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o 8ehaviorismo na Teoria das Organizações Fernando C. Prestes Motta * 1. Origens. 2. As Grandes Figuras do Behavioris- mo. 3. Idéias Centrais do Behaviorismo. 4. O Behaviorismo e a OrganizaçéIo. 5. Criticas. A grande importância do behavíorísmo na Teoria das Organiza- -ções parece estar no seu rompimento com os enfoques prescri- tivos ingênuos das escolas de administração científica e rela- -ções humanas. Parece ser ainda com o behaviorismo que se dá a incorporação -da sociologia da burocracia, ampliando o campo da teoria, outro- ra restrita à emprêsa, a tôda e qualquer organização, embora tal ampliação se sedimente com o estruturalismo e o enfoque .sístêmíco. 'Todavia, para o administrador de emprêsas, a maior qualidade do behaviorismo, está na objetividade com que seus maiores ex- poentes vêem a organização, fornecendo-lhe um quadro de re- ferências, realista, que abrange desde o comportamento admi- nistrativo até quaisquer processos organizacionais, sejam de origem individual, grupal ou formal. * Professor-assistente do Departamento de Administração Geral e Rela- ções Industriais da Escola de Administração de Emprêsas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas. . :R. Adm. Emp., Rio de Janeiro, 10(2): 97-113, jul./set. 1970 Neste artigo pretendemos dar uma visão global dessa corrente do pensamento administr.ativo, através da apresentação de suas origens, suas principais figuras, suas teses centrais e de seu modo de ver a organização. Além disso, citamos algumas críti- cas formuladas ao behaviorismo, em sua parte final. 1. Origens A oposição à Escola Clássica sustentada pela de Relações Hu- manas evolui para um segundo estágio, a que podemos chamar behavíorismo que, embora compartilhasse da maioria das idéias de Relações Humanas, não aceitava sua concepção ingênua de que a satisfação do trabalhador gerava por si só a efíciência.' ~ preciso, contudo, não confundir o behaviorismo na teoria das organizações -com a corrente homônima na psicologia, que teve como origem os trabalhos de Watson, embora a ênfase no com- portamento seja comum a ambas. De modo geral, podemos dizer que a psicologia social orientada para a pesquisa originou-se no movimento behaviorista de Watson. A experimentação de grupo foi sistematizada por F. H. Allport e integrada teoricamente em um trabalho, de sua autoria, publicado em 1924. Entretanto, o behaviorismo de Watson, baseando-se na mecânica newtoniana, não é adequado para o tratamento de problemas organizacionais e estruturais. A fórmula estímulo-resposta parece ser estática, constante e atomista demais. As relações características de um campo de fôrças que afetam os elementos componentes, são ignoradas. A natureza constante atribuída à relação estímulo- resposta produz descrições do fenômeno social que nem sempre são acuradas e são também freqüentemente inadequadas. Além disso, a própria definição de estímulo toma difícil a apli- cação da teoria à realidade social. O estímulo é uma forma de energia física que pode ser manipulada e controlada no labora- tório. Na situação social, entretanto, as dimensões do estímulo não podem ser especificadas de modo comparável. Conseqüen- temente, a abordagem behaviorista de F. H. Allport (1924) e de Miller e Dollard (1941) toma difícil a identificação dos estí- 1 WAHRLICH, Beatriz M. de Souza. Uma Análise das Teorias de Organi- zação. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1969, p. 77 e 78. 