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CONTABILIDADE Daiane Lolatto Introdução à contabilidade Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer a origem e a evolução do pensamento contábil. � Definir os conceitos da contabilidade e seus objetivos. � Identificar o papel da contabilidade na gestão empresarial. Introdução A origem da contabilidade data de antes mesmo da civilização de forma rústica. Com o desenvolvimento das atividades comerciais, a ciência contábil também evoluiu, tornando-se fundamental para a sobrevivência das empresas. A contabilidade é uma ciência social cujo objetivo é controlar as variações patrimoniais da entidade, fornecendo informações essen- ciais para a tomada de decisões. Essas informações são registradas por meio de relatórios contábeis, que atendem aos usuários de forma geral. Os usuários são pessoas que possuem algum interesse econômico-finan- ceiro na empresa, sendo classificados em usuários internos e externos. Os gestores, como usuários internos da informação contábil, utilizam as informações patrimoniais na gestão empresarial, a fim de obter melhores resultados econômico-financeiros. Neste capítulo, você conhecerá a origem e a evolução do pensamento contábil, bem como a definição e os objetivos da contabilidade. Além disso, verá a importância dessa ciência na gestão empresarial. 1 Origem e evolução da contabilidade A contabilidade surgiu antes mesmo da civilização. Na Antiguidade, a ciência con- tábil era realizada de forma rústica pelo homem, pois não se conhecia os números e a escrita. A preocupação com o patrimônio foi uma das primeiras evidências da contabilidade, evidências estas que podem ser notadas quando o homem deixa a caça e a pesca e começa a desenvolver a atividade agrícola e do pastoreio. O homem sabia quando o inverno estava chegando porque as folhas das árvores ficavam amarelas e caíam. O inverno era rigoroso, e o preparo para o sustento das ovelhas era imprescindível. Então, antes de cair a primeira neve, o homem recolhia o seu rebanho em um aprisco, para protegê-lo do frio. Era um período ocioso. Enquanto esperava o inverno passar, ele questionava-se se o rebanho havia crescido. Assim, o homem teve a ideia de contar e registrar o rebanho por meio de pedras: para cada cabeça de ovelha, era separada uma pedra. Esse registro era denominado contabilidade de inventário. Com o inventário, o homem poderia saber se o rebanho havia crescido. Então, antes de se iniciar o próximo inverno, o homem começou a contar as ovelhas e tudo o que havia produzido, marcando a quantidade com uma pedra. Após o fim do inverno, ele realizava novamente a contagem, e o processo se repetia. Logo, a contabilidade era, e ainda é, utilizada para controlar a riqueza do homem e avaliar os seus aumentos e as diminuições. O Quadro 1, a seguir, demonstra como o processo de contabilidade de inventário acontecia. Fonte: Adaptado de Iudícibus, Marion e Faria (2017). Controle patrimonial Cada cabeça de ovelha é representada por um símbolo (pedra) Primeiro inverno Segundo inverno Comparação entre os invernos Quadro 1. Inventário inicial Introdução à contabilidade2 Conforme o Quadro 1, o inventário do rebanho no primeiro inverno foi menor do que no segundo inverno. Sendo assim, houve um resultado positivo de seis ovelhas, isto é, de doze ovelhas que havia no primeiro inverno, o ho- mem passou a ter dezoito ovelhas no segundo inverno. O resultado positivo é chamado de lucro. O controle patrimonial também pode ser realizado de acordo com os bens de troca das ovelhas. Por exemplo, o pastor precisaria da produção de lã de três ovelhas para trocar por agasalhos, ou de quatro ovelhas para trocar por instrumentos de caça e pesca. O Quadro 2, a seguir, apresenta o inventário final com os bens de troca. Fonte: Adaptado de Iudícibus, Marion e Faria (2017). Primeiro inverno Segundo inverno Patrimônio adicional Agasalhos Instrumentos de caça e pesca Estoque de lã Primeiro inventário Segundo inventário Equivale a 3 ovelhas Equivale a 4 ovelhas Equivale a 6 ovelhas Total do rebanho = 21 ovelhas Resultado da operação do período = 13 ovelhas Total da riqueza à disposição do pastor = 34 ovelhas Quadro 2. Inventário final 