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Teoria da Literatura A natureza do fenômeno literário Prof. Dr. Anderson Teixeira Rolim • Unidade de Ensino: 1 • Competência da Unidade: Refletir sobre a ciência da literatura e o conceito de obra literária, bem como conhecer as especificidades do texto literário. • Resumo: A natureza do fenômeno literário. O surgimento da literatura e o desenvolvimento de suas características. • Palavras-chave: Conceito de literatura; Literariedade; Desenvolvimento da literatura. • Título da Teleaula: A natureza do fenômeno literário • Teleaula nº: 1 Contextualização • O que constitui uma obra literária? • Quais os seus aspectos formais, temáticos ou físicos? • O que difere um texto literário de um texto não literário? Literatura Moisés (1973) defende a origem da literatura em função da letra escrita e da forma impressa. Defende também que a literatura oral não é a primeira expressão da arte literária e lhe designa papel secundário. Pode ser a origem da literatura concomitante ao surgimento da palavra escrita; no entanto, não haveria escrita sem fala e vice-versa. Elas se completam e são responsáveis por organizar o pensamento, a linguagem e a forma pela qual se depreende o mundo. O que é Literatura? O que é Literatura? Há na literatura o caráter subjetivo (individual), mas também o objetivo e universal (a língua como organização de pensamento e de mundo). A função das línguas fornece o primeiro passo para o entendimento da função e definição de literatura. O que é Literatura? Ela nos proporciona sensações insubstituíveis que fazem o mundo real se tornar mais pleno de sentido e mais belo. Longe de ser um simples entretenimento, uma distração reservada às pessoas educadas, ela permite que cada um responda melhor à sua vocação de ser humano. • A literatura universal deve sua primeira definição ao funcionamento das línguas como forma de organizar a ideia de mundo da qual partilhamos enquanto seres humanos. A busca por uma ciência da literatura, impregnada de valores e constatações ainda está em constante reformulação. O que é Literatura? Ciência da Literatura Literatura e sociedade Literatura Ciência moderna; Variados saberes; Produto social; Reflexo de uma cultura, de um povo. Ciência da Literatura • Pensar a literatura em função da língua, da forma de organização do pensamento e da apreensão da realidade fundamentados pela filosofia grega é uma das formas de se entender o fazer literário e seus pontos comuns à grande parte do mundo. Ciência da Literatura Literatura e crítica Língua Cultura Pensamento Ciência da Literatura • A literatura não se deixa limitar enquanto ciência, pois seu objeto de analisar, o ser humano, não é tão fixo e tão universal como a lei da gravidade, por exemplo. Por isso, deve ser estudada e analisada por meio de métodos diferenciados. LÍNGUA CULTURA PENSAMENTO Ciência da Literatura • A literatura é universal, capaz de tocar o ser humano independente de sua posição geográfica, social ou econômica; • Permanece no tempo; • É subjetiva. Seu entendimento perpassa o seu autor e a sociedade na qual está inserida. O texto literário Funções da Literatura Para Antonio Candido, a Literatura é vista como a arte que transforma/humaniza o homem e a sociedade e as suas funções são duas: 1. satisfazer a necessidade universal de fantasia 2. contribuir para a formação da personalidade Características da obra literária • Capacidade de permanecer no tempo: tocar o leitor apesar do passar dos anos, transcende a temporalidade; • Universalidade: atinge todos os leitores, independente de localização geográfica, sociedade, época. Características da obra literária • Linguagem literária: artística, excepcional, específica, ornada, escolhida, subjetiva, plurissignificação, não almeja ser concisa nem linear nem revelar verdades e pensamentos fechados. O texto literário Autor TextoLeitor Processo dialético Unidade mínima de expressão na qual um autor tenta significar e expressar algo através de determinados conteúdos e formas. Literatura na sala de aula Joana é professora de Literatura para uma turma de 3º ano do ensino médio. No seu planejamento para todo ensino médio, os conceitos literários fazem parte das bases e estão distribuídos no 1º ano. É nesse momento, em que o conteúdo se adensa e os alunos percebem a chegada do vestibular, que as questões começam a aparecer. Dentre elas, uma aluna