98 Revista de Administração de Empr~sas -------------------------~ mulos sociais, que são importantes mesmo para seu arcabouço teórico. No laboratório controlamos o refõrço administrado para certos tipos de respostas, mas na situação social não pode- mos predizer, satisfatoriamente, porque não podemos identifi- car, previamente à resposta, a natureza do refõrço para o indi- víduo. Isto é menos verdadeiro em situações mais restritas de aprendizado, tais como a sala de aula ou o lar, mas, mesmo nessas situações, os conceitos de refôrço apresentam dificul- dades de aplicação.s Segundo os behavioristas da teoria das organizações, os clás- sicos falharam ao descuidar-se da análise das decisões e dos limites da racionalidade impostos por qualificações, hábitos, va- lôres e conhecimento, bem como ao tentarem impor princípios rígidos à administração. Na verdade, a maioria dos chamados princípios são como provérbios, isto é, existem aos pares, ou seja, para cada princípio de administração existe um outro que lhe é contraditório. Assim, por exemplo, o princípio de especialização é incompatí- vel com o de unidade de comando. Se as decisões de uma pes- soa, em qualquer ponto da hierarquia administrativa, acham-se sempre sujeitas à influência de um único canal de autoridade e se, por outro lado, suas decisões requerem perícia em mais de um campo de conhecimento, então precisa lançar mão de serviços de assessoramento e informações que forneçam pre- missas oriundas de um campo não abrangido pelo sistema de especialização da organízação.s A introdução do elemento humano pela Escola de Relações Hu- manas veio amenizar o tratamento mecanicista dado à adminis- tração pelos clássicos, embora Mayo tenha mostrado mais o que não era verdadeiro a respeito do comportamento humano na organização do que o que era. Os behavioristas surgem com um nôvo padrão de teoria e pesquisa, tentando livrar-se das idéias preconcebidas da Escola de Relações Humanas e desen- volver uma atitude analítica e experimental, tendência na qual 2 KATZ,Daniel e KAHN,Robert L. The Social Psychology 01 Organiza- tions, Nova Iorque, John Wiley and Sons, 1967, p. 2. 3 SIMON,Herbert A. Comportamento Administrativo. Rio de Janeiro, Fun- dação Getúlio Vargas, 1965, p. 24 a 27. Julho/Setembro 1970 99 já se enquadravam os famosos estudos a respeito dos efeitos dos climas sociais, inspirados por Lewin e comandados por White e Lippitt, que analisaram as reações de subordinados às lideranças autocrática e democrática em três climas sociais diversos} e fi 2. As Grandes Figuras do Behaviorismo o maior expoente da escola behaviorista é sem dúvida alguma Herbert Simon, do Camegie Institute of Technology. Seus dois livros mais importantes são Comportamento Administrativo, publicado em 1945.e Teoria das Organizações, publicado em 1958, em co-autoria de James March. Publicou ainda outros livros, entre os quais, os mais divulgados são Administr.!lção Pública, em co-autoria de Smithburg e Thompson, e A Capacidade de Decisão e Liderança, publicados respectivamente em 1950 e 1960. Na obra de Simon merece especial destaque o tratamento dado ao processo de tomada de decisão e aos limites da racionalidade. O Comportamento Administrativo foi apresentado ao público por outro grande teórico das organizações, que parece ter sido o inspirador de Simon; trata-se de Chester Bamard, ex-presidente da Rockefeller Foundation. A obra capital de Chester Bamard é The Functions of the Executive, publicado em 1938, como resultado da revisão e ampliação de um manuscrito preparado para oito palestras no Instituto Lowell de Boston. Outro livro interessante do autor é Organízatíon and Manage- ment, uma coletânea de seus escritos publicada em 1947. Na obra de Chester Bamard destaca-se o tratamento da tomada de decisões como centro da administração e sua colocação teórica ampla e inovadora do. conceito de autoridade. • LEAVIT; Harold. The Social Science of Organízatíons, p. 14. In: WAHR- I:ICH, Beatriz M. de S.:urna Análise das Teorias de Organizaçlio. p. 77, op. cito fi .BLÁtT,Peter .M. e SCOTT,W. Richard. Organizações Formais. São Paulo, EditOra Atlas, 1970, p. 145. 