3Introdução à contabilidade Dessa forma, o inventário das ovelhas poderia ser elaborado conforme o Quadro 3, a seguir. Fonte: Adaptado de Iudícibus, Marion e Faria (2017). Itens Inventário 1 Inventário 2 Rebanho de ovelhas 15 ovelhas 21 ovelhas Agasalhos 3 ovelhas Instrumentos de caça e pesca 4 ovelhas Estoque de lã 6 ovelhas Total 15 ovelhas 34 ovelhas Quadro 3. Inventário das ovelhas O total de itens que o pastor possui é de 34 ovelhas, pois os bens de troca compõem o seu inventário. Todavia, essa forma rústica de controlar o patrimônio teve de ser aprimorada a partir do desenvolvimento das operações comerciais. Assim, as operações deixaram de ser de troca e foram substituídas pela compra e venda de merca- dorias, além do fato de que nem todas as operações eram realizadas à vista. O papiro e o cálamo marcaram um novo momento na escrituração dos fatos. A primeira literatura relevante foi escrita por Frei Luca Pacioli, em 1494, considerado o pai da contabilidade. Embora não tenha sido o criador do método das partidas dobradas, foi ele quem o difundiu. A obra Summa de arithmetica, geometria, proportioni et proportionalità (em tradução literal, Coleção de conhecimentos de aritmética, geometria, proporção e proporcio- nalidade), no capítulo Particulario de computies et Scripturis (em tradução literal, Contabilidade por partidas dobradas), apresenta a teoria contábil do débito e do crédito. Essa obra marcou o início do pensamento científico da contabilidade, representado por uma balança, ou seja, o saldo devedor será sempre igual ao sado credor. Introdução à contabilidade4 O método das partidas dobradas determina que, para cada débito, existe um crédito de igual valor, isto é, para cada origem de recursos, há uma aplicação. Dessa forma, a figura de uma balança representa esse equilíbrio: os bens e os direitos do lado esquerdo da balança sempre serão iguais às obrigações exigíveis e não exigíveis do lado direito. Correntes de pensamento no século XIX e início do século XX Desde o início do século XIX até o fim do século XX, surgiram grandes autores e doutrinas contábeis na Itália. Esses pensadores constituíram a escola europeia de contabilidade, que estava mais voltada a explicar os fenômenos relacionados à vida patrimonial das organizações, uma vez que não havia preocupação com o utilitarismo das informações geradas. Como consequência, com a ascensão econômica norte-americana, o mundo contábil direcionou a sua atenção para os Estados Unidos, onde surgia a escola norte-americana de contabilidade. Em virtude de ter um olhar mais prático sobre a contabilidade, a escola norte-americana assumiu o lugar da escola europeia. Conforme Iudícibus, Marion e Faria (2017, p. 15), alguns dos motivos que levaram à queda da escola europeia foram: excessiva devoção à personalidade de grandes pensadores da contabilidade; foco na contabilidade teórica; mínima importância atribuída à auditoria; e desvalorização das principais faculdades. A escola norte-americana, por sua vez, deu maior importância para os usuários da informação contábil, focou na contabilidade aplicada, maximizou a importância da auditoria e buscou a melhoria da qualidade das universidades (IUDÍCIBUS; MARION; FARIA, 2017, p. 15). Desde então, o pensamento contábil da escola norte-americana tem sido objeto de estudo. Para saber mais sobre a história da contabilidade, leia o artigo “A contabilidade enquanto uma instituição moderna: reflexões e apontamentos sobre sua trajetória histórica”, de Rosaly Machado e Fabio Vizeu Ferreira. 5Introdução à contabilidade Contabilidade no Brasil O Brasil teve uma forte influência da escola europeia, em razão de sua colo-nização. Iudícibus (2015, p. 23) menciona que a primeira escola especializada no ensino da contabilidade, possivelmente, foi fundada em 1902, quando a Escola Politécnica de São Paulo incluiu a disciplina de Escrituração Mercantil em seu Curso Preliminar, porém não exatamente no curso de contabilidade. Foi somente em 1946 que a fundação da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da USP criou o Curso de Ciências Contábeis e Atuariais. O Curso de Ciências Contábeis e Atuariais tinha como modelo de pes- quisa contábil a escola norte-americana, a