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24/08/2020 1 Teoria da Literatura Os gêneros literários: conceito e estrutura Prof. Dr. Anderson Teixeira Rolim • Unidade de Ensino: 3 • Competência da Unidade: Aprofundar a discussão sobre a ciência da literatura por meio do estudo dos gêneros literários. • Resumo: Os gêneros literários: conceito e estrutura, características e transformações ao longo dos anos. • Palavras-chave: Conceito de gênero; Problemática dos gêneros; Características dos gêneros. • Título da Teleaula: O gêneros literários: conceito e estrutura • Teleaula nº: 3 Contextualização • O que são gêneros literários? Como eles surgiram? • Qual a diferença entre eles? Eles são em quantidade definida? • O que determina um gênero? A época, o período, o autor, o leitor, o texto, o tema ou a estrutura? A definição de gêneros literários Origens O problema da classificação e definição dos gêneros literários nasce com Platão e Aristóteles na antiguidade grega e permanece gerando discrepâncias. A sociedade grega ficou conhecida pela sua perfeição e no campo da literatura foi o que esses dois primeiros teóricos tentaram fazer também. Encontrar formas perfeitas e harmônicas que exprimissem a perfeição universal e imutável. O gênero A questão do gênero é, em primeiro lugar, a questão da demarcação de uma origem, fiel, inquestionável e absoluta. Aqui é necessário ponderar que seguimos a linha teórica de reflexão que não acredita nessa origem como um marco inicial e absoluto, mas essa reflexão é pessoal e não pode ser apresentada como o único caminho teórico de leituras das questões que envolvem os problemas do gênero. 24/08/2020 2 Antiguidade clássica Os gêneros literários na antiguidade eram divididos em épico, lírico e dramático. Essa divisão tripartida se deve aos trabalhos de Platão, Aristóteles e Horácio e é seguida e mantida até os dias de hoje, temos essa divisão como fundamento do estudo dos gêneros literários. Essa foi a primeira definição e seleção (escolha) de aspectos que mereciam ser abordados durante o estudo da literatura. Finalidade do texto Os fins práticos de cada produção e sua estrutura foi o que levou os teóricos da antiguidade a classificá-los como tal. • Épico é o gênero das grandes aventuras, dos heróis e das batalhas. • Lírico é estruturado em versos, se voltava para dentro do poeta e não para fora. • Dramático tem uma composição mais específica, tendo como fundamento a encenação no palco e se volta para o público. Renascimento e gêneros Renascimento No Renascimento, o gênero literário passou a ser concebido como uma entidade substantiva, autônoma e normativa. Cada um dos três gêneros literários fundamentais se subdividia noutros gêneros menores e todos estes gêneros, maiores ou menores, se distinguiam uns dos outros com rigor e com nitidez, obedecendo cada um deles a um conjunto de regras específicas. Universal? Imutável? A proposição de que os gêneros deveriam sempre seguir uma mesma regra de ouro que servisse para todas as formas de criação artística foi sendo desmontada aos poucos. Desde a antiguidade até o renascimento essa fixidez e normatividade até puderam ter sua razão de ser, mas o avanço da história acabou desbancando essa pretensão teórica de ser universal e imutável. Imitação Basta um rápido olhar para a própria ideia de literatura na antiguidade para desmontar o conceito de gênero postulado por Aristóteles e Platão. Se, para os dois, a literatura é imitação, ou seja, se o ser humano aprende por meio da imitação, e se a literatura também é uma forma de imitação da realidade, então a literatura deveria, no mínimo, imitar a realidade de forma coerente. 