100 Revista de Administração de Empr~as· Embora êsses dois teóricos sejam os mais característicos do movimento behavíorísta, outros há, também de grande impor- tância, que podem ser classificados nessa mesma linha. Entre êles destacam-se indiscutivelmente Elliot Jaques, Chris Argyris, Rensis Likert e Douglas McGregor, que tratam de problemas diretamente ligados à eficiência explorando áreas como a mo- tivação, a tensão e o conflito entre necessidadesindividuais e organizacionais. o trabalho de Rensis Likert teve o condão de desmistificar um dos princípios mais sagrados da Escola de Administração Cien- tífica, ou, mais exatamente, o da amplitude de contrõle. De fato, uma pesquisa sua de grande importância demonstrou que supervisores bem sucedidos não obrigavam seus subordi- nados a prenderem-se a ciclos de trabalho estritos, dedicando-se com empenho à formação de grupos de trabalho. Se tivermos uma hierarquia estreita e alongada, como reza o princípio de amplitude de contrôle, teremos muitos níveis de autoridade e os supervisores tenderão a controlar mais estreitamente seus subordinados, que por sua vez tenderão a procurar agradar o chefe, tendo pouca oportunidade de tomar iniciativa e de assu- mir as responsabilidades necessárias ao desenvolvimento de suas capacidades. Extremamente importante para o desenvolvimento do beha- viorismo é também a formulação da Teoria Y de McGregor. Se- gundo êsse autor, a ação administrativa estêvepor muito tempo fundamentada nos pressupostos do que êle chamou Teoria X, que corresponde à Escola de Administração Científica. A ideo- logia da teoria X pode ser resumida na afirmação de que o ser humano é avêsso ao trabalho e o evitará sempre que puder e, por conseguinte, a administração precisa incrementar a produ- tividade, os esquemas de incentivos e denunciar a restrição voluntáría." A essa toeria, McGregor contrapõe a teoria Y. 6 PUGH, D. S., HICKSON,D. J, e HININGS,C. R. Writers Organizations - An Introduction. Londres, Hutchinson and Co. Publíshers, 1964, p. 74, In: WAHRLICH,Beatriz M. de S. Op. cit., p. 81. Julho/Setembro 1970 101 As linhas gerais dessa teoria serão expostas a seguir. 1. A administração á responsável pela organização dos ele- mentos produtivos da emprêsa: dinheiro, materiais, equipa- mentos e pessoas, para que esta atinja seus fins econômicos. 2. As pessoas não são passivas ou resistentes às necessidades da organização, por natureza. Elas tornam-se assim por sua experiência em outras organizações. 3. A motivação, o potencial de desenvolvimento e a capacida- de de assumir responsabilidades e dirigir o comportamento para os objetivos da organização estão todos presentes nas pessoas. :esses fatôres são criados nas pessoas pela adminis- tração. É responsabilidade dela proporcionar condições para que as pessoas reconheçam e desenvolvam, por si próprios, essas características. 4. A tarefa essencial da administração é criar condições orgâ- nicas e métodos de operação em que as pessoas possam atingir melhor seus objetivos, orientando seus esforços em direção aos objetivos da organização. A administração é, precipuamente, um processo de criação de oportunidades, de realização de potenciais, de remoção de obstá- culos e de encorajamento ao crescimento." Tal formulação de McGregor tem muito a ver com a "adminis- tração por objetivos" de Peter Drucker, no que se refere à con- cepção da natureza humana e das funções da administração." 3. Idéias Centrais do Behavíerísmo 3.1. O HOMEM ADMINISTRATIVO o behaviorismo, embora extremamente preocupado com o as- pecto racional do comportamento humano, rejeita o modêlo T MCGREGOR,Douglas. O Lado Humano da Emprêsa, In: BALCÃO,Yolanda Ferreira e CORDEIRO,Laerte Leite. O Comportamento Humano na Emprêsa. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1967, p. 43. 8 Ver LODI,João Bosco. Introdução à Obra de Peter Drucker, Revista de Administração de Emprêsas, Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1968, n· 29. 102 Revista de Administração de Emprêsas ------------------- -- simplista do homo eoonomicus, no qual se baseia a Escola de Administração Científica. Nessa sua reformulação, não adota a posição limitada da Escola de Relações Humanas, que apenas introduz o elemento humano, dotado de sentimentos e motivos, mas vai além, dando especial atenção à propriedade humana da adaptabilidade. Para os behavioristas, os homens se comportam racionalmente apenas com relação a um conjunto de dados característicos de determinada situação. Esses dados compreendem o conheci- mento de eventos futuros ou das distribuições de probabilida- des relativas a êles, o conhecimento de alternativas de ação dis- poníveis e o conhecimento das conseqüências dessas alternati- vas, conhecimento êsse que pode ser mais ou menos completo, além de regras ou princípios segundo os quais o indivíduo esta- belece uma ordem de preferência para as conseqüências ou al- ternativas. Ê:sses quatro conjuntos de dados definem a situação tal como se apresenta ao agente racional. Para a previsão do comporta- mento dêsse agente, será essa a especificação de que neces- sitamos e não simplesmente a especificação da situação tal como ela realmente é, ou, mais precisamente, tal como se apre- senta a terceiros. Os passos que conduzem o agente a definir a situação de deter- minada maneira envolvem um complexo entremeado de proces- sos efetivos e cognitivos. O que uma pessoa deseja e aprecia influencia o que vê; e o que vê, o que deseja e aprecia. A Es- cola de Administração Científica deixou de revelar explicita- mente êsses aspectos subjetivo e relativo da racionalidade. Essas variáveís, para March e Simon, não podem ser tratadas como fatõres independentes inexplicados, mas têm que ser determi- nadas e previstas pela teoria," 3.2. o PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO Antes de Barnard e Simon, muito pouca importância havia sido dada ao processo de tomada de decisão. Assim, embora tõda a 9 MARCH, James e SIMON,Herbert. Teoria das Organizações. Rio de Ja- neiro, Fundação Getúlio Vargas, 1970, p. 195, 196 e 212. Julho/Setembro 1970 103 organização seja permeada por decisões e ações, quase tõda a atenção era dada às últimas e muito pouca às primeiras. O beha- viorismo veio preencher essa lacuna teórica, colocando grande: ênfase no processo de tomada de decisão, que considera central na administração. Esse processo decisório envolve a seleção consciente ou incons- ciente de determinadas ações entre aquelas que são fisicamente possíveis para o agente e para aquelas pessoas sõbre as quais êle exerce influência e autoridade. Há, portanto, um grande número de ações alternativas possíveis, que são reduzidas pelo indivíduo àquela que será de fato levada a efeito. Parece im- portante salientar que tal seleção não será necessàriamente consciente, deliberada e racional. Em uma organização, da mesma forma que existe uma hierar- quia de objetivos e de cargos, há também uma hierarquia de decisões, de modo que decisões minuciosas que governam ações específicas, são, inevitàvelmente, originadas da tomada de de- cisões mais amplas. Isto significa que a maioria das decisões provocará outras quando tomadas, e que quanto mais ampla fõr uma decisão tomada, maior tenderá a ser o número de outras decisões que provocará. Essa hierarquia de decisões está inti- mamente relacionada com a hierarquia de objetivos que procura satisfazer. Quando as decisões levam a objetivos últimos elas podem, de modo geral, ser chamadas de juízos de valor e quando impli- cam na implementação de tais objetivos, de juízos de fato, em- bora devamos chamar a atenção do leitor para o fato de que há sempre juízos de valor associados a meios e juízos de fato asso- ciados a fins. A realização completa ou perfeita dos objetivos é pràticamente impossível por meio das decisões, já que o ambiente e, mesmo as condições internas dos seus agentes, limitam-se às alterna- tivas disponíveis. De forma geral, podemos dizer que a decisão pode, na melhor das hipóteses, representar a melhor solução encontrada em determinadas circunstâncias. A descoberta da melhor solução para um problema em uma dada situação é um aspecto típico do comportamento dos líderes. É 104 Revista de Administração de Empr~sas por essa razão que a capacidade de tomar decisões é de im- portância crítica em qualquer situação de liderança. Tal capa- cidade depende de uma propensão ou impulsão para a decisão e uma habilidade em torná-la." Até certo ponto essa capacidade de tomar decisões é um atri-buto