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história que se repetiu no mundo inteiro, de Xangai a Santiago, de Moscou à Cidade do México. No final dos anos 1930, a maioria dos países do mundo, incluindo aqueles que mantiveram sua liberdade política, impôs restrições sobre o comércio, a imigração e os investimentos, algo que era de se esperar. Alguns conseguiram uma quase total autossuficiência econômica (autarcia), o ideal de uma sociedade desglobalizada. Consciente ou inconscientemente, durante o período de paz entre as guerras, todos os governos usaram as restrições econômicas que tinham sido impostas pela primeira vez entre 1914 e 1918. As origens da I Guerra Mundial ficaram claramente visíveis – logo depois que ela irrompeu. Somente então o líder bolchevique, Lênin, viu que a guerra era uma consequência inevitável de rivalidades imperialistas. Somente então os americanos liberais compreenderam que a diplomacia secreta e o emaranhado de alianças europeias eram a principal causa do conflito. Os britânicos e os franceses, naturalmente, culparam os alemães; os alemães culparam os britânicos e os franceses. Há mais de noventa anos, os historiadores vêm refinando e modificando esses argumentos. Alguns localizaram as origens da guerra na corrida do poder naval de meados dos anos 1890; outros historiadores a eventos nos Bálcãs depois de 1907. Então, por que, quando essas causas atualmente parecem tão numerosas e tão óbvias, os contemporâneos ficaram tão desatentos ao Armagedon, até poucos dias antes do seu advento? Uma resposta possível é que sua visão estava obliterada por uma mistura de liquidez abundante e da passagem do tempo. A combinação da integração global e da inovação financeira tinha feito o mundo parecer animadoramente seguro para os investidores. Além disso, 34 anos já tinham transcorrido desde a última guerra europeia importante, entre a França e a Alemanha, e ela tinha sido misericordiosamente curta. Do ponto de vista geopolítico, sem dúvida, o mundo era tudo, menos um lugar seguro. Qualquer leitor do Daily Mail poderia ver que a corrida armamentista europeia e a rivalidade imperial poderiam, mais dia menos dia, provocar uma guerra importante e severa; de fato, havia um subgênero inteiro de ficção popular baseada em guerras imaginárias anglo-alemãs. Mas as luzes nos mercados financeiros estavam piscando verde, não vermelho, até às vésperas da destruição. Aqui pode haver uma lição para a nossa época, também. A primeira era de globalização financeira demorou pelo menos uma geração inteira para se materializar. Mas foi destruída em pedaços, numa questão de dias. E seriam necessárias mais de duas gerações para consertar o dano causado pelos canhões de agosto de 1914. Pistoleiros Econômicos Dos anos 1930 até o final dos 1960, as finanças internacionais e a ideia da globalização ficaram adormecidas – alguns até as consideraram mortas.53 Nas palavras do economista americano Arthur Bloomfield, escrevendo em 1946: