Prévia do material em texto
CINEMÁTICA E DINÂMICA DA PARTÍCULA Luciana Maria Margoti Tipos de forças Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir força. � Identificar os tipos de forças fundamentais. � Relacionar alguns tipos de forças e situações físicas. Introdução Neste capítulo, você vai estudar o que é força e como você pode identificá- -la. Até nos acontecimentos mais simples, você pode encontrar uma boa quantidade de forças atuando sobre os corpos, seja para colocá-los em movimento, pará-los, acelerá-los ou mantê-los em repouso. Além de entender o conceito de força, é necessário compreender que, embora a força realize uma ação sobre um corpo, diversos são os tipos de forças atuantes quando ocorre um movimento. Assim, identificar essas forças, relacionando-as às suas características de módulo, direção e sentido, torna mais fácil o entendimento de como os movimentos ocorrem. 1 Força Quando pensamos na definição de força, geralmente nos vem à mente a ideia de empurrar algum objeto. Porém, o conceito de força é um pouco mais abran- gente. Empurrar e puxar podem explicar alguns tipos de força, mas estar em repouso, parar, acelerar objetos ou corpos, abrir, fechar, dentre tantas outras ações, compreendem outros tantos tipos de força. Na física newtoniana, aquela que estuda as três leis de Newton, o conceito de força é muito importante. Newton, em suas leis, relacionou força e movimento. Força é uma grandeza vetorial, possuindo módulo, direção e sentido. Sua unidade de medida no sistema internacional de unidades (SI) é o newton (N), em homenagem ao físico Isaac Newton (1642–1727). Como a força é uma grandeza vetorial, quando duas ou mais forças atuam sobre um mesmo corpo, torna-se necessário determinar o vetor resultante, ou a força resultante sobre o corpo (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2016). A força total ( ), ou força resultante, será a soma vetorial das diversas forças aplicadas: Na Figura 1, você pode verificar um objeto e a esquematização de três forças atuando sobre ele. Figura 1. Soma vetorial de forças — força resultante. Fonte: Adaptada de Emre Terim/Shutterstock.com. F3 = 3N → F1 = 6N → F2 = 4N → Como as forças sobre o objeto da Figura 1 possuem a mesma direção, pois estão todas na horizontal, elas possuem somente a componente x. Assim, a força resultante que atua no objeto será: ou Dessa forma, conhecendo-se o módulo — 7 N —, a direção — horizon- tal — e o sentido da força — aponta para o lado positivo do eixo x (0º) —, é possível saber para onde o objeto vai se movimentar. Vale ressaltar que, para esse exemplo, foram consideradas somente as três forças presentes na Figura 1. Tipos de forças2 Todas as vezes que a força resultante for igual a zero, significa que o objeto permanece em repouso, ou em condição de equilíbrio (HEWITT, 2015). A soma vetorial das forças atuantes sobre um corpo determina a força resultante que atua sobre o mesmo. Observando a figura a seguir, explique como, a partir das forças de 30 N e 40 N que atuam sobre o bloco, a resultante é igual a 50 N. Determine ainda o ângulo da inclinação do vetor força resultante. Fonte: Hewitt (2015, p. 29). Solução: Sobre o corpo (bloco), a força de 40 N tem a direção horizontal e, portanto, possui somente a componente x: Já a força de 30 N, na direção vertical, possui somente a componente y: A resultante será a soma vetorial das duas componentes: 3Tipos de forças Como as duas forças atuantes no bloco formam um ângulo reto (90º), aplicando-se o teorema de Pitágoras, podemos obter a força resultante em módulo (hipotenusa do triângulo retângulo formado pelos dois vetores): Logo, FT = 50 N A inclinação do vetor força resultante pode ser obtida por meio do arco tangente entre o cateto oposto dividido pelo cateto adjacente, vetores que formam esse triângulo: Esse é o ângulo da inclinação da força resultante. O conceito de força pode parecer um pouco abstrato. Porém, ao reconhecer os tipos de forças, além do melhor entendimento, fica mais fácil identificar as mesmas. Conhecer e entender todas as forças que podem atuar sobre um corpo torna mais completa a análise do comportamento dessas forças sobre os objetos. 