individual, mas sua tendência é em direção à difusão por tôda a organização, de modo que a organização com maior ca- pacidade de decisão terá maiores possibilidades de sobrevivên- cia e desenvolvimento. Os próprios processos administrativos são processos decisórios da organização, que substituem pro- cessos decisórios independentes. Da mesma forma que a organização decide no que se refere à es- pecificação de funções e ao estabelecimento de limites à ação, ela também distribui autoridade entre seus membros para tomar novas decisões, de modo que decisões que requeiram perícia em um campo determinado sejam tomadas por peritos nesse campo. A autoridade é, portanto, responsável pela flexibilidade na divisão da tarefa de tomada de decisões. 3.3. AUTORIDADE E ACEITAÇÃO Os behavioristas dão grande ênfase à aceitação de normas e ordens pelas pessoas, ao tratar de autoridade. Simon, Smith- burg e Thompson reconhecem que há pelo menos duas formas de se encarar a autoridade, isto é, como um fenômeno legal e como um fenômeno psicológico, preferindo adotar a segunda, de acôrdo com a qual, sob certas circunstâncias, as pessoas aceitam as ordens e as decisões de outras. Segundo aquêles autores, tais circunstâncias são as seguintes: 1. A pessoa pode examinar o mérito da proposição e na base dêsse mérito convencer-se de que a deve executar. 2. Pode executar proposições sem estar completamente con- victa, ou mesmo parcialmente convicta de seu mérito. 3. A pessoa pode executar a proposição, mesmo convencida de que está errada. 10 BARNARD, Chester. Organization and Management. Cambridge, Harvard University Press, 1956, p. 94. Julho/Setembro 1970 105 Os motivos pelos quais as pessoas aceitam ordens e decisões definem as relações de autoridade, como segue: Autoridade por confiança Muitas vêzes as pessoas aceitam as proposiçoes daqueles em quem depositam grande confiança, em função de sua atuação anterior, de sua reputação geral e de outros fatôres. Assim, um diretor pode assinar uma ordem de compra de equipamen- to, preparada por sua secretária, sem examiná-la, por ter con- fiança na capacidade dela tomar decisões nesse campo. Autoridade por identificação As pessoas tendem a admitir mais prontamente a autoridade advinda de uma pessoa ou grupo de pessoas com quem se sintam identificadas profissionalmente, socialmente, ou de outra forma qualquer. Por esta razão, uma pessoa pertencente a dois grupos diferentes, converte-se freqüentemente em importante meio de comunicação e de influência entre ambos. Autoridade por sanções As pessoas podem obedecer em função de recompensas ou por mêdo de punições. Muitas vêzes, porém, certas circunstâncias da organização impedem a utilização de determinadas sanções. Uma pessoa pode ter a seu cargo um número de tarefas para o desempenho das quais depende de empregados de outra unida- de, aos quais não pode aplicar nenhuma sanção eficaz, toman- do-se necessário recorrer a outras fontes de autoridade. Cumpre lembrar que punições também podem partir dos su- bordinados, agindo como um instrumento de não-aceitação de uma ordem ou decisão. Greves, atrasos propositais, retarda- mento deliberado do serviço, são exemplos dêsse tipo de reação. Autoridade por legitimação Muitas vêzes as pessoas obedecem porque sentem que devem fazê-lo, em função de se sentirem obrigadas a seguir as regras 106 Revista de Administração de Empr~sas do jôgo. Tal atitude, baseada em condicionamento social, é a mais comum entre os subordinados e seus superiores." Chester Bamard explica a autoridade através da gênese da or- ganização. Segundo aquêle autor, as organizações complexas surgem da agregação das unidades organizacionais. Tais unida- des trazem, portanto, como sua parte integrante, a autoridade. Assim, a decisão sõbre a autoridade de uma determinada ordem é das pessoas a quem é dirigida e não das que a emitem. As pessoas aceitarão ordens ou não, aquêles que as emitirem observarem as seguintes condições: 1. A ordem deve ser dada em uma linguagem inteligível para quem a recebe. 