fez as seguintes perguntas: • Professora, qual é a diferença entre Dom Casmurro, de Machado de Assis, e a série que eu assisto na internet? Os dois são literatura? • Professora, qual é a diferença entre a poesia e a prosa mesmo? Resolvendo a situação-problema O professor pode responder à dúvida da aluna indicando que ambos são expressões da Arte, contudo a série tem mais elementos, como vídeo e áudio, que a diferenciam do texto literário, impresso ou digitalizado. Assim, a série não é uma exemplo de Literatura, enquanto a obra machadiana é um dos alicerces da Literatura Brasileira, o que se percebe pela sua presença constante em exames vestibulares. Resolvendo a situação-problema Em resumo, pode-se dizer que a diferenciação básica entre poesia e prosa não se limita à forma. Há poesia prosaica e há prosa poética. Parece mais seguro o fator intrínseco de que o poeta se volta para os problemas da alma, do eu, para os assuntos metafísicos da existência enquanto o prosador se volta para o outro, para o mundo e a vida em si. A Literatura hoje A Literatura no Brasil é bastante diversa e tem seus representantes regionais, assim como é celebrada e traduzida noutros contextos sociais, econômicos, linguísticos e geográficos. Quais as características gerais da Literatura Brasileira que é produzida hoje? Quais autores representam nosso contexto histórico? Aspectos do texto literário Movimento dialético O texto é um movimento dialético entre o autor e o mundo (que por si só já configura um grande texto em potencial esperando para ser captado pela sensibilidade artística), mas não só, o texto também configura uma relação dialética entre ele e os demais textos, bem como entre o mundo e o autor e o mundo e o leitor. Verossimilhança • Vero (verdade) + similhança (semelhança) = semelhante ao verdadeiro, parecido com o real; crível, acreditável. • Atributo daquilo que parece intuitivamente verdadeiro, isto é, o que é atribuído a uma realidade portadora de uma aparência ou de uma probabilidade de verdade, na relação ambígua que se estabelece entre imagem e ideia. Obra literária Leitura contextual FicçãoLeitura textual Elementos fundamentais do texto literário Leitores e Autores O primeiro e mais importante aspecto a ser exposto sobre a obra de arte ou, neste caso, sobre a literatura é o fato de que ela não existe isoladamente, depende de outros textos, de vários autores, de vários leitores, do contexto histórico-temporal e geográfico em que se produz. A literatura é um organismo vivo e sua função é manter relações com todos esses elementos. Sistema vivo A Literatura é [...] um sistema vivo de obras, agindo umas sobre as outras e sobre os leitores; e só vive na medida em que estes a vivem, decifrando-a, aceitando-a, deformando-a. A obra não é produto fixo, unívoco ante qualquer público; nem este é passivo, homogêneo, registrando uniformemente o seu efeito. São dois termos que atuam um sobre o outro, e aos quais se junta o autor, termo inicial desse processo de circulação literária, para configurar a realidade da literatura atuando no tempo. (CANDIDO, 2000, p. 68) O papel do leitor O leitor é quem ajuda o autor a construir seu texto literário. A palavra do autor sobre seu próprio texto não pode ser autoritária e nem tomada como a última palavra sobre o assunto. O autor (pessoa física), depois de escrever e lançar o texto ao leitor, não é mais o dono (do destino) da obra em si. Isso é que permite a literatura ser tão dinâmica e receber novas significações a cada novo período ou geração de leitores. A construçãovirtual dessa teia de relações mantidas pelo texto deve-se sobretudo ao leitor e ao autor. O autor O escritor, numa determinada sociedade, é não apenas o indivíduo capaz de exprimir a sua originalidade (que o delimita e especifica entre todos), mas alguém desempenhando um papel social, ocupando uma posição relativa ao seu grupo e correspondendo a certas expectativas dos leitores e auditores. A matéria e a forma de sua obra dependerão em parte da tensão entre as veleidades profundas e a consonância ao meio, caracterizando um diálogo mais ou menos vivo entre criador e público. (CANDIDO, 2000, p. 67-68) Contexto e linguagem A relação entre autor e leitor A relação entre o autor, seja ele função do texto ou não, com o leitor e o mundo pode ser percebida e abstraída através da análise crítica do código e do estilo empregados por ele. Não há um