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40 meio de representantes - de exigir as informações, fazer questionamentos e receber justificativas, bem como de impor sanções ou gerar premiações de acordo com o que for evidenciado da ação dos responsáveis, o que sempre deverá levar em conta o efetivo atendimento ao interesse público. A efetividade da accountability exige o cumprimento cumulativo dessas exigências: que existam as prerrogativas e que sejam utilizadas. E a partir da definição conceitual, para que seja viável fazer inferências producentes para o estudo, traço abaixo a matriz que será utilizada para classificação do objeto deste estudo no conceito de accountability. Com isso, configura-se a base teórica a ser utilizada, onde a preocupação será com a presença das dimensões e atributos do conceito, identificando também a posição ocupada pelos atores envolvidos a fim de caracterizar de forma sistematizada o conceito de accountability e criar um instrumento que permita qualificar determinado mecanismo como sendo capaz de contribuir para efetivá-la, e quais das múltiplas faces do conceito podem ser destacadas. Quadro 2: Matriz de Classificação Conceitual de Accountability DIMENSÕES ATRIBUTOS LOCAÇÃO Horizontal Vertical Eleitoral Societal ANSWERABILITY Informação A1 B1 C1 Justificação A2 B2 C2 ENFORCEMENT Sanção A3 B3 C3 Cada uma das células da Matriz [A1 x C3] representa um constructo, cujo conjunto representa o conceito de accountability. Com isso, para que se evidencie a presença da accountability em sentido amplo é preciso que sejam identificados elementos que preencham cada uma das células acima. Nessa utilização da matriz, temos os seguintes significados: A1, A2 e A3: utilizadas para indicar a presença de cada um dos atributos constantes das dimensões – Informação, Justificação e Sanção, respectivamente – nas relações intraestatais, ou seja, na modalidade horizontal conceituada por O’Donnell (1998); 41 B1, B2 e B3: utilizadas para indicar a presença de cada um dos atributos constantes das dimensões – Informação, Justificação e Sanção, respectivamente – nas relações entre os cidadãos e seus representantes em momentos de eleição; C1, C2, C3: utilizadas para indicar a presença de cada um dos atributos constantes das dimensões – Informação, Justificação e Sanção, respectivamente – em relação ao potencial da accountability societal; Para finalizar este capítulo de definição conceitual, cumpre-nos esclarecer que não se procurou, neste momento, construir o conceito de accountability que melhor traduz a gestão das PPEs, mas sim caracterizar o sentido amplo de accountability para que, na construção da pesquisa, seja possível identificar o modelo presente na gestão das PPEs, se houver. Para tanto, é fundamental que no decorrer dos capítulos seguintes se tenha em mente a Matriz acima e que se avalie, a cada tema tratado, seu possível enquadramento em determinada célula e no constructo que ela representa. 42 3 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA E MECANISMOS DE CONTROLE Para iniciar esse capítulo, é preciso ter claro que a accountability habita os espaços onde há poder, porém, onde seu exercício não é absoluto, nem mesmo amplamente hegemônico: é o que se espera que seja característica das democracias. Isso não se contrapõe ao que a Constituição estabelece, que “todo o poder emana do povo”, pois a regra não é o exercício direto, mas por meio de representantes, que também se revestem de poder, o qual ainda delegam, em partes, a outros agentes, os quais não escolhidos por processo eleitoral. Com o poder, então, partindo de todos, mas concentrando-se em alguns, que devem agir para o interesse comum, surge a preocupação em evitar que haja abuso, ou que o interesse público seja preterido. Há dois pontos fundamentais nessa discussão: 1) a forma como os agentes públicos exercem sua gestão; e 2) a forma como seu poder é controlado, pois embora o controle não seja sinônimo de accountability, ele é uma condição necessária para que ela exista. Ambas as questões apresentam vasta amplitude, porém, ainda que cada agente possa exercer seu papel com determinadas inclinações pessoais, cabe-nos investigar as tendências visíveis na administração pública brasileira, especialmente, para que possamos situar os rumos de uma possível accountability, bem como identificar as influências hegemônicas que constituem o atual modelo de ação do FNDE no financiamento das PPEs e