2. A pessoa que a recebe deve acreditar que ela se harmoniza com seus interêsses pessoais. Se acreditar que envolve um ônus que destruirá a vantagem resultante de sua ligação com a organização, não haverá mais estímulo para que continue prestando sua colaboração. 3. A pessoa que recebe a ordem precisa acreditar que ela con- corda com os objetivos da organização. 4. A ordem deve ser dada a um indivíduo que esteja física e mentalmente em condições de executá-la." 4. O Behavíorismo e a Organização Os behavioristas vêem a organização como um sistema coope- rativo racional. Simon, Smithburg e Thompson definem-na como um sistema planejado de esfôrço cooperativo, no qual cada par- ticipante tem um papel definido a desempenhar e deveres e ta- refas a executar. De modo semelhante, Chester Bamard a defi- ne como um sistema de fôrças ou atividades conscientemente coordenadas, de dois ou mais indivíduos. 11 SIMON, Herbert A., SMITHBURG,Donald W. e THOMPSON.Victor A. Administraci6n Pública. São João, Edições da Universidade de porto Rico, 1956, p. 196. 12 BARNARD,Chester. The Functions of the Executive. Cambridge, Har- vard University Press, 1958, p. 165 e 166. Julho/Setembro 1970 107 '"oo ~::J '"UJ~ '"o >t:O<: u '"UJ~n, '"UJ::Jo f2 ZUJ . ...-;:Ez OUJ«-u '"« O:E ~UJUJf- f-OZ '" UJ- U '" Z oUJ",O<: UJ"-o:Eu·UJ ::íl UJ~. :Eo« SOWIXVW SOWIXVW ••lVI;)OS OWOH•• "smIWONOJ3 OWOH" SIVIJOS'OJISd SOAI.LN3JNI . ...-;:Ez OUJ«-u SOI~V.L3NOWSOAI.LN3JNI S3SS;I~3.LNI ao 3aVal.LN301 S3SS;I~3.LNI ao 3aVal.LN301 lVW~O::lNI O'ÔVZINV~~O lVW~O::l O'2'jVZINv~~O ~ '"~o >-c IUJ cJ Essas definições podem dar a impressão de que a análise dos behavioristas está tão somente orientada para os aspectos for- mais da organização; o que não é verdadeiro. Todos os behavío- ristas dão uma enorme importância à organização informal, fruto que são do desenvolvimento natural da Escola de Relações Humanas. Barnard, por exemplo, enfatiza o caráter necessá- rio da organização informal, que funciona como um meio de comunicação, coesão e proteção de integridade individual. Sa- lienta ainda o fato de que as organizações informais são encon- tradas dentro de qualquer organização formal, sendo essencial à sua vitalidade. Acrescenta que organização formal e organi- zação informal são aspectos mutuamente reativos e dependen- tes da cooperação.la Esses autores vão mais longe, conceituan- do organização informal como o padrão global de comporta- mento adotado. Nesse sentido, a organização formal é quase que uma estrutura teórica abstrata, sem correspondente real, já que na prática o comportamento organizacional se afasta do plano formal. Sendo a organização um sistema cooperativo racional, é preci- so saber quais as razões que levam os indivíduos a cooperar. Segundo Simon, os indivíduos estão dispostos a cooperar sem- pre que suas atividades dentro da organização contribuam dire- ta ou indiretamente, para seus próprios objetivos pessoais. Tal contribuição, porém, pode ocorrer de várias formas. Em primeiro lugar, há recompensas pessoais que decorrem dire- tamente da realização dos objetivos da organização. n o caso dos clientes cuja participação está diretamente relacionada à prestação do serviço ou ao produto. Em segundo lugar, há recompensas pessoais oferecidas pela or- ganização diretamente relacionadas com sua importância e de- senvolvimento. É o caso da participação dos acionistas. Finalmente, há as recompensas pessoais que não apresentam relação direta com a importância e o desenvolvimento da orga- nização e que podem variar desde os incentivos econômicos, en- tendidos aqui como salários e extraordinários, até os vários in- centivos psicossociais. É o caso da participação dos assalariados. 