qual começou a ter influência no Brasil com a vinda de algumas firmas de auditoria e de grandes empresas que ofertavam treinamento em contabilidade. Dessa forma, a influência da escola europeia foi substituída pela escola norte-americana. Entretanto, o escândalo da empresa Enron, em 2002, fez os processos de contabilidade e auditoria das empresas serem questionados, pois havia sinais de manipulação das informações contábeis e corrupção. Com o es- cândalo, houve mudanças significativas no contexto das práticas contábeis. Por exemplo, foram criadas as International Financial Reporting Standards (IFRS), que introduziram as normas internacionais da contabilidade. No Brasil, a Lei nº. 6.404/76 foi alterada pelas Leis nº. 11.638/2007 e 11.941/2009, com as respectivas mudanças das normas internacionais. Em 2007, com a globalização das empresas, houve a convergência às normas internacionais da contabilidade, traduzidas no Brasil pelo Comitê de Pronun- ciamentos Contábeis (CPC). Essas normas trouxeram diversas vantagens, tais como: maior facilidade na comparação das informações contábeis com outros países, maior qualidade das informações e mais segurança aos investidores. A contabilidade passou, e ainda passa, por constantes mudanças. Em 10 de dezem- bro de 2019, o CPC 00 (R2) — Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro — foi alterado, com o objetivo de auxiliar os usuários a obter uma melhor compreensão das informações contábeis. Introdução à contabilidade6 2 Conceitos e finalidades da contabilidade A contabilidade é uma ciência social que tem como objeto de estudo o pa- trimônio das entidades, sejam elas pessoas físicas (indivíduos) ou jurídicas (empresas). É considerada uma ciência social aplicada, pois controla as mo- dificações patrimoniais decorrentes de ações humanas e analisa os aspectos quanti e qualitativos da informação. Nesse sentido, o objetivo da contabilidade é controlar as variações patrimoniais, fornecendo informações econômico- -financeiras indispensáveis para a tomada de decisões dos usuários. As informações são registradas por meio de relatórios contábeis, que atendem aos usuários de forma geral. Entretanto, os usuários podem solicitar informações adicionais para atender a seus próprios interesses. Por exemplo, os bancos podem solicitar a relação de faturamento dos últimos 12 meses para saber se a empresa terá condições de cumprir com suas obrigações. No entanto, essas exigências não devem influenciar as demonstrações contá- beis, que, obrigatoriamente, devem obedecer às normas vigentes. Mas quem são os usuários? Os usuários são pessoas que possuem algum interesse econômico-finan- ceiro na empresa, podendo ser classificados em usuários internos e externos. A distinção entre esses dois grupos de usuários está na relação que eles possuem com a empresa. Enquanto os usuários internos estão diretamente relacionados às atividades operacionais da empresa, os usuários externos se interessam pelos dados contábeis, sem se envolver nos processos da empresa. Portanto, os usuários internos necessitam de informações gerenciais, ao passo que os usuários externos precisam de informações financeiras. A Figura 1, a seguir, apresenta alguns dos usuários da informação contábil. 7Introdução à contabilidade Figura 1. Usuários da informação contábil. Considerando-se que os usuários internos são aqueles de dentro da em- presa, eles podem ser contadores, investidores, proprietários ou empregados. Já os usuários externos são credores por empréstimos, fornecedores e outros credores comerciais, clientes, governo e sociedade. Os contadores são responsáveis por produzir a informação contábil e auxiliar os administradores na gestão e na elaboração do planejamento futuro da empresa. Assim, eles devem ter acesso a todas as informações que geraram alterações no patrimônio, para que sejam capazes de auxiliar nesse processo. Os investidores são aqueles que realizam aportes de capital na empresa, ou seja, são sócios/acionistas ou proprietários das organizações. O interesse dos investidores compreende o resultado econômico-financeiro da empresa, pois, se o resultado for positivo, haverá retorno sobre o valor investido. A informação para esses