na forma como o controle é exercido. Nesse aspecto, merece especial atenção a mudança no modelo de gestão que tem sido implementada no Brasil ao longo dos últimos anos, especialmente com o modelo de administração gerencial ocupando espaços antes restritos ao modelo burocrático, não raro com resquícios de um modelo patrimonialista. Esse olhar faz- se necessário, pois a tendência relativa ao modelo de gestão refletir-se-á também nas formas de controle que serão utilizadas. Pacheco (1999, p. 2) esclarece: A atual reforma administrativa no Brasil pode contribuir não apenas para o aumento da eficiência da máquina pública, mas também para melhorar a transparência das ações do Estado, com reflexos positivos na accountability democrática que se quer construir. 43 A reforma do estado é elemento fundamental para compreendermos o estado da arte de nosso foco de estudo. Além disso, essa transição explicará elementos primordiais para a compreensão do papel do FNDE na gestão das PPEs, assim como ajudará a compreender o papel da sistemática de prestação de contas no âmbito do FNDE. 3.1 REFORMA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA A síntese da transformação que tem se desenhado na administração pública brasileira é a transição do modelo de administração burocrática para a gerencial. Azevedo (2002) nos traz que “o modelo de administração burocrática, assim conhecido pelas contribuições weberianas para o estudo do poder, começou a ser implantado no Brasil quando da deflagração do nosso processo de modernização" (p. 56), perdurando soberano a partir de então. Porém, a transição para um novo modelo já era sinalizada muitas décadas atrás: Há quase 20 anos, a administração pública brasileira vê-se envolvida em um profundo processo de transformação, desencadeado pela mudança da perspectiva burocrática para a gerencial. Muito se fez no sentido de ampliar a qualidade dos serviços prestados, e também do próprio modus operandi das organizações públicas. (CAMPOS, 1990, p. 6) Os primeiros sinais do modelo gerencial no governo brasileiro têm raízes que alcançam um ponto remoto de nossa política moderna. Bresser Pereira (1998) entende que: Já em 1938 temos o primeiro sinal da administração pública gerencial, com a criação da primeira autarquia. Surgia então a ideia de que os serviços públicos na administração indireta deveriam ser descentralizados e não obedecer a todos os requisitos burocráticos da administração direta ou central. A primeira tentativa de reforma gerencial da administração pública brasileira, entretanto, só aconteceu no final dos anos 60, através do Decreto-Lei nº 200, de 1967 [...]. (1998, p. 243) A criação da primeira autarquia é entendida como um indício de modelo gerencial pelo fato de que a entidade é instituída para descentralização de funções de execução, com vistas a separá-las das funções políticas, de decisão, o que 44 demonstra uma característica precípua do modelo gerencial. Esse primeiro sinal, porém, não possui força representativa suficiente para estabelecer-se como marco de uma mudança de paradigma. O momento que efetivamente se configura um referencial contundente é o advento do Decreto-Lei nº 200/1967, quando são instituídos diversos princípios que visam dotar a administração pública brasileira de características gerenciais: A reforma iniciada pelo Decreto-Lei nº 200 (de 1967) foi uma tentativa de superaçãoda rigidez burocrática, podendo ser considerada como um primeiro momento da administração gerencial no Brasil. Colocou-se toda a ênfase na descentralização, mediante a autonomia da administração indireta, a partir do pressuposto da rigidez da administração direta e da maior eficiência da administração descentralizada. […] Instituíram-se como princípios de racionalidade administrativa o planejamento e o orçamento, a descentralização e o controle dos resultados. (BRESSER PEREIRA, 1998, p. 244) Com indícios que remontam à década de 1930 e um importante marco na década de 1960, o fortalecimento do modelo gerencial no Brasil ocorreu de forma mais contundente, de fato, a partir da década de 1990, com o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, que se propunha a levar a gestão pública brasileira “rumo à administração gerencial” (BRASIL, 1995, p. 19). O fortalecimento da presença desse novo paradigma na gestão pública no Brasil foi paulatino, e lançou alguns princípios que deram início e podem constituir profundas mudanças. Bresser Pereira