond de Andrade 
Stop. 
A vida parou. 
Ou foi o automóvel?
4. Assinale a alternativa correta:
a) O poema, ao optar pela síntese extrema, apresenta 
uma visão positiva do desenvolvimento tecnológico 
na modernidade.
b) A linguagem adotada no poema recupera a tra-
dição da poesia clássica e, por esse motivo, adota o 
estrangeirismo “Stop”.
c) Para o eu lírico, a invenção do automóvelé uma possi-
bilidade da humanidade dominar completamente o uso 
do tempo e, portanto, ser mais produtivo e mais feliz.
d) Já que o poema fala sobre o automóvel, é possível 
analisarmos as referências do futurismo no texto de 
Drummond.
e) A partir da concisão, o poema discute como a vida 
moderna parece se paralisar frente às invenções tec-
nológicas.
Leia o poema “Cidadezinha qualquer”, de Carlos Drum-
mond de Andrade.
Casas entre bananeiras
Mulheres entre laranjeiras
Pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar… as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.
5. Da leitura do poema, pode-se afirmar que:
a) O poema expõe um olhar de ternura frente à condi-
ção de desajuste do ser humano no mundo moderno.
b) O poema focaliza as experiências de desventuras 
amorosas do eu lírico.
c) A partir de uma linguagem bastante simples, o eu 
lírico expõe um sentimento nostálgico da sua infân-
cia, que é apresentada enquanto um momento feliz 
da sua trajetória.
d) O poema capta a monotonia e o tédio que parece 
estruturar as vidas dos habitantes das pequenas cidades.
e) Há, no poema, um posicionamento político do eu 
lírico que encara de forma negativa as mudanças na 
sua cidade de infância.
6. A partir da leitura integral da obra Alguma poesia, é 
possível dizer que:
a) O desajuste no mundo que é característica do eu 
lírico do livro é também uma posição política.
b) O livro analisa, de diferentes perspectivas, a rela-
ção entre o sujeito e o mundo.
c) Não há no livro uma preocupação com a forma dos 
poemas, já que está inserido no contexto da primeira 
geração modernista.
d) Os poemas metalinguísticos reforçam a perspectiva 
de que o poeta não busca diálogo com o grande público.
e) O uso do tom irônico e humorístico é uma estra-
tégia comercial para que a poesia tivesse uma maior 
circulação no Brasil.
7. Sobre as características principais de Alguma poesia, 
livro de estreia de Carlos Drummond de Andrade, pode-
-se dizer que
a) O livro apresenta uma ampla crítica a todas as ins-
tituições sociais.
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b) Os poemas de Alguma poesia recuperam os mode-
los clássicos da literatura brasileira.
c) Alguma poesia é o livro em que a literatura en-
gajada de Drummond se apresenta de forma mais 
acentuada.
d) O eu lírico dos poemas do livro, apesar de enfrentar 
situações adversas, confere um sentido à sua própria 
existência.
e) Grande parte dos poemas do livro trabalham com 
a inadequação do sujeito.
Leia um trecho do “Poema de sete faces”
Meu Deus, por que me abandonaste
Se sabias que eu não era Deus
Se sabias que eu era fraco
Mundo mundo vasto mundo
Se eu me chamasse Raimundo
Seria uma rima, não seria uma solução
Mundo mundo vasto mundo
Mais vasto é meu coração
8. Da leitura do poema, é correto concluir que:
a) As duas estrofes trabalham com uma perspectiva 
de mundo desencantada, já que o autor apresenta o 
seu desamparo.
b) No poema, o eu lírico recusa completamente a 
perspectiva religiosa e, por isso, reclama de seu aban-
dono no mundo.
c) Na segunda estrofe do trecho, há uma perspectiva 
positiva do mundo pela afirmação a subjetividade do 
eu lírico: “Mais vasto é meu coração”
d) Drummond utiliza das rimas como uma forma de 
demonstrar que a poesia, para alcançar uma perspec-
tiva sublime do mundo, tem que se preocupar com a 
questão sonora do texto.
e) A autodeclaração do eu lírico, “se sabias que eu 
era fraco”, demonstra que o autor segue as propostas 
veiculadas pelo Ultrarromantismo.