usuários é de cunho gerencial. Os empregados também possuem interesse na informação contábil, visto que seu emprego depende do andamento do negócio. Outro motivo importante para eles acompanharem as demonstrações contábeis é que a participação nos lucros depende do resultado da empresa. Por exemplo, imagine que você está trabalhando em uma empresa que vem apurando prejuízos ao longo de três anos e, nas reuniões, os gestores informam a necessidade de contenção de gastos. Introdução à contabilidade8 Qual seria a sua percepção? Inicialmente, o resultado negativo apurado durante três anos e a restrição de gastos causaria certa insegurança em relação à sua continuidade na empresa. No entanto, as demonstrações contábeis devem ser apreciadas para uma melhor conclusão. Caso a descontinuidade do negócio se confirme, o mais indicado seria procurar um novo trabalho imediatamente. Assim, é possível compreender a relevância da análise das demonstrações contábeis na atuação profissional. Em geral, os credores por empréstimos (bancos) fazem parte dos negó- cios das empresas, pois concedem recursos, quando solicitado. A análise do crédito a ser fornecida pelos credores por empréstimos é fundamentada nas demonstrações contábeis, uma vez que eles precisam saber se a empresa terá dinheiro para honrar com suas obrigações. Outro importante usuário que está presente nas atividades das empresas são os fornecedores ou credores comerciais, os quais fornecem bens a outras empresas com condições de pagamento a prazo. Dessa forma, os fornecedores precisam verificar se a empresa terá condições de pagar as duplicatas decor- rentes das operações comerciais. Os clientes buscam analisar a continuidade da empresa que lhes provê bens ou serviços, pois estes podem estar associados a operações comerciais subsequentes. Por exemplo, imagine que você (cliente) depende exclusiva- mente de um fornecedor para produzir determinado produto. Entretanto, o seu fornecedor começa a atrasar as entregas e diz que está com alta demanda e que entregará os produtos em breve. Então, você decide analisar as demons- trações contábeis do fornecedor para entender o que está acontecendo de fato. Ao observar o capital de giro, você detecta que a empresa está com dificuldades financeiras. Nesse caso, você procura um novo fornecedor para lhe atender, pois as demonstrações indicam que há indícios de descontinuidade. O governo é um dos principias interessados nas informações contábeis, pois é com base nelas que os tributos são recolhidos. Nesse sentido, o governo tem investido significativamente para inibir as fraudes tributárias. As infor- mações geradas são averiguadas, e as empresas são autuadas se não estiverem cumprindo as exigências legais. Desse modo, o governo consegue acompanhar de forma ativa as informações contábeis. Por fim, a sociedade participa dos resultados auferidos pelas empresas por meio das benfeitorias realizadas na comunidade. Além disso, ela pode beneficiar-se da empregabilidade gerada. Logo, a divulgação das informações contábeis pode influenciar na permanência de um indivíduo em determinado município. 9Introdução à contabilidade Como visto, o interessepelas informações das empresas é variado e, de alguma forma, todos os usuários são influenciados. A contabilidade está presente na vida de todos os cidadãos, tendo como foco o patrimônio individual, das empresas ou o patrimônio público. Para saber um pouco mais sobre as características da informação contábil, leia a publicação “Contabilidade Geral – Características da informação contábil”, disponível no site do Conselho Regional de Contabilidade do Estado da Bahia (CRCBA). 