2 Forças fundamentais Além de descrever as principais leis da mecânica, as leis de Newton nos ajudam a descrever forças fundamentais presentes sobre os corpos em movimento ou em repouso. Comumente, ao se aplicar uma força sobre um corpo, isso causará nele uma aceleração. Basicamente, é o que descreve a segunda lei de Newton, que determina que a força (F⃗ ) é igual à massa (m) vezes a aceleração (a⃗). Tipos de forças4 Conforme a segunda lei de Newton, quando um objeto está caindo no chão, ele está sujeito à ação da gravidade. Assim, podemos descrever a força gravitacional (F⃗ G) como sendo: onde g⃗ é a aceleração da gravidade. O vetor g⃗ será sempre perpendicular ao solo, dirigido para baixo (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2016). Porém, a gravidade não age somente sobre corpos em queda. Tudo o que está apoiado sobre a superfície terrestre está sujeito a essa mesma gravidade: uma mesa, uma cadeira, você. Assim, chegamos ao conceito de peso. O peso de um corpo é igual ao módulo da força gravitacional que age sobre o mesmo. O peso de um corpo é o módulo da força necessária para impedir que o corpo caia livremente, medida em relação ao solo (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2016). Suponha agora que você queira manter um laptop em sua mão, parado na mesma posição, como mostra a Figura 2. Nessa figura, você pode verificar dois vetores de força sobre o laptop. Uma delas é a força gravitacional; a outra é conhecida por força normal (N⃗ ). Figura 2. Laptop mantido em repouso, na mesma posição, e as forças atuantes sobre ele. Fonte: Bauer, Westfall e Dias (2012, p. 106). 5Tipos de forças Manter um laptop sobre a sua mão na mesma posição em relação ao solo exige que você faça uma força para cima, de igual módulo ao peso do objeto, evitando que a força gravitacional o puxe para baixo. Se a força gravitacional for maior, o laptop cairá no chão. Se a força feita pela mão, para cima, for maior, o laptop não ficará na mesma posição e tende a se afastar do chão (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012). Essa força que você precisa fazer para cima, vencendo a força gravitacional, é a força normal. Assim, O vetor da força normal, N⃗, será sempre perpendicular à superfície de contato. Outro tipo de força sempre presente quando estudamos movimentos é o atrito. De maneira geral, atrito é aquela força que dificulta sua ação de movimentar um móvel em sua casa, por exemplo (Figura 3). Quando a força do atrito é maior do que a força que você faz para arrastar esse móvel, devido à inércia do móvel, ele simplesmente não se move. Nessa situação, você vai perceber que, se imprimir uma força bem maior do que a feita inicialmente, vai conseguir tirar o móvel do repouso e, assim, movimentá-lo com um pouco mais de facilidade. Na realidade, você percebe que, para retirar o móvel do repouso, você faz uma força muito maior do que a necessária para mantê-lo em movimento. Nesse cenário corriqueiro, que pode já ter ocorrido com você, estamos descrevendo dois tipos diferentes de atrito: o atrito estático e o atrito cinético. Independentemente de o atrito ser estático ou cinético, ele tende a ser uma força oposta ao movimento. Figura 3. Força de atrito. Fonte: Hewitt (2015, p. 60). Empurrão Atrito Tipos de forças6 A força de atrito estático é aquela força que deve ser superada, a fim de que o objeto comece a se movimentar. Ela será sempre de mesmo módulo da força colocada para mover o objeto, até que a força de atrito estático atinja um limite, que é a força de atrito estático máxima. Assim, a força de atrito estático é descrita por: Em que fe max é o valor da força de atrito estático máxima, µe é o coeficiente de atrito estático, e |N⃗ | é o módulo da força normal. Uma vez que essa força de atrito estáticotem um limite, ela será sempre menor do que a força de atrito estático máxima do corpo: fe ≤ fe max Uma vez atingido esse limite, o atrito se transforma em atrito cinético. Nesse momento, o corpo, em movimento, pode ser movimentado com um módulo de força menor. A força de atrito cinético também é proporcional à força normal: Onde | f⃗ c| é o valor da força de atrito cinético, µc é o coeficiente de atrito cinético, e |N⃗ | é o módulo da força normal. No Quadro 1, você pode verificar as relações de coeficientes de atrito estático e de atrito cinético entre dois materiais. Material 1 Material 2 µe µc Borracha Concreto seco 1 0,8 Borracha Concreto úmido 0,7 0,5 Aço Aço 0,7 0,6 Madeira Madeira 0,5 0,3 Quadro 1. Coeficientes típicos de atrito estático e cinético entre pares de materiais (Continua) 7Tipos de forças Fonte: Adaptado de Bauer, Westfall e Dias (2012, p. 119). Material 1 Material 2 µe µc Prancha com parafina Neve 0,1 0,05 Aço Aço oleado 0,12 0,07 Teflon Aço 0,04 0,04 Pedra de curling Gelo 0,017 Quadro 1. Coeficientes típicos de atrito estático e cinético entre pares de materiais (Continuação) Sobre uma superfície de madeira, será necessário movimentar uma caixa, também de madeira, de 35 kg. Qual