sintetiza que: Aos poucos foram-se delineando os contornos da nova administração pública: a) descentralização do ponto de vista político, transferindo-se recursos e atribuições para os níveis políticos regionais e locais; b) descentralização administrativa, através da delegação de autoridade aos administradores públicos, transformados em gerentes cada vez mais autônomos; c) organizações com poucos níveis hierárquicos, ao invés de piramidais; d) pressuposto da confiança limitada e não da desconfiança total; e) controle a posteriori, ao invés do controle rígido, passo a passo, dos processos administrativos; e) administração voltada para o atendimento do cidadão, ao invés de auto-referida. (BRESSER PEREIRA, 1998, p. 242-243) Frare (2006, p. 65), em seu turno, explica que as diretrizes nacionais se apresentam “inspiradas no modelo anglo-saxão de Reforma do Estado, fundamentado no New Public Management”, sendo que, no início dos anos 1990: Nesse sentido, procurou-se substituir o modelo de Estado interventor e promotor de desenvolvimento, por um Estado Regulador, menor e, 45 supostamente, mais eficiente 1 . Esse processo de modernização tinha como objetivo o aumento da governança 2 . (FRARE, 2006, p. 64-65) Nesse mesmo sentido, Martins (2007) aponta que a reforma centrou-se na busca pela ampliação da governança, do controle por resultados e accountability. Conjunto esse que refletiria as características precípuas da nova gestão pública e servia de base para traçar as políticas públicas. Quando se diz que entre os objetivos está o de ampliar a governança e desenvolver a accountability, se está dizendo que “o objetivo da reforma do Estado é construir instituições que dêem poder ao aparelho do Estado para fazer o que deve fazer e o impeçam de fazer o que não deve fazer” (BRESSER PEREIRA, 1998, p. 39). Como se verá, esses pontos de mudança são capazes de esclarecer muitos dos aspectos que serão abordados na sequência desse estudo, pois os reflexos da reforma administrativa no âmbito das PPEs são significativos. Dialogando com outros autores, Azevedo (2002) situa a mudança de paradigma da gestão pública em nosso espaço de interesse específico: Na educação, a reforma do Estado, entre outros aspectos, traduz-se no entendimento de que é preciso ajustar a gestão dos sistemas de ensino e das escolas ao modelo gerencial, conforme divulgado pelo poder central, em consonância com o discurso das agências externas de cooperação e financiamento. Segundo tal entendimento, esse é o modo de garantir a qualidade dos serviços prestados aos cidadãos, com base no princípio da eficiência e na busca da relação ótima entre a qualidade e os seus custos. (AZEVEDO, 2002, P. 59) A mesma autora, ao tratar da nova forma de ação do estado, focada nos impactos de programas do governo federal voltados para o financiamento da escolarização nos espaços locais, traz que: A descentralização é considerada um instrumento de modernização gerencial da gestão pública, pela crença nas suas possibilidades de promover a eficácia e a eficiência dos serviços concernentes. (AZEVEDO, 2002, p. 54) _______________ 1 O autor alerta que o acalorado debate político vigente à época tornou a discussão acerca da reforma muito centrada nas ideologias político-partidárias ou mesmo pessoais, e distanciou-se da discussão da reforma do estado como um processo mundial. (FRARE, 2006, p. 65) 2 Bresser Pereira, para situar a reforma no aspecto ideológico, defende que “a diferença entre uma proposta de reforma neoliberal e uma socialdemocrática está no fato de que o objetivo da primeira é retirar o Estado da economia, enquanto o da segunda é aumentar a governança do Estado” (1998, p. 238) 46 Pela tenaz presença e implicações do princípio da descentralização no escopo de nosso estudo, cabe estender mais detidamente a discussão acerca desse instrumento, salientando desde já que ela tem presença determinante na constituição histórica do FNDE e no problema que o advento da nova sistemática de gerir as prestações de contas adotada pelo FNDE visa a superar. 