3 Papel da contabilidade na gestão empresarial A competitividade do mercado está cada vez mais intensa e tem exigido dos gestores decisões mais assertivas e decisivas para a continuidade das empresas. Desse modo, faz-se necessário que os gestores tenham acesso às informações gerenciais em tempo hábil, informações estas que devem ser representadas de forma fidedigna para a tomada de decisões. O papel da contabilidade vai além de fornecer informações a terceiros — área denominada contabilidade financeira —, uma vez que ela fornece informações de cunho gerencial, isto é, descreve as atividades de dentro da empresa para que os gestores tomem as decisões. Segundo Iudícibus, Marion e Faria (2017, p. 37), “[…] a informação contábil estruturada, fidedigna, tempestiva e completa pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso da organização”. Diante disso, um bom sistema de informação contábil contribui para um planejamento e controle eficientes. Mas de que forma o gestor utiliza a contabilidade para o seu planejamento e controle? Segundo Crepaldi e Crepaldi (2017, p. 5), os gestores, de posse das informações contábeis, podem realizar as seguintes ações: � Confrontar as compras e vendas de mercadorias: por meio dos livros de entradas e saídas, o gestor pode verificar se há estoque excedente que pode causar problemas de caixa. O excesso de mercadorias em estoque diminui a liquidez da empresa, podendo resultar em perdas decorrentes de ação da natureza ou obsolescência. Introdução à contabilidade10 � Calcular o preço de venda: é necessário considerar os impostos, os custos, as despesas e o lucro desejado. � Planejar o fluxo de caixa: considera-se o saldo atual de caixa e equivalente de caixa e a previsão das entradas e saídas de recursos. A previsão de entradas são os valores que a empresa receberá no futuro, como duplicatas a receber e vendas futuras, ao passo que a previsão de saídas são os desembolsos futuros, como gastos com mercadorias, folha de pagamento, tributos e outras despesas. � Acompanhar mensalmente nos livros fiscais a apuração e o reco- lhimento dos tributos: cumprimento dos prazos estabelecidos pelos órgãos governamentais. Esse controle evita a falta de recolhimento, que gera multa e juros, e o recolhimento em duplicidade. � Controlar periodicamente o estoque (quantidades e valor) e o volume de compras: isso possibilita planejar a necessidade de novas compras para atender a pedidos adicionais. � Controlar periodicamente o estoque (quantidades e valor) e o volume de vendas: possibilita planejar a produção, as vendas ou os serviços. � Acompanhar mensalmente o balancete de verificação contábil: é possível acompanhar esse balancete ou qualquer outro relatório que contenha o valor das receitas, menos impostos, menos custos das mer- cadorias, menos as despesas, para saber se houve lucro ou prejuízo no mês. Esse resultado demonstra se o preço de venda foi calculado corretamente ou se os gastos estão dentro do planejado. Além disso, é possível verificar se as vendas foram suficientes para pagar os gastos do mês, se não estão sendo vendidas apenas mercadorias de baixa lu- cratividade e se não se deveria impulsionar mercadorias mais rentáveis. � Analisar o equilíbrio dos custos de produtos, mercadorias ou ser- viços vendidos: ou seja, verificar se não houve aumento no decorrer do tempo, além de analisar a variação do valor da folha de pagamento e dos gastos gerais. � Avaliar a proporção de cada despesa administrativa e comercial: isso possibilita saber quais despesas devem ser controladas. Por exemplo, pode-se calcular qual é a proporção dos gastos da folha de pagamento em relação ao total das despesas administrativas. 11Introdução à contabilidade As informações sobre provisão para o futuro, fluxo de caixa, projetos de compras de bens de grande valor, etc., preparam a empresa para eventuais crises que venham a prejudicar os investimentos realizados. Dessa forma, a contabilidade gerencial é fundamental para o planejamento e o controle dos negócios da empresa, independentemente do porte desta ou da atividade desenvolvida. O Quadro 4, a seguir, apresenta as principais características das contabilidades financeira e gerencial. Fonte: Adaptado de Crepaldi e Crepaldi (2017). Itens Contabilidade financeira Contabilidade gerencial Usuários das informações Externos: credores por empréstimos, autoridades fiscais (governo), etc. Internos: proprietário, empregados, gestores, etc. Objetivo Apresentar o desempenho passado para os usuários externos; fixar contratos com proprietários e credores diversos Gerar informações para a tomada de decisões dos usuários internos; promover feedback e controle do desempenho das operações Temporali- dade Histórica; passada Corrente; orientada para o futuro Diretrizes