24/08/2020 3 A natureza e a imitação da natureza Se a vida do homem está vinculada ao movimento natural do tempo – a ideia de que o tempo faz parte da natureza – então a produção humana também deve se alinhar à natureza que intenta imitar, ela não é alheia ao movimento natural das coisas, a própria arte é subordinada à natureza e não dona dela. Se a arte imita a natureza, qual o motivo de tentar criar um modelo de teorização que não seja consoante a natureza da vida? A lírica e a épica Lírica Lírico vem de lira, instrumento musical que acompanhava os cantos e os contos dos gregos. A poesia lírica está no fundo da tradição popular, pois é parcela inseparável das cantigas de ninar, dos hinos religiosos de adoração, dos lamentos fúnebres, dos cantos de pastores, dos hinos de vitória nos jogos, dos cantos nupciais, das louvações de amor, dos cantos corais: o lirismo coletivo que homenageava os heróis e cantava a grandeza do povo e da nação. Sentimentos individuais O lírico, por mais que cante fatos sociais ou que abarcam o coletivo, sempre será aquele que canta em seu nome, aquele que imprime seus sentimentos e opiniões próprias, sua opinião é facilmente identificada no poema, tudo o que diz respeito à sua individualidade é bem demarcado em seus versos. Épica A poesia épica era uma narrativa de fundo histórico em que se registravam poeticamente as tradições e os ideais de um povo, de um grupo étnico, sob a forma de aventuras de um ou mais heróis. As epopeias têm um herói central e narram as aventuras através das quais se afirma triunfantemente a personalidade do herói, daquele que simboliza uma raça, ou grupo étnico, ou povo. Sentimentos coletivos Esse caráter coletivo é o principal elemento definidor da épica em oposição à lírica, ou seja, o movimento de narrar (poiesis – criar, contar) se volta para o todo, para o universal, ao coletivo e não somente ao particular, subjetivo e individual. O narrador épico está para o mundo como uma máquina fotográfica, quer dizer, ele não aparece no texto, mas o que realmente importa é aquilo que ele capta do exterior de si mesmo. 24/08/2020 4 Definição de gêneros literários Resolução da situação-problema • A tentativa de definir os gêneros somente em função de seus aspectos estruturais e temáticos pode ser considerada como um recurso eficiente? • Até que ponto? • O que deve prevalecer, as teorias ou as criações? Resolução da situação-problema Apesar de sua genealogia histórica longa, a teoria dos gêneros não foi ainda resolvida pela crítica. A multiplicidade de nomes que os gêneros assumiu – espécies, tipo, modo, forma – atesta a confusão que cerca este problema crítico. Resolução da situação-problema Acreditar que um gênero se alinha a postulados fixos e rígidos, imutáveis e consagrados pela teoria é o mesmo que abandonar o percurso científico e partir para o campo do dogma. Teoria dos Gêneros O que a teoria dos gêneros oferece para a prática de análise literária? 24/08/2020 5 Expressão e composição poética Distinções Para distinguir, de forma mais completa, a poesia lírica e a épica teremos que pontuar mais algumas características concernentes às suas teorias, sua linguagem e a metáfora como forma primordial de apreensão do mundo e de expressividade poética. Começado pela teoria da poesia, a primeira e fundamental questão a se entender é sua estruturação. Um poema se constitui por versos e estrofes, podendo eles assumir diferentes extensões. Versos • Os versos possuem diferentes extensões compostas a partir das sílabas métricas (ou sílabas poéticas) e as estrofes também podem assumir diferentes extensões em termos de versos. As sílabas compõem o verso e os versos compõem a estrofe. • A rima e o ritmo são manejados pelo autor de acordo com a sua escolha e essa maestria é o que configura a beleza estrutural da composição. Expressão poética • Em relação aos outros tipos de expressão poética (conto, novela, romance etc.), há também neles a possibilidade de rimas internas, independentemente do uso do verso e da estrofe. A dificuldade e majestosidade da composição poética (poesia) reside no fato de que, quanto mais curta a extensão do texto literário tanto mais difícil a escolha dos termos para sua composição. Composição • Em termos composicionais, quer dizer, em se tratando da complexidade da criação poética (literatura), temos que entender que os diferentes gênerosdemandam habilidades específicas de cada tipo de autor. Cada autor, embora tenha características únicas, deve seguir um padrão quando se propõe a elaborar (criar) um texto literário. Aqui nos interessa a forma de criação da poesia e nos utilizaremos da prosa como contraponto de exemplificação. O drama 24/08/2020 6 Cena O drama, como forma de expressão artística e literária tem seu início com os gregos e a palavra designava um texto poético ou prosaico criado para ser encenado. Não se trata, aqui, de uma forma de adaptação – como ocorre diariamente nos tempos atuais – do texto para a encenação, mas uma forma de texto própria e pronta para ser encenada. Interação com o público A finalidade última do texto dramático é o palco e a interação com o público, sempre visando gerar algum tipo de reação. O mesmo já acontecia com o texto escrito, mas o som, a voz, a palavra viva e presente, assim como a ação e a caracterização não chegavam a assumir formas no sentido físico, somente na imaginação do autor e do leitor. Imitação aristotélica Se pensarmos nos estudos aristotélicos sobre a origem da obra de arte, temos sua afirmação sobre a necessidade humana de imitação. Necessidade, capacidade e regozijo em imitar, seja a natureza, seja criações abstratas. Catarse O drama é – como bem definido pelos gregos – a representação (imitação) através dos movimentos (sons, fala e também caracterizações). Diferentemente das outras formas de escrita, a escrita dramática visa à reação imediata do público, visa a sua reação e sua emoção no imediato momento de sua apresentação. Representação e encenação A história do teatro remete aos primórdios das civilizações. Essa necessidade de expressão, ou melhor, essa capacidade humana de transportar informações por vias da representação é a grande origem da expressão artística. Captar uma informação, transportá-la e representá-la posteriormente foi o que garantiu ao ser humano a capacidade de lidar com situações que proporcionaram sua evolução. O uso da expressão aliado à memória é o que garante a socialização como forma de vivência. História do teatro 24/08/2020 7 Assim como os outros gêneros descritos por Aristóteles, o drama também se apoderou – e talvez tenha sido o primeiro a fazer isso – dessa capacidade humana de representar e expressar com a finalidade de comunicar ao outro. Se o drama e o teatro tinham, no princípio, a finalidade de comunicar algo, com o passar do tempo e com o aprimoramento da capacidade humana, então passou, também, a se preocupar com a qualidade da informação transmitida, bem como com a qualidade da representação dessa informação. Informação e representação A encenação surgiu com o mito, com o sagrado que, nas crenças autóctones, tiveram o papel de encenar a criação do mundo. Em muitas comunidades primitivas, os líderes religiosos tinham o papel – junto da comunidade – de encenar (em datas específicas) a recriação do mundo. Mitologia Historicamente, temos os primórdios do teatro, com: • os povos autóctones, na esfera do sagrado; • os gregos, em ambas as esferas (sagrado e cotidiano); • a igreja, somente com o sagrado; e • o período medieval, com a lenta dissipação entre sagrado e profano (corriqueiro, que não diz respeito à religião/deidade). Sagrado e Secular As especificações do drama • Poesia, prosa e drama são tão distantes entre si como defende a teoria clássica? • Quais são os pontos de contato e distanciamento entre os gêneros clássicos? Resolução da situação-problema Texto escrito em versos ou prosa para serem encenados. Não é adaptação, mas uma forma própria de texto e pronta para o palco. Não há o distanciamento entre o texto e o leitor, existente nos outros gêneros. O teatro é feito ali e naquele momento, diante dos olhos. Sua finalidade é o palco e a interação com o público, visando gerar uma reação imediata. É o gênero das emoções. É a representação (imitação) através dos movimentos (sons, fala e também caracterizações) O DRAMA 24/08/2020 8 Os gêneros clássicos hoje Os gêneros clássicos definidos por Aristóteles ainda existem como tal? A definição aristotélica ainda é válida? Afinal, ainda é cobrada no vestibular. Revisão • A teoria dos gêneros começa com Platão e Aristóteles. • A lírica remete aos sentimentos individuais. • A épica remete aos sentimentos coletivos. • O drama visa o efeito catártico. Revisão Referências: • MOISÉS, Massaud. A criação literária: introdução à problemática da literatura. São Paulo: Melhoramentos, 1973. • PAULA, Laura da Silveira. Teoria da literatura. Curitiba: Ibpex, 2011. • SAMUEL, Rogel. Novo manual de teoria literária. 6a. Ed. Rev. e Ampliada. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. • STAIGER, Emil. Conceitos fundamentais da poética. Tradução de Celeste Aída Galeão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977.