3.2 O PRINCÍPIO DA DESCENTRALIZAÇÃO No contexto traçado, a descentralização toma relevância superior. Quanto a esse instrumento, Parente (2006, p. 19) explica que: O histórico do financiamento da educação aponta o peso do Estado centralizador na definição do gasto em educação, reflexo da Reforma Tributária de 1966, que promoveu grande centralização financeira e fiscal. No entanto, os anos 1980 marcaram a abertura democrática, formando terreno fértil para a defesa da descentralização. E Azevedo (2002, p. 54) complementa que a descentralização: Assim, é difundida como um poderoso mecanismo para corrigir as desigualdades educacionais, por meio da otimização dos gastos públicos. Apesar de os postulados democráticos serem recorrentemente reafirmados, estes se apresentam como justificativa para a transferência de competências da esfera central de poder para as locais, respaldadas em orientações neoliberais, com o objetivo de redução do Estado às suas funções mínimas [...]. 3 Porém, trata-se de uma “dupla equação: quanto mais descentralização mais proximidade; quanto mais proximidade mais democracia e mais eficácia”, como argumenta Charlog (apud AZEVEDO, 2002, p. 55). Além disso, alerta-se que: Há de considerarmos, contudo, que os processos baseados nesta lógica se caracterizam muito mais como práticas desconcentradoras, em que o local é considerado como uma unidade administrativa a quem cabe colocar em ação políticas concebidas no nível do poder central (AZEVEDO, 2002, p. 55) _______________ 3 Interessante perceber que a redução do estado, neste caso, é em relação ao governo central, pois se atribuições são deslocadas aos governos municipais e estaduais, ou mesmo às escolas, estes precisam reforçar-se para exercer tais responsabilidades. Com isso, quando se fala em redução da estrutura da administração pública se está falando especialmente desse fenômeno na esfera federal, sendo que o efeito pode ser inverso nas demais esferas de governo. 47 Esse entendimento é recorrente nos trabalhos que discutem o tema, sendo próximo à unanimidade a percepção de que o governo federal brasileiro tem guiado suas ações “promovendo maior centralismo nas decisões – ao menos aquelas de maior peso – desconcentrando tarefas num movimento denominado, erroneamente, descentralização”. (SILVA, 2010, p. 6) Configura-se, então, um disfarce conceitual ao tratar-se como descentralização o que, na prática, assemelha-se à desconcentração, termos cuja essencial distinção está no fato de que a descentralização presumiria que a gestão seria efetivamente deslocada para pontos periféricos, enquanto à desconcentração refere-se exclusivamente a atribuir a outrem a execução, por regras precisamenteditadas. Aspecto relevante do princípio da descentralização é o fato de que ele, por essência, envolve outros atores na gestão. Porém, como se evidencia ensejando a crítica terminológica, apenas alguns dos princípios da gestão são deslocados do centro, especialmente a execução. Não se pretende aqui adentrar aos meandros da Teoria Geral da Administração (TGA), mas vale recordar que quando Taylor lança, ainda em 1911, os Princípios da Administração Científica, são sistematizados os princípios de planejamento, preparo dos trabalhadores, controle e execução (TAYLOR, 1970). Em abordagem pouco posterior, Fayol, por sua vez, relaciona onze princípios, para pontuar as funções da administração de: planejar, organizar, coordenar, comandar e controlar (FAYOL, 1994). Já em uma abordagem neoclássica da administração, onde um nome de destaque é Peter Drucker, alguns itens foram rebatizados, outros tiveram mudanças na própria concepção, sendo identificadas então as seguintes funções: planejar, organizar, dirigir e controlar (CHIAVENATO, 1993). Esta última abordagem é hegemônica até os dias atuais, e embora haja outras propostas para pontuar os princípios ou funções da gestão, regra comum entre elas é a manutenção dos tópicos de planejamento e controle entre as bases fundamentais da gestão: primeiro associado à definição dos objetivos a serem alcançados e o segundo à garantia ou exigência de que sejam alcançados e, conforme a visão impingida, se foram utilizados os meios previstos. No caso da incursão da administração pública gerencial, a descentralização é tida como um princípio – concebido em conjunto com outros, dos quais não se afastam o planejamento e o do controle, conforme conceituados no Decreto-Lei nº 48 200/1967. Assim, cumpre-nos questionar: quando se fala em descentralização, os novos atores envolvidos são empoderados para o exercício da gestão como um todo, ou para determinadas etapas do processo? Especialmente em relação ao controle, é taxativo que não. O planejamento, se é em alguma medida, certamente não é com grande alcance, como se verá à frente. É nesse ponto que a discussão conceitual acima se apresenta como