fenômeno de código e estilo isolado que esteja fora da relação social com o mundo. Por mais que se negue, a influência acontece, mesmo que inconscientemente. A Escrita Essas relações entre tais elementos configuram um prato cheio para a análise da história literária que tem por objetivo o estudo das relações mantidas através do tempo com tais elementos. Cabe aqui uma breve pergunta retórica: A literatura é dependente da relação entres os seres humanos ou podemos pensar que existe algum fenômeno literário totalmente desgarrado daquilo que entendemos como realidade social? Arte revolucionária O problema da história da literatura no mundo moderno não é o de saber qual é o papel da literatura, mas o de lutar por seu direito à existência. Não se trata de encontrar um lugar para a literatura, mas de lutar para que a literatura continue fazendo o que sempre fez: ser a ‘consonância’ de todos. Sua função de arte é ser revolucionária: quando ela entre nos meios de produção industrial ou nos museus, já está morta, não é revolucionária, já não está viva. (SAMUEL, 2011, p. 115) Arte revolucionária Eagleton (2006) trata dos valores que nós leitores carregamos conosco e que nos servem de “molde” para compreender ou vislumbrar o mundo e tudo que nos cerca. Subjetivamente nós carregamos valores que foram aprendidos na família ou em sociedade e essas estruturas, que para nós é muito estável, são fortemente influenciadas pelo momento histórico em que vivemos ou pelo qual passamos e a sociedade em que estamos inseridos. O contexto em que recebemos uma obra é dialógico e dinâmico, assim como essas ideologias que permeiam o contexto e o mundo. Cânone Joana sempre recebe com atenção as perguntas dos alunos do 3º ano. Ela utiliza a lista de livros do vestibular no seu planejamento anual de leituras com a turma. Na apresentação da lista, um dos seus alunos perguntou o motivo dessas obras serem escolhidas em detrimento de outras. • Professora, por que certos autores estão sempre na lista do vestibular? • O que essas obras têm de diferente das outras que não são escolhidas? Resolvendo a situação-problema Joana respondeu apontando que cada instituição tem autonomia para a seleção das obras de Literatura a serem exigidas no vestibular. À parte disso, todas essas obras são canônicas. O cânone é sempre formado pelas leituras tidas como mais pertinentes para a compreensão do texto em si, o que por natureza sugere ser o cânone um lugar comum entre os teóricos. A literatura no vestibular Quais obras da Literatura Brasileira são indispensáveis para o vestibular na sua opinião? Você considera adequada a seleção de obras canônicas ou outras obras desconhecidas deveriam também ser incluídas? Nesse caso, essas obras também se tornariam cânone? Revisão Revisão • A literatura é um fenômeno social que se dá em consonância com o contexto de produção e de recepção. • A literatura surge da necessidade humana de se expressar e dar forma a realidade. • A literatura se relaciona com a língua, linguagem, cultura, arte e sociedade. • A sociedade determina, até certo ponto, o fazer não só literário, mas o artístico de modo geral. Referências: ARISTÓTELES; HORÁCIO; LONGINO. A poética clássica. Tradução direta do grego e do latim por Jaime Bruna. São Paulo: Cultrix, 1997. BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013. BRANDÃO, Ignácio de Loyola. Zero. São Paulo: Global, 2010. CANDIDO, Antônio. Literatura e sociedade. São Paulo: Publifolha, 2000. COMPAGNON, Antoine. O demônio da teoria: literatura e senso comum. Belo Horizonte: UFMG, 2010. DERRIDA, Jacques. Gramatologia. São Paulo: Perspectiva, 2004. EAGLETON, Terry. Teoria da literatura: uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, 2006. Referências: FOUCAULT, Michel. O que é um autor? Lisboa: Passagens, 1992. LUKÁCS, György. A teoria do romance: um ensaio histórico-filosófico sobre as formas da grande épica. São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2000. MOISÉS, Massaud. A criação literária: introdução à problemática da literatura. São Paulo: Melhoramentos, 1973. PAULA, Laura da Silveira. Teoria da literatura. Curitiba: Ibpex, 2011. SAMUEL, Rogel. Novo manual de teoria literária. 6. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2011. TODOROV, Tzvetan. As estruturas narrativas. São Paulo: Perspectiva, 1969. TODOROV, Tzvetan. A literatura em perigo. Rio de Janeiro: Difel, 2009. p.23.