restritivas Reguladas: regras dirigidas por princípios de contabi- lidade e por autoridades governamentais Não há regras estabelecidas, as in- formações são geradas de acordo com as necessidades estratégicas e operacionais dos gestores Tipo de informação Medidas financeiras exclusivamente Medidas financeiras, operacio- nais e físicas sobre processos, tecnologias, fornecedores, clientes e concorrentes Natureza da informação Objetiva, auditável, confiá- vel, consistente, precisa Mais subjetiva e de opinião, válida, relevante, precisa Escopo Informações conjuntas; relatórios sobre toda a organização Informações fragmentadas, de informação a ações e decisões pontuais Unidade de mensuração Padrão monetário do país Qualquer unidade física ou padrão monetário Quadro 4. Contabilidade financeira versus contabilidade gerencial Introdução à contabilidade12 A contabilidade gerencial é utilizada por vários setores da empresa, como custos, contas a receber e a pagar, fiscal, entre outros. Essas informações aju- dam a empresa a maximizar os seus resultados ou a garantir que ela continue operando. Sendo assim, a contabilidade está presente na vida de todos os cidadãos, sejam eles usuários internos ou externos. De alguma forma, você certamente utiliza as informações contábeis para gerenciar os seus recursos financeiros ou para solicitar recursos junto a credores. O conhecimento con- tábil contribui para a interpretação da sua saúde econômico-financeira ou de qualquer empresa. Imagine que você é proprietário de uma indústria têxtil e que o mercado financeiro está em crise. O faturamento dos últimos meses reduziu significativamente, porém os gastos continuaram os mesmos. Então, você decide recorrer a recursos de terceiros, realizando um empréstimo para cobrir esses gastos. A decisão tomada foi a correta? Quais informações contábeis poderiam ter sido analisadas? O empréstimo poderia ser a solução para cumprir com as obrigações de curtíssimo prazo, mas você, como proprietário e gestor do negócio, precisava analisar quais gastos poderiam ser reduzidos ou, então, de que forma a empresa poderia aumentar o faturamento, mesmo em períodos de crise. Essas informações são geradas por meio de relatórios contábeis. CREPALDI, S. A.; CREPALDI, G. S. Contabilidade gerencial: teoria e prática. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2017. 640 p. IUDÍCIBUS, S. Teoria da contabilidade. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2015. 368 p. IUDÍCIBUS, S.; MARION, J. C.; FARIA, A. C. Introdução à teoria da contabilidade. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2017. 320 p. Leituras recomendadas BRASIL. Lei n° 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedadespor Ações. Brasília: Presidência da República, 1976. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l6404consol.htm. Acesso em: 16 set. 2020. 13Introdução à contabilidade Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. CPC 00 (R2) - Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro. CPC, Brasília, 10 dez. 2019. Disponível em: http://www.cpc.org. br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=80. Acesso em: 16 set. 2020. CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE DO ESTADO DA BAHIA. Vice-Presidência de Fiscalização. Contabilidade Geral - Características da informação contábil. Boletim Eletrônico CRCBA, Salvador, n. 109, 2 mar. 2007. Disponível em: http://www.crcba.org. br/boletim/edicoes/carac.htm. Acesso em: 16 set. 2020. INTERNATIONAL FINANCIAL REPORTING STANDARDS. IFRS Foundation, London, 2017. Disponível em: https://www.ifrs.org/. Acesso em: 16 set. 2020. IUDÍCIBUS, S. (coord.). Contabilidade introdutória. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2019. 250 p. MACHADO, R.; FERREIRA, F. V. A contabilidade enquanto uma instituição moderna: reflexões e apontamentos sobre sua trajetória histórica. Brazilian Journal of Develop- ment, Curitiba, v. 5, n. 11, p. 22998–23023, nov. 2019. Disponível em: https://www. brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/view/4301. Acesso em: 16 set. 2020. RIBEIRO, O. M. Contabilidade básica. 4. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2017. 368 p. Introdução à contabilidade14