tradutora da crítica mais incisiva no atual estado da arte da gestão de PPEs: descentraliza-se a execução, mantendo-se a definição e o controle centralizados. Eis uma característica fundante do estado regulador e controlador, menor em estrutura, mas não em poder. Cria-se um cenário onde o controle desempenha tanto o papel de limitar o poder quanto o de constituir e manter o poder. Mas antes de discutirmos mais detidamente essa dualidade, onde restará situar cada uma das potencialidades nas devidas esferas de governo, é preciso desvelar a forma como estão organizadas as instituições de controle. Afinal: [...] é necessário criar mecanismos na administração pública, por meio das instituições que modificam as estruturas de incentivos dos contratos firmados entre agente e principal, em um ambiente institucional, a fim de que esses contratos sejam realizados de forma a alinhar os interesses das partes (agente e principal). Uma das formas de se verificar se os interesses do agente e principal estão alinhados, ou seja, se os incentivos inseridos nos contratos estão tendo efetividade, é por intermédio de um sistema de controle interno e controle externo atuante. Assim, o controle governamental pode ser utilizado como um termômetro para auferir se as políticas públicas desenvolvidas pelo principal estão sendo executadas pelos agentes a contento. Esse seria o papel de avaliação das políticas públicas que as instituições de controle exercem. (RIBEIRO, 1996, p. 27) A accountability tem sido reconhecida como mecanismo de controle do uso e dos abusos de poder nas democracias consolidadas e amadurecidas. Porém, para que sua prática se constitua, é preciso que existam as prerrogativas a esse exercício. Ou seja, é preciso que existam previsões legais que possibilitem, favoreçam e até mesmo exijam determinados atos para que se possa efetivar a accountability em determinada relação de poder. Para que possamos avaliar, posteriormente, se o SiGPC – Contas Online pode ser entendido, em seu papel de meio para o controle na gestão de programas e projetos educacionais, como instrumento que favorece a accountability, precisamos previamente conhecer as previsões relativas ao controle do poder que existem em nossa administração pública. 49 3.3 MECANISMOS DE CONTROLE Quando “representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático” (BRASIL, 1988), promulgaram a Constituição Federal de 1988, ficou estabelecido um sistema de controle dividido em controle interno e controle externo. No caso do controle interno, dita o artigo 74 de nossa Carta Magna que “Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada, sistema de controle interno” (BRASIL, 1988). Nesse aspecto, ainda que se aplique aos três poderes, o próprio adjetivo indica que tal controle é de exercício interno a cada poder, não podendo assim confundir-se com mecanismo de check and balances, ou mecanismos de freios e contrapesos. Ribeiro (2009) argumenta que: A imposição constitucional de que os órgãos de controle interno dos três poderes devem ser estruturados de forma integrada não é acatada na atual estrutura de controle, ou seja, esses órgãos não interagem de forma sistemática e institucionalizada, o que acarreta perda de sinergia e gera maiores custos para o sistema de controle interno como um todo. (p. 32) Já em relação ao Controle Externo, fica estabelecido no artigo 71 da Constituição Federal que, estando “a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União” (BRASIL, 1988). Dessa forma, ao estabelecer que o controle externo fique ao encargo do Poder Legislativo, fica sugerida a intenção de classificar o controle especialmente como externo ao poder executivo, por ser nele que reside a função típica de administrar – preocupação que também advém do fato de que a Carta Magna nasceu no momento que encerra um período ditatorial, o qual foi calcado na concentração de poder no Executivo, e daí decorre o interesse especial em controlá-lo4. Antes de analisar mais detidamente essas duas formas de controle – interno e externo –, vejamos também o artigo 70 da Constituição, onde está estabelecido que: _______________ 4 Fato que o exercício do controle externo dar-se-á com participação do Tribunal de Contas da União (TCU), entidade que não está inscrita em qualquer dos poderes. Porém entende-se que, nesta ótica, não está imbuída de exercer o controle, mas sim auxiliar ao Congresso Nacional, ou seja, auxiliar ao poder legislativo.