13 BARNARD, Chester. The Functions of the Executive. Op. cit., p. 286. Julho/Setembro 1970 109 A consideração das razões que levam os indivíduos a cooperar, leva-nos a considerar o equilíbrio uma característica importan- te da organização, merecedorade muita atenção dos behavio- ristas, que em última análise, vêem a organização como um sis- tema equilibrado, que recebe contribuições sob a forma de di- nheiro ou trabalho e, em troca, oferece alícíentes,v Para Argyris, a compreensão da organização como sistema co- operativo exige não apenas o conhecimento dos princípios da organização formal, como também os princípios da personali- dade e da psicologia social, que respondem respectivamente pelas causas individuais e grupais do comportamento organi- zacional. 5. Críticas Não têm sido muitas as críticas formuladas aos behavioristas. Embora a Teoria das Organizações se tenha desenvolvido muito e abandonado alguns métodos de análise teórica dos behavio- ristas, sua contribuição parece definitiva, pela lucidez de seus melhores autores e pelo volume de pesquisa empírica realizada. Os teóricos que abraçaram a abordagem sistêmica das organi- zações fazem algumas críticas gerais aos enfoques anteriores, que também se aplicam bem ao behaviorismo. Segundo essa corrente, a principal falha de suas abordagens está no fato de que partem dos objetivos dos fundadores ou dos dirigentes das organizações. Mesmo aquêles autores que consideram as cha- madas disfunções do modêlo burocrático, tratam todo o com- portamento organizacional não previsto como uma espécie de margem de variação aleatória." Referindo-se ao praticalismo na sociologia americana, C. Wright Mills faz uma crítica violenta ao enfoque de relações humanas e, por extensão, ao behaviorismo dos problemas de relações in- dustriais. Para Wright Mills, tal enfoque considera os diretores em têrmos de "inteligente e não-inteligente", "racional e não- racional", "culto e ignorante" e os trabalhadores, de "satisfei- U SIMON, Herbert. Comportamento Administrativo. Op. cit., 143. 15 KATZ, Daniel e KAHN, Robert L. The Social Psychology oI Organiza- tions. Op. cit., p. 16. 110 Revista de Administração de Emprêsas tos e insatisfeitos", "eficientes e ineficientes", "de boa moral e má moral", partindo para uma "psicologização" dos problemas de relações industriais. Para o autor em pauta, estudos dessa natureza fazem parte do que chama pràticamente ílíberal, fruto da predominância das organizações burocráticas, legitimando uma ordem social na qual uma elite relativamente pequena de- tém o poder .,,6 Outras críticas mais específicas têm sido feitas, entre as quais as de Peter Blau e Richard Scott. Segundo êsses autores, a concepção de Simon da administração como uma estrutura de tomada de decisões, se refere, no geral, aos efeitos de projetos formais sõbrea tomada de decisões, e não inclui uma análise sistemática dos processos interpessoais que não fazem parte da estrutura formal. Além disso, segundo êles, Simon encami- nha todos os seus esforços para a explicação de como as várias condições dentro da organização - a híerarquía, o sistema de comunicações, programas de treinamento - influenciam a to- mada racional de decisões esquecendo-se de considerar as in- fluências que elas exercem uma sõbre as outras. Para Blau e Scott, essa focalização específica sõbre a conduta de escolha, como única variável dependente, torna sistemàticamente im- possível analisar a estrutura social, visto que reduz todos os seus problemas ao campo sócio-psicológico; isto é, tõdas as per- guntas de "o que produz essas características da organização?" se transformam em "o que produz essa conduta por parte dos membros da organizaçãoê'?" Também interessante é a crítica de James Earley, da Universi- dade de Wisconsin, à idéia de Simon, segundo a qual as em- prêsas não buscam maximizar coisa alguma, mas apenas alcan- çar resultados satisfatórios. Assim, a organização moderna opo- ria ao comportamento maximizante do antigo empresário, o comportamento satisfaciente. Segundo Earley, a literatura de administração é pródiga na focalização sistemática da redução de custos, expansão da receita e aumento dos lucros; suas pes- quisas, realizadas entre dirigentes de companhias consideradas 1'6 WRlGHT MILLS, C. A Imaginação Sociológica. Rio de Janeiro, Zahar EditOres, 1965, p. 106 e 107. 