será a força necessária para retirar a caixa de madeira do repouso? Solução: Como vimos, para retirar um corpo do repouso, é necessário aplicar uma força maior do que a força de atrito estático máxima da interação entre os corpos. Do Quadro 1, µe = 0,5. A normal referente à caixa é igual à sua massa vezes a aceleração da gravidade: N = 35 × 9,8 = 343 N. Assim, Será necessária uma força maior do que 171,5 N para retirar a caixa de madeira do repouso. Por sua vez, a força elástica é a força exercida por molas. A orientação da força elástica que uma mola exerce sobre um corpo vai depender de como essa mesma mola se encontra. Veja a Figura 4. Tipos de forças8 Figura 4. Força elástica de uma mola. Fonte: Knight (2009, p. 130). Quando uma mola é esticada, por exemplo, por uma distância x, a força elástica (F⃗E) será proporcional a essa distância: Em que k é conhecida como constante elástica da mola. O sentido nega- tivo aparece porque a força será sempre contrária ao sentido do movimento executado na mola. Essa relação é conhecida como lei de Hooke (TIPLER; MOSCA, 2009). Já quando uma corda ou um fio é utilizado para movimentar objetos, a força responsável pelo movimento/repouso será a força de tração ou força de tensão (Figura 5). O vetor tensão é representado por T⃗. Figura 5. Tensão. Fonte: Knight (2009, p. 130). 9Tipos de forças Para definir o cálculo de T⃗ , será necessário levar em consideração o sistema, ou cenário, em que ele está envolvido. Normalmente, O atrito está presente nos movimentos, principalmente pela interação entre as super- fícies de contato. Quanto mais áspera for uma superfície, mais difícil será tirar o objeto do repouso. Quanto mais lisa for a superfície, mais o movimento será facilitado, uma vez que o corpo vai deslizar sobre a superfície. Tomando conhecimento desses tipos de forças, consideradas forças fun- damentais, você é capaz de olhar determinada situação e descrever as forças atuantes no objeto. Uma forma muito prática de relacionar as forças atuantes em um corpo, facilitando a obtenção da força resultante, é a confecção do diagrama de corpo livre, apresentado a seguir. 3 Reconhecendo e representando forças Para determinar a força resultante que atua sobre determinado corpo ou objeto, você pode construir um diagrama de corpo livre. No diagrama de corpo livre, além de desenhar todas as forças que atuam no corpo, é possível apontar o sentido e a direção das mesmas, o que facilita o cálculo da resultante. Por exemplo, na Figura 6a, vemos uma situação em que uma caixa está sendo puxada por uma corda. Na Figura 6b, o diagrama de corpo livre é apresentado, demonstrando a força gravitacional, a força normal (que é perpendicular à superfície de apoio) e a força de tração (causada pela corda). Tipos de forças10 Figura 6. (a) Caixa puxada por uma corda. (b) Diagrama de corpo livre. Fonte: Adaptada de Halliday, Resnick e Walker (2016). Corda (a) θ θ mg senθ mg cosθ mg senθ x y x y T (b) (c) T Para a situação mostrada na Figura 7a, suponha que o ginasta tenha 60 kg e esteja em repouso, pendurado em um par de argolas. Na Figura 7b, você pode verificar o diagrama de corpo livre, em que a força gravitacional aponta para baixo e a tração das cordas das argolas aponta para cima. Figura 7. (a) Ginasta suspenso por argolas. (b) Diagrama de corpo livre. Fonte: Adaptada de Bauer, Westfall e Dias (2012, p. 110). y (b)(a) x 11Tipos de forças Suponha que seja necessário determinar a tração nas cordas. Como as cordas possuem o mesmo tamanho e sustentam igualmente o ginasta: T1 = T2 Ou simplesmente T. Como o ginasta está em repouso na posição, a soma vetorial de todas as forças que atuam nele deve ser igual a zero, e todas as forças estão na direção de y: T + T – FG = 0 2T = mg Logo, A força normal sempre é perpendicular à superfície de apoio. Ainda que a superfície seja inclinada, a normal fará 90º com ela, enquanto a força gravitacional sempre deve apontar para o lado negativo do eixo y. BAUER, W.; WESTFALL, G. D.; DIAS, H. Física para universitários: eletricidade e magnetismo. Porto Alegre: AMGH, 2012. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física: mecânica. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. v. 1. HEWITT, P. G. Fundamentos de física conceitual. 12. ed. Porto Alegre: Bookman, 2015. KNIGHT, R. D. Física 3: uma abordagem estratégica. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. TIPLER, P. A.; MOSCA, G. Física para cientistas e engenheiros: mecânica, oscilações e ondas, termodinâmica. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2009. v. 1. Tipos de forças12