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A ascensao do dinheiro - Niall Ferguson-219

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história que se repetiu no mundo inteiro, de Xangai a Santiago, de Moscou à Cidade do
México. No final dos anos 1930, a maioria dos países do mundo, incluindo aqueles que
mantiveram sua liberdade política, impôs restrições sobre o comércio, a imigração e os
investimentos, algo que era de se esperar. Alguns conseguiram uma quase total
autossuficiência econômica (autarcia), o ideal de uma sociedade desglobalizada. Consciente
ou inconscientemente, durante o período de paz entre as guerras, todos os governos usaram as
restrições econômicas que tinham sido impostas pela primeira vez entre 1914 e 1918.
 
As origens da I Guerra Mundial ficaram claramente visíveis – logo depois que ela irrompeu.
Somente então o líder bolchevique, Lênin, viu que a guerra era uma consequência inevitável
de rivalidades imperialistas. Somente então os americanos liberais compreenderam que a
diplomacia secreta e o emaranhado de alianças europeias eram a principal causa do conflito.
Os britânicos e os franceses, naturalmente, culparam os alemães; os alemães culparam os
britânicos e os franceses. Há mais de noventa anos, os historiadores vêm refinando e
modificando esses argumentos. Alguns localizaram as origens da guerra na corrida do poder
naval de meados dos anos 1890; outros historiadores a eventos nos Bálcãs depois de 1907.
Então, por que, quando essas causas atualmente parecem tão numerosas e tão óbvias, os
contemporâneos ficaram tão desatentos ao Armagedon, até poucos dias antes do seu advento?
Uma resposta possível é que sua visão estava obliterada por uma mistura de liquidez
abundante e da passagem do tempo. A combinação da integração global e da inovação
financeira tinha feito o mundo parecer animadoramente seguro para os investidores. Além
disso, 34 anos já tinham transcorrido desde a última guerra europeia importante, entre a
França e a Alemanha, e ela tinha sido misericordiosamente curta. Do ponto de vista
geopolítico, sem dúvida, o mundo era tudo, menos um lugar seguro. Qualquer leitor do Daily
Mail poderia ver que a corrida armamentista europeia e a rivalidade imperial poderiam, mais
dia menos dia, provocar uma guerra importante e severa; de fato, havia um subgênero inteiro
de ficção popular baseada em guerras imaginárias anglo-alemãs. Mas as luzes nos mercados
financeiros estavam piscando verde, não vermelho, até às vésperas da destruição.
Aqui pode haver uma lição para a nossa época, também. A primeira era de globalização
financeira demorou pelo menos uma geração inteira para se materializar. Mas foi destruída em
pedaços, numa questão de dias. E seriam necessárias mais de duas gerações para consertar o
dano causado pelos canhões de agosto de 1914.
 
Pistoleiros Econômicos
 
Dos anos 1930 até o final dos 1960, as finanças internacionais e a ideia da globalização
ficaram adormecidas – alguns até as consideraram mortas.53 Nas palavras do economista
americano Arthur Bloomfield, escrevendo em 1946:

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