9. Já no primeiro poema de Alguma poesia, o eu lírico é 
caracterizado como gauche. Sobre esse aspecto na obra 
de Drummond, assinale a alternativa INCORRETA
a) Mesmo em meio ao contexto familiar, o eu lírico 
dos poemas de Alguma poesia se sente desajustado 
e, portanto, destoante.
b) O fato de o eu lírico ser um gauche relaciona-o a toda 
uma tradição poética de desajustes frente à sociedade, 
como no caso dos poetas considerados “malditos”.
c) Há uma desconfiança do eu lírico em relação aos 
comportamentos cotidianos e, por isso, em muitos 
poemas focaliza fatos aparentemente banais da vida.
d) Mesmo sentimento amoroso é tratado por Drum-
mond como algo desajustado, já que o eu lírico dos 
poemas não concebe, no amor, um sentido para a vida.
e) O eu lírico explora a sua situação de desajustado 
e, a partir disso, posiciona-se junto aos explorados e 
marginalizados, explorando, nos poemas, as situa-
ções de pobreza e de opressão.
Leia o poema “Política literária”.
O poeta municipal
discute com o poeta estadual
qual deles é capaz de bater o poeta federal.
Enquanto isso o poeta federal
tira ouro do nariz
10. Levando em consideração a leitura do poema, faz-se 
correta a afirmação presente na alternativa:
a) O poema, ao tematizar o confronto entre os poe-
tas estadual e municipal, está tratando, unicamente, 
sobre as divergências políticas que estruturam os di-
ferentes governos.
b) O poema defende que toda produção artística 
deve, necessariamente, tematizar os conflitos polí-
ticos e sociais.
c) A tentativa de “bater o poeta federal” representa 
o desejo de aprimorar os conhecimentos literários por 
parte dos poetas municipal e estadual. 
d) O ouro que é tirado pelo poeta federal de seu pró-
prio nariz representa as qualidades da poesia brasileira.
e) O poema demonstra que, assim como a política, a 
literatura também é influenciada por divergência de 
ideias e antagonismos.
11. O poema que tornou famoso Carlos Drummond de An-
drade foi “No meio do caminho” de 1928. Leia-o a seguir.
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
Sobre o poema, é possível afirmar que:
a) O poema, ao repetir as mesmas sentenças, de-
monstra que a poesia, no mundo moderno, não tem 
espaço para a inventividade. 
b) É possível perceber no poema uma ausência completa 
da figura do eu lírico, o que pode representar o mundo 
em que os objetos são mais importantes que as pessoas.
c) O impasse “encenado” no poema permite uma refle-
xão sobre a própria subjetividade do poeta e também 
das condições socioculturais em que estava inserido.
d) A questão do impasse, simbolizada pela pedra no 
meio do caminho, é uma forma de representar a crise 
criativa do autor.
e) A imagem das “retinas tão fatigadas” é uma forma 
do autor tematizar a sua própria maturidade.
GAbArito
1. A 2. E 3. C 4. E 5. D
6. B 7. E 8. A 9. E 10. E
11. C
24  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
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 V
O
LU
M
E 
1
1. Fernando Pessoa
Desejo ser um criador de mitos, que é o mistério mais 
alto que pode obrar alguém da humanidade.
– PáGinas íntiMas e de autO-interPretaçãO. FernandO PessOa. 
(textOs estabeleCidOs e PreFaCiadOs POr GeOrG rudOlF lind e 
JaCintO dO PradO COelhO.) lisbOa: átiCa, 1966. - 100.
Fernando Pessoa foi um escritor português de importân-
cia ímpar na história da literatura em língua portuguesa. 
Pessoa nasceu a 13 de Junho, em uma casa do Largo de 
São Carlos, em Lisboa. Aos cinco anos morreu-lhe o pai, vi-
timado pela tuberculose, e, no ano seguinte, o irmão, Jorge. 
Devido ao segundo casamento da mãe, em 1896, com o 
cônsul português em Durban, na África do Sul, viveu nesse 
país entre 1895 e 1905, aí seguindo, no Liceu de Durban, 
os estudos secundários. Frequentou, durante um ano, uma 
escola comercial e a Durban High School e concluiu, ainda, 
o Intermediate Examination in Arts, na Universidade do 
Cabo (onde obteve o Queen Victoria Memorial Prize, pelo 
melhor ensaio de estilo inglês), finalizando os seus estudos 
na África do Sul. No tempo em que viveu no continente 
africano, passou um ano de férias (entre 1901 e 1902), em 
Portugal, tendo residido em Lisboa e viajado para Tavira, 
na intenção de contatar

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