17 BLAU, Peter M. e SCOTT, W. Richard. Organizações Formais. Op. cit., p. 52. Julho/Setembro 1970 111 de excelente administração, levaram-no a conclusões seme- lhantes, e, finalmente, o uso crescente de consultores adminis- trativos por grandes organizações econômicas parece não ter outro objetivo senão o da descoberta de novas oportunidades de lucro e da redução dos custos. Além disso, as técnicas admi- nistrativas modernas, extremamente desenvolvidas, aplicam os princípios da solução racional de problemas com grande rapidez e proficiência ao planejamento e a tomada de decisões, ofere- cendo sempre possibilidades novas de ganhos maiores e mais rápidos." Quaisquer que sejam, entretanto, as deficiências e limitações do behaviorismo, o que êle significou para o progresso da Teoria das Organizações é tão grande, que podemos afirmar, não fôssem obras como as de Chester Barnard e Herbert Simon, provàvel- mente ainda estaríamos discutindo ao nível de como fazer ami- gos e evitar preocupações ... Poder-se-ia argumentar que o behaviorismo não parou em Simon, Argyris, Likert, etc., mas que continua hoje nas obras de auto- res como Bennis, Schein, Lawrence, Sorsch e outros. A única ra- zão pela qual seus nomes não foram incluídos aqui foi o fato de que embora compartilhem de muitas concepções behavioris- tas, a forma que têm utilizado para abordar a organização apro- xima-os mais de outras correntes mais recentes do pensamento administrativo. Resta salientar que graças à metodologia de laboratório desen- volvida pelo behaviorismo foi possível dotar a Teoria das Or- ganizações de técnicas de grande potencialidade como a Mana- gerial Grid e o Treinamento de Sensitívidade.v e 20 É evidente que poderíamos discutir a própria importância da Teoria das Organizações, como, de resto, poderíamos discutir a 18 BARAN, Paul e SWEEZY, Paul. Capitalismo Monopolista. Rio de Janeiro, Zahar EditOres, 1966, p. 34. 19 Ver BLAKE, Robert R. e MOUTON, Jane S. Managerial Grid. Houston, -Gulf Publishing Company, 1966. 20 Ver TANNENB,AUM,Robert, WESCHLER, Irving R. e MASSARIK, Fred. Li- derança e Organização. São Paulo, EditOra Atlas, 1970. BUENO DE AzEVEDO, Cândido. Os Laboratórios de Sensitividade e o Desen- volvimento das Organizações. Revista de Administração de Emprésas, n· 3/69, Fundação Getúlio Vargas. 112 Revista de Administração de Emprésas importância de quase tôdas as coisas. Estaríamos, entretanto, entrando no terreno exclusivo das opiniões, o que não é nosso objetivo neste trabalho. Quer nos parecer, além disso, que a Teoria das Organizações já é um campo definido do conheci- mento, derivado de várias fontes, mas especialmente da obra de Taylor e Fayol, da psicologia e da sociologia, tendo adquiri- do sua maioridade no momento em que incorporou a chamada sociologia da burocracia. Vale mais, pois, tentar compreendê-la do que ignorá-la. INTEGRAÇÃO ECONOMICA Obras e peri6dicOs do Instituto para a Integração da América Latina Manual de Derecho de las Comunidades Europeas Integraci6n Y Formaci6n de Comunidades polfticas Instituciones Y Desarrollo Pol ítico de América Latina Partidos Polfticos y Grupos de Presi6n en la Integraci6n Europea La Unificaci6n de Europa La Integraci6n Econ6mica de América Latina, Realizaciones, Pro- blemas y Perspectivas Provectos de Ley Uniforme de Títulos-Valores para América Latina La Union Econ6mica de Europa Dimensiones Institucionales de la Integraci6n Latinoamericana Los Sistemas Fiscales y el Mercado Común Los Empresarios Y la Integraci6n de América Latina La República Dominicna y la Integraci6n Econ6mica de América Latina Transporte Y Comercio Exterior dei Paraguay Revista de la Integraci6n Número avulso um ano a Assinaturas dois anos Cr$ 30,00 Derecho de la Inlegraci6n Representante no Brasil - FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS . Serviço de Publicações Praia de Botafogo 188 Caixa Postal 21.120 - ZC-05 Rio de Janeiro - GB Cr$ 20,00 Cr$ 10,00Cr$ 8,30 Cr$ 30,00 Cr$ 5,60 Cr$ 30,00 Cr$ 18,70 Cr$ 23,00 Cr$ 8,80 Cr$ 26,00 Cr$ 8,30 Cr$ 24,00 Cr$ 5,50 c-s 12,00 Cr$ 18,00 Julho/Setembro 1970 113